fevereiro 16, 2024

SINDICÂNCIA: OS RESULTADOS SÃO REFLEXOS NA LOJA

 







Ao longo do tempo percebe-se que a eficácia durante um processo de Sindicância para o ingresso na Ordem Maçônica, por mais que se tente, tem se revelado um tanto frágil e inconsistente.

É evidente que a indicação de nomes que venham a fortalecer as colunas de uma Loja é uma preocupação constante e inequívoca, porém ao longo desse processo percebe-se de parte dos próprios IIr∴ Sindicantes um despreparo significativo para poder abstrair informações e dados palpáveis que possam ser levados em conta e discutidos quando da proposição do nome do Candidato em Loja.

Esse despreparo vem desde a tênue explanação do que consiste a Maçonaria, quais as suas características, natureza, missão e princípios.

Além disso, a própria maneira muitas vezes equivocada ou inadequada de indagar o Candidato, ou seja; a forma como se pergunta e as respostas que são dadas.

Não raro, percebe-se que o Candidato, rigorosamente nem sabe o porquê efetivamente deseja ser aceito em nossa sublime Ordem.

A Curiosidade, tem sido instrumento constantes dessas aferições.

Os chamados Augustos Mistérios muitas vezes são as iscas algozes de que se valem esses candidatos que tanto anseiam participar de nossa fraternidade.

Em muitos casos ao perguntar-lhe o porque deseja ingressar na Maçonaria, as respostas revelam-se absolutamente inócuas, vagas e sem a menor noção de seu propósito.

E é justamente nesse instante que o Ir∴ Sindicante deveria agir com a máxima cautela, prudência e discernimento explicando ao Candidato que a Maçonaria tem por finalidade o combate a ignorância, mas sobretudo a busca pelo progresso do ser humano em sua plenitude através de um processo Iniciático que exigirá empenho, dedicação, estudo, leitura e comprometimento.

Inúmeros são os exemplos daqueles que foram admitidos em nossa Ordem, mas que rigorosamente não tiveram ou não têm nenhum compromisso com a mesma.

Esse despreparo acaba influenciando na própria dinâmica dos trabalhos em Loja, posto que IIr∴ não-talhados paro o ofício mal conseguem desempenhar mínimos requisitos durante uma Sessão, tais como: a Marcha do Grau, os Sinais e Toques e sobretudo mal conseguem responder ao telhamento referente ao grau em que se encontram.

Cabe destacar que essas incongruências advêm justamente do fato de uma Sindicância mal elaborada que em muitos casos acaba aceitando no seio da Ordem candidatos que não reúnem um perfil minimamente viável para que possam desenvolver-se ao longo de sua trajetória maçônica.

Em muitas ocasiões deparamo-nos com IIr∴ dotados de extrema arrogância, vaidade e destempero que demonstram absoluta incompatibilidade com aquilo que a Maçonaria propõe e que espera de seus Obreiros.

A necessidade de aparecer, de falar (mesmo que com uma verborragia deficiente) e na maioria das vezes de forma inoportuna, ensejam uma aspecto desagradável e contraproducente no desenrolar de uma Sessão, tornando-a muitas vezes enfadonha, por falta de uma melhor orientação que deveria ocorrer desde o início, ou seja; quando o candidado foi entrevistado.

Que fique claro, contudo que isso não quer dizer que seja condição sine-qua-non que o Maçom seja dotado de extrema cultura ou intelectualidade. Nada disso. Mas o bom senso deve sempre imperar.

A Sindicância requer acuidade, agudeza na sua investida e sobretudo uma checagem detalhada sobre a vida pregressa do candidato.

É claro que existem as certidões de antecedentes que são exigidas antes de se proceder a entrevista e é fundamental que o Ir∴ Sindicante já possua elementos básicos do que poderá encontrar.

Posto isso, durante a entrevista em sí é sempre recomendável que quando a mesma for promovida na residência do Candidato que a esposa esteja presente.

Sentir o ambiente familiar é algo muito importante, sempre de forma ética, polida mas que se faça de maneira clara.

O mesmo se aplica no caso de uma entrevista no ambiente profissional.

Obviamente que sem jamais trazer qualquer tipo de constrangimento ou desconforto ao Candidato.

Conseguir abstrair daquele que pretende ingressar na Maçonaria seu temperamento, confiança, equiíbrio, sensatez nas respostas, e principalmente a sinceridade dos propósitos do Candidato são condições que o Ir∴ Sindicante deve buscar com o máximo esmero, contudo sempre pautado pela educação e pelo espírito esclarecedor.

Deixar evidenciado ao candidato que a Maçonaria não é uma Seita ou uma Religião é outro aspecto que deve ser claramente elucidado durante esse processo, posto que muitos Candidatos trazem consigo impressões equivocadas sobre a natureza de nossa Ordem.

Igualmente destacar a importância da responsabilidade econômica que o mesmo deverá arcar perante a Loja sem que isso venha trazer qualquer ônus a sua família.

Os exemplos de inadimplência são inúmeros.

Não raro deparamo-nos em Loja com Irmãos fazendo citações bíblicas, tecendo considerações eclesiásticas como se estivessem no seio de alguma Igreja. Isso chama-se falta de orientação.

Ainda reflexo de uma Sindicância mal elaborada encontramos hoje em dia um vasto número de Irmãos cujo linguajar tanto escrito quanto oral vem deteriorando e ferindo a própria semântica maçônica. Exemplo claro disso é a expressão “MANO” – hoje recorrente no seio da Maçonaria – tal qual torcedores de futebol que acabam por utilizá-la entre seus pares.

Isso é realmente lastimável, posto que em uma instituição cujos, Costumes, Usos e Tradições tão fortes e sedimentados como a Maçonaria, a forma de tratamento através do substantivo “IRMÃO” é o que denota em sí a força da própria FRATERNIDADE como aliança inquebrantável de nossas Obras.

IRMÃO SIM! MANO NÃO!

O substantivo “Irmão” denota a clara relação de ligação, de união, de força, de espírito conciliador, de propósitos comuns que convergem para os princípios maçônicos de Igualdade.

Esse exercício deve ser obedecido aos primeiros contatos com aquele que pretende ingressar na Ordem, pois a Maçonaria é perene exatamente em razão das tradições que ela mantém.

Nesse sentido cabe exaltar que manter as tradições não significa ser retrógrado. Muito pelo contrário.

Significa sim, trabalhar pela manutenção de uma Instituição cuja maior preocupação reside na prática do bem e da busca pelo aprimoramento contínuo do ser humano.

É inegável mencionar que a Sindicância inconsistente e que não obedece critérios rígidos para o ingresso de novos Maçons à Ordem acaba por ensejar um êxodo muito grande de Irmãos que foram admitidos, compareceram em uma, duas ou poucas mais Sessões e simplesmente desaparecem, sem nem ao menos dar qualquer tipo de satisfação.

Trata-se de um episódio recorrente que acaba frustrando toda a Loja que se esmera por recepcionar o recém-iniciado e para a insatisfação de todos e em especial do Veneráve Mestre e do Irmão Apresentante produzir uma sensação de vazio e ao mesmo tempo de indignação.

