janeiro 23, 2024

"ESFRIAMENTO DAS RELAÇÕES PESSOAIS" - Newton Agrella


Não é por acaso que as relações humanas circunstancialmente acabam ganhando um caráter meramente protocolar.

São conexões - que por razões diversas e que nem sempre encontram uma explicação ou justificativa plausíveis - se perdem no tempo e se diluem.

É natural que o distanciamento acaba gerando um vazio, que por vezes, se torna abismal e invariavelmente  complicado para ser preenchido.

E mesmo após tanto tempo, quando essas relações se restabelecem, fica instalado um vestígio de indiferença, que por mais que se tente, mal se consegue disfarçar.

Aliado a isso tudo, numa tentativa de minimizar essa sensação desconfortável e intrigante, arranja-se um bode expiatório que recebe o singelo nome de "falta de sintonia ou afinidade".

Provavelmente, esse eufemismo em forma de desculpa, devesse ser melhor e mais realísticamente substituído por "falta de empatia", ou seja, de reconhecer em sí mesmo a indiposição de explorar a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer e de apreender do modo como ela apreende. 

Isso tudo, sem no entanto, perder a própria identidade.

Trata-se pois da sutil arte de se reconstruir relações, sem que o emocional sobrepuje a lógica e a razão, agindo como uma espécie de agente restaurador.

As experiências amargas fazem parte do processo de maturidade e de aprimoramento da consciência.

Não é imperativo que se tenha que estar com aqueles com quem já se tenha vivido experiências negativas amiúde. 

Não faz mal algum, poder ouvir e compartilhar momentos com aqueles com quem já divergimos ao longo da vida.  

Pelo contrário, talvez este seja um sinal de evolução.

Quebrar paradigmas, aprender a estar no lugar do outro e acima de tudo ter a certeza de que ninguém é superior a outrem, são desafios dos quais não se deve fugir; nem tampouco se furtar de enfrentá-los.

O tempo passa e o desafio mantem-se ali.



QUAL O SENTIDO DE SER MAÇOM? - Rommel Oliveira Alkmim


Quando começamos a despertar para a nossa vocação religiosa ou até profissional, ainda na infância, para muitos, não escolhemos ser Maçons. Afinal, maçonaria não consta em nenhuma lista como uma dessas opções. Por uma simples razão: maçonaria não é religião e tampouco emprego.

Embora trate das relações espirituais com as quais cada indivíduo se identifica, inclusive no trabalho, somente após adquirida a maturidade necessária, e no tempo certo, é que se manifestará o desejo de se tornar um maçom. A questão que se deseja responder é: por que quero entrar para a Maçonaria?

Ao fazermos a opção de integrar a Ordem, o que esperamos dela? Qual é a fonte das informações que possuímos que a torna tão atrativa ao ponto de queremos nos tornar um Maçom?

Na maioria das vezes, somos despertados por um parente, um amigo ou até um conhecido. Ainda que raro, por admirar a um Maçom em específico pelas suas atitudes. Todavia, as razões que mais parecem surtir influência e se evidenciam atrativas aos propensos candidatos serão, exatamente, as mais combatidas pela Ordem, quais sejam:

1-         Por que nos confere “status”?

2-         Por pertencer a um grupo influente?

3-         Por que serei apoiado nos meus negócios?

4-         Por que o meu parente ou o meu chefe é um Maçom?

        Como se presume, são estas “possibilidades” que afastam muitos daqueles que assim procuram integrar a Ordem e que, uma vez investidos, não encontrarão terreno fértil para colher suas expectativas materiais. Desse modo, passarão a engrossar as estatísticas dos que a abandonam logo de início e, a uma outra lista, que não tardará ser preenchida.

         Ainda, se a esses, os “mistérios da maçonaria” se resumirem a vestir um terno preto; participar de encontros “secretos”; pertencer a uma Ordem secular; ou ter tratamento diferenciado que lhe proporcione vantagens sobre outras pessoas, não será a Maçonaria a Instituição que os abrigará, confortavelmente, em seu meio.

          É sabido que, no meio maçônico, buscam-se ressaltar em seus indivíduos os valores morais. Estes, devem ser resgatados por intermédio da apuração do caráter, através do constante burilamento pessoal a culminar numa condição social exemplar. Para tanto, é mais do que perceptível serem dispensáveis aqueles valores comuns pretendidos por um postulante.

       Estas perguntas, em princípio, elaboradas como questionário a ser empregado nos processos de sindicância, cabem, por força de reflexão, serem refeitas por alguns Obreiros, independente do grau ao qual pertençam. Todavia, a estes, aprofundaremos em outras questões, agora direcionada aos Maçons:

      Qual é o sentido de ser Maçom? Uma vez dentro da Ordem, você consegue definir essa questão?

