março 31, 2024

LIBERTE-SE DE SEU SAPATO




Numa bela manhã, um homem já de certa idade fez sinal para o ônibus parar.

Enquanto subia, um de seus sapatos escorregou para o lado de fora. A porta se fechou e o ônibus partiu; com isso, ficou ele incapaz de recuperá-lo. No entanto, esse homem tranquilamente retirou seu outro sapato e jogou-o pela janela.

Um rapaz no ônibus testemunhou o que aconteceu, e não podendo ajudar ao homem, perguntou: "Vi o que o senhor fez. Por que jogou fora seu outro sapato?"

O homem prontamente respondeu: "É para quem o encontrar seja capaz de usá-lo. Provavelmente algum necessitado dará importância a apenas um sapato usado encontrado na rua, mas de nada lhe adiantará se este não tiver os dois sapatos."

O homem mostrou ao jovem que não vale a pena agarrar-se a algo, simplesmente para  manter a sua posse, e com isso, impedir que outro possa utilizar.

"Perdemos" coisas o tempo todo, sejam elas materiais ou não. Essas perdas podem nos parecer penosas e injustas no início, porém, com o tempo e a compreensão da justiça da lei divina, elas se mostram eficazes e benéficas ao nosso espírito.

Como o homem da história, nós temos que aprender a nos desprendermos de tudo aquilo que seja inútil e prejudicial. 

Alguma "força" decidiu que era hora daquele homem "perder o seu sapato". Talvez esse fato possa ter ocorrido para que pudesse surgir novos e melhores acontecimentos em sua vida.

Seja qual for a razão, muitas vezes não poderemos evitar as perdas, e nesses momentos deveremos agir com sabedoria, deixando o velho, sem valor e danoso para trás, para dar lugar ao novo, e a tudo aquilo que realmente Deus sabe que nos fará bem.

Aquele homem sabia disto. Um de seus sapatos tinha saído do seu alcance. No entanto, o outro sapato não mais teria sentido continuar em seu pé, e sabiamente deduziu que se livrando dele poderia se libertar de um problema, e além disso, sabia que agindo assim, poderia ajudar a alguns pés descalços que estivessem precisando de calçados.

Acumular posses não nos faz melhores e nem mais felizes. 

Todos temos que decidir constantemente se algumas coisas fazem ou não sentido continuarem em nossas vidas, ou se estariam melhores com os outras pessoas.

Sendo assim, "liberte-se do seu sapato", e seja feliz.


  Autor desconhecido

        

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REFLEXÃO SOB O DOSSEL - Adilson Zotovici


Breve finda mais uma estação

Um trecho de estrada infinita

Grandiosa obra bendita

Erigida com amor e união


E essa passagem suscita

Uma serena avaliação

Sobre a plena atuação

Tempo para que se reflita


Feitos no trono de Salomão

Se obra tosca ou erudita

Desde a posse, da instalação


A Instituição predita ;

Com ou sem o malhete na mão

Bom pedreiro...não se limita !



março 30, 2024

QUANDO COMEÇA A INICIAÇÃO? - Sérgio Quirino Guimarães-


O homem desde os primórdios da criação de sociedades que uniam pessoas com o mesmo propósito, criou cerimônias para a introdução de um novo membro em seu quadro de associados. Estas cerimônias visam além de apresentar o novo membro, passar para ele os princípios, a cultura e as diretrizes do grupo que agora ele fará parte.

Como exemplos temos o batismo (iniciação à cultura religiosa), casamento (iniciação à vida conjugal), formatura (iniciação à vida profissional) e na Maçonaria temos a Iniciação ao Grau de Aprendiz Maçom.

A Sessão Magna de Iniciação tem a função de "Rito de Passagem", onde o candidato deverá passar por atividades que lhe causem mudanças de estado moral e espiritual, deixando para trás o mundo profano e entrando em sintonia com os preceitos da Sublime Ordem.

Para que isto ocorra é mister que toda a Oficina esteja preparada para a grandiosidade da sessão; recordemos que o candidato terá apenas três sentidos para captar todas as mensagens subliminares que serão passadas. É importantíssimo a teatralidade, é pelo drama ritualístico que marcaremos no âmago do ser valores que às vezes conscientemente ele não captou, mas seu espírito e alma também foram iniciados.

A iniciação não começa após a abertura dos trabalhos pelo Venerável Mestre, cabe ao padrinho preparar o afilhado com antecedência. A Maçonaria é envolta de mil crendices que atrapalham em muito o relaxamento e a estabilidade emocional do candidato, é função do padrinho esclarecer todas as dúvidas, ele não pode contar o que acontece na sessão, mas deve dizer o que não acontece.

Também deve o padrinho procurar saber como anda a saúde do candidato e suas condições físicas, exemplo: hipoglicemia (lembremos que ele vai ficar horas sem se alimentar); labirintite (ele pode perder o equilíbrio conforme o movimento que for feito com ele), artrites ou cirurgias que o impeça de fazer alguma coisa; tudo isto deve ser levado à Loja para que haja a devida adaptação na ritualística e não quebre a egrégora formada.

Cabe também ao padrinho alertar ao candidato que ele deve cuidar da higiene do corpo; já presenciei uma iniciação em que o candidato estava profundamente constrangido por conta do tamanho das unhas do pé, ele ficou mais preocupado em esconder o pé do que ouvir o ritual.

