fevereiro 11, 2024

AS PENEIRAS - Adilson Zotovici



Concernente à sociedade

Do _Mestre Hiram_ a premissa

Mormente à irmandade

Contra a inscícia e a preguiça


“_Três peneiras_” com equidade

Que ao descuidado eriça

A salvar da improbidade

Da maldade, da cobiça


A primeira da verdade

A qual desfaz injustiça

A segunda traz bondade


A terceira...a que atiça

Os dramas da iniquidade

Pelas tramas da justiça !

PALESTRA: MAÇONARIA DE ISAAC NEWTON À INTERNET - Michael Winetzki





RECORDAÇÕES 2 - Michael Winetzki


O problema de escrever sobre memórias é que elas alçam voo sozinhas. A intenção quando iniciei era contar o meu relacionamento com aviões, mas as lembranças decolaram e foram muito mais longe. Que seja! Quem tiver paciência de ler vai compartilhar esta viagem pelo meu passado, como se estivesse no assento ao meu lado.

Depois da experiência como corretor de imóveis fui trabalhar nos Supermercados Soares, dos irmãos Sandoval, José, Valdeci, Ruberval e Jair que cresceram de maneira explosiva passando de uma pequena loja (na origem uma barraca de feira em Pedro Gomes) para 13 grandes lojas. Sandoval, o presidente, foi um dos empresários mais honestos e um dos homens mais decentes que conheci na vida, meu padrinho da maçonaria. Eu era o faz tudo na empresa, assessor, secretário, braço direito e esquerdo, e morava em um amplo apartamento em cima da loja da Av. Mato Grosso para estar à disposição 24 horas por dia, o que era literal. Eu trabalhava de manhã até a noite, sábados, domingos e feriados. Comecei a viajar de avião acompanhando José, que era o relações públicas da empresa, para congressos, feiras e eventos. Ele era simpático, bem apessoado e rico e fazia enorme sucesso com as mulheres, o que acabou por comprometer o seu casamento.

Ao deixar a empresa, com o apoio e as bênçãos do Sandoval montei uma das primeiras lojas de 1,99 do Brasil, na Av. Calógeras quase esquina com a Afonso Pena, em frente onde hoje é o Bradesco e que se chamava Panela Velha. Estava arrumando a loja no domingo para inaugurar na segunda-feira com as portas abertas. Eis que entra Sérgio Reis, a caminho de sua fazenda em Pedro Gomes, precisando de uma quinquilharia qualquer. Era o meu primeiro cliente. Durante a conversa com o simpático ídolo eu lhe disse, em um rompante de valentia, que iria batizar a loja com o nome de fantasia de Panela Velha, em homenagem ao estrondoso sucesso que essa música fazia na ocasião e ele prometeu que voltaria para fazer uma apresentação gratuita para mim. Ele nunca mais voltou mas o nome deu sorte e loja foi muito bem por muitos anos.

Eu havia montado algum tempo depois as agências da TAM, mas não existiam computadores, raríssimos e caros e todo o complexo controle financeiro e logístico dos voos era feito à mão. Havia dois funcionários em tempo integral fazendo isso. Decidi que não compensava mais ter as agências e as transferi para outra pessoa. Investi em um estacionamento na Av. Mato Grosso na frente ao Colégio D. Bosco e me tornei sócio de um restaurante e casa noturna chamada Spazio, em frente à igreja matriz, onde cantavam Alzirinha Espíndola, Almir Sater e outros talentos locais. Ainda tive uma revenda de jeans e de joias, que se transformaria na Brilhante Joias, em sociedade com o irmão José Adelino de Carvalho (Zelão) de Coxim, revenda e indústria, que seria durante anos o meu negócio principal.

Eu me tornara diretor da Associação Comercial de Campo Grande e da Federação das Associações Comerciais de MS. Uma chapa alternativa presidida pelo empresário Vagner Simone  Martins, meu vizinho na Avenida Mato Grosso, havia vencido as eleições derrotando um grupo que há décadas comandava a instituição e vários empresários jovens e ativos como eu faziam parte da diretoria, junto naturalmente com alguns antigos e prestigiadíssimos medalhões como Nelson Nachif. Passei a voar com frequência para representar a entidade em encontros, congressos e feiras. Numa dessas viagens conheci Brasília e me apaixonei pela cidade à primeira vista. Pensei – “quem sabe, algum dia, poderei vir morar aqui.”

Adelino Martins, dono da Floricultura Arakaki, que também era diretor da Associação Comercial me levou para o Rotary Clube de Campo Grande Norte, o maior Rotary do Distrito, e permaneço rotariano até hoje. Anos mais tarde fui presidente do Clube, da Associação dos rotarianos de Campo Grande, vendi a luxuosa, caríssima e inútil sede na cobertura de um edifício e ganhei do Prefeito Lúdio Coelho um grande terreno situado em um bairro nobre onde seria construído um consultório dentário para atender aos menos favorecidos. Estive há pouco mais de um ano em Campo Grande e fiquei muito triste ao ver que nada aconteceu no terreno e que o meu Rotary do coração está bem pequeno, embora conte com valorosos companheiros.

Aldoir Pedro Teló, pai do Michel Teló, também era meu vizinho na Avenida Mato Grosso, proprietário da Padaria Espanhola e foi vice-presidente na minha gestão rotária. Michelzinho desde muito pequeno era um ótimo cantor e instrumentista e animava as festas de nosso Clube. Eu disse ao Aldo que Michel viria a ser um grande artista. Não era difícil prever quando se via tanto talento e carisma no garoto.

A fábrica de joias estava estabelecida em uma casa vizinha à minha e funcionava a pleno vapor. Eu tinha cerca de 30 revendedoras de porta em porta. Estavam na moda na época as leves joias chamadas de “ouro italiano” que eram comercializadas em até 10 pagamentos, porque a economia era estável e o país estava em acelerado desenvolvimento. Eu vendia para outras cidades do Estado de MS e até para S.J. do Rio Preto em SP. O Zelão fornecia os diamantes, eu os lapidava em São Paulo e Petrópolis para transformá-los em brilhantes e montava em armações de ouro 18, metal que adquiria em São Paulo e Cuiabá. Já era um tipo de comércio “globalizado”. Meu ourives chefe, Zequinha, cearense de Juazeiro do Norte, terra de Padre Cícero, era dedicado e habilidoso e ensinou a profissão a muitos outros jovens que contratei. Peças mais caras e elaboradas eu adquiria do cuiabano Denis Correa Fortes que tinha uma belíssima produção de peças sofisticadas na Joias Denis, na Avenida Sumaré em São Paulo.

