março 05, 2024

A INICIAÇÃO - Walter Luiz da Fonseca



Este é um tema que normalmente fascina a todos que ingressam na Maçonaria, ou mais corretamente, desde que os Maçons começam a se reconhecer como Irmãos. 

Como pode, entretanto, um homem maduro, de cabelos não raro já grisalhos, ou às vezes já rarefeitos, repentinamente tornar-se Irmão de outros homens de quem na maioria das vezes, não teve honra e a alegria de conhecer nem pai nem mãe?

Este verdadeiro milagre se dá pela Iniciação! 

Muito se fala sobre a Iniciação. É comum ouvirmos que durante a Cerimônia não deve haver trote ou brincadeiras. Mas também é comum ouvirmos falar que ela deve ser feita em ambientes lúgubres, como cemitérios, ou então utilizar recursos estranhos e assustadores. Não me parece que nenhuma das alternativas ao Ritual seja correta ou deva ser estimulada.

Iniciar é, de certo modo, fazer morrer ou provocar a morte. Não a morte física, mas a morte simbólica que é considerada como saída, como passagem pôr uma porta que dá acesso a outro lugar. A saída corresponde então a uma entrada. Iniciar é também introduzir. Iniciar é a passagem de uma vida para outra, pela morte simbólica e pelo renascimento espiritual. 

A Iniciação transpõe a barreira de fogo, que separa o mundo profano do mundo sagrado. Passa de um mundo para outro. Desta forma o Iniciado passa pOr uma transformação, tornando-se diferente do que era como profano, mudando de nível. Do nível terreno, material, é alçado para o espiritual. 

A Iniciação gera uma metamorfose, sendo um processo alquímico, em que o Iniciado morre aos olhos do mundo, operando uma regressão, com um novo nascimento. Este nascimento pode ser comparado ao retorno ao ventre da mãe, à caverna, ao interior da terra. A posterior saída é para a luz. O iniciado penetra na noite e sai no dia. 

Infelizmente, a mente moderna, não consegue compreender o real significado da Iniciação, que era uma característica de todas as grandes religiões e corporações da antiguidade. Sabemos que as tradições cristã, judaica e islâmica mantêm ainda estes mistérios, representados pelo batismo, porém, o homem moderno não está mais sensível aos mistérios do espírito.  

A separação entre o homem da idade moderna e o homem da antiguidade não é apenas temporal. A separação é principalmente mental. Não podemos compreender os antigos porque perdemos a capacidade de perceber, de entender e principalmente de pensar à maneira como deles.  

A mente do homem contemporâneo, do século XX, está sobrecarregada de preconceitos, inundada pela “racionalidade”, da sociedade consumista ocidental, desencadeada no século XIX, principalmente pelo período de vácuo sentimental da denominada “belle époque”. 

O homem moderno tende a encarar a morte simbólica da Iniciação apenas como uma experiência psicológica, tendo em vista que todas as alterações ocorridas na psique humana assim são vistas. Ora, a morte da Iniciação é representação da morte ante os olhos do mundo. Representa a superação da condição profana, ultrapassando em muito uma experiência de ordem psíquica. 

Esta forma de pensar e de agir se deve a que as pessoas modernas têm muita dificuldade em conceber uma época em que, para os homens, a Terra não estava separada do céu. Nós hoje não conseguimos entender como os antigos viam o sagrado e o profano, pois não havia a dualidade entre o gênero humano e a natureza, portanto entre o profano e o sagrado. A ausência de separação entre o Paraíso e a Terra era o ponto comum das religiões dos povos antigos (da Índia antiga, da Pérsia, do Egito). Aliás, palavra Paraíso vem do persa, e quer dizer lugar de delícias. 

Também no Cristianismo não havia distinção entre o Céu e a Terra. Esta afirmação pode ser confirmada pela oração de Cristo, quando ele nos ensina a dizer “assim na Terra como no Céu”. Neste momento, ele está afirmando que não deve haver diferença entre os dois, pois na Terra deve-se proceder como no Paraíso. No Velho Testamento está escrito que nós fomos feitos à Imagem e Semelhança de Deus, de modo que, o judeu primitivo se via como reflexo da divindade. 

Para se entender o real significado de uma Iniciação é necessário que se torne ao primeiro povo que a utilizou de forma sistemática e coerente: o povo egípcio. 

Todas as cidades egípcias tinham divindades próprias, com suas tríades, divinas e enéades. Sem dúvida as tríades mais importantes eram representadas pôr Osiris, Isis e Horo, a Segunda tríade pôr Seth, Néptis e Anúbis e a terceira a de Kefera, Chu e Tefnut. A primeira Tríade corresponde ao mundo sutil, a Segunda ao mundo inferior e a terceira ao mundo Celestial. Nas duas primeiras tríades há um Deus Masculino, mais velho, uma Deusa, sua Consorte, e um Filho. Na última tríade, só há um princípio primordial, que é Rá, ou Kephera, ou o Sol. Deste princípio emanam os outros dois Deuses, macho e fêmea, Luz e Treva, Essência e Matéria, Chu e Tefnut. 

Estas tríades também estão na origem da cabala: a primeira tríade, com o ápice voltado para cima, a Segunda tríade com o ápice voltado para baixo, a terceira tríade também voltada para baixo, abaixo da qual está a terra. Todas estas tríades podem ter seus nomes substituídos pêlos nomes das Sefirot. Não vamos aqui falar sobre isto, pôr não ser o tema do trabalho. 

No estudo dos três mundos herméticos – o Celestial, o sutil e o fenomenal, em que cada um é o reflexo do imediatamente superior, encontramos os três mundos: O Céu, a Atmosfera e a Terra. 

Num antigo papiro há uma importante afirmação de Rá: “sou Kefera pela manhã, Rá ao meio-dia e Temu ao entardecer”. 

O conhecimento dos três mundos do antigo Egito é fundamental para compreensão da Iniciação. No processo de ascensão proporcionado pela Iniciação. O Iniciado passa pôr uma mudança, não em nível físico, mas em termos de visão, tornando-se “epóptico”, ou seja, dotado de uma Segunda visão. Esta era a primeira morte, que fazia do homem dois a partir de três. 

