novembro 20, 2023

Notas sobre a contribuição judaica para a cultura brasileira - Michael Winetzki

 




        A chuva caía em grossas gotas sobre os paralelepípedos encharcados formando rápidos cursos e inúmeras poças. Os cavalos apressavam-se, espargindo água para os lados, enquanto a comitiva cortava a madrugada. Dentro da carruagem com as cortinas cerradas, o padre procurava obter do prisioneiro a derradeira confissão. Este, usando uma camisola de algodão grosseiro, mãos atadas com cordas rústicas, ia murmurando de olhos fechados as suas últimas orações. As torturas não tinham conseguindo quebrantar o seu espírito e há muito, a dor, de acérrima inimiga, havia se transformado em suave companheira.

        Ainda é madrugada quando chegam ao local. A execução não havia sido anunciada e não havia público, mas, apesar do segredo, os rituais legais da morte precisavam ser seguidos. Sobre o patíbulo, o carrasco, o sacerdote e o prisioneiro que pediu para não ser vendado. Como testemunhas os soldados da guarda e o condutor da carruagem.
Eleva-se a voz do sacerdote: - pela última vez infeliz, renegas a heresia e aceitas Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador ?    Enquanto o carrasco ajeita a corda em seu pescoço, o prisioneiro murmura: - Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um!

        Ouve-se um forte estalido do alçapão se abrindo e outro, mais fraco, do pescoço se quebrando. A corda balança algumas vezes e pára. Os guardas retiram o corpo, enfiam-no em um grande saco de aniagem e o jogam no chão da carruagem. O padre esparge água benta em forma de cruz sobre o cadáver que seria queimado e reduzido a pó, "para que dele não restasse qualquer memória".    
A chuva torrencial lava qualquer sinal do acontecido. O sol começa a nascer em úmida Lisboa em meados de fevereiro de 1744.

        Quem era afinal a vítima do carrasco ?

        Pedro de Rates Hanequim, cristão-novo, erudito historiador, geógrafo, astrônomo, matemático, e aventureiro, um dos maiores cérebros do império português, viveram 26 anos no Brasil e finalmente morreu em sua própria terra como apóstata.

        Esse notável estudioso, que sabia ler os livros sagrados no original em hebraico e aramaico e as versões em latim e grego, após décadas de estudo identificou o lugar onde teria sido o paraíso terrestre, o Éden.    Dizia que do local do paraíso seria possível ver uma constelação em cruz, o trono de Deus, o Cruzeiro do Sul; que a arvore do conhecimento era não a macieira e sim a bananeira, que ele chamava de árvore da vida e os nove rios que demarcavam o paraíso seriam os rios que formam a bacia amazônica : Amazonas, Juruá, Tefé, Guará, Purus, Madeira, Tapajós. Xingu e Tocantins.    O paraíso terrestre teria sido onde hoje se situa o Estado do Pará, que aliás, em hebraico, significa "vaca".

        Entre os anos de 1492 e 1540, a o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição obrigou a conversão ao catolicismo de cerca de 190.000 judeus em Portugal e Espanha. Outras centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que se negaram à conversão foram torturados e dizimados da forma mais cruel. Observe-se que nesta época cerca de metade de população de Portugal, em torno de um milhão de habitantes, era composta de judeus.
Basta dizer que o primeiro livro impresso em Portugal, em 1487, foi a Torah (Pentateuco) em caracteres hebraicos.

        Em 1500 o Brasil é descoberto pela esquadra de Pedro Álvares Cabral, abrindo-se, assim, um "Mar Vermelho" para a fuga dos judeus portugueses que corriam risco de vida. Um dos importantes oficiais da esquadra de Cabral era o interprete judeu Gaspar da Gama, bem como eram confeccionados por cartógrafos e instrumentadores como o judeu Jehuda Cresques da Escola Naval de Sagres, os mapas que conduziram Cabral e outros navegadores, durante as suas expedições.

        Em 1503 o judeu Fernão de Loronha, que passou para a história com o nome de Fernando de Noronha lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta a D. Manuel a primeira proposta de colonização do novo território. Por este documento o grupo de judeus cristãos-novos liderados por Noronha arrendava todo o Brasil e obtinha o monopólio de tudo que o país produzia, principalmente pau-brasil e comércio de escravos, em troca de mandar anualmente seis barcos carregados de mercadoria para a metrópole, descobrirem 300 léguas de novas terras e construírem e manterem algumas fortificações.

        Em 1516, D. Manuel distribui ferramentas aos que quisessem se mudar para o Brasil. Ele queria implantar engenhos de cana nesta terra "recém descoberta". Milhares de judeus aproveitam esta oportunidade.

        Em 1531, Martin Afonso de Souza, discípulo do judeu português Pedro Nunes foi mandado pelo Rei D. João III para a primeira expedição sistemática colonizadora tendo implantado o primeiro engenho de açúcar do país em S. Vicente. As primeiras usinas de açúcar do Brasil foram criadas por judeus egressos da Ilha da Madeira, onde esta cultura era tradicional.

        Em 1550 havia 5 engenhos no país. Em 1600 havia 120. Segundo os historiadores Oliveira Lima e Gilberto Freyre,"a industria do açúcar foi importada pelo Brasil pela maior parte por judeus, que constituíam o melhor elemento econômico de sua época, e lucravam com fugir à fúria religiosa que grassava na Península Ibérica". Um dos maiores usineiros de açúcar de Pernambuco era Diogo Fernandes, marido da judia Branca Dias, uma das poucas brasileiras executadas pela Inquisição e que dá nome nos dias de hoje a um belíssimo palacete tombado, sede de uma Loja Maçônica em João Pessoa.

        Em 1577 com o término do domínio espanhol sobre Portugal, muitos judeus vieram para o Brasil direto da Península Ibérica. Alguns destes foram para a América do Norte, Holanda e América Espanhola. Entre os anos de 1591 e 1618 os judeus se espalharam pelo Brasil, principalmente para o Sul.

        1601 - Licença para a saída do Reino e promessa de nunca mais se renovar a proibição. Serviço de 170 mil cruzados. A licença para a saída era expedida em forma de um salvo-conduto, com direito apenas a uma ida (e nunca à volta) e exigia que o nome do solicitante fosse aportuguesado.

        Há milhares de sobrenomes judeus utilizando a combinação das cores, dos elementos da natureza, dos ofícios, cidades e características físicas, tendo como raiz, por exemplo as seguintes palavras: Cores: Roit ou Roth (vermelho); Grun ou Grinn (verde); Wais ou, Weis ou Weiss (branco); Schwartz ou Swarty (escuro, negro); Gelb ou Gel (amarelo); Blau (azul)
Panoramas: Berg (montanha); Tal ou Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela); Hamburguer (morador da vila). Metais, pedras preciosas e mercadorias: Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant ou Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl (pérola), Glass, (vidro), Wein (vinho) 
Vegetação ou natureza: Baum ou Boim (árvore); Blat (folha); Blum ou Blume (flor); Rose (rosa); Holz, (Madeira).
Características físicas: Shein ou Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross ou Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem). Ofícios: Beker (padeiro); Schneider (alfaiate); Schreiber (escriturário); Singer; (cantor); Holtzkocker (cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro ou pescador), Glass ou Gleizer (vidreiro).
    
        Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem ou er, que designa lugar. Na versão para o português ou espanhol, procurou-se aproximar o máximo possível os mesmos critérios. Considere-se também a mudança do idioma português através dos séculos.

