março 20, 2024

MAÇONARIA NA SOCIEDADE - PRESENTE E FUTURO - Michael W. Walker



Algumas considerações pessoais pelo Irmão Michael W. Walker, Grande Secretário da Grande Loja da Irlanda

Durante os últimos anos, nomeadamente nos mais recentes, muitos Irmãos e Grandes Lojas parecem estar a envolver-se cada vez mais em assuntos que estão claramente fora do âmbito dos “Objetivos e Relacionamentos da Ordem”.

Serão provavelmente tantas as razões para isso como o número de casos que teve lugar mas, pelo simples facto de que está a acontecer, indica que é altura de questionar o que é a Maçonaria, o que lhe está a acontecer e que ações, se quaisquer, devem ser tomadas para inverter alguma tendência menos desejável, canalizando energias e o nosso entusiasmo para caminhos aceitáveis, à medida que nos aproximamos do próximo século.

Durante a Iniciação, é assegurado aos Irmãos que o candidato “é livre e de bons costumes”. Portanto, ele é, ou deve ser, um cidadão pacífico e respeitador da lei. Um pouco mais adiante, é-lhe dito que é necessário que receba os ensinamentos e conselhos que dele farão mais tarde um homem útil e virtuoso. Mais tarde ainda, indica-se que um dos deveres dos Maçons é praticar as virtudes que tendem a tornar o Homem um ser perfeito. Ao candidato pede-se todo o empenho no exercício das suas responsabilidades perante o seu Deus, o seu semelhante e ele próprio; pede-se ainda que seja um cidadão exemplar e que, como indivíduo, pratique a virtude a todos os níveis e mantenha vivas as verdadeiras características da Maçonaria, que são a benevolência e caridade, e o amor fraterno.

Ao atingir o segundo grau, é-lhe dito que deverá não só estar de acordo com os princípios da Ordem como também diligentemente praticá-los. Finalmente, no terceiro grau, pede-se que o seu comportamento sirva de exemplo à conduta de outros.

Mais tarde ainda, no topo da sua escalada como Maçom, ao ser instalado na Cadeira da sua Loja, dá o seu consentimento a um conjunto de princípios pelos quais deverá pautar o seu comportamento e atitude. Em suma, o princípio fundamental adjacente é de que, ao ser aceite na Maçonaria, ao concordar com os seus preceitos e princípios, o Maçom honrará não só a sua pessoa como será um exemplo e um benfeitor respectivamente para e de outros. Espera-se que a Maçonaria contribua para que se atinja aqueles objetivos mas que, na sua vida diária, um Maçom venha a interagir com outros como indivíduo e não na sua capacidade de Maçon. A Maçonaria é pois uma prática intelectual e filosófica destinada a fazer com que a contribuição do indivíduo para com a sociedade, assim como o seu próprio desenvolvimento pessoal, seja mais forte e maior do que teria sido conseguido se não tivesse tido a oportunidade de pertencer à Ordem.

Ser admitido à iniciação e a própria cerimónia da iniciação são uma clara indicação e confirmação do valor intrínseco do indivíduo e do seu reconhecimento pelos irmãos. Por si só, este facto deverá conduzir a um aumento da autoestima e, espera-se, estimular o desejo consciente ou subconsciente, de provar que se é merecedor da confiança dos outros. As subsequentes passagens aos segundo e terceiro graus são uma demonstração simbólica da satisfação dos irmãos pela correta escolha e decisão iniciais sobre a iniciação do candidato, não só pelas aptidões inatas como pelo seu interesse e zelo em aperfeiçoar a prática maçónica. Estas indicações iniciais de estima deveriam conduzir a um acréscimo de satisfação e autoestima do candidato.

Na Ordem adquirem-se muitas aptidões, o que não acontece em muitas outras instituições. Um irmão deve ser capaz de falar em público, decidir e opinar sobre vários assuntos e liderar reuniões. Estes atributos são muito valiosos em outros aspectos da vida profana; para muitos, é a única oportunidade que alguma vez terão de aprofundar, praticar e aperfeiçoar aquelas capacidades e técnicas.

Na realidade, penso que, atualmente, muitos daqueles atributos e benefícios – o Produto Maçónico – devem ser desenvolvidos pelo próprio candidato. Uma grande parte do simbolismo perde-se se o candidato não estiver devidamente sintonizado. Em verdade, a Maçonaria vai de encontro à satisfação das necessidades psicológicas do homem comum. Acredito que os homens, muito mais que as mulheres, são criaturas gregárias que sentem o instinto de grupo duma forma mais intensa. O homem necessita de pertencer a algo, como uma escola ou clube. A Loja assume esse papel, tendo mesmo, como numa estrutura militar, a hierarquia e uniformes ou vestimentas diferenciadas que indicam o grau do indivíduo ou o nível hierárquico que já foi atingido. Além disso, a Loja facilita a satisfação dos interesses pessoais, o que em muitos casos não é possível nem no ambiente familiar nem profissional. Acima de tudo, a Loja transmite paz e tranquilidade, um local onde se encontra o que se espera e onde a turbulência da vida profana não se manifestará com certeza e será esquecida por uns momentos. E um lugar onde se pode recarregar as baterias para assim se poder melhor apetrechados enfrentar as batalhas no mundo profano.

Aqueles que já passaram ou possam estar a passar por alguma situação traumática, como o desemprego ou a depressão causada pelo “stress” imposto pela vida moderna, saberão da verdade deste facto e poderão confirmar o efeito apaziguador e calmante do único e inestimável meio ambiente, tal como existe na Loja.

É a Maçonaria uma associação de caridade?

A resposta é negativa mas, como em qualquer ambiente fraternal, as necessidades de um irmão ou dos seus dependentes receberão a simpatia e apoio incondicional dos seus irmãos, nem sempre necessariamente de natureza financeira. A caridade é o resultado natural do amor fraterno e é incentivada na Maçonaria, mas não é a razão de ser da Ordem.

A critica que frequentemente se ouve da Ordem, de que só se preocupa com os seus, é totalmente falsa e carece de validade. A caridade maçónica não se restringe aos seus membros, sendo que é cada vez mais direcionada para qualquer causa ou situação merecedora, desde que não contrarie os termos da Declaração de 1938. O Maçom é, de qualquer modo, livre de, na sua vida quotidiana e capacidade pessoal, apoiar qualquer organização que mereça a sua simpatia.

O objetivo da Maçonaria

O objetivo da Maçonaria é o autoaperfeiçoamento – não no sentido material mas nas vertentes intelectual, moral e filosófica, a fim de desenvolver o ser no seu todo e, como indicado na bonita e emotiva linguagem do ritual, “prepararmo-nos para tomar os nossos lugares como pedras vivas no grande edifício espiritual, que é eterno nos céus e não foi feito pelas mãos do homem”. Este hipotético indivíduo, desenvolvido no seu todo, deve, através da sua viagem pela vida e interação com os outros, contribuir duma forma significativa para a sociedade em geral, realizando e cumprindo assim o desejo expresso durante a iniciação de se tornar cada vez mais útil aos seus semelhantes.

A minha interpretação da Maçonaria assemelha-se ao que pensou W. B. Yeats da aristocracia – “proteger os seus membros e devotos das tempestades da mudança, quase que como do abrigo do ventre materno se tratasse; e como um esquema para promover um tipo de espiritualidade, ao nível da alma e ao mesmo tempo profano e temporal.”

Eu gostaria certamente de dizer da Loja o mesmo que Yeats afirmou uma vez sobre a casa de Lady Gregory, em Coole, no condado de Clare, certamente um “abrigo materno” para artífices duma profissão diferente, pois “esta casa enriqueceu imensamente a minha alma porque aqui a vida move-se em formas graciosas, sem limitações”.

A sociedade de hoje

À medida que as mudanças no mundo acontecem a um ritmo cada vez mais rápido, duma forma complexa e imprevisível, a nossa necessidade natural de segurança, controlo, certeza e previsibilidade começa a ser corroída. Este tipo de ambiente constitui campo fértil para o desenvolvimento do que é chamado o ’’Síndroma de Aquiles”, que faz com que cada vez mais pessoas com objetivos ambiciosos padeçam de um sério défice de autoestima, aparentemente mais no caso masculino. Este facto pode bem depreender-se de um artigo da autoria de Petruska Carlson, urna psicóloga clínica e consultora.

Isto torna-se patente num crescente número de indivíduos que têm demonstrado esta preocupação pela rapidez em que valores culturais da sociedade têm sofrido alterações e pela sua influência no homem. Gerard Casey defende que “em todas as sociedades, a razão funciona dentro do conceito de mitos, sendo estes narrativas culturais fundamentais que fornecem princípios e valores inquestionáveis em que se baseia a sociedade e sem os quais ela não se pode desenvolver. Infelizmente, aqueles que se consideram especialistas em educação não têm hoje aparentemente noção da importância destes fatores, talvez pressionados também pelos que procuram uma educação baseada unicamente em temas técnicos e direcionados para aspectos de carreira profissional, e também pela pressão “educativa” exercida pela televisão sobre muitos jovens em detrimento dos próprios pais. Como sociedade, estamos a perder, ou já perdemos, os nossos padrões culturais, provocando um autentico deambular, sem objetivos ou direção definidos, como qualquer meteorito perdido algures no espaço.

Casey advoga que as pressões exercidas pela sociedade moderna provocaram um estado de caos e colapso moral na Irlanda, tendo já atingido proporções epidémicas no mundo ocidental. Defende a necessidade de se encontrar uma base ética racional para o comportamento humano, o que será uma tarefa difícil, sem garantias de sucesso. O Dr. Donald Murray, ex assistente do bispo de Dublin e atualmente bispo de Limerick, reconhece a existência duma “fome que não está a ser satisfeita. As pessoas necessitam de sentir que pertencem a alguma coisa; têm de se sentir dedicados a algo. O estado de espírito que prevalece é de desilusão e cinismo. Sentimos que vivemos num mundo de instituições estruturadas, pertencendo não a um país mas a uma economia. Avaliamos a nossa vida nacional em termos de recursos e estatísticas e pensamos no Estado como uma máquina, em vez de como pessoas e valores culturais”.

O Dr. Murray defende que “presumimos cada vez mais que o cidadão ideal não tem valores religiosos ou morais fortes, ou pelo menos que tenha a decência de não os imiscuir na cena pública. Isto é, o indivíduo não é suposto participar na vida activa com o seu Eu, com as suas convicções morais e religiosas. São considerados assuntos privados. Estamos claramente em risco de construir uma sociedade com valores culturais que consideram irrelevantes as verdadeiras realidades da vida. As divisões e separações ocorrem só quando a religião e moral não são entendidas. A consciência individual merece respeito porque procura a verdade, que é a obrigação de todo o ser humano”.

