fevereiro 25, 2024

PODCAST #30 - MAÇONARIA E DOGMA com Newton Agrella

 


A Revolução da Física Quântica e o Enigma da Luz - Jorge Gonçalves



A família de Broglie, de origem italiana, estabeleceu-se na França em 1640, destacando-se como militares e nobres. Conheceremos dois membros da família: Louis de Broglie (1892 - 1987) e seu irmão, Maurice de Broglie (1875 - 1960).

Louis era o irmão mais novo de Maurice de Broglie, este um físico experimental reconhecido por seus estudos sobre raios X e radioatividade. Louis tinha formação em humanas. Na época da minha graduação em física, sempre brincávamos que alunos de humanas não gostavam muito de cálculos, mas Louis, um dos meus heróis, irá provar que não é bem assim. Ele estudou Licenciatura em História e Direito, mas era fascinado pela física. Essa história sempre me fascinou. Em certo momento, Louis questionou Maurice, físico profissional, sobre a natureza da luz. Imagino ele perguntando: "Meu irmão, a luz é uma onda ou uma partícula?".

Para quem não está familiarizado com a história da física, essa é aquela pergunta que vale um milhão de dólares. Mesmo para os maiores gênios da humanidade como Isaac Newton (acreditava que a luz era feita de partículas) e Christiaan Huygens (acreditava que a luz era composta por ondas), erraram ao tentar responder precisamente essa pergunta.

Maurice, é óbvio, não conseguiu responder. Se você tentar prever o fim dessa história, parece óbvio que o estudante de humanas irá desistir. *NÃO!* Louis decidiu estudar física por conta própria, devorando livros de física e artigos científicos.

Em sua tese de doutorado apresentada em 1924 à Faculdade de Ciência da Universidade de Paris, Louis de Broglie propôs a existência de ondas de matéria. Ele propôs a **hipótese de dualidade onda-partícula**, que sugeria que as partículas materiais, como os elétrons, também tinham um comportamento ondulatório. 

A ideia era tão revolucionária que, embora o alcance e a originalidade tenham sido reconhecidos, a banca examinadora de sua tese não tinha como avaliar, considerando a falta de evidência experimental. 

É aqui que outro dos meus heróis entra em ação. Foi Albert Einstein que reconheceu a importância e validade dessas ideias, chamando a atenção de outros físicos. Em 1929, somente cinco anos mais tarde, Louis de Broglie recebeu o Prêmio Nobel em Física, tendo suas ideias sido confirmadas experimentalmente. Essa hipótese foi tão revolucionária que abriu caminho para o desenvolvimento da **mecânica quântica**. A hipótese de Louis de Broglie era de que o comportamento dual, isto é, onda-partícula, da luz também se aplicava à matéria.

A luz sempre foi um elemento importante na história da humanidade e foi usada como símbolo do conhecimento e da razão para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. 

Disse Louis de Broglie: "O estado real do nosso conhecimento é sempre provisório e... deve haver, além do que é realmente conhecido, imensas novas regiões para descobrir." Em sua jornada, Louis tornou-se um herói improvável, desafiando as barreiras do conhecimento. Diante da incerteza sobre a natureza da luz, ele não desistiu. A lição é clara, mesmo as mentes mais iluminadas podem estar erradas, e precisamos continuamente buscar o conhecimento, e a luz da razão deve brilhar até o nosso último suspiro. 


EISBERG, Robert, e RESNICK, Robert. Quantum physics of atoms, molecules, solids, nuclei and particles.

fevereiro 24, 2024

O PROFETA AMÓS E A MAÇONARIA - Rafael Guerreiro







O Profeta Amós era um trabalhador braçal, um boiadeiro e cultivador de sicômoros (árvores que geram um fruto parecido com o figo).

Ele é originário da cidade de Tekua, aldeia situada há dez quilômetros ao sul de Belém. É conhecido ainda como sendo um dos assim chamados “Profetas Menores”, não por ter pouca importância, mas sim pela extensão de sua obra, considerada pequena em vista de outros profetas da Bíblia, mas tão brilhante quanto as outras.

O seu ministério foi exercido no século VIII a.C. durante os reinados dos Reis Uzias (ao sul de Israel) e Jeroboão II (ao norte de Israel). Sua obra foi marcada por uma profunda crítica social e religiosa. Ele denunciou a desigualdade social de seu tempo, bem como o uso idólatra da religião, transformada em mero instrumento que serve à alienação e usada como fachada para a iniquidade.

O Profeta Amós é um revolucionário, um socialista de seu tempo que não se deixou levar pelas aparências de uma época marcada, sobretudo, pela prosperidade material. Contudo, mesmo com abundância, o povo de Israel passou por uma profunda inversão de valores, deixando-se levar pela soberba, ganância, luxúria e todo tipo de perdições.

