janeiro 24, 2024

TERGIVERSEMOS - Roberto Ribeiro Reis

A 𝙖𝙜𝙧𝙚𝙨𝙨𝙞𝙫𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙜𝙧𝙖𝙩𝙪𝙞𝙩𝙖, via de regra, tem sido a arma dos ignorantes. Quantas pessoas há no mundo que destilam seu veneno contra aquilo que não conhecem. O prejulgamento e o preconceito se revelam companheiros inseparáveis dos que não têm o desejo de conhecerem ou de se aprofundarem sobre determinado tema.

Essa atitude também ocorre em relação a pessoas; quantos de nós já não nos arvoramos no direito de achar uma pessoa antipática ou mal-humorada, sem que com ela tivéssemos tido a 𝙤𝙥𝙤𝙧𝙩𝙪𝙣𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 de um momento de boa prosa.

Esse 𝙗𝙤𝙢𝙗𝙖𝙧𝙙𝙚𝙞𝙤 𝙤𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚𝙨𝙖𝙧𝙧𝙖𝙯𝙤𝙖𝙙𝙤, regado a vitupérios e ignomínias de toda sorte, sempre atingiu nossa Sublime Ordem. Com efeito, é só mantermos o anonimato, e observarmos as discussões -dos incautos- envolvendo a Maçonaria, desde uma resenha pós-futebol, até reuniões de outros grupos sociais ou religiosos.

Quanta sandice é reverberada, muitas das vezes até pela boca de pessoas “instruídas”. Um 𝙧𝙤𝙨𝙖́𝙧𝙞𝙤 de 𝙞𝙣𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙨, motivado, a meu sentir, por uma 𝙘𝙪𝙧𝙞𝙤𝙨𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙚𝙭𝙩𝙧𝙖𝙫𝙖𝙜𝙖𝙣𝙩𝙚, que não comporta o grau elevado de nossa discrição e, às vezes, até mesmo justificado por uma inveja sem precedentes em relação aos grandes feitos histórico-humanitários promovidos por nossa Honrosa Instituição.

O fato é que não devemos combater a ignorância com 𝙧𝙚𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨 𝙙𝙚𝙨𝙥𝙧𝙤𝙥𝙤𝙧𝙘𝙞𝙤𝙣𝙖𝙞𝙨 e 𝙘𝙖𝙡𝙤𝙧𝙤𝙨𝙖𝙨; todas as vezes que alguém queira, deliberadamente ou não, macular o nome da Maçonaria, a sugestão que se nos impõe é: 𝙩𝙚𝙧𝙜𝙞𝙫𝙚𝙧𝙨𝙚𝙢𝙤𝙨!

Isso mesmo. Façamos 𝙤𝙪𝙫𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙢𝙤𝙪𝙘𝙤𝙨, viremos de costas, deixando a 𝙚𝙨𝙘𝙪𝙧𝙞𝙙𝙖̃𝙤 𝙖𝙜𝙖𝙨𝙖𝙡𝙝𝙖𝙧 o 𝙞𝙢𝙖𝙜𝙞𝙣𝙖́𝙧𝙞𝙤 de quem se acha dono da verdade, mesmo sem qualquer embasamento doutrinário, histórico, filosófico e cientifico.

Se o grau de 𝙖𝙗𝙚𝙧𝙧𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨 𝙫𝙚𝙧𝙗𝙖𝙡𝙞𝙯𝙖𝙙𝙖𝙨 for maior ainda, que comecemos a discorrer, por exemplo, sobre a cor do cavalo branco de Napoleão, sobre o efeito indelével provocado na camada de ozônio pela atividade humana, enfim, até mesmo sobre comodities. É questão de piscar de olhos, para que os 𝙙𝙤𝙪𝙩𝙤𝙨 𝙙𝙚 𝙥𝙡𝙖𝙣𝙩𝙖̃𝙤 desapareçam, instantaneamente.

O verdadeiro Maçom não deve perder o seu valioso tempo, discutindo com pessoas cujo cérebro foi tomado pelos realities shows ou programas congêneres. É se nivelar bem por baixo, permitindo a 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙖𝙢𝙞𝙣𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙙𝙚𝙡𝙚𝙩𝙚́𝙧𝙞𝙖. É migrar do sagrado para o profano, sem sombra de dúvidas!

A 𝙩𝙚𝙧𝙜𝙞𝙫𝙚𝙧𝙨𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 é remédio fundamental no mundo em que vivemos. Ela evita contendas, acalma os ânimos e 𝙖𝙧𝙧𝙚𝙛𝙚𝙘𝙚 𝙤 𝙚𝙨𝙥𝙞́𝙧𝙞𝙩𝙤 𝙗𝙚𝙡𝙞𝙘𝙤𝙨𝙤 que tem tomado conta do homem. Nossa Missão Real é a de 𝙖𝙥𝙖𝙨𝙘𝙚𝙣𝙩𝙖𝙧 𝙖𝙨 𝙤𝙫𝙚𝙡𝙝𝙖𝙨 𝙖𝙙𝙤𝙚𝙘𝙞𝙙𝙖𝙨, conduzindo-as ao 𝙍𝙚𝙗𝙖𝙣𝙝𝙤 da 𝙎𝙖𝙗𝙚𝙙𝙤𝙧𝙞𝙖, conquanto estas assim o permitam.




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A DOUTRINA MAÇÔNICA E A ÉTICA DO OBREIRO - Leon Grinberg



O fundamento doutrinário maçônico é gnóstico, porque o homem interior habita a Verdade. Por isso a Instituição Maçônica propicia a busca e realização do homem interior, em todo homem e em todos os homens.

Ortega Grasset disse: “Eu sou eu e minha circunstância”, mas também o profeta Natan disse ao Rei David: “Tu és o homem. De ti depende o destino da humanidade”.

Focalizar especificamente o homem é contemplá-lo como um lento processo evolutivo de um princípio de consciência. 

Princípio de consciência ou substância primordial que se manifestou como matéria inerte na primeira etapa. Logo surgiu o fenômeno da vida, aparecendo nas formas vegetal e animal.

No reino animal, coincidindo talvez com a linha do pensamento de Telhard de Chardin, foi ocorrendo o processo de aparecimento e formação do sistema nervoso central, culminando na configuração do cérebro humano. Cérebro este que possibilitou, a nível da mente humana, a faculdade da reflexão e da consciência de se fazer autoconsciente.

