fevereiro 08, 2024

A VIRTUDE COMO IDEAL - Ademir Candido da Silva



O caráter progressista de nossa Sublime Instituição nos impulsiona para a construção de uma sociedade mais justa e fraternal.

Admitimos que, além de direitos, temos também deveres - e não somente para com nossos Irmãos, com nossos familiares e a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, trabalhando nosso Templo interior.

Na sua essência, a Maçonaria tem como lema erigir templos à virtude e cavar masmorras ao vício - uma das mais nobres atividades pregadas por todos os grandes condutores da humanidade.

Ao estimular a virtude, é preciso, ao mesmo tempo, combater o seu inimigo, o vício, que está sempre tentando o homem e o desviando da estrada correta.

Desde os tempos antigos, a virtude era tida como uma disposição adquirida de fazer o bem. Para os pensadores latinos e gregos, a virtude era um ponto sediado de maneira equidistante dos vícios, como expressa o provérbio latino “in medio stat virtus”.

Em “Ética a Nicômano”, Aristóteles afirma que tanto na Moral, no comportamento e na virtude, há uma mediação entre vícios de sentidos opostos.

Horácio, em um dos versos de suas “Epistolas”, diz que a virtude é o ponto médio entre dois defeitos equidistantes um do outro. Lê-se também nas “Metamorfoses de Ovídio”, quando o sol adverte Faetonte para que dirija seu carro de maneira equidistante da terra e do céu, para não se submeter aos perigos; conselhos este não seguidos, que obrigou Zeus a fulminá-lo: “medio tulissimus íbis” (pelo meio irás com segurança), representando o conselho não seguido.

Roberto Lyra, professor da UnB, era totalmente contra o meio termo como conduta certa e ao tratar do comportamento humano, investiu ferozmente contra tal ideia. Segundo ele, o meio era uma linha que passava do nariz às partes pudentas, portanto, detestável, contaminando, pois ele defendia o marxismo, que era radical nas suas ações.

Para o Apóstolo Paulo, a excelência da virtude é a caridade, como podemos ler na Primeira – Epistola aos Coríntios, versículo 13: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

Ao tratarmos da virtude pelo político, temos a citação de versos de Petrarca em “O Príncipe” de Maquiavel, onde o termo significa: “O valor tomará armas contra o furor; que a luta se espraie bem depressa! Pois a coragem antiga não morreu no coração dos Italianos”. Para Maquiavel, virtude é a capacidade do príncipe de manter e firmar seu domínio, usando das artes da raposa e do leão.

O vocábulo “virtude” vem do latim “vir” (viri) que significa homem (como homem ou com as qualidades de homem) em oposição à feminina. Daí (VIRTUS – UTIS), varonil, coragem, vigor valor e virtude. Era qualidade física do homem, dos animais ou das coisas.

Há inúmeras virtudes, mas devemos ter em mente que a primeira das virtudes é reprimir a língua, como se pode ler na “Quinta Nemea” de Pindro ou nos “Disticha Catonis”: “virtutem primam esse puta compescere linguam”. Também dentro de nossa Instituição, o silêncio vale ouro e é sempre solicitado do verdadeiro Maçom.

As virtudes adquiridas (ou naturais) são os hábitos que se criam através do processo de socialização, seja na família, na escola ou nas demais instituições das quais fazemos parte desde que nascemos.

Assim, as virtudes humanas não são inatas, mas sim elementos que se constroem e complementam a personalidade das pessoas ao longo da vida.

Para Confúcio, a personalidade moral do homem tinha quatro pontos de crescimento, cujo cultivo produzia as Quatro virtudes: o humanitarismo, a observação dos ritos, a diligência e a sabedoria.

Na Igreja temos as virtudes Teologais: a fé, a esperança e a caridade, em contraposição aos vícios chamados capitais: soberba, avareza, luxuria, ira, gula, inveja e preguiça.

Para os franceses, a preguiça é a mãe de todos os vícios. Existe um sem-número de virtudes: prudência, temperança, coragem, fidelidade, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, simplicidade, tolerância, pureza, doçura, boa-fé, humor, o amor, que resume quase tudo, e tantas outras.

Todas as virtudes são aceitas e bem recebidas na Maçonaria; vamos levantar Templos à virtude, em especial os sentimentos de fraternidade, que geram a igualdade e a liberdade.

A Maçonaria não tem a capacidade de produzir homem virtuoso, o que acontece com qualquer tipo de instituição, mas o esforço que emprega para divulgar as virtudes, tem criado inúmeros homens de boa conduta, capazes de trazer à sociedade um trabalho profícuo de criar um mundo melhor.

Cito nosso Irmão João Ricardo Ribas Junior da A.R.L.S. Leon Denis, 17, do oriente do RJ, representa a cidade como vereador, tem proeminência na saúde pública e atuação humanitária em nível mundial, assim como participou da Conferência Mundial do clima em Dubai em dezembro/2023. O convite teve motivação pela sua participação efetiva salvando vidas, através de cirurgias complexas, quando da grande explosão no Líbano. Exerce também abnegada atuação nos Médicos Sem Fronteiras, que leva cuidados de saúde a pessoas extremamente necessitadas.

Assim como o Irmão João Ricardo, temos inúmeros outros Irmãos Maçons que são altruístas e que se doam para o próximo, sem esperar nada em troca.

Antonio Moraes Silva, no seu celebre dicionário da Língua Portuguesa, edição de 1831, define humildade como: “virtude, que consiste no conhecimento do nada que somos, e na prática conforme a esse conhecimento, refreando o entendimento, e o amor-próprio, onde a Religião, e a razão ditam: sujeitando-nos, e obedecendo aos superiores; não tratando com soberba aos próximos”.

A humildade é uma virtude cristã, que nos inspira o profundo sentimento de nossa fraqueza, fragilidade, miséria e o sincero reconhecimento de que nada bom é propriamente nosso, mas sim, um Dom de Deus, feito da sua liberalidade e misericórdia.

Nada melhor que começarmos praticando a simplicidade, a fim de que se adquira a humildade, que é virtude silenciosa, não sendo notada, se é real, nem pelas outras pessoas.

O humilde desconhece sua virtude, pois no dia que propagá-la deixa de ter o dom. Humilde é aquele que faz força para que o bem-estar atinja a humanidade, sem que seu nome seja citado.

O humilde emprega o tempo em silêncio para pensar as feridas do próximo, sem visar recompensas. Faz com a mão direita, de modo que a mão esquerda não saiba, o bem, desinteressadamente.

Aplaude anonimamente o êxito dos outros, tem o valor moral de ser isento, de não ser apaixonado, considerar a relatividade de tudo o que nos cerca, sabendo que tudo muda num piscar de olhos, pois na luta pela vida não há vencidos nem vencedores, apenas competidores, que são parte da transformação contínua que opera em toda parte.

Por isso, na prática do Amor, da Verdade e da Justiça, jamais deve o verdadeiro esoterista aguardar reciprocidade ou recompensa pelos seus atos elevados. Deve lembrar-se de que é um simples instrumento do G.A.D.U., agindo neste plano em benefício do próximo; não deve esquecer que veio a este mundo para servir e sacrificar-se pela evolução geral, e viver feliz.

Analisando este estudo, chega-se à conclusão de que, no âmbito maçônico, não há espaço para disputa de cargos ou política. A verdadeira Maçonaria é aquela que na qual vivenciamos o Amor, a Fraternidade, a Verdade, o Dever e o Direito, nos proporcionado o prazer indescritível de abraçar um Irmão; é aquela que faz com que a convivência fraternal seja um prazer e não uma obrigação semanal.

Platão, no século V a.C, já mostrava a virtude como esforço de purificação das paixões. Dizia que o compromisso de um homem virtuoso está vinculado à razão que determina o exercício prático, o domínio do corpo.

Esses valores e virtudes, indispensáveis em todos os seres humanos, são conquistados através da vontade, imbuída de razão. Se temos direitos, temos também deveres, e não somente para com nossos Irmãos, para com nossos familiares, para com a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, para com nosso trabalho interior, para o desbaste de nossa Pedra Bruta.

Muitas vezes esquecemos de olhar para nós mesmos, em se tratando de mudanças e transformações. Exigimos que os outros mudem, sem, no entanto, fazer nada para sair de onde estamos. Em nosso meio, não deve haver lugar para hipocrisia e muito menos para vaidade.

Neste ano que se inicia (2024), procuremos sempre transpor os caminhos por onde transitam as verdades vestidas de consolo, orientação e otimismo.

Sem dúvida são alguns materiais que o G.A.D.U. selecionou, para compor o refúgio e suavizar a nossa jornada dos desatinados viajadores do seu Reino.