Dessa forma, a obra de Amós é caracterizada pela crítica ao enriquecimento da sociedade à custa dos pobres; ao suborno e corrupção de juízes nos tribunais; à opressão, violência e à escravidão dos pobres; ao comportamento das mulheres ricas, que para viverem no luxo, estimulavam seus maridos a oprimirem os fracos etc. (1)

No que toca à religião, Amós denuncia seu caráter meramente ritualístico e vazio. Assim ele diz em seu livro: “Eu odeio, eu desprezo as vossas festas e não gosto de vossas reuniões. Porque, se me ofereceis holocaustos...,não me agradam as vossas oferendas e não olho para o sacrifico de vossos animais cevados. Afasta de mim o ruído de teus cantos, eu não posso ouvir o som de tuas harpas! Que o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso”. (Am 5: 21-24)

E dentro desse contexto de críticas, Amós, na terceira parte de seu livro, relata cinco visões, sendo que a terceira delas interessa de forma particular à maçonaria. Trata-se da visão do fio de prumo.

No capítulo 7, versículos de 7 a 8, Amós assim relata: “Assim me fez ver: Eis que o Senhor estava de pé sobre um muro e tinha sobre a sua mão um fio de prumo. E Iahweh me disse: Que vês, Amós? Eu disse: Um fio de prumo. O senhor disse: Eis que vou pôr um fio de prumo no meio do meu povo, Israel, não tornarei a perdoá-lo. (Am 7: 7-8 – tradução da Bíblia de Jerusalém).

Ora, é o Senhor mesmo Quem estava sobre o muro na visão de Amós. E o prumo que segurava em Suas mãos é altamente revelador. Ele revela nossa intrínseca tortuosidade, nosso desalinhamento e desequilíbrio moral.

Da mesma forma como o pedreiro se utiliza do prumo para procurar falhas na obra em que se debruça assim se dá quando Deus coloca seu prumo em nossas vidas, fazendo aparecerem todas as falhas, todas as misérias escondidas em nossos olhares dissimulados, em nossas palavras vazias e em nossas ações e omissões egoístas.

Mas o que é este prumo de Deus em nossas vidas? Será a Bíblia (ou qualquer outro livro sagrado a que seguimos)? Será nosso caminho pessoal? Os padrões sociais e políticos de nosso tempo? Nossa consciência?

A Ordem maçônica tenta nos mostrar qual será esse prumo na vida particular de cada maçom, transmitindo por meio de alegorias e símbolos antigos mistérios que podem ser traduzidos em retidão moral e bons costumes para aquele que de fato os persegue em seu íntimo construtor.

Mas há um fato curioso nesta passagem. Nem mesmo Deus julgou aleatoriamente o seu povo. Antes disso, Ele passou sobre nós o seu prumo sagrado, para que toda falha fosse posta às claras. Assim, não cabe ao Homem passar seu prumo particular na parede alheia, achando-se ridiculamente capaz de medir os erros de seu irmão com medida própria. 

Não cabe em nós tamanho amor para realizar essa tarefa de sublime construção da alma do nosso próximo. Isso é assunto entre o Pai e seu filho, porque no prumo do homem há juízos e preconceitos, medidas diferentes alicerçadas na miséria de nossa alma. Mas o prumo de Deus contém a dádiva do arrependimento e a certeza da retidão no amor maior de Sua caridade. (2)

O prumo de Deus revela nossos pecados à luz do dia, não deixando nada a coberto. 

E ao lançá-los à luz, Ele espera de nós tão somente humildade e trabalho para quebrarmos nossos tijolos mal assentados e recomeçar nossa obra fundada na promessa de que seguindo-O, encontraremos pela frente apenas consequências do amor.

NOTAS:

1. Extraído de: http://judaismohumanista.ning.com/m/discussion?id=3531236%3ATopic%3A77;

2. Extraído de: http://www.lojamontemoria.com.br/artigo.asp?cod=262;

SIM, SIM; NÃO, NÃO! - Heitor Rodrigues Freire



Uma das coisas mais difíceis, hoje em dia, é controlar a língua. Com tanta interação online, as pessoas se veem tentadas a opinar sobre tudo e julgar o tempo todo. 

A palavra é o meio próprio e natural de expressão do ser humano, ou o que nos distingue das outras criaturas. E a linguagem se manifesta justamente por meio da palavra. A linguagem é, portanto, uma característica eminentemente humana.

Desde criança, pelo convívio diário com os pais e demais parentes, começamos a falar sem nos dar conta da importância da palavra, do seu significado e do que ela representa como fator de evolução mental e espiritual. A palavra faz parte do nosso patrimônio genético. As mudanças na sociedade se refletem na linguagem falada e escrita.

A falta de uma orientação verdadeira sobre o significado da palavra resulta no seu uso inadequado. Devido à familiaridade e facilidade em falar, deixamos de nos beneficiar de um poder extraordinário que nos foi concedido pelo nosso Pai. Por meio da palavra foi criado o universo, e através da palavra cada um de nós cria o seu próprio mundo, sabendo ou não, querendo ou não. 

Jesus, como sempre, é brilhante em seus ensinamentos:“ Seja porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”. (Mateus 6:36). Dizendo também que não devemos jurar por nada, nem por ninguém, mas devemos manter nossa palavra. Se dissermos sim, ou se dissermos não, isso deve bastar.

Também no livro dos Provérbios encontramos essas três pérolas:

“Quem fala muito acaba pecando; a pessoa prudente põe freio na boca” (Provérbios 10:19).