Todo este breve relato, em síntese, é expressão do movimento natural da consciência humana rumo a uma expansão e liberdade. A experiência central do mundo moderno é a busca da liberdade.

Claramente, ao sair da Idade Média, vislumbrou-se que o homem buscou a liberdade, para dar forma ao seu próprio destino como pessoa humana. Para muitos, a procura e o encontro dessa liberdade (qualquer que seja a acepção tomada, e ainda melhor: o conjunto de todas) é um fim em si próprio. Erich Fromm, na sua clássica obra O medo da liberdade diferenciou o conceito de liberdade de e de liberdade para.

Para outros, a liberdade não é um fim em si própria: é um meio para se atingir um fim superior ou mais transcendente. E este fim não poderá ser outro que o da Vida. Vida plena e real, com um autêntico sentido integrado. Viver é outorgar um sentido à existência.

Acreditemos ou não, sejamos ou não conscientes, nós, os homens, somos os únicos gestores e realizadores da História, através da nossa concepção da vida. A dialética do porvir humano de todos os tempos aparenta surgir de duas concepções divergentes: a materialista e a idealista.

Concepção que se manifesta na luta ou no defrontar do que poderíamos chamar: poder político e poder espiritual. A verdade da realidade vital contra os interesses criados. Verdades absolutas contra Verdades relativas, acomodadas. Liberdade individual contra autoritarismo. Liberdade versus dogmatismo.

O primeiro intento ocidental de unir ambas concepções, ou seja, os dois poderes, foi o dos pensadores gregos. Entre eles, Platão, no seu livro A República, tratou de espiritualizar a realidade, de onde surgiu a utopia de que os governantes deveriam ser filósofos, homens do espírito, segundo Martin Buber, é o encontro entre o homem e o transcendente. 

Daí ser necessária inevitavelmente a integração. As ideias têm valor contanto e enquanto se transformem em vida palpável, concreta. Não é possível permutar a vida pelo espírito, a ideia abstrata. Nem emancipar o transcendente, o espiritual, da vida cotidiana.

Espírito sem compromisso do dever é um dos sintomas da nossa atualidade, e também a sua contraparte: o materialismo desconhece a essência da vida. O material e o vital devem se fundir para que o espírito seja vida.

Responsabilidade, base da ética

Ser significa ser totalmente. Sermos nós mesmos, assumir. É nos comprometermos com cada hora de nossos dias, é sermos um homem em plenitude. Reiteramos: viver é dar sentido à vida. Cada momento da existência põe à prova o homem. Assumirá ele a responsabilidade de responder com todo seu ser à invocação do momento? É livre. Pode escolher e decidir. Nesta eleição ele joga o sentido da sua existência. E ao eleger para si mesmo, estará elegendo para a humanidade.

A responsabilidade é a única insofismável base de toda ética. É precisamente a responsabilidade que possibilita o exercício da ética e a prática da moral.

O que é conflitante? O que cria a crise do homem e no homem? A cisão da existência em tabela valorativas distintas. Pode ser que individualmente estabeleçamos a nossa própria escala de valores, nossa própria mensuração com prioridades diferentes. 

O importante é o ajustamento da nossa conduta à nossa tabela valorativa, evitando a multiplicidade de morais. Não há uma ética para o Templo e outra para o mercado.

O processo formativo maçônico nos encaminha, desde o primeiro grau, rumo a uma coerência entre pensamento, palavra e ação. Guia-nos para alcançar afirmativamente a unidade da vida do homem em todos os campos. Uma única vida, uma única resposta, uma única responsabilidade, um único compromisso, uma única ética.

Sempre há no recôndito do homem uma voz interior que o chama, que pergunta que indaga que reclama. Às vezes a chamamos de consciência. Perante ela, alguns se ocultam entre palavras, entre ideias. Entre ações. Outros se revelam se manifestam tal como são. 

Alguns argumentam tranquilizando-a, se justificando. Outros se realizam se ajustam. Lutam contra a fragmentação, a divisão da vida em categorias distintas e em recintos temáticos, qual compartimentos estanques, que nenhuma relação estabelece entre si. O ético, o estético, o religioso, o metafísico, o sociológico, o econômico, o psicológico etc., que em definitivo refletem aspectos do homem, nunca do homem total.

Karl Jasper disse: “O modo como vejo a grandeza e como em comporto perante ela, me faz chegar ao meu próprio ser”.

Ante um ideal de perfeição alguns expressam: são utopias; negam-no e reduzem tal ideal ao comodismo do nível em que se encontram. Outros, pelo contrário, e entre eles estão os maçons, tentam-se elevar, se realizar nessa meta de perfeição. Essa meta de perfeição. Essa meta de perfeição logicamente leva implícita a efetivação dos nossos princípios básicos.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Amor à justiça; procura da verdade. Respeito à sabedoria; reconhecimento da harmonia e da justiça. Tolerância no seu legitimo limite.

Rejeição, superação ou controle da hipocrisia, ambição, inveja, egoísmo etc. Mas, acima de tudo, a pedra básica, o fundamento da nossa Instituição; a Fraternidade. E ela depende da compreensão.

Ambas, fraternidade e compreensão determinam e descansam na responsabilidade, forjada, no nosso caso, como maçons, na real interiorização do que os nossos símbolos dinamizam.

Nossa formação maçônica implica ao menos estarmos a coberto de intenções e ideias espúrias, vigilantes de que a sabedoria, harmonizada pela beleza e pelo amor, seja a potência das nossas ações, e por onde a nossa conduta esteja nas vinte e quatro horas do dia, a prumo, no transcurso do reto caminho a transitar pela vida.

SAUDAÇÃO MAÇÔNICA DO ORIENTE - Charles Evaldo Boller



Sinopse: Especulação sobre qual o objeto de saudação no oriente da loja: O Delta? O Iod? A presença de Jeová? A espada flamígera? O venerável mestre? A carta constitutiva?

Nossa sociedade ocidental hodierna tem suas raízes plantadas no humanismo renascentista, de onde também vieram as influências culturais da Maçonaria. O que vivemos em nosso dia-a-dia é o resultado de longo caminho de desenvolvimento cultural. Passou pelo pensamento grego, pelo direito romano e assimilou a filosofia cristã. Ao compreender o mundo no qual se vive entende-se a sociedade em que se está imerso. Deste entendimento depende como cada cidadão se porta e vive em sociedade e a expressão desta é revelada pelos mitos, religiões e filosofias que desenvolve.

