janeiro 09, 2024

A MAÇONARIA HOJE - Rui Bandeira

Depois de ouvirmos e de lermos muitas opiniões sobre a Maçonaria, grande parte das quais elaboradas sobre preconceitos, em especial num País como o nosso onde durante décadas não foram consentidas instituições onde pudessem germinar ideias avessas ao poder dominante, formamos também as nossas opiniões. Estas eram, naturalmente as resultantes das informações tendenciosas transmitidas pelos meios que nos estavam mais próximos e eram, novamente, de esperança ou de suspeição. 

Se alguns imaginavam que a Maçonaria era uma escola de cidadãos perfeitos, outros garantiam que, quem nela entrasse tinha garantida a entrada no inferno com as mais vivas brasas. Se os segundos se mantiveram, para tranquilidade dos seus votos, afastados da Ordem, alguns dos outros ousaram franquear as portas do Templo.

Aqui chegados, mantiveram as posturas que na vida profana vinham já adaptando: os que procuravam o aperfeiçoamento, estudaram, valorizaram-se, tornaram-se mais exigentes consigo próprios e tolerantes com os outros; perceberam que os textos rituais são inesgotáveis fontes de ensinamentos ainda que não entendessem facilmente todas as lições neles contidas. 

Os que, na vida profana se acomodavam e usavam a crítica como escudo, prosseguiram, apesar dos exemplos dos seus Irmãos, na mesma senda; e, porque lhes escasseia a capacidade para polirem a própria pedra olham com azedume a forma como os seus irmãos cuidam das suas. Nada dão de si próprios já que colocam à frente de quaisquer conceitos a defesa dos seus próprios interesses. 

E, o que não pode deixar de ser motivo de reflexão, estes que entraram, sem respeito, no Templo, viram as portas franqueadas pelos que já se encontravam no seu interior; buscavam favores profanos e, o que nos entristecia, em muitos casos, o reconhecimento obtido com a mais rica decoração de um avental que compensava uma vida profana apagada e triste.

Uns e outros, como que esquecidos de que são todos filhos da mesma sociedade levados por um imaginário que a História ajudou a construir e que não podemos desprezar, vieram para o nosso convívio, na expectativa de, num mundo diferente, encontrarem modelos culturais e sociais diferentes.

E novamente aqui a dicotomia se manifestou: os que sabem, e sentem, o que é a Maçonaria, encontraram muitas das respostas que procuravam; para tal estudaram, para tal trabalharam, para tal confiaram nos seus Irmãos, a tal se deram na percepção plena de que, efetivamente a Maçonaria é muito mais do que parece e de que, tudo o que nos pode oferecer é o resultado do trabalho de muitos que já não estão conosco e do trabalho solidário, fraterno e consciente de cada um de nós.

Naturalmente, e poderei dizer felizmente, para os que entram com a intenção de muito receberem sem quase nada darem, a Maçonaria não é a instituição que gostariam de encontrar. Uma instituição que, pela sua forma discreta de viver pelas relações nacionais e internacionais que possui, poderia constituir um veículo útil. De entre estes muitos afastam-se, enquanto outros permanecem, apaticamente, lendo mecanicamente rituais sem os entenderem, participando de iniciativas sem entusiasmo, no desejo de que algum Irmão os possa apoiar na vida profana ou de que as aparências o satisfaçam com aventais, colares, medalhas, diplomas, etc. etc. Ficarão sempre na convicção de que a Maçonaria é pouco, sem perceberem que eles são muito pouco.

Porque, quando falamos em aperfeiçoamento espiritual, e fazemo-lo sem reticências, sabemos que a pedra não é polida por outros: é polida, laboriosamente por cada um de nós, com a fraterna ajuda dos outros.

Na certeza de que cada Maçom está a trabalhar num momento em que a humanidade, cercada por angústias e incertezas, espera que ele cumpra a sua missão. Porque hoje, e verificamo-lo todos os dias, o homem deixou de confiar em muitos dos apoios a que se agarrou durante séculos e, numa deriva de confusões, em que se vê obrigado a correr no meio de uma turba sem saber para onde nem porquê, tenta evitar situações de desregulação psicossocial onde a esperança nele e nos outros já não existirá.

As agências de controle social, a quem vinha entregando a responsabilidade de definir o que se deve fazer e o que não se deve fazer, no que devemos acreditar e no que não devemos acreditar, e às quais não eram feitas perguntas que não contivessem já as respostas acopladas, foram perdendo a função de bússola, impotentes que se foram mostrando face às novas avalanches de dúvidas e de contestações.

A Família já não representa o que representava, o Estado já não tem o poder que tinha, não se sabendo onde começa e onde acaba, desempenhando um papel crescentemente difuso, a Escola não logra emparelhar-se com a sociedade, a Religião, ainda que cada dia mais plurifacetada não é já respeitada nem temida como já foi, a Justiça perdeu credibilidade...

Mas o Homem, com as suas fragilidades carece, como sempre careceu, de se segurar em esperanças, pelo que é tentado a deitar a mão ao primeiro bote que passar desde que pareça sólido. Cedo se está a dar conta de que estes botes nenhuma confiança merece e de que, afinal, é bem mais seguro procurar a segurança dos princípios, com outros homens, em lugares onde seja ouvido e respeitado.

E a Maçonaria oferece, de forma que continua a ser ímpar, a possibilidade de progredirmos espiritualmente sem perdemos o direito de pensarmos livremente. É um caminho bem difícil, mas é, para nós, o que nos permite sermos melhores sem que seja menosprezada a nossa responsabilidade.

----

Excerto do artigo "A atualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25. (Publicado em novembro de 2006)

janeiro 08, 2024

A AVENTALITE

A aventalite é uma afeção que assola alguns maçons, geralmente de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo evoluir para uma forma crónica, essa necessariamente mais séria e com um tratamento mais demorado e cura mais problemática.

