junho 16, 2024
OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO MAÇÔNICA - Marcelo Artilheiro
Infelizmente, algumas Lojas utilizam métodos de ensino voltados para a "aquisição' de conteúdo e não de conhecimento. Nota-se uma preocupação exacerbada em manter a disciplina e cumprir o conteúdo (exigir dos aprendizes e companheiros os trabalhos previstos no ritual), inexistindo ou sendo precário o interesse em saber se o aprendiz ou companheiro aprendeu ou não, ou seja, há falhas também no processo de avaliação.
A verdade é que a educação maçônica se encontra em um abismo de desigualdade. Nem mesmo alguns esforços, como do Grande Oriente do Brasil - GOB, em padronizar o conteúdo maçônico a ser ministrado, tem garantido a qualidade de ensino e aprendizagem em todas as Lojas sob sua jurisdição, isto porque, a grande maioria dos irmãos desconhecem um dos deveres pedagógicos da Loja, elencado no inciso III, do Art. 96, do Regulamento Geral da Federação - RGF. Verbis:
Art. 96 – São deveres da Loja:
III – empenhar-se no aperfeiçoamento dos seus Membros nas áreas de Filosofia, Simbologia, História, Legislação Maçônica, Ética e Moral e promover o congraçamento familiar maçônico;
A descontextualização dos conteúdos é um dos fatores decisivos na má formação do Maçom, isto considerando o papel que a Loja deve ter na formação do maçom para a Instituição e para sociedade, ou seja, educação deve gerar resultados sobre o maçom e para a sociedade. Além disso, é imprescindível que se tenha em mente que além do conteúdo ritualístico e outros, há que se prestigiar a cultura maçônica como um todo.
Devemos reconhecer que o método tradicional de ensino não funciona mais tão bem e por um motivo bem simples: os homens (maçons ou não) simplesmente não são mais os mesmos. E não se pode ignorar que o grande objeto ou capital de um ensino de qualidade é o homem (maçom), por mera lógica, torna-se impossível manter uma metodologia de ensino estática em uma realidade e sociedade dinâmica. Em resumo, termos pensar e repensar se:
a) A apresentação dos trabalhos feita no método tradicional ainda é o meio mais seguro de se conhecer sobre a aprendizagem dos aprendizes, companheiros e mestres (todos ainda somos educandos)?
b) Somente através da apresentação de trabalhos o educador é capaz de avaliar os educandos?
Na educação tradicional maçônica podemos ensinar e reensinar as mesmas coisas, aos mesmos educandos, cem vezes. Na 101ª vez, se perguntamos aos aprendizes ou companheiros se eles se lembram o que falamos nas cem primeiras vezes, a resposta majoritária será “Não”. E pior, não conseguem repetir o que foi dito, prova que a mera repetição não ensina, e por fim, não sabem o motivo do que foi objeto da repetição.
A educação maçônica deve gerar menos ensino e mais aprendizagem. Como de costume na maçonaria, estamos mais uma vez diante da inevitabilidade de evoluir, de alterar o comoensinar. Diante disso sugere-se que:
a) As Lojas e Mestres precisam ensinar como pensar e não apenas o que pensar. Decorar textos, conceitos e etc., não faz mais sentido.
b) As Lojas e Mestres têm que estimular a autonomia intelectual, não podemos formar repetidores de conceitos (muitos imprecisos, errados e etc.).
c) As Lojas e Mestres precisam proporcionar um tempo de estudo reflexivo, onde o ensino maçônico não se confunda com o ensino de meras ideologias , achismos e repetições de conceitos prontos e descontextualizados.
d) As Lojas e Mestres precisam ter em mente que a educação maçônica não é transferência de conhecimentos, mais o estimulo criação de possibilidade para a sua própria produção ou construção, em outras palavras, educar e ser educado maçonicamente exige consciência do inacabado, do incompleto, do inatingível.
Uma outra questão a ser tratada e discutida é o aprimoramento do processo de avaliação.
a) Por que o Mestre tem dificuldade de avaliar o aprendiz e o companheiro?
b) Por que avalia mal, e depois critica a deficiência na formação do avaliado?
c) Por que "todos" tem dificuldades de se submeterem ao processe de avaliação?