        Alguns dos sobrenomes de judeus aportuguesados são: Alves; Andrade; Alencar, Amaral; Alfaia; Aguiar; Arruda; Benjamim; Bento; Bentes; Bezerra; Brito; Botelho; Cáceres; Cabral; Carvalho; Cardoso; Cerqueira; Costa; Cintra, Contente; Daniel; David; Duarte; D?Avila; Dias; Elias; Franco; Ferreira; Fundão; Feijão; Fonseca; Gabai; Gabilho; Gomes; Henriques; Laredo; Ladeira; Lisboa; Linhares; Levi; Leite; Madeira; Machado; Marques; Matos; Matatias, Moreno; Mendes; Mello; Medina; Muniz; Navarro; Neto; Nunes; Noronha; Osório; Oliveira; Obadia; Passarinho; Pina; Pinto; Pereira; Prado: Porto; Rocha; Ribeiro; Regatão; Rego; Rodrigues; Salomão; Santos; Saraiva; Salvador; Serra; Silva; Silveira; Simão; Soares; Vasconcelos; Viana, Vieira e muitos outros.

         Recentemente fotografei na parede da primeira sinagoga das Américas, a Zur Israel, em Recife, um quadro com centenas de sobrenomes aportuguesados dos judeus que vieram da Península Ibérica nos anos da Inquisição.

        1605 - (16 de janeiro). Perdão geral em troca do donativo de 1.700.000 cruzados. Em 1610 retira-se a concessão de saída de 1601.
De 1637 a 1644 ? São tempos áureos para os judeus no governo holandês de Maurício de Nassau. Neste período, funda-se a 1ª Sinagoga "Zur Israel", em Pernambuco, quando vem da Holanda o 1º rabino de descendência Portuguesa Isaac Aboab da Fonseca. Com a derrota dos holandeses para os portugueses em 1654, um grupo de prósperas famílias judias estabelecidas havia décadas no Recife, temendo a volta da Inquisição toma uma navio e ruma para uma outra colônia holandesa mais ao norte, Nova Amsterdã. Esse grupo faria parte dos fundadores da cidade de Nova York. A família proprietária do maior jornal do mundo, o New York Times, descende em linha direta desses judeus de Pernambuco.

        1770-1824 - Período de liberalização progressiva, forte imigração de judeus marroquinos e alsacianos para a Amazônia,que acabaram por monopolizar a produção e exportação de borracha durante o seu período de maior apogeu e gradual assimilação dos judeus.    Os imigrantes judeus vinham para Belém do Pará e se estabeleceram em Belém, Manaus, Cametá, Gurupá, Breves, Baião, Macapá, Santarém, Itaituba, Óbidos, Parintins, Maués, Itacoatiara, Manacapuru, Coari, Tefé, Humaitá, Porto Velho, e outras cidades.
Outro ramo foi para o Nordeste e se estabeleceu no Ceará, criando uma grande e próspera colônia em Sobral, especialmente por causa do porto de Camocim, que nesta época não era alfandegado, e da excelente estrada de ferro, construída por D. Pedro II, que ligava o porto a Sobral. Outra grande colônia se estabeleceu em Recife, e menores na Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte.

        Os judeus foram os primeiros regatões da Amazônia e a bordo de seus barcos e batelões levavam mercadorias para vender no mais remotos rincões em troca de castanha, borracha, bálsamo de copaíba, peles e couros e outros produtos que depois eram exportados.

        Entre 1824-1855 ocorreu a fase da assimilação profunda, subsequente à cessação da imigração judaica homogênea e a equalização total entre judeus e cristãos perante a lei.
O período entre 1855 e 1900 marcou o início do momento imigratório moderno, caracterizado pelas primeiras levas de imigrantes judeus, oriundos, sucessivamente, da África do Norte, da Europa Ocidental, do Oriente Próximo e mesmo da Europa Oriental, precursores das correntes caudalosas que, nas Primeiras décadas do século XX, viriam gerara e moldar a atual coletividade israelita do país.

        Esses judeus se estabeleceram no sul e sudeste do país e se dedicaram principalmente ao comércio, a indústria, a construção civil e a área de comunicação. Por exemplo: o primeiro prédio feito em concreto armado em todo o Brasil, foi uma sinagoga em S. Paulo.
A Rede Brasil Sul de Comunicação com sede no Rio Grande do Sul, a Editora Abril; a Editora Nova América (dos gibis), a TVS; a rádio e TV Vanguarda de Sorocaba e outras tantas pertencem a famílias de origem judia.

        Segundo alguns estudiosos, cerca de 10% da população brasileira, algo em torno de 15 a 17 milhões de pessoas, é descendente direta dos judeus fugidos da Inquisição. Isso quer dizer que a população de cristãos novos, descendentes de judeus no Brasil, é praticamente igual a população total de judeus em todo o mundo.

        Três curiosas contribuições do judaísmo para a cultura brasileira são a carne de sol, a tapioca e talvez o chapéu de couro dos vaqueiros no Nordeste. A dieta judaica chamada "kasher" obriga a comer a carne sem sangue, por isso, os cortes eram pendurados em varais para dessangrar. Ao se repetir o procedimento no Brasil, o sol, a umidade e temperatura cozinhavam a carne. Pronto: estava criada uma das mais tradicionais iguarias da região.
A tapioca é a tentativa de reproduzir o "matzá", o pão ázimo de Moisés, com farinha de tapioca, porque não existia farinha de trigo no Brasil. Nascia mais uma delícia da cozinha regional brasileira.

        A forma tradicional do chapéu de couro nordestino aproxima-se da forma da "kipá", o solidéu, que era provavelmente usado pelos primeiros fazendeiros judeus da região. Observa-se enorme diferença entre os chapéus de palha do México, da Colômbia, do Panamá e dos Pampas, embora a mesma matéria prima estivesse disponível em todas as regiões.

        Para encerrar, o nome Brasil tem como origem o pau-brasil, madeira de cor avermelhada que foi o primeiro produto de exportação do país, e que também é conhecido como pau-tinta ou pau-ferro. Curioso é notar que em hebraico, ainda hoje, a palavra que denomina ferro é barzel. Brasil poderia ser assim uma derivação dessa expressão.

Bibliografia:
1) A presença dos judeus em Sobral e circunvizinhanças....
Padre João Mendes Lira ? Rio de Janeiro ? 1988
2) Eretz Amazônia ? Os judeus na Amazônia
Samuel Benchimol ? Manaus, AM ? 1998
3) Os judeus no Brasil Colonial
Arnold Wiznitzer ? Ed. Pioneira ? 1966
4) O ultimo cabalista de Lisboa
Richard Zimler ? Companhia de Letras ? 1997
5) O mistério do cubo sagrado ( no prelo)
Michael Winetzki ? Brasília, DF ? 2005
6) A fênix de Abraão
Sonia Bloomfield Ramagem - Brasília ? 1994
7) Cristãos Novos na Bahia
Anita Novinsky ? São Paulo ? 1972
8) Visão Judaica on Line ? diversos

novembro 19, 2023

TEORIA DO CONHECIMENTO MAÇÔNICO - Charles Boller


A vida em sociedade impõe a necessidade de politização, desenvolver o exercício do poder em favor da coletividade. 

Em sendo o humano um ser social por excelência, a sociedade não funcionaria de forma equilibrada sem o exercício do poder, de forma equitativa e livre, sem a política. 

Aí o desenvolvimento filosófico maçônico tem sua mola mestra ao impulsionar pessoas a pensarem e agirem mais.

Lideranças são forjadas no fogo da convivência em Lojas. 

De nada adianta revelar os segredos maçônicos, através de livros, com objetivo meramente comercial, se não se oferecer a oportunidade da pessoa viver a Maçonaria, de não possibilitar que a Maçonaria penetre nela???

Pela política, o poder é concentrado de forma natural, pelo convencimento com argumentos da razão e pela formação de relacionamentos fortes.