Em nosso País o problema cultural e a desinformação acabam sendo os maiores entraves que encontramos no que se refere ao comprometimento e juramento solene que o candidato faz durante a sua Inciação. Seriedade e Disciplina são fatores que devem ser observados enfáticamente ao Candidato no processo de sindicância.

Talvez a falta de maturidade do Candidato aliada a falta de melhores esclarecimentos e orientações daquele que convida para o ingresso na Maçonaria sejam outros aspectos negativos que tem contribuído decisivamente para esse cenário desfavorável.

Lembrando por fim que o vocábulo sindicância é derivado etimologicamente de “sindicar + ancia” e significa Inquérito.

A palavra Sindicar tem sua origem em “Sindico + ar, e Sindico, do grego “Sundikos” e do latim “Syndicu”, era a denominação dada ao “antigo procurador de comunidade ou cortes”.

O conceito de sindicar é o de tomar informações de (alguma coisa ou de alguém) por virtude de ordem superior; inquirir.” 

(Dicionário Etimológico)

A DOR DE SER FORTE" - Edgard Abbehusen


Essa ideia de ser forte o tempo todo é um mito, uma lenda vendida como verdade. As pessoas mais fortes que conheci compartilhavam a coragem de expor suas fraquezas. 

Permitiam-se chorar, falavam sobre seus medos, suas dúvidas, pediam ajuda. Ser forte não significa resistir a tudo a qualquer custo, mas sim reconhecer e respeitar seus limites. 

A verdadeira força reside na capacidade de se permitir sentir, de se abrir, de ser vulnerável. 

E acredite: às vezes, o ato mais corajoso que você pode realizar é simplesmente pausar. Respirar. Cuidar de si mesmo.

 Essa é a maior demonstração de força que existe ... 



ESTAÇÕES DO ANO, ANDANÇA E O APERFEIÇOAMENTO- Lucas de Oliveira Almeida


"Por que você me pergunta? Perguntas não vão lhe mostrar... Que eu sou feito da terra... Do fogo, da água e do ar..." Gita, Raul Seixas. 


VITRIOL, Visita o Teu Interior, Purificando-te, Encontrarás o Teu Eu Oculto, ou, "a essência da tua alma humana". Vencidas as provas da Terra, do Ar, da Água e do Fogo, o Neófito (nova planta) é colocado no Topo da Coluna do Norte (lado mais escuro). Na Coluna Zodiacal de Áries, representando a PRIMAVERA. 


"Temperaturas mais amenas e agradáveis. Os índices pluviométricos começam a aumentar. Nessa estação, os dias começam a alongar-se, e a noite a encurtar-se. Caracteriza-se também pelo reflorescimento da flora terrestre." Nessa temperatura amena e agradável o Aprendiz Maçom deve observar, conviver e começar a utilizar as primeiras ferramentas de trabalho.  


Continuando a andança, o Aprendiz passa pelas Colunas de Touro e Gêmeos. Vencida a primavera, o Aprendiz Maçom chega no VERÃO (Câncer, Leão e Virgem).


"É caracterizado por altas temperaturas e dias mais longos do que as noites. Essa estação costuma apresentar altos índices pluviométricos." O Aprendiz Maçom um pouco mais experiente já tem maior compreensão das ferramentas e do seu mister.  Deve reforçar a sua Crença em um Ser Supremo.


Vencida a sua andança na Coluna do Norte, o Companheiro Maçom inicia a sua jornada na Coluna do Sul (Libra, Escorpião e Sagitário). Essa fase da andança representa o OUTONO.


"É o período do ano no qual as temperaturas começam a cair, exceto nas regiões que se localizam próximas ao Equador. Nessa estação, as folhas das árvores apresentam tonalidades amareladas e caem, indicando a mudança de uma estação para outra. O outono é considerado, portanto, um período de transição." Nessa transição o Companheiro Maçom deve mostrar persistência e aptidão para o trabalho.


Superada essa fase, o Mestre Maçom chega nas Colunas Zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Estamos no INVERNO


"É caracterizado por apresentar as menores temperaturas do ano. Nessa época, é comum a migração de espécies de animais para regiões em que as temperaturas estão mais elevadas. Em diversas localidades, ocorrem geadas e nevascas nessa estação. Caracteriza-se também por noites mais longas do que os dias em virtude da menor incidência de raios solares na região em que esteja vigente." Nessa fase o Mestre deve meditar na escuridão, demonstrar equilíbrio e reforçar a crença na imortalidade da alma.


"As estações do ano ocorrem em decorrência da inclinação da Terra em relação ao Sol. O movimento de rotação (giro em torno de seu próprio eixo) do planeta possibilita a existência do dia e da noite. A Terra também realiza o movimento de translação (giro em torno do Sol) e, em virtude da sua inclinação em relação ao seu plano orbital, a incidência solar é diferente nos hemisférios."


A andança/jornada de aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual do Maçom nunca chega ao fim. Só no momento em que parte para o Oriente Eterno. 


"No passo da estrada só faço andar... E jamais termina meu caminhar..." Andança, Beth Carvalho.


Segundo Pedro Juk: "O Iniciado, ao percorrer a senda demarcada pelas colunas zodiacais simula o seu aprimoramento como Aprendiz (infância-adolescência) nas seis primeiras colunas, de Áries até Virgem (Norte); o Companheiro (juventude) em Libra ao Sul e o Mestre prossegue nas colunas restantes em direção ao solstício de Inverno quando a Natureza se prepara para ficar viúva do Sol (vide cultos solares da Antiguidade)."


"Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias. Para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias. Lao-Tsé"


"Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância. John F. Kennedy"

fevereiro 15, 2024

EU, GALILEU GALILEI - Jorge Gonçalves


"A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende, pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito humano é obra de Deus, e a mais notável" Galileu Galilei 


Há 460 anos, em 15 de fevereiro de 1564, nascia Galileu Galilei (1564-1642), um dos meus heróis, físico, matemático e astrônomo italiano. 

Ele foi o primeiro a construir e usar um telescópio para observar o céu, confirmando o sistema heliocêntrico (o Sol no centro do sistema solar). 

Entretanto, em 1633, ele foi considerado culpado pela Inquisição por defender essa teoria, que contradizia a visão geocêntrica (a Terra no centro do universo) da Igreja Católica.

Ele foi obrigado a  abjurar publicamente o heliocentrismo e passou o resto da sua vida em prisão domiciliar.

*Bibliografia*

Galileu Galilei: um revolucionário e seu tempo/Atle Naess; tradução George Schlesinger. - 1.ed. - Rio de Janeiro: Zahar, 20

BAILE DE MÁSCARAS CARNAVAL - Newton Agrella*


Registros históricos dão-nos conta que ao longo da Idade Média - que se revelou como a Era do Obscurantismo, também chamada de Período das Trevas, no que diz respeito à  Ignorância humana - surgiram na Europa, mais particularmente na Itália e na França, os chamados "Bailes de Máscaras".  

Esses Bailes são tidos como os precursores do Carnaval, que no Brasil tiveram suas primeiras manifestações na cidade do Rio de Janeiro com a vinda da Família Real Portuguesa sob a liderança de D.João VI no século 17 e ganharam popularidade a partir da 3a.década do século 19.

Se por um lado a máscara serve para esconder, ocultar e disfarçar o que de algum modo confere-lhe um aspecto pejorativo e negativo, por outro, ela concebe o propósito da segurança, da proteção e de certo modo, do anonimato.