Toda a cultura humana está alicerçada no pensamento filosófico e isto era o que os fundadores da Maçonaria do século XVI tinham interesse. Desde então ocorreram enxertos e modificações, algumas linhas de pensamento trouxeram desde longínqua idade do homem influências às quais nada se pode debitar no aspecto evolucionista da Maçonaria. Em essência, a Maçonaria apenas usa das antigas crenças, ciências e religiões o indispensável para auxiliar na formação da cultura maçônica, porque é isto que os adeptos possuem em suas bases culturais ao serem iniciados.

Exemplo de ciência morta é a Astrologia; há muito que os vaticínios desta antiga ciência foram superados pela astronomia e tecnologias. As colunas zodiacais existem em nossos templos como referência para orientação simbólica no Universo; é sabido da física elementar que sem referencial não existe apoio sensorial ao deslocamento pelo Universo, e a loja é uma simulação do Universo tridimensional.

Na religião a influência dos deuses e deusas do antigo Egito na Maçonaria serve de referência e não como deuses a serem venerados, daí excluir qualquer tipo de adoração, inclusive a Jeová, o Deus exclusivo dos judeus e cujo nome a maioria das religiões cristãs não usam. Na Maçonaria criou-se o conceito de Grande Arquiteto do Universo, que não representa o Deus de nenhuma religião. Esta foi uma das grandes invenções dos criadores da Maçonaria, pois possibilita cada crente adaptar o conceito às suas próprias necessidades de adoração e representações antropomórficas ou espiritualistas. No Rito Escocês Antigo e Aceito, em todos os graus, as representações divinas são influenciadas pelas linhas filosóficas do judaísmo e do cristianismo em seu culto a Jeová, expressas pelo iod inserido no delta do oriente da loja simbólica e outros símbolos da filosofia maçônica do Rito.

Se numa loja maçônica não existe culto de adoração a deuses, então o que realmente é saudado pelo maçom no oriente? Certamente não é o iod, a primeira letra do nome de Jeová em aramaico! Nem qualquer outro objeto ou criatura do oriente. Maçonaria não é religião! Por simples exclusão é possível determinar que a saudação seja exclusiva para a representação simbólica da coluna da sabedoria, cujo guardião é o venerável mestre. E se esta é saudada cerimonialmente, o que existe por detrás desta demonstração de respeito marcial. Ali acontece o homem e sua filosofia; o amigo da sabedoria que todo maçom é por definição desde a sua iniciação.

Existem diversas maneiras de interpretar filosofia: atitude de vida individual; conhecimento impossível de provar; conhecimento abstrato e teorias lógicas; modo de ver o Universo e a realidade; representação teórica da ilusão que os sensores induzem ao ser. Em essência, filosofia é apenas conhecimento, certo tipo de conhecimento. É a ciência preocupada com o todo, que vai fundo na revelação especulativa da realidade. Não se trata de matemática, astrologia, astronomia ou medicina; cada ciência destas foi influenciada pelo filosofar, pela busca em profundidade do sentido de totalidade que os gregos denominaram sabedoria, em grego "sophía". O homem que se dedicava a ação do pensamento para discernir o Universo que o cercava era denominado sábio, em grego verbalizado "sophós", ou simplesmente amigo, em grego "phílos"; amigo da sabedoria. A existência dos amigos da sabedoria cunhou o verbete "filosofia". Depois dos gregos, a filosofia passou pela idade média e chegou a nossos dias com outra aparência, porque ela mesma passou a ser criticada pelos filósofos. De ciência de todas as coisas, da totalidade, e de suas causas primeiras ela acaba fragmentada em: filosofia experimental ou empírica, reflexão crítica das ciências ou epistemologia, positivismo, filosofia analítica, dialética, e assim por diante. Isto não diz alguma coisa a respeito da diversidade de ritos que a Maçonaria alberga?

Na Maçonaria não interessam os detalhes da divisão da filosofia. A assimilação cultural filosófica maçônica, mesmo dentro da mistura de pensamento grego, direito romano e filosofia cristã possibilita obter rico e explicito conhecimento a respeito da sociedade ocidental e o que esta pensa de si. O filosofar maçônico não visa erudição, antes, provoca seus adeptos a pensarem em temas da sociedade nos quais já estão experimentados e familiarizados, mas impedidos de pensar nestes devido às atividades do dia-a-dia. O sistema humano é cruel quando aprisiona a grande massa em condições de autômatos vivos, sem possibilitar tempo à contemplação e recolhimento. É disso que o maçom foge em suas reuniões. Nestas ocasiões é desperto para assuntos que já são de seu conhecimento, mas jazem sepultos debaixo da busca do sustento e em virtude das vicissitudes que a vida apresenta.

Para tal objetivo são utilizadas filosofias usadas pelas religiões, mas apenas como coadjuvantes ao grande objetivo de conduzir cada maçom ao autoconhecimento visando o bem da sociedade. Não significa proselitismo religioso quando são introduzidos conceitos cristãos - poderia ser budista, hinduísta, vedanta, egípcio, islâmico, ou outro. Quando aparentemente defende princípios da democracia cristã não significa propaganda ideológica - poderia ser democracia: direta, indireta, representativa presidencialista, semipresidencialista, parlamentarista; ou sistemas oligárquicos como: meritocracia, gerontocracia, plutocracia, tecnocracia, etc. Qualquer sistema ideológico político e religioso que respeita liberdade, igualdade e fraternidade é caminho para facilitar a transmissão de conhecimento filosófico alicerçado no que cada maçom já tem em si. O que já é bom torna-se melhor. Nada de perfeição, esta pertence ao Grande Arquiteto do Universo, o maçom busca em suas lojas apenas uma condição aperfeiçoada.

Partindo do princípio que para entrar na Maçonaria o homem já deve ser dotado de luz espiritual, quando se exige dele a crença em Deus para ser iniciado, ocasião em que vem desejoso de ver a luz simbólica do conhecimento, da sabedoria, tornar-se amigo da sabedoria, viver a especulação maçônica, filosofar. Logo depois, na ritualística de suas sessões de trabalho, o que ele saúda no oriente é o fato de ver ali, simbolicamente, a luz do conhecimento que pediu e para o que trabalhará arduamente para dela nutrir-se. Esta é representada simbolicamente pela diminuta coluneta jônica que nunca é deitada e está sempre à disposição. A luz está ali a sua disposição, basta pensar na totalidade dos problemas do agrupamento de seres que vivem em estado gregário ao seu redor e levantar ideias para melhorá-la, que o representado pela coluna do venerável mestre não será apenas visto, mas internalizado. Em um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito aprende-se que a sabedoria não emana do venerável mestre, orador ou vigilantes, a sabedoria está potencialmente dentro de cada coluna que cada obreiro é quando filosofa e melhora a si mesmo.

