Nota do autor: Aqui está um divertido jogo “E se? …” que eu escrevi há alguns anos atrás. Foi publicado pela primeira vez na The Working Tools Magazine, em novembro de 2013 e, posteriormente, na Knight Templar Magazine. Eu escrevi-o como uma hipótese baseada nas obras de estudiosos bíblicos evangélicos e no uso de argumentos aristotélicos (se isto, então aquilo). Espero que goste.
Quem foi o “Filho da Viúva”? A resposta pode parecer de fácil resposta, mas quando se lê lendas, escrituras, os apócrifos e outros documentos históricos, torna-se evidente que talvez não possamos responder a esta pergunta tão facilmente.
Nos escritos dos eruditos maçónicos, aprendemos sobre Hiram Abiff, “O Filho da Viúva”. Há outros nos vários textos mencionados acima, referidos como “O Filho da Viúva”. Parece que este é um título para o qual mais de um pode ser nomeado. O uso do título remonta às tradições do Graal, que falam de uma linhagem de sangue descendente e, especificamente, referenciam Ruth.
Ruth, uma mulher da tribo moabita, era casada com Boaz e era uma heroína do Antigo Testamento. Ela foi também a bisavó do rei David – o pai do rei Salomão, que construiu o templo. Ruth ficou grávida e casou-se com Boaz. Ele era bem mais velho, com 80 anos, enquanto Ruth tinha apenas 40 anos. As escrituras dizem que Boaz morreu no dia seguinte. Deve ter sido uma noite de núpcias…
Deste ponto em diante, todos os descendentes de Ruth eram conhecidos simplesmente como “Filhos da Viúva”. Um título genético, se quiser. Uma genealogia pode ser rastreada. Ruth dá à luz o primeiro “Filho da Viúva”, Obed, que cresce e dá à luz o seu filho Jessé, que leva seu filho David, que dá seus filhos Salomão e Nathan.
Usando a linhagem transmitida nos Evangelhos da Bíblia Cristã, Jesus o Nazareno é um descendente de Ruth, fazendo dele também, um “Filho da Viúva”. Há quarenta e cinco gerações de Ruth a Jesus. Isto deixa um problema interessante para nós como maçons. Em nenhum lugar da linhagem mencionada na Bíblia, há uma referência a Hiram Abiff.
Sabendo isto, parece que o caminho arrefece na busca pelo título de “O Filho da Viúva”, de Hiram Abiff. As lendas do Graal foram escritas de uma forma que se presta a alegoria e, portanto, a história não pode ser apenas suposta de significar que Hiram era literalmente apenas um filho da mulher que perdeu o seu marido. Estas lendas cedo estabelecem este título e o que significa, é que é um descendente de Ruth ou mais apropriadamente um descendente de Boaz, ou a 31ª ou 30ª geração de Adão, se se confiar na genealogia de Lucas.
Poderia Hiram Abiff estar relacionado de alguma forma com o histórico Jesus o Nazareno? Os Evangelhos, novamente, deixem um rasto fraco. Ele simplesmente não é mencionado na genealogia dada por Lucas ou Mateus.
Quando Hiram Abiff é referenciado como sendo um “Filho da Viúva”, está de alguma forma implicando que ele era da linha de Ruth, que era casada com Boaz e deles, de acordo com Lucas, havia uma linha contínua para o rei Davi, o rei Salomão e eventualmente a Jesus o Nazareno. Seria ele um parente distante ou um primo?
O rei Salomão também era um “Filho da Viúva”, no sentido de ser da linhagem de Ruth. É por isso que o rei Salomão convocou um Tyriano que foi escolhido a dedo para ser o arquiteto do templo judaico do Deus de Israel? Poderia Salomão ter contratado Hiram por serem da mesma família?
Fazer o trabalho de detetive na genealogia pode ser bastante taxativo quando se pesquisa a ancestralidade a apenas algumas gerações de distância do pesquisador, uma tarefa que se dificulta muito com o uso de origens bíblicas como referência.
A linhagem de Jacob é vital para esta história. Doze gerações antes da época do rei Salomão e oito gerações antes da época de Boaz, os doze filhos de Jacob foram os fundadores das doze tribos de Israel. O quarto filho de Jacob, Judah, era da linha que incluía o rei sábio e se estendia através dele a Jesus, o Nazareno. O sexto filho, Naphtali, foi o fundador da linha que incluía Hiram Abiff.
É elementar sugerir que na época de Jacob a designação de “Filho da Viúva” ainda não tinha sido usada; no entanto, nos seus descendentes, através do tempo até chegarmos ao tempo de Ruth, e daí em diante, não é tão impensável que a linhagem teria usado este epíteto ao falar da sua herança ou quando os estudiosos estavam a registar a história da época ou até mesmo os Evangelhos.