Manifesta-se por uma despropositada inflação do ego, injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de poder e, nos casos menos ligeiros, inadequado comportamento em relação aos seus iguais, vistos pelo afetado como inferiores ou subordinados, por não usarem aventais XPTO.

A aventalite é suscetível de atacar Grandes Oficiais e dignitários de Altos Graus, independentemente da Obediência, seja Grande Loja ou Grande Oriente, assuma orientação mais anglo-saxónica ou mais francesa, e pode atacar tanto homens como mulheres, embora empiricamente pareça ser mais frequente naqueles.

O tratamento da sua forma aguda é fácil e geralmente eficaz, se aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa e sonora censura, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar maneirices de armados em mete-nojo, acompanhada de expressa chamada de atenção para a Igualdade que obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de recordatória de que o exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente ou funções em Altos Graus são meros serviços, tarefas, ofícios a serem desempenhados com zelo e humildade e não honrarias ou reconhecimentos de inexistentes superioridades.

Nos casos mais graves, pode ser necessário um reforço de tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados sítios não propriamente prestigiados e solenes avisos de que, ou o afetado atina e deixa de se continuar a armar ao pingarelho, ou é melhor continuar a enganar-se dando voltas ao bilhar grande, que junto dos seus iguais (quer ele queira, quer não) não vai ter grande sorte.

Nas formas mais leves da afeção, e sobretudo quando o doente é de boa índole, o tratamento mais suave chega para debelar a afeção, sem sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas, em regra facilmente tratáveis com uma observação chocarreira e bem-humorada, como, por exemplo, Lá estás tu outra vez a deixar o aventaleco janota subir-te à cabeça. Deixa-o lá sossegadinho e não te estiques, que és melhor que isso…

Nas formas mais severas, afeção prolongada ou doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento reforçado, repetido as vezes que forem necessários até o doente ir ao sítio. No entanto, quer a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento podem dar origem a efeitos secundários ou sequelas desagradáveis, designadamente amuos e afastamentos. Nas situações verdadeiramente graves e reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.

A aventalite é uma afeção oportunista que se manifesta com mais frequência em ambientes poluídos por regras, expressas, implícitas ou consuetudinárias, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com demasiada frequência e em locais inapropriados de aventais XPTO. O oportunismo da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie o uso desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais XPTO.

Para além do tratamento dos casos concretos dos afetados pela doença, é importante que se faça adequada prevenção, para evitar novas infeções, recidivas e recaídas.

Recomenda-se assim revisão das normas regulamentares e das práticas que não limitem o uso dos aventais XPTO aos locais e ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se tenha presente que, na sua Loja, o obreiro é um elemento do Quadro desta, absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e, que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na sua Loja, usa avental XPTO, antes devendo usar o avental do seu grau e, se for caso disso, a insígnia da sua qualidade na Loja, sendo absolutamente indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja, Grande Oriente ou nos Altos Graus. A Loja é independente e livre e em nada inferior à Grande Loja ou Grande Oriente (pelo contrário, é a Loja que, juntamente com as outras, determina a regulamentação essencial da Grande Loja ou Grande Oriente e elege o seu responsável máximo). Esta regra deve ter como única exceção – certamente ocasional – a situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na sua qualidade de obreiro dela, mas no efetivo exercício da sua função de Grande Oficial ou em representação expressa do Grão-Mestre.

Este princípio deve ser extensivo à visita a outras Lojas. Se o obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e propicia a aventalite, que use outro avental que não o do seu grau. Se a deslocação, porém, se fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou em representação do Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu avental XPTO.

Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou Grande Oriente, aí sim, está-se em pleno espaço e tempo em que é justificado e adequado o uso de aventais XPTO. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental XPTO, que, por regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela irritante aventalite.

A bem da saúde dos maçons, exorto a que esta atividade de prevenção seja feita. É saudável. é amiga do ambiente e, sobretudo, é… maçônica!


Texto adaptado por um Filho da Viúva

MAÇONARIA E SIMBOLISMO – UMA VIAGEM PELO INCONSCIENTE COLETIVO DA HUMANIDADE - João Anatalino Rodrigues


Alexandrian sustenta que tanto o pensamento mágico quanto o racional é necessário à construção do espírito humano. O primeiro é inerente ao inconsciente, o segundo ao consciente. Ambos, porém, tem génese tão antiga quanto o próprio homem e teriam, segundo as suas próprias palavras, uma função reparadora do eu pressionado pela necessidade de dar respostas a questões que nem a razão pura, nem a razão prática, conseguem responder.

Não raramente a nossa mente precisa recorrer a simbolismos e outros artifícios para exprimir os conteúdos do nosso inconsciente, uma vez que a linguagem lógica, que se exprime através de símbolos pictóricos e expressões linguísticas verbais e não verbais, não tem meios para fazê-lo. As profecias de Nostradamus, o Apocalipse de São João, as obras alquímicas, o simbolismo da Cabala, as fábulas infantis e algumas histórias bíblicas são exemplos dessas estratégias mentais, cujo conteúdo, muitas vezes, é irredutível à lógica da linguagem codificada. Por isso elas têm que ser representadas através da linguagem simbólica.

O pensamento mágico não é exclusividade de espíritos místicos que procuram, irrefletidamente, penetrar nos mistérios do universo. Na verdade, a sua utilização, ao longo da história da humanidade, sempre teve um sentido mais pragmático do que os amantes do positivismo científico podem pressupor. Pensadores tidos como racionalistas tiveram as suas experiências com o pensamento mágico. Freud, a quem se atribui a sistematização dos conteúdos do inconsciente humano, confessou a influência que recebeu desse tipo de pensamento quando elaborou a sua tese sobre o significado dos sonhos. Jung, principalmente, deve a sua fama às descobertas que fez sobre as relações que o inconsciente humano mantém com o mundo mágico dos símbolos e dos arquétipos. Pela sua importância na compreensão desse tema apresentamos o resumo que segue.