Mas a certa altura começamos a ter problemas de segurança. Algumas revendedoras foram roubadas, um dos meus veículos foi acidentado e se perderam muitas joias e valores, um dos meus clientes foi assassinado em um carro igual ao meu e preocupado com o crescendo da insegurança doei os equipamentos da fábrica aos empregados e encerrei as atividades da joalheria.

SEGUE

fevereiro 10, 2024

NA VIDA TUDO PASSA - Michael Winetzki


Montei minha primeira empresa em 1967, em Sorocaba, Gráfica e Editora Winart Ltda, que editou alguns números de duas revistas,” Impacto” e “Quem, O quê”. Como eu era menor de idade estava em nome de meu sócio Artidoro Pacheco de Matos. Depois disso trabalhei em dezenas de empreendimentos, na Livraria Debret em Petrópolis, de Aristides Cerqueira Leite, ex presidente da Agência Nacional, criador da Voz do Brasil, na IBM de J.B. de Abreu Amorim, no auge da IBM no Brasil, uma das melhores empresas do mundo, na SHARP de Matias Machline, o audacioso e brilhante empreendedor, na TAM do Comte Rolim, um gênio no atendimento ao cliente, na rede de Supermercados Soares de Sandoval Ribeiro Soares, patrão e amigo querido que me incentivou a ter meus próprios negócios ( e avalizou o início). Montei então, a Brilhante Joias, em Campo Grande, MS, o Atacado Mundo Mágico na mesma cidade e vários outros, até culminar minha carreira na direção geral da filial brasileira da Card Guard Scientific Survival Ltd., uma das mais importantes empresas do mundo em tecnologia médica.

Com o aprendizado adquirido com esses gênios dos negócios, aos 46 anos, depois de ter curado meu câncer renal, passei a dar consultorias e palestras, muito bem sucedidas, a muitas empresas, algumas delas gigantescas, como a Votorantim, Gerdau, Sabesp, Celg, Mahle Metal Leve, Motores Cummins, 3M, Pernambucanas, etc. 

Tive Universidades como clientes: a Unicamp, a Católica D. Bosco de Campo Grande, a Federal de Uberlândia, a UniUbe de Uberaba e várias outras. 

Dei consultoria para órgãos do governo no Brasil e na Argentina, Espanha, Paraguai e Coréia do Sul (Ministério de Indústria e Comércio). Falei em quase 300 agências do Banco do Brasil, da Caixa e do HSBC. Sou diretor de entidades de classe empresariais há mais de 30 anos.

Aos 73 anos, tendo vivido e passado por tantas e crises e dificuldades nestes 50 anos de gestão empresarial aprendi que na vida tudo é passageiro, coisas ruins e também as boas.

Então, vivendo mais uma vez em tempos de crise, economia em colapso, desemprego, desesperança, governos corruptos em todos os níveis, me proponho a dar palestras de motivação a empresas e empresários que ainda não veem a luz no fim do túnel. Não tem custo algum. Se for longe só me reembolsem o deslocamento, mas cobro sim a contribuição da doação de alimentos a instituições de beneficência para pessoas que vivem problemas ainda maiores do que os nossos. 

Nos últimos 16 anos de palestras Alice e eu obtivemos a doação de mais de 200 toneladas de alimentos encaminhadas a famílias carentes. A crise um dia acaba, mas a fome continua.

Os interessados entrem em contat
o pelo meu email 
michaelwinetzki@yahoo.com.br 

Que os Senhor os cubra de bênçãos.

fevereiro 09, 2024

GOTEIRA – SIGNIFICADO E ORIGEM


GOTEIRA é um jargão maçônico utilizado como uma espécie de sinônimo de profano, de um não iniciado na Maçonaria, que se faz presente entre um grupo de Maçons. Além deste termo existe a expressão “CHOVE” ou “ESTÁ CHOVENDO”, que serve como um alerta para que se evite, em sua presença, assuntos que só dizem respeito aos Maçons. Caiu em desuso a expressão “NEVA” ou “ESTÁ NEVANDO”, que se utilizava quando se tratava de uma mulher. E como essas palavras surgiram na Maçonaria?

Essa tradição vem desde os tempos da Maçonaria Operativa, em que se utilizava a palavra “COWAN” (que segundo alguns autores é um termo escocês arcaico, sem significado na língua inglesa), primitivamente para designar o pedreiro grosseiro, sem habilidades, sem conhecimento dos segredos da arte de construir e dos sinais, toques e palavras, e que por isso trabalhavam a qualquer preço. Esses “COWANS” tentavam se infiltrar nas Lojas Operativas para obterem os segredos e, descobertos, eram surrados e colocados debaixo de uma “GOTEIRA” para serem encharcados pela “CHUVA” ou então lhes davam um banho com roupa e tudo. A surra se justificava em razão da preocupação dos Maçons Operativos de que seus segredos não fossem revelados a quem não participava da corporação, garantindo-lhes uma reserva de mercado e a justa paga por seus serviços profissionais, que proporcionavam o sustento de suas famílias. 

Tal tradição permaneceu na Maçonaria Especulativa e o termo ‘COWAN”  passou a ser algo como um sinônimo de curioso, bisbilhoteiro, referindo-se aos não iniciados que por todos os meios, tentavam ouvir o que se passava nas sessões maçônicas, havendo os mais ousados que tentavam até introduzir-se nas Lojas. Esses curiosos quando descobertos eram colocados debaixo de uma ‘GOTEIRA”, de uma calha de ‘CHUVA”, para serem inteiramente molhados. As surras foram abolidas, pois não mais tinham razão de ser.

No século XVIII esses “COWANS”, bisbilhoteiros, curiosos, eram muito comuns e resultaram na criação do Cobridor Externo, exatamente para coibi-los. Eram 7 os cargos das primeiras Lojas Especulativas: um Mestre, dois Vigilantes, dois Diáconos, dois Expertos e um Cobridor Externo.

Muito pouca literatura maçônica da época relata essas situações e os livros antimaçônicos acabaram se tornando de fundamental importância histórica, pois neles tais práticas e muitas outras ao serem expostas, foram preservadas para a posteridade.

Em 1730 foi publicado o livro antimaçônico “Dissected Masonry” (Maçonaria Dissecada) de Samuel Prichard, onde consta o seguinte diálogo feito em Loja: 

 “P: Se um ‘COWAN’ ou bisbilhoteiro for apanhado, como deve ser castigado?