Na noite que antecede a reunião, deve o candidato antes de deitar fazer suas orações e agradecer pelos dias já vividos, pois na noite da iniciação antes de se deitar ele deve ter em seu interior a paz e a felicidade para orar pedindo muitos dias de vida para colaborar na obra do GADU, pois a ele foi revelado a V∴L∴.

A intenção deste pequeno artigo é despertar em você a vontade de saber um pouco mais sobre o assunto, fazer uma pesquisa e quando ela estiver pronta, levar para sua Loja enriquecendo nosso Quarto de Hora de Estudos. Lembrem-se, todos nós somos responsáveis pela qualidade das Sessões Maçônicas.

A QUEDA DO PEDREIRO - Roberto Ribeiro Reis



Em maldita hora,

Alma aflita chora

O grande desperdício;

É o irmão que, agora,

Sai da Loja e, lá fora,

Deixa um mau resquício.


A par do juramento,

Total desregramento

Invade-o, infelizmente;

Esquece-se do telhamento,

Falta-lhe o entendimento

De que a Obra é diferente.


Seu autoexílio é certeiro,

Pois ele sim é o primeiro

A declarar sua decadência;

Pobre e infiel ferreiro

Forjou-se, muito aventureiro,

No caminho da imprudência.


O fogo que ora o acomete

O seu avental derrete,

Desnudando-o, por completo;

Sua idade, inda que sete,

À sabedoria não remete

Para decepção do Arquiteto.


Em que pese toda tristeza,

Tenhamos a certeza

De que árdua é nossa luta;

Nossa grande Fortaleza

É a que nos dá a clareza

Para lapidarmos nossa conduta...

NOSSA JORNADA - Newton Agrella


Para desenvolver-se na Maçonaria não é necessária nenhuma capacidade intelectual diferenciada, tão pouco qualquer lastro cultural exacerbado.

O que mais importa na escalada maçônica é o caráter ilibado, o espírito fraterno e o coração sensível ao Bem.

Ninguém é absolutamente superior ao outro. 

Somos rigorosamente iguais nas nossas capacidades, talentos e limitações.

O que efetivamente nos diferenciam são as "oportunidades e as experiências"

Estas sim, é que estabelecem o perfil de nossa caminhada, as chances melhor ou pior aproveitadas e o Discernimento que elas exigem.

As oportunidades passam pelas nossas vidas e nem sempre nos damos conta delas.

A Sublime Ordem nos oferece  oportunidades de revermos muitos de nossos conceitos, de libertarmo-nos de algumas amarras e preconceitos que teimamos em carregar conosco.  

Oferece-nos ainda a possibilidade de darmos vazão aos nossos pensamentos e de construirmos o nosso interior de maneira mais leve e descomplicada.

As experiências que se acumulam nas relações entre Irmãos, no aprofundamento dos estudos, na leitura constante, na frequência e participação em Loja são outros elementos que contribuem decisivamente para dar forma e polimento à pedra bruta que há dentro de cada um de nós.

Cultivar o desprendimento e perceber que a Fraternidade é o exercício mais profícuo para entendimento entre os Homens, seguramente torna a caminhada maçônica mais suave.

Ser reconhecido Maçom é o prêmio pelo trabalho árduo e infindável.

Esse trabalho é o da elaboração do nosso Templo Interior.

É nesse sentido que utilizamos todas as ferramentas que através de Símbolos e Alegorias auxiliam-nos no processo de nossa evolução.

Somos componentes de Deus, O Grande Arquiteto do Universo, Princípio Criador e Incriado de todas as coisas e dessa forma, procuramos individualmente, empreender a nossa jornada na busca infinita e utópica da Perfeição.

março 29, 2024

QUINTA FEIRA DE ENDOENÇAS E A MAÇONARIA

 





   A Quinta-feira Santa ou Quinta-feira de Endoenças (dores e temores) é a quinta-feira, imediatamente, anterior à Sexta-feira da Paixão, da Semana Santa. Este dia marca o fim da Quaresma e o início do Tríduo Pascal na celebração, que relembra a última ceia do Senhor Jesus, o Cristo, com os doze Apóstolos.

Dentro dos ofícios do dia, adquire uma especial relevância simbólica, o lava-pés, realizado pelo sacerdote e no qual relembra o gesto realizado por Cristo antes da última ceia com os seus apóstolos.

A chamada “última ceia” de Jesus, com os seus “shaberim”, foi um “kidush”, que precedeu a “Pessach”, sendo realizado na quinta-feira.

Os ofícios da Semana Santa chegam à sua máxima relevância litúrgica na Quinta-feira de Endoenças, quando começa o chamado tríduo pascal, culminante na vigília que celebra, na noite do Sábado de Aleluia, a ressurreição de Jesus Cristo no Domingo. Na Missa dos Santos Óleos ou Missa do Crisma, a Igreja celebra a instituição do Sacramento da Ordem e a bênção dos santos óleos usados nos sacramentos do Baptismo, do Crisma e da Unção dos Enfermos, e os sacerdotes renovam as suas promessas.

