setembro 25, 2023

O JURAMENTO DE UM CANDIDATO BUDISTA - José Castellani


O Respeitável Irmão Hercule Spoladore, do Or.: de Londrina (PR), apresenta a seguinte questão: uma Loja, que está para escrutinar um candidato, que se declara budista, está em dúvida quanto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo dos adeptos do budismo. Há confronto? Caso o candidato seja aprovado, qual a conduta da Loja, em relação ao juramento, livro sagrado, etc."?

RESPOSTA:

Os ensinamentos do Buda endossam muitos aspectos do hinduísmo, criticando, entretanto, alguns de seus tradicionais preceitos. 

Para o budismo, *não existe começo nem fim, criação, ou céu*; mas aceita, como o hinduísmo, como fundamental, a reencarnação da alma (transmigração) em outros corpos e a teoria do *karma*, força moral, ou lei cósmica misteriosa, que sobrevive à morte, que é definida como a total consequência ética das ações individuais e que estabelece o destino de cada um, nas existências futuras, até chegar ao *Nirvana*, o bem-aventurado estado de vazio total, onde a libertação completa dispensa novas reencarnações.

O budismo discorda do hinduísmo, em relação aos métodos utilizados para atingir os objetivos espirituais, principalmente os ligados à mortificação e ao ascetismo rigoroso que os religiosos hindus praticavam e que pareciam exagerados e inúteis para o Buda. 

Dessa maneira, a sua doutrina, definida no sermão de Benares, recomenda a adoção de um meio termo, um meio caminho entre o ascetismo, a auto mortificação e a autoindulgência.

Para se trilhar esse caminho intermediário, há necessidade de se admitir as chamadas *Quatro Verdades Nobres*, assim relacionadas: 

*1. É necessário reconhecer que a dor é universal, ou seja, que a vida humana é feita de angústia e sofrimento;* 

*2. A causa da dor e do sofrimento reside no desejo de coisas que não podem satisfazer ao espírito;*

*3. A dor tem remédio, ou seja, o sofrimento pode ter fim;* 

*4. O sofrimento só se extingue quando o homem renuncia a esses desejos; já que a raiz desses desejos tem origem na ignorância, a sabedoria é o melhor caminho para dominar a dor e o sofrimento.* 

Admitindo essas quatro Verdades Nobres, dispõe, o homem, dos meios para a libertação, seguindo a *Senda das Oito Trilhas:*

*Pureza de Fé -- Opiniões Exatas -- Palavras Verdadeiras -- Procedimento Correto -- Vida Regrada -- Boas Aspirações -- Pensamentos Certos -- Meditação e Contemplação Virtuosa.*

Além das quatro Verdades Nobres e das Oito Trilhas, o Buda acrescentava, ainda, uma sentença, a *Regra de Ouro*, resumo de toda a sua doutrina e norma geral de conduta: *"Tudo o que somos é o resultado do que pensamos".* 

Há, no budismo, um profundo respeito por todas as criaturas viventes, fazendo com que os budistas considerem, como obrigação fundamental de todos os seres humanos, viver em paz, harmonia e fraternidade com seus semelhantes. Esse espírito pacifista, tem origem num ensinamento do próprio Buda: *"O ÓDIO NÃO TERMINA COM O ÓDIO, MAS COM O AMOR".*

Ao contrário do que acontece com as religiões, o budismo jamais exige alguma coisa de seus seguidores: não existem cerimônias de conversão, nem rituais de submissão do homem a divindades, bastando, somente, conhecer as Quatro Verdades e seguir as Oito Trilhas. 

Dessa, maneira, mais do que uma religião, o budismo é uma filosofia de vida, uma atitude perante o mundo, uma técnica de comportamento, através da qual o homem aprende a se desprender de tudo o que é transitório, buscando uma autossuficiência espiritual. 

Isso tem feito com que o budismo, atualmente, seja muito acatado no Ocidente, tão sujeito a religiões castradoras da mente e da vontade do homem. (...) Em suas várias formas, ele chegou ao Ocidente, através de vários filósofos (como Schopenhauer), escritores e poetas (como Antero de Quental); sua doutrina enquadra-se no ideal de virtude, tolerância e amor ao próximo, sem os preceitos dogmáticos, que existem na maioria das religiões. 

A Maçonaria, como escola iniciática, tem muitos pontos de contato com o budismo. Ela, da mesma maneira, pugna pelos bons costumes, pela fraternidade e pela tolerância, respeitando, todavia, a liberdade de consciência do homem, a qual não admite a imposição de dogmas. 

Embora com algumas ligeiras modificações, as Quatro Verdades e as Oito Trilhas estão presentes em toda a extensão da doutrina maçônica, que ensina, aos iniciados, o desapego às coisas materiais e efêmeras e a busca da paz espiritual, através das boas obras, da vida regrada, do procedimento correto e das palavras verdadeiras.

O conceito de Grande Arquiteto do Universo, como o entende a Maçonaria, não existe no budismo, pois, para este, não existe começo nem fim, criação ou céu, ao contrário do hinduísmo e do bramanismo (forma mais requintada do hinduísmo), que são as religiões mais antigas da Índia, ambas originárias da religião védica (baseada nos Vedas, seus livros sagrados). 