          Mesmo no seu primeiro ano, pode ocorrer ao Iniciado Aprendiz perceber o quão “distante” tais impressões iniciais vêm se tornando e, por esta razão, se “desmanchando” ao longo do seu caminhar maçônico, uma vez que, nesse processo evolutivo velhos conceitos vão dando lugar aos novos valores preconizados pela Ordem.

           Contudo, quantos de nós saberemos responder o que se segue? Houve, de fato, uma substituição desses valores profanos uma vez aplicados e assimilados os conhecimentos maçônicos?

          Quantas vezes aplicamos a máxima: “... não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6:3)?

          Quão tolerantes somos se contrariados das nossas posições ou pensamentos?

          Quantos “templos à virtude” erigimos e quantas “masmorras ao vício” cavamos?

          Quem de nós sabe o “... quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...” (Salmo 133), e qual é a nossa contribuição pessoal para isso?

      Quantos de nós sabemos o que significa: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)?

        Estamos verdadeiramente empregando o “conceito” maçônico: primeiro, a família; segundo, o trabalho e; por fim, a maçonaria? À última, legamos o respeito e a importância que lhe são devidas, quando a trocamos por atividades sociais julgadas mais “importantes”? Não é caro relembrar a nós maçons de que, por meio do aperfeiçoamento obtido com as práticas maçônicas, é que conservamos a família e conquistamos o trabalho.

           O texto, por si, encerra a sua construção dialética, onde se expôs pela tese, antítese e síntese, o princípio, meio e fim da evolução do caráter de um Maçom. Contudo, quantos de nós, hoje, seríamos capazes de nos submeter confortavelmente a um “reexame” onde fôssemos reavaliados aptos, ou não, para permanecer integrantes da Ordem Maçônica?

                Depois de ler esse trabalho, seríamos capazes de responder:

1-        Vale à pena estar na maçonaria? Por quê?

R:

 

2-        Estou sendo leal comigo mesmo?

R:

 

3-        Devo continuar na maçonaria?

R:

      Não se pretende neste trabalho, de forma alguma, avaliar ou julgar as credenciais maçônicas de Obreiros. São apenas EXERCÍCIOS DE REFLEXÃO, tais quais aqueles que fazemos em outros cenários de nossas vidas. Se para alguns, no entanto, tais proposições lhes pareçam impertinentes ou até mesmo ofensivas, talvez, seja chegada a hora, para esses, de rever seus próprios conceitos sobre maçonaria.

           Faz-se, aqui, um convite a uma nova inserção à “Câmara das Reflexões”. Desta feita, entraremos de olhos abertos e uma forte luz deverá nos acompanhar. Não nos surpreenderá mais o VITRIOL, nem seus adereços ou o cenário fúnebre. Se, ainda assim, nos encontrarmos “indignados” e rotularmos tal proposta como petulante, pode significar que, no passado, nela se adentrou e saiu da mesma forma; o que provavelmente se repetirá, mesmo que, embora “renascido” há anos e submetido a toda a sua liturgia, simbolismo e alegorias, ainda que tenha sido comprometido pela emoção daquele momento, não introjetou seus ensinamentos ou sequer se dispôs a conhecê-los.

            O que mais parece ter importado naquela primeira “Câmara” sugere ser o mesmo adereço desafiador desta segunda: “Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te”.

             Reavaliar passos e decisões é uma constante em nossas vidas. Quantas empreitadas deixamos de lado, nos esquivando de assumi-las e, em quantas outras mergulhamos de cabeça e nos esforçamos para mantê-las? Talvez, encontremos a resposta na lógica: O que é bom pra mim ou me dá retorno, me faz ficar; o que me incomoda e me tira da zona de conforto, provoca meu abandono.

          Será aí o “divisor de águas” entre o maçom ativo e o adormecido? Ser maçom não foi uma imposição. Foi uma escolha. Agora, saber se certa ou errada, só uma vez dentro. Este, talvez, seja o único “mistério” dito, e tido como certo, no que se refere à Maçonaria.

            A questão pode ganhar corpo a seu favor se considerar aqueles maçons que a abandonam, (e que carinhosamente são denominados “adormecidos” pelos seus irmãos) e que, nada podem “revelar” ou “acrescentar” a um profano sobre o que se faz na maçonaria que seja relevante, pois nada conhecem além de alegorias. Já aqueles que se ajustam e passam a sua vida a integrá-la, não a “traduz” em palavras e sim no seu comportamento.

           Somente dentro da Ordem saberemos se foi uma “empreitada acertada”, ou não. Se certa, há o desejo de avançar, mesmo que para alguns a obra maçônica se apresente de forma prazerosa e até natural. Para outros, pode não ser algo tão confortável, mas que, com disciplina e perseverança, bons frutos serão colhidos e isso lhes tornará homens melhores.