  Na Quinta-Feira de Endoenças, Cristo ceou com os seus apóstolos, seguindo a tradição judaica do “Sêder de Pessach”, já que segundo esta deveria cear-se um cordeiro puro; com o seu sangue, deveria ser marcada a porta em sinal de purificação; caso contrário, o anjo exterminador entraria na casa e mataria o primogénito dessa família (décima praga), segundo o relatado no livro do Êxodo. Nesse livro, pode ler-se que não houve uma única família de egípcios na qual não tenha morrido o primogénito, pelo que o faraó permitiu que os judeus abandonassem o Egipto, e eles correram o mais rápido possível à sua liberdade; o faraó, rapidamente, arrependeu-se de tê-los deixado sair e mandou o seu exército em perseguição dos judeus, mas Deus não permitiu e, depois de os judeus terem passado o Mar Vermelho, fechou o canal que tinha criado, afogando os egípcios. Para os católicos, o cordeiro pascoal, de então, passou a ser o próprio Cristo, entregue em sacrifício pelos pecados da humanidade e dado como alimento por meio da hóstia.

Existem Altos Graus maçónicos, em que, no final dos trabalhos, os presentes se reúnem em volta de uma mesa, onde o presidente, o principal dos convivas, distribui o pão e o vinho, de que todos se servem. Além disso, há um antigo costume, segundo o qual, em qualquer lugar do mundo em que se encontrem, esses obreiros, cavaleiros, se devem encontrar na quinta- feira de Endoenças (do latim: indulgentias), ou “quinta-feira santa”, ou “quinta-feira da Paixão”, que ocorre três dias antes da Páscoa. Este hábito tem a sua origem num rito tradicional judaico, incrementado pelos essénios: o kidush (da raiz kodesh = santo, sagrado), que, também, é a origem da eucaristia.

O kidush era realizado na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do Shabbat (sábado, o dia santificado), para realçar a santificação do dia.

Por ocasião da “Pessach” (Passagem, Páscoa), lembrando a saída do Egipto, todavia, como a sexta-feira era dia de preparar os alimentos, que seriam consumidos no “Sêder” (jantar da Páscoa) e de queimar hametz (alimentos impuros, proibidos durante a Páscoa), o kidush era recuado para a quinta-feira.

Num kidush, o principal dos convivas de uma confraria (em hebraico: shaburá) lançava as bênçãos sobre o pão e o vinho e os distribuía entre os demais (os shaberim, membros do shaburá).

A cerimónia celebrada na Quinta-Feira de Endoenças é exclusiva para os iniciados no Grau 18° e acima.

Os Cavaleiros Rosa-Cruzes quando reunidos em Conclave, na “Quinta-Feira Santa”, Sessão de Endoenças, para a realização da Ceia do Grau 18o, devem ter em mente que a Ceia constitui um cerimonial, cuja origem é lembrada como sendo a realizada por Jesus com os seus doze Discípulos. Jesus, ao distribuir o pão e o vinho, esclareceu que simbolizava o seu próprio corpo e o seu sangue. Contudo, a Ceia Rosacruciana distribui anutrição, que simboliza o sangue e o corpo de todos os Cavaleiros presentes, para que as forças da Vida sejam aumentadas; a inteligência seja sã e sincera, e que a Verdade seja discernida e as aspirações esclarecidas ante o Grande Arquiteto do Universo.

Fonte: Revista ASTRÉA, no 35

 

PAINEL DA LOJA DE COMPANHEIRO - Joel Ribeiro dos Santos


O Painel da Loja de Companheiro apresenta-se mais complexo, sem moldura ao redor, sem a Orla dentada ou Corda de 81 nós, ou Cadeia de União. Trata-se da “sublimação” da Escada de Jacó, num sentido esotérico e que comporta os ensinamentos do 2º Grau.

O Painel tem inspiração egípcia; reproduz o Átrio do Templo e é em forma sinuosa com 15 degraus até atingir a entrada do Templo. O Painel, de forma geral, apresenta apenas parte do detalhe da Escadaria que é a principal, pois cada degrau possui uma simbologia própria.

Os três primeiros Degraus significam o trabalho do aprendizado; as três primeiras etapas. Vencidos esses três degraus, encontramos um pequeno patamar; é o momento de descanso para a meditação, para que tudo o que o Aprendiz acumulou possa “digerir” e preparar-se para outro alimento mais sólido.

Os cinco sucessivos degraus representam os cinco sentidos, na seguinte ordem: ouvir, ver, apalpar, cheirar e provar, ou seja, os sentidos da audição, da visão, do tato, do olfato e do gosto. Esses cinco sentidos próprios do ser humano, a Maçonaria ensina usá-los com equilíbrio e sabedoria. É o aspecto esotérico dos sentidos espirituais, por exemplo: da “terceira visão”.

Assim, o Companheiro estaciona em cada “degrau” que constitui um “estágio” em seu aprendizado, para poder prosseguir. 

Sem um controle eficiente sobre os seus sentidos, o Maçom não poderá entregar-se ao estudo das ciências. Essas Ciências e Artes, a tradição mantém em número limitado, pois, o conhecimento do Grau de Companheiro, não é universal, mas parcial.

As ciências e artes são em número de sete, a saber: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. 

Cada uma já expressa por si mesma, o seu conteúdo e seu valor; chama a atenção a colocação das Artes precedendo o estudo da Astronomia; a colocação é acertada, pois, a pausa sonora, educa o ouvido para adaptá-lo a escutar o som das “esferas celestiais”.