Platão detratava o retórico e o considerava mentiroso, pois este usa o poder do convencimento para a adulação e adulteração do verdadeiro, e adicionalmente, o tinha como crédulo e instável. 

Segundo Platão, poetas e retóricos estão para o filósofo no mesmo nível em que está a realidade para as imitações da verdade.

Por ser uma coletividade diminuta, cada Loja cobra imediatamente resultado da liderança.

Não existe espaço para ações evasivas e dissimuladas, como é comum observar-se na sociedade. 

Sentar no trono de Salomão, antes de ser privilégio que destaca e enaltece, é ato de fé, lição de humildade, exercício real de política, como ela deveria ser executada no mundo externo.

O cidadão forjado nestas Oficinas filosóficas vai, certamente, mudar e passa a praticar a política honesta, no exato sentido que Platão e Sócrates deram a tão nobre profissão.

O Maçom não faz da filosofia a finalidade de sua própria vida, mas usa da filosofia maçônica para especializar sua capacidade cognitiva e emocional no exercício da Política. 

A Maçonaria é uma escola de política, pois com sua filosofia e sua organização desenvolve-se a verdadeira política.

Foi Platão o primeiro a estabelecer a doutrina da anamnese, que é a lembrança de dentro de si mesmo das verdades que já existem a priori, em latência. 

O conhecimento maçônico, alicerçado em suas simbologias e lendas é um exercício permanente de anamnese. 

E fica tão fácil deduzir verdades complexas latentes que não há necessidade alguma de frequentar escola superior, basta viver o dia a dia maçônico, que estas verdades afloram naturalmente, como se sempre estivessem plantadas na mente e no coração, a priori. 

É aí que nasce o verdadeiro homem politizado. 

Este não busca um ganha-pão com este conhecimento, mas, pela ação, busca exercer a verdadeira atitude política, para tornar-se pedra polida dentro da sociedade ideal. 

Uma pedra cúbica que não rola ao sabor dos fluxos dos manipuladores, como se fosse um seixo rolante de fundo de rio. 

Por ter desenvolvida a capacidade de pensar, é um obstáculo para os políticos despóticos e desonestos.



novembro 18, 2023

IMPORTÃNCIA DOS POETAS E DE SUA POESIA - Denizart Silveira de Oliveira Filho



Os Poetas e suas Poesias têm relevância significativa na Maçonaria. Os Poetas, por fazerem uso simbólico da linguagem poética na transmissão de ensinamentos, para inspirar reflexão e estimular o pensamento filosófico entre os Maçons; suas Poesias, por fazerem bem a nossa alma.

É como nos disse Camilo F. B. Castelo Branco (1825-1890), o grande romancista português e Maçom: “Poesia é tudo o que se nos revela ao espírito sem nos molestar o entendimento; é tudo o que nos banha a alma de unção, desprendendo-a dos liames terrenos; é, enfim, esse toque súbito, chamado arroubamento, ao qual o espírito segue espontaneamente como librando-se muito acima da terra”.

Na Maçonaria, a poesia desempenha várias funções importantes:

(1) A Maçonaria transmite seus ensinamentos através de simbolismos e alegorias. Então, a poesia pode ser usada como forma artística para expressar simbolicamente os conceitos maçônicos, ajudando-nos na compreensão de seus princípios éticos, morais, filosóficos e espirituais.

(2) A poesia tem o poder de evocar emoções e estimular a reflexão e a contemplação. Então, a poesia nos incentiva a pensar mais profundamente sobre nossa jornada espiritual, a natureza da fraternidade e a busca por autoaperfeiçoamento.

(3) Nas Lojas Maçônicas, a poesia pode ser incorporada à Cerimônias e Rituais como parte da experiência simbólica. Então, a poesia pode ser recitada durante as Sessões de instrução, cerimônias cívicas ou em outros momentos significativos para enfatizar princípios maçônicos e inspirar seus membros.

(4) Algumas poesias têm uma longa história e tradição, transmitidas de geração em geração. Então, as poesias ajudam a preservar a história e os valores fundamentais da Maçonaria ao longo do tempo.

Através de metáforas, imagens e ritmo poético, a poesia na Maçonaria busca elevar a experiência dos Maçons, inspirar a busca pela verdade, beleza e conhecimento, e promover uma compreensão mais profunda dos princípios maçônicos. A poesia maçônica também é uma forma de celebrar a amizade, a fraternidade e a solidariedade entre os Maçons. É, portanto, uma manifestação da cultura, da espiritualidade e da identidade maçônica.

Alguns poetas famosos, como Camilo Castelo Branco, já citado acima, Fernando Pessoa, Rudyard Kipling, Manuel M. B. du Bocage, Almeida Garrett, Feliciano de Castilho, Antero de Quental, entre outros tantos, foram Maçons e deixaram obras que refletem sua visão maçônica do mundo. E, entre nós hoje, temos a honra e o orgulho de termos nosso Poeta Irmão Adilson Zotovici, a quem dedico este “BOA NOITE IRMÃOS!”.

15 DE NOVEMBRO - Adilson Zotovici



República aos Brasileiros ! 

Bradavam  estudantes, artistas, 

Grupos e grupos inteiros, 

Comerciantes, jornalistas , 

Todos patriotas, ordeiros 


Mescla de ativistas  

Com um propósito sério, 

Face ao jugo dos imperialistas, 

De ver findar o império 

Dos persistentes absolutistas  


Ao povo  então, vitupério 

Ver reinar a improbidade

Corruptível e sem critério  

Daquela isolada sociedade 

 Qual vivia, envolta em mistério  


Premente a necessidade,

Do sonho republicano 

Tornar-se pois, realidade 

Fez crescer no cotidiano 

A obstinação pela igualdade  


Um sentimento ufano  

Arvora-se pela democracia  

Marechais Deodoro, Floriano,

Pela liberdade à porfia, 

Que, anseio humano 

 

Cresceu pois, a maçonaria 

Homens em nobre missão 

Bocaiúva, Constant, em sinergia      

Junto a Sales, Barbosa, em união 

A repudiar a monarquia ! 


E consagrou-se assim a nação ! 

Desse povo ordeiro e varonil 

Com a força da fé, da razão,  

Fez-se a República do Brasil 

Com sua justa Proclamação ! 


novembro 17, 2023

VIRTUDE OU VÍCIO - Amâncio Couto





Justiça é uma constante e perpétua vontade de viver honestamente, não prejudicar a outrem e dar a cada um o que lhe pertence (Justiniano, Imperador Bizantino – 483/565 d.C.).

Levantam-se templos à virtude e cavam-se masmorras ao vício!

Temos realmente uma responsabilidade muito grande ao sermos Maçons. 

Levantar templos à Virtude significa preservar os bons costumes, manter a liberdade a todo custo, sermos sempre iguais em todos os momentos e viver a fraternidade no dia-a-dia.

A virtude e o vício estão ao alcance de qualquer ser humano. 

Aqui, dentro da Maçonaria, somos colocados de frente com os vícios e com as virtudes.

No mundo profano, dificilmente temos essa oportunidade. 

E já que essa chance nos apareceu hoje, procuremos então estudá-la.

Devemos estar sempre unidos e compartilharmos todos os momentos de nossas vidas com nossos Irmãos. 

Temos vários vícios, essa é uma verdade!

Analisando, assim, reconheçamos que temos de conviver com os vícios dos Irmãos! 

É um tolerando o outro, pelo menos até que haja uma disposição interior de cada Irmão para se dominar e superar esse ou aquele vício.

O que dizer de um Irmão que tenha o vício da vaidade? 

Digo que a vaidade nos move a fazer as coisas somente para aparecermos. 

A vaidade é o alicerce de todo egoísta. 