Temos que ter em mente que a avaliação é uma das atividades que deve ocorrer dentro de um processo pedagógico maçônico, ela não pode ser tratada isoladamente, periodicamente ou só quando da análise da colação de grau(promoção, elevação, exaltação e etc.), nem pode ocorrer de forma individual e subjetiva, no dizer de alguns irmãos "eu to sempre avaliando". Em outras palavras, a Loja não pode se reunir para avaliar os aprendizes e companheiros somente após a entrega dos trabalhos e depois de transcorrido o tempo necessário para a colação de grau.
Erra-se ao fazer a "avaliação" para dar "aumento de salário" ao Maçom. Avaliação tem como um de seus objetivos fornecer informações acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode ser realizada apenas ao final do processo, sob pena da mesma perder seu propósito, até porque a avaliação deve envolver todos os sujeitos do processo de aprendizagem e não apenas o aprendiz e ou companheiro, em outras palavras, os Mestres devem ser avaliados, o processo educacional deve ser avaliado com um todos. Indaga-se: Alguém perguntou a algum aprendiz o que ele pensa sobre método de ensino utilizado? Se o mesmo esta sendo eficiente? No que pode se melhorado? Se os Mestres estão cooperando efetivamente no seu processo educacional?
A avaliação deve ser contínua e cumulativa quanto ao desempenho dos aprendizes, companheiros e mestres, com prevalência dos aspectos qualitativos e dos resultados ao longo do período, devendo ser menos importante a quantidade trabalho e o "sucesso" dos trabalhos.
A avaliação maçônica deve ser dialética, deve gerar um diagnóstico para correção, se necessário. Deve ser encarada e compreendida como um ato maçônico amoroso, responsável e fraternal, seu objetivo não é simplesmente conceder graus à irmãos, mas sim garantir uma segurança mínima para a Ordem, uma estabilidade e uma "padronização" mínima do conhecimento, de forma que todos os aprendizes, companheiros e mestres possam possuir as mesmas habilidades, competências e conhecimentos mínimos, em outras palavras, a avaliação tem também por escopo proteger a própria Ordem.
Parafraseando Immanuel Kant, o Maçom não é nada além do que educação maçônica faz dele.
junho 15, 2024
MAÇONARIA NA PINTURA DE HOGARTH
William Hogarth foi um brilhante artista no seu tempo, conhecido pela temática social, muitas vezes satirizada. É autor do conjunto de “Os Quatro Períodos do Dia” de 1736, sendo que aquele que se refere à “noite”, diz respeito à maçonaria, porque contém elementos com ela relacionados.
O quadro a óleo encontra-se na colecção da National Trust´s Upton House, no condado inglês de Warwickshire, mas foram as suas gravuras executadas por Charles Spooner em 1738, feitas em sentido oposto ao do original, que se espalharam por vários cantos do mundo, podendo o quadro ser visto como uma crítica ou sátira não só aos usos e costumes da época em Londres, como a um dos membros da primeira loja maçónica a que o autor pertenceu (Lodge at the Hand & Apple Tree, na Little Queen Street).
Vemos uma personagem ébria, vestindo um avental e usando ao pescoço o esquadro, emblema de venerável, apoiada no seu escudeiro que leva a espada no braço. Tal personagem refere-se a Sir Thomas de Veil, membro da citada loja que se reunia na Vine Tavern, e da qual fazia parte Hogarth, com quem não tinha boas relações. Tudo está dito quando se vê que o autor decidiu pintar um penico a ser vertido sobre a cabeça da personagem. Tempos em que os irmãos maçons não se reconheciam como tal.
Como maçom, o seu nome figura nos arquivos da Grand Lodge of England em 1725 a propósito da reunião de uma loja reunida na Hand and Apple Tree na Little Queen Street; cinco anos depois, o seu nome volta a aparecer registado numa reunião de loja na Bear and Harrow em Butcher Row, Temple Bar; por último, em 1735 era o Grand Steward (Grande Mordomo) da festa anual da Grand Lodge of England, tendo desenhado uma jóia para esse cargo, composta por um esquadro, um nível e um prumo, a qual antes de 1735, não tinha o círculo e era maior, sofrendo transformações ao longo dos tempos, vendo-se em 1835 no seu interior um compasso e uma cornucópia
CONGREGAÇÃO VIÇOSA - Roberto Ribeiro Reis
Uma congregação viçosa é aquela cuja boa fama ressoa por todos os lugares, simplesmente porque seus obreiros não têm tempo a perder, e trabalham, infatigavelmente, em prol do desenvolvimento da loja e, consequentemente, do “mundo lá fora”.
