abril 17, 2024

A LETRA "G" NA MAÇONARIA - Paul Foster Case. Tradução de S.K.Jerez


Introdução

Paul Foster Case (1884-1954), autor deste tratado, é conhecido por estudantes de ocultismo como uma proeminente autoridade de Tarot, Cabala, Alquimia e assuntos relacionados da Tradição Oculta Ocidental. Suas outras publicações, incluindo a Ordem Rosacruz Verdadeira e Invisível; Tarot, chave para a sabedoria dos tempos; O grande selo dos Estados Unidos, a linguagem mágica; O Livro de Tokens, testemunham a sua profunda visão e sua abordagem maravilhosamente compreensível para esses assuntos.

O presente trabalho deixa claro que seus conhecimentos incluiam um domínio profundo da tradição maçônica. Nele, ele desenvolve a ligação inconfundível que existe entre os graus e rituais maçônicos e a tradição cabalística. Mostra que a Maçonaria não pode ser plenamente apreciada ou compreendida sem o conhecimento da Árvore da Vida cabalística e sua visão sobre a verdadeira natureza do homem e do cosmos. Um dos notáveis conceitos que ele explora é a relação entre a geometria, na qual o edifício e o simbolismo arquitetônico da Maçonaria estão baseados, e a Gematria dos cabalistas, que é um sistema de correspondências numéricas para palavras e frases que revela os significados subjacentes aos números, medidas e proporções geométricas que ocorrem tanto no Antigo como no Novo Testamento.

As contribuições de Paul Case para os estudantes da espiritualidade vai além das obras mencionadas acima. Ele fundou a Builders of  the Adytum[1], uma organização religiosa sem fins lucrativos, que divulga um sistema de formação espiritual com base em suas obras, sob a forma de lições graduais por correspondência. É um sistema que permite aos aspirantes sinceros dos dias de hoje receberem treinamentos que em épocas passadas estavam disponíveis apenas para os poucos que podiam entrar em uma escola de mistério e se retirar, pelo menos temporariamente, da sociedade e das preocupações do mundo exterior.

Um Mestre da Escola Oculta deu a Paul Case a incumbência de preservar, ampliar e atualizar a Sabedoria Antiga que existe desde o início do mundo. Sua notável contribuição é ter-nos deixado um sistema claro e gradual para desenvolvimento espiritual, que nos permite manter totalmente nossas relações e responsabilidades no mundo moderno, enquanto gradativamente nos revela uma visão sobre o que há de mais elevado.

A LETRA G MAÇÔNICA

uma interpretação

É difícil determinar quando a letra G foi introduzida na Maçonaria especulativa como um símbolo. A Enciclopédia da Maçonaria, de Mackey, diz que esta letra não é derivada dos maçons operativos da Idade Média e que não fazia parte das decorações arquitetônicas das antigas catedrais. Se entrou no simbolismo sob a influência dos rosa-cruzes e cabalistas que se juntaram à Ordem durante a última metade do século 17, ou se foi introduzida em algum momento posterior a 1717, quando a primeira Grande Loja foi estabelecida na Apple-Tree Tavern, em Londres, parece impossível determinar.

O significado maçônico da letra G nunca foi esotérico. Tem sido dito ao mundo todo que o símbolo deve o seu destaque ao fato de que “G” é a inicial de geometria. Isto o torna um resumo simbólico de todo o sistema maçônico. O cerne da Maçonaria é uma doutrina esotérica fundada sobre a ciência da geometria e expressa por meio de figuras geométricas e teoremas. Nas antigas constituições maçônicas é expressamente declarado que Maçonaria e geometria são uma coisa só. Também não é segredo algum que a letra G é um símbolo para a Divindade. Acontece que God[2] é o nome, em inglês, do Grande Arquiteto do Universo. Mas isso não quer dizer que, por  G ser a primeira letra de “God“, que esta é a única ligação entre o símbolo e a Divindade.

Vários escritores modernos sobre a Maçonaria parecem pensar assim e até chegaram ao ponto de dizer que acreditam que o simbolismo maçônico foi prejudicado, mais do que ajudado,  pela adoção da letra G.

É de se lamentar “, escreve Mackey, “que a letra G, como símbolo, tenha sido admitida no sistema maçônico. Seu uso, como uma inicial, necessariamente a confina ao idioma inglês dos tempos modernos. Um símbolo requereria dispor das características necessárias, tanto de universalidade quanto de antiguidade.”

“É uma coincidência singular” de acordo com McClenachan “que as letras que compõem o nome em inglês da Divindade sejam as mesmas iniciais em hebraico das palavras sabedoria, força e beleza, as três grandes colunas ou suportes metafóricos da Maçonaria. Quase parecem representar o único motivo capaz de conciliar um maçom com o uso da letra “G” em sua suspensão visível no Oriente da Loja, no lugar da Delta. O incidente parece ser mais do que acidente.”O Irmão McClenachan continua a dizer que a palavra hebraica para a beleza é Gomer,da qual deriva a inicial G; que, na mesma língua,  força é Oz, que em inglês é O, e que o D é a inicial de Dabar, que significa sabedoria. Por isso, ele argumenta, G.O.D. pode ser entendido maçonicamente como sabedoria, força e beleza.

Isso seria interessante, se fosse verdade. A primeira objeção, no entanto, é que na Maçonaria as colunas da Loja são sempre nomeados na seguinte ordem:  sabedoria,  força e beleza. Se os supostos originais hebraicos dessas palavras fossem tomados pelo irmão McClenachan na mesma ordem maçônica invariável, os equivalentes em inglês de suas iniciais significariam não Deus, mas cão! Se a maçonaria fosse responsável por tal peça de simbolismo, mereceria os anátemas atribuidos a ela por alguns prelados.

Na realidade, o substantivo hebraico dabar, não significa sabedoria. Seu verdadeiro significado é palavra, discurso, ordem, matéria de comando, caso, evento. Nem gomer,, quer dizer beleza. É a palavra hebraica para terminar, deixar de ser, ou, em sentido secundário, realizar. Além disso, embora seja verdade que oz,é uma das palavras hebraicas que significam força, não é uma palavra que, na antiga Cabala Hebraica que deixou tantas marcas na terminologia maçônica, seja sempre usada em combinação com sabedoria e beleza. Essa palavra é Geburah,  não oz.

Assim, as três colunas do argumento do irmão McClenachan tornam-se colunas de areia. Nada resta a ele além de sua objeções quanto a letra G, pela qual ele substituiria o delta. Nisso ele está em desacordo com Mackey, que acha que a letra no Oriente deveria ser um yod hebraico.

Nem delta nem yod são mais universais do que G; são apenas um pouco mais antigas. As letras em inglês são as letras do alfabeto romano, e letras romanas são simplesmente letras gregas modificadas, ao passo que o grego e o hebraico são adaptações de um alfabeto de origem semita, provavelmente fenício.

Além disso, o simbolismo principal da letra G se refere à geometria, da qual a letra é a inicial, enquanto o seu homólogo grego, gama, é a inicial do nome grego para a mesma ciência. Nem o yod hebraico nem o delta grego tem qualquer ligação direta com esta ciência, de modo que substituir qualquer um deles pelo G maçônico seria privar o ofício de uma importante referência simbólica para a própria base de seu sistema esotérico de instrução. Mais uma vez, o G é o equivalente em inglês da letra hebraica, Gimel e, em hebraico rabínico, Gimel é a inicial de uma palavra que é uma adaptação hebraica do substantivo grego geometria. Assim, a letra G é realmente a inicial de geometria nas três línguas mais importantes para a Maçonaria. Porque o hebraico do Antigo Testamento, o grego de Euclides, Pitágoras e do Novo Testamento – e o inglês em que todos os rituais maçônicos regulares foram lançados na época do renascimento de 1717 – a partir dos quais todas as instruções maçônicas regulares nas línguas de outras nações têm sido traduzidas – são certamente as línguas através das quais os mistérios do ofício foram transmitidos desde tempos imemoriais.

Quando chegamos à letra G como um símbolo da divindade, há uma plausibilidade superficial para a afirmação de que o yod hebraico seria preferível. Pois é verdade que yod é a primeira letra do tetragrammaton , traduzido como Jeová na Bíblia em inglês. O argumento em favor de yod seria mais convincente se todos os rituais maçônicos concordassem que o G fosse colocado no Oriente porque é a inicial da palavra Deus. Algumas explicações americanas modernas só fazem dizer apenas isso. Mas uma explicação mais antiga, e que nós julgamos melhor, sobre o símbolo, é simplesmente que ele denota a Divindade. Como ele o faz não é explicado, mas esperamos esclarecer isso.

Certamente o yod hebraico, inicial de Javeh,, não é nem mais nem menos exclusivo do que G. O delta grego proposto pelo Irmão McClenachan poderia significar o grego dios, o deus do latim, ou mesmo o inglês deity[3], mas não faria referência a Deus em hebraico.

G, no entanto, é a inicial de God.

Seu equivalente grego é a inicial de Gaia, a mãe terra, a mais velha nascida do Caos, e cujo nome é a raiz do substantivo geometria. Gimel, o correspondente hebraico para G, é a inicial de , gadol, majestade e de, gebur, forte, palavras usadas para designar a divindade ao longo dos escritos sagrados hebraicos. Não existindo nada mais a ser dito sobre isso, parece-nos que estes fatos fariam da letra G um símbolo do Grande Arquiteto suficientemente universal, bem como suficientemente antigo.

Por outro lado, o G, de gamma, seu equivalente grego, não apenas é a inicial de Gaia, a mãe terra, e de geometria, a ciência pela qual seus poderes são medidos, mas tem ainda uma outra alusão maçônica. A forma da letra gamma é G, obviamente, nem mais nem menos do que o esquadro de um pedreiro.

A partir do equivalente hebraico de G, no entanto, iremos descobrir os significados mais importantes deste antigo símbolo. Quando consideramos o significado esotérico de gimel, veremos não só que é a inicial de um termo rabínico emprestado diretamente do substantivo grego geometria, e não só que é a inicial de duas palavras hebraicas freqüentemente aplicadas a Deus, mas também que a letra gimel em si é considerada pelos sábios de Israel como sendo o sinal alfabético da sabedoria sagrada que está assentada sobre a ciência da geometria. Veremos, ainda, que gimel está diretamente ligado com o delta triangular indicado pelo irmão McClenachan e que também está relacionado, de forma oculta, à letra yod preferida pelo irmão Mackey.

Para deixar isso claro, devemos lembrar aos nossos leitores que, ao longo de seus rituais e instruções, a Maçonaria carrega as marcas de ter sido desenvolvida em sua forma atual por pessoas que tinham alguma familiaridade com o sistema hebraico de filosofia oculta conhecido como Cabala. Assim, Mackey nos diz que os nomes das três colunas que sustentam a loja (sabedoria, força e beleza), e a atribuição maçônica da terceira destas colunas ao Segundo Vigilante e a Hiram Abif, provavelmente derivaram da Cabala. Estas colunas, e os seus nomes, foram tirados diretamente de um diagrama cabalístico conhecido como a Árvore da Vida. O diagrama é formado por dez círculos, ligados por vinte e duas linhas. Os círculos representam dez aspectos ou fases da emanação divina, são numerados de 1 a 10, e são chamados sefirotes, ou enumerações. Diz-se que as vinte e duas linhas que ligam estes dez círculos um ao outro representam as letras do alfabeto hebraico e as forças correspondentes a essas letras. A árvore inteira, com seus dez números e vinte e duas letras, representa os trinta e dois caminhos da sabedoria. Os cabalistas a consideram tão importante que a declaram ser a chave para todas as coisas.

Os cabalistas também dizem que esta árvore contém três colunas. A que fica à direita do observador, que consiste nas sefirotes de número 2,4 e 7, é denominada a “coluna da misericórdia”, após a quarta sefirote,, chesed, misericórdia. A coluna do lado esquerdo da árvore é chamada de “coluna da força”, após a quinta sefirote,, geburah, o substantivo hebraico mais frequentemente usado para força. Esta coluna é composta por três sefirotes, de números 3, 5 e 8. A terceira coluna está a meio caminho entre as outras duas e é composta pelas sefirotes números 1, 6, 9 e 10. Os cabalistas a chamam de “coluna da brandura”, porque dizem que é o equilíbrio entre as outras duas.