Ele quer ser sempre o centro das atenções, quer todas as honras para si próprio.

*E do Irmão que tenha falsidade?*

Que a falsidade é a ponta de um iceberg, que é a mentira. 

No fundo, toda pessoa falsa é uma mentirosa. 

Mente para si e para os outros. 

Nunca podemos confiar em uma pessoa falsa.

*O que podemos falar de um Irmão que tenha inveja?*

É uma pessoa desestruturada, fracassada ou até mesmo desestimulada. 

Essa pessoa deseja obter tudo que os outros conseguem, mas quer realizar tal desejo sem esforço algum. 

Tudo que os outros fazem dá por mal-empregado. 

...Quando vê alguém se saindo bem, deseja o mal e que o outro também sinta o que ele já sentiu, ou seja, o gosto do fracasso...

*O que dizer de um rancoroso?*

É uma pessoa má!

Não se perdoa e não perdoa a ninguém. 

Por ser muito exigente, não aceita que os outros possam errar, principalmente se errar contra ele. 

É muito difícil conviver com uma pessoa assim, pois temos a preocupação de estarmos sempre como que “pisando em ovos”. 

..."Com certeza, seremos seu próximo inimigo se tivermos qualquer deslize de atitude com essa pessoa, engordando assim sua longa lista de inimizades"...

*...E um Irmão que é crítico?...*

O crítico sempre tenta comparar as pessoas. 

Procura constantemente falha nas atitudes dos outros. 

É incapaz de ajudar a solucionar um problema sequer. 

*"Jamais soma esforços com os irmãos, mas está sempre pronto a atirar farpas para destruir qualquer iniciativa que venha a surgir de qualquer irmão que seja".*

Podemos analisar também o tagarela. 

Esse não é confiável. 

Temos sempre a preocupação com o que passa em sua cabeça, pois tudo o que ele venha a saber será logo levado como notícia a todos que encontrar. Sua língua não cabe em sua boca. 

Por ser assim, sempre evitamos discutir assunto sigiloso em sua presença.

Esses são alguns vícios que temos, eu e vocês!

Passemos a analisar as virtudes. 

Sabemos também que temos várias virtudes e, portanto, devemos preservá-las, custe o que custar.

O que dizer de um Irmão que seja humilde? 

Esse é um obreiro sereno e pacato. 

Reconhece o seu lugar e não complica o bom andamento da vida dos companheiros.

O humilde sempre cabe em qualquer lugar, aceita a todos como são e busca em qualquer ocasião estar em sintonia com todos os que o rodeiam.

Quem dera se cada um de nós fosse humilde. 

Certamente teríamos poucos problemas e atritos em nossas vidas e também dentro de nossas Lojas.

O que podemos dizer de um Irmão autêntico? 

É um companheiro fiel em quem podemos confiar, visto que o autêntico não se esforça para dizer a verdade.

Tem sempre uma amizade sincera e notadamente será destacado como um ótimo companheiro por ser leal.

O que dizer de um Irmão que tenha a mansidão? 

A mansidão é um dom da serenidade com a qual temos a tranquilidade para resolver os problemas existentes. 

Esse irmão não se deixa abalar pelas adversidades. 

Ele será sempre um conciliador e um amigo fácil de se conviver.

E o Irmão que possui a sabedoria? 

*A sabedoria, juntamente com uma boa dose de mansidão, falará o que vê de errado e não causará constrangimentos.*

A sabedoria vem com o passar dos anos. 

Ela consiste em saber sair das adversidades que a vida nos traz.

Sabedoria não é ser inteligente e passar os outros para trás, mas é contornar todas as situações fazendo com que a vida tenha mais alegrias e menos contrariedades.

É o dom mais sublime, pois todos querem ouvir sábios conselhos nos momentos de contrariedades. 

O sábio sempre facilita a compreensão das dificuldades e mantém a harmonia.

Parece que nada o abala, pois consegue tirar o melhor das piores situações que possam surgir.

Esse Irmão não critica ninguém, colocando-se sempre na posição de defesa da fraqueza humana.

Devemos, pois, meus Irmãos, continuar a levantarmos templos às virtudes e procurar acabar com os vícios. 

Somente assim seremos verdadeiros Irmãos e poderemos, neste momento, expandir o verdadeiro amor que existe na nossa Maçonaria.





novembro 16, 2023

POEMA PARA A ACADEMIA - Aldy Carvalho

Poema composto durante a solenidade de posse dos Acadêmicos,  hoje 15 11 23


Abertura


Eu não sou um repentista

Sou poeta de bancada

Um humilde cantador 

Cumprindo minha jornada

Recebi pedido augusto

Para nobre empreitada:


I

Que maravilha este dia!

Encontro belo, de efeito 

Um grupo que se reúne 

Para o propósito eleito

Criar uma Academia

Em ato justo e perfeito.


II

Grande Arquiteto Do Universo

No princípio pensou bem

E é  só  quem pode dizer

"De onde a poesia vem

Pois que quando o mundo fez

Fez a poesia tambem".


III

Falar desta Academia (A.B.M.de T.C.A. e M.)

É  preciso inspiração 

Eu não  sou bom trovador

Mas digo com emoção 

Aqui se cuida das artes

Com real satisfação.


IV

E dentro destas paredes

A musa vem visitar

E traz a luz da razão 

Com efeito salutar

Esta Academia sã

Já  nasceu para brilhar.



PARTICIPAÇÃO DA MAÇONARIA NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL - Rogério Oliveira


A maçonaria brasileira nasceu com o Brasil, e esteve presente em todos os principais acontecimentos históricos e que culminaram no País que hoje vivemos.

Diferente não poderia ser a sua participação na Proclamação da República.⁹

“A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as consequências da Liberdade – Assim iniciava o editorial da  Gazeta da Tarde,  da edição de 15 de novembro de 1889.”

Implantação de um Estado Republicano foi, sem dúvida, o fato histórico mais importante de nosso País e teve como líderes e idealizadores deste movimento, Maçons ilustres que hoje estão nos nossos livros de História, tais como Marechal Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Ruy Barbosa, Campos Salles, Quintino Bocayuva, Prudente de Morais, Silva Jardim e outros mais.

A idéia republicana é antiga no Brasil; nós a vemos na Guerra dos Mascates (1710), na Inconfidência Mineira (1788), na Revolução Pernambucana (1817), na Confederação do Equador (1824), na Sabinada (1837) e na Revolução Farroupilha (1835-1845).

Portanto, o Brasil clamava pela República!

Era uma questão de Tempo.

O Império Brasileiro estava desgastado e vagarosamente ruía-se.

Iniciou a sua queda em 1870, após a Guerra do Paraguai, onde, mesmo o Brasil saindo vitorioso daquela campanha, o Exército, seu principal agente, não foi devidamente valorizado, causando sérios descontentamentos.

A igreja, por sua vez queria a liberdade, pois, encontrava-se submetida ao padroado Imperial.

Mas o fato principal, que fez com que o Império perdesse a sua sustentação, foram as leis antiescravistas, defendidas fervorosamente nas Lojas Maçônicas Brasileiras.

Leis como a do Ventre Livre (1871), dos Sexagenários (1885) e finalmente a Lei Áurea (1888).

Atentos a todos estes fatos, a Maçonaria, através de várias Lojas como a Vigilância e Fé, de São Borja – RS, Loja Independência e Regeneração III, ambas de Campinas – SP, aprovaram um manifesto contrário ao advento do Terceiro Reinado e enviaram a todas as Lojas Maçônicas do Brasil, para que tomassem conhecimento e que apoiassem esta causa.

Mais uma vez a Maçonaria estava à frente para liderar um Movimento Democrático.