Os Maçons facilmente compreenderão estas referências à ética, verdade e moral como parte dos verdadeiros fundamentos dos ensinamentos maçónicos. Mas estes valores estão a ser minados por forças destruidoras que estão a corromper as próprias fundações nas quais se baseiam. Conor Cruise O’Brian – um estadista e comentador de renome – afirma mesmo que “desde há muito na história que o discurso humano no que se refere à ética tem sido ferido, em graus diversos, pela hipocrisia”. O bispo de Waterford denunciou recentemente o excessivo culto do individualismo.

Este excesso de individualismo conduziu a uma falsa ideia de liberdade. O indivíduo foi levado a pensar que a liberdade não tinha limites e a acreditar na supremacia dos seus direitos sobre os dos outros. O culto do individualismo colocou o indivíduo, homem ou mulher, num pedestal, no centro de tudo, e não permite a inclusão da “comunidade” no seu verdadeiro sentido, além de que dificulta a realização da “vida plena”, à qual todos somos chamados.

Quer gostemos quer não, quer saibamos quer não, há muitas forças subtis, e até mais óbvias, diariamente influenciando-nos, produzindo à medida que se multiplicam, uma espécie de tortura e consequente desequilibro – nem sempre perceptível- que nos faz sentir inseguros e dúbios relativamente ao caminho que percorremos.

São estas as forças que fazem enriquecer os psiquiatras, à medida que cada vez mais pessoas sentem que “algo” não vai bem e que está a afetar todo o seu ser e qualidade de vida mas sem saber identificar o quê. O que é realmente necessário é uma espécie de âncora mental, como que um objectivo de navegação que, mesmo com nuvens espessas, permita ao “viajante” uma viagem em que possa identificar exatamente a sua posição e assim retornar, se necessário, ao verdadeiro caminho.

Maçonaria – inserida, ou não, na sociedade?

Qualquer pessoa é ocasionalmente um pouco introspectiva, ao perguntar-se “quem sou eu e para onde vou?”. Mesmo uma organização como a Maçonaria deve fazer-se a si mesma esta pergunta. Somos uma organização cujos objetivos são o amor fraternal, ajudar os nossos irmãos e seus dependentes em dificuldades, procurar a “Verdade” que devemos exprimir e difundir como um padrão de moral público e privado, conhecer e temer a Deus, e, como consequência, respeitar e amar o nosso semelhante. Isto significa tolerância pelas opiniões pessoais, crenças religiosas e tendências políticas. Se persistirmos em analisar os objetivos da Ordem, a nossa procura deve alargar-se mas sem desfocar a nossa visão, ao mesmo tempo que devemos cada vez mais aproximarmo-nos do Grande Arquiteto do Universo, espiritualizando-nos e tentando aprofundar a nossa compreensão Daquilo que não podemos nunca esperar compreender e apreender completamente – algo como a procura e luta pelo místico Graal, tal como os nossos prováveis antepassados operativos – os Cavaleiros Templários – que se seguiram, à sua maneira, aos míticos Cavaleiros dos Romances do Graal e às Lendas Arturianas. A Maçonaria é muito mais que uma superficial análise de e pela sociedade de hoje, obcecada com o sucesso material do indivíduo muito mais do que a sua contribuição para a sociedade. O sucesso na sociedade de hoje mede-se por padrões materiais e económicos, pela posição ou aquisições que essa capacidade económica permite. Não é relevante se essa posição ou aquisições foram obtidas de uma forma imoral ou mesmo ilegal ou se prejudicou alguém no processo.

A Maçonaria não é apenas mais uma organização como os Rotários, Câmara do Comércio ou outras, com objetivos e funções diferenciadas. Se a Maçonaria tivesse alguns desse objetivos, então provavelmente algumas dessas organizações não se teriam formado. Somos o que somos e qualquer tentativa em assumir alguns dos outros objetivos afastar-nos-ia do nosso caminho. Provavelmente, muitos se juntaram à Maçonaria pensando que era algo diferente ou, depois da iniciação, procuraram influenciá-la e até moldá-la aos seus desígnios. Não somos a cura para os males de cada um.

Pode afirmar-se que o número de novas admissões à Maçonaria em todo o mundo tem vindo a decrescer. As razões para este facto prendem-se com o superficialismo da sociedade de hoje, a multiplicidade de oportunidades e pressões socais existentes relativas à utilização dos tempos livres.

Estudos feitos nos E.U.A. indicam a existência de uma forte relação inversa entre o tempo livre necessário para o exercício de uma atividade e o seu grau de popularidade. As exigências cada vez maiores da vida profissional têm gradualmente reduzido o tempo livre disponível, o que obriga ao seu racionamento a fim de evitar, muitas vezes sem sucesso, competir com a família e outros interesses considerados prioritários. Qualquer atividade que exija um compromisso de tempo substancial e que não seja entendida como tendo um retorno justificável (medido eventualmente de uma forma subjetiva), não será favorecida e, em termos maçónicos, traduzir-se-á numa redução de presenças em sessões, independentemente do orgulho, honra ou satisfação que o irmão terá em ser membro da Ordem. O número de irmãos que esporadicamente estão presentes indica que reconhecem “pertencer” a uma organização que não tem a capacidade para estimular uma presença regular.

Os meus avós, com a provável exclusão do seu clube e da sua Loja, tiveram possivelmente muito menos oportunidades onde utilizar os seus tempos livres, sendo que as sessões de Loja eram ansiosamente esperadas. Hoje, uma grande quantidade e variedade de atividades estão acessíveis a quase todas as classes, quer social quer economicamente. A sessão (ou sessões) mensais, em vez de oportunidades, concorrem frequentemente com outras atividades, cujo “retorno” é visto como mais atrativo.

Em terminologia de marketing, devemos ver a Maçonaria como um produto. E isso que estamos a “vender” (ou a providenciar) para consumo dos membros ou potenciais membros. Devemos pois melhorar o produto ou tornar a embalagem mais atrativa.

A Maçonaria é em si um produto estável – pouco se pode alterar sem mudar significativamente a sua essência e aparência. Os seus princípios e preceitos são tão válidos hoje como outrora o foram. Não podemos mudar o produto e mantermo-nos na mesma; devemos ser verdadeiros para nós mesmos neste ponto. Se mudarmos de direção (ou, em termos empresariais, de estratégia) temos de reconhecer e aceitar que é isso exatamente que se está a fazer. Seria bem possível que, algum tempo depois, alguém decidiria que o novo “produto” não estaria correto e que requereria ajustamentos a fim de o adaptar às exigências da sociedade. Sugiro que esta não é para nós uma opção. O que temos e o que representamos estará sempre correto, mesmo se o seu grau de aceitação desça ou suba no tempo.

O que podemos fazer é melhorar a embalagem e torná-la mais atrativa a potenciais “clientes” e mais apetecível aos atuais. No primeiro caso, podemos ativamente adoptar um novo perfil e, suave mas firmemente, “deixar a nossa luz brilhar perante os homens”. A vela à janela é um símbolo de um convite compreendido por todos; alguns aceitá-lo-ão e baterão à porta. Sou contrário à atitude de quase “forçá-los a entrar”; esta atitude não é compatível com a Maçonaria, independentemente da forma como se poderá justificar. A Maçonaria existe para ser adoptada, até saboreada, pelas mentes já sintonizadas (ou em busca) com os seus objetivos e práticas. A Maçonaria não é para qualquer um; mas haverá sempre aqueles, em todas as épocas e áreas geográficas, para quem terá um interesse muito particular. Através da embalagem e apresentação, estes “clientes” poderão ser identificados mas nunca criados. “Eu sou o que sou” e nenhum artifício ou manipulação mudará isso.

Deve aproveitar-se as oportunidades apropriadas para nos desembaraçar dos velhos mitos e concentrarmo-nos nos benefícios da Maçonaria. Nisto desempenhamos todos o nosso papel, pois como disse um Grão-Mestre Norte-americano, “somos todos a percepção de outros da Maçonaria”. Identifiquemos os “benefícios” da Ordem, falemos abertamente deles, promovendo-os. Isto obrigará às mais diversas iniciativas, começando pela família, passando pelo círculo de amigos e conhecidos até aos locais de trabalho, reservando obviamente à Grande Loja a tarefa de lidar com os meios de comunicação social a fim de que a mensagem transmitida seja constante e coerente. Se assim não for, poderá haver tantos pontos de vista como membros da Ordem, o que inevitavelmente conduziria a que o público continuasse mal informado e confuso em relação ao que somos e ao que aspiramos ser.

A fim de renovar o interesse em frequentar as Lojas e encorajar aqueles que frequentemente não regressam para serem membros ativos, há que definir um programa de ação com um objetivo fundamental: tornar as sessões de Loja atrativas, onde se está presente porque se quer e não porque há obrigação em o fazer.

Pode analisar-se esta problemática sob diversas perspectivas mas, em última análise, é algo que cada Loja tem de resolver por si. Em tempos antigos, antes do sistema das Grandes Lojas ter sido desenvolvido, cada Loja era um órgão autónomo e independente, medida que a Maçonaria Especulativa sobrepondo à Operativa, e grande parte dos irmãos deixaram de estar relacionados com a atividade de construção, teve de ser instituído um código de ética e conduta.

A Grande Loja é um órgão administrativo e regulador, com uma estrutura hierárquica que passa pelas Grandes Lojas Provinciais até às Lojas em si. Porém, no contexto do regulamento e constituição da Grande Loja, cada Loja é ainda um órgão independente e autónomo, responsável pelas suas atividades, funções e, em última instância, pela sua própria sobrevivência.

A Grande Loja não é uma comissão de entretenimento e, embora possa sugerir ou regulamentar, a verdade é que é o Grão-Mestre quem, em última análise, assume a responsabilidade. É ele quem deve assegurar que o ritual é bem conduzido, que a gestão é eficiente, que o conteúdo do que se faz é de interesse e não mera rotina mas, acima de tudo, que os irmãos – normalmente sempre os mesmos – não falem demais. A lei de Parkinson nunca é vista com tal clareza como na reunião de Loja, e em particular, na noite em que se festeja a Instalação. Pranchas pobres, demasiado longas, são uma receita segura para enfraquecer a motivação dos irmãos em frequentar sessões de Loja ou Grande Loja quando, com efeito, o que se deveria perguntar é “se terei de esperar mais um ano pela próxima sessão”.