“Cada um se satisfaz com aquilo que fala, mas receberá conforme aquilo que faz” (Provérbios 12:14).

"A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto." (Provérbios 18:21).

O ato de falar demonstra quem são as pessoas. Os sábios fazem uso da palavra para sua comunicação necessária e útil; os insensatos falam sem parar. Aliás, há um ditado popular que sintetiza com muita propriedade essa questão: “Quem fala muito dá bom dia a cavalo”. Essa referência vem a propósito de uma observação a respeito de um estranho vírus que ataca os ocupantes de cargos políticos, de maneira indistinta.

Assim, na plenitude dos tempos, é importante que aprendamos a fazer uso adequado dessa faculdade maravilhosa e criadora. Falar à toa, jogar conversa fora, por exemplo, discutir política, religião ou futebol são temas que acabam, algumas vezes, criando inimizades e distanciando as pessoas. 

Mais uma mensagem divina:

“Seja o vosso falar: ‘sim, sim; não; não’, recomenda o Evangelho. Para concordar ou recusar, todavia, ninguém precisa ser de mel ou de fel. Bastará lembrarmos que Jesus é o Mestre e o Senhor não só pelo que faz, mas também pelo que deixa de fazer” (Emmanuel. Pão Nosso. FEB Editora, cap 80.)

Para finalizar, um texto do jornalista, escritor e teatrólogo, Nelson Rodrigues que também merece reflexão:

“A maioria das pessoas imagina que o mais importante no diálogo é a palavra. Engano: o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão”. 


ESSA PEDRA BRUTA - Roberto Ribeiro Reis


Essa pedra bruta

Há de ser polida,

Nesta ou noutra vida:

A mudança resoluta.


Essa ignorância

Há de ser mitigada,

Como vil fragrância

Mortal, se inalada.


Esse ser disforme

Há de ser moldado,

Um esforço enorme,

Genial, se desejado.


Essa matéria imperfeita

Há de ser finita,

Deve estar sujeita

À essência bendita.


Esse corpo doente

Carece de mente sã,

Pois o principal afã

É crescer, espiritualmente.


A ascensão divina

É desiderato de cada Ir.’.;

Com a proteção divina

Permeada de união.


Toda pedra nos importa,

Valoroso é seu burilamento,

Vivendo todo encantamento

Que a nossa Ordem exorta.

fevereiro 23, 2024

O PROCESSO INICIÁTICO - José Maurício Guimarães

,

Nem todos que buscam a Iniciação tornam-se dignos de encontrar o verdadeiro segredo, a Palavra Perdida ou a Pedra Filosofal. Pode parecer muito decepcionante, mas grande parte dos que batem às portas dos Templos, apesar de admitidos permanecem como que "do lado de fora", envolvidos carmicamente apenas com a manutenção financeira das instituições.

Do mesmo modo, nem todos que batem à porta da Justiça recebem o Direito, apesar de as Constituições assegurarem a todos o "suum cuique tribuere", isto é: a cada um o que lhe é devido.

Considero "O Processo" de Franz Kafka o livro mais importante do Século XX (escrito entre 1914 - 1925) e me surpreendo de que essa obra não tenha sido lida por todos que buscam a Iniciação e mesmo o Direito.

Li "O Processo" cinco vezes durante minha vida: a primeira quando eu era acadêmico de Direito na UFMG; depois quando frequentei o primeiro ano da pós-graduação na classe do saudoso Professor Lydio Machado Bandeira de Mello que questionava a obra e nos incitava a ler o Kafka como um desafio à Justiça e à história da inclusão do povo judeu na Europa.

Há uma intrigante alegoria nas páginas finais do livro cujo sentido foi grandemente explorado por Orson Welles no filme baseado no livro ("The Trial", 1962).

Vou narrar essa alegoria com minhas palavras:

No ano 4.921 do calendário hebreu, quingentésimo quinquagésimo quinto ano do calendário islâmico e milésimo octogésimo do calendário indiano, nada aconteceu de relevante nos grandes reinos. Os homens não iniciavam novas guerra ˗ apenas se empenhavam  nas que já existiam. Também não houve tratados de paz. O fato mais importante foi que o imperador Manuel Comnenós I submeteu Jerusalém e Antioquia para que aceitassem o domínio bizantino e sua autoridade.

Naquela época, em Patras, próximo de Sicon e Corinto, havia um Templo Iniciático protegido das indiscrições profanas pela ilusão dos sentidos ˗ o véu de Maia.

Diante daquele Templo ficava um guardião de aspecto amedrontador. Ele estava ali havia anos, vestido com pesado manto, armado de espada e imóvel...

Seu corpo musculoso e pesado, como o de um lavrador, apenas se deslocava alguns passos, poucas vezes a cada ano, acaso percebesse algum ruído entre as pedras do deserto. Ele não comia alimento algum, nem água bebia.

Certa manhã, antes de nascer o sol, um buscador se aproximou cansado, olhou em volta e, ao reconhecer o Templo que procurava, pediu ao guardião que o deixasse entrar.

O guardião ergueu a mão direita levando a outra à espada e respondeu que não poderia abrir os portais do Templo. E pediu ao buscador que aguardasse até que a ocasião propícia lhe fosse apresentada.