         E se essa escolha não lhes agradou? Nesse caso, ser sincero consigo, se retirar e retomar seus caminhos seria a opção mais apropriada, pois suas ideias diversas ou até paralelas ao que preceitua a Ordem não coadunam. Não se permitir abandonar a sua “zona de conforto” sugere muitas dificuldades até para se aprofundar no tema. A sua natureza dogmática ou temporal, seria de difícil lapidação. A estes, aparentemente frágeis ao maço e o cinzel, pela ótica profana, não têm do que se recear. Como dito, pode ser uma questão apenas temporal.

             Contudo, recobrar a necessidade de atitudes assumidas com bom senso e dignidade pode minimizar desconfortos e atritos desde o início, ainda antes de se iniciar a um amigo. Ao se bater à porta de um maçom (seu propenso “padrinho”), inicia-se um “namoro” ainda na rua, correspondido pela janela da maçonaria. Adentrar à Casa, não dependerá exclusivamente desse padrinho, mas de uma constante avaliação que passará pelos olhos vigilantes de seus membros maçons, da janela da rua para o seio da Instituição. Se estranho aos olhos será defenestrado, mesmo que investido das nossas insígnias. Portanto, uma vez dentro da Casa, a sua permanência dependerá, única e exclusivamente do seu desempenho.

           Depois de submetidos e imersos na sua própria “Câmara das Reflexões”, pela segunda vez, no caso deste texto, como você responderia às questões mais evidentes no VITRIOL (“Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta)? Recordemos:

“Se tens receio de que se descubram os teus defeitos, não estarás bem entre nós”;

“Se fores dissimulado, serás descoberto”;

“Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós aqui, não as conhecemos”;

“Se tens medo, não vás adiante”;

“Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte”.

 


janeiro 22, 2024

A EXPRESSÃO "ERA VULGAR" E O CALENDÁRIO MAÇÔNICO - Rogério Alegrucci


Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. 

Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas. 

Os cronologistas e historiadores, servem-se também de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano.

Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: Criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros. 

Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. 

Já segundo Heródoto (Grego considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos. 

Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. 

Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se, ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam Annus Erat Regni Augusti (era o ano do reinado de Augusto) ou Ab Exordio Regni Augusti que significa "Do começo do reinado de Augusto", pois os Espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto. 

Outros dizem derivar da palavra latina aes, aeris (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável que serviu de começo a uma serie de anos. 

As palavras era e época tem certa relação entre si, contudo, são bem distintas: 

_Era, é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; 

_Época é o momento desse acontecimento. 

De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. 

Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. 

Não o sendo, cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: 

_A dos Judeus funda-se na criação do Mundo, segundo o Gênesis; 

_A dos antigos Romanos, na fundação da sua Capital; 

_A dos Gregos, no estabelecimento dos jogos Olímpicos; 

_A dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; 

_A dos Cristãos no nascimento de Cristo.

Já a expressão Vulgar tem origem no Latim Vulgaris ou Vulgus e primitivamente significava “pessoas comuns”, ou seja, aqueles que não são da realeza. 

Isto pelo menos até meados do século XVI quando a palavra Vulgar passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”. 

Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. 

Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. 

A Era Vulgar, portanto, designa o calendário Gregoriano mundialmente adotado. 

Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. 

O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis em Latim, ou simplesmente V.´.L.´. ou A.´.L.´. como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como Latomorum Anno ou, como no texto original em inglês que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”.

A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo Anglicano nascido no ano de 1581, em Dublim. 

Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido as 09 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 A.C., com base no texto Massorético (texto em hebraico que deu origem à vários capítulos da Bíblia) ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento). 

Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. 

Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar. 

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. 

O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do ano Gregoriano, no entanto, começa em 01 de março – assim como o Ano Juliano que ainda estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. 

No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 01 de março de 2011 da E.´. V.´. seria o dia 01 do mês 01 do ano de 6011 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. 

Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. 

No entanto Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. 

Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. 

Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas. 

As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden... 

A ideia só foi concebida para se transmitir que os princípios da maçonaria (e não a maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo. 

Vejo que qualquer outro significado Maçônico para essas datas não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico não em 01 de março como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.).

Desta maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Ir.’. José Castellani, em sua obra “Do pó dos arquivos”.

O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. 

Utilizar o calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.

Bibliografia:

- Philosophical e Mathematical Dictionary – Vol I - 1815 – Google Books.

- Peça de Arquitetura do Ir. Antonio Carlos Rios – Academia Maçonica de Letras do MS – COMS-COMAB

- Pesquisas Objetivas:

- http://www.calendario.cnt.br/pesquisas2004.htm

- The Masonic Manual by Robert Macoy – Revised Edition – 1867

- Do pó aos arquivos – José Castellani

- Web Site da Grande Loja Maçônica de Minnesota-USA

(Trabalho apresentado na ARLS Manoel Tavares de Oliveira, 2396 – Or. de São Paulo, em 30/08/2011)

POLÍTICA X PRINCÍPIOS MAÇÔNICOS - Kennyo Ismail



Em 2010, por iniciativa do então Grão-Mestre, François Stifani, a Grande Loja Nacional Francesa publicou carta aberta em apoio a Nicolas Sarkozy, presidente da França. 

