fevereiro 04, 2024

Cabalá Notarikon - O Caminho da Felicidade

ALÉM DA MATÉRIA - Roberto Ribeiro Reis


Despido de minha matéria,

Flutuo, em viagem séria,

Rumo à espiritual instância;

Procuro novos ares,

Irmãos ou familiares,

Que me tirem da ganância.


Não sei se vivo ou morto,

Um decaído anjo torto,

Sem brilho ou rutilância;

Tamanha falta de esmero, 

Põe-me logo em desespero, 

Sou temor e extrema ânsia.


Procuro algo agradável, 

Ante o estado deplorável

Que me invade, com relutância;

Assusto-me com o que vejo

Estou em hostil lugarejo,

E o meu “eu” em litigância.


Quero algo que me conforte,

Que me traga outra sorte

E me mude a circunstância;

Eis que um ser venerável,

Aproxima-se, agradável,

Convidando-me à observância:


"-Não se assuste, ó meu irmão,

É ilusória a escuridão

E toda esta implicância;

Pra se valorizar o amor, 

É mister sentir a dor, 

E praticar a tolerância".


Senti meu peito aliviado,

Um ser sem fé, alienado,

De espiritual mendicância;

A par de todo esse engano, 

Vi que meu eu profano

Padece de ignorância.


Já sem sofrer com o medonho,

Pude acordar de um sonho

Que me remeteu à reflexão;

Percebi que continuo na luta,

Esse ser de alma bem bruta,

Carente de brilho e lapidação.



NÃO SE PERDE - Adilson Zotovici


Falemos com sinceridade

Sobretudo a conjunção porém

Contudo, com honestidade,

Sobre situação ou alguém


Creio mesmo iniquidade

A tudo e a todos dizer amém

Em nome de fraternidade

Apoiar só porque lhe convém


Tolerância e equidade

Mas da insensatez não refém

Igualmente a quem se abstém


Não penar por perda em verdade

De quem apartado se mantém

_Não se perde o que não se tem_ !


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fevereiro 03, 2024

EDUCAÇÃO e MAÇONARIA - Visão, Estímulo, Pertencimento - Newton Agrella



    Como é desestimulante pensar no futuro deste país quando os mais recentes dados coletados e divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que segundo o Censo 2022,  o Brasil contava com 579,8 mil estabelecimentos religiosos, enquanto havia 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde. 

    Apenas os Estados de São Paulo, Piauí e os três Estados do Sul são as únicas unidades da federação, cuja soma entre estabelecimentos de ensino e de saúde supera a de religiosos. 

    Esse levantamento é uma prova inequívoca de que historicamente, entra governo, sai governo e inobstante seu viés político, a Educação continua sendo um mero instrumento de discursos vazios, cujo investimento continua sendo algo solenemente relegado a segundo plano.

    Fica a pergunta que não quer calar:

    Como uma nação pode aspirar a melhoria de vida de seu povo se demagogicamente seus políticos estão mais preocupados em oferecer "conforto espiritual" e isenção de impostos a estabelecimentos religiosos ao invés de oferecer eficientes e profícuos instrumentos de ensino e dispositivos  tecnológicos às gerações de jovens desde o ensino elementar ?

    Nessa mesma esteira de pensamento, como é possível esperar o desenvolvimento da capacidade crítica, argumentativa e interpretativa do estudante brasileiro se as ferramentas de ensino são tão rudimentares e os processos pedagógicos ainda se arrastam lentamente como se ainda vivêssemos nos primórdios do século passado ?

    Não vale contar as parcas ilhas de ensino mais avançado localizadas em poucos pontos do país.  

    O Brasil não se resume a três ou quatro Estados mais desenvolvidos.

    Esse hiato cultural que inibe a própria desenvoltura intelectual da grande maioria de seu povo, impacta diretamente na performance inclusive de instituições voltadas para o desenvolvimento e potencialidades humanas como por exemplo a Maçonaria.

    É nítido perceber que o saudável hábito da leitura constitui-se numa das atividades menos incentivadas no Brasil.

    Em face disso e como resultado dessa política avessa à Educação é que hoje nos deparamos com um contingente cada vez maior de Maçons que pouco lêem e que por conseguinte, mal conseguem elaborar juízos de valor sobre temas de conteúdo histórico, social, antropológico e principalmente filosófico de maneira que possam traze-los para um consistente forum de debates.