Carl Gustav Jung (1873 — 1961) foi um grande estudioso da simbologia que influencia o pensamento humano e gera uma grande parte das nossas crenças e tradições. A sua teoria a respeito dos arquétipos que informam a nossa vida psíquica é ainda hoje muito respeitada. Segundo ele, a espécie humana compartilha um Inconsciente Coletivo, ou seja, um conjunto de institutos culturais simbólicos, que se tomam padrões psíquicos para todos os grupos humanos, em todos os tempos. Exemplos desses arquétipos são o amor fraternal, o ritual do casamento, o medo do escuro, a associação de estados psicológicos com certas cores, a crença de que o movimento dos astros no céu influencia a vida na terra, o respeito para com os mortos, a crença na existência de seres sobrenaturais, etc. além de outros padrões simbólicos universais que informam a moral social, a religião, o sistema legal e outras estruturas sociocultural dos povos, em todos os tempos e lugares. Estas estruturas psicológicas são arquétipos, ou seja, modelos culturais formatados na sensibilidade da existência de forças ou “entidades” que a humanidade aprendeu a amar, temer, respeitar, enfim, dar a elas uma determinada valoração no seu material consciente ou inconsciente. Todos nós sabemos que devemos respeito aos mortos. Que precisamos procriar para perpetuar a espécie, que devemos prestar respeito e homenagens a determinados símbolos, que devemos crer na existência de forças superiores, etc. Quer dizer, essas são noções que existem anteriormente a nós e conformam a nossa maneira de pensar e de viver, por que deixar de atender a elas causar-nos-á algum tipo de constrangimento ou limitação. Não precisamos de entendê-las nem de as justificar, e muitas vezes praticamos inconscientemente o culto a esses arquétipos até como necessidade de sobrevivência.

Jung associa esses arquétipos aos temas mitológicos que aparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diferentes. São os mesmos temas, encontrados em sonhos e fantasias de muitos indivíduos e também nos mitos e lendas de todos os povos em tempos e lugares diversos. Isso denota, segundo ele, a origem comum da humanidade, que nos seus primórdios enfrentou os mesmos desafios e fez as mesmas indagações. Arquétipos como Adão, Hércules, Cristo, Osíris, Prometeu, bem como duendes, magos e feiticeiros, todas as entidades do bem e do mal, temores e crenças em determinados elementos da natureza, são comuns a toda raça humana.

Lugares e acontecimentos também constituem estruturas arquetípicas. A noção de um paraíso (Éden), por exemplo, assim como o temor de um apocalipse (um final dos tempos) são comuns para todos os povos e épocas. Estados psicológicos de felicidade e desgraça coletiva estão na origem dessas noções arquetípicas, que denunciam a necessidade de a mente humana construir uma escatologia (uma história cósmica com princípio, meio e fim) para se poder sentir como partícipe dessa história.

O mito grego de Édipo é um claro exemplo desse simbolismo. Édipo é um motivo tanto mitológico quanto psicológico, que representa uma situação arquetípica que se relaciona com o conteúdo da mente inconsciente do filho em relação aos seus pais. Quer dizer, o mito de Édipo tem a ver com o ciúme natural que um filho (ou filha) tem da relação entre o seu pai e a sua mãe.

Muitas histórias bíblicas também revelam conteúdos semelhantes, que são fundamentados, ou em sensibilidades que a mente humana sublimou ou reprimiu, ou em conflitos ambientais que conformaram a história do homem e as suas sociedades. É fácil ver na metáfora de Caim e Abel, por exemplo, um conflito entre a agricultura e o pastoreio, patente em territórios onde a natureza não é muito pródiga em recursos naturais, especialmente pastagens e água. Assim também é a história das filhas de Lot, que reflete uma crítica dos cronistas de Israel aos seus belicosos vizinhos amonitas e moabitas. Da mesma forma, a história dos irmãos Jacó e Esaú é uma metáfora das lutas entre membros da mesma família pela herança patriarcal, que sempre foi regulada pelo princípio da primogeniture.

Na mesma moldura podemos colocar também a lenda da Torre de Babel, a história do dilúvio universal e a formação das raças humanas a partir dos três filhos de Noé, cujas origens podem estar em memórias que se referem a situações e personagens arquetípicos de um tempo em que os primeiros grupos humanos ainda estavam procurando encontrar as suas próprias identidades e fixar as suas características dentro de um ambiente que lhes parecia competitivo e hostil. Normalmente os arquétipos são construídos a partir das esperanças, dos desejos e dos anseios de um povo. Como as necessidades e as lutas dos grupos humanos para construir os seus sistemas de vida e fixar os seus valores são mais ou menos semelhantes, essas estruturas mentais acabam sendo comuns. Por isso também é que encontraremos, em todas as literaturas sagradas os mesmos temas e praticamente as mesmas personagens, caracterizadas à maneira das necessidades e da identidade de cada povo. Talvez não tenha existido, historicamente, um Adão, um Noé, um Moisés, um Josué, da mesma forma que Aquiles, Ulisses, Hércules, Teseu, Jasão e outros heróis gregos. Da mesma forma, Arjuna, Rama e os demais heróis brâmanes, podem ser apenas imagens mentais das virtudes cultivadas por esses povos, que as retrataram na forma de personagens heroicas, da mesma forma que as lendas e folclores encontrados na cultura dos mais diversos povos do mundo, em todos os temas, são retratos dessas estruturas. Destarte, encontraremos o simbolismo do herói sacrificado pela salvação do seu povo em praticamente todas as culturas antigas, da mesma forma que o legislador, o guerreiro, o homem santo, o sábio, e também arquétipos do mal e do bem, retratados em feiticeiros, bruxas, duendes, demónios, gigantes malvados e monstros de todas as espécies.