Durante os anos de 2011 e 2012, todas as importantes Grandes Lojas da Europa e da América do Norte, além de várias em outras partes do mundo, retiraram o reconhecimento da Grande Loja Nacional Francesa por desrespeitar o princípio básico da Maçonaria de que “um maçom na sua qualidade maçônica não faz nenhum comentário sobre política, ou que possa ser interpretado como se aliasse sua Grande Loja com um determinado partido político ou facção”. 

Muito menos um Grão-Mestre. 

O reestabelecimento do reconhecimento da GLNF só ocorreu em Junho deste ano de 2014, apenas após eleito um novo Grão-Mestre e a adoção de ações internas que garantissem que o episódio não mais ocorrerá. 

No entanto, somente 04 meses depois, parece que há irmãos brasileiros que não conseguiram aprender com os erros da GLNF. 

Talvez por desconhecer tais fatos ou mesmo tal princípio básico da Maçonaria. 

Quanto ao princípio, maçom algum pode declarar desconhecê-lo, visto que na Ordem só ingressa homens alfabetizados e em plenas condições de aprendizagem das leis, regras, cerimônias e instruções maçônicas. 

Fato é que, em 1938, a Grande Loja Unida da Inglaterra publicou, em conjunto com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, “The Aims and Relations of the Craft”, uma declaração dos princípios fundamentais que serve de base para todas as Grandes Lojas regulares do mundo. 

O item 6 dessa declaração registra claramente tal proibição ao afirmar que: 

_“Enquanto a Maçonaria inculca em cada um dos seus membros os deveres de lealdade e de cidadania, reserva-se ao indivíduo o direito de ter sua própria opinião em relação a assuntos políticos. 

Entretanto, nem em uma Loja, nem a qualquer momento em sua qualidade de maçom, lhe é permitido discutir ou fazer promover seus pontos de vista sobre questões teológicas ou políticas”. 

A razão de tal proibição é notória e muito bem registrada na literatura maçônica. 

Sendo a Maçonaria uma ordem universal, que abraça membros de diferentes religiões e convicções políticas, defensora perpétua das liberdades civil, religiosa, política e intelectual, nunca poderia ou poderá, como instituição, imprimir preferências políticas ou religiosas, por risco de desrespeitar as convicções de seus próprios membros, independente se maioria ou minoria, causando assim desarmonia entre maçons ou Lojas. 

Passado o período eleitoral, que a lição seja aprendida, correções de curso sejam feitas, erros sejam corrigidos, e, principalmente, que nas próximas eleições eles não sejam repetidos.



janeiro 21, 2024

Podcast #26: Maçonaria também é poesia - Kleber Siqueira

SE - Rudyard Kipling


Rudyard Kipling, premio Nobel de literatura em 1907, escreveu este poema para o filho de apenas 12 anos, em 1909, aconselhando-o com o que era preciso fazer para se tornar um bom homem.  Estes conselhos também se aplicam à maçonaria como padrão de comportamento para todos os irmãos. Tragicamente o filho morreu aos 18 anos combatendo na Primeira Guerra Mundial. Porém o poema imortalizou os dois. Tradução de Guilherme de Almeida.

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

janeiro 20, 2024

O IRREFREÁVEL GERÚNDIO NACIONAL - Newton Agrella


Viver no *gerundismo* é ironicamente um estado de embriaguez linguística.  

Enquanto o *gerúndio* é apenas uma forma ou  flexão verbal que se caracteriza pela desinência dos verbos em *"ndo"* para indicar um estado ou ação que ocorre num exato momento e constitui-se numa conjugação verbal legítima, o mesmo é todavia, despudoradamente utilizado no Português falado ou escrito no Brasil.

Por outro lado, o *"gerundismo"* trata-se de um modismo que se vale de maneira inadequada e inconveniente da utilização deste expediente  numa incompreensível tentativa de reforçar uma ideia de continuidade de um verbo no futuro.

A rigor o uso descabido deste "tempo verbal venerado pelos brasileiros" acaba por tornar mais complicado o que já é suficientemente complicado por si só.

O *Gerundismo* impõe que aquilo que poderia ser expresso de maneira mais econômica e direta, seja substituído por uma intrincada estrutura que prefere utilizar três verbos a apenas um ou dois. 

Exemplos desta sandice:

Padrão da norma culta da língua portuguesa:

Eu farei.

ou

Eu vou fazer.

No gerundismo:

Eu *vou estar fazendo*.

A empresa entrará em contato para resolver o problema.

ou

A empresa vai entrar em contato para resolver o problema.

No gerundismo:

A empresa *vai estar entrando* em contato para resolver o problema.