Ou seja, havia a morte simbólica do corpo, permanecendo a alma e o espírito. A separação destes, fazendo um a partir de dois, representava a Segunda morte. Todos os egípcios acreditavam nesta forma de evolução após a vida: a primeira morte, a do corpo, com a alma e o espírito permanecendo no “horizonte”, que corresponderia ao “purgatório” da igreja católica, e a Segunda morte, que representa a entrada final do paraíso. 

Esta primeira morte, mediada por Isis, que representava a separação da matéria da “Imatéria”, ou seja, do corpo e do espírito e alma, podia ser feita ainda em vida pôr alguns escolhidos: os Iniciados! 

Daí se depende a grande importância da Cerimônia de Iniciação: ela proporciona a morte simbólica do corpo, ela representa a morte simbólica aos olhos do mundo profano, ela representa um avanço no desenvolvimento espiritual do homem. 

A Iniciação Maçônica, no Ritual do R.’.E.’.A.’.A.’., o recipiendário é recolhido a uma caverna, simbólica ou não, revestida de negro, fracamente iluminada, contendo objetos e símbolos assim como frase que convidam à reflexão sobre a morte e consequentemente, sobre a vida. 

Este é o primeiro momento em que o recipiendário tem os olhos desvendados desde que chegou. Até este momento ele caminhou na solidão da escuridão, acompanhado apenas pôr um guia que lhe é desconhecido. 

Neste momento solene e terrível, ele é convidado a ler e meditar sobre o que está nas paredes, num ambiente cercado do maior silêncio. Ele está só. O recipiendário está só! 

O recipiendário está num local tenebroso, vigiado pela morte representada pela caveira sem olhos de algum desconhecido há muito desencarnado! Neste momento ele deve pensar! O recipiendário deve pensar na morte: ele faz o seu testamento! Mas ele também deve pensar na sua nova vida, pois lhe são feitas perguntas sobre Deus, a nação, a família e sobre ele mesmo! 

Somente depois desta experiência maravilhosa, de vivenciar a primeira morte, o recipiendário estará pronto para as demais provas.

O que diz a Bíblia – Aparentemente, para o homem profano, a Iniciação é um processo ultrapassado do desenvolvimento humano, pertinente apenas aos povos ou homens atrasados. Poderíamos dizer que é um procedimento ateu, se levarmos em consideração as suas origens pré-judaicas. Será que é verdade?

Vejamos o que diz a Bíblia, seja no Velho ou Novo Testamento. Sei que é uma falha deter apenas no Livro da Lei dos cristãos, mas acredito que os Livros da Lei das outras religiões contenham igualmente passagens semelhantes, pois, afinal, existe apenas um G.’.A.’.D.’.U.’..

Comecemos com o aspecto divino do homem: 

1° - No Salmo 82 está escrito: 

1. “Deus assiste na congregação divina, no meio dos deuses estabelece o seu julgamento. 

.....

6. eu disse: sois Deuses, sois todos filhos do Altíssimo. 

7. Todavia, como homem, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de sucumbir”. 

Portanto, o salmista afirma que nós somos deuses. E o que diz Cristo? 

2° - No Evangelho de João capítulo 10 encontramos: 

“..... 

35. Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: “Eu disse: sois Deuses? 

36. Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a escritura não pode falhar”. 

Fica claro então que Cristo confirmou a Escritura: o homem tem um aspecto divino inegável. Mas será que todos os homens o são? 

3° - Evangelho de João, capítulo 1: 

“.... 

12. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: ao que creem no Seu Nome. 

13. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. 

Consiste a Iniciação numa atividade prevista nos Landmarks, quando afirma que os “candidatos à Iniciação deve ser....”. Pôr definição a Maçonaria é uma sociedade Iniciática.

Porém, a aplicação correta da Ritualística só poderá ocorrer se for muito bem compreendida, por todos os Irmãos, o que se espera da Iniciação: (a primeira morte, a do corpo, e o nascimento de um novo homem, que se já era livre e de bons costumes, agora deverá adquirir o conhecimento necessário para um contínuo aperfeiçoamento). 

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Bibliografia:

- Bíblia Sagrada 

- Os mistérios Egípcio – Editora Cultrix 

- Dicionário de Símbolos – Editora José Olympio 

- Símbolos e Mitos do Antigo Egito – Editora Hemus 

- O Livro egípcio dos Mortos – Editora Pensamento 

- Manual do Mestre Maçom – Editora Aurora 

- Comentários ao Ritual de Aprendiz Maçom – Editora Aurora 

- Isis sem Véu, Vol. IV – Editora Pensamento

A SOLIDARIEDADE MAÇÔNICA



A Solidariedade Maçônica não consiste, como creem o vulgo e o profano, no amparo incondicional de um Ir.’. ao outro.

Os laços da Fraternidade, quanto ao amparo moral ou material (individual ou coletivo), são oferecidos àqueles que, apesar de praticarem o Bem, sofrem os revezes das vida.

Para os que, trabalhando lícita e honradamente, correm o risco de soçobrar; ou mesmo para os que, tendo fortunas, sentem infelicidade em seu interior e amargas suas almas.

Para estes IIr.’. a Solidariedade Maçônica deverá  e será colocada em prática, pois aí haverá uma causa justa e nobre.

Em nossa iniciação, juramos amar o Próximo como a nós mesmos,  cuja máxima representava o compasso sobre o nosso peito, na justa medida para a construção do mundo de Fraternidade Universal.

Juramos ainda defender e socorrer nossos IIr.’. ; todavia, quando um Ir.’. se desvia da Moral que nos fortifica, ele simplesmente rompe a Solidariedade que nos une.

Estará então em condições notórias de deixar de ser um Ir.’., perdendo todos os direitos ao nosso auxílio material e, principalmente, ao nosso amparo moral.

Há quem defenda que Irmão será sempre Irmão, contudo a própria legislação que rege a Ordem declara sua suspensão desse Direito, sob determinadas circunstâncias. 

Logo, essa Solidariedade não dá guarida à ignorância e ao preconceito.