Em 10 de novembro de 1889, em uma reunião na casa do Irmão Maçom Benjamin Constant, onde compareceram os Irmãos Maçons Francisco Glicério e Campos Salles, que decidiram pela queda do Império.

Benjamin Constant foi incumbido de persuadir o Marechal Deodoro da Fonseca, já que este era muito afeiçoado ao Imperador.

Por fim, Deodoro assumiu o comando do movimento e Proclamou a 15 de Novembro de 1889, a República no Brasil.

Faz-se necessário aqui uma justiça ao Imperador D. Pedro II, um homem culto, ponderado, que contrariando a opinião pública, não lutou pelo trono, pois não queria ver derramado o sangue de brasileiros, demonstrando um alto sentimento altruísta,  reconhecendo que para o Brasil este seria o seu novo e melhor destino.

E em resposta dada à mensagem ao Novo Governo diz:

... “À vista da representação escrita que me foi entregue hoje, às 3 horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir, com toda a minha família, para a Europa, deixando esta Pátria, de nós tão estremecida, à qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranho amor e dedicação, durante mais de meio século em que desempenhei o cargo de chefe de Estado.

Ausentando-me, pois, com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo os mais ardentes votos por sua grandeza e prosperidade.”... 

(Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889

D. Pedro de Alcântara.) 

Segue, para o exílio, o Imperador, e com ele, meio século de história do Brasil imperial.

Estava proclamada a República e voltavam as esperanças de se construir uma nova nação, dentro dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

No dia 21 de novembro, o jornal República Brasileira, publicava  o seguinte trecho em seu editorial:

_Comecemos de pensar.

"(...) Esta República que veio assim, no meio do delírio popular, cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX que surgiu com a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da família, a vida co comércio e a vida da indústria; esta República americana que trouxe o símbolo da paz, que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admiração dos sensatos – esta República é um compromisso de honra e um compromisso de sangue. (…)”

A exemplo de todos estes fatos devemos ter os mesmos atos de coragem que tiveram os maçons que hoje fazem parte da história da Humanidade.

Temos a obrigação de agir para que, no futuro, sejamos citados pelos maçons que nos sucederem, e que, da mesma forma, os nossos nomes fiquem registrados, como cidadãos atuantes, na memória histórica de cada rua, cada bairro, cada cidade, cada Estado, por toda a Nação.

E que estes maçons do futuro tenham em nós, como tivemos nos maçons do passado, o exemplo motivador da defesa da cidadania como instrumento de busca de uma sociedade mais igualitária, mais justa e fraterna, portanto mais feliz.


LEMBRA-TE QUE ÉS MORTAL



Na época do Império Romano os Generais ao voltarem das batalhas eram recebidos em Roma para serem homenageados pela população. A homenagem consistia numa aclamação pelo povo e no recebimento das mãos de um dos representantes do Senado de uma bandeja de prata com folhas da palmeira (esta era a mais alta honraria dada a um cidadão romano).

O General romano entrava na cidade sozinho numa biga (os exércitos eram proibidos de entrarem na cidade, ficavam em campos de treinamento fora dos muros de Roma) e percorria um longo caminho até o Senado, durante o percurso o povo o aclamava.

Junto ao General, na biga, iam dois escravos, o primeiro para conduzir a biga, e o segundo ficava ao lado do general agachado. A função do segundo escravo era extremamente interessante e nos faz refletir sobre a sabedoria dos povos da antiguidade.

Um General voltando vitorioso de várias batalhas, sendo aclamado pelo povo e sentindo-se invencível poderia ser uma ameaça a democracia romana, para evitar isso a função do escravo era uma só. A cada 500 metros do percurso, o escravo levantava-se, aproximava-se do ouvido do general e dizia :

- “Lembra-te que és mortal!”

Mais 500 metros, e novamente:

- “Lembra-te que és mortal!”

Quando no sentirmos invencíveis e acima de tudo e de todos, nos lembremos que somos mortais!”

FUNDADA NOVA ACADEMIA MAÇONICA DE LETRAS

 

        Oficialmente instalada nesta quarta-feira, dia 15, a Academia Brasileira Maçônica de Letras, Teatro, Ciências, Artes e Música tem como objetivo congregar maçons para promover a cultura, estimular e desenvolver estudos, produção literária, artística, social e cultural. A instalação da nova academia ocorreu durante cerimônia pública no templo da centenária loja maçônica Quintino Bocaiuva, localizada na rua Catulo da Paixão Cearense, no bairro Bosque da Saúde, em São Paulo. Essa loja, que leva o número 10, foi uma das primeiras a ser fundada na Grande Loja Maçônica. A cerimônia contou com a participação do ex-Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (GLESP), Ronaldo Fernandes, e também do jornalista e apresentador de televisão Gilberto Barros Filho.

        Ao todo são 33 cadeiras para acomodar maçons considerados como imortais. Todos receberam estolas, nas cores verde e amarelo com o desenho do brasão da Academia bordado nos dois lados. Cada cadeira tem o nome de patrocinador histórico. Entre os nomes estão os dos compositores Amadeus Mozart e Antônio Carlos Gomes, do desenhista Walt Disney, de Melvim Jones (fundador do Lions), Paul Harris (fundador do Rotary), George Savalla Gomes (palhaço Carequinha), Frank Shermam Land (fundador da Ordem DeMolay) e  Jacques Demolay, último Grão-Mestre dos Cavaleiros Templários.

        A academia tem também como objetivo contribuir na construção, reconstrução, preservação e valorização da memória e história da Maçonaria brasileira. A academia tem como seu primeiro presidente o escritor e advogado Mauro Ferreira de Souza. Entre os 33 integrantes titulares estão o escritor Amilcar Alabarce Mathias, os músicos Leo Cinezi e Wilmar Cirino (Londrina-PR) e o responsável por este blog, o escritor e palestrante Michael Winetzki.

        Os Grão-Mestres Jorge Anysio Haddad (GLESP),  Fernando Fernandes (Grande Oriente Paulista) e Paulo Benevenute Tupan (Grande Loja de Rondônia) figuram entre os 33 acadêmicos honorários e correspondentes, assim como os jornalistas Manoel Alves dos Santos e Nelson Gonçalves, ambos com atuação profissional e  em lojas na região de São José do Rio Preto.

            Abaixo as cadeiras, os Patronos e os  Acadêmicos Fundadores: 