“R: Deve ser colocado debaixo do beiral da casa em dias de ‘CHUVA’ até que as ‘GOTEIRAS’ a escorrer pelos seus ombros, saiam pelos seus sapatos”.

Em um outro livro antimaçônico publicado em 1746, “Les Francs-Maçons Écrasés” (Os Franco-Maçons Esmagados), do Padre Abeé Larudam, é contado como ele e o Padre Perau (também autor de um livro antimaçônico), conseguiram se introduzir numa Loja Maçônica por conhecerem os sinais, toques e palavras, e seu colega, tendo sido descoberto (mas não ele, Larudam), recebeu a pena reservada aos intrusos: “O castigo consiste em colocá-los por baixo de um cano, de onde, por meio de uma bomba posta em funcionamento, lhes é dado um banho até que estejam molhados da cabeça aos pés. Tive a oportunidade de ver alguns exemplos em Berlim, Frankfurt e Paris, no Hotel Soissons (primitiva sede da Maçonaria francesa). O Padre Perau quis, apesar de profano, frequentar esta Loja de Maçons, como já tinha feito em vários lugares em Paris, mas um dos irmãos presentes certificara-se de que ele não passava de um falso Maçom, descobrindo-o por uma palavra destinada pela Loja em casos desta natureza; isto foi feito dizendo “CHOVE” e logo que tal palavra foi pronunciada o Venerável Mestre disse aos Vigilantes para verificarem quem poderia ser o culpado. Logo Perau foi descoberto, porque embora conhecesse os sinais, toques e palavras, não pôde informar onde tinha sido iniciado; foi, portanto, molhado sob o cano da bomba e regado completamente. Todos que lá estavam divertiram-se e riram muito às suas custas, tendo sido uma das cenas mais agradáveis para os Maçons ...”

Finalizando este post que se propunha unicamente mostrar a origem do termo GOTEIRA, acessoriamente demonstra que os meios usuais de reconhecimento podem não funcionar para um COWAN, um curioso, um GOTEIRA, que tenha lido alguma obra maçônica comprada na livraria da esquina ou mesmo feito uma simples consulta pela Internet, onde alguns desses meios de reconhecimento foram mostrados, além da possibilidade de um Maçom, inadvertidamente, tê-los expostos. Particularmente, nunca trolhei ninguém pelos meios usuais, pois até mesmo o trolhamento previsto nos Rituais muitos Maçons esqueceram algumas, se não todas, as respostas. Prefiro introduzir na conversa perguntas sobre o nome e nº da Loja, a Potência a que pertence, onde e em que dias a Loja se reúne, qual a idade maçônica, etc, que um profano, um COWAN, um GOTEIRA, pode ser facilmente identificado, sem expor nenhum meio de reconhecimento maçônico.

QUEM AINDA VÊ A MARAVILHA DO JUDAÍSMO ? - rabino Dr. Nathan Lopes Cardozo

 


O rabino Dr. Nathan Lopes Cardozo, fundador e decano do David Cardozo Think Tank, é um  palestrante e autor de muitos livros e ensaios sobre filosofia judaica e renovação haláchica. Ele é mundialmente conhecido por suas ideias
 
únicas sobre o judaísmo. Nativo da comunidade judaica hispano-portuguesa da Holanda que detém um Doutorado em Filosofia, o rabino Lopes Cardozo recebeu a ordenação rabínica do Gateshead Talmudic College, na Inglaterra, e estudou em Israel em várias instituições rabínicas líderes. Além de ensinar o público judeu, Rabi Lopes Cardozo muitas vezes palestras para público não-judeu sobre religião comparativa.

 

... Esse sentimento de admiração é a fonte inesgotável de seu desejo de conhecimento. Ele dirige a criança irresistivelmente para resolver o mistério, e se em sua tentativa encontrar uma relação causal, ele não se cansará de repetir o mesmo experimento dez vezes, cem vezes, a fim de provar a emoção da descoberta uma e outra vez ... A razão pela qual o adulto já não se pergunte não é porque ele resolveu o enigma da vida, mas porque ele se acostumou com as leis que governam sua imagem mundial. Mas o problema de por que essas leis particulares e outras não são válidas para ele tão incrível e inexplicável quanto a criança. Aquele que não compreende esta situação interpreta mal o seu significado profundo, e aquele que chegou ao palco onde ele não se pergunta mais sobre nada, simplesmente demonstra que ele perdeu a arte do raciocínio reflexivo. - Max Planck, Autobiografia Científica e Outros Documentos, NY, Philosophical Library, 1949, pp 91-93.

Em Shemot (34: 29-35), encontramos uma passagem fascinante sobre a descendência de Moshe do Sinai. Estamos informados de que Moshe decidiu cobrir o rosto com uma máscara depois de perceber que sua pele facial se tornara radiante, fazendo com que as pessoas se retirassem e não se atrevessem a se aproximar dele.

O que é absolutamente surpreendente, no entanto, é contrário a uma crença comum: Moshe caminhou diariamente pelo campo israelita com a sua máscara, desde que não falou com as pessoas para transmitir as palavras de D’us. Uma vez que ele teve que falar com eles, ele deliberadamente o tirou, revelando seu rosto luminoso. Em vez de acomodá-los, tornando mais fácil abordá-lo, parece que ele queria trazê-los para um ambiente espiritual completamente diferente antes de repetir as palavras de D’us como ele as tinha ouvido. Ao tirar a máscara apenas quando ele teve que repetir as palavras de D’us, ele as expôs a esse resplendor divino, que os surpreendeu por completa surpresa. O objetivo, então, foi buscá-los com a guarda.

Os seres humanos podem rapidamente tornar-se dessensibilizados até mesmo os estímulos mais surpreendentes, uma vez que eles se acostumam com eles. A maravilha desaparece. Para que o resplendor de Moshe tenha um efeito contínuo, teve que estar escondido para que, quando ele revelasse seu rosto, os israelitas se emocionassem profundamente com a luminosidade. Somente nessas condições, eles poderiam apreciar e valorizar as palavras de D’us, percebendo que toda palavra que Moshe falava em nome de D’us era autêntica. Caso contrário, as palavras de D’us tornar-se-iam medíocres e duvidosas. Familiaridade gera desdém.