Um dos principais estudos de Jung refere-se à simbologia. Os símbolos são a linguagem do inconsciente, que retrata através de analogias, aproximações e outras relações menos inteligíveis, o conteúdo de uma determinada sensibilidade, que a mente racional ainda não conseguiu classificar. É que a nossa mente racional só entende o que ela pode representar. E a nossa capacidade de representação é do tamanho da nossa capacidade de linguagem. Daí o símbolo ser a representação de uma sensibilidade não organizada na nossa mente, mas muito forte nos nossos sentidos. E mesmo que nenhum símbolo concreto possa representar de forma plena um arquétipo, quanto mais representativo ele for do material existente no nosso inconsciente, mais capacitado ele estará para eliciar uma resposta emocionada do nosso sistema neurológico. Por isso, um alemão responde mais intensamente à visão de uma cruz gamada, por exemplo, pois tal símbolo tem uma identificação profunda com conteúdo arquetípicos da sua cultura, da mesma forma que os judeus com o pentagrama, os cristãos com a cruz, a cultura xamânica com determinados animais, etc. Assim, na estrutura mais profunda do pensamento humano o arquétipo é um elemento básico que muitas vezes o conforma e o dirige. Não há tradição popular que não tenha na sua base um ou mais arquétipos a sustentá-la. Da mesma forma as religiões, sejam elas metafísicas, como a religião dos Vedas, o Budismo e o Taoísmo, que se baseiam em doutrinas desenvolvidas por inspirações reconhecidamente cerebrinas, ou as reveladas, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, cujos seguidores acreditam que tenham sido ensinadas pela própria Divindade, também são informadas por arquétipos.

Como a Maçonaria é uma cultura fundamentalmente simbólica, é interessante conhecer um pouco o trabalho de Jung. Por isso fizemos este pequeno excerto dos seus estudos acerca dos arquétipos fundamentais que estão nas raízes das crenças e tradições da humanidade. Nele encontraremos as noções fundamentais para o entendimento dos verdadeiros significados dos símbolos, lendas e metáforas que informam a estrutura mais subtil da Arte Real.



CARÁTER - ESSÊNCIA HUMANA - Newton Agrejja


De repente nos deparamos com um substantivo, cuja etimologia é grega, e cujo significado, até hoje não encontrou um símbolo que se pudesse adotar como uma convenção universal.

Referência é feita à palavra grega KHARAKTER, que quer dizer  “marca gravada, sulcada ou esculpida”.

O termo ainda se traduz metaforicamente como “marca, impressão ou símbolo na alma”.

Fato é, que para a língua portuguesa, ela ganhou a forma "Caráter", que dentre tantas definições, aquela que talvez se traduza com maior densidade, consistência e concisão de significado seja a de  "formação dos traços morais de natureza ou feitio do ser humano".

Aliás, é justamente a questão da moral que diferencia o Caráter da Personalidade, vez que esta segunda propriedade humana, refere-se às características psicológicas que indicam como uma pessoa pensa e sente.

O Caráter é o que determina a forma frequente e habitual sobre como uma pessoa age e reage, baseada em um conjunto de valores herdados e acumulados como legado que passa de geração em geração. 

Algo igualmente relacionado com a índole da pessoa, bem como com sua firmeza e voluntariedade.

Por outro lado, a Personalidade diz respeito particularmente à individuação e à maneira como o ser humano se relaciona socialmente e emocionalmente.

Cabe lembrar que o Caráter compreende tanto qualidades positivas quanto negativas, que determinam o conceito de moral que rege as atitudes de um indivíduo.

Especificamente num processo de Sindicância que diga respeito à indicação de um Candidato para uma possível admissão na Sublime Ordem, há que se ponderar e perguntar-se a sí próprio :

"No que devemos nos pautar durante a entrevista com o postulante: no seu caráter ou na sua personalidade ?

Embora esta seja uma questão quase impossível de ser respondida ou solucionada, fato é, que o processo de selecionamento e indicação, antes de uma Sindicância, precisa inequivocamente ser melhor elaborado e mais rigoroso, por mais que se busque incrementar o quadro de Obreiros na Maçonaria.

O cenário requer que se esmere sim muito pela  qualidade do que pela quantidade.

Talvez isto contribua para que o êxodo de Obreiros sofra um menor impacto, diante do quadro com que nos deparamos atualmente.



janeiro 07, 2024

20 ANOS SEM MEU PAI


No dia de hoje, 7 de janeiro, faz 20 anos que meu pai passou para o outro plano. Em sua homenagem conto alguns trechos de sua história a partir de Israel.

Embora na então Palestina (de Philistia, dos Filisteus) ainda sob o Mandato Britânico, já existissem inúmeras colônias judaicas, desde o século 19, em terrenos adquiridos e pagos por mecenas europeus como os Rothschild e o Barão Hirsch, após a Declaração da Independência de Israel, em 1948, o país se tornou uma colcha de retalhos de imigrantes judeus de todas as partes do mundo.

 Era uma multidão procurando um lar definitivo para se estabelecer, a Terra Ancestral dada pelo Senhor a Moisés. Pessoas de todas as idades, de todas as formações, com ou sem qualificações, com idiomas e dietas diversos, algo impossível de dar certo. O país não oferecia nada, nem terra fértil, nem indústrias, nem agricultura extensiva, nem sequer um governo que se entendia entre si. Mas todos unidos no ideal expresso por uma tradicional oração dos judeus, ‘’O ano que vem em Jerusalém”.