O que há sobre esta linhagem que atrai o título para ela? Em que foi tão especial? As três maiores religiões monoteístas, judaísmo, cristianismo e islamismo, todas a consideram [a linhagem] com reverência. Afinal, esta linhagem contém Adão, Enoch, Noé, Shem, Abraão, David, Salomão, Nathan, Zorobabel e Jesus, o Nazareno.
Talvez a coincidência que une esta linhagem seja a capacidade de criar. De acordo com Lucas, a linha começa com Elohim (O Grande Arquiteto do Universo) e depois para Adão. A Bíblia Cristã não faz especificamente quaisquer reivindicações magníficas para o que Adão já tinha construído, no entanto vários outros homens nesta linhagem são de facto grandes construtores.
Enoch foi o construtor do templo mitológico subterrâneo, consistindo em nove abóbadas com um altar onde a “Pedra da Criação” e o Tetragrama se dizia que teriam sido escondidos. Estas lendas são caracterizadas nos Ritos de York e Escocês, ou seja, o 7º grau no Rito de York chamado de “The Holy Royal Arch” e o 13º grau da Jurisdição Sul do Rito Escocês, chamado de “Royal Arch of Solomon”. Nos últimos anos, até foi sugerido que Enoch foi o construtor da Grande Pirâmide de Gizé. Dizem que os antigos egípcios conheciam a Grande Pirâmide como “O Pilar de Enoch”.
Uma referência um tanto obscura a isto é encontrada na Bíblia: “Naquele dia haverá um altar ao SENHOR no meio da terra do Egito, e uma coluna no seu limite para o SENHOR. E será um sinal e por testemunha ao SENHOR dos exércitos na terra do Egito…” Isaías 19:19”.
Noé naturalmente construiu a arca mitológica para abrigar todas as criações de Deus que foram poupadas na lenda do grande dilúvio.
Abraão ou Abrão e seu filho Ismael supostamente construíram a Kaaba, um edifício em forma de cubo na Arábia, que é um dos locais mais sagrados para os Irmãos da fé muçulmana.
O rei David construiu uma cidade e o seu palácio e teve filhos, um dos quais era o rei Salomão, que foi o responsável pelo Templo de Salomão, que todos sabemos ser o centro dos ensinamentos da nossa nobre arte. Estes construtores na linha original ou “Linhagem Alfa”, a linha que, de acordo com Lucas, começa com Deus e leva a Jesus, o Nazareno, continuam e prosseguem com realizações fantásticas.
Não nos esqueçamos, contudo, que há a alusão à construção do templo espiritual, um artífice espiritual que Jesus Nazareno parecia personificar e que se esvanece antes; então encontramos o mesmo no personagem que a maçonaria chama de seu patrono, Hiram Abiff. O arquiteto chefe, escolhido a dedo, do Templo de Deus. Um homem para emular o seu dever e fidelidade aos seus irmãos, tanto Hiram de Tiro como o rei Salomão, este é o homem que aprendemos nos nossos graus e tentamos imitar.
A “Linha Alfa” é sinónimo de “O Filho da Viúva”. Poderia ser apenas a separação do hiato geracional e uma maneira obscura mais codificada de dizer “da Tribo de Judah” sem ser abrasivo.
Pode ser que a Tribo de Judah fosse o ramo principal desta linha e que os Filhos da Viúva sejam um ramo da linha original, mas cuja proximidade com a linha original precisasse de ser preservada por meio de um título dado a esses construtores.
No final, nunca saberemos se Adão, Jesus, o Nazareno ou Hiram estavam verdadeiramente relacionados, no entanto, é claro que o Filho da Viúva é um título dado à descendência de Ruth e seus descendentes. Também está claro que a Maçonaria chama o seu santo padroeiro Hiram Abiff de “Filho da Viúva”, que foi um construtor. As lições ensinadas filosoficamente dentro do nosso sistema maçónico também têm a ver com a construção; a principal diferença é que estamos a construir a nossa espiritualidade. No sistema maçónico nós seguimos os passos de Hiram Abiff, mas nós não o representamos apenas – nós fisicamente nos transformamos nele, nos diversos graus e no final todos nós acabamos sendo “Filhos da Viúva”. Tornando-nos Mestre Maçons, nós todos terminamos sendo construtores de fantásticos corações, mentes e almas.
Então, Irmãos, eu pergunto: “Quem é o Filho da Viúva?”
Olhe-se no espelho e certamente que o verá.
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Inspirado por um breve artigo no cavalete da Loja Blackmer nº 442 F & AM, Califórnia, escrito pelo Respeitável Irmão John R. Heisner.
Robert H. Johnson, editor chefe do blog Midnight Freemasons. Maçom no 1st N.E. District of Illinois e serve atualmente como Secretário na Loja Spes Novum nº 1183 UD. É Antigo Venerável da Loja Waukegan nº 78 e Past District Deputy Grand Master para o 1st N.E.