    Como consequência disso, a grande maioria das Lojas espalhadas pelo país, acabam recaindo na superficialidade, dando corpo a discussões ocas de conteúdo e destituídas de qualquer caráter verdadeiramente dialético na busca pelo aprimoramento do maçom e na missão que se espera dele em prol da sociedade.

    A permanente preocupação com o crescente êxodo de Maçons das Lojas e claro, a baixa frequência às sessões, grosso modo deve-se antes de tudo, à própria maneira como são iniciados na Ordem.

   O raquítico processo de Sindicância abdica de passar uma ideia mais consistente do que significa a Maçonaria.

    É e deveria ser função do Venerável Mestre instruir aos Irmãos sindicantes o "modus operandi" e o maior rigor durante as entrevistas aos candidatos.

    Aliás, como proposta especulativa seria sempre interessante, além das triviais e protocolares perguntas: O que você espera da Maçonaria? ou Porque você quer ingressar na Maçonaria ?"

     Se perguntasse ao Candidato: O que você pode oferecer à Maçonaria ?"

   Afinal de contas, se o candidato demonstra algum interesse em ingressar na Ordem ele deve ter algum motivo !

    Fato é, que o que se espera é uma relação de comprometimento e interação do Maçom com a Ordem.

    Essa interação e o interesse contínuo pelo estudo, sempre incentivados pelos Veneráveis Mestres, é o que acabam gerando o tão decantado e relevante sentimento de "Pertencimento" , que se traduz como a real percepção de alguém fazer parte de uma comunidade, de um grupo, e ao mesmo tempo sentir-se verdadeiramente integrado.

    Não há como erigir um templo começando pela sua cobertura, sem que sua base esteja solidamente sedimentada.


IRMÃOS BRIGAM? - Charles Boller


Sinopse: Ensaio sobre o 'amor ação' que existe entre os maçons. Contenda no plano das ideias. 

Existe uma sociedade onde as pessoas se tratam por irmãos. 

É uma sociedade onde existe o irmão que raramente aparece, um age mais outro menos, existe o tímido, o retraído, o mais adiantado, o noviço cheio de sonhos, o comumente exaltado e o de ânimo calmo qual ovelha no pasto.

Mas todos são irmãos e se amam em ação; com vontade, sabedoria e inteligência. 

Significa que, por se autodenominarem irmãos e se amarem profundamente, eles nunca brigam? 

É claro que não! 

Estes irmãos debatem sim! 

Porque não? 

Podem disputar, afinal são seres humanos inteligentes, livres e de bons costumes. 

É regra irmãos se desentenderem no plano das ideias! 

A querela, quando motivada para o bem, para estabelecer limites e promover progresso é atitude positiva - mesmo que os meios não sejam lá satisfatórios, os irmãos que assim agem estão lutando para que prevaleça o bem comum. 

Ação assim é sinônimo de amor; de amor fraterno. 

O mesmo amor que grandes iniciados intuíram como a única solução de todos os problemas da humanidade. 

E toda ação assim dirigida resulta em mudanças com objetivo e não simplesmente mudar pela mudança.

O "amor ação" não é o "amor sentimento" com que aquele é normalmente confundido. 

É o amor alicerçado na vontade. 

Quando alguém está cheio de intenção, mas não faz o propósito ser acompanhado de ação, obtém resultado nulo. 

De outra forma, quando este soma intenção e ação, o resultado é aflorar sua vontade. 

E vontade é sinônimo de amor porque resulta em ação, o "amor ação". 

E assim, vontade é força. 

E onde existe ação entre seres humanos, encontram-se disputas. 

É por isto que irmãos brigam, mas só o fazem por amor e não por vaidade. 

Daí a necessidade de equilibrar a vontade com sabedoria e inteligência. 

Um não existe sem os outros dois. 

O destempero entre irmãos aflora sempre? 

Não! 

Os irmãos convivem em ambiente com limites claros e definidos, numa sociedade caracterizada por padrões preestabelecidos e onde todos são responsáveis.

Na maioria das vezes eles elogiam e apóiam, haja vista o elogio ser uma necessidade essencial nos relacionamentos saudáveis. 

Irmãos desenvolvem a humildade, que é outra expressão do amor, pois significa que são autênticos, sem arrogância, pretensão ou orgulho. 