Sessão maçônica não é mera leitura de atas, expediente e planejamento de festas; a essência do trabalho é o filosofar maçônico. Significa: autoeducação; humanização; fomento e manutenção de amizades fraternas; pratica da beneficência; patriotismo; servir a humanidade; desenvolvimento de empatia; superação de vícios; controle de paixões desenfreadas e degradantes; evitar a maledicência; tudo alicerçado no desenvolvimento do filosofar maçônico; a conquista da luz simbólica do conhecimento maçônico. A busca desta luz é tarefa individual intransferível! Ninguém a dá e constituem os louros da vitória de uma longa jornada, ao final da qual, o maçom dá honra e glorifica a maravilhosa obra criativa do Grande Arquiteto do Universo.

Bibliografia:

1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2007;

2. BACHL, Hans, Nos Bastidores da Maçonaria, Memórias de um Ex-secretário, Coletânea de Artigos e Traduções, segunda edição, Editora Aurora Limitada, 136 páginas, Rio de Janeiro;

3. D'OLIVET, Antoine Frabre, A Verdadeira Maçonaria e a Cultura Celeste, tradução: Caroline Kazue R. Furukawa, ISBN 85-7374-873-7, primeira edição, Madras Editora Ltda., 150 páginas, São Paulo, 2004;

4. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora Ltda., 308 páginas, São Paulo, 2003;

5. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo Radical a Filosofia e a Construção da Modernidade 1650-1750, Radical Enlighttenment, Philosofy, Making of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6, primeira edição, Madras Editora Ltda., 878 páginas, São Paulo, 2009;

6. LARA, Tiago Adão, Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia Ocidental do Renascimento Aos Nossos Dias, segunda edição, Editora Vozes Ltda., 176 páginas, Petrópolis, 1986;

7. LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2005;

8. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários Aos Graus Inefáveis do Ritual Escocês Antigo e Aceito, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-035-X, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 192 páginas, Londrina, 1997;

9. PANSANI, João, Cuidado, Maçom! Primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 116 páginas, Londrina, 1992;

10. PUSCH, Jaime, ABC do Aprendiz, segunda edição, 146 páginas, Tubarão Santa Catarina, 1982;

11. RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Vol. 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 172 páginas, Londrina, 2007;

12. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007;

13. RUSSELL, Bertrand Arthur William, A Filosofia Entre a Religião e a Ciência, 16 páginas;

14. SILVA, Roberto Aguilar M. S., A Genealogia do Poder, primeira edição, 4 páginas, Corumbá, 2011;

15. SOUZA FILHO, Ubyrajara de, Cognição e Evolução dos Rituais Maçônicos, ISBN 978-85-7252-278-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 152 páginas, Londrina, 2010.

janeiro 23, 2024

"ESFRIAMENTO DAS RELAÇÕES PESSOAIS" - Newton Agrella


Não é por acaso que as relações humanas circunstancialmente acabam ganhando um caráter meramente protocolar.

São conexões - que por razões diversas e que nem sempre encontram uma explicação ou justificativa plausíveis - se perdem no tempo e se diluem.

É natural que o distanciamento acaba gerando um vazio, que por vezes, se torna abismal e invariavelmente  complicado para ser preenchido.

E mesmo após tanto tempo, quando essas relações se restabelecem, fica instalado um vestígio de indiferença, que por mais que se tente, mal se consegue disfarçar.

Aliado a isso tudo, numa tentativa de minimizar essa sensação desconfortável e intrigante, arranja-se um bode expiatório que recebe o singelo nome de "falta de sintonia ou afinidade".

Provavelmente, esse eufemismo em forma de desculpa, devesse ser melhor e mais realísticamente substituído por "falta de empatia", ou seja, de reconhecer em sí mesmo a indiposição de explorar a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer e de apreender do modo como ela apreende. 

Isso tudo, sem no entanto, perder a própria identidade.

Trata-se pois da sutil arte de se reconstruir relações, sem que o emocional sobrepuje a lógica e a razão, agindo como uma espécie de agente restaurador.

As experiências amargas fazem parte do processo de maturidade e de aprimoramento da consciência.

Não é imperativo que se tenha que estar com aqueles com quem já se tenha vivido experiências negativas amiúde. 

Não faz mal algum, poder ouvir e compartilhar momentos com aqueles com quem já divergimos ao longo da vida.  

Pelo contrário, talvez este seja um sinal de evolução.

Quebrar paradigmas, aprender a estar no lugar do outro e acima de tudo ter a certeza de que ninguém é superior a outrem, são desafios dos quais não se deve fugir; nem tampouco se furtar de enfrentá-los.

O tempo passa e o desafio mantem-se ali.



QUAL O SENTIDO DE SER MAÇOM? - Rommel Oliveira Alkmim


Quando começamos a despertar para a nossa vocação religiosa ou até profissional, ainda na infância, para muitos, não escolhemos ser Maçons. Afinal, maçonaria não consta em nenhuma lista como uma dessas opções. Por uma simples razão: maçonaria não é religião e tampouco emprego.

Embora trate das relações espirituais com as quais cada indivíduo se identifica, inclusive no trabalho, somente após adquirida a maturidade necessária, e no tempo certo, é que se manifestará o desejo de se tornar um maçom. A questão que se deseja responder é: por que quero entrar para a Maçonaria?

Ao fazermos a opção de integrar a Ordem, o que esperamos dela? Qual é a fonte das informações que possuímos que a torna tão atrativa ao ponto de queremos nos tornar um Maçom?

Na maioria das vezes, somos despertados por um parente, um amigo ou até um conhecido. Ainda que raro, por admirar a um Maçom em específico pelas suas atitudes. Todavia, as razões que mais parecem surtir influência e se evidenciam atrativas aos propensos candidatos serão, exatamente, as mais combatidas pela Ordem, quais sejam:

1-         Por que nos confere “status”?

2-         Por pertencer a um grupo influente?

3-         Por que serei apoiado nos meus negócios?

4-         Por que o meu parente ou o meu chefe é um Maçom?

        Como se presume, são estas “possibilidades” que afastam muitos daqueles que assim procuram integrar a Ordem e que, uma vez investidos, não encontrarão terreno fértil para colher suas expectativas materiais. Desse modo, passarão a engrossar as estatísticas dos que a abandonam logo de início e, a uma outra lista, que não tardará ser preenchida.