O que não se consegue abstrair no entanto é se a Máscara dos governantes tem como finalidade esconder ou proteger.

Fato inconteste porém, é que o baile da alta cúpula na soberana corte tupiniquim  desconhece crise, e contínua usando máscaras que mais se aproximam de

"Antolhos", acessório que se coloca na cabeça de animal de montaria ou carga para limitar sua visão e forçá-lo a olhar apenas para a frente, e não para os lados, evitando assim, que no caso da alta cúpula tenham que enxergar todo o sofrimento e vicissitudes de que o povo em sua imensa maioria padece.

A consciência crítica ganha tons estóicos de impassividade.



NÃO SEJA MAÇOM...













. Se queres descanso, não seja maçom pois o trabalho é contínuo.

. Se queres ser beneficiado, não seja maçom, pois se promove benefícios e não vivemos em prol dele.

. Se queres paz, não seja maçom pois o maçom está em guerra constante contra os vícios.

. Se sois egoísta não seja maçom, pois compartilhar é um hábito, pensar em si é inviável, mas devemos pensar e agir para todos!

. Se desejas enriquecer, não seja maçom, pois o patrimônio de um maçom não é avaliado pelos seus bens mas pelas suas atitudes.

. Se sois arrogante nunca seja maçom, pois a humildade é uma virtude constante, demonstrada em todos os momentos!

. Se sois demasiadamente religioso, não seja maçom pois religião não salva ninguém, o maçom não é religioso mas vive a sua religião!

. Se gosta de prazeres, não seja maçom pois devemos ignorá-los vez que são temporários!

. Não seja um maçom, mas o maçom, não faça parte, faça a diferença!

. Não seja o pior não seja o melhor, seja você mesmo!

. Se você é arrogante, não seja maçom pois o desprezo é sintoma de maldade, e a maldade é a principal inimiga do maçom.

. Se você é omisso não seja maçom, pois a iniciativa é notável no maçom!

. Se é preconceituoso não seja maçom, pois a igualdade é um pilar marcante na vida do maçom!


Fonte: Grupo Dúvidas sobre Maçonaria.'.

VALORES MAÇÔNICOS: A TOLERÂNCIA - M. Chaudiére


Paradoxo da tolerância

A construção de uma sociedade fundada em valores que fortaleçam a tolerância mútua exige o estudo das formas de intolerância e das suas manifestações concretas. Hoje os nossos códigos de direito definem e condenam vários tipos de intolerância, por exemplo: racial, política, religiosa, etc. Trata-se, portanto, de uma questão social, económica e política.

Historicamente foram vários os significados dados à palavra tolerância, muito relacionada com a caridade, a igualdade e a afirmação da liberdade de crenças e de costumes do outro. O conceito que se afirma como o mais preponderante está relacionado com a nossa predisposição adquirida para acolher o diferente, destaca-se a especificidade da tolerância como virtude e como ideal da vida em comum.

Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a “boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas”.

No dicionário do Aurélio (1983) é definida como “tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos” 

Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em 1689 e o Tratado sobre a tolerância publicado por Voltaire em 1763.

O filósofo francês Voltaire refere que Tolerância: “É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras” (p. 289).  A tolerância de que fala o filósofo francês visa a supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um “atributo da humanidade”.  Não se trata apenas de uma estratégia para atingir a pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade. Negar a alguém o direito de pensar livremente e de agir em conformidade com os seus próprios critérios seria, a partir desta perspectiva, recusar-lhe a autenticidade de sua natureza e a integração no seio da humanidade a que, como pessoa livre, tem direito.

Apesar da origem do sentido de tolerância datar do século XVI, e ter sido discutida pelos grandes filósofos franceses Descartes, Rousseau e Voltaire, a identificação da tolerância com a noção de liberdade religiosa e de pensamento, passou a ser exigida, mas nem sempre respeitada, há bem pouco tempo, se considerarmos os absurdos acontecidos há pouco mais de 100 anos. É quando se tem notícia de fatos de intolerância religiosa punidos pela lei. Temos conhecimento de crimes bárbaros cometidos em nome da intolerância religiosa, que até nossos dias têm assolado os seguidores de doutrinas mais recentes.

O verdadeiro Cristão combate com firmeza atos ou crenças que possam conduzir a humanidade ao fanatismo religioso, com a única arma admissível: o Evangelho. Esta atitude possibilita sugerir os faltosos ou culpados a redirecionarem seu pensamento ou tendência. Os Profetas bíblicos eram homens temíveis! A coragem, ousadia, capacidade de luta e selo de verdade que lhes era impresso por Deus, fazia deles autênticos “guerreiros” desse mesmo Deus. O Profeta interessava-se, em primeiro lugar, pela conduta ética e moral, quer sua, quer dos outros. A força da mensagem das suas palavras estava no serviço que prestava para que a verdade, a justiça, a defesa do mais débil, … norteassem a conduta de uma comunidade política, religiosa e familiar. Estes Profetas conheciam a tolerância? Sim, eram tolerantes com quem reconhecia o erro e mudava de conduta. Todavia, eram intolerantes com a mentira, a mediocridade, a tirania. Por isso, em geral, eram perseguidos e mortos por quem tinha o poder e os considerava uns “desestabilizadores.

A nossa sociedade é carente dessa importante virtude, que possibilita a convivência fraterna entre as diversas tendências religiosas, ensinando que devemos respeitar e aceitar, com suficiente humildade as diferenças e desníveis inerentes ao padrão de individualização, nela, existente. Torna-se necessário compreender a virtude da tolerância como imperativo essencial ao pleno exercício da atividade religiosa, por ser esse o único caminho possível para suplantar os obstáculos e alcançar a plena solidariedade e o espírito fraterno.

Por sermos humanos, e sendo a natureza humana contraditória e imperfeita, por vezes podemos ser tomados de comportamentos egoístas ou sermos atraídos pela chama da fogueira das vaidades. Aquilo que nos outros é diferente de mim não é um defeito, pode muito bem ser uma virtude que posso e devo aprender. Não deixes que a vontade de ir à frente te seduza, nem temas ficar para trás…

Somos diferentes. Somos únicos. Isso é bom. Muito bom. A partir daqui podemos optar por aceitar a convivência como uma guerra ou como uma excelente forma de nos enriquecermos uns aos outros. A tolerância não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento do direito que têm aqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma diferente ou contrária às nossas crenças.  Reconhecer o direito do nosso semelhante ser diferente não nos obriga ser igual a ele.

Mesmo o mais ferrenho defensor da liberdade de expressão pode se ver diante de circunstâncias que a questione. Por exemplo, é possível tolerar a liberdade de expressão quando esta ataca a religião e os bons costumes?

Concluindo entendo que a tolerância constitui uma dádiva preciosa e frágil, que deve ser cultivada para solidificar a noção de fraternidade entre nós. A tolerância não implica que me demita de identificar o erro. O facto de, objetivamente, o encontrarmos (v.g.) no que uma pessoa diz ou faz e o declararmos tal, não traduz uma atitude de intolerância. Por outro lado, o estar de acordo com alguém, nada tem de tolerância; significa, simplesmente, concordar. A tolerância é uma atitude cívica, mas como tal não pode escamotear a verdade. Trata-se, no fundo, de capacidade para aceitar a diferença, sem nunca escamotear ou fugir à verdade num diálogo racional.