Em seu progresso pessoal desenvolvem autocontrole; sustentam as escolhas que fazem; dão atenção aos seus irmãos; apreciam e incentivam os outros irmãos; são honestos, forçam evitar o engano; visam satisfazer as necessidades dos outros, não fazem necessariamente o que o outro deseja; seria escravidão, mas o que o outro irmão precisa, o que é convertido em liderança. 

Existe ocasião em que o irmão põem de lado sua própria vontade e necessidade apenas para defender um bem maior para seus irmãos; e acima de tudo, o irmão perdoa. 

Se houver dano prefere recolher-se, isolar-se por uns tempos, nunca fechando questão a ponto de nunca mais oportunizar reconciliação. 

...*"Mesmo prejudicado, o irmão desiste do ressentimento"*... 

Tudo isto o tempo, o treinamento constante, a convivência frequente desenvolvem nestes que são verdadeiros irmãos. 

Explicar isto em palavras é difícil, senão impossível, daí a necessidade da convivência frequente e rotineira. 

No passado alguém disse que o Grande Arquiteto do Universo só está onde as pessoas se tratam como irmãos e se amam uns aos outros. 

Hoje os verdadeiros irmãos que praticam o "amor ação" tudo fazem para que a divindade em cada um esteja presente de fato em todos os momentos de suas vidas. 

Assim são os irmãos maçons que honram seus juramentos:

LIBERDADE - IGUALDADE - FRATERNIDADE

Bom dia meus CONCILIADORES Irmãos. 


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O QUE VALE SER LEMBRADO - Newton Agrella


Como é gratificante ser lembrado !

Notadamente quando isso ocorre pelo lado positivo da vida.

Ter a percepção de que você tem um significado especial na vida de outra pessoa, mesmo que você não a conheça pessoalmente, sugere esta nítida sensação.

Esse traço de identificação ganhou ainda mais consistência quando os canais virtuais de comunicação, tornaram-se uma realidade no dia a dia.

Particularmente no que diz respeito aos maçons, os contatos acabaram de algum modo, contribuindo para alastrar e até sedimentar o sentimento de fraternidade de forma mais expressiva,

sobretudo quando ocorrem sintonias naturais entre os mesmos, fruto da maneira de pensar, de se expressar, de expor ideias, de argumentar e contra-argumentar sobre infindáveis temas.

E mais que tudo isso, sobre respeitar com serenidade e bom senso as diferenças naturais que são ingredientes da nossa própria existência e tornam este nosso "exercício de passagem", um desafio cada vez maior para que possamos aprimorar nosso nível de consciência.

É por estas poucas e por tantas outras razões que ser lembrado é sempre uma espécie de recompensa e de reconhecimento do que cada um de nós representa para o outro.

Na carona do desejo de um trivial "bom dia" vai uma bagagem, muitas vezes despercebida, de valores da alma, que por vezes nem nos damos conta.

Coisas como uma tênue palavra de incentivo, uma  expressão de apoio, um gesto de carinho ou até mesmo uma menção de paz e tolerância que podem calar fundo as necessidades de cada um.

Ser lembrado é isto. 

É perceber que não estamos sozinhos e que não importa como nem onde, há sempre uma energia que nos vincula, nos traz abrigo e revela-nos que somos uma partícula de uma imensa engrenagem   que nos oferece a oportunidade de agirmos como verdadeiros construtores sociais.

Ser lembrado não é apenas a transcrição de uma crônica ou uma chamada telefônica. 

Trata-se de uma atitude espontânea, que flui lá de dentro de nós, um lugar relativamente recôndito e que muitas vezes deixamos de visitar.

Ao maçom é sempre interessante fazer um breve "tour" a um lugar só seu em que encontra a placa:

V.'.I.'.T.'.R.'.I.' O.'.L:

"Visita Interiorem Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem" 

(Visita o Centro da Terra, Retificando-te, que encontrarás a Pedra Oculta/ Filosofal). 

Ou seja, ampliando o campo semântico traduz-se:

"Visita o Teu Interior. Purificando-te, que Encontrarás o Teu Eu Oculto, ou, "a essência da Tua alma humana"."



fevereiro 02, 2024

POR QUE AS PESSOAS ENTRAM E PERMANECEM MEMBROS? - Ari Paes


As pessoas transformam-se em maçons por uma infinidade de razões, algumas como o resultado da tradição da família, outras por convite de um amigo e outras por uma curiosidade em saber o que é maçonaria. 