Nela, o pensamento positivo é algo constante, e o otimismo de seus associados materializa-se sob a forma de colunas robustas e inabaláveis. Via de consequência, todo e qualquer assunto alheio aos sentimentos de liberdade, fraternidade e igualdade não encontram guarida.
Essa agremiação de escol traz em seu bojo homens que primam por um mundo mais igualitário, menos discriminatório, mais evoluído e menos egoísta. Para tanto, fazem valer o império da Constituição (não feito uma utopia ou uma simples quimera) aplicando-a, dentro e fora de loja.
Diferentemente dos grupos profanos, onde há uma disputa acirradíssima pelo poder e pela subjugação do próximo –velada ou descaradamente- nessa congregação só se vislumbra um oceano de brilhantes oportunidades, na medida em que aquele que cresce e se autoconhece, quer também que seu irmão cresça e se autoconheça.
Um agrupamento distinto, de cuja assembleia são emanadas decisões democráticas e revolucionárias, decisões essas que, no passado, mudaram as diretrizes de diversas nações pelo mundo, haja vista o ideal inflexível, justo e (quase) perfeito de seus membros.
Esse viço de amor fraternal é o que tem faltado nos dias de hoje! De nada adiantam milhares de oficinas maçônicas existentes em todo o mundo, se o interior daquelas carece de qualificação humana. Onde estão os sucessores daqueles heróis do passado, que transformaram e revolucionaram o mundo, nos momentos mais cruciais?
O comodismo, a inércia e a letargia têm assolado nossos edifícios interiores! É mais conveniente apontar dedos, criticar, e a tudo assistir, sem oferecer soluções, ou se candidatar a resolver os problemas. O corolário lógico e inarredável disso tudo é um mundo desgovernado, pois os protagonistas do passado já não existem mais! Só ficou a boa lembrança de seus feitos...
Sorte a nossa é que, a despeito de toda nossa apatia e inação, existe um Supremo Arquiteto Universal, cujos projetos já anteviam esses percalços e desatinos, sabedor maior de que seus obreiros têm muito que aprender, ainda! Se não houvesse a sua intercessão a nosso favor, diuturnamente, a humanidade inteira restaria dizimada, seja pela carência de amor e caridade, seja igualmente pelo excesso de ódio e intolerância.
Aproveitemos as oportunidades que nos são dadas por Ele, por seu Espírito de Misericórdia e Indulgência, e busquemos formar, enquanto há tempo, uma Congregação Viçosa!
ABRA CADABRA
Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoe, comentou depreciativamente que, durante a epidemia de peste bubônica em Londres, muitas pessoas colocaram este amuleto nas portas de suas casas, na esperança de se protegerem da doença.
A origem desta palavra é desconhecida, mas alguns a associam a Abraxas que, para algumas crenças gnósticas do século II, era um deus do Bem e do Mal, representante do fogo. O dicionário Magia no mundo antigo (Ed. Aldebarán) afirma que vem da frase hebraica abrek ad habra 'mande seu fogo para a morte'.
Foi inicialmente usado no latim tardio com a forma abracadabra e o dicionário acadêmico o liga ao grego ἀβράξας (abráxas).
junho 14, 2024
COMPORTAMENTO RITUALÍSTICO -
Existem normas básicas para postura e comportamento em Loja.
Abusando e usufruindo mais uma vez dos conhecimentos do Mestre Castellani, vamos ver o que ele escreveu no seu “Consultório Maçônico” editado pela Trolha:
Em Lojas Simbólicas, em qualquer Grau e em qualquer Rito, nosso comportamento ritualístico deverá ser:
NÃO SE FAZ SINAL DE ORDEM, QUANDO EM CIRCULAÇÃO, pois só em pé e parado é que o Maçom pode fazer o Sinal. A exceção é a “Marcha do Grau”, para entrada no Templo. Fora disso, tanto a circulação dos Irmãos que circulam por dever de oficio, quanto a dos demais que a fazem esporadicamente, deve ser feita sem Sinal.