A intolerância inviabiliza entendimentos e gera o caos por obscurecer princípios básicos e, consequentemente, dar lugar às tiranias e impiedades.

Quando a tolerância norteia atitudes, alcança-se um grau admirável de civilidade, com desdobramentos na organização social e política. Já a direção oposta a esse qualificado modo de agir leva ao crescimento das segregações, do ódio e das disputas que alimentam os focos de guerra, gerando xenofobias e massas de refugiados perseguidos. As consequências também são percebidas nos lares, nas empresas e nas repartições públicas, frequentemente contaminados pela desarmonia.

No horizonte amplo e fundamental do conceito de tolerância, é urgente exercê-la, especialmente, trilhando os caminhos de uma espiritualidade que pode, com mais eficácia e rapidez, qualificar cada pessoa para conviver com quem é diferente. Nesse sentido, oportunidade de ouro é conhecer o Evangelho da Tolerância, que reflete o jeito de uma pessoa:

Evangelho da tolerância

A vida de Jesus é o Evangelho da Tolerância, escrito para nortear os gestos quotidianos de todos e, assim, sustentar grandes transformações. A luz desse Evangelho balizou a essencialidade das práticas do cristianismo em ligação com as outras religiões. Foram encontros guiados por valores que superam a mesquinhez do egoísmo e permitem compreender que qualquer tipo de discriminação é inadmissível.

Nesse rico Evangelho da Tolerância, há um núcleo fundamental, nascido no coração de Jesus e eternamente desenhado por suas palavras: o Sermão da Montanha (capítulos cinco a sete) apresentado pelo evangelista Mateus. Trata-se de uma leitura a ser adotada diariamente, em jeito de meditação e que orienta as práticas do dia a dia. A preciosidade desse núcleo pode ser reconhecida a partir do comentário instigador e provocante de Mahatma Gandhi, ao dizer que se os cristãos levassem a sério o Sermão da Montanha, operariam uma radical revolução no mundo, nas relações e nos propósitos, desencadeando uma civilização fundamentada no amor e na paz.

“A tolerância é uma necessidade de todos os tempos e para todas as raças. Mas tolerância não significa aceitar o que se tolera.” Gandhi

O exercício diário de ler o Sermão da Montanha é simples e custa muito pouco, somente o tempo do silêncio restaurador, que também é fonte de sabedoria e saúde. Por isso, todos são convidados a praticá-lo, reservando um breve momento para, individualmente, em família, no trabalho ou mesmo na roda de amigos, ler um trecho, ainda que seja um só versículo. Assim é possível exercitar o coração e a vida no Evangelho da Tolerância.

Esta passagem forma um paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que “… Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração” (I Samuel 16.7). .

No Sermão da Montanha o evangelista Mateus está a apresentar Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha (talvez, apenas uma colina), pois Moisés tinha recebido os 10 Mandamentos no monte Sinai.


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SUMÉRIA E SUMÉRIOS


Sumérios

1º povo a habitar a Mesopotâmia, os sumérios inventaram várias coisas, entre elas, a escrita cuneiforme, sistemas de drenagem e irrigação, além de terem arquitetura avançada.

Os sumérios foram os primeiros povos que habitaram a Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, protegida por deserto, braço de mar e banhada por esses rios, que garantiam a agricultura, local onde mais tarde ocorreram constantes disputas.

Os sumérios se organizavam em cidades-estados e não tinham governo centralizado, o que facilitou o domínio dos acádios, por volta de 2500 a.C. Eram politeístas e construíam templos com arquitetura bastante avançada, chamados de zigurates. Inventaram a escrita cuneiforme, com 2000 símbolos, realizada em argila com instrumentos em formato de concha ou colher. Esses escritos influenciaram até mesmo a Bíblia.

Resumo sobre os sumérios

A sociedade suméria era inicialmente organizada pelos sacerdotes em cada cidade-estado, que tinham como missão agradar os deuses. Para isso, tinham que manter a população como serva. Ao longo do tempo, essa organização mudou e cada uma dessas cidades-estados passou a ter um rei; elas eram cercadas por muralhas e guerreavam muito entre si.

A economia suméria era baseada na agricultura, com plantações de tâmaras, cevada e trigo e criação de animais como gado, ovelhas e cabras. Nas cidades, eram feitos artesanatos e cerâmica.

O governo sumério era descentralizado. Cada cidade-estado era autônoma.

A cultura suméria era baseada, principalmente, no culto aos deuses, pois eles eram politeístas. Destacaram-se muito também na arquitetura, na construção dos zigurates.

A língua dos sumérios foi a primeira do mundo.

A escrita cuneiforme foi inventada pelos sumérios e era feita através de instrumentos com os quais eles cavavam na argila. Existiam mais de 2000 símbolos. A escrita auxiliava muito na contabilidade, ou seja, na economia suméria.

Características dos sumérios

A civilização suméria pode ser caracterizada principalmente por:

• sua organização política em cidades-estados;

• os avanços em arquitetura, comércio e agricultura;

• a invenção do calendário, por volta de 2700 a.C.;

• a criação da escrita cuneiforme;

• a produção agrícola e de artesanato;

• a concepção de um sistema de irrigação;

• o politeísmo.

Língua dos Sumérios

A língua desenvolvida pelos sumérios não tem relação alguma com nenhuma outra que existiu depois dela. É a língua mais antiga do mundo e foi descoberta apenas no século XIX por pesquisadores que foram à região na tentativa de comprovar histórias bíblicas; eles acabaram encontrando todo o alfabeto da escrita cuneiforme.

Curiosidades sobre os Sumérios

Além de todas as criações e descobertas dos sumérios, já mencionadas, eles também fizeram os primeiros livros. Entre eles, um de química, que tratava de questões do universo, como corpos celestes e cálculos matemáticos.

Alguns historiadores defendem que eles inventaram também o primeiro veículo do mundo, que seria feito de rodas puxadas por animais.

Suas tábuas serviram de inspiração para trechos da Bíblia.

https://www.historiadomundo.com.br/sumeria/historia-sumerios.htm

fevereiro 14, 2024

PASSADO O CARNAVAL, TUDO É CINZAS! - Denizart Silveira de Oliveira Filho


Gosto muito do texto de Salomão em  Eclesiastes que nos diz: “Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade. Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?” (Eclesiastes 2:1-2).

Imagino Salomão vivendo nos nossos dias. Talvez, o Carnaval do Brasil fosse o lugar onde tentaria descobrir o sentido da vida na busca pelo prazer. Então, na companhia de muitas mulheres, talvez caísse na folia. E, quanto à cerveja, “beberia todas” e seria o maior da avenida. No momento, diria, que a vida era boa, mas, depois de quatro dias de folia, ele concluiria que o carnaval também é um correr atrás do vento. E então, escreveria isso: hoje é quarta feira. Esfriam-se os tamborins e os foliões voltam à rotina. O show já terminou. É hora de tirar as máscaras e cair na real. Na passarela da vida, a alegria passou como confetes lançados ao ar. Nos pés, bolhas e inchaços. Na cabeça, o remorso brilha como purpurina, fruto de uma barganha louca do “tudo por prazer”. 