1 Albert Gallatin Mackey Autor e Escritor Maçom MAURO FERREIRA DE SOUZA

2 Albert Pike Autor e Escritor Maçom ANTONIO JOÃO SANTO

3 Mário Behring Fundador das Grandes Lojas no Brasil AMILCAR ALABARCE MATHIAS

4 James Anderson Autor e Escritor Maçom JOÃO FERNANDES LOPES

5 José Castellani Escritor Maçom ANTONIO DO CARMO FERREIRA

6 José Rodrigues Trindade (Zé Rodrix) Escritor, Cantor e Compositor LEO CINEZI

7 José Maria Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco) Estadista, Diplomata ZILDO PACHECO DE ÁVILA

8 Melvin Jones Fundador do Lions International SERGIO GUILLEN

9 Nicola Aslan Escritor Maçom CARLOS TOSCHI NETO

10 Luiz Gonzaga Cantor JARICÉ BRAGA RAMOS

11 Francisco de Assis Carvalho (Xico Trolha) Escritor Maçom ALDY CARVALHO

12 Irineu Evangelista de Sousa Barão de Mauá ALMIR SANT'ANNA CRUZ

13 Ruy Barbosa Estadista Brasileiro EUGENIO GOWSZA TSCHELAKOW

14 Waldemar Seyssel Ator, Palhaço Arrelia IZAUTONIO DA SILVA MACHADO JR

15 Prince Hall Primeiro Grão Mestre Negro GILDECI DE OLIVEIRA LEITE

16 George Savalla Gomes Ator, Palhaço Carequinha JOÃO BATISTA SALGADO LOUREIRO

17 Francisco Ge Acayaba de Montezuma Fundador do SC33 REAA Brasil PAULO ANDRÉ DE SENA

18 Alfredo Rocha Vianna Filho (Pixinguinha) Cantor e Compositor LUIZ CLAUDIO NOGUEIRA DO NASCIMENTO

19 Robert Lomas Escritor Maçom WALLAS DE OLIVEIRA

20 Paul Percy Harris Fundador do Rotary Internacional MICHAEL WINETZKI

21 Walter Elias Disney (Walt Disney) Ator e Cineasta MARCELO GERALDI RAFAEL

22 Jules Boucher Estadista Brasileiro, Patrono da Diplomacia NEVIO GUILHERME DOS SANTOS BURGOS

23 Joaquim da Silva Rabelo (Frei Caneca) Revolucionário e Libertário LUIGI GOMES

24 João Paulo dos Santos Barreto Fundador do REAA Brasil CLOVES GREGÓRIO

25 Jacques Demolay Grão Mestre Templário JOHN VAZ LOPES

26 Jorge Adoum Escritor Maçom MARCELO PEREIRA REZENDE DA SILVA

27 Luís Alves de Lima e Silva Duque de Caxias DENIS SALVATORE CURCURUTO

28 João Salvador Perez Cantor: Tonico da Dupla Tonico e Tinoco WILMAR CIRINO

29 José Bonifácio de Andrada e Silva Estadista Brasileiro e Escritor ARNALDO DEBIAGI

30 Frank Sherman Land Fundador da Ordem Demolay DIEGO PEREIRA FRANZEN

31 Wolfgang Amadeus Mozart Músico e Compositor JOSE OMAR TELLEZ JIMENEZ

32 Antônio Carlos Gomes Músico e Compositor PAULO EDUARDO TEMPLE DELGADO

33 José Maria da Silva P. Jr (Barão do Rio Branco) Estadista Brasileiro, Patrono da Diplomacia SAMIR NAKHE KHOURY

novembro 15, 2023

A ARTE DE RELEVAR - Richard L. Evans (Adapt. Sidnei Godinho)



“A arte de ser sábio”, disse William James, “é a arte de saber o que relevar”

A vida sem amigos, parentes, camaradagem, seria completamente vazia. 

Mas como as pessoas não são perfeitas, o companheirismo nunca é perfeito.

Quando nos ligamos às pessoas, aceitamo-las com suas imperfeições.

Entretanto, superestimar imperfeições gera descontentamento, infelicidade, desencanto.

É assim no casamento, no lar, na família, entre amigos e em todos os contatos da sociedade. 

*É assim em uma Loja também.*

E uma das maiores lições da vida é aprender a auxiliar as pessoas a aperfeiçoarem-se sem deixá-las ressentidas, abalar sua confiança ou destruir nossa influência sobre elas.

Corrigir em público é particularmente embaraçoso e repreensões sarcásticas sempre ofendem.

Nenhum de nós jamais faz tudo o que precisa fazer com a perfeição com que deveria.

*Ninguém é dono de todas as virtudes de habilidades ou tem conduta impecável.*

Não existe pessoa que “nunca” seja descuidada. 

Que siga sempre uma mesma linha, tomando as refeições à hora certa (sem jamais se atrasar), que mantenha a casa como se esperasse constantemente visita, que tenha tudo sempre no lugar. 

O homem não é uma mera máquina – é muito mais – até as máquinas precisam de compreensão e apresentam falhas de funcionamento.

Há muito para ser relevado em cada um de nós – e muito que “não” deve ser relevado. 

Mas, mesmo essas coisas podem ser tratadas com tato e dedicação, escolhendo-se a hora, o lugar, a disposição de ânimo e o método certo.

Existem formas de sugerir, ser indulgente, corrigir com bondade, ao invés de repreender de maneira ríspida, cruel e precipitada, o que faz com que a pessoa fique humilhada, ferida, ressentida. 

Há hora de corrigir e de não corrigir.

Existem formas de repreender e de não repreender. 

“A arte de ser sábio é a arte de saber o que relevar” – e “quando”.

Que possamos aprender em loja a resolver nossas diferenças já que TODOS somos falhos em nossas ações, TODOS ERRAMOS em algum momento...


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novembro 14, 2023

OS VERSOS DE OURO DE PITÁGORAS

 


Os Versos de Ouro, a partir do texto de Hierocles de Alexandria, com base na versão em língua inglesa feita por N. Rowe em 1707, e adotada hoje pela maior parte dos estudiosos da tradição pitagórica. Leve-se em conta, outras versões importantes dos Versos, entre elas a de Fabre d´Olivet (século 19). A seguir, portanto, um texto imortal que se pode ler, reler e meditar ao longo do tempo.        É um mapa, um guia e um tratado completo sobre a vida dos sábios.


01. Honra em primeiro lugar os deuses imortais, como manda a lei.

02. A seguir, reverencia o juramento que fizeste.

03. Depois os heróis ilustres, cheios de bondade e luz.

04. Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.

05. Honra em seguida a teus pais, e a todos os membros da tua família.

06. Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.

07. Aproveita seus discursos suaves, e aprende com os atos dele que são úteis e virtuosos.

08. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro.

09. Porque o poder é limitado pela necessidade.

10. Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões.

11. Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.

12. Não faz junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.

13. E, sobretudo, respeita a ti mesmo.

14. Pratica a justiça com teus atos e com tuas palavras.

15. E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.

16. Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá a todos.

17. E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.

18. Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for.

19. Dos sofrimentos que o destino determinado pelos deuses lança sobre os seres humanos.

20. Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.

21. E lembra que o destino não manda muitas desgraças aos bons.

22. O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.

23. Portanto, não aceita cegamente o que ouves, nem o rejeita de modo precipitado.

24. Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.

25. Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora.

26. Não deixa que ninguém, com palavras ou atos,

27. Te leve a fazer ou dizer o que não é melhor para ti.

28. Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas ações tolas.

29. Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.

30. Mas faze aquilo que não te trará aflições mais tarde, e que não te causará arrependimento.

31. Não faze nada que sejas incapaz de entender.

32. Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, tua vida será feliz.

33. Não esquece de modo algum a saúde do corpo.

34. Mas dá a ele alimento com moderação, o exercício necessário e também repouso à tua mente.

35. O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.

36. Acostuma-te a uma vida decente e pura, sem luxúria.

37. Evita todas as coisas que causarão inveja.

38. E não comete exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.

39. Não age movido pela cobiça ou avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.

40. Faze apenas as coisas que não podem ferir-te, e decide antes de fazê-las.

41. Ao deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,

42. Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.

43. Pergunta: "Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?"

44. Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.

45. Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração.

46. São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.

47. Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado.

48. Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.

49. Nunca começa uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.

50. Quando fizeres de tudo isso um hábito,

51. Conhecerás a natureza dos deuses imortais e dos homens,

52. Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém, e os mantém em unidade.

53. Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.

54. Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.

55. Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.

56. Como são infelizes! Não veem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.

57. Poucos sabem como libertar-se dos seus sofrimentos.

58. Este é o peso do destino que cega a humanidade.

59. Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis,

60. Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.

61. Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia, mas foge dela!

62. Oh Deus nosso Pai, livra a todos eles de sofrimentos tão grandes.

63. Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.

64. Porém, tu não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina.

65. E a natureza sagrada tudo revelará e mostrará a eles.

66. Se ela comunicar a ti os teus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.

67. E ao curar a tua alma a libertarás de todos estes males e sofrimentos.

68. Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.