Assim, com prudência, justiça, fortaleza e temperança, vamos percorrer esses caminhos plenamente conscientes do poder construtivo dos nossos pensamentos, que nos tornarão, indubitavelmente, canais livres, desimpedidos, por onde as bençãos de Deus fluirão inexoravelmente, embalando nossos sonhos ao encontro de si mesmo.


CURANDEIRISMO E EXORCISMO - Almit Sant’Anna Cruz


À luz das modernas descobertas sobre a relação existente entre a mente e o corpo, nos casos de doença, as atividades dos curandeiros parecem de uma surpreendente atualidade. Nos seus primeiros contatos com sociedades tribais, os homens brancos ficavam intrigados diante dos curandeiros, bizarramente pintados e paramentados. Sem compreender seus rituais, mas percebendo que visavam frequentemente curar os enfermos, os brancos consideravam mera feitiçaria aquelas práticas primitivas. Muitos dos rituais coloridos – com suas máscaras e roupagens – têm uma finalidade, isto é, são complementos visuais do tratamento psiquiátrico que o curandeiro, ao seu modo, realiza. 

Psiquiatras africanos passaram a utilizar diversas técnicas nativas e perceberam que podiam empregar curandeiros para trabalharem lado a lado com psiquiatras, sem qualquer desarmonia. Os complementos visuais, encantamentos simbólicos e frases persuasivas podem significar uma suave sugestão hipnótica. Se o curandeiro diz, enquanto banha o paciente: “seu mal está indo embora, como esta água escorre para o chão”, a metáfora ajuda a imprimir na mente do enfermo a noção de partida. Em certas regiões da África, os curandeiros empregam hipnose profunda, provocando o transe em pacientes isolados ou em grupos. Diz-se que o curandeiro indiano trata a mordida de cobra com métodos semelhantes. Embora muitas cobras não sejam venenosas, o choque da mordida pode matar uma pessoa sugestionável. Ninguém sabe se o curandeiro cura o estado de choque, ou se o seu poder de persuasão ajuda a resistência do organismo realmente envenenado. 

O conhecimento farmacêutico dos curandeiros tem precedido o da medicina civilizada. Boa parte dos medicamentos atualmente em uso, já eram empregados pelos curandeiros, com os quais a ciência obteve o conhecimento de suas propriedades medicinais. A malária era tratada com sucesso pelos índios peruanos a partir de infusões da casca de Chichona bem antes que os europeus a colocassem sob controle, através de observações das práticas indígenas pelos jesuítas em 1638. Os curandeiros brâmanes do sudoeste asiático já utilizavam, por milhares de anos, a raiz da Rauwolfia serpentina como substância medicinal, até que, em 1887, dois holandeses descobrissem seu uso e agora, a reserpina, substância extraída dessa raiz, é de emprego comum no combate à hipertensão e como tranquilizante. Desde o século XVII os curandeiros usavam a casca de Salix (salgueiro) para tratar reumatismos. Uma vez purificada, a solução deu origem ao ácido acetilsalicílico, fundamento dos comprimidos de aspirina usados hoje em dia. No Brasil, de longa data, utilizam-se certas plantas e ervas para o tratamento de algumas moléstias e a própria ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, recentemente autorizou a industrialização e a comercialização de fórmulas farmacêuticas que empregam tais plantas e ervas. Em algumas partes da África, certos remédios secretos são tão respeitados, que mesmo os médicos africanos formados na Europa preferem enviar seus filhos ao curandeiro. 

O curandeiro das cidades não é necessariamente um charlatão. Conquanto imprimam folhetos mentirosos, declarando que podem curar qualquer doença conhecida, na verdade fazem com que os pacientes tenham fé em sua medicina. Embora não pintem o rosto nem usem máscaras, eles dependem tanto da aparência como seus predecessores. E sua reputação depende dos pacientes que eles recuperam. Não obstante os poderes invocados pelos curandeiros sejam imaginários, na medida em que um grupo acredita em tais poderes, ele pode adquirir uma eficácia, mesmo que limitada, mas muito real. Além disso, o sucesso dos curandeiros, em alguns casos, está ligado a doenças que, depois de atingirem o auge de desenvolvimento, regridem e desaparecem naturalmente, qualquer que seja o tratamento recebido. O principal elemento com que conta o curandeiro é a fé dos pacientes na cura das moléstias que os aflige e a ação do curandeiro se concentra em sua capacidade de convencimento do valor de seus métodos de cura.

Estudando as práticas do vudu, no Haiti, pesquisadores americanos concluíram que certos mecanismos psicofisiológicos podem conduzir à morte por enfeitiçamento. Numa sociedade em que a crença nos poderes do feiticeiro está enraizada na tradição, um indivíduo raramente põe em dúvida o fato de que esteja condenado. As pessoas que o cercam, por sua vez, participam dessa certeza e afastam-se da vítima como se ela fosse portadora de uma doença contagiosa. Dominado pelo pânico e marginalizado pelo grupo social, o enfeitiçado tem grandes possibilidades de adoecer realmente, confirmando, assim, o poder do feiticeiro. E como se desencadeiam as alterações fisiológicas que tornam o feitiço real? Podemos supor que o medo intenso venha a provocar uma atividade particularmente intensa do sistema nervoso simpático, ocorrendo então uma queda da pressão sanguínea, bem como uma significativa redução de todo o sistema de defesa e imunidade, resultando em desgastes irreparáveis do aparelho respiratório e em todo o sistema orgânico do indivíduo. Além disso, dominada pela tensão, a vítima recusa-se a comer e beber e, a desidratação, contribui para diminuir ainda mais o volume de sangue em circulação. Este quadro já foi observado nos campos de batalha, em indivíduos traumatizados por bombardeios ou por episódios trágicos que presenciaram. 

Para a maioria dos ocidentais modernos, todas essas práticas de curandeirismo parecem bizarras e desprovidas de fundamento real. Nossa tendência natural e imediata é atribuí-las à ignorância de populações ingênuas, negando a eficácia dessas práticas. Contudo, não se deve olvidar que, para aqueles que acreditam em sua eficiência, o poder do curandeiro pode ser bastante efetivo, como o são, em pessoas com certos distúrbios psiquiátricos, a prática do exorcismo dos padres católicos, com os paramentos, palavras e símbolos cristãos que utilizam nas sessões. As igrejas Neopentecostais, ressalvados os casos de fraude, que não são poucos, fazem uso frequente de exorcismos públicos, muitas vezes transmitidos pela televisão em tempo real, usando pessoas com evidentes distúrbios psiquiátricos e facilmente influenciáveis. Esses elementos exercem o mesmo efeito dos empregados pelos primitivos curandeiros, nas pessoas que se acham possuídas por “forças malignas”, como atestam respeitados psiquiatras.

Concluímos, portanto, que conquanto muitos curandeiros das cidades sejam charlatões, os curandeiros não são necessariamente charlatões,. Muitos de seus remédios vieram a ser empregados pela ciência no tratamento de diversas doenças e inúmeras práticas que adotam são utilizadas e explicadas cientificamente pela psiquiatria moderna.


ENTREGA DE KITS ESCOLARES HÁ OITO ANOS - Michael Winetzki


      Há oito anos.  Entrega do primeiro kit de material escolar para crianças carentes em uma classe de uma escola no Bairro estrela D'Alva 10 em Luziânia, GO, local pobre e violento, como as comunidades do RJ. 
    O kit contem caderno, lápis, lápis de cor, régua, tesoura, borracha, apontador, dicionário, copos descartáveis e mais algum material didático. Serão distribuídos pela Profa. Janaína Veras, que leciona naquela escola e é esposa do VM de minha Loja, Ir.  Claudio Hugo Conelheiro (ao meu lado esquerdo na foto). Irmão Carlos Lyrio, o primeiro a esquerda ao lado do irmão Cláudio Hugo, e o irmão Paulo Victor a direita. 
     A aquisição foi feita com doações obtidas das Lojas onde fiz palestras e é uma campanha que venho repetindo há anos, mas em função da crise este ano tem sido muito pouco produtivo. 
    O resultado foi de 800 kits há dois anos distribuídos no DF e em GO e de apenas 50 kits até agora. Mas a campanha ainda continua neste mês de fevereiro.

fevereiro 07, 2024

SEM SOFISMO, EQUÍVOCO OU RESERVA MENTAL - Sérgio Qurino




Como bom mineiro, perguntaria: “Uai?! Há como prometer algo sem agir conforme prescrito no título?”.

A sutileza maçônica não está no PROMETER, mas no CUMPRIR.

PROMESSAS SÃO ATOS. COMPROMISSOS SÃO AÇÕES.