Estas três colunas cabalísticas são, obviamente, os sustentáculos da loja maçônica. Mas a Maçonaria dá nome à coluna da direita após a sefirote de número 2, e a chama de, chokmah, sabedoria. Para a coluna da esquerda, mantém o nome cabalístico, força. Para a coluna do meio cabalística, que é também a coluna do meio na loja, aplica-se o nome de beleza, retirado do título da sefirote de número 6,, tiphareth, beleza. Tudo isso vai ser melhor compreendido depois que o leitor analisar o diagrama da Árvore da Vida, abaixo.

ARVORE SEPHIROTICA

A Maçonaria também tomou emprestado da Cabala o método de usar letras para representar números e números para representar palavras. Mackey diz que este recurso foi frequentemente utilizado pelos inventores dos graus mais elevados, como aqueles que constam agora do Rito Escocês. Ele poderia ter acrescentado que esta é uma das pistas mais importantes para os verdadeiros segredos dos três primeiros graus, constituintes da Loja Azul, em todos os lugares reconhecida como a base de toda a estrutura maçônica. Nada pode estar mais longe da verdade do que a suposição de que os chamados “altos graus” conferem qualquer segredo essencial que esteja contido nas  Lojas Azuis. Todos os mistérios da maçonaria estão sintetizados em três graus primários. Os “altos graus” são apenas a elaboração e exemplificação do que é comunicado ao Aprendiz, ao Companheiro e ao Mestre Maçom. E o sistema numérico de letras da Cabala é a chave que desvenda este mistério essencial.

O mesmo recurso fornece-nos também a única pista para o real significado de muitas passagens obscuras da Bíblia. Ele resolve os enigmas do Antigo Testamento e elucida os enigmas do Novo. Por isso foi utilizado pelos escritores de ambas as seções da biblioteca de sabedoria que se encontra aberta nos altares maçônicos.

Este recurso entrou em uso entre os hebreus e os gregos, porque, quando a Bíblia foi composta, nenhuma nação conhecia os algarismos arábicos. Assim, eles empregavam as letras de seus alfabetos para representar números. As primeiras nove letras do alfabeto hebraico são os dígitos de 1 a 9, sendo as nove seguintes as dezenas de 10 a 90. As últimas quatro letras representam as centenas de 100 a 400. Para cinco formas especiais, conhecidas como kaph final, mem final, nun final, pe h final e tzaddi final – que são sempre utilizadas quando qualquer destas letras vem no final de uma palavra hebraica – eles atribuiram as centenas de 500 a 900. Os milhares eram indicados escrevendo-se a letra em tamanho maior do que as demais. Os gregos usaram um recurso semelhante, mas como seu alfabeto contém apenas vinte e quatro letras, o número mais alto representado por um único caractere era 800, o que corresponde ao omega. O alfabeto grego moderno também não tem um caractere para o número 6, mas os gregos o indicavam através de um caractere antigo conhecido como digamma, ou duplo gamma, que tinha o valor de 6 porque a própria gamma é 3, de modo que uma gamma dupla seria duas vezes 3, ou 6.

Quando as letras do alfabeto eram usadas para operações aritméticas, muitas vezes deve ter acontecido de alguns números formarem palavras reais, tais como, ab, que é o número 3 em hebraico, e também significa “pai”. Uma vez que isto tenha sido notado, seria perfeitamente natural a adoção de grafias especiais para algumas palavras, se não por outra razão, como uma ajuda para a memória, assim como nós lembramos o número de dias em um mês por meio de um arremedo de rima[4]. Daí, até a adoção de um modo enigmático de escrita, em que o significado real de uma palavra ou frase pode ser descoberto a partir do valor numeral, foi apenas um pequeno passo.

Embora isso possa parecer fantástico para a mente moderna, há provas abundantes de que foi isso o que ocorreu na composição de muitas passagens, tanto no hebraico do Antigo Testamento quanto no grego do Novo. Assim, descobrimos que muitos nomes da Divindade no Antigo Testamento, incluindo o Inefável Nome, Jeová, são múltiplos do número 13. No Novo Testamento e nos escritos cristãos gnósticos, o número 37 ocorre repetidamente como um múltiplo dos nomes e epítetos de Jesus Cristo.

O exemplo mais conhecido do uso do sistema de números-letras é do Apocalipse 13, onde lemos: “E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, se não aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666.”[5]

Nesta passagem, o número 666 é escrito com três caracteres, a letra , chi, para 600, a letra , xi, para 60, e o digamma, , para 6. Na opinião dos melhores estudiosos da Bíblia, diz a Encyclopaedia Britannica, o significado principal deste número, o que quer que ele quisesse dizer além disso, tem a ver com o imperador romano Nero, cujo nome foi escrito no hebraico rabínico desse período como Neron Kaiser,, que soma 666.

Observe que o escritor do Novo Testamento apresenta o número com as palavras : “Aqui há sabedoria”, e diz então: “Aquele que tem entendimento calcule o número…” Evidentemente ele pretendia escrever para ser compreendido por uma classe especial de leitores, para os quais esses cálculos eram familiares.

O nome rabínico para este método de escrita e para a interpretação de uma palavra ou frase das escrituras hebraicas por outra que tem o mesmo valor numeral, é , gematria. Este é o verdadeiro substantivo hebraico mencionado na nossa declaração de que a letra G é a inicial de uma palavra hebraica derivada do substantivo grego geometria.

É assumir demais supor que os rabinos hebreus, quando escolheram o próprio nome deste método secreto de escrever e interpretar as Escrituras, tinham alguma razão definitiva para tomar emprestado a palavra grega geometria, e escrevê-la com letras hebraicas? Não é razoável concluir que, ao selecionar este termo em particular, tinham a intenção de sugerir que muitos dos segredos mais importantes da Sagrada Escritura tem a ver com o número, medida, proporção, peso e outras relações espaciais?

Na Bíblia dos cabalistas, o Zohar, há uma longa passagem explicando o significado de Gênesis 6:8,9, onde lemos: “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Estas são as gerações de Noé.”[6] Não estamos aqui preocupados com os detalhes do comentário cabalístico desta passagem. O que interessa  para o propósito de nossa investigação atual é mostrar que o Zohar faz com que um daqueles que ouvem tal comentário diga para o professor: “A sua exposição é certamente a certa, mas também pode ser deduzida das medidas da arca.” (Grifo nosso)

Isto é o mesmo que dizer que os vários números e medidas mencionados no Antigo Testamento são pistas para um significado oculto. O método cabalístico de encontrar esse significado é transformar os números em palavras e frases. Esta é a “geometria “, cabalística ou gematria, o que nos dá pistas para o significado oculto de muitos detalhes da Maçonaria.

A gematria permitiu que os escritores de ambas as seções da Bíblia escondessem fórmulas geométricas e medidas por meio de palavras e frases ou indicassem palavras pelo que aparenta ser meras medidas. Ambos os recursos foram empregados. A última citação é a chave para o verdadeiro significado da arca de Noé, para o que realmente estava simbolizado pelo tabernáculo de Moisés e pelo templo de Salomão e seus móveis e pertences, para o verdadeiro significado da Santa Oblação e do templo descrito pelo profeta Ezequiel, e muitos outros assuntos.

Como um exemplo disso, considere o Santo dos Santos, onde a arca da aliança era mantida. As descrições indicam que era uma sala cúbica. No tabernáculo ela media dez côvados de comprimento, largura e altura. No templo de Salomão media vinte côvados em cada direção. Portanto, a estrutura hebraica antiga – que assume tanta importância na tradição maçônica, onde se diz que era o ponto de encontro da Loja dos Mestres mítica, composta pelo Rei Salomão, Hiram, rei de Tiro, e Hiram Abif – tinha a forma de um cubo.

Para os hebreus, o sanctum sanctorum era a morada real da Presença Divina ou Shekinah, que repousava sobre o propiciatório da arca da aliança. Como a arca estava colocada no Santo dos Santos, a posição do propiciatório coincidia com o centro oculto da sala cúbica. Assim, o lugar da Divina Presença estava no centro, ou no meio. Isso nos faz lembrar de uma passagem do Sepher Yetzirah, que diz que o lugar de Deus é o centro interior do qual irradiam as seis linhas ilimitadas que estabelecem o espaço, selado com as seis permutações do divino nome Jeová .

Um cubo é um sólido, limitado por seis faces iguais e doze linhas iguais. As linhas formam ângulos retos, horizontais e perpendiculares, e eles se encontram em oito pontos externos. Assim, os números necessários para definir um cubo são 6, 8 e 12, cuja soma é 26, o valor numérico do Nome Inefável Jeová,.

Como santuário de Jeová, o Santo dos Santos era a parte essencial do tabernáculo e do templo de Salomão. Por conta disso, a Bíblia diz, invariavelmente, que o templo foi erguido para o nome de Jeová, isto é, de acordo com o número daquele nome, que é a soma dos valores de duas palavras hebraicas que indicam a qualidade essencial da natureza da Divindade.

Uma dessas palavras é, achad, “um”, que designa a noção fundamental da Divindade enfatizada em todo o Antigo Testamento. A unidade de Deus é a grande contribuição do judaísmo para a filosofia religiosa da humanidade, e até hoje os filhos de Israel usam  achad como um nome divino.

A segunda palavra hebraica que soma 13 éahebah, “Amor”. Podemos muito bem supor que ela estivesse na mente do patrono maçônico, São João, que também era o autor tradicional da Revelação, da qual tiramos a nossa referência ao número da besta. O Evangelho de São João dá evidência interna de que foi escrito por uma pessoa familiarizada com a doutrina helênica do Logos, desenvolvido por Fílon, o Judeu. Esta doutrina tem raízes na filosofia matemática dos pitagóricos e platônicos. Assim, não é desproposital supor que, tendo isso em mente, João tenha escrito “Deus é amor”. Porque, assim como o “amor” e “um” são palavras do mesmo valor, 13, dizer que “Deus é amor” é cabalisticamente equivalente à doutrina fundamental do judaísmo,, Jeová achad, “Deus é um.”

Como exemplo de uso maçônico da gematria, podemos tomar a referência, no grau de Aprendiz, para as substâncias giz, carvão e argila. A Enciclopédia de Mackey, e os monitores[7] oficiais, dão uma explicação mais detalhada destas três substâncias dizendo que significam liberdade, fervor e zelo. Os nomes hebraicos para essas substâncias são,  gheer, pecham, ve-teet. O valor total das palavras é 375, exatamente a numeração de, Shelomoh, a grafia hebraica de Salomão.

Tomada por si só, pode parecer que é apenas uma coincidência interessante. Quando nos lembramos de que Salomão é o padrão maçônico de sabedoria, torna-se mais impressionante. Porque isso tanto significa afirmar que esses três símbolos das qualificações de um Aprendiz são, por assim dizer, as matérias-primas que fazem um Salomão, como são os fundamentos cuja combinação adequada resulta na verdadeira sabedoria.

Este exemplo do uso da gematria em Maçonaria, e suas conseqüências como ajuda para a interpretação do simbolismo, é apenas um dos muitos que poderiam ser citados do trabalho da Loja Azul. Nós o apresentamos apenas para mostrar que a gematria não é, de nenhuma maneira, o malabarismo tolo com números e letras que alguns críticos hostis afirmam que ela seja.

Deve-se admitir que a gematria pode ser, e tem sido, usurpada por fanáticos e trapaceiros. Muitos judeus modernos têm aversão à Cabala e a consideram como um foco de superstição e impostura. Por outro lado, este sistema de números letras foi utilizado na interpretação do Antigo Testamento por rabinos que não eram nem cabalistas nem ocultistas. Os livros dos escritores cristãos também contêm uma série de exemplos de interpretação bíblica do mesmo tipo. E já dissemos que há evidências de que o texto de ambos os Testamentos contêm passagens deliberadamente compostas de forma a esconder os números com palavras ou sugerir palavras por números.

Também há que se destacar que pessoas influentes no desenvolvimento da Maçonaria em sua forma atual estavam familiarizados com a gematria. Olhe-se através das páginas de qualquer boa obra de referência sobre a Maçonaria, e tornar-se-á evidente que, no século XVIII, quando a maioria dos “altos graus” foram compostos e trabalhados, as pessoas que estavam mais interessados ​​na Maçonaria especulativa e seu significado eram homens que acreditavam que na Cabala Hebraica eram encontradas pistas para o significado mais profundo das tradições e do simbolismo do ofício.