Como foi dito acima, acredito que o produto não pode ser alterado; portanto, devemos alterar a embalagem. Os elementos da embalagem a serem modificados foram identificados no documento de discussão do Grão-Mestre intitulado “Programa para a Mudança : O Caminho em Frente” como sendo : a nossa imagem pública; ser membro, caridade; esperar que a percepção do público a nosso respeito, conforme um recente anúncio de jornal procurando um gabinete de advogados, possa ser a de uma organização de “espíritos saudáveis, da mais alta integridade, honestidade e ‘ confiança, apresentando um estilo de vida claramente demonstrativo de uma atitude desprendida relativamente a bens materiais e da presença do amor de Deus através de serviço ao ser humano”. As qualidades referiam-se ao gabinete, claro, não ao cliente.

Devemos tentar demonstrar ao mundo em geral, e assim tornar a nossa Ordem mais atrativa a potenciais membros, que as palavras do Pro Grão-Mestre de Inglaterra, V. M. Lord Farnham, Maçom irlandês e anteriormente Grão-Mestre Sénior da Irlanda, são verdadeiras: “A Maçonaria tem como objetivo desenvolver o indivíduo como bom cidadão e como homem com uma forte formação moral. Poderão seguir-se outros benefícios para a sociedade mas vêm de indivíduos atuando por si e não como Maçons.

Não é fácil no mundo moderno convencer as pessoas de que a Maçonaria como Instituição não serve para qualquer coisa e não é certamente um grupo de pressão. A sua influência no comportamento pessoal dos seus membros deverá ser bom para a sociedade em geral e deverá ser bem-vinda”

Em direção ao novo milénio

Tentei identificar quem somos, o que somos e onde estamos – é sempre de meditar no para onde vamos? Somos um grupo que está fora de moda e com o número de membros a diminuir – talvez não nos países em desenvolvimento mas, no mundo desenvolvido, somos vistos como um anacronismo, com um modo de estar que constitui um embaraço.

“Donde vens, Gehazi?” Lembrar-vos-eis da devastadora pergunta que Eliseu pôs ao seu servo que tinha cercado de cortesias Naaman, procurando obter vantagens à custa dos talentos do seu Senhor -ou seja, de outrem.

Depois da segunda guerra mundial, um grande número de indivíduos aderiram à Maçonaria porque era a alternativa ou substituto mais próximo para o companheirismo e apoio que encontraram nas forças armadas. A medida que estas pessoas vão passando ao Oriente Eterno, não tem existido nenhuma afluência significativa de candidatos para os substituir. Torna-se pois necessário recrutar, embora os meios a utilizar assim como o ênfase que esse esforço possa ter deva ser cuidadosamente ponderado. Algumas Grandes Lojas iniciaram programas de recrutamento em que os irmãos que apresentem um determinado número de candidatos elegíveis são recompensados. Este tipo de campanha tem muitos perigos e não pode, penso eu, ser benéfica. Devemos, em minha opinião, adoptar o método de “levar o cavalo à água”. Podemos mostrar- lhe a água e indicar que está disponível mas, a não ser que o cavalo tenha sede, não podemos fazer mais que o encorajar a beber.

O Grande Secretário da Grande Loja Suíça Alpina disse, na sua alocução durante a reunião dos Grandes Secretários em 1994, que “é essencial evitar qualquer tipo de proselitismo pois o objetivo principal não é procurar novos candidatos mas sim melhorar a percepção dos profanos sobre a nossa Ordem, o que, espera-se, conduzirá a que novos candidatos se apresentem”.

Devemos tentar corrigir a falsa percepção que têm, em particular, os meios de comunicação social e as Igrejas pois ambos têm influência direta sobre a opinião pública, sendo também nossos antagonistas e altamente suspeitosos da Maçonaria.

As Igrejas não conseguem aceitar que não somos concorrência mas que, na realidade, até apoiamos a religião e encorajamos cada irmão a interessar-se cada vez mais pela sua crença através do desenvolvimento do seu intelecto e espiritualidade. Não temos teologia nem sacramentos nem nos envolvemos, como Maçons, em nenhuma devoção nas nossas Lojas. Também não oferecemos ou indicamos o caminho da salvação através das boas ações ou qualquer outro meio. Estamos cientes destes fatos – mas como transmiti-los a quem não os sabe e por vezes também não quer saber porque não lhe convém? Devemos recordar-nos que as Igrejas estão também a ter uma quebra acentuada no número de fiéis, talvez até mais severa do que no nosso caso, em termos percentuais. A causa deste facto deve-se parcialmente às próprias instituições mas também ao facto de que, hoje, qualquer religião formalizada e estruturada está simplesmente desatualizada e fora de moda. Â sua maneira, as Igrejas estão também a tentar responder o melhor possível a estas tendências como, por exemplo, popularizando e facilitando a linguagem utilizada pela Igreja Católica durante a celebração da missa; ou reduzindo a lugares comuns a beleza e a elevação da linguagem na versão autorizada da Bíblia da Igreja Anglicana. De qualquer modo, as transformações efetuadas não tiveram resultado positivo porque não trataram dos problemas reais.

Em pânico, algumas Igrejas têm-se aproximado do evangelismo carismático e até do fundamentalismo. A Sra. Gwenjermyn, uma metodista do condado de Cork no sul da Irlanda, conseguiu que uma interessante carta sua ao “Irish Times” fosse publicada por este jornal a 22 de Junho de 1995. Nela, referia-se ao aparecimento do fundamentalismo extremo que se tem feito passar por “evangelismo”. Escreve ainda a Sra. Jermyn que “este ênfase fundamentalista é extremamente doutrinário, não concede a possibilidade de verdadeira exploração espiritual. E uma interpretação limitada, ofensiva, divisionista e arrogante, aproveitando-se de medos e emoções negativas que em pouco ou nada respeitam os ensinamentos claros dos evangelhos.”

O exemplo típico desta ultra reação foi o “Nine O’Clock Rave Service” em Sheffield, aplaudido por muitos, desde o Arcebispo de Cantuária até aos párocos locais. O inevitável resultado tornou-se um dos maiores embaraços que a Igreja sofreu nos últimos tempos quando, depois desta generalizada histeria hipnótica induzida pelas tradicionais técnicas de manipulação em massa, o Cavaleiro Branco da Nova Era – o Rev. Christopher Brain – foi primeiro suspenso de celebrar e mais tarde obrigado a pedir a exoneração após participação num deboche orgíaco, vilipendiado pelos seus mais fiéis seguidores, e com as Autoridades Eclesiásticas a lavarem daí as mãos.

Apesar destes acontecimentos, devemos estar atentos e aprender com eles pois a Ordem Maçónica também já teve o seu “Rave Service”! Em Março de 1995, teve lugar no México o chamado Congresso Mundial, apoiado por uma das pequenas Grandes Lojas Estaduais de México, que é ainda considerada irregular por muitos – a Grande Loja de Valle de México. Nesta ocasião, a acreditar em alguns relatórios, todo o tipo de organizações irregulares estiveram presentes e algumas incríveis afirmações e atitudes não maçônicas foram proferidas e tomadas, terminando com uma declaração, a que se chamou a Carta de Anahuac, assinada pelos representantes de todas as trinta e sete Grandes Lojas que participaram. As reuniões seguintes eram para ter tido lugar em Portugal em 1996 e em Itália em 1997, aparentemente neste último caso apoiado pelo irregular Grande Oriente de Itália. A agenda para 1997 foi apresentada pelo Grão- Mestre italiano e incluía o seguinte: “Acreditamos que o nosso estudo se deve reger pelas seguintes linhas mestras : procura de soluções para o excesso de população no nosso planeta, programação da utilização dos recursos alimentares e energéticos, lutar contra a poluição do nosso planeta e no espaço, cooperação entre países ricos e pobres a fim de eliminar conflitos assim como diferenças económicas e tecnológicas, controle sobre descobertas científicas direcionando-as para o bem e progresso da humanidade, respeitando a liberdade e dignidade do indivíduo e dos povos, protegendo os direitos e obrigações do Homem”.

Isto não é Maçonaria e estes não são temas que deveriam alguma vez ser discutidos num ambiente maçónico e os que o fizerem são Maçons irregulares. O que fizemos ver com veemência.

Este é um caso em que a Maçonaria claramente exagerou. Apostar no cavalo errado é pior do que não apostar em nenhum e claramente prejudicará o nome da Ordem. Se não tiveres nada de útil para fazer, não faças nada. Como disse um nosso Grande Arquivista: “se estiveres metido num buraco, para de escavar”.

Os meios de comunicação social também não toleram a nossa privacidade que veem como secretismo e com o intuito de esconder qualquer intenção de subversão ou qualquer outra ação malévola. De qualquer modo, não somos a única organização “perseguida” por aqueles meios porque deseja manter-se privada. A Opus Dei, um grupo de direita dentro da Igreja Católica romana, também já foi na Irlanda um dos alvos da comunicação social: “Ouvimos alguns dos mais destacados funcionários públicos indicar que membros da Opus Dei deviam ser excluídos de exercerem altos cargos públicos”. Nenhuma explicação foi dada, o que é extraordinário se considerarmos que aquela afirmação foi escrita no contexto de se poder a vir a considerar cidadãos como inabilitados para certas cargos em função das suas crenças religiosas. Porquê, por exemplo, se afirmar como factual que a Opus Dei é secreta? O que é que o responsável pelo artigo sabe referente a esse facto que contrarie o que a Opus Dei tem repetidamente negado? As pessoas não se apresentam normalmente como membros de uma diocese ou outra. Compreende-se prontamente que esse assunto é privado, não secreto, da mesma forma que membros da Opus Dei não se apresentam dessa forma. Ser membro da Opus Dei, ou qualquer outra organização, não é uma credencial pública. De qualquer forma, a liberdade de pensamento e expressão de cada membro em assuntos públicos estaria seriamente comprometida se outros atuassem como se representassem toda a organização.