A religião é a arte de saber o que fazer com espanto. Para garantir que não caia em complacência, nunca deve tornar-se quotidiano. Na verdade, este tem sido um dos maiores desafios para o judaísmo nos últimos cem anos. Enquanto nos dias de Moshe e os profetas, o judaísmo era experiente com profunda excitação religiosa, como uma representação majestosa do novo, ao longo dos séculos essa maravilha foi substituída por uma familiaridade devastadora. O judaísmo colocou uma máscara permanente que nunca foi removida.

Completamente incompreendendo o que é a vida e acreditando que resolvemos a maioria dos problemas em relação ao seu mistério, nos tornamos mentalmente excluídos da possibilidade do extraordinário e sem precedentes. Desanimamos nossa capacidade de surpresa.

Com o passar do tempo, transformamos o judaísmo numa instituição, um dogma e um ritual em que tudo precisa se encaixar perfeitamente. Mas o judaísmo é realmente sobre uma revolta na alma e a necessidade de romper com todos os tipos de ídolos. Trata-se de viver com trepidação espiritual em que o homem percebe que ele foi criado a partir de poeira, mas tem a capacidade de chegar ao Céu. Se os sucessos do homem dependerão ou não da sua vontade de admirar.

Transformamos o judaísmo numa religião que conforta, mas não desafia. Chegamos a uma doutrina coxa em que a coragem de destruir a insensibilidade foi desviada. Transformou-se em uma religião doce e confortável em que o homem pode dormir e nunca acordar.

O judaísmo de hoje, paradoxalmente, fez do homem moderno acreditar que a revelação divina é impossível. Como, afinal, pode alegar que o Divino pode entrar em nosso mundo quando rejeitou totalmente a noção de que a surpresa é o grande motor espiritual para a vida religiosa autêntica? Como alguém pode defender a crença na revelação no Sinai, quando simultaneamente comprou a estagnação espiritual pensando que a investigação científica é tudo o que há e a maravilha já não faz parte da nossa experiência?

Revelação baseia-se na noção de infrequência. Sua autenticidade e verdade são encontradas por ser diferente de todas as outras experiências. Sua singularidade é que ele não pode ser comparado a nenhum outro evento. É sui generis. Uma vez que tentamos explicá-lo, ele perde sua própria essência e propósito. Se extinguimos a centelha de sua singularidade, ela é reduzida à insignificância.

Maravilha é problemática para a lei. A aplicação da lei seria muito mais fácil se o mundo estivesse estagnado e consistisse em repetição infinita. A dificuldade real surge quando emergem repentinos e não convencionais. Tais momentos tomam a lei de surpresa.

Os julgamentos definitivos tornam-se irrelevantes, uma vez que não podem lidar com o novo e o inaudito. Nesses casos, os legisladores são obrigados a deixar suas confortáveis ​​torres de marfim. Ou admitem que a lei não tem nada a contribuir, ou se tornam inventores e mostram que a lei deixa espaço para o sem precedentes e a noção de maravilha.

Este é o grande desafio para as autoridades halájicas de hoje. Suas decisões são tomadas em um vácuo estéril em que toda surpresa é ignorada e até mesmo suprimida? Ou eles são feitos para estimular uma condição religiosa em que o homem viverá em um estado de grande incrédulo através do qual ele pode crescer e sentir o espírito interior de Halacha?

As decisões de hoje são transformadoras ou promovem a estagnação? Devemos ter halachada profética ou halachada colapsada?

O que precisamos é uma nova abordagem. Temos que recriar halacha para que mais uma vez se torne a manifestação de ações sagradas que geram maravilhas e maravilhas em todas as partes da nossa vida.

Pode ser hora de os rabinos convidarem pensadores religiosos que ainda vejam a maravilha do judaísmo e podem ajudá-los a tomar decisões adequadas antes que a religiosidade genuína seja sufocada.

Precisamos de pessoas que possam nos ensinar a tirar nossa máscara - que agora se fundiu com a nossa pele - e nos mostre o brilho original da palavra de D’us, como Moshe fez.

ÉRAMOS SETE - Roberto Ribeiro Reis



Sob a regência de um Venerável Mestre, cuja sabedoria e serenidade eram inatas, desfrutávamos de reuniões incríveis, regadas a boas instruções e um agradabilíssimo clima de fraternidade. Ao som de seu malhete, a 𝙡𝙪𝙯 𝙨𝙚 𝙚𝙨𝙥𝙖𝙧𝙜𝙞𝙖 soberana e de uma claridade inenarrável.

Os Aprendizes esboçavam ânimo e 𝙙𝙞𝙨𝙥𝙤𝙨𝙞𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙙𝙚 𝙩𝙧𝙖𝙗𝙖𝙡𝙝𝙖𝙧, porquanto conduzidos pelo primeiro vigilante, que lhes ensinava, simultaneamente, a arte do silêncio, bem como a hora ideal em que cada um poderia se pronunciar em Loja. Tudo feito com distinta elegância e um tratamento de invejável lhaneza.

À segunda vigilância cabia a 𝙚𝙭𝙤𝙧𝙩𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙖̀ 𝙗𝙚𝙡𝙚𝙯𝙖 da obra do Criador, concitando os Companheiros a admirarem o resultado de sua dedicação, enamorando a pedra cúbica, fruto inevitável aos Geômetras que sabem aplicar sua Gnose, com a Genialidade necessária. Que essa 𝙂𝙚𝙤𝙢𝙚𝙩𝙧𝙞𝙖 𝘿𝙞𝙫𝙞𝙣𝙖 se espalhe por muitas Gerações, através do incansável labor dos companheiros.

A 𝙚𝙨𝙩𝙧𝙚𝙡𝙖 𝙛𝙡𝙖𝙢𝙚𝙟𝙖𝙫𝙖 ao sul, e sua resplandecência era tamanha que inspirava o Orador a discursar sobre a Misericórdia Maior do Supremo Arquiteto, e sobre o Seu 𝘼𝙢𝙤𝙧 𝙄𝙣𝙘𝙤𝙣𝙙𝙞𝙘𝙞𝙤𝙣𝙖𝙡 para com todos nós, independente das reincidentes transgressões que cometemos, diariamente, em nossas vidas.

Todos os Mestres ficavam embevecidos e extasiados pela 𝙚𝙜𝙧𝙚́𝙜𝙤𝙧𝙖 𝙨𝙪𝙩𝙞𝙡 que ali era formada. Não havia azo para o ingresso de vibrações inferiores, e os sentimentos vulgares já haviam sido defenestrados ainda na Sala dos Perdidos Passos.