Papai foi um destes imigrantes. Apesar de sua formação militar e em matemática, estabeleceu-se em um pequeno aldeamento, ‘kiriat” em hebraico, nos arredores de Hadera, onde nasci, palavra que significa pântano em hebraico, o que descreve bem o local. Lá sustentava a família com uma charrete entregando barras de gelo de casa em casa no país que em seu início tinha pouca energia elétrica e quase nenhuma refrigeração, mas a escassa comida precisava ser conservada. Cuidava ainda de uma pequena roça e muitas noites, com seus vizinhos, fazia a ronda para proteger a aldeia dos constantes ataques dos terroristas árabes, os ‘fedayin”. Aliás, meu pai andou armado a vida inteira e a não ser na guerra, nunca feriu nem matou ninguém, o que mais uma vez prova que o perigo não está no instrumento, mas em quem puxa o gatilho.

Curiosidade. Nasci no Hospital Militar Inglês. Na minha última viagem a Israel fui rever a minha cidade natal, atualmente uma grande cidade que tem inclusive uma usina nuclear, e o local onde vim ao mundo era agora um Hospital de Doenças Mentais. Foi o meu alfa. Que não seja o meu ômega.

Seu maior tesouro era o cavalo, o mais cobiçado troféu de furto dos ‘fedayin’ e na casinha de madeira ele dormia com a janela aberta, com a corda que amarrava o cavalo presa no braço e o revolver na mão, mas nunca houve problemas. Sua reputação de bom atirador não justificava o risco para os larápios. E o país ia sendo construído passo a passo pela força e pela fé de quem retornava à sua Pátria ancestral, apesar da absurda escassez de recursos.

Em 1956, o ditador Nasser fechou o Estreito de Tiran, única saída de Israel para o Mar Vermelho e foram criadas condições para mais uma guerra, que de fato ocorreu pouco depois. Em junho do mesmo ano, farto de guerras, papai decidiu buscar viver em país lindo e pacífico. O Canadá, a Argentina, os EUA e o Brasil estavam proporcionando vistos para que tivesse alguma profissão, e meu pai, devido a sua experiência de artilheiro conhecia engrenagens, ferramentas e parafusos, e tendo declarado a profissão de mecânico conseguimos embarcar para o Brasil do navio Andrea C, da empresa italiana Linea C. As passagens foram pagas com a venda da casinha, dos poucos bens e do cavalo, ah, o bendito cavalo. 

QUANDO COMEÇA A INICIAÇÃO? - Sérgio Quirino Guimarães



O homem desde os primórdios da criação de sociedades que uniam pessoas com o mesmo propósito, criou cerimônias para a introdução de um novo membro em seu quadro de associados. Estas cerimônias visam além de apresentar o novo membro, passar para ele os princípios, a cultura e as diretrizes do grupo que agora ele fará parte.

Como exemplos temos o batismo (iniciação à cultura religiosa), casamento (iniciação à vida conjugal), formatura (iniciação à vida profissional) e na Maçonaria temos a Iniciação ao Grau de Aprendiz Maçom.

A Sessão Magna de Iniciação tem a função de "Rito de Passagem", onde o candidato deverá passar por atividades que lhe causem mudanças de estado moral e espiritual, deixando para trás o mundo profano e entrando em sintonia com os preceitos da Sublime Ordem.

Para que isto ocorra é mister que toda a Oficina esteja preparada para a grandiosidade da sessão; recordemos que o candidato terá apenas três sentidos para captar todas as mensagens subliminares que serão passadas. É importantíssimo a teatralidade, é pelo drama ritualístico que marcaremos no âmago do ser valores que às vezes conscientemente ele não captou, mas seu espírito e alma também foram iniciados.

A iniciação não começa após a abertura dos trabalhos pelo Venerável Mestre, cabe ao padrinho preparar o afilhado com antecedência. A Maçonaria é envolta de mil crendices que atrapalham em muito o relaxamento e a estabilidade emocional do candidato, é função do padrinho esclarecer todas as dúvidas, ele não pode contar o que acontece na sessão, mas deve dizer o que não acontece.

Também deve o padrinho procurar saber como anda a saúde do candidato e suas condições físicas, exemplo: hipoglicemia (lembremos que ele vai ficar horas sem se alimentar); labirintite (ele pode perder o equilíbrio conforme o movimento que for feito com ele), artrites ou cirurgias que o impeça de fazer alguma coisa; tudo isto deve ser levado à Loja para que haja a devida adaptação na ritualística e não quebre a egrégora formada.

Cabe também ao padrinho alertar ao candidato que ele deve cuidar da higiene do corpo; já presenciei uma iniciação em que o candidato estava profundamente constrangido por conta do tamanho das unhas do pé, ele ficou mais preocupado em esconder o pé do que ouvir o ritual.

Na noite que antecede a reunião, deve o candidato antes de deitar fazer suas orações e agradecer pelos dias já vividos, pois na noite da iniciação antes de se deitar ele deve ter em seu interior a paz e a felicidade para orar pedindo muitos dias de vida para colaborar na obra do GADU, pois a ele foi revelado a V∴L∴.

A intenção deste pequeno artigo é despertar em você a vontade de saber um pouco mais sobre o assunto, fazer uma pesquisa e quando ela estiver pronta, levar para sua Loja enriquecendo nosso Quarto de Hora de Estudos. Lembrem-se, todos nós somos responsáveis pela qualidade das Sessões Maçônicas.

PEDRA DE PALERMO



A Pedra de Palermo é o maior fragmento de uma laje de pedra negra (basalto) que tem gravados em hieróglifo um conjunto de eventos desde os últimos anos do pré dinástico até a dinastia V do Egito (Império Antigo), tais como cerimônias, censos de gado, nível anual da ascensão do Nilo, e o nome dos reis e faraós. Deve seu nome à cidade de Palermo, Itália, onde foi inicialmente exposta, sendo agora exibida no Museu Arqueológico de Roma.