Outra razão para acreditar que a “geometria” maçônica poderia incluir o sistema número letra de escrita e interpretação das Escrituras, decorre do fato de que na [antiga especulativa] Maçonaria a Bíblia é chamada de tábua de traçar. Assim Mackey escreve:

“No ritual maçônico, o maçom especulativo é lembrado de que, como o artista operativo ergue seu edifício temporal em conformidade com as normas e projetos previstos na tábua de traçar pelo trabalhador mestre, assim então ele deve erguer o edifício espiritual, cujo material é um padrão que obedece as normas e projetos, preceitos e mandamentos previstos pelo Grande Arquiteto do Universo nos grandes livros da natureza e da revelação que constituem a tábua de traçar espiritual de todo maçom.”

O mesmo escritor diz, ao falar de tábua de traçar do maçom operativo: “O cavalete é uma estrutura para uma mesa – trest, em escocês; a tábua de traçar é uma placa colocada para o caso em que se queira desenhar. Ela não contém nada além de alguns diagramas, geralmente figuras geométricas.” Em suma, a tábua de traçar mostra os planos de um arquiteto. Tais planos são baseados nos princípios da geometria. Para ser capaz de ler os planos e interpretá-los corretamente, é preciso entender a ciência que rege a sua formação. Assim, pelas óbvias implicações da doutrina maçônica, a “geometria ” da Maçonaria especulativa deve ser entendida como sendo uma chave para a compreensão correta das palavras da Bíblia. Isto é precisamente o que os cabalistas querem dizer com gematria, que usaremos para deixar claro o significado esotérico da letra hebraica Guimel, correspondendo ao G.

Letras hebraicas são distintas das de outros alfabetos por terem nomes, a maioria dos quais representam objetos naturais conhecidos. Quando um menino judeu aprende seu alfabeto, ele não memoriza uma série sem sentido de sons convencionais. Ele descobre nisso uma lista de coisas reais. Quando ele diz aleph, beth, gimel, daleth, está recitando as palavras hebraicas para boi, casa, camelo e porta.

Como palavras hebraicas, esses nomes-letra têm valores próprios, distintos dos números representados pelos caracteres individuais. Assim, o nome , guimel, tem o valor de 73, que é a soma dos números de seus três caracteres. O número representado pela letra única para a qual esse nome é dado, é apenas 3. O nome gimel significa ” camelo “. E os léxicos hebraicos nos dizem que é devido a uma semelhança imaginária entre o caracteres um retrato tosco da cabeça e pescoço de um camelo.

Se alguém se pergunta: “Qual é a ideia fundamental trazida à mente pela imagem de um camelo?” não vai demorar muito para concluir que os camelos, para os antigos hebreus, representavam o que os automóveis representam para a mente moderna, ou seja, viagens, jornadas para lugares distantes e assim por diante. Portanto, o camelo é um símbolo que marca o Mestre Maçom pela capacidade de “viajar em países estrangeiros.”

Todo o trabalho do Ofício, de fato, pode ser resumido pela palavra “viagem”, da qual o camelo é um símbolo. Maçons, quando falam de si, dizem que estão em viagem para o Oriente, em busca de luz. Sua busca é, portanto, indicada como sendo uma busca por origens e causas. Já o Ocidente é o lugar do sol ao fim do dia. Assim, representa o fim de um ciclo de trabalho ou manifestação. E, no final de tal ciclo, está o produto do referido ciclo, a coisa ou forma produzida pelo dia de trabalho. Daí que o Ocidente seja a direção que  simboliza as coisas e formas produzidas pelo trabalho do Grande Arquiteto no universo. Viajar do Ocidente para o Oriente é, portanto, passar das formas e aparências para as suas causas ocultas, e, por meio destas causas, voltar à Causa Primeira, ao princípio mestre cuja localização simbólica está no Oriente.

Precisamente o mesmo pensamento é expresso no que instruções maçônicas nos dizem a respeito de geometria. Dizem que, por meio desta ciência, somos capazes de rastrear a natureza através de suas várias sinuosidades até seus mais recônditos recessos. Note-se que isso nos remete a duas imagens: (1) do movimento em direção a um centro interior, (2) de movimento sinuoso, que, se for considerado como a condução de alguém da superfície para o centro, deve ser necessariamente espiral. Deve ter algum significado o fato da letra G ser, na verdade, uma curva tirada de uma espiral, pois a nossa experiência mostra que, quando se está considerando o significado de um símbolo idealizado por homens muito sábios, cada detalhe tem significado. Certamente as instruções maçônicas afirmam isso, pois dizem: “Não há uma observação na Maçonaria que não tenha um significado profundo; busque diligentemente e você vai achar as ilustrações de seus ensinamentos simbólicos quase infinitas.”

Mas voltemos à nossa letra Gimel.

Seu nome vem do verbo gawmal, escrito com os mesmos três caracteres, mas com diferentes pontos de vogal. Este verbo significa: (1) pôr fim ou limite a algo, daí amadurecer, (2 ) dar de acordo com o mérito, recompensar, retribuir, beneficiar. Quem pode deixar de ver a aplicação direta dessas idéias na Maçonaria? O trabalho do Ofício é projetado para trazer o homem de seu grosseiro estado de ignorância para os mais altos limites possíveis de realização humana. É um processo de construção espiritual por meio do qual um homem pode incorporar ao seu caráter qualidades que distinguem um ser humano amadurecido e perfeito.

Quando este processo de amadurecimento é efetivamente realizado, a pessoa é realmente elevada ao grau sublime de Mestre Maçom. Então, torna-se plenamente competente não só para viajar em “países estrangeiros”, mas, também, a palcos diferentes neste processo de vida, e o que eles dramatizam deve ser vivido antes de alguém tornar-se realmente um Mestre Maçom. E note-se bem o fato de que a justa recompensa de acordo com o mérito, o salário do Mestre, recebido por alguém que completou sua jornada do Ocidente para o Oriente, é designado por uma palavra hebraica escrita pelos mesmos caracteres que compõem o nome hebraico da letra G.

O valor de numérico de guimel, o caractere que leva esse nome, é 3. Este é o mais significativo de todos os números venerados pelos maçons. Mackey diz:

“Em todos os Ritos, qualquer que seja o número de graduações sobrepostas, está a base dos três graus simbólicos. Há, em todos os graus, três agentes principais, três colunas, três luzes maiores e três luzes menores, três jóias móveis e três imóveis, três princípios fundamentais, três ferramentas de trabalho de um Companheiro, três ordens de arquitetura principais, três sentidos humanos principais, três Grão-Mestres Antigos. Na verdade, em todo o sistema, o número três é apresentado como um símbolo destacado. Tanto é verdade que todos os outros números místicos dependem dele, porque cada um é um múltiplo de três, seu quadrado, seu cubo ou derivados deles… Mas nada no significado maçônico do ternário é mais interessante do que em sua conexão com o delta sagrado, o símbolo da Divindade.”

Este delta sagrado é o triângulo equilátero, composto por três linhas iguais e três ângulos iguais. Conforme diz o mesmo autor: “Não há símbolo mais importante em seu significado, mais variado em sua aplicação ou mais amplamente difundido em todo o sistema da Maçonaria, do que o triângulo. Além disso, ele é não apenas um símbolo da divindade, mas também de importância fundamental na geometria. A primeira proposição de Euclides, que é venerado como um dos fundadores da Maçonaria, diz respeito à construção de um triângulo equilátero, por meio da intersecção de dois círculos de raio igual…”

O espaço delimitado por esta intersecção é chamado de vesica piscis, e o erudito autor de The Canon[8] mostra que a vesica piscis foi a base de alguns dos segredos geométricos mais importantes dos antigos Maçons Operativos. As proporções subjacentes à arquitetura de todas as maravilhosas catedrais da Idade Média foram provenientes principalmente da vesica piscis e do triângulo equilátero. Além disso, na construção da Árvore da Vida cabalística, como pode ser visto a partir de um exame cuidadoso de suas proporções, a própria primeira proposição de Euclides é empregada. Assim, o diagrama mestre da Cabala, a “Chave Para Todas as Coisas”, tem o mesmo fundamento geométrico do delta, o mais relevante de todos os símbolos maçônicos. E o delta está associado ao místico número 3, e pelo caractere hebraico guimel, que corresponde ao G.

Os três caracteres que compõem a letra-nome guimel são , guimel (3),, mem (40), elamed (30), de modo que o valor da palavra é 73. Esta é também a numeração de, chokmah, sabedoria, título da segunda sefirote da Árvore da Vida, da mesma forma que é o número do verbo gawmal, que se refere aos salários do Mestre Maçom.

Ou seja, para um cabalista, a sabedoria em si é a recompensa ou benefício que constitui o salário de um mestre, uma vez que há identidade entre as palavras gawmal e chokmah. Assim, encontramos o nosso antigo Grão-Mestre, Salomão, dizendo. “Feliz é o homem que encontra a sabedoria e o homem que adquire entendimento. Porque é mercadoria melhor do que a prata, e maior o seu lucro do que o do ouro fino.”

Entre os cabalistas, o Rei Salomão tem a fama de ter sido o maior mestre da sabedoria secreta, ao lado de Moisés. Na Maçonaria, ele representa o poder da concepção, o poder de formar idéias abstratas ou universais, a capacidade de compreender os princípios fundamentais. Este poder é a raiz de toda a verdadeira maestria, em qualquer campo, e é precisamente o que se quer dizer com o substantivo hebraico chokmah.

Os cabalistas associam chokmah com a astronomia, a sétima e mais elevada das artes liberais. Porque eles dizem que chokmah é, masloth, termo que significa literalmente “os altos caminhos das estrelas”, embora muitas vezes seja traduzida como “a esfera do zodíaco.” A astronomia é o pináculo da pirâmide maçônica de instrução. Também não devemos esquecer que a astronomia das antigas escolas de mistério das quais a Maçonaria afirma descender era inseparável da astrologia.

Assim, a sabedoria, no verdadeiro sentido maçônico, está associada ao conhecimento profundo de relações cósmicas que combinam a medição exata dos movimentos dos corpos celestes com o conhecimento, para o homem, do significado das influências que correspondem ao mutante panorama dos céus. Este conhecimento é o fruto amadurecido de eras de experiência humana. Depois de ter ficado por algumas décadas em eclipse quase total, está começando mais uma vez a lançar a sua luz sobre os problemas humanos. A astrologia hoje absorve o interesse de numerosas mentes de primeira classe.

Isto é como deveria ser. Em ambos os seus ramos, a sabedoria das estrelas é o único fundamento adequado para a construção do templo pessoal de Deus ou para se erguer uma estrutura social duradoura.

Chokmah, portanto, é denominada, ab, pai, pelos cabalistas. Porque eles consideram que esta altíssima sabedoria, da qual a astronomia é a expressão mais valiosa, tem em si a força fecundante das generalizações abstratas sublimes, que dão frutos a todas as invenções que marcam o progresso da humanidade. A primeira letra de, ab, é aleph, o touro. É um símbolo de fertilidade e do poder vital de fecundação inerente à sabedoria. A segunda letra é beth, a casa, um símbolo das conseqüências da atividade do poder vital representado por aleph. Beth também significa família e posteridade, como quando dizemos “a casa de York”[9] e também significa tudo o que uma casa implica, por sua ligação com a arquitetura e geometria. Assim, as duas letras de, ab, significam vida () e arte (), no sentido estritamente maçônico.

Mais uma vez,nos leva de volta à letra G, porqueé 1 e  é 2. Assim, é o número 3, simbolizado no alfabeto hebraico pelo caractere, equivalente ao G. E isso não é tudo. Nenhum homem se torna um maçom sem ter manifestado a sua confiança em Deus. Assim, todo o currículo do ensino maçônico pode ser considerado um desenvolvimento desta atitude inicial de confiança. A confiança é a semente da sabedoria, e a semente é realmente una com o fruto, já que ambos são partes de um processo contínuo de desenvolvimento. Assim, vemos que o verbo hebraico chasah, que significa “confiar em” compreende as letras cujos valores são 8, 60 e 5, de modo que sua soma é 73, o número de chokmah, sabedoria, e de Gimel, ou G.

Os leitores maçônicos devem ter notado que os dígitos de 73, 7 e 3, se destacam ao longo dos graus do Ofício. Já mencionamos as muitas repetições de 3. O número 7 é quase tão amplamente difundido quanto o 3 em todo o sistema maçônico. Na Loja Azul seu principal significado é com relação às sete etapas que representam as sete artes e ciências liberais, ou libertadoras. Estes sete passos são os estágios finais de uma ascenção gradual começada por outras três etapas que denotam sabedoria, força e beleza, de modo que o primeiro degrau da escada maçônica simbólica é a sabedoria. A escada, aliás, é em caracol, ou em espiral, ascendente, levando à câmara do meio, onde os trabalhadores recebem seus salários.