Como é claramente perceptível, nos exemplos dados, transformamos, desnecessariamente, um verbo conjugado em um gerúndio, ao aplicar aquilo que deve ser evitado, 

O *Gerundismo* é, portanto, um excesso linguístico que deve ceder lugar para construções mais adequadas e simples.

Não se quer aqui impor que o gerúndio seja abolido, porém deixar claro que seu uso sistemático em construções de frases que deveriam constar apenas de um único verbo ou de uma locução,  faz mal à saúde intelectual ao falante da última Flor do Lácio.



AS PROFECIAS DE DANIEL- Jorge Gonçalves



No livro de Daniel, capítulo 2, a Bíblia relata a convocação de "mágicos, astrólogos, encantadores e caldeus" pelo Rei Nabucodonosor para interpretar seus sonhos. Curiosamente, o motivo de chamar os caldeus estava relacionado à associação da região da Caldéia. habitada pelos caldeus no sul da Mesopotâmia, à prática de adivinhação.

Após a conquista da Babilônia pelos caldeus, astrônomos (ou astrólogos) assumiram o papel de adivinhos tornando a palavra "Caldeu" sinônimo de astrólogo ou mago.

(Veja mais em www.michaelwinetzki.com.br/2023/12/os-reis-magos-jorge-gonçalves.html)

Atormentado pelos pesadelos, o Rei da Babilônia ameaçou matar todos os sábios, astrólogos e magos da Babilônia, pois nenhum deles foi capaz de interpretar seu terrível pesadelo. Segundo os relatos bíblicos, Daniel, após pedir um prazo e orar fervorosamente a Deus, recebeu a revelação do sonho e seu significado.

No sonho de Nabucodonosor, havia uma estátua cuja cabeça era feita de ouro, o peito e os braços eram de prata, a barriga e os quadris de bronze, as pernas de ferro e os pés uma mistura de ferro e barro. Uma pedra foi cortada numa montanha sem que houvesse mãos para tal e arremessada contra a estátua, despedaçando-a. A pedra se tornou uma montanha e preencheu toda a Terra.

Inspirado por Deus, Daniel interpretou o sonho do rei explicando que a grande estátua feita de diferentes metais representava quatro reinos sucessivos: Babilônia, Medo Persa, Grécia e Roma. A destruição da estátua por uma pedra, tornando-se um grande monte, simboliza o reino de Deus que nunca será destruído.

Avançando milênios no tempo, em 1936, o economista John Maynard Keynes adquiriu diversos documentos sobre o maior gênio da humanidade, Isaac Newton, a quem Keynes descreveu como "o último dos magos, o último dos babilônios e dos sumérios, a última grande mente que viu além do mundo visível e racional, com os mesmos olhos daqueles que iniciaram a construção de nossa herança intelectual."

Isaac Newton desvendou alguns dos maiores mistérios da natureza, como a gravidade, também estabeleceu as leis do movimento, contribuiu para a ótica e revolucionou a matemática. Curiosamente, dedicou parte significativa de sua vida ao estudo bíblico. Em sua obra póstuma, "Observações sobre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de São João", publicada em 1733, Newton analisa as visões proféticas de Daniel e do apóstolo João, buscando prever o retorno de Jesus à Terra. 

Essa história continua...




LOJAS, ORDEM E OBEDIÊNCIAS MAÇÔNICAS - Alfério Di Giaimo Neto


Brethren, vejam o que nos ensina o escritor francês, Ir Marius Lepage, sobre o acima mencionado:

As Lojas podem existir sem Grandes Lojas ou Grandes Orientes, garantindo sua federação. O inverso, porém, não é verdadeiro. Nem Grande Loja, nem Grande Oriente podem existir sem as Oficinas chamadas “azuis”, que são a base de qualquer Potencia ou Obediência.

Assim, fica muito claro a diferença entre a Ordem e a Obediência Maçônicas.

A Ordem (em inglês é chamada de Craft) – a Franco Maçonaria tradicional e iniciática – não tem origem historicamente conhecida. Usando a expressão habitualmente empregada, podemos dizer que ela data de “tempos imemoriais”.

...antes do século XIV nada encontramos que se possa ligar, com provas irrefutáveis, à Maçonaria. Todos os documentos que possuímos estabelecem que foi da Maçonaria Operativa que saiu nossa Ordem, e demonstram apenas isso, a não ser para aqueles que suplementam fatos e fontes com a imaginação...” (F.Marcy, l´Histoirie du Grand Orient de France).

As Obediências, ao contrário, são criações recentes, das quais é possível – embora com algumas dificuldades e imperfeições – descrever o nascimento, e cuja existência, a partir daí, é bem conhecida na maior parte dos pormenores.

Entretanto, se a Ordem é universal, as Obediências, sejam elas quais forem, mostram-se particularistas, influenciadas pelas condições sociais, religiosas, econômicas e políticas dos países em que se desenvolveram.