É como nos disse o Pr. Adir Eleotério de Almeida com respeito ao Carnaval: “Antes que queime sua honra, sua dignidade e sua vergonha; antes que sua vida espiritual se torne uma vida carnal e você, um produto perecível; antes que você deteste aquele sorriso bobo e a cara de assustado dos mais de mil palhaços no salão; antes que a arvore de seus sonhos, se torne em galhos secos; antes que as chamas da morte atinjam estes galhos e na quarta-feira esses galhos virem cinzas, LEMBRE-SE DO SEU CRIADOR”. 

É isso! É como nos diz aquele texto bíblico, que aconselha a “A Mocidade a preparar-se para a Velhice e para a Morte”, e que é lido na abertura dos trabalhos de um certo Grau da Maçonaria do REAA: “(1) Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; (7) E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. (8) Vaidade de vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade”. 

De carnaval em carnaval, tudo vira cinzas. É fumaça de vida esvaindo ao ar! É ilusão, canseira, enfado e aflição de espírito! É vaidade!

Irmãos! Vamos dar um “Cartão Vermelho” para o Carnaval, esse espetáculo de almas vazias; cultura inútil pela qual nosso país é conhecido e ridicularizado em todo mundo; a festa mais imoral do planeta; um caos à céu aberto em prol da diversão, da luxúria e do hedonismo, e pasmem, considerada nosso patrimônio cultural! Vamos dar um “Xeque-mate” no rei momo! Busquemos a Deus, o rei do riso, e descubramos o verdadeiro sentido da vida e o prazer de viver! Porque é Deus que nos dá a VIDA e VIDA em abundância! Conforme nos diz João 10:10.

A MAÇONARIA E A FILOSOFIA - Fonte: Loja São Paulo 43


  

"A filosofia é a totalidade do conhecimento". (Aristóteles)

A Maçonaria buscou sua essência filosófica, nas mais diversas escolas do pensamento humano.

É possível descobri-la entre os filósofos gregos, dos períodos romano e helenístico. Sua identificação fica mais clara ainda, quase que em sua totalidade, junto às escolas filosóficas modernas: Renascimento, Racionalismo e Iluminismo.

O grande objetivo das escolas modernas, era a liberação da consciência humana.

Além da prática do livre pensamento, a filosofia moderna traz impregnada em sua estrutura, um programa que vai desde a valorização da vida natural, passando pela ciência e investigação científica, até o reconhecimento dos valores e direitos individuais.

ESCOLA DO FILOSOFAR

A Maçonaria é uma instituição universal, fundamentalmente filosófica, trabalha pelo advento da justiça, da solidariedade e da paz entre os homens.

De acordo com o grande professor, Irmão Moisés Mussa Battal, da Grande Loja Maçônica do Chile, a Maçonaria não é uma escola filosófica, mas uma escola do filosofar.

"A tarefa essencial da filosofia maçônica é irradiar a luz de nossos princípios e de nossos hábitos para melhorar a condição humana. Mais que monovalente, ou seja, de uma só linha, de uma só raiz, ela é polivalente. Tem vertentes, então, que a alimentam e ela se reparte como um delta no mundo profano. É tradicionalista e às vezes progressista; isto parece um paradoxo, mas não o é; tradição é conservar o melhor do passado para utiliza-lo em compreender mais o presente e preparar um porvir melhor que o presente. Ela não é o ensinamento de um conjunto de normas e princípios; nem um pensar exclusivo e excludente; é uma reflexão da vida e para a vida".

A FILOSOFIA MAÇÔNICA

Em "Lições de Filosofia e Maçônica" o Irmão Moisés Mussa Battal, traz diversas e importantes definições sobre o tema.

"A filosofia maçônica separa o valioso do sem valor nas doutrinas e sistemas que a História conheceu; o permanente, constante, do arcaico, e o proveitoso para o homem e a sociedade do inútil para ele.

A filosofia maçônica coloca o homem no centro de sua preocupação e trabalha pela crescente melhora de suas condições vitais.

A filosofia maçônica nos incita a procurar para o homem a dignidade, o decoro, a consideração e o respeito `a sua personalidade, cinzelada nas contingências da vida, enquanto ela se desenrola em torno de um temperamento, de uma vontade, uma inteligência e uma vocação.

A filosofia maçônica deseja que o ser e a existência do homem girem em torno de três valores superiores que a História destacou como as maiores conquistas da humanidade: liberdade, igualdade e fraternidade. Ela pondera mais que nenhuma outra, dentre as três, a fraternidade, pela transcendência e os benefícios que implica e abarca tanto na esfera do individual como no coletivo.

A filosofia maçônica quer defender o homem da ignorância e da incultura, dos temores e das necessidades, da exploração e das injustiças, do fanatismo do dogma, dos tabus sobretudo da opressão e das tiranias interiores e exteriores de qualquer classe.

A filosofia maçônica deseja situar o homem numa sociedade onde reine a ordem e o trabalho, a igualdade de possibilidades e de oportunidades, a paz e o progresso, a competência não bastarda, mas que desenvolva as capacidades e as iniciativas, e a cooperação e a solidariedade contidas em seu ser. Quer prepara-lo para viver e atuar inteligente e construtivamente num regime democrático e conseguir a melhora e o aperfeiçoamento deste seu regime, de maneira que alcance o que ele ofereça nos campos econômico, social, cultural e político. E defende o regime democrático porque, até agora, é o que melhor se apresentou. E o quer total e não parcial.

A filosofia maçônica quer faze-lo sentir e segurar e incorporar a seu ser e existência esta noção da independência, da interação, da intercomunicação dos indivíduos e dos grupos e dos povos da humanidade. Ao procurar-lhe esta consciência está fundamentando a fraternidade humana, a paz e a solidariedade.

A filosofia maçônica mostra ao homem o incalculável valor da arte de pensar bem e do domínio humano, pelo saber, sobre a natureza e a sociedade. Ela lhe mostra, também, o valor incalculável do livre exame e da dúvida metódica e o domínio sobre os meios e instrumentos que reclamam uma ação sábia, prudente e eficaz. Evidencia e demonstra-lhe que a ciência e a lógica, em que pese sua eficiência e utilidade, não satisfazem toda a ânsia humana de saber nem sobrepujam nem superpassam as contingências na existência humana. Demonstra a ele que o concerto harmônico de cérebro, mão e coração é superior a todo intelectualismo enfermiço, a todo falso ou aparatoso romantismo, a todo predomínio controlado da técnica desumanizada. Procura fazer que sua vida se deslize dentro do triângulo áureo da verdade, do bem e da beleza. E que uma vez organizada e afinada sua vida, ela se ponha ao serviço do bem comum. Forma homens, forma dirigentes, forma combatentes pela verdade e o bem. Acende no homem sua fé e seu entusiasmo em torno das possibilidades de superação que há em todos os indivíduos e em todos os povos. Consolida sua crença em que o superior emerge do inferior e em que um transformismo meliorativo, que melhora a condição humana, é factível não somente na condição humana, mas em toda ordem de coisas. Trata de dissipar nele toda burla e perda do sentido de universalidade, todo resto de cepticismo infecundo e sobretudo toda mostra de dúvida constante e cega, pirrônica. Sustenta no homem sua adesão insubornável aos poderes do entendimento e da razão, mas sem menosprezar os aportamentos empíricos da experiência. Leva-o a apoiar-se num positivismo científico e não estacar-se no exercício da meditação e das lucubrações nos campos metafísicos da ontologia, da gnoseologia e da axiologia. Reforça suas preocupações e seus estudos comparados em torno das religiões para retemperar nela a tolerância; respeitar a inata religiosidade e abraçar um deísmo ou um gnosticismo equidistante do ateísmo estéril e do teísmo anticientífico e antirracional, sempre eivado de sectarismo e de proselitismo anacrônicos. Ele é levado a assumir uma atitude tolerante frente ao magismo, ou seja, à magia e à parapsicologia; mas também evitar que se entregue com entusiasmo infundado estas ocupações; logo verá, diz, a luz pelo caminho da investigação nestes casos em particular.