         Ainda, se a esses, os “mistérios da maçonaria” se resumirem a vestir um terno preto; participar de encontros “secretos”; pertencer a uma Ordem secular; ou ter tratamento diferenciado que lhe proporcione vantagens sobre outras pessoas, não será a Maçonaria a Instituição que os abrigará, confortavelmente, em seu meio.

          É sabido que, no meio maçônico, buscam-se ressaltar em seus indivíduos os valores morais. Estes, devem ser resgatados por intermédio da apuração do caráter, através do constante burilamento pessoal a culminar numa condição social exemplar. Para tanto, é mais do que perceptível serem dispensáveis aqueles valores comuns pretendidos por um postulante.

       Estas perguntas, em princípio, elaboradas como questionário a ser empregado nos processos de sindicância, cabem, por força de reflexão, serem refeitas por alguns Obreiros, independente do grau ao qual pertençam. Todavia, a estes, aprofundaremos em outras questões, agora direcionada aos Maçons:

      Qual é o sentido de ser Maçom? Uma vez dentro da Ordem, você consegue definir essa questão?

          Mesmo no seu primeiro ano, pode ocorrer ao Iniciado Aprendiz perceber o quão “distante” tais impressões iniciais vêm se tornando e, por esta razão, se “desmanchando” ao longo do seu caminhar maçônico, uma vez que, nesse processo evolutivo velhos conceitos vão dando lugar aos novos valores preconizados pela Ordem.

           Contudo, quantos de nós saberemos responder o que se segue? Houve, de fato, uma substituição desses valores profanos uma vez aplicados e assimilados os conhecimentos maçônicos?

          Quantas vezes aplicamos a máxima: “... não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6:3)?

          Quão tolerantes somos se contrariados das nossas posições ou pensamentos?

          Quantos “templos à virtude” erigimos e quantas “masmorras ao vício” cavamos?

          Quem de nós sabe o “... quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...” (Salmo 133), e qual é a nossa contribuição pessoal para isso?

      Quantos de nós sabemos o que significa: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2)?

        Estamos verdadeiramente empregando o “conceito” maçônico: primeiro, a família; segundo, o trabalho e; por fim, a maçonaria? À última, legamos o respeito e a importância que lhe são devidas, quando a trocamos por atividades sociais julgadas mais “importantes”? Não é caro relembrar a nós maçons de que, por meio do aperfeiçoamento obtido com as práticas maçônicas, é que conservamos a família e conquistamos o trabalho.

           O texto, por si, encerra a sua construção dialética, onde se expôs pela tese, antítese e síntese, o princípio, meio e fim da evolução do caráter de um Maçom. Contudo, quantos de nós, hoje, seríamos capazes de nos submeter confortavelmente a um “reexame” onde fôssemos reavaliados aptos, ou não, para permanecer integrantes da Ordem Maçônica?

                Depois de ler esse trabalho, seríamos capazes de responder:

1-        Vale à pena estar na maçonaria? Por quê?

R:

 

2-        Estou sendo leal comigo mesmo?

R:

 

3-        Devo continuar na maçonaria?

R:

      Não se pretende neste trabalho, de forma alguma, avaliar ou julgar as credenciais maçônicas de Obreiros. São apenas EXERCÍCIOS DE REFLEXÃO, tais quais aqueles que fazemos em outros cenários de nossas vidas. Se para alguns, no entanto, tais proposições lhes pareçam impertinentes ou até mesmo ofensivas, talvez, seja chegada a hora, para esses, de rever seus próprios conceitos sobre maçonaria.

           Faz-se, aqui, um convite a uma nova inserção à “Câmara das Reflexões”. Desta feita, entraremos de olhos abertos e uma forte luz deverá nos acompanhar. Não nos surpreenderá mais o VITRIOL, nem seus adereços ou o cenário fúnebre. Se, ainda assim, nos encontrarmos “indignados” e rotularmos tal proposta como petulante, pode significar que, no passado, nela se adentrou e saiu da mesma forma; o que provavelmente se repetirá, mesmo que, embora “renascido” há anos e submetido a toda a sua liturgia, simbolismo e alegorias, ainda que tenha sido comprometido pela emoção daquele momento, não introjetou seus ensinamentos ou sequer se dispôs a conhecê-los.

            O que mais parece ter importado naquela primeira “Câmara” sugere ser o mesmo adereço desafiador desta segunda: “Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te”.

             Reavaliar passos e decisões é uma constante em nossas vidas. Quantas empreitadas deixamos de lado, nos esquivando de assumi-las e, em quantas outras mergulhamos de cabeça e nos esforçamos para mantê-las? Talvez, encontremos a resposta na lógica: O que é bom pra mim ou me dá retorno, me faz ficar; o que me incomoda e me tira da zona de conforto, provoca meu abandono.

          Será aí o “divisor de águas” entre o maçom ativo e o adormecido? Ser maçom não foi uma imposição. Foi uma escolha. Agora, saber se certa ou errada, só uma vez dentro. Este, talvez, seja o único “mistério” dito, e tido como certo, no que se refere à Maçonaria.

            A questão pode ganhar corpo a seu favor se considerar aqueles maçons que a abandonam, (e que carinhosamente são denominados “adormecidos” pelos seus irmãos) e que, nada podem “revelar” ou “acrescentar” a um profano sobre o que se faz na maçonaria que seja relevante, pois nada conhecem além de alegorias. Já aqueles que se ajustam e passam a sua vida a integrá-la, não a “traduz” em palavras e sim no seu comportamento.

           Somente dentro da Ordem saberemos se foi uma “empreitada acertada”, ou não. Se certa, há o desejo de avançar, mesmo que para alguns a obra maçônica se apresente de forma prazerosa e até natural. Para outros, pode não ser algo tão confortável, mas que, com disciplina e perseverança, bons frutos serão colhidos e isso lhes tornará homens melhores.

         E se essa escolha não lhes agradou? Nesse caso, ser sincero consigo, se retirar e retomar seus caminhos seria a opção mais apropriada, pois suas ideias diversas ou até paralelas ao que preceitua a Ordem não coadunam. Não se permitir abandonar a sua “zona de conforto” sugere muitas dificuldades até para se aprofundar no tema. A sua natureza dogmática ou temporal, seria de difícil lapidação. A estes, aparentemente frágeis ao maço e o cinzel, pela ótica profana, não têm do que se recear. Como dito, pode ser uma questão apenas temporal.