Todavia, atos e ações não são o mesmo? Não do ponto de vista maçônico! Atos são momentos, ações são intemporais.

A fim de facilitar o entendimento, pensemos nos juramentos. Em determinado minuto de uma hora, compreendida entre o meio-dia e a meia-noite de um dia memorável, juramos nos conservar cidadãos honestos e dignos e amigos de nossas famílias, sermos sinceros e nunca atentarmos contra a honra de ninguém, sobretudo a de nossos Irmãos.

 Juramos seguir as leis e as decisões, aumentar e aperfeiçoar nossos conhecimentos, buscando sempre nos tornarmos um elemento de paz, concórdia e harmonia no seio da Maçonaria.

Esse ATO realizado em determinado momento e local foi feito por todos nós. Quantos de nós, porém, indiferentemente de quando e onde estivermos, por AÇÕES, cumprem o que prometeram?

Por isso, é preciso que compreendamos estes três inimigos da Moral e da Ética: o Sofismo, o Equívoco e a Reserva Mental. São comuns em nosso meio, e a eles devemos VIGILÂNCIA e PERSEVERANÇA.

Ao localizarmos esses Vícios nos Irmãos, ativemos a Vigilância em nossos Atos.

Ao percebermos desvios em nossa conduta, ativemos a Virtude da Perseverança em nossas Ações.

No entanto, o que são e por que devemos estar atentos ao Sofismo, ao Equívoco e à Reserva Mental?

 “Sofismo ou sofisma significa um pensamento ou retórica que procura induzir ao erro, apresentada com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios e com a intenção de enganar. Em um sentido popular, um sofisma pode ser interpretado como uma mentira ou um ato de má-fé.” Muito usado pelos que possuem boa oratória.

“Equívoco é uma falácia informal que consiste em usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto, ou seja, é a utilização da mesma palavra, mas com um sentido diferente.” Muito usado pelos que gostam de Fake News.

 “Reserva Mental é quando uma pessoa emite uma declaração negocial, não conforme a sua própria crença, com o propósito de enganar a outra parte. Por exemplo: A. declara a B. que lhe tem apreço e estima, quando na realidade não há qualquer verdade nas declarações para com B, apenas interesses de A.” Muito usado pelos bajuladores do poder.

É possível, portanto, que alguém tenha reconhecido tais traços em algum Irmão e tenha lamentado ou se entristecido. Não tenha tais pensamentos e sentimentos.

A MAÇONARIA É PERFEITA, OS MAÇONS NÃO!


... *E NUM PISCAR DE OLHOS, TUDO SE VAI*... - Sidnei Godinho



Meu pai costumava brincar com a gente com charadas que ele ouvia dos caminhoneiros no posto de gasolina onde trabalhava.

Uma vez ele perguntou qual era a coisa mais rápida no mundo.

Tinha meus 10 anos, mas, graças ao personagem "THE FLASH", já sabia que a LUZ era a resposta. 

*ERREI*.

Ele também disse que não era o pensamento, ainda que eu pouco entendesse como mensurar esta velocidade do cérebro.

E, como sempre, rindo bastante, respondeu que a coisa mais veloz do mundo é a "Dor de Barriga", porquê quando vem não dá tempo de pensar nem de acender a luz.

Bons tempos...

Como queria eu que a vida fosse assim tão simples e que a compreensão do tempo, ou da velocidade como se passa, pudesse ser aceita através da brincadeira de um pai com seus filhos.

Mas não é... 

Esta semana, a perda repentina de uma Amiga, aos 39 anos, Esposa e Mãe, mais uma vez trouxe à tona o velho questionamento sobre o enigma que é a vida e a velocidade como tudo acontece.

Aliado à tragédia, o diagnóstico do covid-19 (Di novu. 😡) me fez relembrar os idos de 2020-2021, as angustiantes 48 hrs de espera por uma vaga na UTI e a perda dos Amigos que não tiveram o mesmo destino.

Por algum momento, e cada um tem o seu, a depressão se instala, silenciosa na análise fria da existência, do que fiz de certo e principalmente do que não fiz. 

Fui sincero no Amor, ou foram só Paixões? 

Honrei Pai e Mãe ou fiquei só nas reclamações de como foram austeros comigo? 

Dediquei-me ao aprimoramento profissional ou fiquei apenas comparando como o outro tem mais "sorte" do que eu? 

Contribuí para o melhoramento da Empresa ou passei os anos parado olhando a concorrente crescer? 

Perdoei as falhas nas relações ou me isolei na prepotência da certeza da verdade? 

Onde errei??? 

Ainda dá tempo para consertar? 

Enfim, a tristeza da perda de entes queridos e a consciência da fragilidade humana no enfrentamento de doenças que desafiam a razão, tanto físicas quanto psíquicas, nos dão conta de que não deveria ser martírio o ERRAR de vez em quando, o importante é o sempre APRENDER a ACERTAR. 

Não há como voltar e fazer diferente, mas ainda dá tempo de pedir perdão e ser feliz, pois:

... "E num simples "PISCAR DE OLHOS" toda uma existência se passa na sua frente e se esvai'...

Boas reflexões meus irmãos. 🙏 



fevereiro 06, 2024

A SALA DOS PASSOS PERDIDOS - Roberto Ribeiro Reis





Perdido é todo o passo

Que, alheio ao compasso,

À Sublime Lei não se submete;

O lugar afável do encontro,

Antes de se encontrar pronto

Ao trabalho que nos compete.


O ambiente do bom abraço,

Ajeitar a gravata, fazer o laço,

De em dia colocar a conversa;

A sala de muita fala é intensa,

Onde se registra toda presença,

De quando em vez se tergiversa.


O ingresso ao Templo antecede,

E naquele cômodo não se mede

A ânsia dos trabalhos começarem;

Do Templo é a famosa antessala,

Ali quase ninguém se cala

Antes dos objetivos alcançarem.


É o começo da perda do cansaço,

Um descontraído e ideal espaço

Do melhor convívio já existente;

É a prévia do fraterno aquecimento

Para entrar na casa de conhecimento,

Onde a Luz recebe a nossa gente!






FAZENDO ACONTECER - Yehuda Berg

“Tentar” é uma palavra que nunca devemos dizer.

Algumas pessoas podem ter dificuldade em entender isso.
Para eles, a cabala pode parecer um caminho para tentar ser uma versão melhor de nós mesmos, tentar superar
nossa natureza egoísta ou tentar vencer nossos medos e limitações.

Mas a Cabala diz que existem dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que tentam e aquelas que realizam.
Muitos de nós tentamos superar comportamentos negativos ou vícios.

E se não conseguimos, a verdade nua e crua é que essa falha ocorre porque ficamos satisfeitos em apenas tentar.
Nossos motivos para tentar geralmente são egoístas.
Tentamos porque não queremos nos sentir culpados ou porque queremos o reconhecimento do outro.

Tentar é um tipo de consciência, e geralmente aqueles que tentam não obtêm sucesso.

Mas existe outro tipo de consciência – a da convicção.
É quando tentar não é uma opção.

Superar desafios requer o compromisso de nunca desistir.
O sucesso resulta de enxergar o que queremos mudar ou alcançar, e decidir que, até cruzarmos a linha de chegada, não há volta.

Aqueles que simplesmente tentam, geralmente não querem fazer acontecer de verdade.
Eles só querem se sentir um pouco mais confortáveis.

Fazer acontecer significa transformar nossa consciência para realmente se importar com algo ou alguém além de nosso próprio conforto.

No fim das contas, não importa o desafio que enfrentamos, temos que escolher se somos um ser humano que tenta ou que faz acontecer.

Cabala não é tentar.
É saber que podemos, que vamos conseguir.

Enquanto estivermos neste mundo, qualquer coisa é possível e tudo pode ser mudado.
Se mantivermos o esforço e a perseverança, podemos superar tudo.

O que não podemos fazer jamais, em hipótese alguma, é desistir.

É assim que fazemos acontecer.


fevereiro 05, 2024

O HORROR DA SOLIDÃO E A TOTAL ESCURIDÃO. ANTECESSORAS DA LUZ - Aldo Vecchini



Para a introdução do que pretendemos analisar, e, simultaneamente, desatar as amarras que queiram se instalar, ressaltamos a importância de cada um de nós, como seres vivos, Iniciados e Aceitos; a necessidade da luz e/ou conhecimento; os momentos de penumbra e da eficaz meditação; e da publicação dos nossos trabalhos, imbuídos neles, os nossos sentimentos. 

Quem haveria esquecido da manifestação tão enfática e penetrante emitida pelo V.M. após aquela experiência no Trono, durante a cerimônia de Iniciação?