Para o *Rig Veda*, o texto máximo do hinduísmo, existia, no começo dos tempos, o mundo submerso na escuridão, imperceptível, sem poder ser descoberto pelo raciocínio. 

A criação do mundo, segundo os Vedas, apresenta extraordinária semelhança com as concepções equivalentes, geradas por diversos povos da Antigüidade, inclusive com a Bíblia, o que mostra que esta representou uma amálgama das crenças religiosas da Antiguidade, incrementando, meramente, a tendência monoteísta, já vislumbrada nas antigas religiões. 

O hinduísmo, embora admita a existência de incontáveis deuses, acaba assimilando uma certa tendência ao monoteísmo, ao eleger o seu primeiro grande deus, do qual provêm todos os outros; esse deus primordial é *Brahma* (quem com *Vishnu* e *Shiva*, forma a grande trindade divina hinduísta -- ou trimurti -- concepção que é encontrada em diversas outras religiões, inclusive no cristianismo).

Apesar dessa atitude do budismo (em relação à criação), ele reconhece a divindade, como se pode ver no ritual Kalachakra, do budismo (lamaismo) tibetano, não entrando, assim, em conflito com a doutrina teísta maçônica, excluída a concepção de "arquiteto", como criador, mas admitindo como aperfeiçoador. 

Em relação ao juramento -- ou compromisso -- maçônico, não há, para o budista, qualquer impedimento, pois uma das Oito Trilhas (Palavras Verdadeiras) permite-lhe assumi-lo. 

Quanto ao Livro sagrado -- para o candidato prestar o compromisso sobre ele -- embora o budismo não o possua, pode-se usar tanto o Rig Veda quanto a Bíblia, pois, embora não seja admitida a criação, os outros preceitos básicos do budismo estão presentes em ambos os livros; nesse caso, eles estarão fechados, pois basta a sua presença, no momento do compromisso. 

No caso de ser usada a Bíblia, é preferível só o chamado Novo Testamento (Evangelhos), cujos ensinamentos coincidem, em grande parte com os do budismo. 

OBS. - Tais assertivas não valem, evidentemente, para o Rito Moderno, onde um budista sentir-se-ia bem mais acomodado, já que o rito, em respeito à mais absoluta liberdade de consciência, não usa compromissos sobre livros sagrados e não impõe dogmas, crenças, ou padrões religiosos, que são considerados de foro íntimo de cada maçom.

setembro 24, 2023

BEETHOVEN ENXERGOU O LUAR... - André Naves



Sempre que as pessoas estão juntas, elas costumam conversar: falam de acontecimentos, ideias, lembranças e, até algumas fofocas... Tudo que falam entre si sempre tem um sabor de memória, de lenda...

A gente nunca sabe da verdade... A turma ouve um conto e aumenta um ponto, como se diz... A memória não tem a ver com a realidade. O nosso cérebro monta, a partir de nossas mais diversas lembranças e experiências, uma nova versão dos fatos...

Ninguém faz isso por mal! Pelo contrário. É um mecanismo humano, demasiado humano... Parece até que nossa cachola gosta de construir poesias concretas com nossas memórias!

O ser humano é, essencialmente, um poeta involuntário. O que é a realidade senão uma poesia dos fatos?

Por isso prefiro as lendas. É que os fatos podem ser interpretados de maneiras tão diversas que acabam sendo utilizados para legitimar as mais profundas barbaridades.

Sempre que a gente precisa jogar pimenta nos olhos mais vulneráveis, a gente apresenta os chamados dados científicos, para justificar, e revestir de pretensa certeza, a dura injustiça.

Mas, não é a dúvida a essência da ciência? Se todos os cisnes são brancos, o que eu faço quando aparece um cisne negro? E um multicolorido?

A lenda e os símbolos, pelo contrário, evoluem conosco. Quando eu era menino, eu gostava das coisas de menino, agora eu cresci e abandonei as roupas da infância, dizem...

No fim, o entendimento daquilo que é real é muito mais fácil de ser entendido pelos símbolos. Esses, como todos nós, evoluem com a história. 

Vamos resumir? Uma lenda nunca perde a validade. O dado, sim.

O ser humano, assim, percebe a realidade pela lente das lendas e símbolos. Ele enxerga não com os olhos, mas com a alma. A realidade é esse caleidoscópio colorido formado pelos diferentes entendimentos acerca de uma mesma lenda poética...

Eu costumo falar que a gente só entra no mundo dos fatos pelo caminho musical dos símbolos. Foi pelos símbolos musicais que Beethoven, por exemplo, questionou as relações de poder e mando da sociedade do século XIX... 

Foi assim que ele imortalizou conceitos tão diáfanos quanto concretos, como os da fraternidade, amizade e Humanidade.

Contam que ele era vizinho, em Bonn, de uma menininha cega... 

Sabe o mais interessante? Ele era extremamente temperamental, rude e mal-educado com todos. Seus vizinhos não suportavam seus hábitos ranzinzas, sua cara amarrada, sua arrogância e, dizem as más línguas, suas péssimas noções de higiene...

Mas com a pequena Débora, as coisas eram outras. Ele se tornava gentil, amistoso, e, até, ensaiava sorrisos... O pai de Débora, seu Jacobus, não suportava o casmurro Ludwig, mas, qual remédio? 

A pequena o adorava, e se deliciava com os acordes daquele velho pianista. A verdade é que a cada nota musical tocada ela enxergava formas e cores muito além do que todos ali poderiam imaginar.