Se somarmos os dígitos 3 e 7, seguindo uma prática comum cabalística, a soma é 10. Esse número não é de grande importância na Maçonaria, que deriva a maior parte de seus números místicos do 3. A tradição maçônica, no entanto, chama Pitágoras de “nosso antigo irmão” e no sistema pitagórico o número 10 era venerado como um símbolo da perfeição e consumação de todas as coisas. Assim, o número 10 pode ser tomado como um símbolo da harmonia, que é a força e o apoio de todas as instituições bem ajustadas.

Aqui, é interessante notar que, pela gematria grega, o substantivo αρμονία, harmonia, é o número 272. Este também é o número do substantivo hebraico , ereb, que significa anoitecer, ou final do dia. O mesmo substantivo às vezes designa a direção Oeste. Daí o significado oculto de “harmonia”, pela gematria, estar diretamente ligado com o lugar do Primeiro Vigilante, que é o representante maçônico da harmonia.

Na Cabala o número 10 tem a mesma importância que no sistema de Pitágoras. No Jardim das Romãs, o rabino Moisés Cordovero[10] diz: “O número dez é um número que abrange tudo. Fora dele não existe nenhum outro, motivo pelo qual o que está além de dez retorna novamente às unidades.”. A Árvore da Vida, também, representa os dez aspectos de uma realidade. Por isso, o Sepher Yetzirah diz: “Dez sefirotes a partir do nada, dez e não nove, dez e não onze; compreender com sabedoria e apreender com cuidado… e restituir o Criador ao seu trono. ”

Será que isto significa que há apenas dez possíveis aspectos da Divindade? Não, porque isso seria limitar Deus. Isto significa apenas que, independentemente de quantas palavras diferentes o homem possa adotar para expressar suas noções de uma realidade, sua mente está constituida de modo a poder formular nem mais nem menos do que dez idéias distintas daquela realidade. O limite está na mente humana, e não no Ser Divino. Assim como temos dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés, da mesma forma estamos limitados mentalmente a dez idéias básicas que expressam tudo o que é inteligível sobre a natureza e os poderes do Grande Arquiteto. Essas dez idéias são representadas pelas dez sefirotes.

Fílon, o Judeu, embora não fosse um cabalista, estava familiarizado com muitos dogmas da filosofia pitagórica. Com relação à década, ou ao número 10, ele escreve: “Qualquer pessoa pode admirar racionalmente a década pelo fato de que ela contém em si uma natureza que é, ao mesmo tempo, desprovida de intervalos e capaz de contê-los. E a natureza que não tem nenhuma ligação com intervalos é contemplada em um ponto só; mas aquela que é capaz de conter intervalos é contemplada com três aparências, uma linha, uma superfície e um sólido. Pois o que é delimitado por dois pontos é uma linha; e o que tem duas dimensões ou intervalos é uma superfície, a linha que está sendo ampliada pela adição de largura; e o que tem três intervalos é um sólido, comprimento e largura tomando para si a adição de profundidade. E com estas três naturezas há o conteúdo;  porque elas não geraram intervalos ou dimensões além destas três. E os números de arquétipos que são os modelos destas três são, do ponto, a unidade, da linha, o número dois, das superficies o número três, e do sólido o número quatro, com a combinação dos quais, isto é, de um, dois, três e quatro, completa-se a década”.

Aqui Filon nos diz que 10 é o resumo aritmético de tudo o que pode ser encontrado em qualquer lugar na natureza. Além disso, ele faz sua demonstração por meio da geometria, usando termos que devem ser familiares a todo Maçom.

Assim, o número 10, representando o que cabalistas chamam de essência do número 73, que é o número de , chokmah, sabedoria, de, chasah, confiar, e da letra-nome, Gimel, simboliza a natureza essencial de toda a empreitada maçônica. É, além disso, o número da letra hebraica yod, de modo que podemos dizer que a letra-nome Gimel é apenas um véu para o yod que o irmão Mackey prefere em lugar da letra G.

Yod, além disso, é a letra inicial de, Jeová (mas note-se aqui que no idioma Inglês a primeira sílaba de Jeová é pronunciada exatamente como o som da letra G ao se dizer o alfabeto). Do mesmo modo, a primeira letra do Nome Inefável, yod, é atribuída na Cabala a chokmah, provavelmente porque chokmah também é conhecida como ab, o pai, uma sefirote masculina. Porque é bem compreendido pelos cabalistas que, embora o nome da letra yod signifique mão, a letra é realmente um emblema de que o poder divino da criação à sua própria imagem pertence à Divindade. Assim yod representa o que os gregos chamavam de phallus, o órgão masculino de geração.

Para algumas mentes modernas isto pode parecer indelicado, mas até mesmo uma ligeira familiaridade com os símbolos dos antigos mistérios – dos quais a Maçonaria tem o orgulho de se afirmar descendente – será suficiente para mostrar que os hierofantes daqueles dias não tiveram modéstia. Era patente para eles que toda a natureza afirma o valor e a santidade do poder que o homem degrada quando se permite tornar-se escravo de seus sentidos. Daí Mackey diz:

“O falo, portanto, como símbolo do princípio gerador masculino, foi muito venerado universalmente entre os antigos, inclusive em ritos religiosos, sem a menor referência a qualquer impureza ou aplicação lasciva”.

Nem a instrução prática da loja maçônica está livre de referência à mesma idéia antiga da importância do poder gerador. O avental, que é o emblema distintivo de um Maçom, é usado para esconder essa parte do corpo e é um símbolo de inocência e pureza. O compasso é usado simbolicamente para circunscrever os nossos desejos e manter nossas paixões dentro dos devidos limites. Além disso, as obrigações de um Mestre Maçom não deixam margem a dúvidas quanto ao que se entende por esta circunscrição das emoções.

É importante lembrar que tal obrigação não é imposta aos Aprendizes ou aos Companheiros. Parece óbvio que, quando o significado da Maçonaria era mais bem compreendido do que parece ser agora, essa obrigação não era ministrada até que o irmão que estivesse avançando tivesse tido tempo para digerir e aplicar as lições dos graus anteriores. Ser totalmente auto-controlado é uma marca de maestria e o controle é fruto do treinamento.

Se levarmos em conta o que é dito ao Aprendiz quando lhe é ensinado como usar seu avental e a procurar as referências bíblicas à “argamassa fraca”, nos deparamos com o substantivo hebraico, taphel, derivado de uma raiz que significa “ser viscoso, pegajoso”. Assim, esta palavra é usada em Jó 6,6 para significar “insípido”, em Lamentações 2,14 significando “coisas tolas”, e cinco vezes na profecia de Ezequiel, como na Maçonaria, com o sentido de “argamassa fraca.”

O significado oculto é estabelecida pelo fato de que o número de, taphel, é 510, que também é o número detaneen, traduzida como “serpente” na história em que Moisés lança a sua vara (Êxodo 7,9), e “dragão” em outras partes do Antigo Testamento. Em todo o mundo, a serpente e o dragão são símbolos fálicos representando o impulso subconsciente que a psicologia moderna denomina libido.


No entanto, o mesmo símbolo da serpente é usado também para designar a sabedoria, ou seja, chokmah, o verdadeiro aspecto da Realidade Una, que é representado pela coluna oriental da loja e pelo Venerável. Esta mesma sabedoria é designada pela letra yod e pelo número 10.

Porque a libido, que provoca tanta dificuldade e sofrimento quando está no estado de “argamassa fraca”, é realmente a força motriz da vontade que é mantida sob controle no longo caminho do Ocidente para o Oriente, e que termina no assento do Venerável. Assim, vemos que o Zohar afirma especificamente que o yod é atribuído ao caminho chamado de “A Inteligência da Vontade”.

Que essa força de vontade de yod é algo conectado com a geração fica claro n’O Livro do Mistério Oculto[11], que diz (Seç. 33) que o yod é masculino e refere-se ao caminho da fundação. Este caminho é a nona sefirote da Árvore da Vida. Seu nome é yesod, que significa fundação ou base, à qual estão associados os órgãos reprodutivos do Grande Homem. Mais uma vez, na Seção 42 da mesma obra, a letra yod é chamada de “o símbolo do membro da aliança”, e o membro da aliança é o falo.

Uma falsa-modéstia de avestruz que não permite que algumas pessoas percebam que o que está acontecendo em seus próprios organismos não aflige nossos antigos irmãos. Eles sabiam perfeitamente que o trabalho de aperfeiçoamento do homem natural rude tem muito a ver com o domínio do desejo mais forte de todo ser humano normal. Daí eles excluirem da participação em seus mistérios, assim como a loja maçônica de hoje, aqueles que eram imperfeitos no organismo, ou notoriamente carentes de auto-disciplina.

Aquele que procura atingir as alturas da sabedoria prática deve querer ser um homem com domínio de seus poderes, e grande parte de seu trabalho consiste em aprender a elevar o que a psicologia moderna chama de libido, da morte e dissolução de sua expressão física bruta, para as alturas da sabedoria que traz, àquele que a alcança, a consciência direta da imortalidade.

Em todas as escolas de mistério da antiguidade era comunicado um segredo que afirmava a imortalidade. Não por meras palavras. Nem só por representações dramáticas. Estes deixam a desejar quando avaliam a natureza dos mistérios, pois pressupõem que a explicação dos símbolos e os espetáculos solenes era tudo o que tinham a oferecer. Os ritos de Elêusis e da Samotrácia, como aqueles das escolas dos templos do Egito, eram apenas a preparação para uma experiência, e aquele cuja mente consciente retivesse a memória da experiência, sabia-se imortal.

Os verdadeiros segredos da Maçonaria são os processos por meio dos quais um homem pode se aperfeiçoar e amadurecer sua própria consciência, e purificar e mudar o seu corpo, a fim de que,  como nossos antigos irmãos, tenha contato direto com sua parte imortal. Eles são indicados com detalhes e clareza suficientes nos ritos e símbolos dos graus da Loja de Companheiro.

Não é por acaso que o mais alto dos chamados graus sublimes[12] seja o de Mestre Maçom. Não é por acaso que a lenda deste grau esteja relacionada a uma dissolução e um ressurgimento. Porque as antigas formas pelas quais a força da serpente se expressa devem morrer antes que o homem possa ser elevado para uma nova vida. Também não é sem significado que aquele que morre e é ressuscitado seja conhecido como um “homem de Tiro”, ou um homem da rocha, já que “rocha” é o significado de Tiro, nome da cidade.

A força secreta que é temperada e trazida sob controle é uma força tripla em aspecto. Sua natureza é, portanto, muito bem simbolizada pelos oficiais da loja, porque esta força é realmente tirada por nós diretamente do sol. Tríplice em sua natureza fundamental, ela é elevada através de sete etapas ou estágios que os antigos alquimistas chamavam de sublimação. Esta mesma palavra foi adotada pela psicologia analítica para descrever processos pelos quais as manifestações destrutivas da libido podem ser elevadas e transformadas em expressões benéficas.

Na verdade, as antigas escolas de mistério estavam muito à frente do conhecimento prático e teórico da psicologia moderna. A longa experiência aperfeiçoou suas técnicas, e aquele que tem algum conhecimento em primeira mão de seu procedimento, sabe, sem qualquer dúvida, que ele é o verdadeiro segredo da Maçonaria.

Até isso é sugerido pela letra G, porque no hebraico e no grego, como mostramos, as letras correspondentes a G tem o valor de 3. Mas, em inglês, G é a sétima letra. Assim, ele representa tanto a força tripla quanto as sete etapas de sua sublimação. Por isso, corresponde tanto aos dígitos de 73, significando chokmah, sabedoria desenvolvida a partir da semente da chasah, confiança, e constituindo gawmal, a recompensa, que é o salário do mestre para aqueles que viajam para o Oriente no camelo (Gimel) do esforço sério, como à única letra em Inglês que pode representar tanto 3 quanto 7, e que combina em si os dois números significativos cuja soma é 10, o valor do yod hebraico. Assim, parece-nos ser um símbolo maçônico perfeito.

O que vocês acham, irmãos? Vamos abolir a letra G? Devemos estar entre aqueles que deploram a sua presença na loja como sendo um anacronismo ignorante? Ou devemos despertar, nós mesmos, determinando-nos a exemplificar em nós o poder e a sabedoria para a qual o G é um símbolo tão apropriado?

O objetivo deste breve ensaio foi defender um honorável símbolo contra as calúnias lançadas sobre ele por críticos honestos mas equivocados.