Frase enigmática e carregada de bons eflúvios. Parece anunciadora de que o melhor está por vir. Não carrega em si, nenhuma tristeza, apenas prepara o viajante para uma profunda reflexão e a percepção do novo e vivo que se apresenta. Convém manter acesa essa chama/memória. E também fazer da solidão um impulso/motivo até que seja decisiva/definitiva.

Um parêntese: esse agrupamento de letrinhas, formando palavras, períodos, ideias, tem o fito de desabafar? Também! Mas no mesmo bojo está a proposta para viver melhor, com comedimento, quebrando e assentando uma pedra por vez.

Viva a sabedoria possibilitada por Nossa Sublime Instituição. Pratique o que consta em nosso catecismo. Seja Mestre nos sonhos possíveis, nas exatas realizações e nos exemplos perenes!

E é justamente a filosofia e seus adeptos que abrirão os horizontes, ampliando-os, com seus pertinentes questionamentos que instigam a compreensão de quem somos, como devemos viver, quais elementos escolhidos fortalecerão o nosso ser, no percurso terrestre.

Em sua obra: Aprender a viver, editora Objetiva, Luc Ferry; nos ensina que: "toda a filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental de humanidade, como toda grande obra artística ou literária traduz os possíveis das atitudes humanas nas formas mais sensíveis. O respeito pelo outro não exclui a escolha pessoal. Ao contrário, a meu ver, ele é sua condição primeira".

Sem o respeito, o conhecimento, a resignação e o comedimento, a vida se esvai...

Mas aquele contexto favorecia e ativava as funções cerebrais, de modo que percebíamos mentalmente a importância do Mestre Condutor, que enxergava por nós. Porém a busca pelo pertencimento, a vontade de ser reconhecido e a necessidade de vencer os desafios, tudo isso, habitava e alimentava a nossa alma.

Recortando do Livro dos Mortos do Antigo Egito, tradução comentada Dr. Ramses Seleem, editora Madras, o trecho que suscita: "O livro é composto de textos para serem lidos pelos vivos a fim de ajudar os vivos e os mortos em suas jornadas pelos mundos inferiores. Destinam-se a assegurar que poderiam encontrar o caminho para os reinos espirituais e ainda atingir o Jardim dos Juncos, onde a verdadeira paz envolve a alma!"

            Pois bem! Tanto a analogia feita quanto o apoio das obras supracitadas, servem para substanciar nosso enredo, uma sublime inspiração com o propósito de ajustarmos o traçado na prancheta dos Mestres, dos planos bi e tridimensionais, de modo a garantir a qualidade de vida dos Maçons, que poderão no canteiro de obras e nos quatro pontos cardeais, materializar o que os ensaístas prepararam, anteriormente.

Lembremos constantemente do poder que a luz detém. Recordemos, atentamente, o conforto que ela proporciona. Mas a percepção ocular, naquele momento, consistiu em preparar o espírito para a modificação que o conhecimento provocaria no iniciado, inteiramente!

Já não poderá haver crepúsculo mental após a incidência da luz e o despertar para consciência maçônica. Apagão geral, só com o ocaso terrestre. O MAÇOM é luz no mundo. Tal como o cristão é o sal na terra, segundo a Bíblia, e por analogia.  

E fiel aos seus compromissos, dedicado à eterna construção, leal no aperfeiçoamento dos costumes, faz da recomendação anunciada no Banquete Ritualístico: um desfrutar com todo o comedimento. Tanto das alegrias e adversidades, quanto nas incertezas e dificuldades. Afinal a arte de viver passa, indubitavelmente, pela arte de morrer.

Vivamos sabedores de que um dia, morreremos. É excessivo viver como seres imortais. Maçonicamente, isso é uma aberração. A mesma que os maus Companheiros fizeram, apressadamente. Subtraíram a vida do Mestre Construtor para semear o sofrimento e a dor da perda. Consternação total! Restou o sepultamento e a tentativa de ocultação do horroroso crime.

Mas debaixo da luz da inteligência nada ficará desconhecido. As buscas continuarão até resolver o enigma. E nova ordem dará sequência ao fluxo laboral que implicará na percepção de nova senha para a continuidade dos trabalhos dos reconhecidos e aceitos.

A vida segue. E a morte não é um fim. Apenas outra etapa para os que acreditam nisso. Os maçons anunciam o Oriente Eterno. Um não-lugar referencial para os que desencarnaram e desabitaram o lugar dos vivos. Passaram por aqui. Já não estão entre nós.

Com nossos familiares, admitamos, também é assim. Deixam de estar conosco passando a habitar nossas memórias - saudades dos meus pais -. Carregamos não só os seus genes, mas muito do que transmitiram, pelo exemplo.

Voltemos nossas atenções para a estrutura dos nossos Rituais. Todo o contexto, já o compreendemos, foi elaborado com profunda sabedoria e sensibilidade, parecendo facilitar aos obreiros os ajustes nas suas escolhas e atitudes.

E para ilustrar, segue aquilo que já é cediço: "Cuide de seus pensamentos; eles apontarão as suas escolhas. Cuide de bem conhecer as suas escolhas; elas definirão as suas ações. Cuide de controlar as suas ações; elas tornar-se-ão seu destino"...

E o destino dos maçons, salvo melhor juízo, é fazer progressos. É construir e restaurar o edifício de modo a facilitar a perpetuação da Ordem, que é disseminada nos Templos e precisa ser praticada em sua plenitude. Dentro e fora deles.

Enquanto for aprendendo o obreiro vai esculpindo a si mesmo, quiçá retirando o excesso de escórias que esconde a PIETÁ individual, revelando sua beleza e formosura, ou seja, o seu interior espelhado no exterior.

Permitamos que aquela luz ofertada, após o obscurantismo dos olhos, seja a mesma que dissipamos a partir do que fizemos de nós mesmos. Assim, sejamos potencialmente, iluminados e iluminadores.

Saibamos cooperar com todos e receber/agradecer a mesma cooperação. Sejamos de fato e de direito, construtores sociais, servindo-nos sempre das melhores ferramentas de edificação: Amor, Sabedoria, Inteligência e (boa) Vontade.

Para quando abrir-se a vaga no Oriente Eterno, perpetuarmos as marcas de Iniciados, polidos e esquadrejados, nas obras que deixaremos e nas decisões que tomamos. Que Salomão seja a nossa melhor inspiração!

Senão, de que valeria os anos unidos e reunidos, estudando e marchando, desbastando e aferindo a precisão do corte, sem perder o veio e danificar toda a escultura ou o bloco de pedra a nós confiado para o trabalho terrestre?

Sejamos antigos no projeto de edificação, para sermos eternos e aceitos pelas cinzeladas aprendidas e no polimento que conquistamos para, na derradeira bateria incessante, silenciar o tempo dos trabalhos e descansarmos, definitivamente. É possível!!!

HIRAM E SEUS IRMÃOS, UMA LENDA FUNDADORA - fonte: Leonardo Redaelli


Se escolhermos, como fizemos na concepção desta conferência, entrar na terra das lendas maçónicas, explorar uma terra povoada por seres singulares, com aventuras inusitadas, e ir à descoberta de lugares todos mais surpreendentes e mais secretos que os outros, então , para toda honra, Hiram, sem dúvida, será nosso primeiro encontro.

Primeira lenda, de fato, no sentido cronológico do termo, mas sem dúvida também lenda fundadora. Antes e depois, a alvenaria especulativa já não é a mesma. A própria expressão da alvenaria especulativa, cuja ambiguidade nunca será suficientemente sublinhada, lembra-nos precisamente que um dos muitos problemas, se não for completamente resolvido, pelo menos um pouco esclarecido, diz respeito à própria antiguidade desta lenda. e as relações que poderia ter tido com um fundo tradicional lendário, o que se chama folclore desde finais do século XIX, específico das comunidades de construtores desde a Idade Média.

No contexto desta apresentação, não se trata obviamente de esgotar um tema tão vasto, cujos contornos são aliás difíceis de definir. Permitir-me-ia recordar que, há quase dez anos, dediquei-lhe um longo período de investigação na revista Renaissance Traditionnelle, que sem dúvida continuará continuamente, e que, para alguns pontos essenciais deste debate, referirei para isso novamente hoje.

Gostaria de abordar a questão das possíveis fontes desta lenda e propor algumas hipóteses prováveis ​​quanto às circunstâncias da sua criação. Gostaria também de examinar em segundo lugar como a introdução desta lenda, nos primeiros anos do século XVIII, tem, de certa forma, esta é em todo o caso a tese que tentarei delinear diante de vós, modificado profundamente o próprio natureza da jovem instituição maçónica pré-especulativa ou, melhor dizendo, proto-especulativa.