             Contudo, recobrar a necessidade de atitudes assumidas com bom senso e dignidade pode minimizar desconfortos e atritos desde o início, ainda antes de se iniciar a um amigo. Ao se bater à porta de um maçom (seu propenso “padrinho”), inicia-se um “namoro” ainda na rua, correspondido pela janela da maçonaria. Adentrar à Casa, não dependerá exclusivamente desse padrinho, mas de uma constante avaliação que passará pelos olhos vigilantes de seus membros maçons, da janela da rua para o seio da Instituição. Se estranho aos olhos será defenestrado, mesmo que investido das nossas insígnias. Portanto, uma vez dentro da Casa, a sua permanência dependerá, única e exclusivamente do seu desempenho.

           Depois de submetidos e imersos na sua própria “Câmara das Reflexões”, pela segunda vez, no caso deste texto, como você responderia às questões mais evidentes no VITRIOL (“Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta)? Recordemos:

“Se tens receio de que se descubram os teus defeitos, não estarás bem entre nós”;

“Se fores dissimulado, serás descoberto”;

“Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós aqui, não as conhecemos”;

“Se tens medo, não vás adiante”;

“Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte”.

 


janeiro 22, 2024

A EXPRESSÃO "ERA VULGAR" E O CALENDÁRIO MAÇÔNICO - Rogério Alegrucci


Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. 

Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas. 

Os cronologistas e historiadores, servem-se também de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano.

Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: Criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros. 

Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. 

Já segundo Heródoto (Grego considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos. 

Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. 

Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se, ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam Annus Erat Regni Augusti (era o ano do reinado de Augusto) ou Ab Exordio Regni Augusti que significa "Do começo do reinado de Augusto", pois os Espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto. 

Outros dizem derivar da palavra latina aes, aeris (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável que serviu de começo a uma serie de anos. 

As palavras era e época tem certa relação entre si, contudo, são bem distintas: 

_Era, é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; 

_Época é o momento desse acontecimento. 

De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. 

Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. 

Não o sendo, cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: 

_A dos Judeus funda-se na criação do Mundo, segundo o Gênesis; 

_A dos antigos Romanos, na fundação da sua Capital; 

_A dos Gregos, no estabelecimento dos jogos Olímpicos; 

_A dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; 

_A dos Cristãos no nascimento de Cristo.

Já a expressão Vulgar tem origem no Latim Vulgaris ou Vulgus e primitivamente significava “pessoas comuns”, ou seja, aqueles que não são da realeza. 

Isto pelo menos até meados do século XVI quando a palavra Vulgar passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”. 

Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. 

Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. 

A Era Vulgar, portanto, designa o calendário Gregoriano mundialmente adotado. 

Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. 

O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis em Latim, ou simplesmente V.´.L.´. ou A.´.L.´. como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como Latomorum Anno ou, como no texto original em inglês que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”.

A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo Anglicano nascido no ano de 1581, em Dublim. 

Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido as 09 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 A.C., com base no texto Massorético (texto em hebraico que deu origem à vários capítulos da Bíblia) ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento). 

Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. 

Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar. 

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. 

O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do ano Gregoriano, no entanto, começa em 01 de março – assim como o Ano Juliano que ainda estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. 

No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 01 de março de 2011 da E.´. V.´. seria o dia 01 do mês 01 do ano de 6011 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. 

Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. 

No entanto Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. 

Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. 

Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas. 

As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden... 

A ideia só foi concebida para se transmitir que os princípios da maçonaria (e não a maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo. 

Vejo que qualquer outro significado Maçônico para essas datas não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico não em 01 de março como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.).

Desta maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Ir.’. José Castellani, em sua obra “Do pó dos arquivos”.

O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. 

Utilizar o calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.

Bibliografia:

- Philosophical e Mathematical Dictionary – Vol I - 1815 – Google Books.

- Peça de Arquitetura do Ir. Antonio Carlos Rios – Academia Maçonica de Letras do MS – COMS-COMAB

- Pesquisas Objetivas:

- http://www.calendario.cnt.br/pesquisas2004.htm

- The Masonic Manual by Robert Macoy – Revised Edition – 1867

- Do pó aos arquivos – José Castellani

- Web Site da Grande Loja Maçônica de Minnesota-USA

(Trabalho apresentado na ARLS Manoel Tavares de Oliveira, 2396 – Or. de São Paulo, em 30/08/2011)

POLÍTICA X PRINCÍPIOS MAÇÔNICOS - Kennyo Ismail



Em 2010, por iniciativa do então Grão-Mestre, François Stifani, a Grande Loja Nacional Francesa publicou carta aberta em apoio a Nicolas Sarkozy, presidente da França. 

Durante os anos de 2011 e 2012, todas as importantes Grandes Lojas da Europa e da América do Norte, além de várias em outras partes do mundo, retiraram o reconhecimento da Grande Loja Nacional Francesa por desrespeitar o princípio básico da Maçonaria de que “um maçom na sua qualidade maçônica não faz nenhum comentário sobre política, ou que possa ser interpretado como se aliasse sua Grande Loja com um determinado partido político ou facção”. 

Muito menos um Grão-Mestre. 

O reestabelecimento do reconhecimento da GLNF só ocorreu em Junho deste ano de 2014, apenas após eleito um novo Grão-Mestre e a adoção de ações internas que garantissem que o episódio não mais ocorrerá. 

No entanto, somente 04 meses depois, parece que há irmãos brasileiros que não conseguiram aprender com os erros da GLNF. 

Talvez por desconhecer tais fatos ou mesmo tal princípio básico da Maçonaria. 

Quanto ao princípio, maçom algum pode declarar desconhecê-lo, visto que na Ordem só ingressa homens alfabetizados e em plenas condições de aprendizagem das leis, regras, cerimônias e instruções maçônicas. 

Fato é que, em 1938, a Grande Loja Unida da Inglaterra publicou, em conjunto com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, “The Aims and Relations of the Craft”, uma declaração dos princípios fundamentais que serve de base para todas as Grandes Lojas regulares do mundo. 

O item 6 dessa declaração registra claramente tal proibição ao afirmar que: 

_“Enquanto a Maçonaria inculca em cada um dos seus membros os deveres de lealdade e de cidadania, reserva-se ao indivíduo o direito de ter sua própria opinião em relação a assuntos políticos. 