A essa altura, sob o deslumbre de um 𝙛𝙞𝙧𝙢𝙖𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤 𝙖𝙯𝙪𝙡 𝙘𝙚𝙡𝙚𝙨𝙩𝙚, recheado de astros e de estrelas, o Secretário tinha a digna e perfeccionista missão de tudo relatar, minuciosamente, para que aquela sessão entrasse para os anais daquela Loja como sendo Justa e Perfeita.

Todas as 𝙚𝙛𝙚𝙢𝙚́𝙧𝙞𝙙𝙚𝙨 eram devidamente 𝙘𝙝𝙖𝙣𝙘𝙚𝙡𝙖𝙙𝙖𝙨, como forma de valorizar aos Irmãos, cunhadas e sobrinhos, numa demonstração de inequívoco apreço e substancial afeto. Nada passava despercebido para o Irmão cujos cuidados e memória saltavam aos nossos olhos.

O metal depositado na Bolsa de Benevolência era tão farto, que se assemelhava às generosas doações ofertadas nos gazofilácios, como no 𝙏𝙚𝙢𝙥𝙡𝙤 𝙙𝙚 𝙅𝙚𝙧𝙪𝙨𝙖𝙡𝙚́𝙢. Ou seja, a beneficência era algo imprescindível, por cujo meio os Irmãos socorriam às aflições do próximo, num gesto de mais puro amor e altruísmo.

Éramos sete irmãos que tornávamos –ritualisticamente- a Loja Justa e Perfeita. Só o fazíamos porque 𝙩𝙤𝙙𝙤𝙨 𝙤𝙨 𝙙𝙚𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙊𝙗𝙧𝙚𝙞𝙧𝙤𝙨 𝙣𝙤𝙨 𝙖𝙪𝙭𝙞𝙡𝙞𝙖𝙫𝙖𝙢, com a mesma mestria e importância, nesse Sagrado Ofício. Não havia distinções entre nenhum dos Pedreiros, em razão de ocupação ou não de cargo.

O que chamejava em nossos Augustos Trabalhos era um 𝙖𝙧𝙙𝙤𝙧 𝙙𝙞𝙫𝙞𝙣𝙤, que foi capaz de nos fortalecer, de nos manter unidos, e de fazer verter em nós a vida em sua plenitude e abundância. A bem da verdade, não éramos somente sete. Éramos “𝙨𝙚𝙩𝙚 𝙝𝙤𝙢𝙚𝙣𝙨 𝙚 𝙢𝙖𝙞𝙨”...



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fevereiro 08, 2024

A VIRTUDE COMO IDEAL - Ademir Candido da Silva



O caráter progressista de nossa Sublime Instituição nos impulsiona para a construção de uma sociedade mais justa e fraternal.

Admitimos que, além de direitos, temos também deveres - e não somente para com nossos Irmãos, com nossos familiares e a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, trabalhando nosso Templo interior.

Na sua essência, a Maçonaria tem como lema erigir templos à virtude e cavar masmorras ao vício - uma das mais nobres atividades pregadas por todos os grandes condutores da humanidade.

Ao estimular a virtude, é preciso, ao mesmo tempo, combater o seu inimigo, o vício, que está sempre tentando o homem e o desviando da estrada correta.

Desde os tempos antigos, a virtude era tida como uma disposição adquirida de fazer o bem. Para os pensadores latinos e gregos, a virtude era um ponto sediado de maneira equidistante dos vícios, como expressa o provérbio latino “in medio stat virtus”.

Em “Ética a Nicômano”, Aristóteles afirma que tanto na Moral, no comportamento e na virtude, há uma mediação entre vícios de sentidos opostos.

Horácio, em um dos versos de suas “Epistolas”, diz que a virtude é o ponto médio entre dois defeitos equidistantes um do outro. Lê-se também nas “Metamorfoses de Ovídio”, quando o sol adverte Faetonte para que dirija seu carro de maneira equidistante da terra e do céu, para não se submeter aos perigos; conselhos este não seguidos, que obrigou Zeus a fulminá-lo: “medio tulissimus íbis” (pelo meio irás com segurança), representando o conselho não seguido.

Roberto Lyra, professor da UnB, era totalmente contra o meio termo como conduta certa e ao tratar do comportamento humano, investiu ferozmente contra tal ideia. Segundo ele, o meio era uma linha que passava do nariz às partes pudentas, portanto, detestável, contaminando, pois ele defendia o marxismo, que era radical nas suas ações.

Para o Apóstolo Paulo, a excelência da virtude é a caridade, como podemos ler na Primeira – Epistola aos Coríntios, versículo 13: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

Ao tratarmos da virtude pelo político, temos a citação de versos de Petrarca em “O Príncipe” de Maquiavel, onde o termo significa: “O valor tomará armas contra o furor; que a luta se espraie bem depressa! Pois a coragem antiga não morreu no coração dos Italianos”. Para Maquiavel, virtude é a capacidade do príncipe de manter e firmar seu domínio, usando das artes da raposa e do leão.

O vocábulo “virtude” vem do latim “vir” (viri) que significa homem (como homem ou com as qualidades de homem) em oposição à feminina. Daí (VIRTUS – UTIS), varonil, coragem, vigor valor e virtude. Era qualidade física do homem, dos animais ou das coisas.

Há inúmeras virtudes, mas devemos ter em mente que a primeira das virtudes é reprimir a língua, como se pode ler na “Quinta Nemea” de Pindro ou nos “Disticha Catonis”: “virtutem primam esse puta compescere linguam”. Também dentro de nossa Instituição, o silêncio vale ouro e é sempre solicitado do verdadeiro Maçom.

As virtudes adquiridas (ou naturais) são os hábitos que se criam através do processo de socialização, seja na família, na escola ou nas demais instituições das quais fazemos parte desde que nascemos.

Assim, as virtudes humanas não são inatas, mas sim elementos que se constroem e complementam a personalidade das pessoas ao longo da vida.

Para Confúcio, a personalidade moral do homem tinha quatro pontos de crescimento, cujo cultivo produzia as Quatro virtudes: o humanitarismo, a observação dos ritos, a diligência e a sabedoria.

Na Igreja temos as virtudes Teologais: a fé, a esperança e a caridade, em contraposição aos vícios chamados capitais: soberba, avareza, luxuria, ira, gula, inveja e preguiça.

Para os franceses, a preguiça é a mãe de todos os vícios. Existe um sem-número de virtudes: prudência, temperança, coragem, fidelidade, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, simplicidade, tolerância, pureza, doçura, boa-fé, humor, o amor, que resume quase tudo, e tantas outras.