Os antecedentes do nome do Arquiteto nos Antigos Deveres

O primeiro problema é o do próprio nome Hiram designando o arquiteto cujo drama nos é revelado na famosa divulgação de Samuel Prichard, Masonry Dissected, publicada em Londres em 1730. A importância da divulgação de Prichard não é apenas reveladora para o pela primeira vez um sistema de três graus, culminando com a nota de Mestre – A Parte do Mestrado. A sua profunda originalidade reside em oferecer a primeira versão conhecida e coerente da lenda que doravante constituiria o coração deste grau.

A primeira fonte de onde recorrer é a dos Anciens Devoirs. Na primeira geração destes textos, aquela que contém o Regius (c. 1390) e o Cooke (c. 1420), existe de facto uma história tradicional da Arte que, particularmente no segundo destes manuscritos, contém numerosos dados bíblicos. ou patrística. Em nenhum lugar, porém, é mencionado um arquiteto do Templo de Salomão, e muito menos seu nome. A Sra. Cooke contém apenas esta indicação: “E durante a construção do Templo no tempo de Salomão, é dito na Bíblia, no terceiro livro de Reis, capítulo cinco, que Salomão tinha oitenta mil pedreiros trabalhando. E o filho do rei de Tiro era o mestre pedreiro .”

A menção precisa do nome deste artista só aparece na segunda geração dos Anciens Devoirs, aquela que abre com a Sra. Grande Loja n° 1, datada de 1583. No relato histórico que aí aparece, encontramos de facto a seguinte passagem: “ E após a morte do Rei Davi, Salomão, que era filho do Rei Davi, completou o Templo que seu pai havia começado. E ele procurou maçons de vários países, e os reuniu, de modo que ele tinha oitenta mil trabalhadores, que trabalhavam em pedra e eram chamados de maçons, e ele escolheu três mil deles que foram nomeados para serem os mestres e governadores de suas obras. . Além disso, havia um rei de outro reino chamado Iram, que amava muito o rei Salomão e lhe enviava madeira para suas obras. E ele teve um filho chamado Anyone [alguém] que era Mestre em Geometria, chefe de todos os seus Maçons, e Mestre de gravuras e esculturas e todos os outros processos de Maçonaria usados ​​para o Templo. E isso está registrado na Bíblia, no terceiro capítulo do quarto Livro dos Reis.2 .”

Desde o início, o aparecimento daquele que é chamado de “ chefe dos maçons ” – ou “ Mestre em Geometria ” – do Templo coloca um problema quanto à sua identidade. A palavra Qualquer um, que significa simplesmente alguém, pouco nos diz. Devemos naturalmente nos perguntar sobre esse nome, para dizer o mínimo, enigmático. Sabendo que a Sra. Grande Loja nº 1 é provavelmente uma cópia de um texto mais antigo, pode ser simplesmente que o termo Qualquer um se deva ao fato de o escritor não ter sido capaz de ler corretamente o nome que aparecia no manuscrito original.

Aliás, a partir deste período, encontramos o nome do arquitecto em diversas versões dos Anciens Devoirs. As variantes observadas são bastante numerosas:

em três textos, de 1600, 1670, 1700, encontramos o termo Amon;

– numa série de seis textos, de 1670, 1680, 1693, 1700, 1702 e 1750, esta personagem chama-se Aynon;

– três versões, de 1670, 1680, 1690, dão Aymon;

– ainda podemos comparar o texto de 1600 que traz Um Homem;

– é preciso apontar também casos extremamente divergentes, como o texto de 1677 com Apleo, de 1701 com Ajuon, ou mesmo o de 1714 com Benaim. Para explicar a origem e o provável significado destes termos, duas hipóteses principais foram levantadas.

A primeira, a mais natural, sugere ver nestes diferentes termos uma série de sucessivas corrupções do nome Hiram. Poderíamos assim sugerir a seguinte cadeia: Hiram – Iram – Yram – Yrane – Ynane – Ynone – Aynone – Qualquer um. Segundo esta tese, o Mestre dos Maçons dos Antigos Deveres sempre teria sido chamado de Hiram, conforme indicado na Bíblia a que estes textos se referem explicitamente, mas seu nome em nenhum momento teria sido escrito corretamente de aproximadamente 1583 a 1675. .

Na verdade, é a partir desta última data que certos manuscritos dão ao personagem o nome que ele leva na Bíblia. Esta menção só está presente em dezoito versões posteriores a 1675, e muitas das quais posteriores a 1723, quando, como veremos novamente, aparece o nome Hiram Abif.

A hipótese de um Hiram primitivo – e naturalmente esperado – então corrompido e encontrado apenas no final do século XVII é filologicamente engenhosa, mas pouco convincente, é preciso admitir. No entanto, não pode ser completamente descartado.

A segunda hipótese é que estes diferentes nomes são, na verdade, apenas corrupções de um nome que não é Hiram, mas que, no entanto, se refere a um personagem importante na Profissão. Por outras palavras, teríamos de admitir que, embora o nome do homem enviado por Hiram de Tiro seja de facto Hiram na Bíblia, os Antigos Deveres teriam, pelo menos desde finais do século XVI, dado-lhe outro nome. porém também ligado à tradição da Profissão.

Em particular, mantivemos, como possível forma inicial, o nome Amon, considerando que as formas Aynon, Aymon, poderiam assim ser explicadas muito facilmente por um erro ortográfico mínimo da letra M. Mas porquê este nome?

Amom realmente aparece na Bíblia (Provérbios, 8, 30). E em hebraico Amon (aleph, mem, vav, substantivo) significa trabalhador, artesão ou artista, mas também arquiteto, ou mesmo tutor, dono do projeto. No texto bíblico, a Sabedoria é apresentada da seguinte forma: “[...] quando Ele [o Senhor] traçou os fundamentos da terra, eu era um mestre construtor ao seu lado ” (versão TOB).

O sentido do artesão, colaborador na obra, parece ser o mais classicamente retido, nomeadamente na Vulgata, reflectindo as concepções mais antigas nesta área, e de onde provêm todas as citações bíblicas medievais, onde diz São Jerónimo: “Quando apendabat fundamenta terrae, Cum e o eram, cuncta componens ”. O que pode ser traduzido por: “ Enquanto ele estabelecia os fundamentos da terra, eu estava com ele, reunindo todas as coisas ”.

Se esta hipótese relativa a Amon é atraente, ela esbarra, no entanto, em algumas objeções: em primeiro lugar, é a forma menos frequentemente atestada nas numerosas versões dos Antigos Deveres e, acima de tudo, nunca foi conhecida como tal nas Bíblias ocidentais. , já que amon é um substantivo comum, portanto sempre traduzido (artesão, arquiteto, etc.). Desta análise emerge, portanto, que a hipótese de Amon é acima de tudo um exercício de erudição hebraica que não leva em conta as condições em que os textos dos Antigos

Deveres foram escritos e transmitidos.

Aymon, foneticamente idêntico em inglês a Amon, pode, portanto, ser proposto como forma inicial do nome do arquiteto. Aymon pode, por sua vez, por um erro idêntico ao que acabamos de mencionar, explicar a forma Aynon, e muito facilmente também as formas Amon, ou Anon. Podemos, portanto, sugerir, como primeira abordagem, que os Antigos Deveres testemunham que existia no Comércio uma tradição que conferia ao mestre construtor do Templo um nome que poderia ser Aymon.

As Constituições de 1723 e textos subsequentes (Família Spencer, 1725-1739)

É apenas na História da Profissão que aparece no Livro das Constituições de 1723 que aparece, pela primeira vez num documento maçónico, note-se, o nome de Hiram Abiff, dado ao construtor do Templo de Salomão, também descrito como “ Príncipe dos Arquitetos ”. É, portanto, somente após este texto de 1723 que o nome de Hiram Abiff – e não mais apenas Hiram – substitui o de Amon, ou Anon, ou Aymon, na maioria das versões subsequentes dos Anciens Devoirs: estes são, em particular, os textos do Família Spencer. São conhecidos seis textos, um dos quais inclusive gravado, publicados entre 1725 e 1726 para quatro deles, 1729 e 1739 para os dois posteriores.

Estas datas obviamente não são indiferentes, e podemos notar aqui que este período de 1725 a 1730 é também aquele em que parece agora estabelecer-se um terceiro grau baseado na personagem de Hiram, recém-promovido, no que diz respeito aos textos dos menos , para um papel que ele parecia nunca ter desempenhado antes. É bastante claro que a substituição do nome de Hiram Abiff pelo de Aymon – ou mesmo o de Hiram (simplesmente) presente em alguns textos posteriores a 1675 – está ligada ao aparecimento do terceiro grau “ hiramico ” de que nos fala Prichard entrega a primeira versão conhecida.