Acreditamos na Maçonaria. Acreditamos que ela tem um grande trabalho a realizar, especialmente nos Estados Unidos. Mas esse trabalho não pode ser feito por pessoas que não vivem a sua Maçonaria, e não pode vivê-la quem realmente não a conhece. Onde você se posiciona?

NOTAS

[1]     Construtores do Adytum (N.T.)

[2]     Deus (N.T.)

[3]     Divindade (N.T.)

[4]     Na realidade, os versos originais, em língua inglesa, não rimam muito. (N.T.)

[5]     Apocalipse 13:16-18, segundo o site http://www.bibliaonline.com.br, que usamos em substituição ao texto da versão original (N.T.)

[6]     Idem. (N.T.)

[7]     Monitor é um tipo de publicação em que os maçons procuram elucidar ou discutir aspectos dos rituais e instruções maçônicas. (N.T.)

[8]     The Canon – An exposition of the pagan mystery perpetuated in the Cabala as the rule of all the arts, de William Stirling, publicado originalmente em Londres, no ano de 1897.(N.T.)

[9]     Acredito que esta seja uma referência à casa real inglesa. (N.T.)

[10]    Rabino espanhol que viveu entre 1522 e 1570. (N.T.)

[11]    Este livro é uma das dezoito partes do Zohar, o Livro do Esplendor, surgido na Espanha, no séc. XIII, e considerado um dos trabalhos mais importantes da Cabala. (N.T.)

[12]    Aqui o autor faz um jogo de palavras com o verbo sublimar. (N.T.)

SIGNIFICADO DE BAPHOMET


Baphomet ou Bafomé é uma síntese de vários conceitos mágico-místicos, mais conhecida por sua relação com os Templários e a Maçonaria. 

Uma das imagens de mais forte presença no universo ocultista de nossa época, por vezes erroneamente interpretada como uma rebuscada representação do diabo católico, recebe o nome de Baphomet. Todavia, apesar de muito ter sido especulado sobre o lendário ídolo dos Templários, pouca informação confiável existe a respeito desta enigmática figura. Daí vêm as inevitáveis questões: o que de fato esta imagem significa e qual a sua origem? Além disso, o que ela hoje representa dentro das Ciências Arcanas? Há algum culto atualmente celebrado cujos fundamentos estejam calcados neste Mistério?

História 

Em 1307 uma série de acusações daria início a cruel perseguição imposta pelo Papa Clemente V (Arcebispo de Bordéus, Beltrão de Got) e pelo Rei de França Felipe IV, mais conhecido como Felipe o Belo, contra a Ordem dos Cavaleiros do Templo, também chamada de Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, ou, simplesmente, Templários. O processo inquisitorial movido contra os Templários foi encerrado em 12 de setembro de 1314, quando da execução do Grão-Mestre da Ordem do Templo, Jacques de Molay, juntamente com outros dois Cavaleiros, todos queimados pelas chamas da Inquisição. 

No longo rol de acusações estavam: a negação de Cristo, recusa de sacramentos, quebra de sigilo dos Capítulos e enriquecimento, apostasia, além de práticas obscenas e sodomia. O conjunto das acusações montaria um quadro claro do que foi denominado de desvirtuação dos princípios do cristianismo, os quais teriam sido substituídos por uma heterodoxia doutrinária de procedência oriental, sobremodo islâmica. 

No entanto, dentre as inúmeras acusações movidas contra os Templários, uma ganharia especial notoriedade, pois indicava adoração a um tipo de ídolo, algo diabólico, entendido como um símbolo místico utilizado pelos acusados em seus supostos nefastos rituais. Na época das acusações, costumava-se dizer que em cerimônias secretas, os Templários veneravam um desconhecido demônio, que aparecia sob a forma de um gato, um crânio ou uma cabeça com três rostos. Na acusação, embora seja feita menção a adoração de uma "cabeça", um "crânio", ou de um "ídolo com três faces", nada é mencionado, especificamente, sobre a denominação Baphomet.

Origens 

De onde, então, teria surgido o termo? Não se sabe com precisão onde surgiu o termo Baphomet. Uma das possíveis origens, entretanto, é atribuída a pesquisa do arqueólogo austríaco Barão Joseph Von Hammer-Pürgstall, um não simpatizante do ideal Templário, que em 1816 escrevera um tratado sobre os alegados mistérios dos Templários e de Baphomet, sugerindo que a expressão proviria da união de dois vocábulos gregos, "Baphe" e "Metis", significando "Batismo de Sabedoria". A partir desta conjectura, Von Hammer especula a respeito da possibilidade da existência de Rituais de Iniciação, onde haveria a admissão, seja aos mistérios seja aos segredos cultuados pela Ordem do Templo. 

O Simbolismo 

Segundo Von Hammer, de acordo com suas descobertas, os ídolos Templários se tratavam de degenerações de ídolos gnósticos valentinianos, sendo que, de todos eles, o mais imponente formava uma estranha figura de um homem velho e barbudo, de solene aspecto faraônico. Um traço bem marcante de todas as figuras era a forte presença de caracteres de hermafroditismo ou androginia, traços que, ainda de acordo com a descrição de Von Hammer, endossariam cabalmente as acusações de perversão movidas pelo clero contra os Templários. Desta descrição aparece outra referência que muito diz sobre o mistério que cerca o nome Baphomet: ela aponta para a imagem de um "homem velho", o qual seria adorado pelos Templários. Este "homem velho" possuía as mesmas características de Priapus, aquele criado "antes que tudo existisse". Contudo, a mesma imagem, por vezes aparecendo com armas cruzadas sobre o peito, sugere proximidade com o Deus egípcio Osíris, havendo até quem afirme ser Osíris o verdadeiro Baphomet dos Templários. 

Seguindo a mesma lógica e pensamento de que o vocábulo Baphomet teria vindo da Grécia Antiga, também existe a hipótese de que sua procedência esteja na conjunção das palavras "Baphe" e "Metros", algo como "Batismo da Mãe". Por sua vez, a partir deste raciocínio, surge uma outra proposição poucas vezes mencionada nos estudos sobre Baphomet, a qual aponta ser "Baphe" e "Metros" uma corruptela de Behemot, um fantástico ser bíblico de origens hebréias. Esta teoria é importante, visto Behemot ser citado (e por vezes traduzido) como uma grande fêmea de Hipopótamo que habitava as águas do rio Nilo, sendo uma das representações da "Grande Mãe", esposa do Deus Seth. 

Na concepção egípcia dos Deuses, a fêmea do Hipopótamo faz uma espécie de contra-parte do Crocodilo (Typhon), da mesma forma pela qual existem os bíblicos Behemot e Leviathan. 

De acordo com o pesquisador Raspe, outra definição que ganha importância, principalmente na abordagem dos cultos que atualmente são rendidos a Baphomet, mostra o suposto ídolo dos Templários como uma fórmula oriunda das doutrinas Gnósticas de Basilides. Neste sentido as palavras anteriormente apresentadas, que originaram o termo Baphomet, seriam "Baphe" e "Metios". Assim, teríamos a expressão "Tintura de Sabedoria", ou o já apresentado "Batismo de Sabedoria", como o significado de Baphomet. 

Considerando que a palavra Baphomet possua raízes árabes, especula-se também que ela seja a corruptela de Abufihamat (ou ainda Bufihimat, como pronunciado na Espanha), expressão moura para "Pai do Entendimento" ou "Cabeça do Conhecimento". Se nos lembrarmos das acusações movidas contra os Templários, de que eles adoravam uma "Cabeça", veremos nesta hipótese algo plausível de ser aceito. Apesar de todas as alusões até aqui feitas, a figura de Baphomet que se tornou mais famosa, servindo de principal referência para os ocultistas atuais, é mesmo aquela cunhada no século 19 pelo Abade Alfonse Louis Constant, mais conhecido pelo nome Eliphas Levi Zahed, ou simplesmente Eliphas Levi. 

De acordo com a descrição do Abade, publicada pela primeira vez em 1854, a imagem de Baphomet, o Bode de Mendes ou ainda o Bode do Sabbath, é feita do seguinte modo: "Figura panteística e mágica do absoluto. O facho colocado entre os dois chifres representa a inteligência equilibrante do ternário; a cabeça de bode, cabeça sintética, que reúne alguns caracteres do cão, do touro e do burro, representa a responsabilidade só da matéria e a expiação, nos corpos, dos pecados corporais. As mãos são humanas para mostrar a santidade do trabalho; fazem o sinal do esoterismo em cima e em baixo, para recomendar o mistério aos iniciados e mostram dois crescentes lunares, um branco que está em cima, o outro preto que está em baixo, para explicar as relações do bem e do mal, da misericórdia e da justiça. A parte baixa do corpo está coberta, imagem dos mistérios da geração universal, expressa somente pelo símbolo do caduceu. 

O ventre do bode é escamado e deve ser colorido em verde; o semicírculo que está em cima deve ser azul; as pernas, que sobem até o peito devem ser de diversas cores. O bode tem peito de mulher e, assim só traz da humanidade os sinais da maternidade e do trabalho, isto é, os sinais redentores. Na sua fronte e em baixo do facho, vemos o signo do microcosmo ou pentagrama de ponta para cima, símbolo da inteligência humana, que colocado assim, em baixo do facho, faz da chama deste uma imagem da revelação divina. 

Este panteus deve ter por assento um cubo, e para estrado quer uma bola só, quer uma bola e um escabelo triangular." Devido à eficiência de sua ideação, Levi propositalmente faz com que se acredite que exatamente essa forma de Baphomet era a presente na celebração dos Antigos Mistérios.

Fonte: conhecendo maçonaria.

CURIOSIDADES MAÇONICAS



1- O Banco Maçônico do Estado de New York nos Estados Unidos, é um importante estabelecimento de crédito e socorros mútuos, destinado especialmente a proteger os Maçons industriais e comerciantes, para o desenvolvimento dos seus negócios. ( A Trolha)

2- Existem no Museu Nacional de Nápolis, um pavimento de mosaico com Nível, Prumo e outros atributos Maçônicos, e que foi descoberto nas escavações de Pompeya, Itália. Pompeya desapareceu em conseqüência de uma erupção do Vesúvio no ano de 79 antes de Cristo. (A Trolha)

3 – A Bandeira Nacional da Venezuela, cujos Presidentes, desde a fundação da República, em 1830 até 1899, sempre eram Maçons, também deve a sua origem a um Maçon. (A trolha)

4 – A Loja de San Juan foi fundada em Boston, cidade dos Estados Unidos, em 30 de julho de 1733 e está funcionando até hoje. (A Trolha)

5 – Na cidade de Tibérias no Estado de Israel, existe a Loja “Genossar n°. 09” e que fica 180 metros abaixo do nível do mar. ( A Trolha)

6 – Você sabia que a maioria dos astronautas eram Maçons? Pois bem, Walter Schira, um dos comandantes da Apolo 7, que pousou na Lua, era nosso Irmão. E foi como Irmão que ele “plantou” no solo da Lua a Bandeira ( Estandarte) da Canaveral Lodge nº. 339 da Caçoa Beach na Flórida. (A Trolha)

7 – Uma Loja de Berlim (Alemanha), teve, em seus primeiros a25 anos de existência, apenas nove Veneráveis e, num espaço de 106 anos somente três Veneráveis, sendo que um deles exerceu o cargo durante 60 anos consecutivos. (A Trolha)

8 – A Bandeira de Cuba, que, ao lado das cores nacionais, mostra uma estrela de cinco pontas dentro de um triângulo, foi idealizada e executada por Narciso Lopes, membro da Loja “Estrela Solitária”. (A Trolha)

9 – Na cidade de La Ororja, na República do Peru, existe a Loja “Andissa n°. 27 e fica numa altitude de 3.600 metros. (A Trolha)

10 – No ano de 1965, dos cem senadores do Congresso dos Estados Unidos da América do Norte, quarenta e oito eram Maçons. (A Trolha)

11 – Nos Estados Unidos da América do Norte, existem 62 Lojas que têm o nome de Hiram, seguidas por 61 Lojas que têm no nome de Washington. O nome são João é usado por 59 Lojas. Cerca de 50 Lojas usam o nome de Franklin e Salomão. Os nomes de Acácia, Eureka e Monte Lafayette é perpetuado por 39 Lojas. (A Trolha)

DE MÃOS DADAS COM OS VERBOS DE LIGAÇÃO - Newton Agrella


Na estrutura gramatical da Língua Portuguesa encontramos aquilo que se classifica como verbos de ligação.

Esta categoria de verbos não indica ação ou movimento.

