O judaísmo é uma doutrina de vida. Esta doutrina não é nem pretende ser, uma teoria abstrata que se destina apenas preparar as pessoas para a bem aventurança no mundo a vir, mas ser um guia para uma vida plena neste mundo. Como doutrina de vida, o Judaísmo tem uma atitude positiva para com a vida, antepondo otimismo ao pessimismo, alegria à tristeza, sociabilidade à reclusão.
A respeito do título de Povo Eleito ao povo hebreu, este conceito bíblico não pretende dizer “superioridade”. O “povo eleito” quer dizer o povo o qual recebeu uma missão na Terra. “Eleito” para desempenhar um importante papel, isto é, de introduzir o monoteísmo e derrubar o politeísmo entre os povos da época. “Ser eleito” não deu privilégios ao povo judeu, pelo contrário, trouxe enormes deveres morais e pesados encargos. O conceito de “povo eleito” não está por isso, em contradições com a filosofia judaica de igualdade entre os homens. Portanto, pertencem ao “povo eleito” todos aqueles que praticam o monoteísmo.
MONOTEÍSMO E ÉTICA
O politeísmo, isto é, a multidão de divindades, implica numa multidão de cultos e uma multidão de normas, o que um deus censura, o outro aprova; os deuses locais ou nacionais, brigam entre si, e o mesmo acontece entre os deuses do mesmo panteão. O monoteísmo estabeleceu pela primeira vez na história, uma só norma para toda a humanidade.
Segundo o Judaísmo, o princípio básico da vida é a maneira mais autêntica de adorar a Deus. É a imitação das virtudes divinas: Como Deus é Misericordioso, assim também devemos ser compassivos. Como Deus é Justo, assim devemos tratar com justiça o próximo. Como Deus é Perfeito, assim devemos nos aprimorar para sermos perfeitos nas boas ações. Como Deus é Tolerante, assim também devemos ser tolerantes em nossos julgamentos.
A Bíblia hebraica, ou Velho Testamento, como é conhecido pelos outros povos, é o Pentateuco, ou Lei de Moisés, em hebraico Torá, compreende o conjunto de cinco livros da Bíblia, que são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, nomes derivados do grego. A autoria do Pentateuco ou Torá é atribuída a Moisés, que o escreveu sob inspiração divina.
Os princípios básicos do Judaísmo, que se pode considerar como fundamento da democracia são:
Deus não fez distinção entre os homens levando em conta credos, cor ou distinção social, todos os homens são iguais a Seus olhos.
Todo homem é guarda do seu irmão, cabe-nos responsabilidade tanto pelas faltas de nosso semelhante quanto pelas suas necessidades.
Feitos a imagem de Deus, todos os homens dispõe de infinitas possibilidades para o bem, por conseguinte, o papel da sociedade é destacar o que há de melhor em cada pessoa.
A liberdade deve ser apreciada acima de todas as coisas, logo, as primeiras palavras dos Dez Mandamentos descrevem Deus como o Grande Libertador.
A Torá legou a humanidade o seu magno princípio “ Amarás o teu semelhante como a ti mesmo”. Há um versículo na Bíblia, em Gênesis, que ensina que Deus criou o homem à Sua imagem, que pode ser interpretado como se o homem não fosse dotado de inteligência e alma, não se poderia exigir dele que amasse ao próximo como a si mesmo. Na
Torá precisamente no Talmud, que é o estudo da Torá, nos relata que o homem é intitulado “sócio de Deus” no aperfeiçoamento do mundo, pois a ele foi entregue a tarefa de “dominar a natureza, não por força de milagres e fenômenos sobrenaturais, mas por esforço próprio”. Foi para este fim que “ Deus criou o homem à Sua imagem ”, isto é, dotou-o de inteligência.
Entre todos os monumentos escritos das antigas civilizações, é a Bíblia o único escrito antigo com a visão de uma fraternidade humana universal. Somente o monoteísmo permitiu conceber a unidade da humanidade. O politeísmo dividiu a terra em fragmentos autônomos, tendo cada um a sua tribo separada e a sua divindade privada; até as aspirações de um Platão não superam o sonho de uma Grécia unida. No monoteísmo, a terra e seus povos são um, os “filhos dos Etíopes” como os “filhos de Israel”. O monoteísmo une, o politeísmo divide.