Não se há que confundir Astronomia com Astrologia.

Somente após vencidas essas sete etapas, que demanda um longo estágio é que o Companheiro poderá adentrar no Templo.

Interessante verificar que até aqui, o trabalho é realizado no “ÁTRIO”. Mas, dirão os leitores: tanto os Aprendizes como os Companheiros não trabalham dentro de um Templo? Evidentemente que sim, no entanto, não se deve esquecer da existência do “Templo Interno”, que cada um possui.

O Templo material não pode ser confundido com o Templo Espiritual. O Aprendiz trabalha em um lugar denominado de “Oficina”. O Companheiro, já trabalha em uma “Escola”, embora dentro de um Templo; quem trabalha em uma escola, não está dentro de um templo do saber?

Esses aspectos curiosos são próprios da Maçonaria que, aparentemente, são contraditórios ou paradoxais, mas que analisados, apresentam, sempre, a sua razão de ser.

Para o ingresso em um Templo Maçônico se faz necessária uma adequada “preparação”, interna e externa; a vestimenta, a marcha, a luz e o som, são requisitos a observar com rigor.

Um dos pontos “fracos” da Maçonaria Brasileira é o pouco cuidado que se tem quanto ao trabalho do Companheiro, pois, se dá mais atenção ao Aprendiz.

Nos Painéis dos Átrios colocados nas paredes laterais das Escadarias, notam-se ramos de trigo, videira e oliveira, os três alimentos principais originários do Egito, simbolizando que a “alimentação” deverá ser observada com adequação, evidentemente se trata do “alimento” da mente e do espírito.

A Escadaria apresenta, apenas parte do corrimão, e vem colocado à esquerda, abrangendo os cinco degraus dos sentidos e é constituído por um balaústre formado de colunetas que reproduzem cinco ordens: Toscana, Dórica, Jônica, Coríntia e Compósita. 

Isso expressa que o primeiro ciclo de aprendizado abrange o conhecimento da construção passada, grega e itálica, pois no Egito, não existiam Colunas apenas ornamentais, mas simbolizando a estatuária.

Como detalhe, a “Estrela Flamejante” vem colocada, também no Átrio. Não está definido, como deva ser ornamentado um Templo para o trabalho no Grau de Companheiro.

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Bibliografia:

Rizzardo da Camino – VADE-MECUM DO SIMBOLISMO MAÇÔNICO

BREVE INCURSÃO PELA SOCIOLOGIA DO SEGREDO - Davys Sleman de Negreiros


As pesquisas sociológicas do segredo inauguram-se com os pressupostos e os estudos de Georg Simmel e estendem-se no âmbito teórico e na pesquisa disciplinar. Tanto na sua vertente sociológica como na antropológica, os estudiosos das diferentes formas e ritmos que assume a disseminação da informação em quadraturas sociais diversas, partem do pressuposto básico de que a ocultação por meios considerados “positivos” ou “negativos” é um feito essencialmente humano, e um dos fundamentos da vida social.

Sem o segredo, pressupondo-se a possibilidade da transparência absoluta nas relações interpessoais tanto ao nível individual quanto ao nível societário, estas seriam inviáveis (SIMMEL, 1950:58). De maneira geral, o segredo é analisado de maneira valorativa, já que vê-lo como ocultação implica no reconhecimento de um espaço de sedição e de ilegitimidade. Equacionado à mentira, ver-se-ia reforçado este lado oculto das coisas como um ato consciente de malversação ou de alteração da verdade dos fatos. Nesta medida, seria a contrapartida da publicidade, do direito à informação e à transparência, ideais constitutivos da democracia moderna.

Em finais do século XVIII, Benjamin Constant de Rebecque (1980), sem desmerecer das virtudes da verdade como princípio moral e sem negar o potencial danoso da mentira como ato consciente, afirmava que a obrigação ou o dever de ater-se a ela na sua inteireza, incondicionalmente e de maneira isolada, inviabilizaria qualquer tipo de sociedade. Na visão de Constant, o segredo ao mesmo tempo que coloca uma barreira entre os indivíduos, traz em si também o desafio e a possibilidade de ser rompido, tendo inclusive, ao nível interpessoal, a função de elemento informador das relações sociais (que, aliás, é a perspectiva de Georg Simmel na sua sociologia do conflito e do segredo).

Além disto, estão implícitos na postura de Constant pressupostos que mais tarde seriam resgatados e sociologicamente analisados, quais sejam, os processos de diferenciação e de desigualdade no fato de haver segredo, havendo assim detentores e excluídos das informações ao nível societário.

Ao nível individual, a perspectiva é menos negativa e o segredo seria a medida dos níveis de ocultação e de revelação necessários e viáveis nas relações interpessoais. A relevância sociológica desta noção e das práticas que preside, emerge neste ponto no pensamento de Constant, como mais tarde na sociologia de Georg Simmel: a tensão entre o ideal na transparência a bem do pré-conhecimento das possibilidades de ação do outro e os níveis de ocultação que também fazem parte do processo interativo e da própria solidariedade social. O que marca a postura de Constant é a contraposição aberta aos pressupostos de que o segredo fosse unicamente danoso à democracia e à cidadania, negando também o senso comum que o equaciona à imoralidade, à perversão, à sedição.