Há Aqueles que se transformam membros ativos e que crescem na maçonaria, principalmente porque a apreciam. 

Apreciam os desafios que a maçonaria os oferece. 

Há, entretanto, mais do que apenas a apreciação... 

A participação na apresentação dramática de lições morais e no funcionamento de uma loja fornece ao membro uma oportunidade original de aprender mais sobre si mesmo e incentiva-o a viver de tal maneira que estará sempre em busca de se transformar em um homem melhor, não melhor do que alguma outra pessoa, mas, melhor do que ele mesmo seria e consequentemente um membro exemplar da sociedade. 

A cada maçom é necessário aprender e mostrar a humildade com a iniciação. 

Então, pela progressão com uma série dos graus ganha a introspecção em conceitos morais e filosóficos cada vez mais complexos, e aceita uma variedade de desafios e das responsabilidades que são estimuladas e recompensadas. 

O trabalho em loja e a sequência dos eventos cerimoniais, são seguidos geralmente por busca da oferta dos membros pelo desenvolvimento do caráter e pela apreciação de experiências sociais compartilhadas. 





fevereiro 01, 2024

SOMOS O QUE ATRAÍMOS - Francisco Candido Xavier


Somos o que atraímos. Você nasceu no lar que precisava nascer, vestiu o corpo físico que merecia, mora onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com o teu adiantamento.

Você possui os recursos financeiros coerentes com tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Seu ambiente de trabalho é o que você elegeu espontaneamente para a sua realização. Teus parentes e amigos são as almas que você mesmo atraiu, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.

Você escolhe, recolhe, elege, atrai, busca, expulsa, modifica tudo aquilo que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitudes. São as fontes de atração e repulsão na jornada da tua vivência. Não reclame, nem se faça de vítima, não julgue ou condene. Antes de tudo, analise e observa. A mudança está em tuas mãos. Reprograma tua meta, busca o bem e você viverá melhor. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.



ALEGORIA - Newton Agrella


Na Maçonaria é recorrente o uso de Alegorias como uma representação ou forma de expressão.

Há contudo que se fazer uma clara distinção entre Alegorias e Símbolos.  

As  Alegorias são os véus que ocultam o verdadeiro sentido das coisas.

E os Símbolos são sinais que procuram transmitir ideias.

 Neste sentido, Alegoria será exatamente como definida no dicionário Aurélio: 

"...Ficção que representa uma coisa para dar ideia de outra... "

Convém destacar que a  palavra alegoria advém do grego : *allos*, "outro", e *agoreuein*, "falar em público" . 

Trata-se na verdade de uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos além do literal. 

Diz-se B para significar A. 

Uma Alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com frequência, encontra-se na pintura, escultura ou em outras formas da arte ou de linguagem.

Do ponto de vista filosófico trata-se de  uma figura de linguagem  caracterizada como sendo um conjunto simbólico criado para transmitir um segundo sentido além do sentido literal das palavras.

Entra-se assim no campo da linguagem simbólica, conotativa, figurativa. 

Eis aí o que sugere e identifica o Simbolismo Maçônico.

Cabe registrar que dentre os gêneros de expressão na Lenda  a aplicação da Alegoria torna-se mais patente, uma vez que acompanhada de uma moral que expressa claramente a relação entre o sentido literal (função denotativa) e figurado (função conotativa).  

Sem entrar no mérito dos Graus mais avançados, pode-se afirmar que  na Maçonaria veremos que a  Lenda do 3o.Grau   está repleta de Alegorias com relação ao Tempo, à História, ao Ambiente de Trabalho dos Construtores, aos Sentidos e às Sensações Humanas .  

Além da Ética,  da Moral, e dos elementos  Metafísicos da Alma Humana.

É interessante lembrar que a Alegoria permite transmitir  conhecimentos através de raciocínios por analogia.  

Ao desbastar a pedra bruta vamos incorporando esse processo como uma forma de evolução e aprimoramento de nosso nível de consciência.

O painel alegórico da Loja do 1º grau  contempla  muito mais do que um conjunto literal, figurado e oculto de símbolos, mas pretende sim, expressar nesse conjunto simbólico, o caminho, as ações e os instrumentos necessários ao aperfeiçoamento moral das nossas limitações e imperfeições.