O que estou a tentar realçar é que, à entrada do novo milénio, devemos permanecer firmes na aderência e defesa dos nossos Objetivos e Princípios e não procurar obter aprovação pública através da autopromoção ou práticas não maçônicas que só podem, a longo prazo, prejudicar. Devemos pacientemente esperar porque a nossa hora voltará. Ouço dizer que o nosso estilo de vida tornar-se-á ainda mais frenético e “estressante”; poderemos provavelmente fazer frente a essa tendência intelectualmente mas é questionável se o conseguiremos emocionalmente. Com a Internet a bombardear-nos com todo o tipo de informação, por vezes eticamente duvidosa, na privacidade dos nossos lares, acredito nas palavras do nosso irmão Michael Yaxley, Presidente do Conselho da Grande Loja da Tasmânia, quando escreve que “a sociedade necessita de uma organização como a Maçonaria. Esta necessidade, acredito, torna-se cada vez mais premente. No próximo século, o local de trabalho não proporcionará o grau de camaradagem e companheirismo suficientes para satisfazer os instintos sociais das pessoas. Muitos trabalharão em casa, conectados aos seus escritórios por um computador e telefone. Outros trabalharão num escritório rodeados de equipamento complexo mas inanimado. A ironia da nova Era da Comunicação é de que as pessoas passarão mais tempo sós.”

Devemos ser cuidadosos quando nos exortam constantemente a adequar a Arte ao século XXI. Devemos fazê-lo, mas lentamente. O irmão neozelandês Robert H. Abel quer ver a Arte respeitada pelo esforço dos seus irmãos na comunidade em que estão inseridos; nós somos todos a percepção de alguém do que é a Maçonaria. Não devemos desbaratar o nosso nome em público; devemos fazer com que a nossa dignidade seja respeitada.

Robert Abel acredita que a espiritualidade do homem tem altos e baixos, como se de um longo ciclo se tratasse; devemos assegurar que a nossa Arte se manterá inalterada no futuro a fim de que gerações vindouras, talvez menos frívolas, a possam desfrutar e apreciar.

Pode talvez dizer-se que a Maçonaria está atualmente a atravessar um período semelhante ao Verão de S. Martinho, antes das duras realidades do Inverno se fazerem sentir. Como dizia o poeta Humbert Wolfe :

Ouve, o vento levanta-se

E as folhas estão ao sabor da sua força selvagem

Já tivemos as nossas noites de Verão

Agora vêm as do Outono!

Este poema termina num tom ligeiramente ameaçador, indicando simbolicamente a tempestade que se avizinha e para a qual nos temos de preparar. Mas será talvez mais um exercício de contenção, de “apertar o cinto”, enquanto preparamos o barco para a maré da espiritualidade do homem chegar e transportar a nossa Arte segura e calmamente para águas mais seguras e acolhedoras. Como disse o escritor americano Henry Adams : “O Verão de S. Martinho da vida deveria ser simultaneamente um tanto solarengo e um pouco triste, infinito na sua profundidade de tons, como a própria estação”.

Penso que esta frase descreve exatamente a Maçonaria de hoje. Um pouco triste, lembrando-nos da grandeza do passado e dos tempos mais calmos em que a Maçonaria era respeitada e aceite na sociedade. Será que o nosso tempo virá novamente? Certamente que sim – não talvez uma cópia exata do passado, pois não queremos atrasar os ponteiros do relógio, mas numa versão mais “leve”, mais “magra”, com novo vigor e entusiasmo para enfrentar o novo milénio.

Mas lembrem-se, irmãos, à medida que entramos no “Inverno do nosso descontentamento”, devemos preservar os nossos padrões e dignidade. Não se poderá comprometer a qualidade de qualquer faceta ou sector da nossa instituição. Um dos maiores atores irlandeses, Michael Mac Liammoir, foi em tempos acusado de ser “quadrado”. Respondeu que era melhor ser “quadrado” do que não ter nenhuma forma! Quão apropriada é esta resposta para a Maçonaria de hoje; devemos manter-nos fiéis ao simbolismo do esquadro e do compasso e que sejam estes os meios de restaurar “Ordo ab Chao” – ordem no caos moral e mental – à medida que nos esforçamos para nos reajustar emocionalmente às pressões crescentes da vida moderna.

Vou terminar, irmãos, com uma exortação extraída da maravilhosa linguagem do nosso ritual: “Certifiquem- se de que se conduzem, quer em Loja quer for a dela, como homens bons e como Maçons”. Lembrem-se das imortais palavras de Polónio, na peça “Hamlet” de W Shakespeare, ao aconselhar seu filho aquando da sua partida da Dinamarca para França: “Acima de tudo, sê verdadeiro para contigo mesmo; e, assim, tal como o dia se segue à noite, não serás falso para ninguém”.

Quase todo o ideal maçónico está contido nestas parcas palavras, tão fáceis de recordar mas tão difíceis de se aplicarem na prática.

Tradução de APF – R∴ L∴ Mestre Affonso Domingues

Nota do tradutor: Embora o trabalho do irmão Walker não trate de um tópico de pesquisa tradicional, a sua análise sobre o estado actual da Maçonaria é relevante e oportuno. Esperamos que possa estimular trabalhos adicionais sobre as causas fundamentais nas flutuações do grau de aceitação – ou rejeição – da Maçonaria pela sociedade em geral.

NOSSA JORNADA - Newton Agrella


Estaremos homenageando os irmãos que postam com mais frequência neste blog, publicando seus trabalhos durante toda uma semana. O homenageado desta semana é o irmão Newton Agrella, polímata e poliglota, de São Paulo.

Para desenvolver-se na Maçonaria não é necessária nenhuma capacidade intelectual diferenciada, tão pouco qualquer lastro cultural exacerbado.

O que mais importa na escalada maçônica é o caráter ilibado, o espírito fraterno e o coração sensível ao Bem.

Ninguém é absolutamente superior ao outro. 

Somos rigorosamente iguais nas nossas capacidades, talentos e limitações.

O que efetivamente nos diferenciam são as "oportunidades e as experiências"

Estas sim, é que estabelecem o perfil de nossa caninhada, as chances melhor ou pior aproveitadas e o Discernimento que elas exigem.

As oportunidades passam pelas nossas vidas e nem sempre nos damos conta delas.

A Sublime Ordem nos oferece  oportunidades de revermos muitos de nossos conceitos, de libertarmo-nos de algumas amarras e preconceitos que teimamos em carregar conosco.  

Oferece-nos ainda a possibilidade de darmos vazão aos nossos pensamentos e de construirmos o nosso interior de maneira mais leve e descomplicada.

As experiências que se acumulam nas relações entre Irmãos, no aprofundamento dos estudos, na leitura constante, na frequência e participação em Loja são outros elementos que contribuem decisivamente para dar forma e polimento à pedra bruta que há dentro de cada um de nós.

Cultivar o desprendimento e perceber que a Fraternidade é o exercício mais profícuo para entendimento entre os Homens, seguramente torna a caminhada maçônica mais suave.

Ser reconhecido Maçom é o prêmio pelo trabalho árduo e infindável.

Esse trabalho é o da elaboração do nosso Templo Interior.  

É nesse sentido que utilizamos todas as ferramentas que através de Símbolos e Alegorias auxiliam-nos no processo de nossa evolução.

Somos componentes de Deus, O Grande Arquiteto do Universo, Princípio Criador e Incriado de todas as coisas e dessa forma, procuramos individualmente, empreender a nossa jornada na busca infinita e utópica da Perfeição.


março 19, 2024

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O MESTRE INSTALADO



1 – Mestre Instalado é grau, dignidade, cargo, oficialato ou qualidade?

R – Mestre Instalado não é grau. É apenas um título distintivo para aquele que exerce ou já tenha exercido o veneralato de uma Loja Simbólica.

2 – Se for grau por que nunca fez, e ainda não faz parte dos 33 graus da Maçonaria (Graus Superiores ou Altos Graus)?

R – Como foi dito não é grau. Agora “altos graus da Maçonaria”? O melhor seria “altos graus” como particularidade de alguns Ritos. Maçonaria Moderna Universal e tradicional é composta por três Graus – Aprendiz, Companheiro e Mestre. Daí pelo título de Mestre Instalado não ser nenhum Grau, também não há como lhe associar com os ditos altos graus que nada, mais nada mesmo, tem a ver com o Franco Maçónico Básico. Altos graus, se assim podem ser reconhecidos, são particularidades de alguns Ritos e não da Maçonaria como um todo.

3 – Se não é grau, por que em sessões de algumas Lojas no Brasil, e só no Brasil, os Mestres Instalados são convidados a ocuparem o Oriente do Templo e os Mestres Maçons investidos nos Graus Superiores ou Altos Graus (4° ao 33º) não são convidados da mesma forma para ocuparem o Oriente, sendo que estes sim são reconhecidos por todas as Potências mundiais como Graus Superiores ou Altos Graus?

R – Primeiro que “altos graus” não são reconhecidos mundialmente na unanimidade das Obediências mundiais. Como dito anteriormente, o título de Mestre Instalado, quando existe, e conforme a vertente maçónica faz parte do simbolismo maçónico. Normalmente, Ex-Veneráveis têm assento no Oriente, principalmente como distinção para aqueles que já exerceram a presidência de uma Loja Simbólica. Em complemento à questão, qualquer grau dito acima do de Mestre tradicionalmente não faz parte do simbolismo. Portadores dos ditos “graus superiores” são tratados no simbolismo apenas como Mestres Maçons. Repetindo, grau acima do terceiro é particularidade de rito e não faz qualquer diferença em Loja Simbólica.

4 – Qual o avental do Mestre Instalado?

R – Em linhas gerais, ele possui no lugar das rosetas o símbolo do nível/prumo (perpendicular e vertical) chulamente conhecido como “tau” invertido, a despeito que a letra grega “tau” não tem significado algum na Maçonaria, muito menos invertido, ou de ponta-cabeça. Ainda, nos dois lados da face do avental prendem-se duas fitas na cor da borla de cujas pontas aparecem adornos compostos por correntes e bolinhas que tradicionalmente na Inglaterra são, ou eram franjas prateadas.

5 – Qual a joia do Mestre Instalado?

R – Em exercício do veneralato é o Esquadro de ramos desiguais. Na França o Ex-Venerável usa uma joia composta por um Compasso sobre um quarto de Círculo com a figura do Sol ao centro e às vezes substituído pelo Olho Onividente. Já na Inglaterra o “Past-Master” carrega a joia composta pelo Esquadro e a representação pictográfica da 47ª Proposição de Euclides (Teorema de Pitágoras). Como esclarecimento, na França “instalação” em Maçonaria é sinónimo de posse e tradicionalmente não existe a figura do Mestre Instalado, senão do Venerável Mestre e do Ex-Venerável. Já o título de Mestre Instalado e Mestre Instalado Passado é tradição dos Trabalhos Ingleses e, por extensão, da Maçonaria Norte-Americana.