NÃO SE FAZEM OS SINAIS COM INSTRUMENTO DE TRABALHO e isso vale tanto para o Sinal de Ordem quanto para saudação. Assim, Veneráveis e Vigilantes, na abertura e fechamento dos trabalhos, devem deixar os malhetes sobre suas mesas, fazendo os Sinais com as mãos, só usando os malhetes para as baterias. Da mesma forma, os demais portadores de instrumentos (espadas, bastões) não devem usá-los para Sinais.
QUANDO SENTADOS, OS IRMÃOS NÃO FAZEM SINAIS DE ESPÉCIE ALGUMA, pois vale repetir, só em pé e parado é que o Maçom pode fazer sinais. Assim é errado os Veneráveis e Vigilantes responderem à saudação com o Sinal, devendo limitar-se a um simples aceno, com inclinação da cabeça. Estão também, duplamente errados, os Veneráveis e Vigilantes que fazem Sinais como os Malhetes e estando sentados; isso, ritualisticamente, é horrível, mas ocorre, infelizmente, na maior parte das Lojas. A única exceção a essa regra é o Banquete Ritualístico.
Fonte: Pílulas Maçônicas.
CHINA TERÁ HOSPITAL OPERADO SÓ POR IA - Alex Winetzki
junho 13, 2024
A VERDADEIRA HUMILDADE MAÇÔNICA - Dario Angelo Baggieri
Num Conclave Maçônico realizado por uma determinada Potência, havia um prosélito desfilar de vaidades, onde as alfaias e paramentos ofuscavam o disputar de quem era mais “DIFERENCIADO” em termos de notoriedade naquele evento.
Um pequeno grupo de irmãos, estavam alheios a tamanha manifestação de ostentação daqueles “pombos de aventais” que arrulhavam pelos corredores, com frivolidades que chegavam à beira da mediocridade. Conversando entre si, aqueles honoráveis irmãos, começaram um diálogo contemplativo e ao mesmo tempo dissertativo, sobre o fato tão comum na nossa Ordem, que transcrevo abaixo em essência, numa crónica adaptada à nossa filosofia.
Começo o tema com a seguinte pergunta: “QUAL A VERDADEIRA HUMILDADE DE UM IRMÃO MAÇOM?” Pergunta esta que nos remete à inúmeras análises em todos os campos da erudição da psicologia moderna, com as suas nuances também no campo da Psiquiatria contemporânea advinda da globalização. Teremos que iniciar tal crónica, com a definição real do que é HUMILDADE. A humildade não deve ser confundida com baixa autoestima, timidez, sentimentos de inferioridade ou auto degradação. Embora ser humilde exija reconhecer as nossas próprias dificuldades, limitações e limites, isso não significa fazer uma demonstração deles. Humildade para o verdadeiro Maçom, significa viver na verdade, aceitando que não somos perfeitos e isso deve ser sempre a nossa realidade.
Muitas irmãos pensam que são humildes, quando, na realidade, estão constantemente reclamando e falando sobre quão desafortunados ou desvalorizados são, concentrando-se inteiramente em si mesmos, o que é uma forma oculta de orgulho. A verdadeira humildade do homem Maçom, não significa olhar constantemente para a própria pequenez e comparar-se aos outros. Fazer estas comparações significa constantemente voltarmo-nos para nós mesmos e apenas ver os outros como superiores ou como ameaça ao nosso crescimento na Instituição. A humildade não é uma virtude a ser conquistado para alcançar a auto perfeição, o que na verdade leva ao orgulho, a frase comum que ouvimos nos nossos templos e ágapes “na minha humilde opinião” não é nada além de orgulho disfarçado. Quando a humildade se torna explícita, não é mais humildade.