VIVER E CONVIVER - Heitor Rodrigues Freire


 "Vivir todos viven, pero la cuestión és convivir". - Dorila Rodriguez de Freire

“O ser humano é complicado”, esta é uma frase que ouvimos frequentemente. Além de complicado é complexo.

Desde que o mundo é mundo, ele vive em conflito. Passaram-se milênios desde que o homem se pôs de pé e passou a olhar tudo e todos de forma arrogante. Essa arrogância, com o tempo, longe de ser combatida e eliminada, criou raízes profundas no ego e aí permanece “per omnia seculus seculorum”, e pelo jeito, apesar dos esforços de todos os líderes religiosos que por aqui passaram, ainda continua.

Por que o mundo está assim tão caótico? A meu ver, e pode ser uma visão simplista, mas que entendo consciente, é porque as pessoas não cumprem seus compromissos, suas palavras, vivem se iludindo e distraindo-se com coisas menores, mas que para elas representam algo sério; não realizam seus trabalhos com dedicação e perfeição, vivem se enganando e enganando os outros, cobrando comportamentos que não cumprem e exigindo que os outros cumpram. Não fazem o óbvio e vivem iludidos, buscando o extraordinário.  Também não basta fazer bem-feito, é preciso agir com ética e caráter. 

O caos decorre de um dado elementar: o fato de os cristãos não seguirem os ensinamentos de Cristo, os judeus não seguirem o exemplo de Moisés, os muçulmanos não seguirem os ensinamentos de Maomé, os budistas não seguirem os ensinamentos de Buda. Essas religiões constituem a quase totalidade de fiéis da Terra. 

Segundo o dicionário, viver é existir, ter vida, estar com vida, enquanto conviver é ter convivência, ter intimidade, viver com outrem. Portanto, a convivência é a ação ou o efeito de conviver; é familiaridade, uma reunião de pessoas que convivem em harmonia.

Não basta a ciência. É preciso consciência. 

É preciso percorrer a jornada, sabendo que haverá obstáculos e que, de vez em quando, você vai cair. O segredo é que, ao se deparar com o obstáculo, você terá alternativas para se desviar dele, e se vier a cair, terá motivação e força de vontade para se levantar, recomeçar e seguir em frente. 

É preciso saber também que seremos objeto de crítica e de censura de toda ordem. Algumas procedentes e até necessárias, e outras totalmente injustas e fruto do desconhecimento da essência de cada um.

Na teoria, conviver parece fácil; o difícil é na prática.  É aquela velha história: “na prática a teoria é outra”.

André Luiz, considerado pelo kardecismo um espírito esclarecido que zela pelo Brasil, nos proporciona um texto em que demonstra que tudo provém do amor e tudo se resume ao amor:

Vida – é o Amor existencial / Razão – é o Amor que pondera / Estudo – é o Amor que analisa / Ciência – é o Amor que investiga / Filosofia – é o Amor que pensa / Religião – é o Amor que busca Deus / Verdade – é o Amor que se eterniza / Ideal – é o Amor que se eleva / Fé – é o Amor que transcende / Esperança – é o Amor que sonha / Caridade – é o Amor que auxilia/...

E finaliza:

Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente / Tudo é Amor / Não deixes de amar nobremente / Respeita, no entanto, a pergunta que te faz, a cada instante, a Lei Divina: “COMO?”.

Essa é a questão: Como? Acredito que com atitudes conscientes.

Krishnamurti, filósofo e líder espiritual indiano, nos ensina em seu texto “A arte de morrer”:

“A arte de viver e a arte de morrer são um movimento único. Na união entre a vida e a morte não há começo nem fim, portanto, não há vestígio ou presença do tempo. Nessa união, vive-se constantemente com a morte e descobre-se o sentido da vida e da morte enquanto se vive. Se compreendermos esta unidade entre a vida e a morte, ambas podem coexistir.”

"Vivir todos viven, pero la cuestión és convivir". 