Esta foi, por exemplo, a atitude adotada pela Igreja Católica, pelas monarquias e pelas corporações medievais diante das práticas secretas do “companheirismo” (compagnonnage) francês dos primórdios da Maçonaria. O fato dos “companheiros” (compagnons) se reunirem em segredo e de fazer circular informações e organizar-se no mundo do trabalho sob formas rituais diferentes, deu espaço aos Mestres, ao clero e aos soberanos para condenarem os primeiros Maçons por heréticos diante da Igreja, infiéis aos Mestres e traidores do trono quando era o caso.

Para Constant, não é o caso de considerar o segredo um mal em si. O mal, o sedicioso, é que se fazem secretos por razões óbvias, o mesmo se aplicando à inconfidência e a práticas que inviabilizariam o indivíduo como ser social se fossem trazidas a público, mas que no entanto fazem parte das liberdades individuais. Neste aspecto, Constant defende o direito ao segredo individual e o reconhece como inalienável, sobretudo quando equacionado à privacidade, de vez que homem algum tem direito à verdade que prejudica os demais.

Ao contrário de antidemocrático, o segredo seria uma das bases das liberdades individuais, na medida em que viabilizariam um espaço privado “onde possam florescer novas ideias e hábitos ainda não aceitos pela coletividade” (ALMINO, 1983:175) além de ser sempre parte do repertório de cada pessoa. Na perspectiva desta reflexão, o ponto mais importante é justamente o carácter relacional e comunicativo da informação, sempre ser pensada num contexto social, enquanto elemento organizador de relações e estilos de vida.

As reflexões contidas neste texto formam inspiradas em grande medida pela leitura do livro “O Segredo e a Informação”, do Jurista e Diplomata brasileiro João Almino (1983) que se debruça sobre alguns dos mitos que recobrem o segredo nos limites do direito público. Dentre eles está o mito da transparência da sociedade em relação a ela mesma, que se apoia mais num ideal em favor da publicidade daquilo que possa ter interesse ou consequências públicas do que num outro direito que ele também reconhece e que diz respeito ao estritamente individual.

Outro ponto a considerar é a crença, também moderna, de que a publicidade enquanto contrapartida do segredo estivesse sempre em favor dos dominados, enquanto a ocultação favoreceria os dominantes, ao recobrir de silêncio as suas intenções e as suas estratégias em detrimento daqueles. Almino lembra o potencial que a publicidade tem de ser mais um instrumento à alienação do que propriamente de esclarecer ou propiciar à consciência de todos os elementos, como as implicações da situação de classe ou as desigualdades sociais.

Deste modo, pode-se ver como as atitudes e os mecanismos relativos ao conhecimento, à informação e às estruturas de poder se entrelaçam no espírito familiar e à honra, à cooperação e ao igualitarismo que as caracterizam. O interesse nessa temática fica mais evidente na ampla e variada literatura sobre os tipos de sociedade ou de grupo social, assim como, nas polaridades que marcam práticas e análises sociais (tradição/ modernização; segredo/revelação; confiança/inconfidência; transparência/sedição; hierarquia/igualitarismo; competição/cooperação).


março 28, 2024

BEETHOVEN PASSA A ETERNIDADE NESTE DIA

 



26 de março de 1827: Morre o compositor alemão Ludwig van Beethoven, em Viena.

Ludwig van Beethoven morreu no dia 26 de março de 1827, aos 56 anos, em Viena. Universalmente reconhecido como um dos maiores compositores de todos os tempos, a obra de Beethoven coroou o período clássico e iniciou efetivamente a era romântica na música. É dos pouquíssimos artistas que pode ser genuinamente considerado um revolucionário.

O génio musical inspirou momentos históricos em outros campos que não os da sua arte, sensibilizando estadistas, cientistas e artistas. Beethoven era um humanista que acreditava na força do carácter humano. Abraçou o Iluminismo e tornou-se defensor da Revolução Francesa, cujos ideais podem ser musicalmente notados na sua obra.

Nascido em Bona, Beethoven mostrou desde tenra idade notável talento. O pai, músico da corte,  submetia-o a um brutal regime, na expectativa, mal-sucedida, de explorá-lo como um menino prodígio. Estimulado pelos seus professores, o jovem Beethoven visitou Viena, à época o grande centro mundial da música, pela primeira vez em 1787, aos 16 anos. Apresentou-se a Mozart, que ficou bastante impressionado. Em 1792, Haydn  convidou-o para ser seu aluno. Beethoven retornou então a Viena, que passou a ser a sua residência permanente. Contudo, as suas ideias pouco ortodoxas ofenderam o velho mestre, as aulas terminaram e o génio de Beethoven  levou-o a construir o seu próprio caminho.

Tanto o impressionante virtuosismo pianístico quanto as suas notáveis composições conquistaram a simpatia da aristocracia vienense e ele pôde  valer-se de generosos apoios. Mecenas e aristocratas toleravam os seus modos notoriamente grosseiros, a sua aparência desleixada e acessos de fúria. A partir do final dos anos 1790, Beethoven já não  dependia de patrocínios devido à ampla aceitação da sua música.