A psicologia contemporânea usa o termo “autenticidade” mais que a humildade. Significa viver a verdade sobre si mesmo, ser honesto consigo próprio e com os outros. Essa é a verdadeira humildade que deve ser exercitada na Maçonaria. É um sinal de maturidade psicológica e espiritual e de liberdade interior. Em vez de uma série de comportamentos que devemos adoptar, a humildade é um modo de ser e de se relacionar com os outros. É caracterizada pela maneira como uma pessoa se aceita e se valoriza. A humildade é como a argamassa que sustenta a base de um edifício; sem ela, é impossível manter-se de pé na vida espiritual. Após esta explanação acima, fica mais plausível algumas conclusões sobre o que vem acontecendo na modernidade da Maçonaria atual: OS IRMÃOS PERDERAM A VERDADEIRA HUMILDADE MAÇÔNICA, na sua grande maioria, disse um dos decanos, presentes ao diálogo. Que frase impactante, que provocou um profundo e pesado silêncio naquele debate. Concluiu o que repasso ipsis litteris: “A verdadeira humildade do homem Maçom é dar o melhor de si sem se sentir melhor que os outros. É ter consciência das suas qualidades, mas reconhecer que tem muitos defeitos também. É mostrar os seus talentos sem querer abafar os talentos dos outros. É admirar os outros pelo que eles são sem esquecer que você também é filho de Deus, o Grande Arquiteto do Universo. É admirar os outros pelo que eles fazem sem esquecer que você também é capaz de fazer coisas maravilhosas. É aceitar cargos importantes, mas fazer deles uma maneira de servir ainda mais. Assim meus amados irmãos, vemos que hoje existem muitos irmãos, que por terem maior bagagem de conhecimento que outros, se julgam superiores, achando-se com o direito de menosprezar aqueles que, menos favorecidos cultural ou financeiramente, não dispõem do mesmo cabedal de conhecimentos, mas que nem por isso podem ser considerados como irmãos inferiores.
Não podemos esquecer-nos de que cada indivíduo dentro da Ordem Maçônica, é um especialista no seu campo de ação. Então… alguém é melhor do que alguém? Pode ter mais conhecimentos porque teve mais chances para estudar, mas não é melhor do que ninguém. Todos os irmão tem a sua importância na construção do edifício da verdadeira Maçonaria, que é o seu TEMPLO, o seu Coração de Pedra transformado em Vaso de Amor. Vemos muitas lives, com o TEMA: o que viestes fazer aqui? Cada uma mais espetacular que a outra, em dizeres, com apresentações riquíssimas de detalhes supérfluos ou mais elaborados. Mas a resposta PRINCIPAL sempre será: Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria, estreitando os laços de amizade que nos unem como verdadeiros Irmãos”. Aí o irmão pode-se estar a perguntar, o que tem a ver o CONCLAVE MAÇÔNICO do parágrafo inicial com a crônica apresentada nessa dissertação?
A resposta é muito simples, TUDO E NADA. TUDO , pois não é fácil identificar a vaidade em nós mesmos e os julgamentos da espécie devem considerar atitudes hipócritas que levam à analogia de quem consegue ver um cisco nos olhos dos outros quando tem algo bem maior no próprio olho, conforme advertido no “Sermão da Montanha”. Mas, condenações e julgamentos à parte, a vaidade é transparente quando os observados demonstram um comportamento de se situar acima dos demais, por quaisquer atributos, sejam estéticos, intelectuais, materiais ou outros que ensejam uma atitude de atrair admiração. Pode ainda se manifestar de uma forma disfarçada, de acordo com objetivos a atingir.
Aprofundar nessas perspectivas não é o nosso objetivo, mas dizem os especialistas que muitas vezes o vaidoso o é naturalmente, sem perceber, e vive desempenhando um personagem que escolheu e com os conflitos de encontrar-se a si mesmo. A forma mais visível da vaidade é identificada em irmãos em postos de comando que, ao se julgarem superiores aos demais, demonstram empáfia, orgulho arrogante e presunção da verdade. Tal vício de conduta gera, muitas vezes, problemas de ordem interna nas instituições, principalmente na Maçonaria e disputas desnecessárias, que levam a implosão das Potencias , como tempos observado nos últimos anos, principalmente no GOB.
E NADA, Se no mundo profano os vaidosos disputam posições de destaque, na Maçonaria o obreiro não deve pleitear cargos nem honrarias, realizando apenas e tão-somente os trabalhos que realcem o valor da Ordem, e quando investidos nesses cargos, que ajam com Humildade, Serenidade, com foco na construção e fortalecimento de relações sinceras, leais e éticas, tendo a convicção de que a vaidade compromete a sustentação das colunas da Loja. A conduta dos Veneráveis e dos Mestres da Loja é a referência para os Aprendizes e Companheiros, que anseiam por bons ensinamentos a ser transmitidos com paciência, prudência e serenidade.
Concluindo, repasso a pergunta aos amados irmãos: “A sua Humildade dentro da Ordem é verdadeira???” Respondei com franqueza, a sua resposta não nos ofenderá.