Em igualdade de circunstâncias, devemos preferir um Ir.’. a um profano; mas nunca devemos fazê-lo se assim cometermos uma injustiça - a cada um, o que é de seu mérito.

Ela não existe para ferir nossa consciência.

Seus ensinamentos nos conduzem a proteger um Ir.’. no que for justo e honesto, mas sem boas e justas razões não devemos favorecê-lo pelo simples fato de ser Ir.’..

Ademais, tal Princípio nos ensina tanto a dar quanto a não pedir sem a justa necessidade.

A Ordem, idealmente, só admite entre os seus membros aqueles que são probos, de caráter ilibado, que tenham a faculdade chamada inteligência e que sejam livres e de bons costumes.

Assim é natural que MM.’. cheguem a posições sociais elevadas, visto se destacarem por suas qualidades pessoais.

Se alguém pretende obter o mesmo, utilizando-se unicamente de um sistema de favorecimento, proteção e acobertamento fazem mal em entrar para o seu seio.

Sua admissão padece de vício insanável, de erro essencial quanto à pessoa.

Para estes casos, nossa Ação Moral, nossos Princípios e Leis hão de serem instrumentos seguros para separarmos o joio do trigo - e ficarmos com o trigo.

A Solidariedade, aliás, não está adstrita aos Ir.’., estende-se a todos os Homens e se materializa não apenas no amparo imediato, mas na educação.

O exercício da Solidariedade, assim, deve pautar-se em duas palavras - tolerância e humildade.

A predominância da Humildade se faz necessária em todas as ações que empreendermos e desenvolvermos, para que o auxílio não se transforme em esmola e enodoe a alma do necessitado.

A Tolerância para com os nossos semelhantes, quer em suas opiniões, quer em suas crenças, impõe-se para garantir a Liberdade e a Justiça.

É pensamento muito bem traduzido por Voltaire: “Discordo de tudo quanto dizes, mas defendo até a morte o direito de dizê-lo.”

Ambas serão, portanto, utilizadas para Educar os que necessitam e, pelo processo dual, nos educarmos.

Ensinar aquilo que realmente sabemos e com isto nos instruir também.

Corrigir e alertar para os erros que atentem quanto à ética e compromissos inerentes à sociedade.

Cabe aqui encerrar com La Fontaine, em trecho do prefácio de “FÁBULAS DE ESOPO”:

...“Antes de sermos obrigados a corrigir nossos maus hábitos, é necessário que nos esforcemos para torná-los bons”...

(Fonte: https://focoartereal.blogspot.com.br)

março 04, 2024

A FORÇA, A BELEZA E A SABEDORIA - Sidnei Godinho



Algumas sociedades de estudo e aprimoramento moral empregam a alegoria da tríplice coluna que sustenta a base de qualquer relacionamento social, à começar no próprio lar: "A Força, A Beleza e a Sabedoria". 

Os Gregos instituíram três grandes ordens arquitetônicas que legaram a humanidade desde o século VIII AC e que se tornaram representação concreta e visível desta filosofia de equilíbrio intergrupal. 

A Força faz acontecer e quebra a inércia do comodismo, além de proteger e conquistar. 

É a coluna "Dórica", simples em sua constituição, mas que sustenta o maior peso em sua edificação. 

Contudo, o que é a Força se não houver a Beleza para adornar e tornar atraente? 

É a coluna "Coríntia" que ganha adornos e torna atraente a construção, ao preço da redução da carga sustentada. 

Mas é a combinação da Força com a Beleza que traz a tão necessária e estável SABEDORIA. 

É a coluna "Jônica", a combinação Perfeita entre a Força e a Beleza que possibilita edificar o necessário sem sacrificar o ornamento que agrega seu valor de desejo. 

Quantas vezes em uma relação não se perde o objetivo do bem estar comum ao se tentar impor pela Força da racionalidade ou se perder na Beleza dos sonhos??? 

Importa encontrar o Equilíbrio da Sabedoria para conciliar a Força da Razão quando se fizer necessário e também viver a Beleza de sonhar, pois afinal a emoção é tão importante quanto a razão. 

Aproveite então este domingo e busque seu equilíbrio entre ser frio/calculista e ser um sonhador. 

Fato é que os Gregos, há milênios, descobriram que o segredo não está nos extremos da Força nem da Beleza, mas no meio termo que é a Sabedoria. 


A ARCA DA ALIANÇA NA MAÇONARIA - Pedro Juk


Em 17/12/2019 o Respeitável Irmão Rubem Carvalho Maia, Loja União Planaltinense, 3.854, REAA, GOB-DF, Oriente de Planaltina, Distrito Federal, solicita esclarecimentos. 

Por favor o senhor poderia me auxiliar no entendimento do que é a Arca da Aliança? 

Estou desenvolvendo um trabalho nos graus superiores, mas ainda sem um entendimento para a pouca pesquisa que fiz. 

Que livros o Senhor indicaria? 

CONSIDERAÇÕES: 

Vale a pena antes fazer um pequeno comentário que envolve a influência hebraica na Maçonaria. 

Nesse sentido, os espaços destinados aos trabalhos maçônicos, também conhecidos como Templos Maçônicos, são relativamente recentes, já que o primeiro Templo propriamente dito foi inaugurado em maio de 1776 na cidade de Londres. 

É sabido pelos maçons que as Lojas no passado se reuniam em tabernas, cervejarias e nos adros das igrejas. 

Compreenda-se, entretanto, que as tabernas europeias do século XVII e XVIII eram elementos que serviam também às funções sociais e reuniam nos seus seios grupos associativos e principalmente de artesãos do mesmo ofício. 

Na verdade, as tabernas serviam também como um local de concentração onde os seus frequentadores tocavam ideias e até mesmo aperfeiçoavam seu conhecimento profissional, sobretudo pela convivência com os seus pares de ofício. 

Em síntese, nas tabernas e cervejarias as reuniões se davam com um caráter mais descontraído, enquanto que as reuniões formais geralmente ocorriam nos recintos contíguos às igrejas, ou nos seus adros. 

É bom que se diga que a Maçonaria de Ofício (Operativa), antecessora da Moderna Maçonaria (Especulativa, ou dos Aceitos), cresceu e floresceu à sombra da Igreja. 