O buscador não entendeu a resposta e, aproveitando que o guardião virava o rosto para outro lado, arriscou-se a olhar pelo portal iluminado. E perguntou se poderia permanecer sentado do lado de fora até que chegasse a ocasião propícia.

" - Nada te impede que fiques sentado do lado de fora. Nada é impossível para quem busca, sabe pensar e esperar", respondeu o guardião.

O buscador achou melhor sentar e descansar. Decidiu esperar até que, purificado pelo pensamento ou pelo jejum, recebesse autorização do guardião para entrar. Nos três primeiros dias ele permaneceu em meditação, mas seu pensamento foi ficando agitado. Depois, ele passou a contar as pulgas que conseguia ver no pesado manto do guardião.

Passaram-se longos anos e o buscador olhava ininterruptamente para o guardião que lhe parecia ser o único obstáculo à sua entrada no  Templo. A essa altura ele já conhecia cada pulga e sabia distinguir as que morriam nas novas que iam nascendo. Diante dele, o portal do Templo deixava escapar um pouco da luz interior e o eco distante de música desconhecida...

Por fim, o buscador envelheceu. Sua visão ficou fraca. Ele já não sabia se a luz do dia era a noite. Ainda assim, conseguia distinguir lampejos esmaecidos do clarão inextinguível vinda do portal. Como já não tinha muito tempo de vida, resolveu fazer a pergunta que até então não formulara:

" - Se todos aspiram o conhecimento - disse ele - como se explica que durante todos estes anos ninguém, a não ser eu, apareceu por aqui pedindo para entrar?"

O guarda percebeu que o homem estava perto do fim. Aproximou-se do ouvido do moribundo e disse:

" - Diante deste portal, ninguém!, a não ser você, poderia entrar. Este portal e esta entrada foram destinadas apenas a você. Não precisava pedir permissão, era só empurrar a porta... Eu não sou o guarda deste portal, sou apenas o protetor do Templo para que as feras do deserto não se aproximem. Agora você nem consegue caminhar até a tranca metálica da porta. Vou-me embora, pois minha eternidade termina hoje. Quanto a você, permaneça aqui mesmo".

DESVENDANDO O "TRIPLO TAU" - Kennyo Ismail


O “Triplo Tau” é tido como um importante símbolo maçônico pois, em muitos rituais e Obediências, ornamenta o principal avental da Loja, o do Venerável Mestre, além de compor o emblema do Real Arco. Assim, o “Triplo Tau” está presente de forma destacada tanto na Maçonaria Simbólica quanto nos Altos Graus do Rito de York e do Sistema Inglês Moderno.

Sendo símbolo tão presente e de tanto destaque na Maçonaria, natural que milhares de interpretações oficiais e extraoficiais surgem para a alegria dos pseudossábios de plantão. Talvez esse seja o maior problema enfrentado internamente na Maçonaria: a constante tentativa de complicar o simples, de dar significados extras e não maçônicos à simbologia maçônica.

Em muitos livros e artigos maçônicos publicados, o “Triplo Tau” é tido como símbolo baseado numa letra grega utilizada antigamente por hindus e judeus como símbolo da eternidade, do que é sagrado, dos “escolhidos”, e que, combinado em três, simboliza o nome de Deus, etc, etc, etc. Enfim, descrever todos os significados atribuídos a esse símbolo é um desafio que um único texto seria incapaz de encarar.

Para compreender de forma correta esse símbolo, precisa-se estudá-lo em cada contexto:

O "Triplo Tau"do avental dos Mestres Instalados

Eu sinto muito informar, mas os três Taus vistos no avental dos Mestres Instalados de muitos Rituais e Obediências não são “Taus”.

A simbologia da Maçonaria Simbólica é baseada na Maçonaria Operativa, e o avental do Venerável Mestre não é diferente. Os três principais Oficiais duma Loja possuem ferramentas como símbolo: Segundo Vigilante: Prumo; Primeiro Vigilante: Nível; Venerável Mestre: Esquadro. O que parece um Tau, na verdade é um tipo de esquadro, chamado em inglês de “T-square”, que em português significa “equadro-T”, mas é mais conhecido por “régua-T”. Como se sabe, o Mestre da Loja é muitas vezes ilustrado como aquele desenhando na Prancheta da Loja. O esquadro-T, ou régua-T, além de possibilitar o desenho de ângulos retos, é extremamente necessário para se desenhar retas paralelas.

Com a onda esotérica que tanto influenciou a Maçonaria durante os séculos XVIII e XIX, deram a vários símbolos significados místicos, não-maçônicos, e o esquadro-T foi uma dessas vítimas. Se fossem Taus, obviamente seriam posicionados com as partes de duas extremidades voltadas para cima, e não para baixo como são.

O “Triplo Tau” do Real Arco

Também sinto em informar que o “Triplo Tau” do Real Arco americano e inglês originalmente também não é um Triplo Tau.