O ILUMINISMO FRANCÊS -
Entre os grandes sistemas do século XVII, como os de Spinoza, Malebranche, Leibnitz, e os do século XIX - doutrinas de Hegel ou de Auguso Comte - a filosofia do século XVIII ocupa um lugar original; ela ignora as grandes sínteses, as grandes "visões do mundo", possantes e originais, e marca o triunfo da inteligência crítica.
A substância doutrinal de quase todos os filósofos desse século provém de sistemas anteriores; segundo d'Alembert, por exemplo, "Newton criou a física e Locke a metafísica".
a) Já na metade do século, a física de Newton destrona a de Descartes. Newton não faz o romance da matéria, mas exprime os fatos realmente dados na linguagem rigorosa da matemática; ele explica o movimento dos planetas, a gravidade, as marés. A matemática do infinitesimal descreve adequadamente as variações contínuas dos fenômenos. Podemos dizer que a física de Newton contribuiu largamente para a formação do espírito moderno, simultaneamente racionalista e experimental, ao relatar os fatos reais em linguagem matemática, ao descrever o "como" dos fenômenos, renunciando a imaginar o longínquo "por que" metafísico. "Hypotheses non fingo", não forjo imagens metafísicas, dizia Newton.
b) Locke passa por ser o criador da "metafísica", isto é, da ciência do espírito humano. O século XVIII caracteriza-se por uma tendência empírica e analítica: procura-se explicar as idéias complexas a partir das simples e as idéias a partir dos fatos.
c) Sem dúvida, há que acrescentar a influência capital de Spinoza. De sua doutrina evidenciar-se-á sobretudo o naturalismo, a idéia de que o motor de todos os sêres é o desejo, "o esforço de perseverar em seu ser", a idéia de que o homem não é "um império num império", mas que é regido pelas leis de todo o universo. Deus é identificado com a natureza - Deus sive natura - e as leis ditas eventos sobrenaturais, milagres, prodígios, profecias, encontram, na trapaça de uns e na credulidade de outros, explicação suficiente e perfeitamente natural. Com as idéias de Newton, de Locke, de Spinoza, e também de Descartes (cuja "visão"metafísica é rejeitada, mas cujo método racionalista é bem acolhido), os pensadores do século XVIII farão suas armas: eles são, dir-se-ia hoje, filósofos engajados. Consideram-se os artífices da felicidade humana e se empenham na destruição dos preconceitos e na difusão das "luzes". (É o século das luzes, Aufklärung, isto é, do racionalismo.) Daí o tom particular desses filósofos que fazem panfletos contra o poder, contra a Igreja, e que querem criar movimentos de opinião: a ironia e a clareza do estilo adquirem eficácia particular para tais empreendimentos.
Condillac (1715-1780)
O filósofo mais notável do iluminismo francês é Estevão Bannot de Condillac (1715-1780). Ele desenvolveu o empirismo de Locke num sentido francamente sensista, derivando da mera sensação - sem reflexão - toda a experiência. Condillac exerceu uma influência particular sobre a cultura italiana, orientando-a paa o sensismo, devido ao fato de ter ele sido, durante um decênio (1758-1767), preceptor, na corte de Parma, de Fernando de Bourbon, herdeiro daquele trono. A obra filosófica mais importante de Condillac é o Traité des sensations, em que desenvolve a sua concepção sensista.
Condillac imagina o homem como uma estátua, privada de toda sensação (tabula rasa) e que, em dado momento, começa a ter uma sensação de olfato. A sensação odorosa (de uma rosa) torna-se memória, quando, afastada a primeira sensação e sobrevindo outra, a primeira permanece com uma intensidade atenuada. Uma lembrança vivaz torna-se imaginação. Tem-se, deste modo, uma série de três graus de atenção, de atividade do espírito, constituindo a sensação o primeiro grau, a memória o segundo, a imaginação o terceiro. Comparando a sensação atual com a sensação lembrada, nasce a distinção entre presente e passado; a distinção entre atividade (na memória) e passividade (na sensação); a consciência, o eu, que é uma coleção de sensações atuais e lembradas; o juízo, que é comparação entre sensações presentes e passadas; a reflexão, isto é, a direção voluntária de atenção sobre uma determinada sensação - idéia ou relação, juízo - em uma série de idéias e juízos; a abstração, isto é, a separação de uma idéia de outra; e a generalização, isto é, a capacidade de noções gerais. Paralelamente ao desenvolvimento teórico do espírito procede o desenvolvimento prático. Da sensação (agradável ou dolorosa) nasce o sentimento (de prazer ou de dor). A lembrança de sensações agradáveis e a comparação com as presentes, tornam-se desejo; o desejo preponderante torna-se paixão; o desejo estável torna-se vontade.