Assim quando os maçons ingleses tiveram edificado o seu primeiro Templo, em 1776, sem nenhum embargo, eles foram buscar referências construtivas em dois modelos que lhes eram bem conheciam, ou seja, nas igrejas e o Parlamento britânico. 

Desse modo, das igrejas foram então copiadas a orientação, a disposição e a divisão do espaço, lembrando, entretanto, que as igrejas indisfarçadamente tiveram a sua origem no primeiro Templo de Jerusalém (o de Salomão). 

É por esse viés que as igrejas igualmente se situam orientadas do Oriente para o Ocidente e também se dividem em três partes: o altar-mor, o presbitério e a nave. 

Em relação ao Templo hebraico, o altar-mor da igreja, no qual se coloca o oficiante da missa, corresponde ao Santo dos Santos; o presbitério, que é o lugar onde se colocam os auxiliares no ofício da missa, corresponde ao Santo, por fim a nave, onde ficam os fiéis, representa a parte descoberta do Templo hebraico que era destinado ao povo. 

Assim também ocorre com o Templo Maçônico, onde a sua orientação, no sentido longitudinal do espaço, vai do Oriente (Leste) para o Ocidente (Oeste) e a sua divisão se dá em três partes a saber: o Altar no Oriente - onde fica o dirigente da Loja - se relaciona com o Santo dos Santos e este, por sua vez, se relaciona com o altar-mor das igrejas; o restante do espaço oriental - onde ficam as autoridades maçônicas e alguns oficiais - corresponde ao Santo que, consecutivamente se relaciona com o Presbitério; por último as Colunas - onde se distribuem os Vigilantes, obreiros e demais oficiais - correspondem à nave, sendo que esta, por sua vez, corresponde à parte descoberta (pátios) do Templo de Jerusalém. 

É desse modo então que o Templo Maçônico indiretamente está associado ao Templo de Jerusalém, contudo cabe salientar que ele não é, como muitos equivocadamente pensam, uma cópia fiel do Templo hebraico. 

De certo modo, positivamente essa semelhança tem as igrejas como intermediárias, o que não é de se achar estranho, sobretudo porque a Igreja herdou, além da figura do Templo, muitos outros aspectos do judaísmo que indiretamente viriam também aportar na Maçonaria, principalmente aqueles relacionados à sua liturgia e aos seus símbolos. 

Do Parlamento britânico a Moderna Maçonaria trouxe, dentre outros, a disposição dos assentos que ficam de frente para o eixo longitudinal, assim como a "great chair". 

No que concerne à Maçonaria e a sua herança hebraica, são utilizados vários objetos e utensílios que se distribuem nos Templos Maçônicos, levando-se em conta cada Rito praticado, bem como as suas Câmaras pertinentes aos respectivos graus. Em se tratando do REAA, é o caso, por exemplo, das Colunas do Pórtico, do Delta com o nome hebraico de Deus; do Mar de Bronze, do Ouro, da Pedra e do Cedro do Líbano; do Altar dos Perfumes, da Arca da Aliança, da Urna do Maná e da Vara de Aarão; da Mesa dos Pães Propiciais, do Candelabro de Sete Braços, etc. 

Em relação a sua questão propriamente dita, seguem alguns apontamentos relacionados à Arca da Aliança na Maçonaria, cujo conteúdo o Irmão deverá associar aos seus estudos nos respectivos graus do REAA, além, obviamente, dos graus do Franco-maçônico básico – Aprendiz, Companheiro e Mestre. 

A Arca da Aliança, ou do Testemunho (Êxodo, 25 – 10 a 22) é uma alegoria bíblica que simboliza a terceira aliança de Deus com o homem. 

Comentando cada uma das alianças e de modo básico, a primeira Aliança, a mais abrangente das três, é aquela que Deus fez com Noé e incluí toda a humanidade – o arco-íris, como se apresenta em Gênese (primeiro livro do Pentateuco – a criação e os tempos primitivos do mundo) é o seu sinal ou a sua prova. 

A segunda Aliança, já de caráter mais restrito, é abraâmica, sendo o seu sinal a circuncisão (brit-milá em hebraico) e envolve todos aqueles que evocam o Deus de Abraão. 

Por fim, a terceira Aliança que seria concluída quando Moisés, no monte Horeb, estabeleceria o pacto, através do sacrifício, unindo Israel a seu Deus. 

Seu sinal é o shabat (sábado), o dia da plenitude da criação, e a sua lei é aquela que Deus revelou no Sinai. 

A Arca da Aliança, contendo apenas as Tábuas da Lei, fora colocada no Santo dos Santos, em cujo espaço não existiam quaisquer outros objetos. 

Segundo a tradição hebraica, nesse recinto somente ingressava o Cohen Gadol (em hebraico: Supremo sacerdote) apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação ou do Perdão (em hebraico: Iom Kipur) que ocorre no primeiro dia do ano novo hebraico (Rosh Ashaná – cabeça do ano). 

O novo ano hebraico acontece no mês Tishrei e começa na primeira lua nova que se segue ao equinócio de outono no hemisfério Norte. 

Conta a tradição que nesse dia, no Santo dos Santos, Deus se apresentava ao supremo sacerdote. 

A Arca da Aliança, depois que os hebreus ingressaram na terra prometida, seria guardada em Galgata, sendo depois, juntamente com o Tabernáculo, levada a Silo. 

Durante a guerra travada contra os filisteus, a Arca seria roubada, porém mais tarde recuperada pelos hebreus. 

Na sequência, por volta de oitenta anos, ela ficaria em Cariatiarim, de onde foi levada até a casa de Obededom de Get. 

Assim, a Arca assumiria seu lugar definitivo no Santo dos Santos quando da construção do primeiro Templo de Jerusalém, também conhecido como o de Salomão. 

Quando da tomada de Jerusalém por Nabucodonosor II, em 586 a. C., o Templo foi destruído tendo a Arca desaparecido, pelo que não se sabe se ela foi escondida, ou mesmo destruída junto com o Templo. 