Sua propriedade é a de designar uma qualidade, um estado ou uma classificação.

A função destes verbos é a de fazer a ligação entre dois termos: o sujeito e suas "características". 

Seguem os principais verbos de ligação : 

ser, estar, permanecer, ficar, tornar-se, continuar, andar, viver e parecer.

Porém, ironicamente, dentre estes verbos, aquele que tem assumido um protagonismo sem igual é justamente o verbo "parecer".

Pois é, este verbo tem se cercado de especiais cuidados e atributos que o acompanham.

Em tempos de eleições, exemplos muito nítidos do emprego do referido verbo se revelam em frases tais como:

"...Não basta ser honesto, precisa antes de tudo *parecer* honesto..."

"...O candidato *parece* sincero..."

"...O mediador do debate *pareceu* inseguro..."

O que se nota neste fugaz cenário semântico, é que o protagonismo do verbo "parecer" se instaura e se destaca antes mesmo de verbos como "ser" ou "estar".

Este fenômeno linguístico tem sido um instrumento para não se comprometer com afirmações inequívocas ou radicais.

Trata-se de um verbo que ocupa um espaço, transitoriamente, sem o receio de deixar rastros.

Pode "parecer" estranho ou conflitante, mas ao utilizar-se deste verbo de ligação as características   que revelam o sujeito, gozam de uma espécie de imunidade ou proteção a contraofensivas que possam vir adiante.

Afinal de contas, tudo o que parece, necessariamente "não é" ou "não está", pois sua existência se sustenta sob uma experiência hipotética.

Parece brincadeira, mas não é, pois a vida vocabular deste verbo possui as propriedades transformadoras de um camaleão, que pode forjar diferentes identidades ao sabor das meras circunstâncias e protocolares conveniências.

Deixemos assim, o convite para que estejamos minimamente cônscios de seu emprego ao conjugá-lo em nossas ações discursivas ou ao emitirmos determinado juízo de valores.

Portanto, leia bem o que está à sua vista e não se deixe levar pela sofismática ideia do "parece mas não é".



abril 16, 2024

OS ALTOS GRAUS - Louis Trebuchet tradução de Antonio Jorge


Originária das Ilhas Britânicas, a Maçonaria de Alto Grau chegou a França antes de meados do século XVIII. Durante um período de duas décadas, desenvolveu-se rapidamente, embora de forma um pouco anárquica.

Os três canais de propagação dos Altos Graus

A Maçonaria é uma sociedade discreta, e nós censuramo-la bastante! O público pouco ou nada sabe sobre o seu funcionamento interno. Uma parte da vida maçónica em particular, importante devido ao seu alcance e significado para aqueles que a praticam, parece ser completamente ignorada, mesmo por alguns maçons. Após os três primeiros graus comuns a toda a Maçonaria, hoje conhecidos como “graus simbólicos”, a progressão maçónica continua através de uma série de graus adicionais.

A história legou-nos vários sistemas destes graus superiores que, além disso, conduzem frequentemente a variações na prática dos três graus simbólicos comuns a todos. As gerações anteriores referiram-se a estes vários sistemas como “ritos”, embora não pretendam ter um carácter particularmente religioso.

Os primeiros vestígios podem ser encontrados apenas oito anos após a criação da primeira Grande Loja, no mesmo ano em que a Grande Loja de Londres confirmou a existência do terceiro grau simbólico. Por outras palavras, a parte submersa, ou “superior”, da Maçonaria não é uma invenção recente. De facto, uma folha de papel impressa em Dublin em 1725, intitulada “All the Institutions of Open Freemasons”, já referia termos e meios de reconhecimento que só seriam usados pelo mais antigo dos Altos Graus irlandeses, o Royal Arch.

No estado atual dos conhecimentos históricos, parece incontestável que as raízes desta parte da Maçonaria se encontram todas nas Ilhas Britânicas. A primeira manifestação é a admissão de vários Mestres Maçons Simbólicos ao grau de Mestres Maçons Escoceses, registada numa acta de 28 de Outubro de 1735 de uma loja em Bath, Somerset. A segunda é o testemunho do coronel irlandês Hugo O’Kelly perante a Inquisição de Lisboa em 1er de Agosto de 1738, revelando a existência de dois graus superiores em termos específicos do Arco Real. Em 1743, este grau foi confirmado em Stirling, na Escócia, e em Youghal, na Irlanda. Finalmente, em 23 de Novembro de 1743, um jornal londrino publicou uma convocatória dirigida aos “Irmãos da Heredom Escocesa, ou a Antiga e Honorável Ordem de Kilwinning”.

A Maçonaria de alto nível chegou a França antes de meados do século XVIII. A sua reação foi favorável e, durante duas décadas, conheceu um desenvolvimento deslumbrante, embora um pouco anárquico. No entanto, desta profusão surge uma estrutura organizada, baseada na comunicação entre três centros de desenvolvimento que serão responsáveis pela formalização dos altos graus na Europa, nas Índias Ocidentais e nos Estados Unidos.

Em 1750, a sublime ordem dos Cavaleiros Escolhidos, cujas origens permanecem, por enquanto, desconhecidas, contava com vinte e um Grão-Mestres provinciais, sobretudo em França, mas também na Suíça, no Piemonte, em Itália, em Hamburgo, em Frankfurt e até nas “Índias Ocidentais Damerique [sic]”. Quanto tempo foi necessário para criar uma tal organização, tendo em conta o ritmo de vida e o tempo necessário para viajar a cavalo ou de barco à vela em meados do século XVIII? Esta ordem esteve muito provavelmente na origem da “Estrita Observância”, um sistema de altos graus alemão codificado em 1752, e, por extensão, do “sistema escocês retificado”, um dos principais ritos da Maçonaria francesa, definitivamente estabelecido pelo Convento dos Gauleses em Lyon, em Novembro de 1778, sob o impulso de Jean-Baptiste Willermoz.

O ponto de convergência parisiense para o desenvolvimento dos Altos Graus foi a Loja Escocesa de Saint-Édouard; foi fundada antes de 1744 e reivindicou ser a casa do último Grão-Mestre Jacobita da Grande Loja de França, Charles Radcliffe de Derwentwater. Alguns pormenores dos graus que distribui mostram uma influência tripla (o Mestre Escocês, a Ordem de Heredom de Kilwinning e parte da lenda transmitida pelo Arco Real).

A casa de Bordéus foi fundada em 8 de Julho de 1745 por Étienne Morin, um comerciante que viajou muito entre França e as Índias Ocidentais. Um estudo dos manuscritos conhecidos confirma que Morin introduziu em França uma versão inglesa, truncada e simplificada, do Arco Real, que lhe tinha sido enviada em 1744 pelo Capitão-General William Mathew, Governador Geral das Ilhas Leeward para a Coroa de Inglaterra e Grão-Mestre Provincial da Grande Loja de Inglaterra em Antígua.

A partir de 1750, estes três canais de difusão dos graus superiores comunicarão entre si, levando à estruturação progressiva, durante a segunda metade do século XVIII, de um conjunto relativamente ordenado de graus superiores. Em 1786, sob o impulso de Roëttiers de Montaleau, o Grande Oriente de França sintetizou-os em quatro ordens, mais uma ordem aberta, que conhecemos hoje como o “Rito Francês”. Esta síntese encontrou forte resistência e, finalmente, um outro rito, comum à França e aos Estados Unidos, encontrou a sua forma definitiva em 1804, em França, sob a autoridade de Auguste de Grasse-Tilly: o “Rito Escocês Antigo e Aceite”.

O título de “escocês” atribuído desde o início a este sistema de altos graus deve-se muito provavelmente ao facto de ter sido introduzido em França por cavalheiros escoceses ou irlandeses que acompanharam o último representante da dinastia escocesa dos Stuarts, Jaime II, no exílio em Saint-Germain-en-Laye.

Sob o Império, a Maçonaria francesa tinha três sistemas ou ritos de alto grau: o sistema escocês retificado, com quatro graus superiores para além dos três graus simbólicos; o rito francês, com quatro ordens mais uma, para além dos três primeiros graus; e o rito escocês antigo e aceite, que se definia em trinta e três graus, incluindo os três graus simbólicos. Estes são ainda hoje os três principais ritos praticados em França.

Após algumas vicissitudes, os sistemas de altos graus baseados numa “tradição egípcia”, importados de Itália no século XIX, reuniram-se em 1881 sob a égide de Giuseppe Garibaldi. Agora chamado “Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraïm”, com os seus noventa e nove graus, este quarto sistema de altos graus completa o quadro atual da Maçonaria francesa.

Um cavalheirismo espiritual baseado no amor e na reflexão interior

Que necessidades satisfazem estes Altos Graus? E para que servem? O gosto demasiado humano por decorações, amuletos e outras bugigangas vem naturalmente à mente. Isto explica certamente o desmoronamento, as cópias parciais e as invenções de graus que marcaram a segunda metade do século XVIII. Em 1776, o Irmão Théodore Tarade, fundador da Loja Saint-Théodore em Paris, a 9 de Maio de 1761, registava o seguinte no seu precioso caderno de notas: “[…] os trinta e nove graus acima enumerados, juntamente com aqueles que os compõem, formam a totalidade dos graus da Maçonaria. Há muitos outros que não posso contar e que darei pessoalmente.

No entanto, a ordenação progressiva e os significados mais profundos e coerentes dados a estes graus pelas gerações sucessivas mostram que outras forças estão a atuar aqui. O Maçom de hoje, para quem a Maçonaria de Alto Grau se tornou uma parte importante da sua reflexão e desenvolvimento pessoal, considera por vezes esta profunda coerência como um “pequeno milagre”.

A primeira das forças em ação na instituição de graus superiores foi a necessidade de canalizar e coordenar a Maçonaria nascente. Vários destes graus superiores foram concebidos desde o início como uma forma de cavalaria responsável pela reconstrução do templo da Maçonaria, que tinha sido destruído pela desordem, pelos excessos e pelas cisões: “A Maçonaria, que foi recebida e estabelecida com tanto esplendor em França, [é] negligenciada e desprezada por falsos irmãos que nunca conheceram a sua finalidade e os seus princípios. […] Cabe-nos, portanto, reconduzir os nossos irmãos infelizmente transviados ao bom caminho”.

O verdadeiro domínio dos irmãos dos graus superiores sobre a Maçonaria francesa desde meados do século XVIII chegou ao fim quando a Grande Loja de França recuperou o controlo dos três primeiros graus em 1766, e o Grande Oriente de France foi formado em 1773.

Outras influências e motivações, já presentes, assumem então o seu lugar, como descreve uma dessas notas em 1763: “De onde vens? Do centro das trevas. Como é que saíste de lá? Pela reflexão e o estudo da natureza. O que é que ganhamos com o conhecimento destas coisas? Tiramos daí o conhecimento do que nós próprios somos, do que a natureza produz, do efeito das suas produções e do ponto de perfeição que ela dá a todas as coisas”.

Assim, nos vários cursos desta Maçonaria de alto grau, há muitas referências tanto aos relatos bíblicos do Antigo Testamento e do Novo Testamento, como às várias investigações dos séculos XVII e XVIII, ao hermetismo, à alquimia, à cabala, à rosa-cruz, etc.

Este exemplo de uma extensão cavalheiresca e espiritual de uma organização comercial não é novo. É curioso constatar a semelhança desta organização com a que prevalecia no mundo árabe-persa do século XII, descrita, entre outros, por Shihaboddîn Omar Sohravardi (1145-1234): uma confraria iniciática de ofícios em três graus, prolongada por uma cavalaria espiritual baseada no amor e no aprofundamento interior.

Aprofundar a experiência dos três primeiros graus

Ainda hoje, esta progressão gradual para os graus superiores é vivida como um aprofundamento da experiência dos três primeiros graus, uma progressão interior para uma visão mais espiritual do mundo e dos outros, mais ou menos religiosa ou dogmática, consoante os ritos maçónicos. Um bom terço dos irmãos e irmãs em França está empenhado neste caminho. Para a maior parte deles, é uma parte essencial das suas vidas. Cada sistema de altos graus, cada “rito”, tem as suas características específicas.

De acordo com Robert Ambelain, que assumiu a direção em 1960, o rito antigo e primitivo de Memphis-Misraïm coloca uma forte ênfase “nos hermetistas, cabalistas e gnósticos, reunidos nas grandes organizações rosa cruzes […]. Então”, pergunta ele, “porque é que alguém quereria impregnar o esoterismo, que pretende ser de facto um universalismo iniciático, de uma atmosfera religiosa particular e absoluta?