O espírito adquire, assim, mediante um só sentido, o olfato, que é o mais pobre dos sentidos, o exercício de todas as suas faculdades. O espírito, contudo, mediante o tato, adquire consciência do mundo físico, do próprio corpo e dos demais corpos, pela resistência que o nosso esforço encontra no mundo externo. Isto não prova, entretanto, a existência, a realidade, do mundo externo, porquanto se trata sempre de sensações; o mundo externo é afirmado dogmaticamente, de sorte que, filosoficamente, estamos perante um ceticismo metafísico.
Montesquieu (1689-1755)
A política de Montesquieu, exposta no Espírito das Leis (1748), surge como essencialmente racionalista. Ela se caracteriza pela busca de um justo equilíbrio entre a autoridade do poder e a liberdade do cidadão. Para que ninguém possa abusar da autoridade, "é preciso que, pela disposição das coisas, o poder detenha o poder". Daí a separação entre poder legislativo, poder executivo e poder judiciário.
Montesquieu, porém, possui sobretudo concepção racionalista das leis que não resultam dos caprichos arbitrários do soberano, mas são "relações necessárias que derivam da natureza das coisas". Assim é que cada forma de governo determina, necessariamente, este ou aquele tipo de lei, esta ou aquela psicologia para com os cidadãos: a democracia da cidade antiga só é viável em função da "virtude", isto é, pelo espírito cívico da população. A monarquia tradicional repousa num sistema hierárquico de suseranos e vassalos que só funciona a partir de uma moral da honra, ao passo que o despotismo só subsiste com a manutenção, em toda parte, da força do medo. Não vemos como na Inglaterra a liberdade política conduz à existência de leis particulares que não encontramos em outros regimes? As leis obedecem a um determinismo racional. Como diz muito bem Brehier, "a variável aqui é a forma de governo de que as legislações políticas, civil e outras são as funções". Todavia, as "relações necessárias", de que fala Montesquieu, são muito menos a expressão de um determinismo sociológico de tipo materialista do que a afirmação de uma ligação ideal, harmônica, entre certos tipos de governo e certas leis possíveis, sendo que as melhores pertencem a este ou aquele governo, cabendo ao legislador descobri-las e aplicá-las. Montesquieu, por exemplo, nunca afirmou que o clima determina, necessariamente, estas ou aquelas instituições. Só os maus legisladores favorecem os vícios do clima. É preciso encontrar em cada clima, em cada forma de governo, em cada circunstância em que se está colocado, quais as leis melhor adaptadas, quais aquelas que, na situação considerada, realizarão o conjunto mais justo, mais harmonioso. O "direito natural", a justiça ideal preexistem às leis escritas, uma vez que lhes servem de guia. "A verdadeira lei da humanidade é a razão humana enquanto governa todos os povos da terra; dizer que só o que as leis positivas ordenam ou proíbem é que constitui o que há de justo e injusto, significa dizer que, antes que se tivesse traçado os círculos, todos os raios eram desiguais".
Voltaire (1694-1778)
Voltaire, de certo modo, é o tipo acabado do "filósofo" do século XVIII.
As idéias filosóficas de Voltaire, tirada de Locke e de Newton, não são originais. O próprio espírito voltairiano teve seus precursores. Fontenelle (1657-1757) mostrou, antes de Voltaire, que a história se explica mais pelo jogo das paixões humanas do que pelo decreto da Providência. E Fontenelle já colocara (Conversações sobre a pluralidade dos mundos) a nova astronomia ao alcance dos marqueses. Pierre Bayle (1647-1707), protestante francês exilado em Roterdam, possuía a arte de, antes de Voltaire, opor os sistemas metafísicos entre si, a fim de ressaltar de suas contradições a necessidade da tolerância (o Dicionário histórico e crítico de Bayle, 1697, é uma prodigiosa colocação de teses que testemunha sua incomparável erudição e que será possuído por todos os intelectuais do século XVIII). Em seus Pensamentos sobre o cometa, Bayle já apresenta ardis tipicamente voltairianos para comprometer, em sua crítica aos prodígios e superstições populares, a fé nos milagres do cristianismo.