Ela enxergava, em meio a tantas inconstâncias emocionais, a beleza daquele senhor. Ela enxergava a pedra preciosa dentro do carvão, a rosa que desabrochava do lamaçal...

ENXERGAR...

Certa tarde ela pediu para titio Ludwig ajuda para perceber o luar... Ele se riu daquele capricho infantil... 

Era aquela época do mês em que a lua vai se escondendo, até sumir na escuridão da noite, para retornar, bem vagarosamente, a nos iluminar com seus raios de prata...

Nesse tempo do ano, dona Rute, mãe de Débora, assava um pãozinho meio redondo, bem cheiroso e extremamente saboroso. 

Foi envolto nesse aroma que Beethoven fechou os olhos, enxergou o luar, e começou a dedilhar sua Sonata ao Luar. Beethoven escutou e enxergou, não com os sentidos, mas com a alma, e entendeu a Beleza da Alteridade! 

Quando, dias depois, a Infante Débora reapareceu, ela trazia um pedaço daquele pãozinho... E lá, com a sonata já escrita, ele a tocou pela primeira vez... 

Naquele instante Débora enxergou o Luar...


,

TRONCO DE SOLIDARIEDADE - Adilson Zotovici

 

Tem a árvore opulência

Se seu tronco qualidade

Que o crescimento em essência

Traz a copiosidade


Espera assim benevolência

A “ árvore da fraternidade”

Que dos corações é tendência

Dos irmãos da Sublime Irmandade


Lembrar quem merece assistência

Dispor a quem carece bondade

Sem ostentação ou exigência

Gesto de amor, de caridade


Mesmo a alguém na indolência

Que não se abstém da vaidade

Sem julgar ou criar audiência

Ajudar com a mesma vontade


Professa a regra da consciência;

Não gira o” Tronco” em verdade !

Suspensa Bolsa de beneficência,

Mas não cessa a solidariedade !



setembro 23, 2023

RANCOR versus PERDÃO - Newton Agrella



De etimologia latina e mais especificamente derivado do verbo "rancere" - que significa "cheirar mal", advém o substantivo abstrato "rancor, rancoris", que por sua vez chegou à língua portuguesa como "rancor".

E já chegou causando estrago, pois seu significado e essência estão profundamente ligados a outros termos igualmente negativos como: ódio, ira, cólera e ressentimento, dentre tantos.

E o mais desolador deste episódio é que o "rancor" é um sentimento que se nutre do passado.

Algo que qualquer um de nós possa ter sofrido, nos causado uma sensível dor e nos machucado profundamente e do qual muitas vezes relutamos de nos livrar.

O rancor tem uma propriedade sui generis, posto que ele se esconde, mantém-se anônimo, represado e indecifrável.

Porém, tal qual a boca de um vulcão - que por longo período se mantém inativo - quando se vê impulsionado pela sua erupção, solta todo seu fogo, labaredas e lavas, causando enorme dor e destruição diante de tudo que vê pela frente.

O "rancor" queima a própria alma e nos alimenta de um desassossego incômodo que por vezes nos consome emocionalmente, sem nos darmos conta do quanto nos aflige e do qual, muitas vezes, mal conseguimos nos livrar.

Por outro lado, há um outro dispositivo, que consiste num processo mental que visa a eliminação de qualquer ressentimento, raiva, rancor ou outro sentimento negativo sobre alguém ou sobre si mesmo, cujo nome é "perdão".

A referida palavra, aliás, provém do Latim "perdonare" que tem o significado de "para doar". 

Ou seja, ao perdoar, tanto quem concede o perdão, quanto quem o recebe acabam desfrutando do sentimento de alívio e de uma inegável paz interior.

Esta prerrogativa, especialmente para aquele que traz o fardo do rancor dentro de si, consiste em tirar todo o peso extenuante que impacta tanto a matéria quanto o espirito.

O perdão é um analgésico que tem o poder de oxigenar o cérebro, limpar feridas e comungar o presente de maneira mais inteligente pra viver a vida.

Nosso templo interior necessita estar sempre em pé e à ordem, disposto a aquiescer com sabedoria, inteligência e generosidade toda e qualquer ação que vise o rigoroso e verdadeiro aprimoramento de nossa Consciência.

As estradas do rancor são árduas, cheia de buracos, obstáculos e durante e seu trajeto revelam riscos incalculáveis entre curvas perigosas, aclives e declives acentuados e obstáculos que mal nos deixam sentir o sabor da viagem.

Já as estradas do perdão são bem pavimentadas, oferecem segurança, bem sinalizadas e se revestem da certeza de se chegar ao destino com o corpo descansado, a mente aberta e com o coração mais leve.



PALESTRA DO IR. MICHAEL - ARLS ALIANÇA FRATERNAL 596

 

    Visitei ontem a ARLS Aliança Fraternal 596 da GLESP, onde o Venerável Mestre Rubem Serra Ribeiro, de face barbada e séria parecendo um Papai Noel, demonstrou um finíssimo senso de humor com tiradas inteligentes e irônicas. Uma delícia.

    Ouvi a palestra de um extraordinário orador, o Ir. Oscar Serra Bastos, que falando de improviso apresentou um belíssimo trabalho sobre a visão filosófica do trolhamento (ou telhamento) e pude encerrar a sessão com uma pequena apresentação que foi muito elogiada.