6 – Quais os paramentos do Mestre Instalado?

R – Além do avental e da joia citados nas questões 05 e 06, cuja joia fica presa num colar decorado como motivos maçónicos (geralmente ramos de acácia), o Mestre Instalado usa punhos também decorados que, em muitos lugares estes somente são privativos do Venerável (no Brasil, o GOB adopta este procedimento).

7 – Quando, onde e como se declarar / identificar Mestre Instalado?

R – Não entendi a questão, salvo se for para a composição de um Conselho de Mestres Instalados para a instalação de um Venerável. Este Conselho legalmente só existe para tal e nunca para interferir na direção da Loja. Um Conselho deste tipo é prerrogativa da Obediência que a nomeia para o ato da Instalação e a dissolve após estiver à missão cumprida. No Grande Oriente do Brasil, o RGF regula as atribuições do Mestre Instalado.

8 – Quando, onde, por que, como e em quais circunstâncias foi instituída a Instalação de Mestres na Maçonaria?

R – A figura do Mestre Instalado é tradição da Maçonaria inglesa com o advento da Moderna Maçonaria e a inauguração do primeiro sistema obediencial. Nos anos que se seguiram com a fusão dos Antigos (1717) e os Modernos (1751) que resultaria na Grande Loja Unida da Inglaterra em 1813, o sistema inglês não tardaria, por influência da instalação do Rei no trono inglês, a adoptar este costume criando uma cerimónia específica acompanhada de uma exposição lendária o que viria resultar no título conhecido como Mestre Instalado. A propósito, o Grau de Mestre na Maçonaria somente viria aparecer a partir de 1724. Anteriormente ao facto a Maçonaria Operativa e posteriormente Especulativa era composta por apenas dois graus. A razão do título de Mestre Instalado, provavelmente esteve ligada a aristocratização da Sublime Instituição (ver a influência da Royal Society) que a partir da fundação da Primeira Grande Loja em Londres, já se preparava e previa o intento num futuro breve.

9 – Mestre Instalado é uma invenção da Maçonaria Brasileira ou faz parte da história cultural da Maçonaria Inglesa? Ou foi instituído pelas Grandes Lojas?

R – Como já comentado, o procedimento de instalação é costume integrante da Maçonaria inglesa. No Brasil em primeira instância isto acontecia nas Lojas que praticavam os Trabalhos de Emulação, confundido como título com o de York, comum no sistema Norte Americano. A Maçonaria brasileira que é filha espiritual da França, sempre teve na sua grande maioria de Lojas ritos ligados a esta espinha dorsal, dentre estes o rito majoritário no País que é o Escocês Antigo e Aceito.

Ao longo da história da Maçonaria no Brasil, uma dissidência do GOB daria origem em 1927 às Grandes Lojas Estaduais (CMSB). Ocorreria então o facto do reconhecimento desta nova Obediência pelas Grandes Lojas Norte Americanas que praticavam, e ainda praticam o Rito Americano que é decalcado nos Antigos de York de origem inglesa. Por esta influência as Grandes Lojas Brasileiras adoptariam equivocadamente no Rito Escocês Antigo e Aceito (que é de origem francesa) práticas que poderíamos dizer anglo-americanas. Dentre as tais, apareceria o ato de Instalar o Mestre eleito para o veneralato da Loja.

Em termos de Maçonaria brasileira, esta se manteve por um longo tempo com a Instalação de Mestres restrita às Grandes Lojas, todavia ao longo desse tempo, muitos obreiros acabariam se mudando de uma para a outra Obediência e, por influência de Irmãos egressos da Grande Loja em aporte no Grande Oriente do Brasil, a partir de 1968 o GOB passaria também a praticar o costume de Instalação que prevalece até a atualidade de maneira consuetudinária. Mais tarde, nos anos de 1972 e 1973 haveria o segundo grande cisma no seio do GOB que resultaria nos Grandes Orientes Estaduais Independentes (COMAB). Com esta dissidência e estando o costume de Instalação já arraigado no GOB as lojas pertencentes à COMAB herdariam também esse costume que hoje tem se tornado uma unanimidade na Maçonaria verde e amarela, fazendo com que ritos que nunca possuíram tradicionalmente a cerimónia de Instalação viessem praticar um costume neles inexistentes apenas em solo brasileiro.

10 – Há uma supremacia hierárquica do Mestre Instalado sobre o Mestre Maçom não instalado?

R – Não existe supremacia alguma, salvo quando o Mestre Instalado está na posse do Primeiro Malhete da Loja – o Venerável Mestre. Mestre Instalado como fora dito anteriormente é um título distintivo e, para adquirir este título, inquestionavelmente ele precisa ter atingido a plenitude maçónica que é o Grau de Mestre, além de ser eleito para o cargo. Plenitude neste caso significa o último estágio de evolução na Maçonaria Universal que é o simbolismo que, por extensão, possui apenas três graus. Não é dado o direito a nenhum Mestre Instalado entender que tem supremacia sobre os demais Mestres. O que pode existir, conforme a Obediência, no caso do Brasil, é que os Regulamentos indiquem atribuições e direitos relativos ao título distintivo, como por exemplo, ocupar lugar no Oriente, ou em se tratando da ausência precária do Venerável, dirigir uma Sessão Magna de Iniciação, Elevação e Exaltação, levando-se em conta de que o Primeiro Vigilante não seja também um Mestre Instalado.

11 – Se há a supremacia, há o reconhecimento desta supremacia pela Grande Loja Unida da Inglaterra (dita Mãe da Maçonaria)?

R – Não há supremacia e a Grande Loja Unida da Inglaterra dificilmente se envolve nestas questões, já que lá existem os Preceptores para as diversas Províncias normalmente indicados pelo Grão-Mestre Provincial, além do livro de regulamentos editado sob o título de Regras Gerais. Geralmente na Maçonaria inglesa o Past Master imediato tem função de auxiliar o Mestre da Loja, porém sem qualquer intromissão nos trabalhos.

12 – Será que a dignidade do Mestre Instalado não é compatível apenas e tão somente com os ditos Ritos anglo-americanos, tais como o os Ritos Craft e York (Emulação)?

R – Este título distintivo como já citado anteriormente é tradição da Maçonaria inglesa e, por conseguinte da americana. Particularmente a Instalação do Mestre da Loja como cerimonial lendário não é procedimento dos ritos de origem francesa. Para estes, quando porventura venham existir é um mero produto de enxerto.

Cabe aqui ainda uma consideração: No Craft inglês (working) não se reconhecem ritos, porém “Trabalhos”, por exemplo – Trabalho de Emulação, Trabalho de Bristol, Trabalho de Humber, Trabalho de Taylor’s, Trabalho de West End., etc. Já nos Estados Unidos da América do Norte o título de rito é reconhecido, cuja imensa maioria das Lojas pratica o Rito Americano que é baseado nos Trabalhos Antigos de York (inglês), organizado em solo americano por Thomas Smith Web, daí ser comum intitulá-lo como Rito de York.

Por este esclarecimento o que se pratica aqui no Brasil comumente conhecido como York, não faz sentido algum, pois o aqui perpetrado é o Trabalho de Emulação e não o Rito de York (americano) como equivocadamente é conhecido.

13 – Os Mestres Instalados não são Mestres Maçons eleitos para administrar o Santo Arco Real, que também não é um grau?

R – Mestres Instalados que fazem parte dos “side degrees”, ou graus laterais, nada tem a ver com o Franco Maçónico Básico. Embora isto possa até parecer, o costume somente ingressaria para acomodar uma situação para os intitulados graus de aperfeiçoamento ingleses. Os integrantes do Santo Real Arco são recebidos das fileiras dos Mestres Maçons sem que haja a condição sine qua non de serem Mestres Instalados. Daí um Mestre Instalado do Santo Real Arco não é o mesmo Mestre Instalado do Franco Maçónico Básico, porém uma instalação específica do grau lateral.

Volto a repetir que Maçonaria Universal da atualidade possui apenas três graus. Nada do que acontece nos ditos graus superiores pode interferir no simbolismo. O contrário sim, pois qualquer obreiro que aspire galgar esses sistemas distintos, necessariamente precisa ser um Mestre Maçom.

14 – Será o Mestre Instalado mais um enxerto na Maçonaria?

R – Da Maçonaria em geral não, todavia poderia assim ser considerado no caso dos Ritos que não possuem tradicionalmente este costume.

SEMANA DE HOMENAGEM - COMPARTILHAR A PRÓPRIA ESSÊNCIA - Newton Agrella


Estaremos homenageando os irmãos que postam com mais frequência neste blog, publicando seus trabalhos durante toda uma semana. O homenageado desta semana é o irmão Newton Agrella, polímata e poliglota, de São Paulo.

Muitas vezes amanhecemos com notícias que nos sobressaltam, e fazem-nos pensar quão enfurnados cada um de nós, vive seu mundinho de maneira tão pequena e egoísta.

Grande parte disso se deve ao orgulho, ou à vergonha de expormos nossas fraquezas, e limitações.

Quando não, nos defrontamos com o medo de sermos julgados e de alguma sorte, termos a cabeça colocada a prêmio.

Não raro, emoção e razão caminham desconexas e inibem a possibilidade de compartilharmos tristezas, angústias e frustrações, de maneira simples e natural, sem qualquer resquício de preconceitos.

O ser humano, grosso modo, entende que é maior que si mesmo e poucas são as vezes que consegue externar suas necessidades, senão por algum tipo de pressão, ou quando o coração parece que vai explodir.

A busca não é pela perfeição, até porque ela é inatingível.  

O trabalho sim, é pelo aprimoramento interior, e pela vontade de acertar e erigir um templo mais seguro, consistente, comprometido com uma qualidade de vida cada vez melhor e compartilhar com o semelhante o êxito, a felicidade e o bem estar como instrumentos legítimos da virtude.

Ser "humano", não é apenas uma condição de espécie, mas antes de tudo, estagiar pelos labirintos mais profundos da Consciência.

Esta perfeita imperfeição é a tradução mais exata do que se constitui a nossa natureza hominal e anímica.

O amplo conjunto de correntes filosóficas que compõe a dialética maçônica, propicia aos seus adeptos a chance de exercer a liberdade de pensamento, sem estar vinculado a visões esteriotipadas e muito menos subjugado a dogmas, que impõem a restrição ao direito da argumentação.