A Ordem é, por essência, indefinível e absoluta: a Obediência está sujeita a todas as variações da fraqueza congênita ao espírito humano.



janeiro 19, 2024

UMA QUESTÃO DE COMPROMETIMENTO! - José Pellegrino


O mestrado maçônico, teoricamente, é o auge do simbolismo, mas será que todo aquele que atinge o grau de Mestre Maçom se encontra preparado para o importantíssimo papel que a maçonaria lhe reserva?

A palavra “mestre”, tão importante para nós, maçons, deriva do latim magister, que traduz como professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar.

Ser um verdadeiro Mestre Maçom é sonhar o sonho de cada Aprendiz, de cada Companheiro, e se tornar um exemplo vivo de dedicação, respeito, doação, ética, tolerância, humildade, paciência, justiça, amor ao próximo e dignidade.

O Mestre Maçom deve seguir quase de forma imperceptível, transmitindo aos Aprendizes e Companheiros não apenas a sua sabedoria e os seus conhecimentos teóricos, mas também um pouco de sua fé e muito do seu amor por nossa Sublime Instituição.

Dentro das nossas lojas, identificamos diversos tipos de mestres: há os que falam bastante e de forma prolixa, mas ninguém os ouve; muitos fazem longos e inflamados discursos, esbanjam verborragia, mas suas falas são vazias, raramente os sentimos em nosso amago; Outros, de maneira ríspida, nos golpeiam com suas línguas ferinas, porém não geram cicatrizes.

Os mestres desse tipo consideram-se os donos da verdade, únicos conhecedores dos nossos “segredos” e da nossa ritualística, mas por outro lado disputam os primeiros lugares no ranking da animosidade.

O papel de um Mestre é tão importante que a sua postura pode tanto estimular quanto desestimular o nosso obreiro. 

O Mestre Maçom mais esclarecido, estudioso e comprometido, auxiliará Aprendizes e Companheiros a superar suas limitações, conduzindo-os de forma equilibrada para angariarem forças e triunfarem sobre as dificuldades que certamente surgirão.

A diferença entre o Mestre preparado e um mestre comum é, em todos os aspectos, incalculável.  

Ressalve-se que ainda há em nosso meio aquele que permanecerá na instituição anos e anos, muitas vezes até a sua morte física, todavia sem compreender a dimensão dela.

Isto não é um privilégio da Maçonaria, existe em todos os ambientes e em todas as sociedades organizadas.

Em nossa Ordem, costumo denomina-los de maçons festivos ou maçom protocolar.

Frequentam nossas lojas, mas no fundo não sabem por que o fazem.

Muitas vezes, através de manobras politicas, estimulados pela vaidade, alcançam o Veneralato, conduzindo sua loja rapidamente ao caos.

O progresso dos neófitos será proporcional aos ensinamentos e orientações recebidas dos mais experientes.

Muito pior do que não aprender é aprender de forma errada.

Quando o neófito assimila uma postura errada, continuará propagando erros e equívocos no decorrer de toda sua jornada maçônica.

Como cobrar de um Aprendiz ou Companheiro para que ele se conserve em sua coluna, com o devido respeito, disciplina e ordem, quando observa mestres mais antigos sentarem-se ou comportam-se de forma descuidada?

Balandrau com colarinho aberto, pernas cruzadas ou distendidas lateralmente, entre outras negligencias de posturas.

O que será que passa pela cabeça de um Aprendiz ou Companheiro quando observam um Mestre cochilando, bocejando ou espreguiçando- se no Oriente?

Que interpretações terão nossos neófitos, ao verem seus mestres Instalados, conversando, e às vezes até rindo, consultando as mensagens do seu celular, totalmente alheios á ritualística e ao cerimonial em si?

Somente com um solido programa de aperfeiçoamento litúrgico, nossas lojas se distanciarão daquela Maçonaria protocolar, viciosa e inútil.

É fundamental caminhar na direção de uma ordem mais coerente, efetiva e espiritualizada.

O neófito será sempre o reflexo das atitudes de seus mestres e aqui é imperativo que se entenda por Mestre, não os mais sábios e experientes, mas os Mestres verdadeiramente dedicados e comprometidos com a nossa Instituição.

O Mestre Maçom cheio de conceitos equivocados, de hábitos, de pontos de vista dogmáticos, estará distante de captar o sentido real da Maçonaria, que se expressa justamente através da simplicidade e da humildade do verdadeiro e sincero maçom, através do exemplo dos bons e dos dedicados mestres é que a Maçonaria caminha e evolui.

Tudo na Ordem ocorre em razão da caminhada correta dos verdadeiros Metres Maçons.

O neófito pode encontrar e trazer valores com ele, mediante os quais e a cada dia, ele chegará mais próximo da perfeição, ninguém desenvolverá valores os quais não possua dentro de si.

Felizmente, para nós e para a Maçonaria, existem aqueles mestres que nos marcam profundamente com a sua sabedoria e com suas significativas atitudes. 