Conceitos de igualdade e fraternidade encontramos em vários relatos do Talmud (que é o estudo da Torá): - Por que, pergunta um Mestre do Talmud, criou Deus, no princípio um só Adão e não muitos?
Para que alguns homens não se considerassem superiores a outros, e não se orgulhassem de sua linhagem dizendo: - Eu sou descendente de um Adão mais distinto que vocês.
Os dois princípios básicos do ideal ético do Judaísmo, que é essencialmente democrático são a fraternidade e a igualdade.
Entre todas as correntes do pensamento antigo, foi o Judaísmo o primeiro a postular o ideal ético de igualdade e liberdade. Este ideal não se restringe apenas a Israel bíblica, mas a toda espécie humana.
Comparando as relações sociais entre os povos antigos, em especial a Esparta, Atenas e Roma de um lado, e Israel do outro, a diferença ao tratamento com o estrangeiro resumia-se que na Grécia e em Roma haviam três escravos para cada cidadão. Para Grécia e Roma, os “direitos do homem” se limitavam a seus cidadãos, todos os outros eram “bárbaros”. Isócrates dizia: “A diferença entre gregos e os bárbaros, não é menor do que a diferença entre o homem e o animal”, e Eurípedes proclamava: “É justo que os bárbaros sejam subjugados pelos gregos, pois estes são homens livres e aqueles são de natureza, escravos”.
No império romano havia no século 1, nada menos de 20 milhões de escravos, na maior parte de estrangeiros. Em Esparta e Atenas, por exemplo, os estrangeiros só podiam permanecer um tempo muito curto, passado o qual, recebiam a ordem de sair do país. Em Atenas se um forasteiro quisesse permanecer, tinha que arranjar um patrão entre os cidadãos, e além de pagar impostos, era despojado de seus bens e de sua liberdade.
Entre os judeus, ao contrário, havia... Uma mesma lei e um mesmo direito para vós e para o estrangeiro que peregrina convosco (em Números 15: 5). Uma mesma lei haja para o natural e para o estrangeiro (em Levítico 19: 33 e 34). “ E quando o estrangeiro peregrinar contigo na vossa terra, não o oprimireis. Como um natural será o estrangeiro entre vós e o amarás como a ti mesmo (também em Levítico 19: 33 e 34).
Ao ideal Platônico limitado a uma “Grécia unida”. Isaias se antecipou quatro séculos antes com sua visão igualitária, proclamando em nome do Eterno: “E aos filhos dos estrangeiros, também os levareis ao Meu santo monte, e os festejareis na Minha casa de oração, porque a Minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos” (Isaias 56: 6 e 7)”.
Nada menos de 49 passagens da Bíblia se referem ao estrangeiro, para proteger seus direitos como homem livre e em nome da fraternidade humana. Esta igualdade foi formulada de um modo muito claro e minucioso: “Alimenta-se aos pobres dos estrangeiros como aos filhos de Israel; enterra-se a seus mortos, como aos de Israel; e os aflitos dos estrangeiros se atende da mesma maneira como se faz com os aflitos de Israel”.
O princípio de igualdade entre os homens e de fraternidade humana universal, supera todas as considerações de origem e cor, crenças religiosas ou classes sociais. Nós o encontramos na Bíblia quando interpretamos: “Deus não repele nenhuma criatura; as portas estão abertas; entre quem quiser. Todos são iguais perante Deus; as mulheres como os homens, os servos como os amos, os pobres como os ricos”.
Finalizando podemos afirmar que o Judaísmo como filosofia de vida, se resume em uma só fórmula esquematizada: O Judaísmo tem como ponto de partida o monoteísmo ético da Bíblia, como princípios básicos e normativos a Justiça (ou fazer Justiça), consequentemente a Democracia, espelhada na Liberdade, na Igualdade e na Fraternidade.
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Fonte: Grupo Olho de Luz