O sistema escocês retificado não surgiu por acaso em Lyon, uma cidade religiosa e católica. A regra maçónica para o uso das lojas reunidas e retificadas, adoptada no Convento Geral de Wilhelmsbad em 1782, estipula: “Prostra-te perante o Verbo Encarnado e bendiz a Providência que te fez nascer entre os cristãos. Professai em todos os lugares a divina religião de Cristo, e nunca vos envergonheis de pertencer a ela.

Os irmãos e irmãs que praticam as “Ordens da Sabedoria” do rito francês designam-se por vezes como “os Cistercienses do Escossismo”, devido ao carácter sóbrio, sintético e reduzido ao essencial pretendido desde o início por Roëttiers de Montaleau. Eles descrevem o seu rito como “um caminho de espiritualidade iluminado pelo Iluminismo”.

Finalmente, o Rito Escocês Antigo e Aceite especificou o seu caminho nas reuniões de Gand em 1998 e Atenas em 2001: “A iniciação é uma busca espiritual baseada na proclamação do Rito da existência de um princípio, conhecido como o Princípio Superior ou Criativo, conhecido como o Grande Arquiteto do Universo. A busca da verdade não pode estar sujeita a quaisquer limites ou constrangimentos dogmáticos, o que implica o direito e o dever de cada membro do rito de interpretar o conceito do Grande Arquiteto do Universo e os símbolos de acordo com a sua própria consciência”.

A Maçonaria, essa desconhecida, revela nas suas altas fileiras não só uma diversidade insuspeitada, mas também uma busca espiritual que os nossos concidadãos ainda menos imaginam!

Fonte: https://essentiels.bnf.fr/

AMOR FRATERNAL - Rui Bandeira


A divisa utilizada pela maçonaria de língua inglesa (Brotherly Love – Relief – Truth; Amor Fraternal – Auxílio – Verdade) elenca as características indispensáveis à Instituição Maçónica.

O primeiro termo dessa divisa é o Amor Fraternal. Daí a corrente referência a que a Maçonaria é uma Fraternidade. Os maçons consideram-se unidos entre si por laços afetivos similares aos que se tecem entre os irmãos de sangue.

O amor fraternal de alguma forma tem características distintas dos outros tipos de afeição, incluindo uma natural componente de emulação entre irmãos que, bem vistas as coisas, é essencial para o desenvolvimento dos jovens seres e consolidação da espécie.

Os fortes laços afetivos entre irmãos coexistem com brigas, desacordos, marcações de território e de posições. O irmão mais velho tem que aprender a partilhar com o mais novo a atenção, cuidados, carinho e amor dos pais. Onde antes era rei e senhor vê depois um imberbe e indefeso ser, com a sua simples presença, a intrometer-se no seu espaço e – pior! – a usurpar a maior parte da atenção e cuidados que antes eram só seus. No entanto, essa constatação e a aprendizagem a ela inerente não impedem o nascimento e desenvolvimento do laço afetivo fraternal. E, a seu tempo, o irmão mais velho assegura a função de desbravador dos caminhos do mais novo e transmissor das experiências e descobertas por si vividas.

Por sua vez, o irmão mais novo cresce lutando para se igualar ao mais velho, para ser capaz de fazer o que ele faz, de conseguir o que ele consegue. Menos alto, menos forte, menos ágil, porque mais novo, procura compensar a sua inferioridade determinando nichos onde consegue ser melhor ou ter mais habilidade que o seu parceiro/adversário, o seu irmão.

A relação afetiva fraterna inclui uma mescla de cooperação, auxílio e cumplicidade com confronto e desafio. É assim que a Natureza propicia que os jovens seres simultaneamente criem as suas identidades e aprendam a viver e a cooperar em sociedade.

A relação afetiva fraterna, precisamente pela sua componente de emulação, é muito produtiva e eficiente no crescimento e aperfeiçoamento de todos os intervenientes. A emulação presente nessa relação afetiva faz com que cada um dos intervenientes queira ser melhor, enquanto simultaneamente auxilia o outro também a melhorar. A competição na cooperação propicia o avanço.

Quando um maçom trata um outro maçom por Irmão também se mostra presente essa componente da ligação afetiva fraternal. Ambos se auxiliam mutuamente a melhorar. Cada um procura ser melhor. E, ao sê-lo, constitui exemplo para que os demais também o procurem ser, em sucessivo e permanente ciclo de motivação.

O amor fraternal entre os maçons não é só – diria que nem sequer é principalmente – um conceito de origem religiosa, no sentido de que todos somos criados por uma entidade superior. O amor fraternal dos maçons – tal como o que une os irmãos de sangue – é tecido de amizade, de cooperação, de auxílio mútuo, de cumplicidade, mas também de emulação, cada um procurando mostrar aos demais a sua evolução, o que aprendeu, o que conseguiu melhorar, ao mesmo tempo que contribui para a melhoria dos demais. E cada um progride mais em conjunto e por causa do conjunto. E cada um aprende que, quanto mais contribuir para o progresso de seu Irmão, mais ele próprio avançará.

COLUNA DA HARMONIA - Antonio Rocha Fadista


Esta é a única Coluna de uma Loja Maçónica constituída por um só Irmão, o Mestre de Harmonia. No passado, a Coluna da Harmonia era composta pelo conjunto dos Irmãos músicos que contribuíam para o brilhantismo dos rituais e dos festejos maçónicos. Com o avanço tecnológico, os músicos foram substituídos pelos aparelhos electrónicos, operados pelo Mestre de Harmonia.

No seu sentido mais amplo, a Harmonia é a ciência da combinação dos sons, formando os acordes musicais. A palavra grega MOUSIKE significa não apenas música, mas também todas as formas de expressão que tenham por finalidade a criação da Beleza.

Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Na sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos.

A aprendizagem empírica, revelada através dos sentidos, pode ser conseguida não só pela contemplação das belas formas e da beleza das figuras que nos rodeiam, mas também pela audição de ritmos e de melodias que acalmam os ímpetos e as paixões. Deste modo, angústia, anseios frustrados, agressões verbais, stress mental, podem ser eliminados pela audição de músicas suaves e agradáveis.

Numa reunião maçônica deve-se tocar a música que melhor traduza os sentimentos dos Irmãos em cada momento do ritual.

Muitos compositores, nossos Irmãos, produziram belas músicas que merecem – e devem – ser ouvidas nos nossos Templos. Entre esta plêiade, podemos citar: Mozart, Beethoven, Haendel, Sibelius, Franz Lizt, John Philipp Souza (de ascendência portuguesa), Luigi Cherubini, Antonio Salieri, Carlos Gomes (brasileiro), etc.

As primeiras composições maçónicas datam de 1723 e foram publicadas junto com a primeira Constituição de Grande Loja de Londres; São elas:

A Canção dos Aprendizes – Matthew Birkhead

A Canção dos Companheiros – Charles Delafaye

A Canção do Vigilante – James Anderson

A Canção do Mestre – James Anderson

Esta última, publicada em 1738 juntamente com a segunda edição das Constituições de Anderson.

No Brasil, foram compostas as seguintes obras:

Hymno do REAA – M. A . Silveira Neto e Jerónimo Pires Missel

Hino Maçons Avante – Jorge Buarque Lira e Mário Vicente Lima

Hino Maçónico – D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal)

Canto Ritualístico Maçónico – Francisco Sabetta e José Bento Abatayguara

Hino Maçónico para Abertura e Fechamento dos Trabalhos – Otaviano Bastos

A Acácia Amarela – Luiz Gonzaga (o rei do baião)

Além destas, existem também composições maçónicas para os Rituais de Iniciação, de Elevação e de Exaltação, de Reconhecimento Conjugal e de Pompas Fúnebres.

Tendo em vista o carácter universalista da nossa Ordem, o Mestre de Harmonia não deve programar a execução de música religiosa de nenhum tipo. Deste modo será evitado o constrangimento que um Irmão não católico poderá sentir ao ouvir, por exemplo, a Ave Maria de Gounod. Solos de música cantada também devem ser evitados. A música coral, como por exemplo o Hino Maçónico de D. Pedro I ou a Ode à Alegria, de Beethoven, poderá ser programada sem problemas, mas, na maioria das vezes, a música mais indicada é sempre a instrumental.

O Mestre de Harmonia previamente preparará o programa a ser executado, de acordo com o tipo de reunião e de acordo com o Ritual. Numa Iniciação, no Rito Escocês Antigo e Aceito, podem ser destacados os seguintes momentos especiais, para os quais será programada uma música específica, que listamos a título de exemplo:

Entrada dos Candidatos – “A Criação” de Haydn – trechos que descrevem a passagem do Mundo do Caos para a Ordem e das Trevas para a Luz (Ordo ab Chao)

Oração ao GADU – “Cravo Bem Temperado” – Bach – Melodia que convida à concentração e à meditação

Taça Sagrada – “A Criação” – Trechos da abertura do Oratório que simbolizam a purificação e a ilusão profana

A Primeira Viagem – “Tempestade e Chuva” – Efeitos sonoros com ruídos de chuva, ventania e trovões. Colecção Action! Câmera! Music! Gravação do Reader’s Digest – Distribuição da Borges & Damasceno

A Segunda Viagem – “A Vitória de Wellington” – Beethoven – Adequada para acompanhar o toque “descompassado das espadas”.

Purificação Pela Água – “Música Aquática” – Haendel – música cujos efeitos sonoros acentuam o significado do evento

Terceira Viagem – “Romance Para Violino nº 2” – Beethoven – Melodia que transmite a suavidade emocional do evento.

Purificação pelo Fogo – “As Valquírias – Wagner – Cena do Fogo Mágico que reforça o sentido dramático do ritual.

Tronco de Beneficência – “Pannis Angelicus” – Cesar Frank – marca o profundo significado da solidariedade.

Juramento – “Prelúdio nº 1 em dó maior do Cravo Bem Temperado” – Bach – adequada para a meditação e que marca a solenidade do momento ritual.

LUZ – “Assim Falou Zaratustra” – Strauss – Parte inicial do poema sinfónico que descreve o nascer do sol e o sentimento do poder de Deus sobre o homem. Aumenta o deslumbramento do momento culminante da Iniciação

Abraço do Venerável – “Marcha Festiva” – Grieg – (Suite Sigurd Jorsalfar – Opus 56 ).

Entrada dos Neófitos – “Glória aos Iniciados” (Coro final da Ópera a Flauta Mágica, de Mozart) – Coro de Graças a Ísis e Osíris, e de congratulações aos Iniciados, que pela sua coragem conquistaram o direito à Beleza e à Sabedoria

Proclamações – “Ode à Alegria” – Beethoven – Excerto Orquestral da Nona Sinfonia – deve ser tocada após cada uma das Proclamações. É um hino que traduz a alegria dos Irmãos ao receber os recém Iniciados.

Uma Sessão Económica, por exemplo, não pode prescindir de dois ou três bons programas para a Harmonia, previamente programados. Isto permitirá variar as músicas executadas, evitando a monotonia da repetição.

A escolha de uma música para uma reunião maçónica exige do Mestre de Harmonia um mínimo de cultura musical, além da necessária sensibilidade para interpretar o significado de cada passagem do Ritual. Repetimos, a música deve estar em perfeita sintonia com cada momento da ritualística, induzindo nos Irmãos presentes a purificação das suas mentes, deixando-os tranquilos e predispostos à emissão de sentimentos de amor e de fraternidade.

A música promove a exaltação das faculdades intelectuais e espirituais do ser humano. Ela atinge e aperfeiçoa a sensibilidade dos Irmãos, permitindo que eles vibrem em sintonia com os acordes da Harmonia Universal cujas leis tudo governam, e pelas quais a Maçonaria busca o aprimoramento moral e espiritual da Humanidade.



abril 15, 2024

SIMBOLISMO INICIÁTICO - João Anatalino Rodrigues

A Maçonaria é essencialmente um exercício espiritual. Destina-se a moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano, a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade.

Não há um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por esta razão os seus fundamentos estão assentes em símbolos, lendas e alegorias, e a sua aprendizagem dá-se através do método iniciático, o que exige do seu praticante um espírito aberto e antidogmático, capaz de trabalhar nos territórios da matéria e do espírito com igual desenvoltura.

Método iniciático, ou psicológico, é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, os ensinamentos maçônicos não seguem a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria da praxe em qualquer forma de aprendizagem. O aprendiz Maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo “impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.