O fragmento tem cerca de 43 cm de altura por 30 cm de largura, embora venha de uma laje que mediria cerca de 2 metros de comprimento por 60 cm de altura. Outros fragmentos menores deste documento, ou outro similar, encontram-se no Museu Egípcio do Cairo e no Museu Petrie de Londres.

O texto está dividido em três registros horizontais:

o superior mostra o nome do faraó desse período,

o intervalo dos eventos principais: festas, contagens de gado, etc. ,

o inferior indica o maior nível anual da inundação do rio Nilo.

Na faixa superior estão os nomes de vários reis predinásticos (Império Arcaico) do Baixo Egito: «... pu», Seka, Jaau, Tiu, Tyesh, Neheb, Uadynar, Mejet e «... a».

A pedra de Palermo (datada no século vi a. C. , copiando um original do Império Antigo) e os outros seis fragmentos encontrados (cinco no Museu Egípcio do Cairo e um em Londres) são provavelmente os únicos textos históricos conhecidos dos reis e faraós desde 3050 a. C. A pedra de Palermo era suposto estar em Heliópolis.

Essa pedra foi comprada por um advogado siciliano Fernando Guidano em 1859 e permaneceu em Palermo desde 1866. 19 de outubro de 1877 foi apresentada ao Museu Arqueológico de Palermo onde permanece desde então.

 Fonte: Guidano Family (Brignolle- Sanzio).

TRAÇANDO PARALELOS - Newton Agrella




A originalidade é uma expressão única e singular da capacidade humana de tornar absolutamente autêntica sua engenhosidade e seu processo de criatividade.

Particularmente no campo das Artes, da Música e da Literatura essa condição se torna evidente quando provoca reações que podem variar de humor conforme o perfil de seu ineditismo.

A originalidade está implicitamente associada ao modo de expressar-se, mas sobretudo à forma independente e individual de expor uma pintura, uma escultura, uma música ou uma obra literária. 

Ela se substancia a partir do momento que consiga traduzir "legitimamente" um novo conceito ou uma nova ideia que impacte o espectador, o ouvinte ou o leitor, e cuja essência seja capaz de convencê-los disso.

A originalidade remete-nos desde os textos bíblicos, quando a mesma se manifestava como inequívoco qualificativo do Pecado.

Sim, o Pecado Original, no universo cristão, dá conta sobre a autenticidade da imperfeição humana.

De qualquer forma é uma propriedade que traz consigo o caráter de ser genuína, inimitada e inteiramente própria em sua compleição.

No que diz respeito às peças literárias, o que mais se vê no dia a dia é o famoso "chupa e cola" ; 

Pois é, esse tal do "chupa e cola" ou a  desaforada "não citação de fontes e autores" de que se valem muitos dos que se atrevem a mergulhar no terreno da escrita são extremamente prejudiciais à saúde cultural.

Por mais infame que possa parecer, no ambiente maçônico é algo um tanto rotineiro, aventureiros travestidos de escritores procederem cópias fiéis de inúmeros textos, sem ao menos se preocuparem em dar um mínimo de caráter pessoal aos mesmos.

Imprescindível lembrar, que além de  indevido, este tipo de expediente em nada contribui para um suposto desenvolvimento intelectual do "pseudoautor".

Ainda no que tange à natureza da originalidade, espera-se de um artista, músico, escultor ou escritor  um mínimo de esforço, discernimento, reflexão e arbítrio para elaborar sua obra na esfera de sua verdadeira capacidade intelectual.

O pensamento e o raciocínio são os agentes transmissores desse exercício, os quais encerram em si um caráter incomparável.

No que contempla a originalidade no campo literário, o texto deve possuir um mérito dialético e argumentativo, alicerçado antes de mais nada, pela ética, como diretriz pelos princípios que motivam e disciplinam o comportamento humano,   manifestando o respeito da essência das normas e valores, atinentes a qualquer realidade social.



NOS RITUAIS - Adilson Zotovici



Se te convém bom futuro 

E te agrada transpor portais

Muito além do alto muro

Tens a escada em manuais 


Planos sem pressa mensuro 

Que as paragens são cabais 

Pra que viajes seguro 

Desde os três anos e mais... 


Inda que às vezes no escuro 

Há altares de luz, sinais

Se praticares...asseguro  


História,  símbolos, reais...

Antigos, atuais...auguro 

A glória tens nos Rituais ! 




janeiro 06, 2024

POTOSÍ - Roberto Ribeiro Reis


Não é preciso ser um abastado para experimentar a verdadeira felicidade. Se isso se consubstanciasse em verdade, não haveria bilionários infelizes, ou padecendo em aguda depressão. A verdadeira riqueza, sem sombra de dúvidas, não é deste mundo!

Pode parecer simples figura de retórica, mas o grande êxtase espiritual não está atrelado à efemeridade material e à fugacidade dos prazeres que a permeiam, mas à construção de um patrimônio singular, integrado por tesouros d’alma, de riquezas singulares e não aquilatáveis pelo homem de raciocínio médio.

A vida nos oferece um potosí de oportunidades, as quais muitas vezes passam despercebidas aos nossos olhos; prendemo-nos àquilo que nos impressione a visão, somos ludibriados pelas superficialidades, e, geralmente, esquecemo-nos de que a maior riqueza advém da essência das coisas.

A Maçonaria é um manancial farto de possibilidades sublimes. Dada a sua matriz veementemente filosófica, oferece-nos um arcabouço de imprescindíveis instruções, que nos auxiliarão na pavimentação de um caminho sólido, firme e ideal para a concretização de objetivos altaneiros.

Ela detém uma fonte inesgotável de conhecimento e sabedoria, capaz de alimentar o nosso espírito de luz e esclarecimento, mantendo-se resoluta na consecução de sua principal meta, como seja a de resgatar os homens das cavernas lúgubres da ignorância.