Ainda sobre a Arca da Aliança e a Maçonaria, especula-se, em detrimento ao filosofo e pensador Gottfried Wilhelm Von Leibniz, sobre a teoria da "mônada" (elemento simples) onde a Arca aparece como o elemento constitutivo de todas as coisas – as leis das causas finais do bem e do mal. 

É, segundo Leibniz, a ação de princípio interno que exprime a mobilidade das almas, que não estão jamais em repouso, mas tendem continuamente a uma melhor harmonia interior. 

Essa é então uma síntese do que eu poderia lhe colocar no momento em relação a Arca da Aliança na Maçonaria em geral, e em particular no REAA. 

Por fim, recomendo-lhe a leitura de bibliografia de Nicola Aslan, cuja qual aborda os graus superiores do REAA, assim como o Mestre Secreto de autoria de Francisco de Assis Carvalho e José Castellani. 

Dentre outros, também A Maçonaria e a sua Herança Hebraica, As Origens Históricas da Mística Maçônica e Shemá Israel, todos esses de autoria de José Castellani.


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O SAPIENTÍSSIMO - Roberto Ribeiro Reis


O sapiente não se enerva,

Ele singularmente observa

O comportamento humano;

É capaz de dominar a fera,

E a maldade do outro tolera,

Pois venceu o lado profano.


Tem a vibração do bom plano,

Ele já não sucumbe ao engano,

Vive a realidade sem a quimera;

Ele é o Mestre que, humildemente,

Percebe o que cada Irmão sente,

Empatia é o sentimento que venera.


Dispensa bajulação e todo cortejo,

E o seu sonho e enorme desejo

É que o homem absorva conhecimento;

Ele é um Soberano, Obreiro mui forte,

Sabe que a vida não se encerra na morte,

Vê "a passagem" com contentamento.


Quando com ele, singular é o momento,

Já se esvai todo meu empobrecimento,

Pois o Ir.'. é fonte perene de informação;

Baluarte maior da franco-maçonaria,

Sua vida é um misto de amor com poesia,

A Sabedoria é própria de seu coração.

março 03, 2024

LEMBRA MESTRE - Adilson Zotovici




Mestre, _teme_ a Deus Portento

Augura desde a mocidade

À idade, teu _contentamento_

Da tua escultura faz beldade


_Guardas_ de porte no momento

Maço fiel, forte, à vontade

Ao brilhar o conhecimento

Com cinzel talar a “_vaidade_”


Rompe o Fio de Prata bento

Rebo ao pó retornamento

Mas o espírito à _Divindade_


Humildade cresce ao evento

Que aos “Olhos” do firmamento...

Jamais fenece a _Verdade_ !



MAIS FELIZ - Adilson Zotovici




Vede a felicidade

Entre as mesuras, gentis,

Calmas, de fraternidade,

Que de almas puras sentis


Vez que próprio da irmandade

Per si, cada evento prediz

E sempre é solenidade

Nos bons momentos sutis


Mas, há  uma curiosidade,

Que se atrela à diretriz

Qual revela uma verdade :


Vaticina  que mais feliz

A oficina em atividade

Quando em  Loja de aprendiz  !



Podcast #31: Lançamento da série "Esoterísmo".

março 02, 2024

MARÇO PEDE LICENÇA - Newton Agrella



O nome do mês de MARÇO, que abre suas portas na data de hoje na era vulgar do ano de *2024* do Calendário Gregoriano  tem sua origem advinda do substantivo "Martius" que era o primeiro mês do ano na Roma Antiga e no seu antigo calendário.

Esse nome fazia referência a MARTE, Deus da Guerra. 

Como em Roma o clima é mediterrâneo, Março é o mês que abre a Primavera, suscitando desse modo uma relação lógica para se dar o início de um novo ano, assim como para se empreender a temporada das campanhas militares de então.

Tudo isso, é claro, baseado nas circunstâncias históricas, sociais e culturais daquela época.

Cabe registrar que a partir do nome "Março", derivou-se por analogia e por extensão semântica, o adjetivo, "marcial", cuja idéia remete ao aspecto bélico, de guerra, de luta e de confrontos.

Por isso, o surgimento das expressões: : Corte Marcial,  Lei Marcial, Artes Marciais e por aí afora.

Feita esta brevíssima consideração histórica sobre o referido mês, cumpre destacar que na história contemporânea, a data mais marcante do mês de Março, comemorada em mais 100 países e institucionalizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) - a partir da década de 1970  -  é 08 de Março  - "DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES"  - como sendo um dia de protestos e manifestações legítimas na luta contínua pelos seus direitos em toda a sua plenitude. 

Uma luta não apenas contra a desigualdade salarial e profissional, mas sobretudo contra o machismo, a violência e o feminicídio.

O mês de Março portanto, traz consigo essa carga de responsabilidade histórica que impõe um permanente estado de vigília, de reflexão e principalmente de "consciência"  por parte da civilização humana.

Que Março continue bradando através da força de seu nome e de seu significado, a luta desmedida e ininterrupta pelo reconhecimento, respeito e valor inestimável que a Mulher possui e representa em todo o nosso universo. 

O TEMPLO DEVE SER RESPEITADO - Charles Evaldo Boller


O templo não é um local exclusivo para fazer ordem-unida, marchar, fazer continência, apresentar armas, formar fileiras, ler a ordem-do-dia e cumprir o ritual de forma impecável. É local sagrado! Sim! É o espaço tridimensional físico mais sagrado que o Maçom possui: ele mesmo! O templo é o local onde ele se percebe em união com o Todo.

É inaceitável comportamento inadequado dentro do templo que representa o homem símbolo no universo. Não se trata do templo físico feito de cimento, areia e tijolos: isso é matéria. O templo é outro. Feito de carne, ossos, nervos, e, principalmente, intelecto e espírito. A loja representa o homem. Feita para o homem. Simbolicamente é um homem deitado de costas com a cabeça no oriente. Entrar no templo significa que se está penetrando no local mais recôndito de si mesmo: representação viva do que cada um é. O Maçom esclarecido e espiritualizado entra no templo consciente que está caminhando dentro em si mesmo. Local onde prospecta por virtudes, valores e mudanças em todas as dimensões.