Entretanto, nem em uma Loja, nem a qualquer momento em sua qualidade de maçom, lhe é permitido discutir ou fazer promover seus pontos de vista sobre questões teológicas ou políticas”. 

A razão de tal proibição é notória e muito bem registrada na literatura maçônica. 

Sendo a Maçonaria uma ordem universal, que abraça membros de diferentes religiões e convicções políticas, defensora perpétua das liberdades civil, religiosa, política e intelectual, nunca poderia ou poderá, como instituição, imprimir preferências políticas ou religiosas, por risco de desrespeitar as convicções de seus próprios membros, independente se maioria ou minoria, causando assim desarmonia entre maçons ou Lojas. 

Passado o período eleitoral, que a lição seja aprendida, correções de curso sejam feitas, erros sejam corrigidos, e, principalmente, que nas próximas eleições eles não sejam repetidos.



janeiro 21, 2024

Podcast #26: Maçonaria também é poesia - Kleber Siqueira

SE - Rudyard Kipling


Rudyard Kipling, premio Nobel de literatura em 1907, escreveu este poema para o filho de apenas 12 anos, em 1909, aconselhando-o com o que era preciso fazer para se tornar um bom homem.  Estes conselhos também se aplicam à maçonaria como padrão de comportamento para todos os irmãos. Tragicamente o filho morreu aos 18 anos combatendo na Primeira Guerra Mundial. Porém o poema imortalizou os dois. Tradução de Guilherme de Almeida.

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

janeiro 20, 2024

O IRREFREÁVEL GERÚNDIO NACIONAL - Newton Agrella


Viver no *gerundismo* é ironicamente um estado de embriaguez linguística.  

Enquanto o *gerúndio* é apenas uma forma ou  flexão verbal que se caracteriza pela desinência dos verbos em *"ndo"* para indicar um estado ou ação que ocorre num exato momento e constitui-se numa conjugação verbal legítima, o mesmo é todavia, despudoradamente utilizado no Português falado ou escrito no Brasil.

Por outro lado, o *"gerundismo"* trata-se de um modismo que se vale de maneira inadequada e inconveniente da utilização deste expediente  numa incompreensível tentativa de reforçar uma ideia de continuidade de um verbo no futuro.

A rigor o uso descabido deste "tempo verbal venerado pelos brasileiros" acaba por tornar mais complicado o que já é suficientemente complicado por si só.

O *Gerundismo* impõe que aquilo que poderia ser expresso de maneira mais econômica e direta, seja substituído por uma intrincada estrutura que prefere utilizar três verbos a apenas um ou dois. 

Exemplos desta sandice:

Padrão da norma culta da língua portuguesa:

Eu farei.

ou

Eu vou fazer.

No gerundismo:

Eu *vou estar fazendo*.

A empresa entrará em contato para resolver o problema.

ou

A empresa vai entrar em contato para resolver o problema.

No gerundismo:

A empresa *vai estar entrando* em contato para resolver o problema.

Como é claramente perceptível, nos exemplos dados, transformamos, desnecessariamente, um verbo conjugado em um gerúndio, ao aplicar aquilo que deve ser evitado, 

O *Gerundismo* é, portanto, um excesso linguístico que deve ceder lugar para construções mais adequadas e simples.

Não se quer aqui impor que o gerúndio seja abolido, porém deixar claro que seu uso sistemático em construções de frases que deveriam constar apenas de um único verbo ou de uma locução,  faz mal à saúde intelectual ao falante da última Flor do Lácio.



AS PROFECIAS DE DANIEL- Jorge Gonçalves



No livro de Daniel, capítulo 2, a Bíblia relata a convocação de "mágicos, astrólogos, encantadores e caldeus" pelo Rei Nabucodonosor para interpretar seus sonhos. Curiosamente, o motivo de chamar os caldeus estava relacionado à associação da região da Caldéia. habitada pelos caldeus no sul da Mesopotâmia, à prática de adivinhação.

Após a conquista da Babilônia pelos caldeus, astrônomos (ou astrólogos) assumiram o papel de adivinhos tornando a palavra "Caldeu" sinônimo de astrólogo ou mago.

(Veja mais em www.michaelwinetzki.com.br/2023/12/os-reis-magos-jorge-gonçalves.html)

Atormentado pelos pesadelos, o Rei da Babilônia ameaçou matar todos os sábios, astrólogos e magos da Babilônia, pois nenhum deles foi capaz de interpretar seu terrível pesadelo. Segundo os relatos bíblicos, Daniel, após pedir um prazo e orar fervorosamente a Deus, recebeu a revelação do sonho e seu significado.

No sonho de Nabucodonosor, havia uma estátua cuja cabeça era feita de ouro, o peito e os braços eram de prata, a barriga e os quadris de bronze, as pernas de ferro e os pés uma mistura de ferro e barro. Uma pedra foi cortada numa montanha sem que houvesse mãos para tal e arremessada contra a estátua, despedaçando-a. A pedra se tornou uma montanha e preencheu toda a Terra.

Inspirado por Deus, Daniel interpretou o sonho do rei explicando que a grande estátua feita de diferentes metais representava quatro reinos sucessivos: Babilônia, Medo Persa, Grécia e Roma. A destruição da estátua por uma pedra, tornando-se um grande monte, simboliza o reino de Deus que nunca será destruído.

Avançando milênios no tempo, em 1936, o economista John Maynard Keynes adquiriu diversos documentos sobre o maior gênio da humanidade, Isaac Newton, a quem Keynes descreveu como "o último dos magos, o último dos babilônios e dos sumérios, a última grande mente que viu além do mundo visível e racional, com os mesmos olhos daqueles que iniciaram a construção de nossa herança intelectual."

Isaac Newton desvendou alguns dos maiores mistérios da natureza, como a gravidade, também estabeleceu as leis do movimento, contribuiu para a ótica e revolucionou a matemática. Curiosamente, dedicou parte significativa de sua vida ao estudo bíblico. Em sua obra póstuma, "Observações sobre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de São João", publicada em 1733, Newton analisa as visões proféticas de Daniel e do apóstolo João, buscando prever o retorno de Jesus à Terra. 

Essa história continua...




LOJAS, ORDEM E OBEDIÊNCIAS MAÇÔNICAS - Alfério Di Giaimo Neto


Brethren, vejam o que nos ensina o escritor francês, Ir Marius Lepage, sobre o acima mencionado:

As Lojas podem existir sem Grandes Lojas ou Grandes Orientes, garantindo sua federação. O inverso, porém, não é verdadeiro. Nem Grande Loja, nem Grande Oriente podem existir sem as Oficinas chamadas “azuis”, que são a base de qualquer Potencia ou Obediência.