A filosofia maçônica está ao lado do espiritualismo, sem deixar de considerar e ponderar o que houver de valioso e provado nas correntes materialistas. Adere ao postulado que está acima do individualismo e do coletivismo obcecado e segundo o qual o indivíduo existe em, por e para a sociedade e esta, ou seja, a sociedade, existe por e para o indivíduo. Exalta a preocupação pela existência humana, seus problemas, suas preocupações, suas esperanças, mas sem cair nas garras do existencialismo, sobretudo do pessimista tétrico e aniquilador.

Confirma no homem a necessidade da organização e da hierarquia, da direção, da subordinação, dos regulamentos; da consequente seleção no ingresso e na ascensão, até a formação de um agrupamento humano de elite. Da disciplina consciente e aceita; da divisão do trabalho e da cooperação e da solidariedade institucionais.

Recorre aos continentes constantes, símbolos, números, alegorias, rituais etc. (ver simbolismo na maçonaria), para moldar neles os conteúdos circunstanciais das épocas históricas e manter assim a persistência das doutrinas e dos costumes, conforme à lei de constante mudança e do vaivém ideológico e das modas imperantes. Reforça o caráter prospectivo do homem e a vantagem de que se fixem metas e fins preestabelecidos em sua existência, objetivos e fins que possa alcançar, utilizando o poder, o saber, a estabilidade emocional e a serenidade.

Aproxima-se a filosofia maçônica do socratismo e do aristotelismo e mais, ainda, do estoicismo e do senequismo, às posições renascentistas e racionalistas; inviolavelmente adicta a Ilustração ou Iluminismo; ligada estreitamente ao criticismo kantiano; ao espiritualismo; ao positivismo e, particularmente, ao evolucionismo e à filosofia da vida; ela se retira certa e efetivamente da órbita de Nietzsche e de Marx, de Sartre e de Camus que atentam contra a personalidade humana; e tem contatos, em compensação, à distância, com o intuicionismo e os movimentos fenomenológicos prospectivos e axiológicos.

Esta é, numa síntese abreviada, muito reduzida e quase esquemática, a relação de como a filosofia maçônica enquadrou-se na filosofia geral e extraiu estas posições e destas tendências".

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Maçonaria é uma Ordem Universal, formada por homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em Lojas, nas quais, por métodos ou meios racionais, auxiliados por símbolos e alegorias, estudam e trabalham para a construção da Sociedade Humana.

É fundada no Amor Fraternal, na esperança de que com Amor a Deus, à Pátria, à Família e ao Próximo, com Tolerância, Virtude e Sabedoria, com a constante e livre investigação da Verdade, com o progresso do Conhecimento Humano, das Ciências e das Artes, sob a tríade - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - dentro dos princípios da Razão e da Justiça, o mundo alcance a Felicidade Geral e a Paz Universal.

Desse enunciado, deduzem-se os seguintes corolários:

a. A Maçonaria proclama, desde a sua origem, a existência de um PRINCÍPIO CRIADOR, ao qual, em respeito a todas a religiões, denomina Grande Arquiteto do Universo;

b. A Maçonaria não impõe limites à livre investigação da Verdade e, para garantir essa liberdade, exige de todos a maior tolerância;

c. A Maçonaria é acessível aos homens de todas as classes, crenças religiosas e opiniões políticas, excetuando aquelas que privem o homem da liberdade de consciência, restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana, ou que exijam submissão incondicional aos seus chefes, ou façam deles - direta ou indiretamente - instrumento de destruição, ou ainda, privem o homem da liberdade de manifestação do pensamento;

d. A Maçonaria Simbólica se divide em três Graus, universalmente Reconhecidos e adotados: Aprendiz, Companheiro e Mestre;

e. A Maçonaria, cujo objetivo é combater a ignorância em todas as suas Modalidades, constitui-se numa escola mútua, impondo o seguinte Programa:

- obedecer às leis democráticas do País;

- viver segundo os ditames da Honra;

- praticar a Justiça;

- amar ao Próximo;

- trabalhar pela felicidade do Gênero Humano, até conseguir sua emancipação progressiva e pacífica.

f. A Maçonaria proíbe, expressamente, toda discussão religiosa sectária ou político-partidária em seus Templos;

g. A Maçonaria adota o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, como suas Três Grandes Luzes Emblemáticas. Durante os trabalhos, em Loja, deverão estar sempre sobre o Altar dos Juramentos, na forma determinada nos Rituais;

A par desta Definição de Princípios Fundamentais, e da declaração formal de aceitação dos Landmarks, codificados por Albert Gallatin Mackey, a Maçonaria proclama, também, os seguintes postulados:

I - Amar a Deus, à Pátria, à Família e à Humanidade;

II - Exigir de seus membros boa reputação moral, cívica, social e familiar, pugnando pelo aperfeiçoamento dos costumes;

III - Lutar pelo princípio da Equidade, dando a cada um o que for justo, de acordo com sua capacidade, obras e méritos; IV - Combater o fanatismo e as paixões que acarretam o obscurantismo; V - Praticar a Caridade e a Benemerência de modo sigiloso, sem humilhar o necessitado, incentivando o Solidarismo, o Mutualismo, o Cooperativismo, o Seguro Social e outros meios de Ação Social;

VI - Combater todos os vícios;

VII - Considerar o trabalho lícito e digno como dever primordial do Homem;

VIII - Defender os direitos e as garantias individuais;

IX - Exigir tolerância para com toda e qualquer forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objetivos sejam os de conquistar a Verdade, a Moral, a Paz e o Bem Estar Social;

X - Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a se dedicarem à felicidade de seus semelhantes, não somente porque a Razão e a Moral lhes impõem tal obrigação, mas porque esse sentimento de solidariedade os fez Filhos Comuns do Universo e amigos de todos os Seres Humanos.



PROMETEU ACORRENTADO - Jorge Gonçalves


O mito de Prometeu narra a generosidade do titã que roubou o fogo dos deuses, escondendo algumas chamas em um caule oco de erva-doce. O fogo, interpretado como símbolo da razão, segundo John Locke em 'Um Ensaio Sobre o Entendimento Humano' (1690), é descrito como: "A razão é uma revelação natural, por meio da qual o eterno pai da luz e fonte de todo o conhecimento transmite à humanidade a porção de verdade que ele a considera capaz de absorver."