É na aparência externa que o outro reconhece imediatamente aquele que já se iniciou Maçom. Uma coisa é iniciar alguém, isto é simbólico, outra é iniciar a si mesmo, isto é sublime, real! A iniciação simbólica é trabalhada no grau de Aprendiz Maçom; a iniciação real acontece depois, em surdina, no íntimo de cada um. Inicialmente burila-se o lado externo da pedra: mundo da aparência, da fantasia, dos sentidos, daquilo que parece ser. Subsequentemente trabalha-se o interior da pedra, da realidade, daquilo que os outros não veem: que representa o Maçom no universo. Este é o Maçom de fato e em sentido lato. Aquele que já se iluminou enxerga dentro de si mesmo, vê dentro da pedra. O que passou pela cerimônia da iniciação pode até camuflar a sua aparência externa que os outros veem, mas é impossível camuflar de si o que ele é por dentro.

A transposição das colunas vestibulares separa dois universos: macro e microcosmo; no macrocosmo está o homem que parece ser: corresponde à sala dos passos perdidos, átrio etc.; no microcosmo o homem real, que é: a sua essência, existência, realidade, consciência, alma, templo, etc. Tudo no universo é energia. O homem é energia. O pensamento é energia. A Mecânica Quântica já caminha em direção da obtenção de explicações razoáveis desta manifestação. Místicos reportam-se a algo denominado por eles como Egrégora, uma força coletiva que se manifesta em condições especiais de colaboração e fusão espiritual. Até associam a manifestação do espírito de pessoas mortas na criação desta manifestação etérea. Mesmo ao incrédulo da manifestação energética dos mortos em tais ocasiões há de considerar, no mínimo, a presença das pessoas vivas que colaboram com a criação de um campo energético concentrado. É física! O homem já está quase lá! Por ora apenas intuímos e percebemos tal possibilidade sentida, mas num futuro próximo haverá comprovação científica desta manifestação energética.

Isto dá sustentação para a necessidade de preparar o templo material de pedra, de modo a se tornar eficiente para concentrar energias. Entrar no templo antes do que se definiu por consenso, ritualística e regulamentação é uma forma de conspurcar um local sagrado preparado para lidar com variadas formas de energia. Entrar antes de o ambiente estar preparado é desobediência, rebeldia, brutalidade. Pode-se até entrar antes do permitido! Quem impede ao embrutecido de fazer estragos? Apenas ele mesmo! Desobedecer ao acordado a priori certamente altera o espaço físico onde se formará o homem símbolo espiritual que cada um é; respeitar tal dispositivo no mínimo acata o direito dos demais usuários do local. A falta de respeito ao local sagrado altera a essência espiritual coletiva dos irmãos reunidos em assembleia. Por empatia, com sentimento fraterno deve-se reverenciar o sentimento dos irmãos recolhidos dentro de si mesmos em presença do Grande Arquiteto do Universo! Maçonaria não é religião, o templo maçônico não é local de adoração, mas o mais sagrado dos templos que cada um é. Este local é sagrado, inefável, deve ser tratado com respeito porque assim cada um respeita a si mesmo. O templo de pedra é apenas a sua representação simbólica, mas quem o desrespeita e o conspurca com a sua presença ao entrar antes da hora está desrespeitando primeiro a si próprio, depois a todos os outros irmãos que compartilham do mesmo espaço.

Entrar no templo é entrar no lugar mais sagrado do Universo para cada um: é entrar em si mesmo. E nesta ocasião cada um se dá o respeito que acha que deve; se dá a importância que acha pertinente. Cada um entra no seu local mais sagrado trajando-se interna e externamente da forma em que se dá importância. Toda a sessão em loja é magna para aquele que se respeita. Certo seria trajar-se sempre para evento de importante envergadura, ocasião magna. O ritual recomenda: terno, gravata, sapato, cinto, meias pretas e camisa branca. Qualquer diferença é apenas aceitável, tolerável, afinal cada um se dá o valor que acha possuir. Como falar de amor com alguém que nunca foi amado? Como poderá amar a si mesmo aquele que nunca foi amado? O bruto que não respeita a si mesmo nunca foi amado. Se o Maçom em formação ainda não despertou e não se dá valor, pode entrar de forma contumaz, com a indumentária com que se sente melhor trajado para comparecer diante de si mesmo, dentro de si mesmo, diante do universo, perante o Grande Arquiteto do Universo: isto é pessoal, é intransferível. Cada um se dá o valor que acha que deve.

O templo é lugar sagrado que recebe a cada um naquilo que é em sentido lato, não tem como escamotear a própria percepção de realidade de si mesmo, da sua consciência e memória.

À GLÓRIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, O TEMPLO DEVE SER RESPEITADO!



O OBJETIVO DO ESTUDO NA MAÇONARIA - Louis Block


É correto dizer que o grande problema diante de nós é o da pedagogia da Maçonaria. Isso significa que o ensino dos fatos sobre um grande movimento histórico baseado na teoria de que a verdadeira felicidade do homem só pode ser alcançada pela união de todos em uma democracia alicerçada no espírito da fraternidade, onde cada um não seja apenas o guardião de seu irmão, mas também seu defensor, seu porto seguro, seu auxílio, seu incentivador, seu ombro amigo, seu inspirador e seu exemplo de amor ao próximo e a si mesmo. Tudo isso se ensina através do imaginário e das alegorias da Maçonaria, e de seu simbolismo místico. Não devemos nos perder na busca por algo sombrio, em teorias abstratas perdidas dentro de perspectivas obscuras, confusas, nebulosas e insignificantes; devemos sim estarmos próximos e nos dedicarmos aos verdadeiros valores humanos. Princípios devem existir para estarem realmente inseridos nas vidas das pessoas, se não for assim não farão diferença alguma. Nosso estudo deve aliar teoria e prática, com o estudante realmente utilizando-se de seu aprendizado e compartilhando os valores adquiridos, senão nossos esforços serão em vão.