Na presença de tais irmãos, nós sentimos mais alegres, há uma leveza e uma aura de felicidade no ar.

São esses mestres que nos transmitem a segurança e a tranquilidade para seguirmos em frente, sem eles não haveria a Maçonaria.


 



 



DEZ COISAS A CONSIDERAR ANTES DE PEDIR A PALAVRA - Carlos Alberto Mourão Júnior



Como eu já fiz todos os erros elencados neste artigo, resolvi partilhar as minhas reflexões com os irmãos. Antes de pedirmos para usar (ou abusar) da palavra em Loja, que tal pensarmos melhor e considerarmos algumas pequenas coisas?

1-Quando falamos em Loja, os outros irmãos são obrigados a escutar-nos. A ritualística não permite que eles nos interpelem, argumentem conosco ou então que se levantem e saiam. Eles não têm escolha, terão de escutar tudo o que quisermos dizer sem nos interromper. Portanto, sejamos misericordiosos não os forçando a escutar tolices.

2-Grande parte dos assuntos que são tratados em Loja poderiam, e deveriam, ser tratados antes ou após a reunião, na sala dos passos perdidos ou no salão da Loja. O Templo, como o próprio nome diz, é um local sagrado, onde não se deve tratar de assuntos corriqueiros ou picuinhas administrativas. Agir assim é profanar o sagrado Templo maçónico.

3-O Templo não é um palanque político. De nada adianta queixar-se eternamente da conjuntura política e económica. A Maçonaria pode e deve tentar mudar a realidade nacional e mundial, mas isso só pode ser feito com ação. Palavras e lamúrias recorrentes só servirão para fazer com que cheguemos mais tarde e casa e não irão mudar o mundo.

4-O Templo não é um púlpito onde se devam fazer pregações ou então ministrar palestras sobre questões metafísicas e filosóficas. Especulações esotéricas servem muito mais para cansar quem as ouve do que para trazer algo de efetivamente concreto. Lembremo-nos que os pobres Irmãos são obrigados a ouvir-nos quando resolvemos, num desvario de insana vaidade, exibir o nosso “profundo conhecimento”. A nossa vaidade já deveria ter sido sepultada na câmara das reflexões…

5-O Templo não é um divã ou um consultório psicológico onde devemos emitir as nossas indignações ou fazer histéricos desabafos. Será que as questões mundanas que andam “entaladas nas nossas gargantas” realmente interessam aos outros irmãos (os quais, repito, são forçados a ouvir-nos) ou à nossa Ordem?

6-O Templo não é uma mesa de bar e nem um clube, onde se contam casos “interessantes” (somente para quem os conta…) ou se fala de boatos ou questiúnculas. Antes de mais nada, estar num Templo exige postura e respeito pela egrégora. Conversas de bar caem bem num bar.

7-Quando formos ministrar alguma instrução, convém lembrar que, conforme determina o ritual, devemos fazê-lo utilizando um quarto de hora. Ora, isto equivale a exatos 15 minutos. Nada mais do que isto. Qualquer mensagem pode ser passada e absorvida nesse período. Mais do que isto dispersa a atenção do ouvinte, fazendo com que o mesmo se perca em devaneios, além de minar a sua santa paciência.

8-Qualquer outra comunicação deve ser dada nos 3 minutos que o ritual preconiza. Três minutos são tempo de sobra para passar a essência de uma mensagem de maneira clara, concisa e precisa. Mais do que isto é verborreia e só serve para motivar os irmãos a não voltarem nas próximas sessões.

9-É sempre bom lembrarmos que, para nos estar a ouvir, os Irmãos estão a prescindir de estar no aconchego dos seus lares e estão a dispensar-nos o seu precioso tempo. Será que não é um dever moral e um ato de amor respeitarmos e valorizarmos este tempo que os irmãos nos dispensam ouvindo-nos? Será justo fazer com que esses irmãos voltem para os seus lares com a sensação de tempo perdido?

10-Será que é sensato alongar-se na leitura do expediente? Muita coisa pode ser afixada no quadro da Loja e os boletins podem ser lidos na internet. Será que é racional gastar longo tempo a falar sobre os eventos sociais da Loja? Será que não teríamos uma reunião mais gratificante se, de facto, somente usássemos da palavra para falar sobre algo que seja verdadeiramente a bem da Ordem, da Loja ou dos Irmãos? Lembremo-nos: se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro.

Meus Irmãos, aí estão algumas reflexões. Creio que todos nós devemos refletir sobre elas. Talvez ajudem a responder àquela eterna pergunta que se nunca cala dentro de nós: porque será que, ano após ano, as Lojas estão cada vez mais vazias?