Essa frase eu ouvi muitas vezes da boca da minha mãe, Dorila, uma mulher que nasceu numa família rica que perdeu tudo, teve seis filhos, adotou mais um, vivia de bom humor e de bem com a vida, era adorada pelos netos, e sempre trazia muita luz por onde passasse. Na simplicidade da sua visão de mundo, resumiu numa frase essa lição que até hoje carrego comigo.

janeiro 31, 2024

A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO - Jerônimo Lucena



O nascimento, simbolizado pela Iniciação, é precedido pelas fases de aprendizado e companheirismo. 

O homem novo, advento da eclosão do óvulo iniciático no interior da terra (Câmara das Reflexões) passará pelo processo de aculturamento. 

Assim como as letras que foram símbolos criados para que pudéssemos transmitir os nossos pensamentos, o Aprendiz aprenderá o significado oculto dos símbolos somente acessível aos iniciados. Trata-se de uma nova linguagem. 

Ser iniciado é ser um serviçal do Amor Maior que governa a existência e que dá vida a todos. 

Iniciar-se é perder, perder a arrogância, as quimeras, a ganância, o preconceito, as magoas e o ódio. 

Em troca, ganha a oportunidade de ceder ao movimento do seu coração para render graças ao Gr.’. A.’. D.’. U.’.. 

Ao receber a "LUZ" o neófito não deve confundi-la com a luz material que lhe agride a retina e sim, a "LUZ" verdadeira que alumia a todos os homens que vem a este mundo. 

A LUZ magnânima que a tudo compreende e preenche com infinita sabedoria.

O iniciado não é mais a mesma pessoa. 

Morreu o profano, sequioso do poder e cego pelas trevas e em seu lugar surge um novo ser dourado que alegra-se ao participar de alguma atividade altruística. 

O amor aplicado, o equilíbrio, a retidão, a disciplina e a inspiração profunda faz com que o verdadeiro iniciado na Arte Real se transforme em construtor de Templos, verdadeiros e inigualáveis pedreiros do universo. 

Uma criança em tenra idade começa a aprender a falar quando começa a distinguir os sons. 

Inicialmente os sons simbolizados pelas vogais, diz-se então que a criança está a "soletrar". 

A combinação das letras resulta em outros sons de natureza mais complexa, para tanto, surgem as consoantes que dão origem às silabas, passará então a criança a "silabar". 

Para o conhecimento da palavra, necessário se faz conhecer a letra e posteriormente a sílaba. 

Somente assim a palavra poderá ser utilizada de forma a se tornar compreensível e útil.

Mesmo no mundo profano os neófitos, em qualquer ramo da atividade humana, mais tem a ouvir e aprender do que falar. 

Calar para ouvir, ouvir para aprender, aprender para ensinar. 

O Falar não é reconhecidamente primordial em uma sessão maçônica. 

A interação entre os indivíduos se dá em uma dimensão além dos sentidos, não alcançada pela audição, olfato, tato, visão e locução.

A palavra é instrumento de transmissão, de convencimento daquilo que pensamos. 

O Trabalho maçônico é reconhecidamente hermético refletindo-se diretamente em sua liturgia.

Aqueles que desconhecem a profundidade do sentido oculto da Lei Iniciática do Silêncio argumentam que o silêncio dos aprendizes e companheiros se confronta com o principio maçônico da igualdade. 

Entretanto, há de se considerar que o principio da igualdade não é ferido quando a eles é proibido o conhecimento dos sinais, toques e palavras dos demais graus. 

"Há um tempo para cada coisa". 

Por fim, não deveis acreditar em tudo que vedes, nem mesmo nas coisas que eu te digo, se és um místico de qualquer escola ou ordem, mas desejas conhecer a tua religião ou a maçonaria, estuda-a e procuras por ti mesmo, a tua religiosidade intima e una, independente do que te ensinaram e te disseram, e sejas tu mesmo o que escolhes o caminho, a tua verdade absoluta alicerçada pelas três colunas simbólicas: "Sabedoria, Força e a Beleza".


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QUIPROQUÓS - Roberto Ribeiro Reis



Causa-nos espécie o quão a 𝙞𝙜𝙣𝙤𝙧𝙖̂𝙣𝙘𝙞𝙖 ainda faz morada no coração dos incautos, e também daquelas pessoas cujo conhecimento deveria ser utilizado para trazer luz ao mundo. 