O símbolo do Real Arco aparenta ser três Taus unidos pelas bases, e com o tempo essa se tornou inclusive a descrição oficial do símbolo. Mas na verdade, o símbolo original é um “T” sobre um “H”, sendo a sigla de “Templum Hierosolymae”, nome em latim do que conhecemos como Templo de Salomão. Por sorte, o primeiro regulamento do Real Arco, datado de 12 de Junho de 1765, aponta a sigla TH como emblema do Real Arco e decifra seu significado, e em 1766 surgiu a instrução para posicionar o T sobre o H em todo seu uso. Além disso, o famoso maçom Thomas Dunckerley, grande defensor e promotor do Real Arco, deixou essa informação em evidência em correspondência oficial datada de 27 de Janeiro de 1792.

Com o tempo e sob a mesma influência esotérica mencionada anteriormente, não foi difícil a união do T com o H num único símbolo e o surgimento de sua denominação como “Triplo Tau”, o que acabou sendo oficializado com o passar dos anos.

Conclusão

Não existe “Triplo Tau” na Maçonaria. Existe “esquadro-T” na Maçonaria Simbólica, e “T sobre H” no Real Arco. O resto é invenção sem base teórica, verdadeiros desrespeitos à Maçonaria e sua história. A simbologia maçônica já é interessante e significativa o bastante, não necessitando de tais enxertos.

HUMANAMENTE SE SITUANDO ENTRE VIVER E EXISTIR - Newton Agrella


O influente e notável escritor e poeta irlandês Oscar Wilde escreveu :

"...Viver é a coisa mais rara do mundo. 

A maioria das pessoas apenas existe..."

Se nos ativermos ao plano da essência filosófica e não meramente formal,  perceberemos que há uma significativa e sensível diferença entre existir e viver.

"Existir" traduz-nos a ideia e a noção de presença, seja ela material ou abstrata, breve ou longa, inteira ou parcial.

Porém, na sua acepção vocabular, seu significado está atrelado a um conceito de inércia e de permanência.

A existência, por si só,  revela um estado que não comporta movimento ou transformação. 

Simplesmente é ou está.

Essa passividade é o que caracteriza sua configuração no tempo e no espaço.

E que fique claro que não há absolutamente qualquer indício de demérito nisso. 

Pelo contrário, a existência é o que provoca a capacidade de se tornar referência a tudo o que gravita, transpõe, transita e até o que se distancia ou se afasta de seu eixo.

Por outro lado, se nos abstivermos de um olhar incisivamente cartesiano, perceberemos que "viver" revela  a dimensão de um significado pleno de desafios, posto que sua essência, enseja a

capacidade de transformar, modificar, de ser ativo, e de que o ser humano está propenso a se adaptar às mais diversas circunstâncias, uma vez que a vida é a experiência mais densa e profunda pela qual se pode transitar.

Ao historiador grego Plutarco, é atribuída a frase:

"...É preciso viver, não apenas existir..." 

Sem qualquer intenção de se inspirar em frases, mas é inequívoco que o exercício do pensamento se vale de referências, até mesmo porque viver impõe essa ação contínua para que a nossa existência se justifique e faça sentido.

Cada um de nós, vive sua história na intensidade que lhe é permitida. 

E essa prerrogativa existe como um registro particular e pertinente a tudo o que cada um de nós produz ou produziu.

O desejo latente que cada pessoa leva consigo é o de viver e não apenas o de existir.

Dispomos do dom da escolha de viver bem, de viver feliz, e não de deixarmo-nos ser "levados pela vida".

A vida é o maior bem que o ser humano possui. 

Isto significa que em principio, "viver"  é antes de mais nada um genuíno ato de sabedoria, ao passo que "existir"  constitui-se numa relação cronológica, que se estabelece entre o ser humano e o Universo, que obedece um critério de duração e de conformidade com as experiências acumuladas.



 *ENDOENÇAS*


Vamos humildes obreiros

Sigamos nossa lida jurada

Qual triunfantes Cavaleiros

Com bom verbo que espada,

Aos propósitos sobranceiros


Longa é nossa estrada

Rumo à plena  libertação,

À justiça, a quem não tem nada

E sobre as trevas da servidão

Ver então a Luz triunfada


Virtuosos sem esperar gratidão

Apenas por jura, por caridade,

Levar amor a cada irmão

E informar a fraternidade

Sobre os elos da nossa união


Perdoar com equidade

Os eventuais antecedentes

De intransigência, de vaidade,

Fazendo valer entrementes,

Os princípios da Real sociedade!


E como ceia dos indulgentes

Celebrar com bom vinho e pão

Rogando as Graças aos presentes

Tal qual manda a tradição..

Ao Grande Arquiteto pelos ausentes !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif 169

fevereiro 22, 2024

O MAÇOM E O BMW - Roberto Ribeiro Reis


A Maçonaria é a via eleita para nosso aperfeiçoamento interior. Por meio dela - que mantém a postura distante do proselitismo religioso arraigado, e longe do sectarismo político extremista - podemos ultrapassar as vis paixões das barreiras profanas, e alcançarmos nossa versão melhorada, através seu vasto arcabouço simbólico, alegórico e filosófico.