Também não podemos deixar de mostrar que são os pensamentos que importam, que são eles que controlam a conduta dos homens; que, se seus pensamentos não são bons, o seu comportamento também não pode ser. O que precisamos é fazer com que os pensamentos certos sejam claramente formulados, imbuídos de amor, e profundamente gravados no subconsciente, de modo que eles irão inevitavelmente se expressar em nossos atos no dia-a-dia de nossas vidas. A meu ver, essa é a missão da Maçonaria: a construção desses grandes pensamentos na mente dos homens, transformando-os em atos cotidianos, com a certeza de que eles devem predominar, governar e prevalecer para os homens viverem juntos em paz e harmonia, e desfrutarem da verdadeira felicidade.

Como fazer isso é a grande questão. Como fazer a Ordem sentir que essas ideias não são abstrações vazias, mas reais, poderosas, vivas, atuais e sólidas – essa é a grande tarefa a se realizar. Precisamos compreender juntos os fatos sobre a Maçonaria: o que ela realizou no passado que a faz viver até os dia de hoje por seus próprios méritos? Como ela tem, durante sua existência, auxiliado o homem? Então precisamos colocá-los juntos em uma história de tal forma que ela vá capturar a atenção e manter o interesse do aluno. A capacidade de fazer coisas interessantes, para atiçar uma busca por mais “luz”, é o segredo de todo ensino. Você não pode abrir a cabeça de um estudante e colocar o conhecimento ali dentro, mas você pode incentivá-lo a estudar e aprender por si mesmo, e essa será sua vitória. Já temos a vantagem do grande poder de atração de nossos “segredos” e “mistérios”. Temos de mostrar aos iniciados o quão pouco sabem, quantos mistérios fascinantes ainda precisam ser explorados, investigados, analisados e estudados, para enfim poderem ser compreendidos.

Pergunte por que ele ainda permanece na Ordem. Ela o ajudou? Em caso afirmativo, como e de que maneira? Faça uma série de perguntas socráticas a ele; faça-o pensar! Se ela o auxiliou em algo, de alguma forma, sem dúvida, ela poderá fazer mais. Há mais lá, se ele souber procurar: “buscai e achareis.” Não é fácil ensinar os homens a observar o mundo ao seu redor, muito menos é ensinar-lhes a arte do discernimento espiritual. Mas é possível. Pode ser ensinado, pode ser desenvolvido, pode-se fazer essa habilidade florescer. Muito de nossa pedagogia moderna não é nada mais do que um árido, mecânico e vazio processo. Nossas crianças são instruídas a decorar, imitar, copiar, para seguir “o costume”, e não são nunca preparadas para pensar. Tal procedimento acaba por formar adultos incapazes de formular pensamentos simples, mas originais, não sendo capazes de fazer uma avaliação crítica do que ocorre ao seu redor; e muitos são os que em loja praticam a ritualística de forma errada, por que os Mestres “mais antigos” lhe “ensinaram” que assim é “o uso e o costume” daquela oficina.

Devemos preparar nossos novos maçons, incentivando-os a se dedicarem aos estudos e à pesquisa sobre a Ordem. Devemos incentivá-los a trabalhar sua mente, a construir seu templo espiritual, mas também o intelectual. Devemos incentivá-los a serem originais. Devemos incentivá-los a pensar!

Autor: Hon. Louis Block, Past Grand Master, Iowa. Tradução: Luiz Marcelo Viegas. Fonte: The Builder Magazine, Volume I, Número 4, abril-1915


A FÁBULA DO IMBECIL


     “Dizem que, numa pequena cidade, um grupo de pessoas se divertia com o "imbecil" local, um pobre coitado, de "pouca inteligência", que vivia fazendo pequenas tarefas e pedindo esmolas.

     Todos os dias, alguns homens chamavam o "estúpido" para o bar onde se encontravam e ofereciam-lhe para escolher entre duas moedas: uma grande, de menor valor, e a outra menor, valendo cinco vezes mais.

     Ele levava sempre a maior e a menos valiosa, o que era uma risada para todos.

     Um dia, alguém a assistir à diversão do grupo com o homem "inocente", chamou-o de lado e perguntou-lhe se ele ainda não tinha percebido que a moeda maior valia menos e ele respondeu:

     "Eu sei, eu não sou tão estúpido. Ela vale cinco vezes menos, mas no dia em que eu escolher a outra, o jogo termina e eu não vou mais ganhar moeda alguma."

      Essa história podia terminar aqui, como uma piada simples, mas várias conclusões podemos tirar desta fábula:

     A primeira: quem parece um idiota, nem sempre o é.

     A segunda: quem foram os verdadeiros idiotas da história?

     A terceira: ambição excessiva pode acabar com a fonte de rendimento.

     Mas a conclusão mais interessante é:

     1° - Podemos ficar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião sobre nós mesmos;

     2° - O que importa não é o que os outros pensam de nós, mas o que cada um pensa de si mesmo;

     3° - O verdadeiro homem inteligente é aquele que parece ser um idiota na frente de um idiota que parece ser inteligente!

Autoria desconhecida.

março 01, 2024

A IMPORTÂNCIA DE UM PADRINHO NA FORMAÇÃO DE UM MAÇOM - Rui Bandeira


O texto que hoje publico vai abordar algo que, no meu entendimento, será bastante relevante para a Maçonaria: o papel que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhado maçom.

Um padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quem deve ou não fazer parte da Augusta Ordem Maçônica. E padrinho pode ser qualquer maçom exaltado à condição de Mestre. O Mestre é o maçom de pleno direito. Logo tem a responsabilidade de fazer respeitar os princípios da Ordem, auxiliar na formação dos seus Irmãos, detenham eles o grau que tiverem e, apesar de não fazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha qualidades para ingressar na Maçonaria e, com essa admissão, possa desenvolver um trabalho correto, tanto pela Ordem Maçônica bem como pela sociedade civil na sua generalidade.

O padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário; o papel que ele deverá representar para o seu afilhado é o de um guia, de uma pessoa que o auxilie na sua integração na Loja, bem como de alguém que o ajude na sua formação maçônica, principalmente nos primeiros tempos, em complemento com a formação que é efetuada na loja, auxiliando também o Segundo Vigilante (cargo oficial desempenhado pelo terceiro elemento da hierarquia de uma loja maçônica) no cumprimento das suas funções, nomeadamente como formador dos Aprendizes Maçons.