É mister que nos embebedemos dessa rica fonte, sorvendo dela todas as benesses que se encontram ao nosso dispor; é fundamental que nos refresquemos nas sombras frondosas da árvore da vida, que é a nossa Magnífica Ordem.

A nossa existência é abençoada dádiva, pela qual temos que lutar, infatigavelmente; por mais que os homens continuem flertando cada vez mais com a morte, através das guerras, da cobiça desmesurada pelo poder e da intolerância sem precedentes, temos o dever de reverenciar a vida e toda sua grandeza, e de rendermos glória e respeito ao Grande Criador de Tudo.

A difícil tarefa tem sido a de nos apegarmos menos ao que é fugaz, efêmero, fútil e vulgar, e de nos interessarmos mais por aquilo que realmente possa nos engrandecer o interior. O fato de o homem querer sempre a aprovação alheia, reproduzindo os gestos e ações comuns do próximo, acaba se tornando um enorme obstáculo à sua evolução.

Em suma, vive-se o estado de coisas da superficialidade, da perecibilidade dos bons sentimentos e práticas, com ênfase visceral no poder da matéria. O homem, inevitavelmente, só perceberá isso no fim de sua vida, quando verificará que pôs tudo a perder, por não ter atendido aos reclames e súplicas de sua consciência.

Queridos Irmãos! Agradeçamos ao Arquiteto Maior pela parte material necessária que Ele tem proporcionado às nossas vidas; não nos desfaçamos do conforto ou daquilo que fartamente temos recebido, pois isso seria uma flagrante hipocrisia; todavia, jamais nos olvidemos que o nosso verdadeiro legado diz respeito às coisas do espírito, sem as quais nos tornamos pessoas ocas, ignóbeis e verdadeiramente pobres.






QUANTO CUSTA TER SEMPRE RAZÃO? - Sidnei Godinho


Ao começar mais um ano, sob a graça do Grande Geômetra, achei propício a Reflexão sobre condutas que precisam ser revistas para o aperfeiçoamento Moral, Social e Maçônico. 

Muitos dos irmãos já assistiram em loja, irmãos impondo suas opiniões, suas formas de condução dos trabalhos, seu jeito pouco democrático de conduzir uma sessão ou mesmo seus projetos de poder eterno no Oriente. 

Alguns já viram aquela expressão : Aquele irmão é o dono da loja... ou, hoje tem sessão na loja do fulano....

E ainda: "Quem manda na Loja é o Coronel, ou o Doutor, ou o Professor, etc... 

Alguns irmãos são sempre os donos da razão, causando assim transtornos muitas vezes irreversíveis à loja.

Aí eu pergunto : Qual é o preço de sempre se achar este dono da razão???

Qual o preço que se paga Em pensar ou agir assim??? 

Em algum momento, alguém já parou para analisar esta questão??? 

Já pensaram quais são as consequências de sempre querer provar que se está certo??? 

É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro.

Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual se acredita, são posturas naturais e comuns nas relações cotidianas.

Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, qual o preço a ser pago??? 

Quantas vezes se aborrece com alguém pelo simples fato de querer convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar???  

Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal???

Ou ainda, quantas vezes não se eleva o tom da conversa, tornando-se ríspido no enfrentamento de ideias?

Defendemos nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado.

E, naturalmente, temos nossa maneira de ver a realidade, conforme nossos valores, conceitos e capacidades. 

Quatro pessoas, cegas de nascença, ao serem colocadas junto a um elefante vão conseguir relatar o que puderem tocar do animal.

Se não lhes derem a oportunidade de perceber as diferenças entre orelha, cauda, tromba, corpo, terão apenas uma ideia parcial.

Não estarão erradas, apenas cada uma terá somente parte da razão.

Muitas vezes isso acontece nos relacionamentos.

Temos a nossa percepção, a nossa capacidade de análise.

Não quer dizer que estejamos errados ou que não tenhamos razão em nossos argumentos.

Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se, nessas situações, será o duelo de idéias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder. 

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade ou pior, custa o preço de toda uma existência, de toda a imagem que se criou e se esvai pela prepotência não de se achar "Estar Certo", mas de afirmar que o outro está Errado... 😔 

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação.

Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações Familiares e Sociais. 

Amizades de décadas são rompidas por não aceitar um pensamento diferente do nosso. 

Assim, antes de se buscar ter razão, melhor buscar a preservação da harmonia.

Antes de querer ser vencedores em uma argumentação, melhor que se tenha paz de espírito.

A verdade, mais dia, menos dia, se fará presente, duradoura, perene, independente de quem estiver, naquele momento certo ou errado. 

Assim, mesmo quando toda a razão nos pertença, vale refletir se devemos continuar nossos duelos de ideias.

Talvez, o melhor, em determinadas situações, seja utilizar a capacidade pensante, o senso de validação para buscar compreender o próximo.

Ao assim proceder, poderemos entender o porquê dos argumentos alheios, de sua forma de agir, facilitando e aprofundando nossas relações.

Dessa maneira, evitar-se-á o granjear de atritos e dissabores, pesos desnecessários ao nosso coração.

*Por vezes Recuar não é fraqueza, mas PAZ DE ESPÍRITO.*  

Pensemos nisso.



janeiro 05, 2024

ACADEMIA SOROCABANA DE LETRAS


Recebi, com grata satisfação, o diploma de sócio correspondente da Academia Sorocabana de Letras, tão bem conduzida pelo acadêmico Antônio Luiz Pontes. É uma das cinco Academias as quais tenho a honra de pertencer, mas esta tem um sabor especial. 