A Maçonaria é aprendida através de símbolos e alegorias que transmitem verdades morais e iniciáticas. Por isso, encontraremos nos rituais de todos os graus uma alusão a símbolos e lendas, de alguma forma conectados com os ensinamentos que se deseja transmitir.

A mitologia é a forma mais antiga que o pensamento humano encontrou para integrar os conteúdos do inconsciente coletivo da humanidade com os factos com os quais era confrontada. Não podendo explicar a origem de um relâmpago, nem a sua força destruidora, por exemplo, imaginou-se ser o mesmo um atributo dos deuses no exercício da sua cólera contra os homens. Não concebendo a forma pela qual o conhecimento aflora dentro da mente, criou-se a imagem de um herói roubando o fogo dos deuses e dando-o, de presente aos homens.

Esta é uma referência à mitologia grega do raio de Zeus e ao mito de Prometeu, que roubou o fogo sagrado e o entregou ao homem, dando origem ao conhecimento humano. 

Por se tratar de uma Arte destinada à construção do carácter humano, a Maçonaria adotou como base da sua filosofia e como suporte do seu simbolismo os fundamentos e as ferramentas da ciência contida na arte de construir, ou seja, a Arquitetura. Daí o porquê de a grande maioria dos símbolos, alegorias, lendas, analogias e arquétipos presentes na Arte Real estarem todos ligados à ideia da construção ou da reconstrução, física ou espiritual, do edifício moral da humanidade.

Evidentemente, há, nesta questão, um fundamento histórico inegável que não se pode ignorar. Pelo fato de a Maçonaria estar umbilicalmente ligada aos antigos construtores medievais (pedreiros livres, como se chamavam esses profissionais), é claro que boa parte da sua simbologia provém desse fato. Mas hoje, sendo a Maçonaria essencialmente especulativa, isto é, análoga a uma escola de filosofia, com características de entidade filantrópica e associação corporativa, não há mais que se falar na simbologia dos antigos pedreiros em termos operativos, mas apenas como alegorias de fundo espiritual.

A Arquitetura de que se fala na Maçonaria refere-se à construção de uma sociedade justa e fraterna, onde todas as pessoas possam viver em harmonia e união. Neste, como noutros princípios defendidos pela Irmandade, ela não se afasta da proposta esotérica contida em todas as religiões, que prometem um estado interior de bem estar a ser experimentado ao nível do espírito.

E também integra uma esperança de carácter profano, buscada por todas as experiências políticas já tentadas pelo homem na tarefa de organização das suas sociedades, que é a de proporcionar bem estar e justiça para todos. Em ambos os casos, a analogia com a arte da Arquitetura é bastante adequada, pois trata-se sempre de formatar um mundo ideal. Daí ser a Maçonaria ser chamada de Arte Real e o Maçom de pedreiro moral. Em tudo isto se releva a arte de construir.

O AVENTAL DE APRENDIZ MACOM - Jose Tavares de Mello Neto



Uma das vestimentas mais importantes do maçom. Seu uso é obrigatório para que um maçom possa participar de trabalho em Loja (antigamente era feito de pele de cabra), de cor branca (símbolo da inocência), e deve ser usado com a aba levantada, no grau de aprendiz; Por não saber trabalhar, deve assim usá-lo para proteger-se ao burilar a pedra bruta. 

Uma vez trajando o seu avental, o Aprendiz não é mais aquela pessoa de antes. Tem agora gestos solenes, postura serena porém disciplinada, e suas palavras, estando à ordem devem ser calmas e cuidadosamente pronunciadas ao defender suas idéias e posicionamentos. A decoração do Avental varia de acordo com o grau.

O avental de Aprendiz Maçom, é o nosso primeiro distintivo recebido em loja, conforme o ritual do grau 1 – Aprendiz Maçom pág. 112, “(Quando e V∴M∴ entregando o Avental ao M∴ de CCer∴ e dizendo). – “Ir∴M∴ de CCer∴, revesti o nosso Ir∴ com o avental ...; E pág 88 do Instrucional Maçônico Grau de Aprendiz, referente a 15ª Instrução, onde esta escrito que “o avental é a insígnia distintiva do Franco-Maçom. É o símbolo do seu amor ao trabalho e de dedicação na busca”.

O Avental e a Espada Flamigera e o par de luvas estão intimamente ligados, como veremos a seguir: A espada Flamigera é o emblema do Magistério (do V∴M∴), A Luva da Pureza e da Honestidade e o Avental do Trabalho, que caracteriza todo maçom, são três símbolos que merecem toda a nossa consideração.

Encontramos tanto a Espada flamejante quanto o Avental no livro do Gênesis Capitulo 3, nos versículos 21 e 24, aonde esta escrito que o Grande Arquiteto do Universo fez túnicas de pele para Adão e sua mulher e os vestiu. Depois de ter expulsado o homem do Jardim do Éden "para que trabalhasse a terra", e colocou no Oriente do mesmo Jardim do Éden uns querubins, que mostravam uma espada flamigera, "para custodiar o Caminho da Árvore da Vida".

O avental que recebe, e com o qual se reveste todo maçom, é um emblema do próprio corpo físico com o qual trabalhamos sobre a terra, com o objetivo de adquirir aquelas experiências que nos transformarão em artistas verdadeiros e acabarão por dar-nos o magistério ou domínio completo sobre nosso mundo.

Da mesma forma, (a espada flamigera que se encontra com os querubins, anjos ou Mensageiros do Divino no homem) no Oriente, ou origem do Mundo Mental ou interior da consciência, é um símbolo manifesto do Poder Divino, "que é poder criador" latente em todo ser humano, e que é privilégio do Magistério (V∴M∴) realizar, ou recuperar, manifestando assim as mais elevadas possibilidades da vida, cujo Caminho abre e custodia.

Após um longo tempo de reflexão, de ter feito as três viagens e prestado o juramento. O neófito é conduzido novamente ao altar diante do qual deve, como antes, postar-se em atitude coerente com a importância do ato que será realizado, deve o Neófito confirmar novamente suas obrigações, após o que o V∴M∴ com a espada flamigera apoiada sobre a cabeça aquele, pronuncia a fórmula da consagração, acompanhada pelos golpes misteriosos do grau. Isto feito, faz com que se levante e abraça-o, dando- lhe pela primeira vez o título de irmão, dizendo ao cingir-lhe o avental:

"Recebe este avental, distintivo do Maçom, mais honroso que todas as Condecorações humanas, porque simboliza o trabalho, que é o primeiro dever do homem e a fonte de todos os bens, ele que dá o direito de sentar- vos entre nós, e sem o qual nunca deveis estar em Loja".

Ao adquirir o direito de usar o Avental em loja o neófito passa a fazer parte da família maçônica, É A CONSAGRAÇÃO.

É evidente que a túnica (Avental) aqui mencionada, simbolizam o corpo físico do homem, do qual se reveste a consciência individualizada (Adão) e seu reflexo pessoal (sua mulher) ao serem enviados do estado de beatitude edênica (o mundo mental ou interior), sobre a terra (ou realidade objetiva) para trabalhá-la, ou nela expressar suas qualidades divinas.

O avental é um legado que a maçonaria moderna recebeu da maçonaria operativa. Esta peça, que foi de tanta utilidade para o Maçom operativo, já que lhe protegia a roupa, transformou-se para o maçom moderno numa alfaia simbolizando o trabalho do Maçom.

Até a sua regulamentação pela Grande Loja Unida da Inglaterra, os aventais da maçonaria inglesa assumiram os mais variados aspectos e formas. Simples peles desalinhadas de cordeiro, no princípio, os aventais sofreram uma evolução constante nos países que adotaram a instituição maçônica.

Em fins do século XVIII era grande moda enfeitar os aventais com pinturas e bordados à mão que reproduziam a riqueza emblemática da maçonaria.

A percepção deste avental, ou túnica de pele, como simples traje ou envoltório exterior, assim como da essência de nosso próprio ser, é conseqüência da visão espiritual que conseguimos através da busca da Luz, desde o Ocidente dos sentidos ao Oriente da Realidade. Mas isto não deve conduzir-nos a desprezá-lo, por ser parte integrante e necessária à perfeita manifestação do homem na vida terrestre, mediante a qual deverá ir depurando-se, escalando graus em prol de uma existência divina.

O AVENTAL DE APRENDIZ MAÇOM, COM SUA ABA LEVANTADA SERVE SIMBOLICAMENTE, PARA NOS PROTEGER DAS LASCAS DA PEDRA BRUTA, DO NOSSO PRÓPRIO SER, SENDO ADORNADA.

BIBLIOGRAFIA

Trabalhos pesquisados na internet no site do GOB-Brasil Dicionário Maçônico, Madras Editora Ltda 2.001

Dicionário Maçônico, FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Editora Pensante, 33a ed.

Simbolismo do 1o Grau “Aprendiz” - CANINO, Rizzardo da, Madras Editora Ltda.

Simbologia Maçônica dos painéis, Aprendiz, Companheiro e Mestre - CRUZ, Almir Sant ́anna, Ed. Maçônica “A TROLHA” Ltda 1a ed.  

O Aprendiz maçom Instrucional.

A JUSTIÇA SOB A ÓTICA MAÇÔNICA



Justiça é um termo muito presente na Maçonaria, principalmente porque está diretamente ligada a um personagem presente nas lendas maçônicas, Rei Salomão, tido como o rei mais sábio e justo de todos.

Mas a justiça não é algo natural, não é um elemento da natureza, encontrado em todos os lugares. A justiça é algo alcançado, conquistado.

E assim como para se fazer a Luz havia antes a Escuridão, ou não haveria necessidade da Luz ser feita, para se fazer Justiça deve haver antes a Injustiça, ou não haverá a necessidade de Justiça.

Entendendo a ligação entre Injustiça e Justiça como início e fim, ação e reação, causa e efeito, percebe-se a necessidade de um “fio condutor”, de um “combustível” que promova tal mudança. E, nesse caso, é a Compaixão.

É muito fácil compreender o papel fundamental da Compaixão. Afinal de contas, mesmo num mundo inundado de Injustiças, se não houvesse Compaixão, por que alguém desejaria e buscaria promover a Justiça para outros?

Faltaria o tal fio condutor, o combustível. Compaixão é exatamente aquele sentimento benévolo que domina o homem ao presenciar uma infelicidade ou mal alheio.

Nós sentimos compaixão quando vemos alguém sofrendo uma injustiça. Ou quando assistimos pessoas passando fome e outras necessidades, não por opção, mas pela falta de opção, pela injustiça socioeconômica.

O maçom deve ter os olhos abertos para os males da sociedade. Ele não pode fechar os olhos para o sofrimento do próximo, pois o compromisso do maçom é buscar a felicidade da humanidade. O maçom é um homem de atitude, que procura construir templos às virtudes e cavar masmorras aos vícios. Ele busca trabalhar de forma Justa e Perfeita. E a compaixão nada mais é do que um sentimento de quem se incomoda com a infelicidade alheia, pois deseja a felicidade da humanidade.

Nada mais é do que um sentimento de quem se irrita com as injustiças, pois tem um compromisso com o que é justo. Enfim, a Compaixão é um sentimento próprio do Maçom, que faz parte do seu ser enquanto houver injustiças no mundo. É o seu combustível, o mobiliza para seu objetivo como Maçom.

E quais são os caminhos que essa Compaixão nos leva, em direção à Justiça? Podemos crer que, dentre tantos caminhos, o principal talvez seja a Caridade. Como um dos três pilares da Escada de Jacó, a Caridade pode ser interpretada como a ação de um homem livre e de bons costumes quando sente compaixão perante o sofrimento do próximo. Ele tenta reduzir as injustiças com as quais se depara através de um ato de amor. Não há caminho melhor.

A compaixão é sentimento típico daqueles puros de coração, daqueles que amam ao próximo e não fecham seus olhos. E a caridade nada mais é do que a prática desse amor. A caridade é a reação, o efeito da Compaixão.

A busca pela Justiça é um trabalho diário de auto-desenvolvimento. E esse aperfeiçoamento pessoal não tem valor se não é voltado ao bem do próximo e da humanidade. Albert Pike bem registrou que “O que fazemos por nós mesmos morre conosco. O que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece e é imortal“.

Vê-se que a Compaixão é parte fundamental em todo o processo de evolução maçônica, porque um maçom nunca se faz de cego perante uma injustiça, ele a sente como se fosse a si mesmo.

E se a evolução se alcança pelo amor ou pela dor, a compaixão está diretamente ligada a ambos. E o maçom, como construtor social, não se restringe a sentir a compaixão, ele age a partir dela.

Fonte: No Esquadro.