Compete ao padrinho, após identificar no mundo profano alguém com as capacidades intelectuais e morais que são necessárias para ser reconhecido maçom, abordar o mesmo, da forma como achar que será melhor recebido pelo seu interlocutor. Na maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso, alguém que é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede junto de um maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem.

Independente da maneira de como é feita a proposição, cabe ao maçom que irá ser o padrinho efetuar algumas diligências, ou seja, conhecer os gostos e preferências do seu futuro afilhado bem como os hábitos e as rotinas que ele possa ter (se não os conhecer anteriormente), isto é, tudo aquilo que é habitual num ser humano, ou seja, conhece-lo!

E numa fase posterior, se concluir que o profano detém as qualidades necessárias para entrar na Maçonaria, deve abordar alguns temas de âmbito maçônico, retirando algumas das dúvidas que possam persistir na mente do seu futuro apadrinhado sobre o que a Ordem Maçônica é e qual o seu papel no mundo. 

Mas, mais do que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se acompanhar pelo profano em eventos maçônicos de abertos (públicos) onde este poderá ter um contato mais próximo com o que é a Ordem, ou seja, frequentar eventos e palestras onde a Maçonaria seja o tema principal a ser abordado. 

Neste caso, admito que começará aqui, para mim, a formação maçônica do futuro iniciado. Pois, se o mesmo afinal decidir que não se identifica com o que encontra, observa e escuta, então o processo de indicação não terá início e o profano aproveitará apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que à Maçonaria e ter uma opinião mais concreta sobre essa Augusta Ordem. 

No entanto, caso o profano se identifique claramente com o que lhe é mostrado, deverá então ser iniciado o processo de indicação para a admissão numa loja maçônica; de preferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso é de extrema importância. E porquê?!

Porque durante o desenrolar do processo de indicação, os membros da loja confiarão no zelo que o padrinho se propõe a cumprir ao apadrinhar o candidato em avaliação, porque o conhecem, e também estes, por sua vez, respeitarão quem vier a ser escolhido para ser acolhido pela loja. 

E depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado na assistência das sessões da loja a que estes pertencem, para que ele não se sinta sem apoio e desintegrado do grupo de pessoas que ainda não o conhece, mas que deverá conhecer com o passar do tempo.

Acontece também o contrário, por vezes quem chega a uma loja maçônica já é popular no mundo profano, ou poderá ter relações profanas com alguns membros da loja e assim a sua integração é mais facilmente consumada.

Mas, apesar de todo a fraternidade existente na Maçonaria em geral, os “primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá de ser relacionar inclusive com gente que talvez, no mundo profano, preferiria evitar. É verdade, que tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Dessa forma, é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível acontecer; porque os irmãos são “obrigados” a confraternizar; logo, encontrar "pontos de comunhão” e de “convergência”. 

Também, pelo fato de se terem de relacionar, isso obrigará que as pessoas se conheçam melhor e, com isso, desfazer eventuais preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como outra pessoa qualquer o deve merecer.

Os maçons são como as outras pessoas, não são perfeitos; a forma de como combatem as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere das demais pessoas. 

E ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações, que lhes dê a mão para os apoiar quando necessitarem disso e que, acima de tudo, os critique quando o deva fazer para os manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja funesto para a Ordem no futuro. Os casos que normalmente vêm a público no mundo profano devem-se a erros de seleção, em que a pessoa não se identificou depois com os princípios morais que encontrou na Maçonaria. 

Por isto é que não basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por ser seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria, porque, caso contrário, será uma perda de tempo ao próprio Maçom e à loja maçónica que o acolher.

E nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu caminho na virtude, os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçónica quem agiu de forma errada e que levou a imagem da Augusta Ordem a ser questionada profanamente. Obviamente que não digo que fossem punidos, mas que fossem alertados do perigo que é apadrinhar gente com esse tipo de conduta, para que no futuro sejam mais zelosos nas suas indicações.

Naturalmente que um padrinho não pode ser culpado, a não ser que seja cúmplice, da atuação do seu afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até mesmo de expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque mesmo em surdina, as “orelhas” do padrinho sofrem sempre as consequências dos atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos “treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na Maçonaria deve refletir na sua conduta para que não ponha a imagem dos outros irmãos em questão.

Porém, e ainda no âmbito da instrução maçônica de seu afilhado, o padrinho deverá complementar a formação que será concedida pela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também que a Maçonaria vive de símbolos, metáforas e alegorias, mas fundamentalmente, da prática de rituais próprios, também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá refletir e por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o que é sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar o que também ele aprendeu durante a sua formação até atingir o mestrado.


Conhecer e ensinar outrem é o melhor que o ser humano poderá fazer pelo seu semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento somente é Sabedoria quando compartilhado.


Mais tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua formação maçônica e concluiu o seu percurso até à mestria. No entanto, nunca o poderá abandonar, pois apesar de ser um irmão seu, será sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu como tendo capacidades e qualidades maçônicas. E essa responsabilidade nunca desaparecerá. 


E isso é algo que por vezes acontece e que eu considero como sendo nefasto para a vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém, (mal) formar alguém e depois deixá-lo à mercê dos tempos e vontades; virar as costas a um irmão, mesmo que seja inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e principalmente para a Ordem. É na nossa união que reside a nossa força, é com nosso apoio que conseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer como demasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é no nosso espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora que é criada em loja e que é a impulsionadora da nossa fraternidade.


Assim, alguém que queira indicar a candidatura de um profano, terá de assumir que adquire uma responsabilidade tal, que nunca será irrelevante e que nos seus “ombros” suportará o “peso” de uma Ordem iniciática e de cunho fraternal como o é a Maçonaria. E que terá como seus deveres principais: reconhecer, informar, transmitir, formar e acompanhar quem ele considerar como sendo um válido (futuro) membro da Maçonaria. 


Não será uma tarefa fácil, essa de se apadrinhar alguém, mas este é um compromisso que os maçons assumem para com a Ordem e a bem da Ordem.