O ano de 1800 marcou o início de sua trágica aflição, a surdez, que se tornou total em 1817 e foi revelada no seu famoso Testamento de Heiligenstadt: “Vocês, homens, que me têm como hostil, obstinado e insociável, como são injustos! Não conhecem as causas secretas que me fazem agir deste modo. (...) fui cruelmente repelido pela dolorosa experiência de ter a audição defeituosa! (...) – falem mais alto, gritem, porque estou surdo! Como poderia divulgar a todos a falta de um sentido que eu deveria possuir em grau ainda mais elevado do que qualquer outra pessoa. (...) Estas circunstâncias levaram-me à beira do desespero e pensei, mais de uma vez, em pôr fim aos meus dias. Somente a música me deteve!”

Não poder ouvir, impediria qualquer ser humano de trabalhar com sons, e em vez de condenar Beethoven ao silêncio fez dos seus 27 anos restantes de vida os mais revolucionários da história da música. Os seus últimos trabalhos, as sinfonias, os quartetos de cordas, as sonatas para piano, foram escritos por um homem que jamais os ouviu.

A obra de Beethoven pode ser dividida em três períodos bem distintos. As obras do 1º período incluem a Primeira (1800) e a Segunda Sinfonia (1802); os primeiros três concertos para piano (1795–1800); o primeiro grupo de quartetos de cordas (1800); e várias sonatas para piano, entre elas a Patética (1798) e a Serenata ao Luar (1801). Embora as composições do primeiro período já registassem a indiscutível amplitude de recursos sonoros e a vitalidade de Beethoven, eram ainda dominadas pela tradição de Mozart e Haydn.

No começo de 1802, a obra de Beethoven assume novas dimensões. A estreia em 1805 da Terceira Sinfonia, conhecida como A Eroica, tornou-se um marco na história da arte e da cultura. Assinala uma definitiva ruptura com o passado e o nascimento de uma nova era. A extensão, estrutura, harmonias e orquestração da Eroica rompiam as convenções formais da música clássica. Sem precedentes, incorpora o sentimento do potencial humano e da liberdade, inspirado na Revolução Francesa. A sinfonia foi dedicada originalmente a Napoleão em quem via o símbolo da libertação da humanidade. Contudo, quando Napoleão se auto-proclamou imperador, desiludido o compositor  renomeou-a como “Sinfonia heróica para celebrar a memória de um grande homem”.

Os trabalhos do período intermedio, o mais produtivo, incluem os Concertos para piano No. 4 (1806) e No. 5 (Imperador, 1809); os Quartetos Razumovsky (1806); a Sonata Kreutzer (1803); e o seu único concerto para violino (1806); da 4ª a 8ª Sinfonia (1806–12); diversas sonatas para piano, entre elas a Waldstein e a Apassionata, a  única ópera, Fidelio, e as Aberturas Leonore, Coriolano e Egmont.

O terceiro período tem início em 1816 e é caracterizado por obras de grande profundidade e complexidade. Inclui a monumental 9ª Sinfonia (1817–23) que termina com o coral baseado na Ode à Alegria de Schiller, e a Missa Solemnis (1818–23). Os últimos 5 Quartetos de Cordas e a Grande Fuga, compostos nos seus derradeiros anos, são considerados por críticos como as supremas criações de Beethoven e por muitos como a mais sublime música jamais composta.

O tema da marcha fúnebre (trauermarch) do segundo movimento da Eroica foi executado nas exéquias de Franklin Delano Roosevelt em 1945, nas de Arturo Toscanini, o maestro dos maestros, em 1957, nas honras fúnebres a Mendelsohn em 1847 e nos funerais que se seguiram ao massacre de Munique durante os Jogos Olímpicos de 1972. Toscanini regeu a 5ª Sinfonia em 8 de maio em Nova Iorque em homenagem ao Dia da Vitória. A transmissão da rendição das tropas nazis na batalha de Estalinegrado, em fevereiro de 1943, pelo comando militar em Berlim, teve como pano de fundo o Segundo Movimento da 5ª Sinfonia.    


Fontes: Opera Mundi

wikipedia (imagens)

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A RESPONSABILIDADE EXISTENCIAL - José Cássio Simões Vieira


Todas as vezes em que tratamos do tema LIBERDADE, um dos componentes do tripé da Maçonaria, ressaltamos dever ser ela condicionada à RESPONSABILIDADE, que, por sua vez, não pode de existir sem a primeira, numa verdadeira dialética da autonomia.

De fato, convém que entendamos o que seja responsabilidade, não no sentido jurídico, mas no que diz respeito à responsabilidade existencial.

Vejamos, de início, a etimologia da palavra existência. O termo provém do latim existere, formado pela preposição ex (fora de) e pelo radical sistere (por, colocar). Correspondem estes aos vocábulos gregos ek e stasis, os quais, através do latim, ecstasis, deram origem à palavra "êxtase", que expressa o fato de sair-se de si mesmo.

Nossa existência, pois, desse ponto de vista, não pode considerar-se como algo estável ou imanente, mas um contínuo "sair-se de si mesma", um "vir-a-ser", um transcender, um salientar-se de algo, significando uma forma, um modo de relacionar-se com o mundo.

"O homem é aquilo que aspira mais além de si" (Jaspers), com o que se enfatiza o ser humano como emergente, em evolução.

A importância desse conceito reside no fato de devermos ver o existir humano como contínua criação. Não como um ser (palavra que sugere algo de estático), mas como um sendo, um pode ser, um vir-a-ser.