Enfrentando a ira de Zeus, Prometeu foi castigado ao ser acorrentado no monte Cáucaso, onde diariamente uma águia (ou abutre) se alimentava de seu fígado em regeneração eterna.

Outro mito que trata do mesmo tema é o mito da caverna de Platão, em 'A República', retratando uma sociedade acorrentada, percebendo a realidade pelas sombras projetadas.

Somos lembrados, no mito de Prometeu acorrentado, e no mito da caverna, que por vezes estamos acorrentados às paixões os preconceitos e os erros que corrompem nossa essência, aprisionados nas sombras da ilusão da caverna, enquanto uma extraordinária força permanece adormecida em nosso interior, como canta o poeta: "Cada um de nós compõe a sua história, E cada ser em si carrega o dom de ser capaz, De ser feliz". 

Bibliografia:

*Classical Mythology A to Z: An Encyclopedia of Gods & Goddesses, Heroes & Heroines, Nymphs, Spirits, Monsters, and Places*

fevereiro 13, 2024

CARNAVAL DA SAUDADE - Joab Nascimento

I

Quanta saudade que dá,

Dos ranchos e marchinhas,

Dos grandes bailes nos clubes,

Animadas por bandinhas,

Multidão atrás das banda,

Famílias com criancinhas.

II

O teu cabelo não nega,

Me dá um dinheiro aí,

Cabeleira do Zezé,

Saca-rolha com taí,

Cidade maravilhosa,

Essa música eu pra ti.

III

Allah-lá-ô com Aurora.

Ô balancê, balancê,

A jardineira está triste

Quero dançar com você

Venha cá linda morena

Anavatu, anarriê.

IV

Está chegando a hora,

Muitas águas vão rolar,

Pedindo mamãe eu quero,

Abre alas que vou passar,

Vou amar as pastorinhas,

Se canoa que não virar.

V

Da folia, daqui não saio,

Acorda Maria bonita,

Oba, ali tem só cachaça,

Bem alegre alguém grita,

Pierrô apaixonado,

Com o seu traje de chita

VI

Quanta saudade me dá,

Desse tempo de outrora,

Dos carnavais de clubes,

Não existem mais agora,

Da paz e tranquilidade,

De brincar a qualquer hora,

VII

Hoje o velho carnaval,

Faliu está tão doente,

É vandalismo na rua,

Cada qual o mais valente,

Muita droga, morte e furto,

Que domina essa gente.

VIII

Não existe marcha e rancho,

Só axé onde estiver,

A mulher já virou homem,

Homem já virou mulher,

Inventaram abadá,

E só compra quem puder.

IX

A massa dominadora,

Que faz parte da folia,

Não se arruma pra brincar,

Investe em sexo e orgia,

Pensa apenas no dinheiro,

Esqueceram da alegria.

X

Hoje o carnaval apenas,

É bagunça e confusão,

Pierrô e colombina,

Se afastaram do salão,

Deixaram muita saudade,

Dentro do meu coração.



IMMANUEL KANT

 12 de fevereiro de 1804: Morre o filósofo Immanuel Kant, autor de "Crítica da Razão Pura"

Filósofo alemão, natural de Konigsberg (então capital da Prússia Oriental, hoje Kaliningrado, na Rússia), nasceu em 1724 e faleceu em 1804. Um dos pensadores mais influentes da modernidade, notabilizou-se, entre outros, pelas suas três Críticas à Razão; pela proposta em que considerou o tempo e o espaço apriorísticos do sujeito sensível; e pela publicação, em 1755, da obra História Geral da Natureza e Teoria do Céu, na qual apresentou a teoria nebular que tenta explicar como se terá formado o sistema solar. Segundo Kant - mais tarde, em 1796, o filósofo francês Pierre Simon, marquês de Laplace, adiantaria uma hipótese semelhante - inicialmente teria existido, em vez do atual sistema solar, uma enorme nuvem difusa, girando lentamente, formada por gás e poeira. Esta conceção, conhecida por hipótese de Kant-Laplace, acabou por constituir o fundamento das teorias mais modernas sobre a formação do sistema solar.

Atento aos recentes êxitos da física que, com os trabalhos de Newton, se conseguira afirmar como uma disciplina dotada de um grau de cientificidade próximo do da matemática e da lógica, Kant procurou conferir à filosofia uma dignidade semelhante, restaurando lhe a credibilidade, pela superação das posições antitéticas do dogmatismo racionalista e do empirismo cético através de uma investigação crítica dos métodos da metafísica, entendida como ciência unificadora da multiplicidade empírica. 

Para ultrapassar o antagonismo das abordagens racionalista e empirista do conhecimento, Kant radicou a sua posição no que veio a designar como «revolução copernicana» no domínio da metafísica: seguindo os passos de Copérnico - que «não podendo prosseguir na explicação dos movimentos celestes enquanto admitia que toda a multidão de estrelas se movia em torno do espectador, tentou ver se não daria melhor resultado fazer antes girar o espectador e deixar os astros imóveis» -, propõe que o conhecimento «deixe de se guiar pela natureza dos objetos», passando, pelo contrário, a ser o objeto regulado pelas faculdades cognitivas do sujeito, o que significa ver no conhecimento não uma mera aptidão passiva, mas uma atividade construtiva regida por leis próprias.

Com o objetivo de esclarecer os contornos em que poderá ser admissível qualquer autonomia para a razão, irá proceder, na Crítica da Razão Pura, à investigação dos limites desta no seu uso puro (i. é, a priori, ou seja, independentemente de qualquer recurso à experiência), recorrendo a uma abordagem transcendental do processo de conhecimento - ocupando-se, portanto, «menos dos objetos que do nosso modo de os conhecer, na medida em que este deve ser possível a priori».

Partindo da distinção entre juízos analíticos - juízos universais e necessários nos quais o predicado se encontra contido nas determinações do sujeito, pelo que nada lhe acrescenta -, juízos sintéticos - aqueles em que o predicado acrescenta uma nova determinação ao sujeito, embora a sua origem empírica os destitua de universalidade - e juízos sintéticos a priori - os que, fundamentando-se numa síntese a priori (não empírica), permitem acrescentar novas determinações ao sujeito sem, no entanto, deixarem de ser universais e necessários -, conclui que só os últimos asseguram um autêntico progresso do saber e que neles reside o princípio de possibilidade de todo o conhecimento científico. Desta forma conseguiu reduzir o âmbito do problema da razão pura à pergunta: «como são possíveis os juízos sintéticos a priori?»

No entanto, os juízos, produzidos pelo entendimento, operam sobre conteúdos que, enquanto seres humanos, só podemos intuir através da sensibilidade, única faculdade capaz de gerar em nós representações e que, por isso, deverá ser considerada como fonte inicial do conhecimento (dos dados fenomênicos).

É na Crítica da Razão Pura (1781 e 1787) que Kant irá esclarecer em que medida estão presentes, quer na sensibilidade quer no entendimento, os elementos a priori que podem transmitir a universalidade e a necessidade aos juízos sintéticos (e, por extensão, ao conhecimento em geral):

- na «Estética transcendental», respeitante à sensibilidade, considera que o espaço e o tempo não são dados da experiência nem conceitos nem se encontram de alguma maneira nas coisas: são formas a priori da sensibilidade que, não correspondendo a nenhuma propriedade dos fenómenos (puras representações), lhes definem, antes, o horizonte de possibilidade no interior do qual são ordenados.