Sobre o formulário “ Hiram Abif 

Note-se desde já que a escolha do termo Hiram Abif (adotaremos esta grafia mais clássica) para designar, nos textos maçónicos, o arquiteto do Templo de Salomão, coloca por sua vez um problema. A expressão Hiram Abif é encontrada em apenas dois lugares da Bíblia:

– Crônicas, 2, 13, onde podemos ler: Huram Abi (aleph, beth, iod),

– e II Crônicas 4, 16, onde temos: Huram Abiv (aleph, beth, iod, vav).

A partir desses dados simples, surgem três problemas:

1. O que significam exatamente estes termos?

A raiz ab significa pai, e abi tem um determinante que significa meu pai; quanto a abiv, significa seu pai. Portanto, do ponto de vista puramente filológico, estes termos significam:

– Huram abi = Huram meu pai,

– Huram abiv = Huram seu pai.

Duas expressões, enfatizemos, bastante enigmáticas. Porém, devemos lembrar que um significado mais amplo de pai, em hebraico, pode indicar a noção de mestre, instrutor ou conselheiro. Voltaremos mais tarde às consequências da natureza bastante obscura destas duas expressões que apenas notamos aqui.

2. Em /Reis 5, que é o terceiro lugar bíblico onde falamos do nosso Hiram – o artesão, e não o Rei -, deve-se notar que:

– é de fato Hiram, e não Huram,

– que não é absolutamente Hiram-Abi, ou Hiram Abif, mas simplesmente Hiram, que vem de Tiro, o texto especificando que ele é filho de um tiro, e uma viúva do tribo de Naftali; aliás, neste livro é exclusivamente um bronzeador, que fundirá as colunas, o mar de bronze, mas de forma alguma um arquiteto nem um pedreiro.

As duas observações anteriores sugerem-nos que aparentemente estamos descrevendo dois personagens significativamente diferentes, especialmente porque as habilidades de Huram, em Crônicas, são muito mais extensas. Lemos de fato que ele era um homem dotado para todo tipo de trabalho, sabendo trabalhar “ ouro, prata, bronze, ferro, pedra, madeira, escarlate, púrpura, gravar qualquer coisa e inventar tudo  ”. Este Huram também é filho de um tirano e filha da tribo de Dan. Se Hiram, nos Livros dos Reis, era apenas um trabalhador de bronze, Huram Abi do Livro das Crônicas é muito mais eclético e possivelmente sabe trabalhar pedra. Porém, ele continua sendo um artesão, e não como indicado.

– e apenas eles – os Antigos Deveres, o Mestre Maçom do Templo… Podemos assim pensar que o Hiram Abif da tradição maçónica, que só aparece nos textos em 1723, é uma personagem composta, emprestando dois retratos bastante diferentes, e que não é encontrado como tal em nenhum texto bíblico.

3. Um terceiro problema, que se sobrepõe parcialmente ao primeiro, deve ainda ser mencionado. Trata-se da escolha, justamente, da expressão Hiram Abif para designar este herói singular e novo. Na verdade, vimos o significado bastante obscuro da expressão. Já na Vulgata São Jerônimo traduz: Hiram patrem meum e Hyram pater ejus. De quem pai, exatamente? Poderíamos perguntar... Na primeira Bíblia em inglês de Wyclif, em 1380, lemos o mesmo: Hyram, meu pai, e Hyram, o pai de Salomão.

A Bíblia conhecida como a Grande Bíblia, de 1539, propõe: meu pai Hyram e Hiram seu pai, tradução posteriormente retomada pela famosa Versão Autorizada do Rei Jaime, em 16?

A Bíblia do Bispo de 1572 e a Bíblia de Barker de 1580 também usam essas fórmulas. Este último, notável pelas suas glosas marginais, indica em particular que " seu pai " pode significar que Hyram é o pai do trabalho que se realiza no Templo... Desde esta data, até hoje, todas as Bíblias inglesas trazem: Hiram meu pai e Hiram seu pai, e isso sempre sem dar nenhuma explicação. É provavelmente esta ausência de qualquer significado óbvio que levou alguns tradutores a pensar que Hiram Abi talvez fosse um nome próprio, que não exigia tradução. Foi Lutero quem primeiro pensou nisso. Na década de 1520, ao publicar sua tradução alemã, ele simplesmente traduziu a primeira: Huram Abi e Huram Abif.

Porém, em 1528, Coverdale, um dos líderes da Reforma na Inglaterra, foi para Hamburgo e juntou-se a William Tyndale, que empreendeu com ele a tradução do Pentateuco. Assim, em 1535, só Coverdale completou uma tradução essencialmente baseada na obra de Lutero. A Bíblia de Coverdale, em inglês, foi publicada três vezes, em 1535, 1536, 1537, e reeditada em 1551, e é esta que, pela primeira vez na Inglaterra, indica: Hiram Abi e Hiram Abif.

A Bíblia de Mateus, em 1537, utiliza esta tradução, mas, a partir de 1539, com a Grande Bíblia já mencionada, encontramos as traduções clássicas, e nunca mais a tradução de Hiram Abi ou Hiram Abif (exceto na reedição única de 1551).

Devemos, portanto, lembrar que as expressões Hiram Abi e Hiram Abif só aparecem em duas Bíblias publicadas entre 1535 e 1537 e que rapidamente caíram em desuso.

Surge então uma questão: se a escolha do termo Hiram Abif foi feita, é claramente sob a influência da Bíblia de Coverdale, mas por que razão, em 1723, teríamos sentido a necessidade de manter esta tradução atípica, retirada de uma Bíblia que está fora de uso há cerca de dois séculos? Anderson explica isto em parte, mas de forma muito pouco clara, numa nota de rodapé da sua História do Comércio.

Não poderíamos também sugerir que a expressão em questão já existia na tradição maçónica desde a segunda metade do século XVI? A probabilidade de uma mutação pré-especulativa na Inglaterra nesta mesma época foi algumas vezes destacada. Esta hipótese, porém, deve-se reconhecer, é bastante frágil. A ideia de um Hiram Abif criado recentemente do zero e com um novo nome parece, ao final deste exame, muito mais plausível.

Uma reação de hostilidade? O Documento Briscoe (1724)

Se o nome de Hiram Abif, para designar o "arquiteto" do Templo, atestado desde 1723, tivesse talvez sido introduzido muito antes na tradição da Profissão, permanece, no entanto, certo que a lenda da qual é desde o início o trágico herói dá a ele um novo status. Se o nome de Hiram talvez tenha certa antiguidade no Comércio, o personagem da lenda aparece, nesta década de 1720, como um recém-chegado.

É apropriado citar aqui um texto que poderia ser um testemunho indireto disso. Este texto apareceu em Londres em 1724 na forma de um pequeno folheto de 64 páginas, e teve outras duas edições no ano seguinte. Ele primeiro reproduz uma versão dos Antigos Deveres pertencente à segunda geração, e que pode ser ligada à Família Sloane. Este texto dá notavelmente Aynon como o nome do Mestre Maçom do Templo de Salomão. Seguem-se comentários bastante copiosos, intitulados “ Observações e Observações Críticas ”, em tom bastante crítico, visando corrigir os erros que, segundo o autor, o Pastor Anderson cometeu em grande número em sua História do Trabalho.

Quanto à passagem que se refere ao Templo de Salomão, o autor direciona a polêmica em torno do personagem Hiram Abif. Ele está realmente surpreso por agora receber talentos tão diversos e que " nosso erudito Doutor em Direito [ou seja, Anderson] para destacar suas leituras extraordinárias, [se esforça] tanto para provar que este Hiram, o Fundador de Brass, um Tyriano, não era Hiram, rei de Tiro […] ”.

Mais ainda, ataca o “ muito engenhoso Doutor Désaguliers ” que, para justificar a variedade de dons reconhecidos em Hiram, refere-se a uma “ Carta de Recomendação que o Rei Hiram enviou a Salomão […] ”. O autor ressalta que nada disso aparece no Livro dos Reis e finge desconhecer que esses detalhes vêm de Crônicas.

Qualquer que seja a fraqueza do argumento, o interesse do documento reside simplesmente na denúncia aqui feita da natureza artificial do caráter de Hiram Abif. Naturalmente podemos nos perguntar sobre a personalidade exata de Samuel Briscoe, da qual nada sabemos. No entanto, ele sem dúvida parece ter conhecimento dos costumes e práticas maçônicas de sua época.