"Ser livre e de bons costumes", não é um mero slogan de uma peça publicitária, senão, um preceito ético e moral que estimula o homem a explorar os mistérios da consciência sob a égide espiritual, intelectual e sobejamente especulativa.


O AVENTAL E O SEU SIGNIFICADO - Roberto Varo Junior



Após a cerimónia de iniciação, o Venerável Mestre entrega o Avental ao Mestre de Cerimónias, para com ele revestir o neófito. O agora Maçom, só poderá entrar no Templo da sua Loja, ou de qualquer outra, vestindo o Avental. Tal insígnia maçônica, nas palavras do Irmão Assis Carvalho, “é o principal Símbolo que compõe a Indumentária Maçônica.” O Avental, para o citado autor, possui uma característica especial que o diferencia de outras insígnias: está presente desde os remotos tempos Operativos.

Para compreendermos melhor a sua função e o porquê das suas diferentes formas, utilizar-nos-emos de uma análise histórica do Avental. Contudo, ressalte-se, concentraremos os nossos esforços numa análise histórica e funcional, tendo em vista o Grau de Aprendiz, já que sabidamente, muitos dos símbolos que são ostentados em Aventais de Graus mais elevados ainda fogem e devem mesmo fugir da nossa compreensão de Aprendiz. Para alguns escritores, a origem do Avental está ligada a tempos muito remotos, como o Paraíso Terrestre. Alguns irmãos veem Adão como o inventor do Avental, representado na folha de parreira, a qual cobria os seus órgãos genitais. Quanto a esta origem, as objecções são muito grandes, tendo em vista que a base cientifica ou mesmo filosófica para tal tipo de análise se mostra praticamente inexistente. Se é verdade que a Maçonaria não pretende ser apenas uma sociedade cientifica e filosófica, é fato que toma como base dados científicos para justificar muitas das suas concepções. Ao fazer uma análise de tal porte, dever-se-ia esperar uma explanação um pouco mais exaustiva, tendo em vista a originalidade da ideia. Contudo, pelas bases às quais tivemos acesso, tal assertiva mostra-se não muito consistente. O Irmão Assis Carvalho, inclusive, demonstra uma certa ironia ao comentar tal fato, classificando como “uma fantasia, um afã criativo” enfim, conotando que a origem do Avental não está, em hipótese alguma, ligada à figura religiosa de Adão.

Outros também veem uma origem mais que milenar para o surgir do Avental, tendo como base os Mistérios Egípcios, Persas, Hindu, entre outros. Neste ponto, descreveremos uma das possíveis formas de tal Avental egípcio: era triangular, com a cúspide para cima e com vários adornos diversos dos hoje existentes. Além disso, a faixa ao redor do corpo que o sustentava não tinha apenas este propósito, mas estava intensamente magnetizada com o corpo. Há também, acerca deste possível Avental, descrições mais pormenorizadas sobre o Avental dos Mestres, o que, como já se afirmou, não se mostra pertinente com a proposta deste trabalho. Contudo, vale ressaltar que se faziam presentes as rosetas e uma cor azul pálida, simbolizando a inocência branca sendo substituída pelo conhecimento, o céu azul. Uma outra corrente associa o surgimento do Avental às Guildas e corporações Medievais. Tais associações, que deram origem à Maçonaria Operária, tinham por hábito distribuir entre os seus Membros, aventais para o exercício do ofício ao qual estavam ligados. Esses aventais, portanto, apresentavam entre si leves diferenças com base nos diferentes trabalhos e conhecimento acerca do ofício em questão, tais como Sapateiro, Ferreiro Açougueiro, entre outros. 

O Avental dos antigos operários da Maçonaria Operativa estava ligado à ideia de trabalho, era um instrumento do próprio. O Avental era feito com a predominância do couro de carneiro, um couro espesso, com vistas a proteger os obreiros de labutas muitas vezes perigosas para o corpo humano. Enfim, o Avental era uma proteção para o corpo dos maçons primitivos, cobrindo, em linhas gerais, desde o pescoço até o abdómen, sendo que o do aprendiz cobria uma parte maior do corpo do que o avental do Companheiro e do Mestre, pois como o aprendiz não possuía, ainda, a habilidade necessária com as ferramentas, além de iniciar o trabalho na Pedra Bruta, estava sujeito a fazer um uso maior do avental do que os mestres. Uso maior não em tempo, e sim, stricto sensu, de aproveitar o avental conforme a sua função de proteger o corpo e a roupa de quem o usa. Com a transição da Maçonaria Primitiva para a Maçonaria Especulativa, processo histórico que não ocorreu de forma instantânea, a figura e a função do Avental foram-se paulatinamente alterando. Ressaltamos mais uma vez que, por um considerável tempo, tanto a Especulativa quanto a Operativa conviveram, especialmente pelos relatos que se tem da Inglaterra no século XVIII.

Como exteriorização desta relativa dicotomia entre Especulativa e Operativa, temos na Inglaterra a existência de duas grandes potências justamente nesse século de transição. Note-se que não se trata de uma correspondência absoluta entre ambas as dicotomias, embora ambas guardem uma não desprezível ligação. De um lado estavam as Grandes Lojas dos Antigos, formadas principalmente por Maçons mais tradicionais, mais “conservadores”, nas quais não ocorreram grandes mudanças em relação ao Avental, predominando, exceto pelo couro de ovelha que passou a ser o material mais utilizado, uma relativa padronização e simplicidade nos Aventais de todos os Graus, tendo em vista que os próprios eram adquiridos, na sua maioria, pelas próprias Lojas e concedidos aos Irmãos. Do outro, as Grandes Lojas dos Modernos, de natureza teoricamente mais democrática, mais aberta, as mudanças mais significativas ocorreram em relação ao Avental. A concepção do simbolismo do Avental decorre justamente do entendimento que a Maçonaria Especulativa passou a conceder ao Avental. 

O Avental passou a ser visto como um emblema da dignidade, da honra, do trabalho material ou intelectual, trabalho esse que era desprezado. Naturalmente, numa sociedade marcada anteriormente pelos senhores da terra, apenas a propriedade era vista como algo dignificante. A Maçonaria Especulativa alçou o Avental como símbolo do trabalho, da labuta, ao qual o Maçom está ligado ao adentrar na Ordem, dignificando o próprio, o trabalho, perante os olhos da sociedade. Este é o grande significado do Avental, enquanto instrumento fundamental do Maçom. Esta é a grande razão simbólica pela qual um Aprendiz Maçom não deve entrar numa Loja sem estar coberto por essa indumentária. Tal insígnia não nos deixa esquecermos que a labuta é uma constante na vida do Maçom, seja em Loja ou fora dela. Contudo, ao mesmo tempo em que as Grandes Lojas Antigas alçaram o Avental como símbolo, e, consequentemente, modificaram a sua forma, passando a utilizar tecidos mais leves tal como o cetim, o brim e o linho, a vaidade, algumas vezes exagerada de alguns Irmãos, provocaram uma verdadeira revolução no Avental. Verdadeiras obras de arte, pinturas, foram realizadas nos Aventais das Grandes Lojas dos Modernos. Novos símbolos, tal como roseiras, fitas, bordados, foram introduzidos nos Aventais, especialmente dos Graus de Mestre. Enquanto nas Grandes Lojas Antigas predominavam a simplicidade destes instrumentos Maçônicos tão preciosos, principalmente no Grau de Aprendiz, sendo o branco predominante, até pelo material utilizado, o couro de ovelha, nas Grandes Lojas Modernas houve uma radical transformação exteriorizada nas pinturas das Abetas, na criação de laços, pinturas de novos símbolos, entre outros. Quanto maior o Grau, maiores as “sofisticações” encontradas.

Quanto a esta sofisticação dos Aventais, e esta nova função de certa forma “decorativa”, dois comentários se mostram muito pertinentes. O primeiro, tendo como base assertivas de Assis Carvalho, tendo como objeto o Cavaleiro Miguel André de Ramsay, codificador do Rito Escocês. Buscando negar a origem Operativa da Maçonaria, e afirmar uma origem Nobre, como sucessores dos Templários, de Jacques De Molay, o Irmão Ramsay impulsionou a criação de Graus e nomes pomposos na Maçonaria e, consequentemente, os mais belos e ricos Aventais foram sendo também criados. Além disso, cabe agora relembrarmos a definição introduzida no começo do nosso trabalho, atribuída a Jules Boucher: “o Avental constitui-se no essencial adorno do Maçom.” 

Raimundo Rodrigues explica que a palavra adorno tem o sentido de enfeite, decoração. Conclui ele na imprecisão de sintaxe no uso de tal palavra, já que a função fundamental ou essencial do Avental seria simbolizar o trabalho ao qual os Maçons devem se entregar. Contudo, fazendo uma outra análise, podemos compreender a utilização de tal vocábulo, visto que, para muitos Irmãos, a utilização do Avental ficou muito ligada à ideia de se enfeitar para quando da participação em Loja. Aliás, conforme relata Assis de Carvalho, eram comuns os Maçons das Grandes Lojas Modernas saírem das sessões e caminharem por Londres devidamente trajados, felizes na utilização dos seus Aventais, enquanto os Maçons das Grandes Lojas Antigas, por estarem acostumados a utilizar o Avental quando em ofício, visto que muitos ainda eram Operários, utilizarem apenas os simples Aventais quando em Loja ou justamente no local de labuta.

Em 1813, com a unificação das duas grandes Potências Inglesas, houve também a edição de um normativo regulamentando e padronizando os Aventais, de forma a coibir os inúmeros abusos. Logicamente, alguns símbolos introduzidos ao longo do tempo foram consolidados, mas os exageros cessaram, e, até hoje, pelo que afirma Assis Carvalho, não houve grandes mudanças nos Aventais Ingleses, caracterizados pelo rito York. Vale ressaltar também o Congresso Mundial dos Supremos Conselhos em Lausanne, datado de 1875. Neste encontro, decidiu-se também por uma padronização dos Aventais utilizados pelos seguidores do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Neste ponto, o autor Assis de Carvalho faz uma crítica expressa aos seguidores de tal rito no Brasil, tendo em vista as seguidas mudanças do Avental aqui ocorridas nas últimas décadas, levando em conta que o R∴ E∴ A∴ A∴ não assistiu a grandes mudanças noutros países. Como último ponto a se destacar do Avental Maçônico, gostaríamos de nos focar na Abeta. Muitos estudiosos Maçons procuram dar significados à sua posição em relação ao Avental. Outros, entretanto, apoiando-se na experiência histórica e mesmo em fotografias antigas, têm demonstrado que a Abeta não tem um sentido simbólico, pelo menos na sua origem. Antony Sayer, primeiro Grão-mestre da Loja da Inglaterra (1717), está caracterizado em fotos com uma Abeta levantada. Ressalte-se que ele era Mestre e que a sua Abeta estava levantada.