Assim, fica muito claro a diferença entre a Ordem e a Obediência Maçônicas.

A Ordem (em inglês é chamada de Craft) – a Franco Maçonaria tradicional e iniciática – não tem origem historicamente conhecida. Usando a expressão habitualmente empregada, podemos dizer que ela data de “tempos imemoriais”.

...antes do século XIV nada encontramos que se possa ligar, com provas irrefutáveis, à Maçonaria. Todos os documentos que possuímos estabelecem que foi da Maçonaria Operativa que saiu nossa Ordem, e demonstram apenas isso, a não ser para aqueles que suplementam fatos e fontes com a imaginação...” (F.Marcy, l´Histoirie du Grand Orient de France).

As Obediências, ao contrário, são criações recentes, das quais é possível – embora com algumas dificuldades e imperfeições – descrever o nascimento, e cuja existência, a partir daí, é bem conhecida na maior parte dos pormenores.

Entretanto, se a Ordem é universal, as Obediências, sejam elas quais forem, mostram-se particularistas, influenciadas pelas condições sociais, religiosas, econômicas e políticas dos países em que se desenvolveram.

A Ordem é, por essência, indefinível e absoluta: a Obediência está sujeita a todas as variações da fraqueza congênita ao espírito humano.



janeiro 19, 2024

UMA QUESTÃO DE COMPROMETIMENTO! - José Pellegrino


O mestrado maçônico, teoricamente, é o auge do simbolismo, mas será que todo aquele que atinge o grau de Mestre Maçom se encontra preparado para o importantíssimo papel que a maçonaria lhe reserva?

A palavra “mestre”, tão importante para nós, maçons, deriva do latim magister, que traduz como professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar.

Ser um verdadeiro Mestre Maçom é sonhar o sonho de cada Aprendiz, de cada Companheiro, e se tornar um exemplo vivo de dedicação, respeito, doação, ética, tolerância, humildade, paciência, justiça, amor ao próximo e dignidade.

O Mestre Maçom deve seguir quase de forma imperceptível, transmitindo aos Aprendizes e Companheiros não apenas a sua sabedoria e os seus conhecimentos teóricos, mas também um pouco de sua fé e muito do seu amor por nossa Sublime Instituição.

Dentro das nossas lojas, identificamos diversos tipos de mestres: há os que falam bastante e de forma prolixa, mas ninguém os ouve; muitos fazem longos e inflamados discursos, esbanjam verborragia, mas suas falas são vazias, raramente os sentimos em nosso amago; Outros, de maneira ríspida, nos golpeiam com suas línguas ferinas, porém não geram cicatrizes.

Os mestres desse tipo consideram-se os donos da verdade, únicos conhecedores dos nossos “segredos” e da nossa ritualística, mas por outro lado disputam os primeiros lugares no ranking da animosidade.

O papel de um Mestre é tão importante que a sua postura pode tanto estimular quanto desestimular o nosso obreiro. 

O Mestre Maçom mais esclarecido, estudioso e comprometido, auxiliará Aprendizes e Companheiros a superar suas limitações, conduzindo-os de forma equilibrada para angariarem forças e triunfarem sobre as dificuldades que certamente surgirão.

A diferença entre o Mestre preparado e um mestre comum é, em todos os aspectos, incalculável.  

Ressalve-se que ainda há em nosso meio aquele que permanecerá na instituição anos e anos, muitas vezes até a sua morte física, todavia sem compreender a dimensão dela.

Isto não é um privilégio da Maçonaria, existe em todos os ambientes e em todas as sociedades organizadas.

Em nossa Ordem, costumo denomina-los de maçons festivos ou maçom protocolar.

Frequentam nossas lojas, mas no fundo não sabem por que o fazem.

Muitas vezes, através de manobras politicas, estimulados pela vaidade, alcançam o Veneralato, conduzindo sua loja rapidamente ao caos.

O progresso dos neófitos será proporcional aos ensinamentos e orientações recebidas dos mais experientes.

Muito pior do que não aprender é aprender de forma errada.

Quando o neófito assimila uma postura errada, continuará propagando erros e equívocos no decorrer de toda sua jornada maçônica.

Como cobrar de um Aprendiz ou Companheiro para que ele se conserve em sua coluna, com o devido respeito, disciplina e ordem, quando observa mestres mais antigos sentarem-se ou comportam-se de forma descuidada?

Balandrau com colarinho aberto, pernas cruzadas ou distendidas lateralmente, entre outras negligencias de posturas.

O que será que passa pela cabeça de um Aprendiz ou Companheiro quando observam um Mestre cochilando, bocejando ou espreguiçando- se no Oriente?

Que interpretações terão nossos neófitos, ao verem seus mestres Instalados, conversando, e às vezes até rindo, consultando as mensagens do seu celular, totalmente alheios á ritualística e ao cerimonial em si?

Somente com um solido programa de aperfeiçoamento litúrgico, nossas lojas se distanciarão daquela Maçonaria protocolar, viciosa e inútil.

É fundamental caminhar na direção de uma ordem mais coerente, efetiva e espiritualizada.

O neófito será sempre o reflexo das atitudes de seus mestres e aqui é imperativo que se entenda por Mestre, não os mais sábios e experientes, mas os Mestres verdadeiramente dedicados e comprometidos com a nossa Instituição.

O Mestre Maçom cheio de conceitos equivocados, de hábitos, de pontos de vista dogmáticos, estará distante de captar o sentido real da Maçonaria, que se expressa justamente através da simplicidade e da humildade do verdadeiro e sincero maçom, através do exemplo dos bons e dos dedicados mestres é que a Maçonaria caminha e evolui.

Tudo na Ordem ocorre em razão da caminhada correta dos verdadeiros Metres Maçons.

O neófito pode encontrar e trazer valores com ele, mediante os quais e a cada dia, ele chegará mais próximo da perfeição, ninguém desenvolverá valores os quais não possua dentro de si.

Felizmente, para nós e para a Maçonaria, existem aqueles mestres que nos marcam profundamente com a sua sabedoria e com suas significativas atitudes. 

Na presença de tais irmãos, nós sentimos mais alegres, há uma leveza e uma aura de felicidade no ar.

São esses mestres que nos transmitem a segurança e a tranquilidade para seguirmos em frente, sem eles não haveria a Maçonaria.