69. Avalia bem todas as coisas,

70. Buscando sempre guiar-te pela compreensão divina que tudo deveria orientar.

71. Assim, quando abandonares teu corpo físico e te elevares no éter.

72. Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás.

novembro 13, 2023

O CONCEITO DE DEUS EM MAÇONARIA - Fernando Teixeira


 

Quando lemos nos textos da Inquisição o processo de John Coustos, há um fato que é realmente deslumbrante.

Trata-se da perfeita e total incredulidade dos juízes que interrogavam o Maçom J. Coustos, quando este afirmava a sua normalíssima crença em Deus, e não só a sua, mas também a de todos os outros réus do mesmo processo, que é como quem diz da mesma Loja. Portanto, já em 1730, os Maçons tinham grande fama, não exatamente de ateus mas sim de gente herética com credos e práticas nada ortodoxas. Vejamos onde é que tal fama poderia ter tido origem.

Se nós quisermos limitar ao exame dos documentos escritos relativos à história da Maçonaria na Idade Média, encontramos de imediato um documento da maior importância, o célebre decreto do Concílio Cismático de Avignon de 18 de Junho de 1326. Aí se verifica a condenação das Sociedades e “Confrarias” que reúnem nas Igrejas. Ora isto é perfeitamente esclarecedor no sentido em que revela uma evidente animosidade contra determinados agrupamentos cristãos, perfeitamente natural em tempos de confusão cismática. Para mais, essas confrarias de cristãos putativamente heréticos despertavam enormes suspeitas com as suas reuniões misteriosas e os sinais e símbolos “aliquibus” “exquisitus”. Um exame específico das relações entre a Igreja e diversas instituições, designadamente a Ordem Maçônica, revela que na realidade a situação de conflito com essas instituições se agudiza sempre que a unidade doutrinária da própria Igreja é posta em perigo.

No entanto, a melhor prova de que a Ordem Maçônica não pode viver fora do conceito mais clássico de Deus, encontra-se documentada pela mesma época no célebre Poema Regius. Segundo os paleógrafos do British Museum o manuscrito, com data provável de 1390, consta basicamente de um enunciado de regras pelas quais se deviam reger as comunidades de maçons. Esta parte normativa divide-se em 15 artigos correspondentes a uma espécie de regulamento e a 15 pontos que constituem no seu conjunto uma verdadeira Constituição e, que bem poderíamos chamar pontos de Regularidade. Vejamos o enunciado do primeiro ponto:

Obrigação do amor a Deus, à Igreja e aos Irmãos. Ou seja, amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.

É evidente que o primeiro texto das primeiras Constituições apresentado por Anderson à Grande Loja em 1722 repete grande parte dos pontos e das regras constantes do manuscrito Regius, em tempos comunicado às Lojas de Londres pelas Lojas de Edimburgo e Kilwarney. Daqui se pode deduzir que a célebre divisão da História da Maçonaria em períodos Operativo e Especulativo é altamente controversa. Na realidade o texto de Andersen de 1722 é inicialmente aceite por aqueles que mais tarde virão a ser chamados Antigos e que permanecerão afastados da Grande Loja Unida de Londres durante um século. Isto parece ser devido ao fato de um ano depois, isto é, em 1723, Anderson ter apresentado um novo texto das Constituições. Ora esta versão representava um profundo corte com velhas tradições constantes das “Old Charges” e do próprio Manuscrito Regius.

Por outro lado, a redação do texto referente às Obrigações do Maçom não era muito clara, em parte devido a situações de conflito com o Grão Mestre, o Duque de Wharton, que motivaram referências azedas a “ateus estúpidos ou libertinos irreligiosos. Nessa frase se têm apoiado as Maçonarias ditas Irregulares, para defenderem que Andersen admite a existência de “ateus inteligentes”. Portanto, o Deus da Constituição de 1723 é seria um Deus de Deísmo abrangente, contrariamente ao clássico Grande Arquiteto do Universo que é expressão de um verdadeiro Teísmo e não se presta a confusão alguma. Esse, o dos velhos textos, é o Deus da Bíblia, Deus dos Judeus, como dos Cristãos ou até mesmo dos Muçulmanos. A Bíblia é uma das Grandes Luzes da Maçonaria, preside aos seus trabalhos e compreende o Antigo e Novo Testamento. A Maçonaria Tradicional inspira- se tanto no Evangelho como na lei de Moisés ou dos Noaquitas.

O G∴ A∴ D∴ U∴ é um Deus que fala ao Homem, a Noé, aos Patriarcas, a Moisés, a Jesus e através deles a toda a Humanidade.

Notemos que nesta fase da História de Inglaterra acima de tudo importava agregar os maçons num esquema religioso aceitável por todos os homens de bem, ou seja, em torno de um Deus sobre o qual se pudessem entender pacificamente Católicos e Protestantes. As interpretações dadas pelas obediências irregulares ao texto pretensamente deísta são absolutamente abusivas. Com efeito a abrangência do texto de 1723 representa uma abertura mas sim em relação à entrada dos primeiros Judeus na Ordem Maçônica que se verifica justamente nessa altura. A imprecisão possível do texto de 1723 abrindo caminho a uma interpretação iluminista tipo Voltairiano ou mesmo Newtoniano está aliás amplamente condenada no mesmo texto, com as frases relativas aos ateus e aos libertinos. De resto, essa mesma imprecisão é desfeita pelo próprio Anderson em 1738. Passo a citar o texto do artigo Primeiro:

“(…)no que respeita a Deus e à Religião. um Maçom é obrigado, implicitamente a observar a Lei Moral. Se é um verdadeiro Noaquita e se compreende bem o ofício, não será nunca um ateu estúpido, nem um libertino irreligioso, nem agirá contra a sua própria consciência. Noutros tempos, os cristãos que viajavam estavam sujeitos a conformar-se com os costumes cristãos do país em que se encontravam, mas como a Maçonaria existirá em todas as Nações mesmo de religiões diversas, eles são agora obrigados a aderir àquela Religião sobre a qual todos os homens estão de acordo deixando a cada irmão as suas próprias opiniões quer dizer, devem ser homens de bem e leais, de honra e de probidade, quaisquer que sejam os nomes, religiões e confissões que os distingam. Porque todos estamos de acordo sobre os três Grandes Artigos de Noé” (fim de citação).

A referência bíblica da Aliança Noaquita, que não existe no texto de 1723, prova irrefutavelmente a vocação universalista da Ordem na fidelidade ao velho princípio na Fé de um Deus Revelado. O Noaquismo sem dúvida alguma é a revelação de Deus a Noé. Já dizia o Cavaleiro Ramsey que a Maçonaria era a expressão mais abrangente do monoteísmo. Naturalmente esta concepção ecuménica, extensiva aos próprios judeus, volta a despertar profundas suspeitas de heresia, na medida em que é de fato, naquela época, uma ideia extremamente arrojada.

Mas enfim, muito mais haveria a dizer. A própria teoria da Via Substituída, tão decisivamente analisada por Jean Baylot, enferma dum erro gravíssimo.

O conceito de Deus incluído dentro dum Movimento Religioso não pode ser nunca alvo de uma concepção pessoal. A palavra religião deriva do latim “religare”, e como o seu nome indica une indivíduos em torno de uma ideia sagrada. Um conceito individual de Deus só é concebível portanto fora de um contexto coletivo, ou seja não há religiões de uso individual e exclusivo. Ora e voltemos ao próprio Anderson de 1723. O Maçom não poder ser nunca um ateu estúpido ou um libertino irreligioso. Portanto, jamais Andersen, aliás presbítero bem ortodoxo, se poderia estar referindo a um Deus pessoal tipo “Princípio Criador Universal”, completamente alheio às religiões “oficiais” da época.