A utilização da Abeta para baixo ou para cima está, segundo esses autores, mais ligada, originalmente, à praticidade do que a qualquer simbolismo. A Abeta era utilizada pelos Irmãos Operativos para prender o Avental à camisa, tendo propositalmente um espaço próprio para este botão. Alguns irmãos baixavam a Abeta como forma de esconder imprecisões, desgastes da alguns Aventais. Além disso, a forma triangular ou oval não apresentava também qualquer significado. Atualmente, admite-se a diferença no posicionamento para se caracterizar o Grau, o que pode ser considerado muito válido. Contudo, originalmente, pela análise histórica da Abeta, há autores que defendem a inexistência de um simbolismo próprio. Além disso, como já se afirmou anteriormente, as correias que prendiam as Abetas ao corpo dos Maçons Operativos, tanto no pescoço como na cintura, nada tinham de especial. Eram apenas correias, sem nenhum magnetismo ou coisa do tipo.

Finalizando, o Avental simboliza, na uma primeira impressão, ainda no cerimonial de Iniciação, trabalho, labor, labuta. O que podemos aprender com significado de trabalho do Avental? Que todo Maçom se deve dedicar ao trabalho diariamente, e, quando ele está em Loja, ou, mais propriamente ao tema, quando ele está na Oficina, o trabalho é simbolizado pelo uso do Avental. Mesmo havendo posicionamentos diferentes com relação ao simbolismo do avental ou ao seu uso prático, não há como deixar de mencionar-se a interpretação mais aceita e oportuna com relação a essa indumentária. Ao desbastar a Pedra Bruta com o maço e o cinzel, o avental protege o Aprendiz contra a poeira e os estilhaços provenientes do seu ofício. Cumpre o papel que sempre cumpriu, a saber, o de servir como uma peça extra de proteção no manuseio, por exemplo, da pedra e até mesmo como um meio de transporte de pedras (e outros materiais) de um lugar para outro.

O avental, desta forma, está protegendo o Irmão das consequências do seu trabalho de aprimoramento constante e da eliminação dos seus defeitos. Graças à proteção do avental, a roupa do Irmão, como se fosse a sua reputação, está a salvo da sujeira representada pela poeira e os resquícios dos defeitos inerentes a todos nós, seres humanos. Cumpre, sobretudo, o Avental, o seu papel de um dos mais importantes Símbolos da Maçonaria e de elo entre aqueles que o portam, como Irmãos Maçons, unidos, através desta indumentária, pela fraternal amizade.



março 18, 2024

O DeMolay - Adilson Zotovici


No dia DeMolay uma homenagem de nosso poeta maior.


Com  eterno amor  filial

Sobejado de lirismo

Reverente ao Pai Celestial

Na cortesia o simplismo


Dum  grupo jovem, laboral

De união, companheirismo 

Que a fidelidade é cabal

Qual a pureza, o otimismo


Assim é seu bom cabedal

Juntado ao patriotismo

No seu caminhar usual


Na modéstia o secretismo

“_Um DeMolay afinal_”...

A servir, com altruísmo !



SEMANA DE HOMENAGEM - AS ESCOLAS FILOSÓFICAS E A MAÇONARIA ESPECULATIVA - Newton Agrella



Estaremos homenageando os irmãos que postam com mais frequência neste blog, publicando seus trabalhos durante toda uma semana. O homenageado desta semana é o irmão Newton Agrella, polímata e poliglota, de São Paulo.

A Maçonaria constitui-se basicamente numa  instituição  filosófica, cuja base se sustenta a partir de um amálgama e de uma substantiva influência de correntes dialéticas originárias dos períodos filosóficos que marcaram a história da civilização humana.

É inequívoco que outros fatores colaboraram para o que hoje se conhece e se pratica como a chamada "Maçonaria Especulativa". 

Influências históricas, sociais, religiosas, místicas, lendárias, mitológicas, esotéricas e herméticas estão igualmente contidas nesse arcabouço. 

Símbolos e Alegorias, por sua vez, são elementos fundamentais que contribuem para compor este caráter especulativo da Filosofia Maçônica, a qual se ocupa de investigar e analisar as leis da natureza e relaciona as bases da moral e da ética como instrumentos legítimos para o aprimoramento do interior humano, no tocante à sua espiritualidade e seu nível de consciência.

Há contudo que se fazer uma concisa, porém legitima "relação dos períodos, escolas e correntes filosóficas" que concorreram definitivamente para a compleição da Sublime Ordem.

PERÍODO CLÁSSICO DA FILOSOFIA (do século V ao século IV a.C. )

Esse periodo embrionário da Filosofia, surgido e desenvolvido na Grécia, ocupou-se das questões relacionadas ao ser humano e notadamente aos aspectos concernentes à alma, vícios e virtudes. Os principais filósofos da época foram Sócrates, Aristóteles e Platão.

ESCOLA SOCRÁTICA

Liderada pelo pensador grego, Sócrates (469-399 a.C.), o qual dedicou-se à utilização da maiêutica, um processo de ponderação crítica voltado para a desconstrução de preconceitos e na busca do autoconhecimento.

FILOSOFIA DA IDADE ANTIGA

Cabe registrar que as escolas da filosofia da idade antiga surgiram a partir de segmentações e de linhas de raciocínio que foram ganhando corpo e a adesão de outros. 

Entre as principais estão:

PLATONISMO

Corrente filosófica fundada por Platão, discípulo de Sócrates.

Sua obra (A República) está voltada para os estudos políticos e o conceito de "universalidade" (tudo o que está presente em lugares e momentos diferentes, como sentimentos, cores, formas, dentre outras).

ARISTOTELIANISMO

Os ensinamentos deixados pelo filósofo Aristóteles foram primordiais para o desenvolvimento de diversas matérias como lógica, ética, retórica, biologia, etc.

Aristóteles exerceu extrema influência não apenas na tradição ocidental mas também na indiana e oriental de forma geral.

ESTOICISMO

Esta corrente filosófica foi iniciada em Atenas por Zenão de Cítio, por volta do ano 300 a.C. 

A essência do estoicismo era a de conduzir o ser humano a um estado de tranquilidade absoluta, independente de fatores externos ao indivíduo.

O foco desta escola filosófica residia no estudo da metafísica e no conceito de "logos" (ordem universal), defendendo que tudo o que acontece, tem sua razão de ser.

EPICURISMO

Nesta doutrina filosófica criada pelo filósofo Epicuro (341 à 270 a.C.), o mesmo apregoava a ideia de que a única forma digna de se viver era através do exercício da moderação, que não deveria se confundir com os vícios. Suas ideias se voltavam para o cultivo das amizades e da fraternidade.

Defendia ainda o princípio de que  "tudo acontece por acaso" e que a realidade em que vivemos é apenas uma entre tantas possíveis.

CETICISMO

O Ceticismo foi uma escola filosófica iniciada por Pirro de Élis (360 à 270 a.C.), filósofo que defendia um constante questionamento de todos os aspectos da vida. Pirro acreditava que a ausência de julgamentos era suficiente para conduzir o ser humano à felicidade

CINISMO

O Cinismo, por sua vez, foi uma escola filosófica iniciada por Antístenes (445 à 365 a.C.). 

Sua base de pensamento era que o sentido da vida era viver de acordo com a própria natureza. Assim, a virtude consistiria em rejeitar os desejos de riqueza, poder e fama e buscar uma vida simples.

A título de curiosidade o adjetivo "cínico" tem sua etimologia do grego "kynikos" que significa "viver com um cão de rua", ou seja; uma alegoria àqueles que viviam uma "vida despojada de tudo".

FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA

Marcada pela influência dos filósofos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Os conceitos filosóficos tornam-se verdades reveladas (reveladas por Deus, através da Bíblia e dos santos) e inquestionáveis. Tornaram-se dogmas. A partir da formulação das ideias da filosofia cristã, abre-se a perspectiva de uma distinção entre verdades reveladas e verdades humanas. Surge a distinção entre a fé e a razão.

Esse período da história da humanidade é também chamado de "Era das Trevas" ou "Obscurantismo".

FILOSOFIA MODERNA

Tem seu inicio no período Renascentista (séculos XV e XVI),  época em que mundo testemunhou significativas mudanças no campo da política, da economia, das artes e das ciências. O Renascimento retomou valores da cultura clássica (representada pelos autores gregos e latinos), como a autonomia de pensamento e o uso individual da razão, em oposição aos valores medievais, como o domínio da fé e a autoridade da Igreja.... 

RACIONALISMO

Destaque-se que para os racionalistas, como René Descartes, o conhecimento verdadeiro é puramente intelectual. 

A experiência sensível precisa ser separada do conhecimento verdadeiro. A fonte do conhecimento é a razão. 

EMPIRISMO

Para os empiristas, como John Locke e David Hume, o conhecimento se realiza por graus contínuos, desde a sensação até atingir as ideias. A fonte do conhecimento é a experiência sensível.

ILUMINISMO

Inicialmente foi um movimento cultural do século XVII e XVIII caracterizado pela valorização da razão como instrumento para alcançar o conhecimento.

Sem dúvida, esta corrente foi a que maior influência exerceu sobre a Maçonaria, que gradativamente foi deixando sua base operativa para ganhar um caráter notadamente especulativo.

SÍNTESE DA FILOSOFIA MODERNA E CARACTERÍSTICAS

O pensamento (sujeito do conhecimento) passou a ser também o seu objeto. 

O homem começou a pensar nas suas próprias maneiras de raciocinar e entender o mundo.

Estão entre as principais características da Filosofia Moderna o ceticismo em relação às crenças antigas e às crenças costumeiras, a valorização da razão, a tentativa de estabelecer os limites do conhecimento humano e do modo como podemos conhecer o mundo verdadeiramente e a valorização de uma vida política que entende a existência de um elo entre política e conhecimento. Nesse período, destacam-se pensadores como Galileu Galilei, Isaac Newton, René Descartes, David Hume, Francis Bacon, John Locke, Thomas Hobbes, Baruch de Spinoza, entre outros.



EXPRESSÕES MAÇÔNICAS EQUIVOCADAS - Paulo Roberto Marinho de Almeida.