Todas as virtudes são aceitas e bem recebidas na Maçonaria; vamos levantar Templos à virtude, em especial os sentimentos de fraternidade, que geram a igualdade e a liberdade.

A Maçonaria não tem a capacidade de produzir homem virtuoso, o que acontece com qualquer tipo de instituição, mas o esforço que emprega para divulgar as virtudes, tem criado inúmeros homens de boa conduta, capazes de trazer à sociedade um trabalho profícuo de criar um mundo melhor.

Cito nosso Irmão João Ricardo Ribas Junior da A.R.L.S. Leon Denis, 17, do oriente do RJ, representa a cidade como vereador, tem proeminência na saúde pública e atuação humanitária em nível mundial, assim como participou da Conferência Mundial do clima em Dubai em dezembro/2023. O convite teve motivação pela sua participação efetiva salvando vidas, através de cirurgias complexas, quando da grande explosão no Líbano. Exerce também abnegada atuação nos Médicos Sem Fronteiras, que leva cuidados de saúde a pessoas extremamente necessitadas.

Assim como o Irmão João Ricardo, temos inúmeros outros Irmãos Maçons que são altruístas e que se doam para o próximo, sem esperar nada em troca.

Antonio Moraes Silva, no seu celebre dicionário da Língua Portuguesa, edição de 1831, define humildade como: “virtude, que consiste no conhecimento do nada que somos, e na prática conforme a esse conhecimento, refreando o entendimento, e o amor-próprio, onde a Religião, e a razão ditam: sujeitando-nos, e obedecendo aos superiores; não tratando com soberba aos próximos”.

A humildade é uma virtude cristã, que nos inspira o profundo sentimento de nossa fraqueza, fragilidade, miséria e o sincero reconhecimento de que nada bom é propriamente nosso, mas sim, um Dom de Deus, feito da sua liberalidade e misericórdia.

Nada melhor que começarmos praticando a simplicidade, a fim de que se adquira a humildade, que é virtude silenciosa, não sendo notada, se é real, nem pelas outras pessoas.

O humilde desconhece sua virtude, pois no dia que propagá-la deixa de ter o dom. Humilde é aquele que faz força para que o bem-estar atinja a humanidade, sem que seu nome seja citado.

O humilde emprega o tempo em silêncio para pensar as feridas do próximo, sem visar recompensas. Faz com a mão direita, de modo que a mão esquerda não saiba, o bem, desinteressadamente.

Aplaude anonimamente o êxito dos outros, tem o valor moral de ser isento, de não ser apaixonado, considerar a relatividade de tudo o que nos cerca, sabendo que tudo muda num piscar de olhos, pois na luta pela vida não há vencidos nem vencedores, apenas competidores, que são parte da transformação contínua que opera em toda parte.

Por isso, na prática do Amor, da Verdade e da Justiça, jamais deve o verdadeiro esoterista aguardar reciprocidade ou recompensa pelos seus atos elevados. Deve lembrar-se de que é um simples instrumento do G.A.D.U., agindo neste plano em benefício do próximo; não deve esquecer que veio a este mundo para servir e sacrificar-se pela evolução geral, e viver feliz.

Analisando este estudo, chega-se à conclusão de que, no âmbito maçônico, não há espaço para disputa de cargos ou política. A verdadeira Maçonaria é aquela que na qual vivenciamos o Amor, a Fraternidade, a Verdade, o Dever e o Direito, nos proporcionado o prazer indescritível de abraçar um Irmão; é aquela que faz com que a convivência fraternal seja um prazer e não uma obrigação semanal.

Platão, no século V a.C, já mostrava a virtude como esforço de purificação das paixões. Dizia que o compromisso de um homem virtuoso está vinculado à razão que determina o exercício prático, o domínio do corpo.

Esses valores e virtudes, indispensáveis em todos os seres humanos, são conquistados através da vontade, imbuída de razão. Se temos direitos, temos também deveres, e não somente para com nossos Irmãos, para com nossos familiares, para com a sociedade, mas principalmente para com nós mesmos, para com nosso trabalho interior, para o desbaste de nossa Pedra Bruta.

Muitas vezes esquecemos de olhar para nós mesmos, em se tratando de mudanças e transformações. Exigimos que os outros mudem, sem, no entanto, fazer nada para sair de onde estamos. Em nosso meio, não deve haver lugar para hipocrisia e muito menos para vaidade.

Neste ano que se inicia (2024), procuremos sempre transpor os caminhos por onde transitam as verdades vestidas de consolo, orientação e otimismo.

Sem dúvida são alguns materiais que o G.A.D.U. selecionou, para compor o refúgio e suavizar a nossa jornada dos desatinados viajadores do seu Reino.

Assim, com prudência, justiça, fortaleza e temperança, vamos percorrer esses caminhos plenamente conscientes do poder construtivo dos nossos pensamentos, que nos tornarão, indubitavelmente, canais livres, desimpedidos, por onde as bençãos de Deus fluirão inexoravelmente, embalando nossos sonhos ao encontro de si mesmo.


CURANDEIRISMO E EXORCISMO - Almit Sant’Anna Cruz


À luz das modernas descobertas sobre a relação existente entre a mente e o corpo, nos casos de doença, as atividades dos curandeiros parecem de uma surpreendente atualidade. Nos seus primeiros contatos com sociedades tribais, os homens brancos ficavam intrigados diante dos curandeiros, bizarramente pintados e paramentados. Sem compreender seus rituais, mas percebendo que visavam frequentemente curar os enfermos, os brancos consideravam mera feitiçaria aquelas práticas primitivas. Muitos dos rituais coloridos – com suas máscaras e roupagens – têm uma finalidade, isto é, são complementos visuais do tratamento psiquiátrico que o curandeiro, ao seu modo, realiza. 

Psiquiatras africanos passaram a utilizar diversas técnicas nativas e perceberam que podiam empregar curandeiros para trabalharem lado a lado com psiquiatras, sem qualquer desarmonia. Os complementos visuais, encantamentos simbólicos e frases persuasivas podem significar uma suave sugestão hipnótica. Se o curandeiro diz, enquanto banha o paciente: “seu mal está indo embora, como esta água escorre para o chão”, a metáfora ajuda a imprimir na mente do enfermo a noção de partida. Em certas regiões da África, os curandeiros empregam hipnose profunda, provocando o transe em pacientes isolados ou em grupos. Diz-se que o curandeiro indiano trata a mordida de cobra com métodos semelhantes. Embora muitas cobras não sejam venenosas, o choque da mordida pode matar uma pessoa sugestionável. Ninguém sabe se o curandeiro cura o estado de choque, ou se o seu poder de persuasão ajuda a resistência do organismo realmente envenenado. 