Fonte: Freemason

A MAÇONARIA OPERATIVA - Alfério Di Giaimo Neto


Na Idade Média os maçons eram distintos. Era essa a sensação generalizada na Inglaterra, França e Europa Central, pois enquanto os outros trabalhadores trabalhavam para os senhores feudais, sem sair de seu vilarejo, os maçons eram especialistas e serviam aos reis, clero e nobreza e viajam para todos os cantos desses paises. Trabalhavam as pedras e erigiam castelos, mansões, catedrais e abadias. 

As informações abaixo foram extraídas do “Compedium” de Bernard Jones e “Enciclopédia” de Wilson Coil.

Inglaterra

A vida profissional era bem estabelecida. Existiam dois tipos de maçons: os “rústicos” que cortavam e moviam os blocos para o alicerce, a base que sustenta a construção, e os “especialistas” que faziam o trabalho na superfície dos blocos para detalhes da arquitetura, em geral, e o acabamento e ornamentação.

Pertenciam a Grêmios que eram compostos pelos principais empregadores do ramo e, as vezes, controlados por um funcionário real. Tinham “deveres” (Charges) estabelecidos por esses Grêmios. 

O primeiro era com Deus: deviam crer na doutrina da Igreja Católica e repudiar todas as heresias. O segundo era com o Rei, cuja soberania deviam obedecer. O terceiro era para com seu Mestre, o empreiteiro das obras (não existia o grau de Mestre. Apareceu na Maçonaria Especulativa). 

Formavam sindicatos, ilegais, pois contrariavam as determinações salariais dos grêmios, e se reuniam secretamente correndo o risco de penalidades da lei.

França

Os maçons eram, como na Inglaterra, a elite dos trabalhadores.

Diferentemente, formaram uma organização que não tenha paralelo na Inglaterra: a “Compagnonnage”. Os “Compagnons” (companheiros), seus membros, que algumas vezes eram trabalhadores com outros ofícios, formavam uma forte organização. 

Os reis e governos da França não aprovavam essa situação e, por diversas vezes, ditaram leis e decretos contra a Companonnage (1498, 1506, 1539...). Em 1601, um estatuto proibia que se reunissem em mais de três nas tabernas. Em 1655, a Faculdade de Sorbone, proclamou que os compagnons eram malvados e ofendiam as leis de Deus.

Alemanha e centro da Europa

Os maçons eram chamados de Steinmetzen, e, da mesma forma, eram a elite dos trabalhadores. Suas atividades eram também reguladas por corporações do ramo. Havia Lojas importantes de Steinmetzen em Viena, Colônia, Berna e Zurich, mas todas aceitavam a liderança dos maçons de Estrasburgo. 

Inclusive, o imperador Maximiliano I proclamou um decreto em que dava força de lei ao seu código de conduta (diferente do que foi escrito para Inglaterra e França). Essa liderança durou até 1685, quando a cidade foi invadida pelo exercito de Luiz XIV e anexada à França.

Escócia

Os Grêmios de maçons eram mais antigos do que os da Inglaterra. Em 1057, o rei Malcolm III Canmore outorgou uma Carta, com o poder e obrigação de regular o oficio, à Companhia de Maçons de Glasgow.

Infelizmente, por não haver em abundancia a pedra franca na região, tiveram menos êxito para manter a boa posição já citada. Inclusive, nesse país foi modificada a regra para os “aprendizes ingressados” de tal modo que, o aprendizado ficou com um lapso de tempo mais curto, do que na Inglaterra, por exemplo. 

Os mestres mais antigos, qualificados, para se protegerem profissionalmente, começaram a usar uma palavra secreta que era transmitida entre eles, para o reconhecimento entre si. Essa palavra chave ficou conhecida como a “Palavra Maçônica”.



O MAÇOM E O CONFLITO - Rui Bandeira


O conflito faz parte das nossas vidas.

Quer queiramos, quer não.

Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis.

Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a cooperação, a hierarquização, etc.

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos, tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. 

Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. 

Pelo contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. 

*E melhor gerir um conflito e não procurar ganhar a todo o custo.*

Melhor gerir um conflito consiste em detectar e obter a melhor solução possível para o mesmo. 

Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer a melhor solução no curto prazo, mas revela-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: *ouvir!*

Ouvir o outro, as suas razões, pretensões.

Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar.

É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz.

Para procurar determinar porque o diz e para que o diz.

E assim poder elucubrar em que medida existe realmente conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de propósitos, intenções e objetivos. 

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. 

Porque esta não é o ato de, condescendentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha.

A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida.

A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. 

Nem nós - por maioria de razão que julguemos ter. 

Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura conflituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescendente superioridade. 

É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro.

Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós.

A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida.

Não é demais repeti-lo. 

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar:

_ (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; 

_(2) existindo, qual é ela, precisamente; 

_(3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; 

_(4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; 

_(5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos? 

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar, determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos interesses inicialmente em confronto. 

"E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que implica entender) a posição do outro."

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do silêncio. 

Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os problemas que ouça expostos. 

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. 

Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua.

Através da busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. 

Através da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.