A vida nos é dada, mas não nos é dada feita. Recebemo-la vazia e temos que preenchê-la, com nosso próprio esforço, esforço esse que não podemos delegar a quem quer que seja.

Realmente, o homem é um contínuo criar-se, um contínuo fazer-se a si mesmo, como possibilidade aberta. "Não foi feito, mas é o que se faz". Daí a famosa frase de Sartre "O homem é o ser que não é o que é e que é o que não é", expressando o contínuo evoluir, o contínuo transcender, que faz com que ele, em qualquer momento, seja algo que está deixando de ser e que não terminou, portanto, de ser o que é. Somos nossa escolha.

Se o homem está, continuamente, em processo de fazer-se a si mesmo, elege, constantemente, seu caminho e se autodetermina, pelo menos em condições de normalidade psíquica.

"Somos nossa escolha", dentro dos limites de nosso mundo dado. E, se não podemos mudar esses limites, podemos escolher COMO dirigir nossa vida dentro deles. Tal é nossa liberdade.

É comum ouvirmos pessoas não plenamente cônscias de sua responsabilidade existencial "Eu não pedi para nascer. Vocês agora é que resolvam meus problemas, façam alguma coisa por mim ou me aguentem".

Sem embargo de certas doutrinas espiritualistas, cujo mérito, no momento, não nos cabe discutir, consideremos que, de fato, ninguém pediu para nascer. Consideremos, simplesmente, que o homem seja "lançado" no mundo, de maneira passiva, com sua carga genética, sua constituição, seu temperamento, num dado momento histórico, numa dada cultura. A partir daí, ele vai tomando conhecimento desse mundo, que ele mesmo não criou e ao qual acha-se submetido totalmente, pelo menos no início de sua vida no plano terrestre.

Cabe ao homem, porém, assumir sua condição de existente, tomando a iniciativa de descobrir o sentido de sua vida e orientar suas ações, dentro de ampla faixa de escolhas existenciais, nas direções mais diversas, sendo responsável por tudo aquilo que escolhe ou faz. Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, mas o que ele FAZ do que fizeram dele.

Por isso, diz Sartre, "O homem é condenado a ser livre", ou seja, deve ele, a cada momento, usar de sua liberdade e escolher o que fará de si.

O homem e o mundo

Sustentamos que o homem, em condições normais, é plenamente responsável por aquilo que faz, numa relação única e intransferível com seu mundo. Por isso, é o homem, filosoficamente, chamado de ser-no mundo.

De que se trata esse mundo?

Não se trata apenas do ambiente em que o homem vive, nem de suas relações com as coisas ou com os demais.

Na verdade, o homem e o mundo são um só. À medida que, vivendo ao mesmo tempo e inseparavelmente em um ambiente, com os demais, o homem vai criando um mundo próprio, ao eleger, a cada momento, o que tem sentido para seu projeto de ser, desenvolvendo uma concepção de mundo e de si mesmo.

Em outras palavras, o homem tem que construir seu mundo a cada momento, dentro de suas circunstâncias, que são parte integrante de todos nós, na medida em que não somos uma peça isolada, suficiente e completa. "O homem é ele e suas circunstâncias" (Ortega y Gasset).

Se o homem concebe seu mundo, elege, com esse mundo a ele integrado, tudo o que tem significado para sua vida, de acordo com seu projeto de vida. Há em tudo uma intencionalidade, pois, como vimos, não concebemos o mundo como um dado bruto, desprovido de significados. "O mundo que concebo é o mundo para mim". Criamos, portanto, nossa realidade. Vemos as coisas de acordo com nosso "plano de mundo", com nossa "aspiração".

Em síntese, o homem, enquanto existente, não pode ser compreendido a não ser em relação com seu mundo, relação essa na qual ele cria seu mundo e, ao mesmo tempo, é criado por ele. Não existe uma dicotomia homem/mundo, sujeito/objeto.

A ideia de ser-no-mundo, portanto, deixa claro que o homem constrói sua vida, determinado o sentido histórico significativo de sua existência.

O sentido de vida e a Maçonaria

Viktor Frankl, famoso psicoterapeuta austríaco, criador da Logoterapia, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, convivendo com seus companheiros de infortúnio, observou que apenas sobreviviam as pessoas que encontraram um sentido de vida, ingrediente indispensável não só para resistir e superar as grandes crises, mas também para incentivar a vontade de viver.

Quem elege como escolha existencial o aperfeiçoamento do caráter e a busca da elevação cultural, moral e espiritual do ser humano, muito se beneficiará com os ensinamentos hauridos na Ordem Maçônica. Para tanto, a Instituição exige de nós que sejamos homens retos na concepção de nossos valores, qual o fio de prumo, que se situa na perfeita perpendicular. Compara-nos a blocos de pedra, cujas arestas devem ser removidas, cujos lados devem ser polidos e cujos ângulos devem ser tornados perfeitamente retos, para que se assentem, com perfeição, na monumental construção do Templo Social.

A escolha desse sentido de vida depende de nossa inteira liberdade, dentro da concepção que tivermos de nossa existência e do que quisermos fazer dela, quer dizer, de nós e de nossas circunstâncias.

Tudo dependerá de nós! A Ordem não poderá nos dar mais daquilo que optarmos buscar. . .