No entanto, sua hostilidade à introdução do personagem Hiram Abif não pode deixar de ser notada. Nenhuma alusão é feita, aliás, a qualquer grau do qual este personagem seria o herói, mas é claro, no entanto, que certas pessoas familiarizadas com a Maçonaria e seus textos fundadores consideraram, no início da década de 1720, que o personagem de ' Hiram Abif era um intruso, e que o papel que parecia ter sido feito para ele desempenhar foi sem dúvida usurpado, pelo menos até então desconhecido. Não poderíamos ver aí, mas é obviamente apenas uma simples hipótese, o traço da primeira turbulência causada pela introdução de um novo grau de Mestre centrado em torno de uma lenda que apresenta um Hiram de quem vimos bem, como o próprio Briscoe, que ele representa, em relação ao personagem bíblico, uma figura composta que bem poderia ser devida, de fato, à imaginação dos “ doutos doutores ” estigmatizados por Briscoe…

As fontes da lenda

Tentar encontrar as origens da lenda de Hiram é um exercício mais difícil do que parece, se quisermos permanecer rigorosos. Podemos naturalmente atribuir várias fontes mitológicas a esta lenda e encontrar, pesquisando um pouco na história dos povos antigos e das religiões antigas, egípcias, greco-romanas, até celtas, uma série de histórias e mitos sagrados que poderiam constituir outros tantos modelos. Os autores que abordaram esta questão não deixaram de fazê-lo. De nossa parte, não voltaremos a esses antecedentes distantes, que no máximo só podem ser evocados como outros tantos arquétipos, figuras universais, do herói ou do “ deus que morre ” (Frazer). Estas referências podem de facto parecer atraentes, mas certamente não são relevantes.

O erro que geralmente cometem aqueles que apresentam estas supostas fontes, por diversas razões, é acreditar, ou fingir acreditar, que esta lenda vem do fundo dos tempos, como herdeira natural dos mitos mais antigos, dos quais. ela seria uma das descendentes finais. Vimos, e ainda teremos a oportunidade de demonstrar ainda mais, que não é esse o caso. O carácter factício da lenda de Hiram, a sua criação moderna, provavelmente nos primeiros anos do século XVIII, já não pode deixar a menor dúvida.

O problema das suas origens é, portanto, colocado de uma forma muito diferente. Para resolvê-lo, devemos sobretudo não ignorar o clima intelectual e espiritual em que evoluíram aqueles que, naquela época, conseguiram forjar esta lenda, e as fontes históricas e tradicionais disponíveis. Ora, estes ambientes, mesmo que não sejam explicitamente conhecidos por nós, são, no entanto, claramente identificáveis. Em torno de Désaguliers e Anderson, é um mundo – novo para a profissão:

– estudiosos e “ doutores eruditos ”, mergulhados na Bíblia e nas humanidades clássicas, mas também interessados ​​em se conectar com as antigas tradições da Profissão. Não esqueçamos que Anderson não mede esforços para mostrar, contra todas as evidências, que a Grande Loja de 1717, uma criação profundamente original, sem qualquer precedente no país, foi apenas o “renascimento ” de uma Grande Loja mítica e ancestral que todos gostariam de acreditar

Os antecedentes imediatos da lenda: Sra. Graham (1726)

As várias hipóteses propostas, como vemos, na tentativa de encontrar as fontes da lenda de Hiram, na maioria das vezes encontram dificuldades consideráveis. Além de se inspirarem em temas míticos ou lendários, geralmente sem qualquer ligação real e óbvia com o Comércio, costumam conter apenas um dos elementos desta lenda, essencialmente, o assassinato do construtor. Poderíamos, além disso, examinando a história geral da Inglaterra desde o século XVII, encontrar outros assassinatos injustos, e vários autores não deixaram de construir as mais diversas, e muitas vezes as mais fantasiosas, teorias desta forma.

Um documento contrasta claramente, contudo, com todas estas fontes alegadas e aproximadas. Trata-se de um manuscrito datado de 24 de outubro de 1726, de Ms Graham, há muito desconhecido, e que foi apresentado e estudado pela primeira vez pelo famoso pesquisador inglês H. Poole, em 1937. A contribuição deste texto para a busca das fontes da lenda de Hiram parece crucial.

O documento apresenta-se antes de tudo como um catecismo, em muitos pontos comparável aos conhecidos para os anos 1724-1725. Algumas das perguntas e respostas que ali aparecem são de fato encontradas, quase literalmente, em alguns desses textos, notadamente em um manuscrito de 1724, The Whole Institution of Masonry, e em um documento impresso de 1725, The Whole Institutions of Free-Masons Opened. . É importante sublinhar estas semelhanças, porque estabelecem que a Sra. Graham não é de forma alguma um texto isolado e atípico, mas que faz incontestavelmente parte de uma corrente de instruções maçónicas reconhecidas e difundidas na Inglaterra daquela época. Finalmente, devemos notar particularmente o tom cristão fortemente afirmado das explicações simbólicas ali propostas.

No final do próprio catecismo, somos informados de que “por tradição e também por referência às Escrituras ”, “ Sem Cham e Japhet tiveram que ir ao túmulo de seu pai Noé para tentar descobrir ali algo seu tema que os guiasse”. em direção ao poderoso segredo mantido por este famoso pregador . Seguem-se então três histórias distintas, três lendas que devem ser examinadas detalhadamente.

Primeira legenda: “ Esses três homens já haviam concordado que, se não descobrissem o verdadeiro segredo, a primeira coisa que descobrissem serviria como segredo. Eles não duvidaram, mas acreditaram firmemente que Deus poderia e iria revelar a Sua vontade, pela graça da sua fé, da sua oração e da sua submissão; para que o que descobrissem lhes fosse tão útil como se tivessem recebido o segredo desde o início, do próprio Deus, na própria fonte. Eles chegaram ao túmulo e não encontraram nada, exceto o cadáver quase completamente corrompido. Eles agarraram um dedo que se soltou, e assim de junta em junta, até o pulso e o cotovelo. Então levantaram o corpo e o apoiaram, colocando-se com ele pé com pé, joelho com joelho, peito com peito, bochecha com bochecha e mão nas costas, e gritaram: “Ajuda-nos, ó Pai”. : “Ó Pai celestial, ajuda-nos agora, pois nosso pai terreno não pode .” Eles então colocaram o cadáver no chão, sem saber o que fazer com ele. Um deles então disse: “Medula neste osso”; a segunda diz: “Mas é um osso seco”; e o terceiro disse: “ele fede”. Eles então concordaram em dar a isso um nome que ainda hoje é conhecido pela Maçonaria .

Segunda lenda: (É apresentada sem qualquer ligação aparente com a anterior.) “Durante o reinado do rei Alboin Bezaléel nasceu, que foi assim chamado por Deus antes mesmo de ser concebido. E este santo sabia por inspiração que os títulos secretos e atributos essenciais de Deus eram protetores, e construiu confiando neles, para que nenhum espírito maligno e destrutivo ousasse tentar derrubar a obra de suas mãos. Também as suas obras tornaram-se tão famosas que os dois irmãos mais novos do rei Alboíno, já nomeados, quiseram ser por ele instruídos na sua nobre forma de construir. Ele concordou com a condição de que não revelassem sem que alguém estivesse com eles para compor uma voz tripla. Então eles prestaram juramento e ele lhes ensinou as partes teóricas e práticas da alvenaria; e eles trabalharam. […] Porém, Bezaléel, sentindo a morte chegando, desejou que fosse sepultado no vale de Josafá e que fosse gravado um epitáfio conforme seu mérito. Isto foi realizado por estes dois príncipes, e foi inscrito da seguinte forma: “ Aqui jaz a flor da Maçonaria, superior a muitas outras, companheira de um rei e irmã de dois príncipes. Aqui reside o coração que soube guardar todos os segredos, a língua que nunca os revelou .”

Terceira lenda: (Sem qualquer transição, aqui novamente, uma história final é oferecida ao leitor.) “ Aqui está tudo o que se relaciona com o reinado do rei Salomão, [filho de Davi], que começou a construir a Casa do Senhor: […] lemos no Primeiro Livro dos Reis, capítulo VII, versículo 13, que Salomão mandou chamar Hirão a Tiro. Ele era filho de uma viúva da tribo de Naftali e seu pai era um tírio que trabalhava com bronze. Hiram era cheio de sabedoria e habilidade em fazer todos os tipos de trabalhos em bronze. Ele foi até o rei Salomão e dedicou todo o seu trabalho a ele. […] Assim, por esta passagem das Escrituras devemos reconhecer que este filho de uma viúva, chamado Hiram, recebeu inspiração divina, assim como o sábio rei Salomão ou mesmo o santo Bezaléel. No entanto, é relatado pela Tradição que durante esta construção houve uma disputa entre os operários e os pedreiros por causa dos salários. E para apaziguar a todos e obter um acordo, o sábio rei teria dito: “que cada um de vocês fique satisfeito, porque todos serão recompensados ​​da mesma forma”. Mas ele deu aos pedreiros um sinal que os trabalhadores não sabiam. E quem conseguisse fazer esse sinal no local onde eram entregues os salários, era pago como os pedreiros; os trabalhadores, que não o conheciam, foram pagos como antes. […] Assim o trabalho continuou e progrediu e dificilmente poderia dar errado, pois eles estavam trabalhando para um mestre tão bom, e tinham o homem mais sábio como superintendente. […] Para ter uma prova disso. Leia os 6º e 7º [capítulos] do primeiro Livro dos Reis, lá você encontrará as maravilhosas obras de Hiram durante a construção da Casa do Senhor. Quando tudo terminou, os segredos da alvenaria foram postos em ordem, como estão agora e estarão até o fim do mundo […] ”.