O conhecimento farmacêutico dos curandeiros tem precedido o da medicina civilizada. Boa parte dos medicamentos atualmente em uso, já eram empregados pelos curandeiros, com os quais a ciência obteve o conhecimento de suas propriedades medicinais. A malária era tratada com sucesso pelos índios peruanos a partir de infusões da casca de Chichona bem antes que os europeus a colocassem sob controle, através de observações das práticas indígenas pelos jesuítas em 1638. Os curandeiros brâmanes do sudoeste asiático já utilizavam, por milhares de anos, a raiz da Rauwolfia serpentina como substância medicinal, até que, em 1887, dois holandeses descobrissem seu uso e agora, a reserpina, substância extraída dessa raiz, é de emprego comum no combate à hipertensão e como tranquilizante. Desde o século XVII os curandeiros usavam a casca de Salix (salgueiro) para tratar reumatismos. Uma vez purificada, a solução deu origem ao ácido acetilsalicílico, fundamento dos comprimidos de aspirina usados hoje em dia. No Brasil, de longa data, utilizam-se certas plantas e ervas para o tratamento de algumas moléstias e a própria ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, recentemente autorizou a industrialização e a comercialização de fórmulas farmacêuticas que empregam tais plantas e ervas. Em algumas partes da África, certos remédios secretos são tão respeitados, que mesmo os médicos africanos formados na Europa preferem enviar seus filhos ao curandeiro. 

O curandeiro das cidades não é necessariamente um charlatão. Conquanto imprimam folhetos mentirosos, declarando que podem curar qualquer doença conhecida, na verdade fazem com que os pacientes tenham fé em sua medicina. Embora não pintem o rosto nem usem máscaras, eles dependem tanto da aparência como seus predecessores. E sua reputação depende dos pacientes que eles recuperam. Não obstante os poderes invocados pelos curandeiros sejam imaginários, na medida em que um grupo acredita em tais poderes, ele pode adquirir uma eficácia, mesmo que limitada, mas muito real. Além disso, o sucesso dos curandeiros, em alguns casos, está ligado a doenças que, depois de atingirem o auge de desenvolvimento, regridem e desaparecem naturalmente, qualquer que seja o tratamento recebido. O principal elemento com que conta o curandeiro é a fé dos pacientes na cura das moléstias que os aflige e a ação do curandeiro se concentra em sua capacidade de convencimento do valor de seus métodos de cura.

Estudando as práticas do vudu, no Haiti, pesquisadores americanos concluíram que certos mecanismos psicofisiológicos podem conduzir à morte por enfeitiçamento. Numa sociedade em que a crença nos poderes do feiticeiro está enraizada na tradição, um indivíduo raramente põe em dúvida o fato de que esteja condenado. As pessoas que o cercam, por sua vez, participam dessa certeza e afastam-se da vítima como se ela fosse portadora de uma doença contagiosa. Dominado pelo pânico e marginalizado pelo grupo social, o enfeitiçado tem grandes possibilidades de adoecer realmente, confirmando, assim, o poder do feiticeiro. E como se desencadeiam as alterações fisiológicas que tornam o feitiço real? Podemos supor que o medo intenso venha a provocar uma atividade particularmente intensa do sistema nervoso simpático, ocorrendo então uma queda da pressão sanguínea, bem como uma significativa redução de todo o sistema de defesa e imunidade, resultando em desgastes irreparáveis do aparelho respiratório e em todo o sistema orgânico do indivíduo. Além disso, dominada pela tensão, a vítima recusa-se a comer e beber e, a desidratação, contribui para diminuir ainda mais o volume de sangue em circulação. Este quadro já foi observado nos campos de batalha, em indivíduos traumatizados por bombardeios ou por episódios trágicos que presenciaram. 

Para a maioria dos ocidentais modernos, todas essas práticas de curandeirismo parecem bizarras e desprovidas de fundamento real. Nossa tendência natural e imediata é atribuí-las à ignorância de populações ingênuas, negando a eficácia dessas práticas. Contudo, não se deve olvidar que, para aqueles que acreditam em sua eficiência, o poder do curandeiro pode ser bastante efetivo, como o são, em pessoas com certos distúrbios psiquiátricos, a prática do exorcismo dos padres católicos, com os paramentos, palavras e símbolos cristãos que utilizam nas sessões. As igrejas Neopentecostais, ressalvados os casos de fraude, que não são poucos, fazem uso frequente de exorcismos públicos, muitas vezes transmitidos pela televisão em tempo real, usando pessoas com evidentes distúrbios psiquiátricos e facilmente influenciáveis. Esses elementos exercem o mesmo efeito dos empregados pelos primitivos curandeiros, nas pessoas que se acham possuídas por “forças malignas”, como atestam respeitados psiquiatras.

Concluímos, portanto, que conquanto muitos curandeiros das cidades sejam charlatões, os curandeiros não são necessariamente charlatões,. Muitos de seus remédios vieram a ser empregados pela ciência no tratamento de diversas doenças e inúmeras práticas que adotam são utilizadas e explicadas cientificamente pela psiquiatria moderna.


ENTREGA DE KITS ESCOLARES HÁ OITO ANOS - Michael Winetzki


      Há oito anos.  Entrega do primeiro kit de material escolar para crianças carentes em uma classe de uma escola no Bairro estrela D'Alva 10 em Luziânia, GO, local pobre e violento, como as comunidades do RJ. 
    O kit contem caderno, lápis, lápis de cor, régua, tesoura, borracha, apontador, dicionário, copos descartáveis e mais algum material didático. Serão distribuídos pela Profa. Janaína Veras, que leciona naquela escola e é esposa do VM de minha Loja, Ir.  Claudio Hugo Conelheiro (ao meu lado esquerdo na foto). Irmão Carlos Lyrio, o primeiro a esquerda ao lado do irmão Cláudio Hugo, e o irmão Paulo Victor a direita. 
     A aquisição foi feita com doações obtidas das Lojas onde fiz palestras e é uma campanha que venho repetindo há anos, mas em função da crise este ano tem sido muito pouco produtivo. 
    O resultado foi de 800 kits há dois anos distribuídos no DF e em GO e de apenas 50 kits até agora. Mas a campanha ainda continua neste mês de fevereiro.

fevereiro 07, 2024

SEM SOFISMO, EQUÍVOCO OU RESERVA MENTAL - Sérgio Qurino




Como bom mineiro, perguntaria: “Uai?! Há como prometer algo sem agir conforme prescrito no título?”.