O AVENTAL MAÇÔNICO - Paul Naudon

 


O avental é um legado que a maçonaria moderna recebeu da maçonaria operativa. Essa peça, que foi de tanta utilidade para o Maçom operativo, já que lhe protegia a roupa, transformou-se para o maçom moderno numa alfaia simbolizando o trabalho do Maçom.

Até a sua regulamentação pela Grande Loja Unida da Inglaterra, os aventais da maçonaria inglesa assumiram os mais variados aspectos e formas. Simples peles desalinhadas de cordeiro, no princípio, os aventais sofreram uma evolução constante nos países que adotaram a instituição maçônica.

Em fins do século XVIII era grande moda enfeitar os aventais com pinturas e bordados à mão que reproduziam a riqueza emblemática da maçonaria.

Fonte: Paul Naudon, "Histoire Générale de La Franc-Maçonnerie".

setembro 22, 2023

PALESTRA DE MICHAEL WINETZKI - ARLS LEONARDO DA VINCI

 




Na noite do dia 21 de setembro participei de uma das melhores sessões maçônicas que já assisti. Três Lojas reunidas na GLESP: ARLS Liberdade, Dever e Poder 631 (VM Rubens Campoy Filho); ARLS União e Segredo 693 (VM Leandro Barbosa) e ARLS Leonardo da Vinci 538 (VM Ronald Todorovic), com mais de 60 irmãos superlotando o templo, realizaram o Ritual da cerimônia de comemoração do Equinócio de Primavera.

Irmãos inteligentíssimos de diversas Lojas usaram a palavra para descrever a cerimônia e seu fundamento científico, simbólico e filosófico. Preleções magníficas. Coube-me a honra de usar a palavra para o encerramento do evento.

Pouco antes tive o prazer de um demorado lanche com o Delegado Regional Ir.: Guilhermo Bahamonde Manso e ao final da sessão, encontramos o Sereníssimo GM Haddad indo jantar no hotel onde nos encontrávamos. Foi uma noite inequecível.

PRIMEIROS MESTRES MAÇONS DA MAÇONARIA - Hercule Spoladore


Sabe-se que na Maçonaria antiga, até 1725, existiam apenas dois graus: o de aprendiz e o de companheiro. O grau de aprendiz praticamente nasceu com a Maçonaria. Os jovens que trabalhavam na arte de construir eram aprendizes de pedreiros, canteiros, pintores funileiros. 

Inicialmente, aprendiz era também uma função e não grau, mas com o desenvolver da Maçonaria Operativa foi o primeiro grau a aparecer. 

Existia a figura do mestre de obras que também não era grau e sim função, que era o chefe que ensinava os aprendizes e coordenava os trabalhos da construção. 

Em 1717, quando foi fundada a primeira obediência maçônica, ou até antes desta época, já se previa o aparecimento de mais um grau. As lojas já estavam repletas de maçons aceitos, que começaram a ser recebidos desde há muito tempo. O primeiro a ser recebido, no dia 08/06/1600, na Maçonaria Operativa, que não era ligado às construções e sim um abastado fazendeiro foi um Irmão de nome John Boswel, na Loja Capela de Santa Maria (Saint-Mary Chapell) de Edinburgh – Escócia – Portanto, 117 anos antes da fundação da Grande Loja de Londres. A Maçonaria Operativa estava decadente. Estava se renovando.

O grau de aprendiz, uma vez criado como grau, tinha uma situação estranha. Havia os aprendizes júniores (novos aprendizes) que tomavam assento ao Norte, onde simbolicamente não havia luz e suas funções eram justamente proteger a Loja dos Cowans e bisbilhoteiros; e os aprendizes sêniores (aprendizes mais velhos na Ordem), que tomavam assento no Sul. Suas funções eram atender, recepcionar e dar boas-vindas aos estrangeiros. 

Havia no mesmo grau, uma descriminação de trabalho. Havia duas classes de aprendizes, os velhos e os novos, cada qual com funções diferentes. 

Pelo menos estas informações constam da “Maçonaria Dissecada” (Masonry Dissected) de Samuel Prichard, publicado no jornal londrino “The Dally Journal”, nos dias 02, 21, 23 e 31/10/1730, causando essas informações um verdadeiro escândalo porque foram publicados para profanos os chamados segredos da Maçonaria. 

E Prichard publicou o ritual praticado antes de 1717, mas com os acréscimos até 1730. Os catecismos (futuros rituais) nas sessões não eram lidos e sim decorados. Prichard passou tudo no papel e publicou no jornal. Considerado traidor na época.

O grau de companheiro já tinha sido criado anteriormente. Fala-se dele desde 1598, mas com certeza com prova documental foi criado em 1670. O Manuscrito de Sloane (3) (1640-1700) tem em seu conteúdo uma forma de juramento que sugere a existência de dois graus esotéricos, que seriam o de aprendiz e companheiro.

Em 1724, fundou-se em Londres uma sociedade formada por mestres de obras e músicos, que se reunia na Taverna Cabeça da Rainha. O número de homens que fundaram essa sociedade era pequeno, mas tratava-se de pessoas muito cultas e interessadas em música e arquitetura. 