A maioria de nós pregamos o desinteresse pela matéria, muito embora a tarefa, na prática, não seja tão simples assim. Afinal, sinceramente, quem não deseja sair por aí, dirigindo uma Ferrari ou um Porshe, ainda que este pertença a terceiros? É o desejo ávido pelo status de poder, de ser reconhecido como uma pessoa de prosperidade financeira. Não é isso que os “coaches” têm vendido na maioria das vezes?

Por outro lado, há pessoas que não ligam para os carrões luxuosos ou mansões; preferem as viagens pelo mundo às suntuosidades que o dinheiro proporciona, pelo simples fato de poderem conhecer culturas e povos diferentes. Isso, para elas, é também outro tipo de riqueza – bem mais interessante, com respeito às opiniões contrárias.

Há uma pequena minoria que se interessa somente pelo básico à sua subsistência, e que tem cultuado a vida espiritual e a natureza, praticando um exercício de profunda contemplação e gratidão ao Grande Arquiteto por todas as bênçãos recebidas.

Naquilo que me toca, não posso ser hipócrita em relação às facilidades que o dinheiro proporciona, vale dizer um bom plano de saúde, os melhores médicos, oportunidades de conhecer o mundo e de desfrutar de bons momentos de lazer. Na verdade, nunca sonhei em ter um veículo extravagante, até ter conhecido um Irmão, após ter sido iniciado em nossos Augustos Mistérios.

A Maçonaria – que não é pirâmide de riqueza, e tampouco clube de auxílio financeiro- presenteou a mim e a todos nós com 𝙪́𝙣𝙞𝙘𝙤 𝘽𝙈𝙒; assim, vale reiterar, temos um só carro que deve atender às demandas de todos os Irmãos que nutrem respeito pela Sublime Ordem e seus gloriosos encantos.

Um BMW possante que, por onde passa, chama atenção por sua exuberância e brilho inconfundíveis. Um veículo que nos conduz pelas 𝙀𝙨𝙩𝙧𝙖𝙙𝙖𝙨 da 𝙎𝙖𝙗𝙚𝙙𝙤𝙧𝙞𝙖 e do 𝙀𝙣𝙩𝙚𝙣𝙙𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤, capaz de atingir a velocidade da luz, possibilitando-nos que cheguemos ao destino final: nosso lapidar íntimo.

Seu potente motor possui 333 (𝙩𝙧𝙚𝙯𝙚𝙣𝙩𝙤𝙨 𝙚 𝙩𝙧𝙞𝙣𝙩𝙖 𝙚 𝙩𝙧𝙚𝙨) cavalos 𝙖𝙡𝙖𝙙𝙤𝙨, e faz com que alcemos voos aos mais 𝙚𝙡𝙚𝙫𝙖𝙙𝙤𝙨 𝙚𝙨𝙩𝙖𝙙𝙤𝙨 𝙙𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙨𝙘𝙞𝙚̂𝙣𝙘𝙞𝙖, com a segurança do controle de estabilidade, para que não derrapemos, e não colidamos com veículos da ignorância e da obscuridade.

O 𝙣𝙤𝙨𝙨𝙤 𝙨𝙤𝙣𝙝𝙤 maior é que haja mais BMWs espalhados pelo mundo afora. 𝘽𝙈𝙒, 𝙘𝙪𝙟𝙤 𝙨𝙞𝙜𝙣𝙞𝙛𝙞𝙘𝙖𝙙𝙤 𝙚́ 𝘽𝙚𝙣𝙚𝙢𝙚́𝙧𝙞𝙩𝙤 𝙈𝙞𝙘𝙝𝙖𝙚𝙡 𝙒𝙞𝙣𝙚𝙩𝙯𝙠𝙞: um veículo produzido por um “𝙀𝙣𝙜𝙚𝙣𝙝𝙚𝙞𝙧𝙤 𝙎𝙪𝙞 𝙂𝙚𝙣𝙚𝙧𝙞𝙨”, capaz de percorrer todo planeta, espalhando amor e caridade. Uma máquina veloz, leve e híbrida, abastecida à base de luz e conhecimento.

Este é, indubitavelmente, o carro de luxo a ser “adquirido” por todo Maçom que se preze. O resto, com todo respeito, é lataria disfarçada de suntuosidade, bela por fora, oca por dentro. Podemos chegar aonde quisermos, quando conduzidos por esse “𝙖𝙪𝙩𝙤𝙢𝙤́𝙫𝙚𝙡 𝙞𝙡𝙪𝙢𝙞𝙣𝙖𝙙𝙤”, a cujo motor implacável se referem os melhores 𝙈𝙚𝙘𝙖̂𝙣𝙞𝙘𝙤𝙨 𝙙𝙖 𝘾𝙪𝙡𝙩𝙪𝙧𝙖.

E aí, você prefere continuar parado, ou quer dar um volta de BMW pela pista do “𝘼𝙪𝙩𝙤́𝙙𝙧𝙤𝙢𝙤 𝙙𝙤 𝙎𝙖𝙗𝙚𝙧”?


PS.: No Dia Internacional do Maçom, uma singela homenagem a quem alimenta aos Maçons de Sabedoria e farto Conhecimento.





DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM - Adilson Zotovici



Todo ano é costumeiro 

Nesse importante dia 

Aqui e no mundo inteiro 

Festa da maçonaria


Manifesto sobranceiro 

Aprovado com euforia 

Em honra a grande obreiro 

Por denodo e valentia 


Com liberdade por guia 

Pela ordem, vanguardeiro, 

Sua amada Pátria regia 


_Vinte e dois de fevereiro_ 

George Washington nascia...  

_Dia do Livre Pedreiro_ !


,

DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM - 22 DE FEVEREIRO


O dia 22 de fevereiro foi fixado como o "DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM". Esta data foi escolhida, pois exatamente neste dia, comemora-se nos Estados Unidos, o aniversário de GEORGE WASHINGTON. 

Do dia 20 a 22 de fevereiro de 1.994, realizou-se em Washington, capital dos Estados Unidos, a Reunião Anual dos Grãos-Mestres das Grandes Lojas da América do Norte, com a presença das Obediências Grande Loja da Inglaterra, Grande Loja Nacional Francesa, Grande Loja Regular de Portugal, Grande Oriente da Itália, e o Grande Oriente do Brasil entre outras. 

Ao final dos trabalhos, o Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal, Fernando Paes Coelho Teixeira, sugeriu a fixação da data do dia 22 de fevereiro como o "DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM", a ser comemorado por todas as Obediências reconhecidas, o que foi totalmente aprovado por todos os presentes. 

Washington foi iniciado na Maçonaria no dia 4 de novembro de 1.752, na "Loja Fredericksburg nº 4", de Fredericksburg, no estado da Virginia; elevado ao grau de Companheiro em 1.753, e exaltado a Mestre no dia 4 de agosto de 1.754. Vale ressaltar que a Maçonaria nos Estados Unidos teve início em 23 de abril de 1.730, no estado de Massachussets, portanto 02 (dois) anos antes do nascimento de George Washington. 

O Primeiro Presidente Norte-Americano GEORGE WASHINGTON foi o primeiro presidente norte-americano, sendo um forte defensor da democracia, permitiu que o seu país emergisse como uma nação verdadeiramente voltada aos interesses do povo. Washington foi eleito por duas vezes ao cargo, mas após o final de seus mandatos, ele não tentou permanecer no poder. Ele então estabeleceu a organizada e pacífica passagem de poder de um líder eleito para outro - um precedente que sempre permaneceu em vigor em toda a história dos Estados Unidos. Segundo alguns biógrafos de George Washington, este não era um grande pensador ou orador assim como outros líderes americanos anteriores tais como Thomas Jefferson, James Madison ou Benjamin Franklin. 

Entretanto, sua liderança provou ser ainda mais valiosa que a mente brilhante destes homens. Não fosse por sua liderança, provavelmente as bases para a lei, ordem e democracia nos Estados Unidos não teriam se estabelecido de forma tão sólida e não teriam resistido ao tempo. 

Representante da Virginia no 1º Congresso Continental (1.774) e Comandante-geral das forças coloniais (1.775), dirigiu as operações, durante os cinco anos da Guerra de Independência, após a declaração de 1.776. Ao ser firmada a paz em 1.783, renunciou à chefia do Exército, dedicando-se então aos seus afazeres particulares. 

Como Presidente da República norte-americana, nunca olvidou a sua formação maçônica: ao assumir o seu primeiro mandato, em abril de 1.789, prestou o seu juramento constitucional sobre a Bíblia da "Loja Alexandria nº 22", da qual fora Venerável Mestre em 1.788; em 18 de setembro de 1.783, como Grão-Mestre da Grande Loja de Maryland, colocou a primeira pedra do Capitólio - o Congresso norte-americano - apresentando-se com todos os seus paramentos e insígnias de alto mandatário Maçom.

GEORGE WASHINGTON faleceu em sua casa, em 14 de dezembro de 1.799, seu sepultamento ocorreu no dia 18, na mesma propriedade de Monte Vernon, numa cerimônia fúnebre Maçônica, dirigida pelo Reverendo James Muir, capelão da "Loja Alexandria nº 22", e pelo Dr. Elisha C. Dick, Venerável Mestre da mesma Oficina. 

O legado do primeiro presidente norte-americano continua até hoje. A capital do país, Washington D.C. (Distrito de Colúmbia), recebe seu nome. Uma nação agradecida reconhece que sua grandeza se deve em grande parte a homens como Washington, que lutaram para criar um país baseado nos ideais de "vida, liberdade e a busca pela felicidade". Mesmo que a história americana não seja impecável, a nação provou ser uma fonte de liberdade, oportunidade e riqueza para norte-americanos e imigrantes de outras nações do mundo. 

Pelo exposto, a fixação do dia 22 de fevereiro como "DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM", representa uma justa homenagem a um grande maçom, que antes de tudo, após a sua luta pela Independência de seu país, preferiu como forma de governo, a República Democrática à monarquia, transformando-se num dos Grandes vultos da História Universal. 

http://www.colegioveneraveis.com/datas/macon_internacional.htm

A (IM)PERFEIÇÃO E AS OLD CHARGES (II) - Paulo M.