Com efeito, a humanidade tem padecido pelas 𝙨𝙤𝙢𝙗𝙧𝙖𝙨 𝙙𝙤𝙨 𝙚𝙣𝙜𝙖𝙣𝙤𝙨, das perversidades gratuitas, da reverberação infrene das inverdades, de sorte que já não se fazem mais filtros severos, ou já não se buscam as fontes verdadeiras da informação.

A Maçonaria, a despeito da infeliz pecha com a qual foi presenteada pelo mundo profano, tem se mantido 𝙨𝙤𝙗𝙧𝙖𝙣𝙘𝙚𝙞𝙧𝙖, 𝙞𝙢𝙥𝙖́𝙫𝙞𝙙𝙖, e imune às maledicências que lhe são alvejadas.

Enquanto os beócios do mundo vulgar tentam descredibiliza-la, ela age com a sabedoria e o 𝙩𝙞𝙧𝙤𝙘𝙞́𝙣𝙞𝙤 de uma 𝙞𝙣𝙨𝙩𝙞𝙩𝙪𝙞𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙙𝙚 𝙥𝙧𝙞𝙢𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙡𝙞𝙣𝙝𝙖.

Essa beligerância gratuita e calcada (quiçá) na 𝙘𝙤𝙗𝙞𝙘̧𝙖 𝙝𝙪𝙢𝙖𝙣𝙖 pelos seus princípios e por seu patrimônio intelectual e filosófico não tem conseguido arrefecer o ânimo e o ideário da Augusta Ordem, que tem trabalhado, como nunca, na consecução precípua de seus sublimes objetivos.

São nos momentos caóticos, feitos os que estamos vivendo, é que a 𝙊𝙧𝙙𝙚𝙢 𝙨𝙚 𝙛𝙖𝙯 𝙧𝙚𝙨𝙩𝙖𝙗𝙚𝙡𝙚𝙘𝙚𝙧; nesse diapasão, a Maçonaria tem se preocupado em 𝙧𝙚𝙚𝙧𝙜𝙪𝙚𝙧 𝙤𝙨 𝙝𝙤𝙢𝙚𝙣𝙨 𝙘𝙖𝙞́𝙙𝙤𝙨, em educar aos ignóbeis, em amparar àqueles que buscam uma sociedade mais justa e igualitária.

Enquanto os cegos de espírito tentam macular a honradez de nossa Excelsa Instituição, promovendo uma artilharia pesada, do mais baixo padrão vibratório, a Maçonaria tem desdenhado a postura dos ignorantes, e seguido sua Marcha Real, com a 𝙨𝙚𝙧𝙚𝙣𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 e o 𝙚𝙦𝙪𝙞𝙡𝙞́𝙗𝙧𝙞𝙤 que a distinguem mundo afora.

Não devemos perder nosso sagrado tempo com o 𝙦𝙪𝙞𝙥𝙧𝙤𝙦𝙪𝙤́ fomentado pelos seres abjetos, vis, e cuja torpeza tem promovido sua própria ruína moral, sua decadência intelectual e, principalmente, seu 𝙥𝙚𝙧𝙚𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤 𝙚𝙨𝙥𝙞𝙧𝙞𝙩𝙪𝙖𝙡.

Maçonaria é 𝙛𝙤𝙣𝙩𝙚 𝙞𝙣𝙚𝙨𝙜𝙤𝙩𝙖́𝙫𝙚𝙡 𝙙𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙝𝙚𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤, sabedoria e vida. Uma vida cheia de intensas vibrações, permeada pelo sutil toque da 𝙇𝙪𝙯 𝙄𝙣𝙛𝙞𝙣𝙞𝙩𝙖, com cuja centelha divina tem contribuído para nosso fortalecimento, e tem nos amparado para vencermos os desafios e agruras do quotidiano.

O Maçom deve fazer 𝙤𝙪𝙫𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙢𝙤𝙪𝙘𝙤𝙨 aos julgamentos profanos, os quais são desprovidos de ciência, e consubstanciados em premente estado de ignorância. Devemos nos ater aos ensinamentos do 𝙈𝙖𝙞𝙤𝙧 𝙃𝙤𝙢𝙚𝙢 de que a humanidade tem conhecimento.