O progresso dos meios de comunicações, o aumento considerável de edições de livros, revistas e boletins maçônicos, ao exemplo do que fazem os grupos virtuais, contribuem para o crescimento da oferta de informação. Por este caminho é que procuramos colaborar com esta mensagem de alerta no sentido de banir de nossas alocuções o uso indevido de expressões não condizentes com o conhecimento que o Maçom praticante deve ter e preservar.

Na retórica do cotidiano da Loja, encontramos palavras que deveriam ter desaparecido, há tempos, da  terminologia maçônica.  Alguns Maçons teimam em defender o uso dessas expressões dizendo-as  consagradas  pelos “Usos e Costumes”, apresentando definições equivocadas, quando não, inventadas, e que só fazem macular a imagem do Maçom e da Maçonaria no que diz respeito à etimologia e ao idioma vernáculo.

Pela coleção e constatação de fatos, e em função do resultado de nossas pesquisas, apresentamos os comentários a seguir sobre algumas dessas expressões as quais consideramos as mais equivocadamente utilizadas. 

FILOSOFISMO

Filosofismo possui designações claramente definidas e grafia correta, entretanto, se usado na Maçonaria com menção aos chamados, Graus Filosóficos é pejorativo e depreciativo.

“... a péssima qualidade dos Manuais Escolares que, entre tantas outras aberrações, confundem a  Filosofia com Filosofismo. ...Uma das características centrais do Filosofismo é a estereotipar o saber filosófico” – (Roberto Bazanini - Bacharel em Filosofia, Mestre em Comunicação (UMESP-S.B.C.)  Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC –SP)”

Filosofismo  [De filósofo + -ismo.] S. m. Mania de Filosofar. Falsa filosofia. Mania  [Do gr. manía, 'loucura'.] S. f. Excentricidade, extravagância, esquisitice.  Mau costume; hábito prejudicial; vício. (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).

Filosofismo. S. m. (derivado de filosofia), é um termo depreciativo, que significa falsa filosofia, mania de filosofar. Por uma pretendida analogia com o termo simbolismo, usado para designar a Maçonaria Simbólica, muitos Maçons usam o vocábulo filosofismo para designar o terreno dos Altos Graus, também chamados Graus Filosóficos. Esse uso é indevido, impertinente e incorreto.  (José Castellani)

TRONO (DE SALOMÃO)

Muitos Obreiros costumam confundir Trono com mesa, Altar ou área do Altar – chamam de Trono tudo o que se encontra sob o dossel –, o que é um erro. Trono é a cadeira onde tem assento o Ven:. Mestre.  Atrelado ao equivoco segue o mais peculiar que é o do Venerável Mestre convidar algum Irmão para ocupar “um dos lugares no Trono”, quando o correto seria “no plano do Trono”, ou, “um dos lugares a seu lado”. O Venerável Mestre senta-se “no” Trono e não “ao” Trono.  Torna-se óbvio, então, que a referência é à cadeira, pois, sabemos que mesa não é assento.  Vale lembrar que embora consagrado pelo uso, o correto é denominar-se simplesmente como “a cadeira do Venerável Mestre” ou apenas “Trono”. Nunca Trono de Salomão, já que este só existe na Cerimônia de Instalação. A arquitetura, bem como a decoração do Templo Maçônico não é por réplica ao Templo ou Palácio de Salomão. Os primeiros Templos Maçônicos foram construídos na Inglaterra, no século XVIII por projetos inspirados nas grandes edificações da época, principalmente, dos Templos Anglicanos e o do Parlamento Britânico. Destes se originam o Átrio, o Mosaico, as disposição dos lugares, etc., Inclusive a Sala dos Passos Perdidos copiada do Parlamento que até os dias de hoje existe e assim é denominada. Os Templos maçônicos atuais representam a terra e o universo. No REAA isso é claramente visível: a Abóbada Celeste, as Colunas Zodiacais, o Norte, o Sul, o Oriente, o Ocidente, o Zênite e o Nadir. Diga-se de passagem, Templo é denominação mais comum aos países latinos. Nos demais países prevalece o uso da expressão Sala ou simplesmente Loja.

VENERANÇA

Esta palavra não figura em nenhum dos dicionários dos países de língua portuguesa. “Venerança” é uma corruptela, ou seja, uma palavra corrompida, o vocábulo verdadeiro é VENERALATO,  induz, ainda, a erros mais grosseiros, como, “Venerância” ou se pior fosse possível, “Veneralança”. Sufixo nominal é aquele responsável pela formação de nome (substantivos ou adjetivos) que compõem as palavras alusivas a ocupação de cargo, ofício ou dignidade  – Barão = Baronato, Tabelião = Tabelionato, Cardial= Cardinalato, Oficial= Oficialato, Venerável= Veneralato. Um termo só é compreendido quando se sabe os significados que ele pode ter e em que contexto ele é aplicado. Veneralato é o período do cargo de Venerável Mestre de uma Loja e não  qualidade ou sinônimo do título.

A INSTRUMENTAÇÃO PARA A EVOLUÇÃO DO MAÇOM -



Praticamente a grande maioria dos escritores maçons, em algum momento de suas obras, dedicaram importantes e substanciais linhas, senão trabalhos e livros inteiros, a discorrer sobre a importância da simbologia para a Maçonaria. Torna-se praticamente impossível referir-se a Ordem Maçônica, sem aludir aos símbolos que a representam e àqueles utilizados no processo de repasse de sua doutrina e ensinamentos.

Cada vez que se analisa um símbolo referente à Maçonaria, esta análise por mais que seja baseada em outras tantas já publicadas, será normalmente original. A visão que se possui sobre um símbolo é sempre pessoal e intransferível. São estas múltiplas visões que dão a Ordem Maçônica o caráter dinâmico e de adaptação aos novos tempos e as novas ideias que constantemente surgem.

Segundo Fernando Pessoa, em nota preliminar ao seu livro “Mensagem”, o entendimento e a assimilação das mensagens contidas em um símbolo dependem de cinco qualidades ou condições consideradas básicas:

. Simpatia;

. Intuição;

. Inteligência;

. Compreensão ou Discernimento;

. Graça ou Revelação.

Na Maçonaria a maior parte dos símbolos e metáforas que são utilizados, provêm da antiga atividade profissional e corporativa dos pedreiros medievais. Construtores que eram, principalmente de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e fortalezas, os pedreiros medievais corporativamente organizados constituíam a Maçonaria Operativa que evoluiu para as Organizações Maçônicas Simbólicas e Especulativas contemporâneas: “Embora não haja documentação que o comprove, deve-se admitir que os Maçons Operativos, os franco maçons, usavam seus instrumentos de trabalho como símbolos de sua profissão, pois caso contrário não se teria esse simbolismo na Maçonaria Moderna. A existência desse simbolismo é a mais evidente demonstração de que houve (…), contatos diretos entre os Maçons Modernos e os franco maçons profissionais, e demorados o suficiente para que essa transmissão se consolidasse (…)” (PETERS, 2003, passim).

O escritor Ambrósio Peters, nos coloca ainda que aqueles que seriam os símbolos principais e essenciais a existência da atual Maçonaria Especulativa (Simbólica). Cabe destacar também que são destes símbolos que os Maçons metaforicamente retiram os princípios básicos e os seus principais ensinamentos éticos e morais: “O trabalho dos franco maçons, limitava-se aos canteiros de obras e à construção em si. Os instrumentos que eles usavam eram o esquadro, o compasso e a régua para determinar a forma exata das pedras a serem lavradas, o maço e o cinzel, para dar-lhes a forma adequada, e o nível e o prumo, para assentá-las com perfeição nos lugares previstos na estrutura da obra. Eram, portanto três diferentes grupos de instrumentos, cada qual representando uma etapa da obra (…)” (Idem).

Podemos, com base no trabalho desenvolvido pelos pedreiros medievais, concluir que existiam três diferentes grupos de instrumentos operativos. Cada um destes instrumentos estava ligado a uma das fases da construção. Cada fase exigia do construtor um nível diferente de conhecimento para a sua execução e finalização:

. A medição ou especificação do tamanho e do formato das pedras;

. O desbaste, adequação das formas e o polimento para dar o acabamento adequado às pedras;

. A aplicação e o assentamento das pedras na construção.

Estes conjuntos de instrumentos que são necessários a execução de cada etapa da obra, indicam na Ordem Maçônica, simbolicamente os diversos Graus que nela existem. Cada Grau, representa na Maçonaria, todo um conjunto de conhecimentos que são necessários ao aperfeiçoamento e ao crescimento moral e ético dos Maçons.

Uma das muitas certezas que a vida em sociedade e a evolução do conhecimento humano nos deram, foi a de que nem todos os homens assimilam de maneira semelhante as mensagens da Simbologia Maçônica. Como se coloca em alguns rituais: devemos pensar mais do que falamos. A reflexão e a consequente meditação são essenciais a compreensão da linguagem maçônica..

O avanço pelos diversos graus, portanto não deve ser considerado pelo tempo que está sendo empregado, não devem ser conduzidos pela pressa. O que deve ser levado em conta é o esforço individual e o desprendimento pessoal de cada Maçom, conforme o seu potencial e capacidades para poder galgar com segurança e sabedoria os degraus da Escada de Jacó.

Bibliografia:

BONDARIK, Roberto – A Interpretação e o Entendimento dos Símbolos.

Escolas do Pensamento Maçônico. In: A Trolha: Coletânea 6. Londrina: A Trolha, 2003. p.141-151;

CAMPANHA, Luiz Roberto – A Filosofia e a Análise dos Símbolos. In: Caderno de Pesquisas 20. Londrina: A Trolha, 2003. p.33-40;

PESSOA, Fernando – Associações Secretas.

PETERS, Ambrósio – O Simbolismo dos Instrumentos.

março 17, 2024

VISITA A ARLS SABEDORIA TRIUNFANTE 665 - SP


 Nesta sexta-feira, dia 14, retornei em visita a ARLS Sabedoria Triunfante 665 9da GLESP, a Loja Maçônica mais inteligente que já conheci e que faz jus, perfeitamente, ao seu nome.

Sob a direção do VM Anderson Basílio, na apresentação de um trabalho de Companheiro, todos os irmãos do quadro, sem nenhuma exceção, enriqueceram os ensinamentos com seus comentários, cultos, interessantes, apropriados.

Foi motivador e é raro ver uma Loja onde todos participam ativamente e mostram acurada cultura maçônica. Uma visita que realmente valeu a pena.

PALESTRA ORATÓRIA -Michael Winetzki