Em pleno século XIX houve diversas tentativas de se tornar menos estrita a regra que impedia a admissão de deficientes físicos na Maçonaria, alegando-se ser esta um legado dos tempos da maçonaria operativa. Algumas Grandes Lojas deixaram, mesmo, cair este requisito, exigindo apenas que o candidato tivesse a capacidade física estritamente necessária a que pudesse ser iniciado e receber os ensinamentos da Ordem. Mas logo vozes se elevaram, recordando que o que estava em causa era um dos landmarks da Maçonaria, que são por definição imutáveis, e por isso a questão não careceria sequer de mais discussão. Independentemente da origem do preceito residir na maçonaria operativa e ter, entretanto, deixado de fazer sentido, este deveria ser cumprido, sob pena da retirada do reconhecimento às Obediências que não o cumprissem e fizessem cumprir. Mas não se pense que, sem mais debate, a questão se ficava por aqui, ou que os argumentos alegados eram desprovidos de substância; pelo contrário.

Alegava-se, por exemplo, que a Bíblia descreve, repetidamente, como só um animal perfeito e sem mancha podia ser oferecido em sacrifício. Se o bicho tivesse a mínima imperfeição deixava de ser passível de ser oferecido em holocausto: ao Divino não se oferecia senão o que se tinha de melhor. Ainda nesta perspetiva, uma vez que, em Maçonaria Regular, se trabalha “À Glória do Grande Arquiteto do Universo” – donde decorre que o trabalho que se faz é feito em Sua intenção, sendo cada maçon a sua própria oferenda – a aplicar-se à letra o antigo princípio da perfeição da vítima sacrificial, poder-se-ia discorrer que um deficiente físico não seria “suficientemente bom” para ser oferecido ao Grande Arquiteto do Universo.

Outro dos argumentos teria que ver com a capacidade de trabalhar. A Maçonaria – mesmo a Especulativa – socorre-se do trabalho como forma e método de aprendizagem, pelo que a incapacidade para desempenhar tarefas úteis poria em causa todo o método maçónico. Por outro lado, é essencial que um maçon se baste a si mesmo, pois de outro modo não teria a disponibilidade mental para se aperfeiçoar enquanto pessoa. É uma questão de prioridades: primeiro o sustento do corpo, depois o apuramento do espírito.

A própria simbologia maçónica era usada como argumento. Discutia-se, com a maior seriedade, se, uma vez que a maçonaria tinha por objetivo a “construção do Templo” a partir das pedras que cada um ia tratando de polir, não seria contrário à mesma maçonaria aceitar pedras “tortas”? Que Templo Perfeito poderia a Maçonaria almejar construir à Glória do Grande Arquiteto se as pedras não fossem todas perfeitas?

Espantosamente, este debate ainda persiste; ainda há Obediências – Grandes Lojas – cujos regulamentos proíbem a admissão de deficientes físicos. Contudo, mesmo a maioria dessas admite que, se um Irmão ficar limitado (amputado, paralisado…) após a sua admissão, terá todo o apoio da loja.

Na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP a questão, tanto quanto sei, não se coloca. As condicionantes à admissão são, de acordo com a Constituição e Regulamento Geral da GLLP, apenas que os candidatos sejam

“homens livres e de bons costumes que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz” , que tenham “o respeito pelas opiniões e crenças de cada um”, e sejam “homens de honra, maiores de idade, de boa reputação, leais e discretos, dignos de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem, e o infinito poder do Eterno”.

Pode argumentar-se que um deficiente físico não é inteiramente livre. Fosse esse um requisito – ser inteiramente livre – e não haveria quem pudesse ser admitido na maçonaria. Todos nós só o somos até certo ponto. Quanto à iniciação, será que se perde alguma coisa se for feita de cadeira de rodas? Claro que sim. Mas não se perde mais numa iniciação do que num passeio na cidade; quem está limitado sabe que o está, e em que medida.

E um surdo? Ou um cego? Poderão ser iniciados maçons? Não vejo porque não. Desde que aptos a comunicar, estou certo de que se providenciaria o que fosse razoável para os acomodar. Um surdo pode, por exemplo, ler nos lábios; e poderia “falar” por escrito, à falta de melhor. Um cego pode ouvir e falar – apesar de poder ser curioso ouvir da sua boca algumas fórmulas rituais que se referem à Luz e às Trevas, por exemplo, mas basta que interiorizemos que a Luz e as Trevas, em Maçonaria, são simbólicas, não precisando nós dos olhos para as poder entender, para que logo as suas palavras deixassem de soar estranhas.

Pode um amputado praticar natação? Ou um paraplégico jogar basquete? Sabemos que podem. E podem competir de igual para igual com uma pessoa não deficiente? Tenho as minhas dúvidas. Mas poderá a prática desportiva tornar a sua vida mais completa, incrementar a sua saúde, torná-los pessoas mais felizes? Disso já tenho a certeza. Do mesmo modo, poderá um deficiente físico tirar partido da maçonaria tanto quanto alguém que o não seja? Bom… em muitos casos até pode, mas admitamos que não podia. Seria essa lacuna, esse inultrapassável obstáculo, razão para que fosse impedido de atingir todo o resto?


Publicado no Blog “A partir pedra” em 25 de Dezembro de 2010