É fácil perceber a importância e o grande interesse das três histórias. Vamos apenas destacar os pontos essenciais. A primeira história da Sra. Graham é também o primeiro texto na história maçônica que descreve um rito de ressurreição de um cadáver associado aos Cinco Pontos de Companheirismo, atestados, por sua vez, desde 1696 em textos escoceses. O objetivo é tentar encontrar um segredo – do qual não sabemos o que é – que foi perdido com a morte do seu detentor. Associamos um provável jogo de palavras com “ Marrow in the Bone ”, evocando muito claramente uma expressão da MB. É óbvio que isto está ligado “ ao nome que ainda hoje é conhecido pela Maçonaria ”, que aparece bem como um segredo substituto . A característica mais notável é que não vemos aqui nenhuma ligação com a arte da Maçonaria e, acima de tudo, que o personagem central não é Hiram, mas Noé...

A segunda história retrata a personalidade de Bezaléel, possuidor de maravilhosos segredos ligados ao Comércio, que serão comunicados apenas a dois príncipes. O ponto importante aqui parece-nos ser o epitáfio, evocando “ o coração que soube guardar todos os segredos, a língua que nunca os revelou ”. Este tema, note-se, está ausente da primeira lenda.

Finalmente a terceira história apresenta Hiram, “ o supervisor mais sábio da terra ”, e que provavelmente controlou a transmissão aos bons trabalhadores do “ sinal ” que dava direito ao salário dos “ pedreiros ”. Note sobretudo que aqui os segredos estão e permanecem bem guardados, que Hiram completa o Templo, e que não morre de morte violenta... A simples leitura destas três histórias impõe uma observação imediata: a sua sobreposição dá-nos quase na íntegra , em substância a lenda de Hiram conforme relatada pela primeira vez por Prichard em 1730. A principal inovação é que Hiram - cujo papel, honroso mas modesto, na Sra. Graham, é consistente com o pouco que é dito dele em todos os Antigos Deveres – é então substituído por Noé no rito de recuperação. Além disso, é a Hiram, e não mais a Bezaléel, a quem agora pertence “ o coração que soube guardar todos os segredos, a língua que nunca os revelou ”. Mas a terceira lenda da Sra. Graham não indicava que Hiram havia recebido inspiração divina como “ o santo Bezaléel ”?

Lembremos por enquanto que o caráter composto do personagem Hiram Abif da lenda do terceiro grau de Prichard, já mencionado por vários motivos, como vimos, aparece aqui de forma inequívoca. A lenda de Hiram, a qualquer fonte de inspiração mais ou menos antiga que possamos ou queiramos ligá-la, é, sem dúvida, uma síntese tardia de várias histórias lendárias cuja antiguidade não nos é conhecida. A lenda dos três filhos de Noé, dado o papel que esta personagem desempenha na história tradicional do Comércio de Deveres Antigos, bem como a versão da vida de Hiram relatada em Ms Graham, são tão consistentes com os textos mais antigos de a tradição maçônica inglesa, que podemos sugerir fortemente, sem naturalmente podermos afirmar, que eles faziam, sem dúvida, parte de uma lenda bastante antiga, específica da Arte.

Em todo o caso, está estabelecido que em 1726 – ano em que, pela primeira vez nos anais da Maçonaria, temos provas documentais de recepções ao terceiro grau em Londres – um texto maçónico mostra-nos portanto esta síntese, se for já havia sido realizado, ainda não era do conhecimento de todos. Isto, deve ser enfatizado, é uma grande conquista da pesquisa.

Interrompo aqui a análise das fontes desta lenda, sabendo que muitos outros pontos poderiam ser levantados e que diversas questões adicionais permanecem sem resposta. Quis simplesmente tomar o exemplo desta grande lenda da tradição maçónica para sugerir como a alvenaria conseguiu adquiri-la e, sobretudo, mostrar que complexidade está enterrada sob a aparente simplicidade da história que a alvenaria transmite há cerca de 270 anos.

Uma grande transição?

Finalmente, gostaria de fazer algumas observações mais gerais. Quando em 1691, um pastor escocês, Robert Kirk definiu a maçonaria, ele simplesmente escreveu: “ É uma espécie de tradição rabínica na forma de um comentário sobre Jackin e Boaz, o nome das colunas do templo de Salomão ”.

A Maçonaria é então simples – o que não significa que não seja rica – e parece estruturada pelas duas colunas do Templo de Salomão. É uma Maçonaria sem legenda operacional, se é que posso usar esta expressão. Nesse sentido, a categoria de Mestre Hiramico introduziu de fato uma inovação pelo menos tão considerável quanto a formação de uma Grande Loja a partir de 1717, mas especialmente entre 1719 e 1723. Poderíamos também creditar as duas iniciativas às mesmas pessoas, entenda-se o mesmos “ médicos eruditos ” tão violentamente denunciados por Briscoe em 1724.

Quando nos envolvemos, como tentei fazer aqui, numa espécie de arqueologia da lenda de Hiram, podemos facilmente ver que ela foi habilmente elaborada para adornar alvenaria de um novo tipo, mais sutil, mais sofisticado, como se deseja, talvez também mais aristocrático e mais selecionado, mais substancial para mentes elevadas. Trazendo aos rituais o mesmo refinamento literário, bíblico e lendário, para dizer o mínimo, que o próprio Anderson trouxera na reescrita completa da História da Profissão a que se empenhara, em nome da Primeira Grande Loja, apenas alguns anos antes – ou talvez, precisamente, ao mesmo tempo e no mesmo movimento.

Quero sugerir aqui que se a história da lenda de Hiram não é exatamente sobreponível à história do posto de Mestre, que a inclui sem ser inteiramente parte dela, esta lenda constitui certamente na história da primeira Maçonaria Especulativa, uma grande transição. Ao contrário das lendas da Profissão, mais ou menos modificadas, de época em época, segundo transmissões, memórias mais ou menos fiéis e imaginação colectiva, sem perspectiva ou plano concertado, todas as coisas que ela possui poderiam inspirar-se como vimos, a lenda de Hiram, por outro lado, reflete um testamento, e este é um fato radicalmente novo. Resulta de uma abordagem consciente e calculada que visa desenvolver conteúdos renovados, servindo uma visão diferente da instituição maçónica. O seu objectivo, ao estruturar outro grau, era criar pelo menos tanto uma aristocracia maçónica como promover a Maçonaria aristocrática. Esta lenda, que trai irresistivelmente o trabalho acadêmico, foi muito provavelmente, em seu próprio princípio, um instrumento político na jovem Grande Loja de Londres.

No entanto, a história, como tantas vezes, transcendeu os seus actores que muito prontamente acreditam ser os seus autores. A lenda de Hiram, com sua missão cumprida, o novo posto de Mestre implementado e imposto aos poucos, começou a viver sua própria vida, incontrolável e imprevisível. Ela criou um novo conceito, prometeu um destino fabuloso, e que seria declinado infinitamente nas altas classes das quais foi modelo fundadora. Não está claro que os mais antigos desses altos escalões se baseiam em glosas, às vezes laboriosas e dolorosas, sobre os efeitos colaterais, os antecedentes ou as consequências da morte de Hiram?

Também nos perguntamos o que teria acontecido se a lenda não tivesse terminado, como relata Prichard, com uma palavra perdida, uma palavra substituída e um arquiteto desaparecido tragicamente. Com efeito, podemos facilmente ver a falha deste diagrama: será necessário encontrar a palavra perdida e substituir o arquitecto, aqui basta escrever outras cinco ou seis lendas e outras tantas novas notas. Se a Maçonaria se lançou imediatamente, e durante várias décadas, numa empresa prodigiosa e por vezes louca, criando classes em busca da Palavra perdida, não será simplesmente porque os autores da lenda fundadora a construíram como uma história aberta e inacabada? Falta de jeito ou gênio? Ninguém pode responder.