A sutileza maçônica não está no PROMETER, mas no CUMPRIR.

PROMESSAS SÃO ATOS. COMPROMISSOS SÃO AÇÕES.

Todavia, atos e ações não são o mesmo? Não do ponto de vista maçônico! Atos são momentos, ações são intemporais.

A fim de facilitar o entendimento, pensemos nos juramentos. Em determinado minuto de uma hora, compreendida entre o meio-dia e a meia-noite de um dia memorável, juramos nos conservar cidadãos honestos e dignos e amigos de nossas famílias, sermos sinceros e nunca atentarmos contra a honra de ninguém, sobretudo a de nossos Irmãos.

 Juramos seguir as leis e as decisões, aumentar e aperfeiçoar nossos conhecimentos, buscando sempre nos tornarmos um elemento de paz, concórdia e harmonia no seio da Maçonaria.

Esse ATO realizado em determinado momento e local foi feito por todos nós. Quantos de nós, porém, indiferentemente de quando e onde estivermos, por AÇÕES, cumprem o que prometeram?

Por isso, é preciso que compreendamos estes três inimigos da Moral e da Ética: o Sofismo, o Equívoco e a Reserva Mental. São comuns em nosso meio, e a eles devemos VIGILÂNCIA e PERSEVERANÇA.

Ao localizarmos esses Vícios nos Irmãos, ativemos a Vigilância em nossos Atos.

Ao percebermos desvios em nossa conduta, ativemos a Virtude da Perseverança em nossas Ações.

No entanto, o que são e por que devemos estar atentos ao Sofismo, ao Equívoco e à Reserva Mental?

 “Sofismo ou sofisma significa um pensamento ou retórica que procura induzir ao erro, apresentada com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios e com a intenção de enganar. Em um sentido popular, um sofisma pode ser interpretado como uma mentira ou um ato de má-fé.” Muito usado pelos que possuem boa oratória.

“Equívoco é uma falácia informal que consiste em usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto, ou seja, é a utilização da mesma palavra, mas com um sentido diferente.” Muito usado pelos que gostam de Fake News.

 “Reserva Mental é quando uma pessoa emite uma declaração negocial, não conforme a sua própria crença, com o propósito de enganar a outra parte. Por exemplo: A. declara a B. que lhe tem apreço e estima, quando na realidade não há qualquer verdade nas declarações para com B, apenas interesses de A.” Muito usado pelos bajuladores do poder.

É possível, portanto, que alguém tenha reconhecido tais traços em algum Irmão e tenha lamentado ou se entristecido. Não tenha tais pensamentos e sentimentos.

A MAÇONARIA É PERFEITA, OS MAÇONS NÃO!


... *E NUM PISCAR DE OLHOS, TUDO SE VAI*... - Sidnei Godinho



Meu pai costumava brincar com a gente com charadas que ele ouvia dos caminhoneiros no posto de gasolina onde trabalhava.

Uma vez ele perguntou qual era a coisa mais rápida no mundo.

Tinha meus 10 anos, mas, graças ao personagem "THE FLASH", já sabia que a LUZ era a resposta. 

*ERREI*.

Ele também disse que não era o pensamento, ainda que eu pouco entendesse como mensurar esta velocidade do cérebro.

E, como sempre, rindo bastante, respondeu que a coisa mais veloz do mundo é a "Dor de Barriga", porquê quando vem não dá tempo de pensar nem de acender a luz.

Bons tempos...

Como queria eu que a vida fosse assim tão simples e que a compreensão do tempo, ou da velocidade como se passa, pudesse ser aceita através da brincadeira de um pai com seus filhos.

Mas não é... 

Esta semana, a perda repentina de uma Amiga, aos 39 anos, Esposa e Mãe, mais uma vez trouxe à tona o velho questionamento sobre o enigma que é a vida e a velocidade como tudo acontece.

Aliado à tragédia, o diagnóstico do covid-19 (Di novu. 😡) me fez relembrar os idos de 2020-2021, as angustiantes 48 hrs de espera por uma vaga na UTI e a perda dos Amigos que não tiveram o mesmo destino.

Por algum momento, e cada um tem o seu, a depressão se instala, silenciosa na análise fria da existência, do que fiz de certo e principalmente do que não fiz. 

Fui sincero no Amor, ou foram só Paixões? 

Honrei Pai e Mãe ou fiquei só nas reclamações de como foram austeros comigo? 

Dediquei-me ao aprimoramento profissional ou fiquei apenas comparando como o outro tem mais "sorte" do que eu? 

Contribuí para o melhoramento da Empresa ou passei os anos parado olhando a concorrente crescer? 

Perdoei as falhas nas relações ou me isolei na prepotência da certeza da verdade? 

Onde errei??? 

Ainda dá tempo para consertar? 

Enfim, a tristeza da perda de entes queridos e a consciência da fragilidade humana no enfrentamento de doenças que desafiam a razão, tanto físicas quanto psíquicas, nos dão conta de que não deveria ser martírio o ERRAR de vez em quando, o importante é o sempre APRENDER a ACERTAR. 

Não há como voltar e fazer diferente, mas ainda dá tempo de pedir perdão e ser feliz, pois:

... "E num simples "PISCAR DE OLHOS" toda uma existência se passa na sua frente e se esvai'...

Boas reflexões meus irmãos. 🙏 



fevereiro 06, 2024

A SALA DOS PASSOS PERDIDOS - Roberto Ribeiro Reis





Perdido é todo o passo

Que, alheio ao compasso,

À Sublime Lei não se submete;

O lugar afável do encontro,

Antes de se encontrar pronto

Ao trabalho que nos compete.


O ambiente do bom abraço,

Ajeitar a gravata, fazer o laço,

De em dia colocar a conversa;

A sala de muita fala é intensa,

Onde se registra toda presença,

De quando em vez se tergiversa.


O ingresso ao Templo antecede,

E naquele cômodo não se mede

A ânsia dos trabalhos começarem;

Do Templo é a famosa antessala,

Ali quase ninguém se cala

Antes dos objetivos alcançarem.


É o começo da perda do cansaço,

Um descontraído e ideal espaço

Do melhor convívio já existente;

É a prévia do fraterno aquecimento

Para entrar na casa de conhecimento,

Onde a Luz recebe a nossa gente!