Foi denominada de Philo Musicae et Arquitecturae Societas Apollini. Seus fundadores eram maçons pertencentes a uma loja, a qual tinha como venerável o Duque de Richmond, que foi em seguida eleito Grão-Mestre da Grande Loja de Londres. 

Uma das condições para pertencer a essa sociedade era justamente que todos os associados fossem maçons. A Sociedade, durante seus trabalhos culturais, se transformava em determinada hora em uma loja maçônica simples como eram as sessões na época e fazia por conta própria, de forma irregular as recepções (hoje iniciações) e as elevações. 

A Sociedade apareceu poucos anos após da fundação da primeira obediência, mais precisamente sete anos, ainda prevalecia a tradição “maçom livre em loja livre”. 

Adotaram um livro de Constituições da Ordem, hoje depositado na Biblioteca Britânica, no qual consta, na sua página um subtítulo: “Armas e Procedimentos de seus Fundadores”. 

Quando um mestre de obras exemplar ou um músico talentoso, mesmo sendo profano, era convidado a pertencer a essa Sociedade, transformavam esse local de reuniões profanas em uma loja tosca, muito simples, e realizavam a Cerimônia de Recepção, que não era tão rebuscada como as atuais iniciações.

Todavia, uma das regras da Sociedade era que nenhuma pessoa que não fosse maçom fosse recebida como visitante. Na sua constituição estão relacionados todos os membros fundadores da mesma, com detalhes de quando e aonde se tornaram maçons.

Essa situação causou problemas na novel Grande Loja de Londres, porque isso tudo que está sendo afirmado, estava registrado em atas e especialmente quando os estudiosos pesquisassem as possíveis origens do terceiro grau ficariam surpresos e na dúvida. 

E essa forma de como surgiu o terceiro grau certamente ocasionaria embaraços, mas toda esta história aconteceu assim e está relatada e registrada na Biblioteca da Grande Loja Unida da Inglaterra.

Essa Sociedade, por sua conta própria, se considerou fundada em 18/02/1725.

Em 22/12/1724, mesmo antes da Sociedade Apollini ser fundada oficialmente num encontro presidido pelo Conde Richmond, já grão-mestre, ele atuou como Mestre sendo recebido (iniciado) o profano Charles Cotton.

Em 18/02/1725, dia da fundação oficial da Sociedade, foram elevados a companheiros Charles Cotton, Papillon Bul e M. Thomas Marschal. 

Em 12/05/1725 foram elevados à Mestre os Irmãos Charles Cotton e Papillon Bull, assim consta das atas da Sociedade, mesmo que este terceiro grau fosse totalmente irregular, por ter sido conferido em sessão de uma sociedade profana e não uma loja. 

Foi enviada uma carta à Grande Loja de Londres com uma relação de sete Irmãos, os principais fundadores da Societas Apollini. 

Parece que a Grande Loja ignorou a comunicação, mas a Sociedade recebeu a visita do 2º Grande Vigilante da Grande Loja de Londres, em 02/09/1725, e do Primeiro Grande Vigilante em 23/12/1725 e, ao que se se sabe, no mesmo ano que a Sociedade encerrou suas atividades no início de 1726.

Mas, de qualquer forma, essa é a prova primária do aparecimento dos primeiros mestres maçons do mundo. Não se sabe qual foi o critério usado para esses dois Irmãos se tornarem mestres.

Há autores que afirmam ter tido o terceiro grau origem na França, mas não comprovam tal afirmação através de documentos.

A lenda de Hiran não existia. O primeiro ensaio sobre esta lenda aparece no Manuscrito de Grahan, em 1726, como uma lenda Noaquita em que se menciona a procura do corpo de Noé, pelos seus três filhos Sam, Sem e Jafet para descobrirem a palavra secreta da aliança de Noé com Deus.

Quando Prichard, em 1730, publicou os propalados segredos da Maçonaria, já havia uma versão semelhante, com muita analogia, da versão que conhecemos hoje no terceiro grau. Apenas cinco anos após.

Assim, de maneira estranha, porém relatada através das atas existentes, é comprovado o aparecimento dos dois primeiros mestres do mundo.

O grau três foi finalmente incorporado ao ritual em 1738. Surge uma dúvida. O Conde de Richmond era grão-mestre, mas era companheiro. E até 1738 os grão-mestres ainda eram companheiros oficialmente. Então como ele pode elevar os dois companheiros ao grau de mestre? 

Possivelmente isso foi feito de forma irregular, mas de qualquer forma está registrado, sendo uma prova primária indiscutível. Ela é documental. Se já havia outros mestres, estes não foram registrados em documentos hábeis.

Mas, presume-se que a partir de 1725 começaram a usar o grau de mestre de fato, mas não de direito. A partir de 1738 o grau de mestre foi oficializado. 

Possivelmente, todos os fundadores da Sociedade se fizeram mestres, desde 1725, e a Grande Loja de Londres regular assumiu aos poucos essa situação criada, incluindo seu uso nos rituais oficiais. Afinal de contas naquela época já era necessário que fosse criado o terceiro grau.

Referências:

CARVALHO, Francisco de Assis “A Maçonaria – Usos & Costumes. Volume 2 Cadernos de Estudos Maçônicos Editora “A Trolha Ltda.” Londrina – 1995.

