QUE VINDES AQUI FAZER?
Existe uma resposta ritualística para esta pergunta.
Com facilidade, qualquer maçom a recita de cor, comprovando que está a par dos conhecimentos básicos para se fazer reconhecer.
A pergunta, porém, contém uma significação mais profunda, específica, que podemos analisar antes de adotarmos a resposta como real e sincera.
VENCER AS PAIXÕES
Ao declarar que deseja vencer suas paixões, o maçom está assumindo o compromisso de descobrir quais são aquelas que assolam o seu espírito e, mais ainda, como pretende removê-las ou substituí-las.
Para isso, ele deve ter plena consciência do que é, como está procedendo no seu meio e o que faz por si, pelos irmãos e pela humanidade.
Conhecer-se intimamente é o primeiro passo para derrotar os impulsos menos nobres e fazê-lo transformarem-se em movimento na direção do bem.
Também é preciso identificar, com muita exatidão, o que são paixões, como se manifestam e do que provém, para que o processo de eliminação não se limite a remover os seus efeitos, e sim, destrua-lhes as causas.
De fato, não projetar um ódio sobre o objeto desse sentimento evita que ele produza efeitos externos e, assim, contribui para um relacionamento mais harmonioso com as pessoas.
Mas essa atitude não remove o ódio em si mesmo, deixando-o lá, latente, pronto a eclodir a qualquer momento ou a inspirar posturas e ações não condizentes com o aperfeiçoamento que buscamos.
Tal como Teseu, que se internou no labirinto para aniquilar a besta - o Minotauro - também nós temos que percorrer esses caminhos escuros e sombrios do nosso espírito, para de lá extrair as bestas que devemos combater - nossos vícios - ou seja, nossos defeitos de caráter, a fim de vencida a porfia, de lá podermos assomar mais fortes, mais limpos, mais aptos para o trabalho social a que nos propomos.
Então, para declarar que vencemos uma paixão identificada, é necessário que tenhamos a certeza de que ela não mais existe e, se não se manifesta, não é por ter sido amordaçada, e sim, porque deixou de compor o nosso eu interior, definitivamente. Esse é o primeiro passo.
SUBMETER A VONTADE
A vontade é a capacidade que os seres vivos animados têm de determinarem o seu procedimento de acordo com o que lhe dita à consciência ou o instinto.
Nossa vontade humana pode ser controlada pela inteligência, que escolhe os recursos de que disporá para manifestar-se.
Assim, à luz dos costumes e leis, somos obrigados a restringir a manifestação da nossa vontade àquilo que pode ser feito ou representado, sem ofensa à lei ou aos bons costumes.
Isso, no entanto, não impede que, às vezes, procedamos em desacordo com essas leis e costumes, para satisfazer uma necessidade ou desejo.
Esta violação das normas e usos vigentes representa um emprego volitivo das nossas capacidades sem o controle adequado da nossa consciência e da nossa mente, representando a fuga do ser de dentro dos limites impostos pelo contexto social.
É por isso que, na Maçonaria, exercitamos a nossa capacidade de fazer a nossa vontade ficar contida dentro dos limites dos nossos landmarks, leis usos e costumes, que são suficientes para assegurar que seremos pessoas capazes de viver dignamente em qualquer contexto legal.
Esse domínio sobre o exercício da vontade depende de intenso treinamento ininterrupto e diuturno, pois sempre há alguma dessas manifestações de indisciplina intelectual e mental pronta para aparecer e nos vencer.
No labirinto, Teseu guiou-se pelo fio que Ariadne lhe deu e que ficou segurando, à saída, para que o herói pudesse achar o caminho de volta.
É esse fio que representa a submissão da vontade a um traçado pré-concebido e pré-existente: as leis os costumes e os usos da sociedade a que pertencemos.
Enquanto não pudermos seguir esse fio dourado, não teremos dominado a nossa vontade, para que nos leve ao aperfeiçoamento que almejamos.
FAZER PROGRESSOS NA MAÇONARIA
Esta típica expressão maçônica nos mostra que somos maçons para aumentarmos nossos conhecimentos da Arte Real continuadamente, sem interrupção por qualquer motivo.
Se frequentamos regularmente a nossa loja, fazemo-lo para continuar esse progresso, através do convívio, da reflexão no silêncio e na meditação impostas pela austeridade ambiental e da atividade intelectiva provocada pelas ações que ali se desenrolam.
Cada sessão é uma aula sui generis específica, cujo conteúdo tem significado diferente para cada um dos irmãos.
As lições lá aprendidas e exercitadas devem se tornar nosso patrimônio intelectual e emocional exclusivo, formador da nossa personalidade maçônica e garante do aprendizado que se segue.
Nada substitui, em eficiência, no nosso método de aprendizado, o convívio dos diferentes, com a troca benfazeja e enriquecedora das experiências e opiniões de cada um com todos os outros.
Acumulando essas ricas experiências em loja, certamente seremos melhores como cidadãos e como integrantes da Maçonaria e estaremos em condições de propagar essa cultura multicentenária para os nossos pósteros.
Fica deste modo, respondida a pergunta em epígrafe.
Tomara que possamos ao respondê-la em alto e bom tom, quando inquiridos, ter consciência do grande significado que oculta, aos não iniciados, as verdades dos nossos trabalhos maçônicos.
Que todos possamos refletir sobre ela e criarmos, nós próprios, as nossas respostas, de modo a que sejamos, todos, construtores de um mundo melhor.
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