- na «Analítica dos conceitos», primeira parte da «Lógica transcendental», procede à enumeração dos elementos a priori do entendimento que permitem aos objetos serem pensados. Baseando-se na análise das formas tradicionais do juízo, elabora a tabela das categorias puras do entendimento, conceitos fundamentais ordenadores e unificadores dos dados da sensibilidade, agrupadas em quatro grandes rubricas - categorias da quantidade (unidade, pluralidade e totalidade), da qualidade (realidade, negação e limitação), da relação (inerência e subsistência; causalidade e dependência; e comunidade ou ação recíproca) e da modalidade (possibilidade e impossibilidade; existência e não existência; e necessidade e contingência).

- a «Analítica dos princípios» (doutrina da faculdade de julgar), segunda parte da «Lógica transcendental», debruça-se inicialmente sobre os elementos mediadores que permitem subsumir os fenómenos às categorias, os «esquemas», que se subordinam ao tempo, condição da diversidade e da conexão das representações no sentido interno, e termina com a definição dos princípios que estruturam o campo de toda a experiência possível - e, consequentemente, de toda a ciência -, concluindo que as normas que definem o funcionamento da sensibilidade e do entendimento são as mesmas que regulam o âmbito da experiência possível: só podem ser consideradas com o objeto de conhecimento as representações com origem nas intuições sensíveis - cuja atividade apenas se refere ao fenómeno, dado perceptivo, não acedendo de forma alguma à coisa em si, ou númeno -, subsumidas em conceitos pelo entendimento que, por sua vez, perde toda a operacionalidade quando procura referir-se a dados não originários da sensibilidade - pelo que é também incapaz de nos fazer aceder a qualquer realidade de tipo numénico. Desse modo, Kant afasta a possibilidade de constituir como ciência a metafísica tradicional que visa aceder ao conhecimento da realidade numénica, colocando-a definitivamente numa área de incognoscibilidade.

- a «Dialética transcendental», terceira e última parte da «Lógica transcendental», critica o uso da razão, faculdade de conhecer por conceitos, ao proceder, por disposição natural, a uma extensão ilegítima do conceito e do juízo ao campo do transcendente, ultrapassando as condições da experiência possível (analisando os paralogismos - raciocínios erróneos que partem da admissão da substancialidade da alma -, as antinomias - aporias que resultam da aplicação ao mundo numénico de princípios unicamente válidos na ordem do pensar -, e o ideal da razão pura - onde demonstra a falacia das provas da existência de Deus, que partem da admissão da existência como um predicado real, quando se trata, de facto de um predicado transcendental). Enquanto faculdade que opera a síntese suprema do conhecimento, a razão terá no entanto, também, de se orientar por princípios a priori, que Kant designa como ideias reguladoras (ou transcendentais): Deus, alma e mundo, entendidas doravante não como entidades transcendentes mas como valores teleológicos apontando para a necessidade de um aperfeiçoamento constante do conhecimento, visando a unidade crescente deste.

As restrições impostas na Crítica da Razão Pura à metafísica teórica e ao conhecimento estritamente intelectual das realidades numénicas, devido ao carácter finito da razão humana, impuseram a transferência para a ordem prática dos esforços atinentes ao esclarecimento do conteúdo transcendente dos objetos supremos do conhecimento. A especificidade dos fins essenciais da razão humana só poderá, então, ser devidamente dilucidada à luz de uma Crítica da Razão Prática (1788), na qual se responde à questão de saber como é possível a obrigação moral, ou seja, de que forma pode a razão determinar a vontade, ou ainda, aonde se pode descobrir um fundamento para a liberdade, que não encontrara um lugar satisfatório na primeira crítica.

Para Kant, que procura determinar, agora no domínio da ética, a natureza «a priorística» e absoluta da ação da vontade, não interessa o resultado da ação ou o fim visado por ela (que são de ordem empírica), mas apenas o uso da vontade em conformidade com o dever, que se apresenta sob forma de um imperativo categórico que exprime uma obrigação incondicionada, sem móbil material - «age de tal forma que a máxima da tua vontade possa valer simultaneamente como princípio de uma lei universal». A liberdade consistirá, portanto, nessa capacidade de autodeterminação da razão, capacidade de se autoimpor uma submissão ao dever por ela mesma gerado. A boa vontade, comportando uma restrição ao amor de si (egoísta) como fundamento da ação, levará a uma segunda formulação do imperativo categórico: «age de tal forma que trates sempre a humanidade - quer na tua pessoa, quer na de qualquer outro - como um fim em si e nunca como um meio».

Porém, do enunciar do fundamento da ação ética, advém o que Kant designa como antinomia da razão prática: o simples respeito da lei moral não implica, por si só, a felicidade. Daí conclui que o soberano bem, que conjuga o respeito pela norma ética e a felicidade individual, só pode ser assegurado pelo postulado da existência de Deus. Analogamente, partindo da consideração segundo a qual no mundo sensível jamais será possível para o ser humano a plena convergência entre a vontade e a lei moral, que supõe um processo indefinido de aperfeiçoamento, encontra uma base para firmar o postulado da imortalidade da alma.

Numa tentativa de conjugar o disposto nas duas críticas, que haviam cindido o ser humano em dois planos opostos, o da natureza e o da liberdade, Kant passará à análise da mediação entre ambos na Crítica da Faculdade de Julgar(1790). A faculdade de julgar, capaz de operar a transição entre o particular e o geral e mediadora entre a sensibilidade e a razão, é igualmente interpretada como mediadora entre a faculdade de conhecer e a faculdade de desejar, sendo definida pelo princípio da finalidade, correspondendo-lhe os sentimentos de prazer e desprazer. Nela há a distinguir juízo estético, subjetivo, e juízo teleológico, objetivo. O primeiro refere-se ao belo e ao sublime, respeitando àquilo que agrada de forma desinteressada, necessária e universal, o segundo versa a aplicação da finalidade no mundo natural, atribuindo-lhe uma função essencialmente heurística. Mais uma vez, foi preocupação de Kant demonstrar como, também neste caso, aos princípios reguladores do conhecimento (a finalidade) não pode ser atribuído qualquer valor constitutivo da realidade.

Pensador audacioso e dotado de um espírito analítico fora do comum, deixou marcas indeléveis na teoria do conhecimento. Ao fundar o sistema da filosofia transcendental, lançou as bases do idealismo alemão no qual há que radicar a génese de grande parte das problemáticas filosóficas contemporâneas.

Entre as obras do período crítico é de salientar:

- Kritik der reinen Vernunft (Crítica da Razão Pura), 1781 e 1787 (2.ª ed.)

- Prolegomena zu einer jeden künftigen Metaphysik, die als Wissenschaft wird auftreten können (Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura que Possa Apresentar-se como Ciência), 1783

- Kritik der praktischen Vernunft (Crítica da Razão Prática), 1788

- Kritik der Urteilskraft (Crítica da Faculdade de Julgar), 1790

- Zum ewigen Frieden (Para a paz perpétua), 1795

- Die Metaphysik der Sitten/Rechtslehre/Tugendlehre (A Metafísica dos Costumes/Doutrina do Direito/Doutrina das Virtudes), 1797

Fontes: Infopédia

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