Ele não caminhava somente com os sábios e mansos de coração, mas tinha uma 𝙞𝙣𝙙𝙪𝙡𝙜𝙚̂𝙣𝙘𝙞𝙖 𝙞𝙣𝙚𝙭𝙖𝙪𝙧𝙞́𝙫𝙚𝙡 com os ignorantes, com os transviados, com os errantes, tendo para com eles 𝙞𝙣𝙚𝙭𝙘𝙚𝙙𝙞́𝙫𝙚𝙡 𝙥𝙖𝙘𝙞𝙚̂𝙣𝙘𝙞𝙖, 𝙘𝙖𝙡𝙢𝙖 e 𝙗𝙖𝙨𝙩𝙖𝙣𝙩𝙚 𝙘𝙖𝙧𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚. 

Seu Magistério foi à base da Lei de Amor e de Misericórdia. Que nEle nos espelhemos, buscando disseminar as 𝙇𝙪𝙯𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝘾𝙤𝙣𝙝𝙚𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤 e da 𝙑𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚, corolário lógico de quem caminha rumo à 𝙋𝙚𝙧𝙛𝙚𝙞𝙘̧𝙖̃𝙤.




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janeiro 30, 2024

VENERANÇA / VENERALATO - Aldo Gutemberg


Em intenso período de Posses de Veneráveis é comum ouvirmos em Loja: “Que o eleito seja feliz em sua Venerança” ou “Que seu Veneralato seja próspero”. Você certamente já ouviu. 

Notadamente os que chegam à Ordem, vão ouvindo os veteranos e seguem repetindo. E na verdade raros são os que poderiam explicar o uso deste ou daquele termo. 

Lidar com nossa Língua é algo desafiador mesmo para os que são profissionais da área. 

Visitamos Lojas com frequência e pudemos notar que pessoas das mais diversas graduações e das três Potências Regulares, mesmo membros da alta administração, usam costumeiramente ambos e sem muita suspeita de que um deles pode não estar sendo corretamente empregado. 

Na internet, em rápida pesquisa por blogs e sites de estudiosos e até nas páginas oficiais vamos também nos deparar com tais palavras, o que confirma a grande confusão que ainda reina em nosso meio.

Fiquei curioso... Seriam palavras sinônimas? Já que eu mesmo só fui conhecê-las depois de iniciado e ao participar da primeira Sessão de Posse; utilizava sem preocupação uma e outra. Certa vez escrevi singelo texto, sendo alertado por sábio Irmão, que me perguntou: “Venerança?” Sem muito me detalhar, já tinha feito o brilhante papel do instrutor – aguçar minha a vontade de pesquisar. E foi o que eu, grato, fui fazer.

Em nossa Língua temos como referência o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa; não se trata de um dicionário, mas sim um catálogo oficial composto de um pouco mais de 380.000 palavras que são utilizadas na nossa língua. Nesta fonte, por incrível que pareça, não encontramos a palavra “Venerança”. Já a palavra “Veneralato”, sim, é encontrada. Este seguro referencial já poderia encerrar a celeuma.

Mas, vamos um pouco mais além:

A palavra Venerança seria composta de seu radical “Vener” + a vogal temática “a” e o sufixo nominal “nça”; este sufixo serve para indicar estado, ação ou qualidade. Portanto o significado da palavra seria ato ou qualidade de venerar. Notamos que não é bem o que pretendemos indicar ao usá-la em nosso meio.

Já na palavra Veneralato, seguindo o mesmo raciocínio acima, temos o sufixo “ato” significando posse ou grau relacionado a dignidades.

Embora a raiz etimológica seja a mesma, serão os sufixos que denotarão os diferentes significados.

A pessoa do Venerável é, de fato, digna de ser venerada, pois foi escolhido, eleito e será a grande Coluna de sua Loja. Pensando dessa forma, é evidente que a ação de venerá-lo poderia dar lugar ao neologismo “Venerança”; entretanto o ato de venerar, ou seja, a venerança seria nosso em relação ao Venerável e não dele próprio, como costumamos utilizar.

Concluímos, dessa forma, que Venerança é um termo inapropriado, que inclusive não existe no VOLP e nos principais dicionários que consultamos, embora tenha caído no gosto popular dentro da Ordem Maçônica. O termo correto, embora pouquíssimo utilizado é, portanto, Veneralato.

Nossos sistemas e ritos são repletos de “usos e costumes”. Esta breve, despretensiosa e singela pesquisa busca apenas trazer luz a este tema, ainda que saibamos, só o tempo depurará seu bom emprego em nossa língua.