PRICHARD, Samuel. “Maçonaria Dissecada” (Masonry Dissected). Tradução de Xico Trolha Editora “A Trolha Ltda.” – Londrina – 2002.

setembro 21, 2023

PALESTRA DE MICHAEL WINETZKI - ARLS GENESIS 229


 

No dia 20 de setembro tive a honra de fazer a palestra "O Caminho da Felicidade" na ARLS GÊNESIS 229, da GLESP, em seu templo situado no bairro de Santana, na Rua Olavo Egídio, 615, sob a condução do VM Francisco Rodrigues Baptista.

Como sempre acontece, os honorários da palestra foram o compromisso da Loja de doação de alimentos para uma entidade beneficente local. Aqui o registro do compromisso, nas palavras do Venerável Mestre:

Bom dia meu Ir.: Segue em anexo NF da doação de alimentos comprados com a Bolsa de sua palestra, doados à Associação Curumim. Total de 108 kg.



QUAL A VERDADE QUE INVESTIGAMOS? - Caio Reis



Nós, maçons, somos investigadores da verdade. 

Assim aprendemos desde o dia que ingressamos na Ordem.

Vamos então definir a qual verdade nos referimos. 

Seria Deus? 

Seria qual o nosso papel neste planeta? 

Seria a vida após a morte?

Qualquer que fosse a nossa definição uma coisa é certa: Todas essas indagações a serem investigadas, deveriam ser absolutamente desprovidas de quaisquer imposições dogmáticas.

Os dogmas são colocações imutáveis e não sujeitas a contestações e indagações.

Não creio que seria possível investigar qualquer dos temas acima mencionados se esbarrarmos em dogmas que impeçam a nossa investigação.

É bem difícil ser maçom e despojar-se muitas vezes de princípios que trazemos arraigados desde a mais tenra idade. 

Esta, porém é a única forma de investigarmos temas transcendentais e desta investigação tirarmos algum proveito.

A Constituição de Anderson é impregnada pelo espírito místico religioso e mostra a Maçonaria como um sistema de ordem moral, um culto para conservar e difundir a fraternidade e união entre os homens e a crença na existência de Deus. 

Sobre Deus e religião dizia o Pastor Anderson o seguinte:

 “Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral. 

E se ele compreende corretamente a Arte, nunca será um estúpido, ateu ou um libertino irreligioso.”

Muito embora nos tempos antigos os Maçons fossem obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer que ela fosse, hoje se pensa mais acertado, somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões particulares para si próprios. 

Isto é, serem homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os possam distinguir. 

Por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância.

Algumas das Lojas inglesas, revoltadas com a imposição de dogmas, migraram para a França e insurgiram-se contra essa Constituição Maçônica e também com a interferência de religiosos da época nos assuntos da Ordem.

Na França, criaram o Rito Moderno que não questionava a existência  de Deus e não obrigava que a bíblia estivesse presente nas sessões maçônicas. Foram chamados de ateus, mas justificavam que esta era uma questão de foro íntimo de cada um e que tal assunto não interessava para a Maçonaria.

Foi dessa Maçonaria francesa que se originaram as primeiras Lojas brasileiras, como hoje as conhecemos. 

Faço todo esse relato para que os irmãos sintam como foi e tem sido difícil para nós maçons livrarmo-nos de tudo aquilo que impede sermos verdadeiros investigadores da verdade mesmo que transitória.

Assim, esperamos que as nossas mentes continuem cada vez mais, sendo abertas, para que possamos cumprir o nosso papel na sociedade, combatendo os fanatismos e livrando-nos de dogmas que possam servir como empecilhos para a busca da verdade.

Que o G.˙. A.˙. D.˙. U.˙. a todos ilumine e guarde.


,

setembro 20, 2023

IR.'. FRIEDRICH LUDWIG SCHRÖDER










Friedrich Ludwig Schröder nasceu em 3 de novembro de 1744, em Schwerin, Alemanha, de berço humilde, tendo perdido seu genitor antes de vir ao mundo. Sua mãe, que era proprietária de um ateliê, contudo abandonou seus negócios, dedicando-se à vida de Teatro. O pequeno Friedrich seguiu-a por onde a levava sua nova atividade. 

Schröder estreou na vida da ribalta muito jovem, desempenhando os papéis infantis, com elogiável desenvoltura, colhendo aplausos de quantos assistiam as suas manifestações. Com a Guerra dos Sete Anos perdeu-se de seus pais e foi recolhido por vizinhos, e logo se junta a um grupo teatral até que seu padrasto o chama para junto de si, passando a dedicar-se à carreira de mímico e coreográfico, depois, à Comédia e por fim, já artista consagrado, ingressa na difícil arte da Tragédia, em cuja especialidade do teatro viu-se coberto de glória. Foi tão famoso em sua profissão, que Hoffmann disse que ele foi "incontestavelmente o maior ator que a Alemanha já teve e igualmente eminente na Tragédia e na Comédia". 

Deixou a cena em 1798, para se dedicar aos estudos da história da iconografia, mas, em 1811, viu-se obrigado a deixar a calma das bibliotecas, tornando à direção do seu Teatro, ameaçado de ruína, nele ficando até a proximidade de seus últimos dias de sua vida.

Poucos meses antes de completar trinta anos de idade, é iniciado na Loja “Emanuel Zur Maienblume” (Emanuel à Flor de Maio), de Hamburgo, proposto por seu amigo Johann Christoph Bode e aceito por unanimidade, em virtude das grandes qualidades que possuía.