Há cerca de 55 anos, em Sorocaba, fui trabalhar como jornalista na redação do Jornal Cruzeiro do Sul e o meu guia e mentor foi o jornalista, escritor, historiador e emérito intelectual Geraldo Bonadio, um dos primeiros a me guiar no caminho das letras.

Mais de meio século depois o mesmo Geraldo Bonadio, então presidente da Academia que reúne os melhores autores sorocabanos, foi o meu padrinho para ingresso neste sodalicio.




G DE… MAÇONARIA - Rui Bandeira


Embora a Maçonaria Continental use o símbolo do esquadro e compasso apenas com estes dois elementos, a Maçonaria anglo-saxónica, de tradição e língua inglesa, usa como símbolo notoriamente reconhecido como o da Maçonaria uma imagem similar à que encima este texto, com o esquadro, o compasso e a letra “G”.

É inevitável! O neófito, o recém iniciado, uma das primeiras perguntas que coloca é qual o significado desta letra.

Também eu, naquele tempo em que era Aprendiz, fiz essa pergunta. Mas como eu sempre gostei de “beber do fino”, não fui de modas e, quando se apresentou a oportunidade, fiz a pergunta ao Grão-Mestre! Era então Grão-Mestre, Fundador, o já falecido e, independentemente de infelizes sucessos posteriores, por mim muito admirado, Fernando Teixeira. Já noutro escrito o classifiquei como um vero príncipe da Renascença. Governava a Obediência com mão ferro envolta em luva de veludo. Experiente, sabedor – muito sabedor! -, inteligente e matreiro, bonacheirão na hora do descanso e ferreamente sério na altura do trabalho, era um líder carismático. Carisma que cultivava. E parte do cultivo desse carisma fazia-o com a disponibilidade que manifestava para ensinar, esclarecer, iluminar os Aprendizes com quem gostava de confraternizar.

Portanto, para mim não foi nada de mais fazer a pergunta que – imagino-o hoje – antes de mim dezenas ou centenas de outros lhe tinham feito: o que significa o “G”?.

O Fernando sorriu, recostou-se na cadeira e, mais uma vez, deu a resposta que já dezenas ou centenas de vezes dera: havia vários significados possíveis; uns defendiam que o “G” significava Gnose; outros que aludia a Geometria ou Geómetra, e por aí fora. Matreiro que era, nunca dizia o que se esperava que também dissesse e aguardava que a “brilhante sugestão” viesse do Aprendiz: e não significaria simplesmente “GOD” (Deus em inglês)? Mais um sorriso confirmava que a pergunta era aguardada e lá esclarecia que a Maçonaria era Universal, inerente a todas as línguas, que não parecia muito curial que um símbolo tão universal respeitasse a uma língua, e lá repisava as teses da Gnose (que lhe era cara, estudioso como era dos Mistérios Mitraicos) e da Geometria ou Geómetra.

Pese embora a minha admiração por ele, na altura pensei cá para os meus botões, aproveitando na íntegra o silêncio do Aprendiz, que “tá bem, abelha, a Maçonaria teve origem em Inglaterra, os ingleses são aqueles tipos que têm a mentalidade de pensar que, quando existe uma tempestade no Canal da Mancha e a navegação tem de ser ali suspensa, é o Continente Europeu que fica isolado deles, queriam lá saber da língua dos outros; o “G” era de GOD e não se falava mais nisso!” A solução mais simples costuma ser a correta, para quê complicar?

Os anos passaram, a Mestre cheguei e Mestre sou e, cá para mim, embora, quando perguntado, exponha a tese da Geometria ou Geómetra (a da Gnose nunca foi do meu agrado, demasiado rebuscada que a acho), sempre que do meu interlocutor lá vinha a referência ao “GOD” eu lá admitia como possível, se calhar provável. Não podia eu desmerecer do que intimamente eu próprio pensava…

Pois bem! Aprender até morrer! Só os burros não mudam de opinião!

Estou finalmente convencido que o “G” significa Geometria.

Nos antigos manuscritos da Maçonaria Operativa, a palavra Maçonaria era comumente usada como sinônimo de Geometria e da Geometria aplicada à construção, a Arquitetura. Pois bem, se “Maçonaria” era sinónimo de “Geometria”, a inversa também era verdadeira. Na Maçonaria Operativa, falar-se de maçonaria era falar-se de geometria, falar-se de geometria era falar-se de maçonaria. Então, nada mais simples do que criar o símbolo da Ordem com os artefatos da profissão e a letra inicial da ciência em que se baseava: o esquadro, o compasso e o “G”.

Portanto, afirmo e proclamo, abjurando das minhas antigas dúvidas e reservas: o “G” do símbolo da Fraternidade simboliza a Geometria. O que é o mesmo que dizer que… simboliza a Maçonaria!

Está assim explicado o título: “G” de… Maçonaria!

(E quanto a ti, meu caro Fernando Teixeira, meu sempre lembrado Grão-Mestre Fundador, que só por isso e pelo teu carisma obnubilas divergências posteriores, bem o sinto: se lá do assento etéreo em que subiste, memória deste mundo se consente… estou a ver o teu sorriso bonacheirão, contente e vitorioso! O “rapaz” foi teimoso, demorou vinte anos a lá chegar, mas finalmente acabou de te reconhecer a razão… – Não, meu caro, quanto à Gnose, não insistas… Já era um exagero… Concordemos em discordar… – Fica prometido: no próximo ágape ritual em que eu estiver, depois dos sete brindes rituais, chegada a hora dos brindes livres, eu proporei um brinde à tua memória. Porque de ti guardo e guardarei sempre enquanto por aqui andar a memória do teu carisma, da tua inteligência, da tua sabedoria, do muito de bom que fizeste e deixaste. Do resto, da divergência final, não cura a minha memória: já não eras tu, já era a doença final que te levou daqui. É assim que se constroem e se lustram as memórias daqueles que prezamos e admiramos!)