O MITO DA "SAUDADE - Newton Agrella


Na nossa língua portuguesa o substantivo "palavra" (do latim parabola), traduz-se como um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a ideia ou conceito associados a este conjunto. 

A palavra tem como função representar partes do pensamento humano.

As línguas e suas palavras têm a propriedade de simbolizar conceitos, porém elas "não detém" uma propriedade exclusiva de expressar as formas de sentimento de cada povo.

Em outros termos, os povos tem suas próprias palavras ou mesmo expressões idiomáticas para exprimirem quaisquer sentimentos de maneira característica e pertinente.

Esse prefácio se faz necessário para  desmistificar uma ideia amplamente difundida pelos falantes da língua portuguesa e por uma boa parcela de gramáticos, que insistem em dizer que a palavra "saudade"  só existe na língua portuguesa, o que na realidade acaba incidindo numa falácia.

Etimologicamente a referida palavra advém do Latim "solitatem" (solidão), passando pelo galego-português "soidade", que deu origem às formas arcaicas "soidade" e "soudade", que sob influência de "saúde" e "saudar" deram origem à palavra atual.

Como todas as línguas, cada uma guarda sua própria característica para expressar um específico sentimento ou disposição particular da alma, diante de diferentes circunstâncias.

Assim por exemplo, quando se quer dizer: 

"Estou com saudade de você" 

pode-se naturalmente dizer em outros idiomas conforme abaixo:

*Em Inglês*

"I miss you"

*Em Italiano*

"Ho nostalgia di te"

*Em Francês*

"Tu me manques"

*Em Espanhol*

"Te extraño"

*Em Alemão*

"Ich vermisse dich"

*Em Dinamarquês*

"Jeg savner dig"

*Em Romeno*

"Mi-e dor de tine"

É claro que existem outras formas de expressar saudade, com algumas palavras específicas para determinadas situações. 

Contudo criou-se um mito em torno de "saudade", que aos poucos vai se desconstruindo, até em razão da própria vida que uma palavra possui.

"Saudade", é claro, não deixa de ser um substantivo abstrato, ou seja; é o nome que se dá aos sentimentos, estados e qualidades.  

São palavras que não conseguimos formar uma imagem em nossa mente devido ao grau de abstração.

Outros exemplos de substantivos abstratos: 

Amor, Paz, Calma, Razão, Fé, dentre tantos outros que traduzem a imensidão da alma humana, independentemente de sua raça, gênero, credo, cor, ou da língua que fale.


A VELHICE NA MAÇONARIA - Moreno, RJ


“Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje, ela é um peso.” 
Francois Chateaubriand


Quando fui iniciado, a vida para mim ganhou um novo sentido, pelas novas amizades e pelo ensinamento que recebia nas instruções de meus preceptores. A sessão maçônica era uma coisa extraordinariamente nova e reveladora. Sonhava em crescer na Ordem e ser como aqueles Irmãos mais antigos, pois via neles tanto conhecimento e amizade, meus sábios inspiradores.

Aqueles “velhinhos” eram a porta para meu ingresso no conhecimento e na filosofia da Arte Real.

Para mim, eles viviam num mundo de felicidade e que aquilo era uma herança, que levariam até os dias da velhice.

Esse sentimento inundava o meu espírito de paz e esperança. Jamais poderia pensar que o caminhar dos anos trouxesse consigo mudanças tão importantes.

Parece que a juventude não conhece o segredo para a transmutação e quando a idade avança, somos pegos por uma realidade surpreendente, às vezes desalentadora. A Ordem que servimos por décadas a fio, dispendendo os maiores esforços, nos abandonara na idade senil. Justamente quando estamos mais carentes e fragilizados.

Na America do Norte, os maçons idosos vão para o albergue da Ordem onde vivem em paz e dignamente.

Toco nesse assunto, levando em conta casos de Irmãos que vivem no mais completo abandono maçônico.

Vitimados por uma enfermidade não saem para lugar algum, aprisionados em suas casas.

Essa realidade é bem diferente dos Templos aconchegantes e das amplas festas e Copos D'Água que um dia frequentaram.

Aquela alegria barulhenta e os abraços fraternos deram lugar ao abandono, ao ostracismo involuntário e ao silêncio cósmico que arrasa seu moral.

Se tivessem a mão amiga de um Irmão, poderia ir à Loja, aos almoços e de novo serem felizes.

A maçonaria, pródiga em ajudar os velhinhos dos asilos profanos, vira a cara para seus próprios membros que nem sempre precisam de apoio pecuniário, apenas de uma visita.

A tentativa de levar Irmãos à casa de um enfermo sempre resulta em fracasso, pois ninguém se interessa.

Os Veneráveis Mestres, esses, nunca vão.

O tempo corre célere e a vida escapa pelos dedos como o mercúrio.

Irmãos, ainda há tempo, embora curto, para amar o próximo, pois o Céu não pode esperar.


março 27, 2024

FAZER O QUE ENSINA - Adilson Zotovici



De que vale o conhecimento

Dos pormenores da historia

Sem o devido cumprimento

De promissão peremptória


Por essa forma lamento

Quiçá demonstração notória

De vaidade em detrimento

De humildade inglória


É como jogar ao vento

Sabedoria ilusória

Sem porfia ou talento


Aprender é a trajetória

Ensinar é mandamento

“Fazer o que ensina”...a glória !