Em 1775, ele recebeu o Grau de Mestre e foi eleito Venerável Mestre da Loja Emanuel em 28 de junho de 1787, apesar de ter residido na cidade de Viena de 1781 até 1785, época em que pouco se dedicou a Loja. Schröder esteve por vários anos por vários anos conduzindo o primeiro malhete de sua Loja, sendo inaugurada de uma nova era para a Maçonaria Saxônica.

Em 1782, no Congresso de Wilhelmsbad, a Estrita Observância foi levada ao Túmulo. No ano seguinte em Hamburgo foi escolhida uma Comissão de Irmãos e foi lhe dada a determinação para restabelecer novamente a legislação das Lojas e refazer a Maçonaria segundo o modelo Inglês. Cinco anos se passaram sem que nada de substancial fosse realizado.

Em 1788, Schröder foi eleito para esta Comissão e no final do ano, ele apresentou o seu trabalho totalmente concluído.

Em 1779, aconteceu a sua eleição para Grão-Mestre Provincial Adjunto, e em 1814, para Grão-Mestre da Grande Loja de Hamburgo.

Em 29 de junho de 1801, submeteu o texto de seu ritual aos (Veneráveis) Mestres da G.L. de Hamburgo que o adotaram por unanimidade.

Schröder também agiu como verdadeiro Maçom relativamente à caridade. Ele constituiu uma Caixa de Pensão para os atores em Hamburgo, que até hoje leva o seu nome e, quando não havia hospital público em Hamburgo, ele estimulou em 1793, a fundação de um instituto para os empregados doentes, o qual no decorrer de algumas décadas se desenvolveu no Hospital maçônico (Elisabeth) que não é somente reservado a maçons, mas a todo doente e goza de muito boa reputação, sendo hoje uma casa e clínica de repouso para idosos e que continua sendo mantida pela Maçonaria de Hamburgo.

Passou para o Oriente Eterno no dia 3 de setembro de 1816, em Rellingen, próximo de Hamburgo, enquanto ocupava o Primeiro Grande Malhete. Foi trasladado para Cemitério Ohlsdorf, onde ele está sepultado, no setor reservado as grandes personalidades da cidade. Na sua lápide, antiga e exposta ao tempo, estão gravados os seguintes símbolos e expressões: 

“(Desenho do timbre maçônico) O Reformador da Maçonaria Alemã. Cofundador do Hospital Maçônico. Friedrich Ulrich Ludwig Schröder e sua esposa Anna Christina Schröder, nascida Hart. 

(Desenho das três rosas maçônicas) O reformador do teatro Alemão.”

Assim a arte dramática perdeu uma de suas mais brilhantes joias e a Humanidade um dos seus membros mais nobre e rico de sólidas virtudes, mas o seu pensamento se mantém atualizado, servindo como caminho seguro na busca incessante da verdade e no trabalho de conquista de dias melhores para a Humanidade. Schröder pertence ao rol dos maiores que estiveram na Maçonaria e enquanto nossa Fraternidade existir ele jamais será esquecido.

Extrato produzido pela tradução de trabalhos alemães pelo saudoso Ir. Gouveia; revisão do texto em Portug
uês do Ir. Rui Jung, ambos do Colegiado Diretor do Colégio de Estudos do Rito Schröder Ir. Gouveia.

setembro 19, 2023

A BAZOFIA DO BODE - Roberto Ribeiro Reis

 


A Bazófia do Bode

À presunção exacerbada,

Ostentação e vanglória

Vai uma triste dedicatória

Ao Maçom e sua vaidade.


Tamanha a sua infelicidade

De achar-se sempre melhor

Fá-lo (talvez) até bem pior,

Titular de muita boçalidade.


Cuidemos, a bem da verdade,

Para que tal não nos acometa,

Algo que até nos comprometa

De vivermos nossa fraternidade.


Saber que toda essa jactância

Afasta-nos do carisma alheio,

Levando-nos bem lá para o meio,

Para o centro de nossa ignorância.


A Ordem não é de exuberância,

Pugna pela simplicidade, a rigor;

Tem viço sim, quando há o amor,

Fazendo-o com devida abastância.


Que não sejamos a insignificância

Que o mundo assola e sacode;

Saibamos que essa bazófia do bode

Não tem respaldo, é sem importância!

,)

setembro 18, 2023

VIGILÂNCIA MAÇÔNICA - ORIGENS E CONCEITOS* (R.'.E.'.A.'.A.'.) - Newton Agrella



Há uma extensa literatura dando conta sobre os Vigilantes em uma Loja Maçônica.

Encontramos diversas referências históricas, porém ninguém pode se arvorar ao direito de ser o intérprete único e exclusivo do cabedal histórico que dá origem a essas funções dentro da Ordem.

A ampla simbologia maçônica, que evoluiu para interpretações morais e místicas no seu avanço especulativo nasceu na sua maioria dos costumes e da organização das Corporações de Ofício, de Corporações de Construtores, basicamente fundamentada em suas funções e trabalho. 

Nos rituais, podemos entender muito destas razões. 