Verdade seja dita que os tempos atuais dificultam para muitos uma tomada de posição clara neste aspecto. Diz Mircea Eliade que a única criação do homem moderno no campo das religiões foi a destruição sistemática do sagrado ou, quando tal não foi possível, a sua completa camuflagem. E esta iconoclastia foi de tal forma exaltada por auras mediáticas de radicalismo super intelectual que a simples confissão da Fé em Deus começou a exigir alguma coragem aos pobres de espírito que a quisessem afirmar. Mais ainda, dentro do tal esquema de camuflagem a que alude Eliade muitos homens há que, afastados das práticas tradicionais dos cultos por todo o imenso esforço do “fundamentalismo ateu”, escondem envergonhadamente a sua crença em Deus, chamando-lhe eufemisticamente nomes tão pomposos e vazios como o célebre Princípio Criador Universal e outras sandices que tais.

Recordo a propósito uma deliciosa intervenção num programa televisivo do Prof. Fernando C. Rodrigues quando entrevistado pela jornalista Teresa Guilherme. Perguntou ela ao Prof. C. Rodrigues se o satélite português iria descobrir muita coisa e, obteve em troca esta resposta lapidar; “Muita não direi, mas é natural que descubra mais algumas zonas da nossa ignorância”. E a propósito contou que a sua sobrinha havia uns dias tinha dito à mãe que o seu colégio projetava um piquenique para o dia seguinte no Jardim Zoológico. E logo a mãe lhe disse que não lhe parecia que tal fosse possível porquanto o boletim meteorológico previa muita chuva para o dia seguinte. A pequena quis saber porque é que eles diziam isso e a mãe pacientemente explicou que pelas fotografias do satélite se observava que havia uma baixa de pressão situada a nordeste dos Açores que se dirigia para a Península Ibérica com uma forte componente de ar marítimo e portanto iria chover. E porque é que essa depressão vem para cá? perguntou a pequena. E a mãe explicou que a diferença de pressão atmosférica ia impelir para cá as nuvens. E a pequena perguntou mais uma vez, mas porque é que a pressão atmosférica está assim? E a mãe respondeu que nessa altura do ano as pressões mais altas vão para o hemisfério Sul. E a pequena voltou a perguntar porque é as pressões mais altas vão para o Hemisfério Sul? Foi então que a mãe lhe deu a mais científica de todas as respostas: Olha, filha, porque Deus Nosso Senhor quer que chova amanhã…

Mas, e porque falamos de M. Eliade é talvez interessante analisarmos aquele que é um argumento tão definitivo que francamente muitas vezes não me apetece esgrimir com ele, porquanto para mim na realidade o assunto se esgota na própria definição de Maçonarias.

Ora, vejamos e deem-lhe por favor as voltas que quiserem: A Maçonaria é uma Sociedade Iniciática, ponto parágrafo e mais que final.

Pois bem, o iniciatismo não tem possibilidade alguma de existência fora de um conceito Sagrado. Admitir o contrário deste verdadeiro postulado científico só pode revelar ou uma triste ignorância ou uma degradação profunda de atos supostamente iniciáticos.

Muito mais havia a dizer neste aspecto. Na realidade, realçamos com frequência o Iniciatismo da Ordem Maçônica, orgulhamo-nos que isso assim seja, cultivamos muito cuidadosamente os rituais de Iniciação mas esquecemo-nos daquilo que eles têm implícito. Sem sombra de dúvida, obedecemos a todos os padrões e regras fundamentais dos ritos iniciáticos, tal como estão imutavelmente definidas desde os tempos clássicos de Van Gennep:

A privacidade dos ritos.

O seu significado especial para um grupo de indivíduos.

A sua apresentação de forma teatralizada.

A sua realização sobre a forma de experiência participativa.

Tudo isto nos define como uma Sociedade Iniciática, a última que persiste no Mundo Ocidental. Retire-se lhe o conceito Sagrado, e o que é que resta? Uma paródia, uma cegada, uma brincadeira de crianças crescidas, diria mesmo uma espécie de festa de recepção aos caloiros… Aqueles que conhecem as iniciações das Maçonarias Irregulares, sabem bem como elas tem tendência a transformar-se em comédias mais ou menos agarotadas, tentação essa que às vezes infelizmente também se verifica por errada tradição nas Maçonarias Regulares. Refiro-me explicitamente a alguns comportamentos cuja ligeireza é por vezes lamentável e que traduz apenas uma fraca convicção do sentido sagrado da cerimônia, quando não a sua total incompreensão.

É que não basta afirmar num papel a condição de crente para se poder ser Maçon. É preciso, sim, ter condições para cumprir o primeiro e mais fundamental dos Landmarks e acreditar verdadeiramente na existência de Deus. E eu confio inteiramente nos meus Irmãos. Sei que hão de vencer as forças sociais que modernamente obstaculizam a fruição dos valores espirituais e hão de prosseguir com a valorização do nosso indestrutível património de iniciatismo, em Espaço e Tempo Sagrados, no Templo que dia a dia todos frequentamos.

novembro 12, 2023

SOBRE ELEUTERIO NICOLAU DA CONCEIÇÃO - Jorge Gonçalves

Tive a honra e o desafio de realizar a apresentação do nosso palestrante nesta noite. É desafiador, pois, por um lado, nosso irmão é um verdadeiro patrimônio da Maçonaria brasileira, dispensando qualquer apresentação. Por outro lado, a tarefa me foi dada, e preciso executá-la. Assim, pensei em ler seu currículo, mas, dada a extensão e amplitude do currículo, isso tomaria vários minutos da apresentação.

Assim, meu Venerável Pedro Brito, decidi fazê-lo à minha maneira. Perdoe-me:

Nasceu em Florianópolis (SC) e hoje, aos 73 anos, está no auge de seus conhecimentos, dedicando aproximadamente 40 anos à Maçonaria, com vários livros publicados, artigos escritos e palestras realizadas. Ele é um irmão espetacular, cujas qualidades parecem retiradas de uma obra de ficção científica.

Costumo compará-lo a Yoda, um personagem fictício do universo Star Wars, criado por George Lucas. Assim como Yoda é um sábio Mestre Jedi, ele é o mestre dos mestres.

Com o lado esquerdo do cérebro voltado para o raciocínio lógico, cursou Licenciatura em Física e obteve posteriormente o Mestrado na mesma área. Ao longo de 27 anos, inspirou seus alunos no Departamento de Física da UFSC com seu profundo conhecimento.

Já seu lado direito do cérebro, mais artístico, manifesta-se sua capacidade de produzir obras de arte magníficas, como "A Saga do Contestado" e "Nossa Senhora do Desterro". Tenho o privilégio de possuir uma pintura feita por suas talentosas mãos. Ele também é um cantor, e seu timbre ressoa de maneira agradável aos ouvidos. Seus livros são contundentes, precisos e de fácil leitura. Realizei o sonho de escrever um livro junto ao mestre: "Da Pedra Bruta à Inteligência Artificial: O Legado da Maçonaria e a Era Digital do Conhecimento".

Suas palestras são verdadeiras aulas magnas, abrangendo temas desde a magia quântica, um tema desafiador até para os mais capacitados, até a filosofia e a religião. Em suas palestras, se as evidências não correspondem aos fatos, certamente ouvirá o mestre dizer: "Não é bem assim!" 


Nós, maçons, compartilhamos uma característica que supera todas as nossas diferenças, uma profunda admiração pelos maçons notáveis que fizeram e fazem parte de nossa história. 


"Está vendo aquele maçom? Ele é nosso irmão: 

 *ELEUTERIO NICOLAU DA CONCEIÇÃO.*