Corporações de Ofício da Idade Média, englobadas, sob o rótulo de Maçonaria de Ofício ou Operativa, destacavam-se a dos "Canteiros", ou esquadrejadores de pedras, ou seja, os obreiros que tornavam cúbica a pedra bruta, dando-lhe cantos e formas para que ela pudesse se encaixar nas construções.

Canteiro é portanto o operário que trabalha em Cantaria, palavra derivada de canto, uma vez que a função é fazer os cantos, ou ângulos retos na pedra.

Os canteiros costumavam delimitar os seus locais de trabalho (que, por extensão, acabaram sendo chamados de canteiros de obras, denominação encontrada até hoje), cercando-os com estacas fincadas no chão e nas quais eram introduzidos aros de ferro, que se ligavam a outros elos, formando uma corrente.

A abertura dessa cerca estava na parte ocidental do recinto de obras.

Transpondo-se essa cerca, encontrava-se, bem na entrada, na parte frontal, ou lateral, um barracão, que funcionava como uma espécie de almoxarifado, onde eram guardados os planos da obra, o material de trabalho e os instrumentos e ferramentas necessários.

Como responsável por todo esse material, havia um operário graduado, que era o Warden (em Inglês) ou seja, Zelador, ou Vigilante.

Este obreiro, além de tomar conta de todo o material, pagava o salário aos operários, despedindo-os então, no fim da jornada diária de trabalho.

Posteriormente, para maior agilização dos trabalhos foi criado o encargo de mais um zelador, isto é;  o de um segundo vigilante, postado geralmente ao sul, ou ao meio-dia.

Aliás o hábito de chamar o sul de meio-dia é originário da França, onde o sul é chamado de midi.

Assim, esse hábito dos trabalhadores medievais, principalmente dos canteiros, além de ser a origem da Cadeia de União e até da Corda de Oitenta e um Nós, deu, também, origem aos cargos de Vigilantes de uma Oficina Maçônica, os quais, dentre outras funções, devem, simbolicamente, ao fim do dia de trabalho, pagar aos obreiros o salário da jornada diária, despedindo-os, então, contentes e satisfeitos, por terem recebido sua paga ou salário, conforme expresso nos Rituais.

Cumpre destacar que os Vigilantes de uma Loja são os eventuais, legais e legítimos substitutos do Venerável Mestre, inobstante serem Mestres Instalados ou não, no caso de Sessões Econômicas. 

Aliás esse tem sido objeto de algumas controvérsias de interpretações distintas dentro da doutrina maçônica.

Porém que fique claro que no caso de um impedimento definitivo por parte do Venerável Mestre o 1o. Vigilante convocará a Loja para nova eleição.

No caso de Sessões envolvendo Colações de Graus, Iniciações, Elevações e Exaltações, pelo fato de não ter sido eleito Venerável Mestre e não por não ter sido instalado – a condução da Sessão ficará a cargo do Venerável Mestre mais recente.

Como Vigilantes são os colaboradores diretos do Venerável Mestre cabe-lhes ministrar instruções aos Aprendizes e Companheiros.

Sendo pela ordem hierárquica, o segundo Oficial da Loja, cabe ao 1º Vigilante ministrar instrução aos Companheiros e o 2º Vigilante, terceiro da hierarquia, instruir os Aprendizes.

Saliente-se ainda que os Vigilantes respondam diretamente ao Venerável Mestre. O que vale dizer que nenhum outro Oficial de Loja poderá dar-lhes qualquer ordem.

É mister mencionar que os Vigilantes são a autoridade máxima em suas respectivas Colunas tendo inclusive a prerrogativa da prioridade do uso da palavra ao solicitá-la, utilizarem-se dos Malhetes que envergam e também de poderem falar sentados.

Do ponto de vista, simbólico, iniciático e esotérico ao fazer-se uma comparação da Maçonaria com a Astronomia cumpre lembrar que o Sol surge do Oriente, onde tem assento o Venerável Mestre, passando em seguida ao Meio-dia (SUL) , onde se encontra o 2º Vigilante, para finalmente se pôr no Ocidente, onde se situa o Primeiro Vigilante.

Portanto, as três Luzes de uma Loja Maçônica originam-se de uma única fonte, o que substancia constituírem, Venerável Mestre e Vigilantes, um único foco.

Sem adentrarmos em detalhes ritualísticos, mas é indispensável dizer que uma das mais importantes tarefas do 1o. Vigilante é a de por determinação do Venerável Mestre, solicitar ao Ir.´. Guarda do Templo que verifique se a porta está fechada, posto que a partir de então, passa-se à chamada Cobertura Espiritual do Templo onde a harmonia, a paz e a corrente fraterna sob a proteção do Grande Arquiteto do Universo devem estar estabelecidas. 

Feito isto, o 1o. Vigilante verifica se todos os presentes em Loja são Maçons.

Ao 1o. Vigilante cabe-lhe o Nível como joia do cargo e o símbolo da Igualdade e a noção de medida, imparcialidade e equilíbrio.

Ao 2o. Vigilante cabe-lhe o Prumo, posto que este é o símbolo do estudo e da investigação da Verdade. Aliado ao Esquadro, ele permite a correta e perfeita construção do Templo.

Para encerramento desta breve abordagem sobre o tema, deve-se mencionar que os Vigilantes ocupam lugares diferentes (embora sempre no Ocidente) conforme os Ritos, sejam por razões históricas sejam por razões interpretativas ou circunstâncias conceptistas.


,