Voltaire, inimigo encarniçado do cristianismo, é um deísta convicto: a organização do mundo, sua finalidade interna, só se explicam pela existência de um Criador inteligente ("Este mundo me espanta e não posso imaginar / Que este relógio exista e não tenha relojoeiro"). Criticou Leibnitz e seu "melhor dos mundos possíveis" que, após o terremoto de Lisboa, permanece otimista; contra Pascal, "misantropo sublime", ele acha que o homem, reduzido apenas aos seus recursos, pode estabelecer uma certa justiça sobre a terra e alcançar uma certa felicidade. Apesar de negar o pecado original, Voltaire, no entanto, mantém o princípio de um Deus justiceiro. É certo que esse Deus policial é sobretudo requisitado para manter a ordem social e as vantagens econômicas aproveitadas por Voltaire e os outros grandes burgueses. O célebre verso de Voltaire "Se Deus não existisse precisaria ser inventado" deve, para ser bem compreendido, ser citado com seu comentário: "e teu novo arrendatário / Por não crer em Deus, pagar-te-á melhor?" É certo, no entanto, que Voltaire crê na ordem do mundo, numa finalidade providencial. Para ele, a estrutura geográfica da terra, as espécies vivas são fixas; em nome desse finalismo estático, ele rejeita as idéias evolucionistas que começam a se difundir. Recusa-se a crer nos fósseis de animais marinhos descobertos nas montanhas por aquela época. Admitir que as montanhas outrora estiveram submersas, seria negar a estabilidade e a finalidade da ordem atual do mundo. (Ele também teme que esses fósseis marinhos nas montanhas só sirvam para os cristãos provarem a história do dilúvio!).
Fonte: Internet.
junho 12, 2024
ENAMORADOS - Roberto Ribeiro Reis
Com singular ousadia,
Sob os auspícios da lua,
A Arte é Real, bela e nua:
Esparge sua beleza e alegria.
O Sol pujante a vida irradia,
A existência viceja e insinua,
O olho que tudo vê acentua
A egrégora de plena energia.
E, antes que da morte usufrua,
Beija-la o farei com euforia,
Para que a sorte não me exclua.
Enamorados,qual no primeiro dia,
Do Oriente, a paz se perpetua
No Amor por você, ó Maçonaria!
POLEMIZANDO - Newton Agrella
O vocábulo “polêmica” advém do grego “POLEMIKOS”, cujo significado é agressivo, beligerante.
Referência etimológica ainda é feita ao substantivo “POLEMOS”, que por sua vez significa ‘guerra’, "luta".
O termo no entanto, ao longo do processo histórico da língua portuguesa ganhou num contexto mais atual, o significado de contenda, ou de provocação que possa resultar em conflito de idéias, disputas e divergências nos mais diversos territórios do intelecto.
Sejam na política, na filosofia, na religião, na arte, na literatura ou em qualquer outra atividade do pensamento humano.
Cabe contudo lembrar, que a "polêmica", por si só, não se constitui numa briga, ou em qualquer ato hostil ou violento.
Muito pelo contrário, seu exercício, via de regra, se traduz como um mecanismo, ou dispositivo intelectual, que de algum modo incita o avanço do conhecimento em cada respectiva área.
A polêmica impõe a prática da argumentação e contra-argumentação no campo das idéias.
Ela estimula o raciocício, instiga os debatedores, e é um combustível permanente para insuflar novos pontos de vista e perspectivas diante dos temas que podem ser objeto de mudanças.
A polêmica não se sustenta apenas como mera retórica contestadora.
Ela deve trazer consigo um consistente conteúdo de caráter dialético para que possa se instaurar num foro de debate substantivo.
A inócua citação : "...se hay gobierno soy contra..." - não encontra eco, se não se configurar como um legítimo fundamento para discussão.
A Maçonaria por exemplo, a cada pouco, é objeto de polêmicas, protagonizadas por seus próprios adeptos, que não raro, de maneira frágil e inconsistente, buscam reinventá-la ou imprimir-lhe mudanças, que a bem da verdade, na maioria das vezes, são passivas de seríssimas ponderações, para saber se merecem crédito ou não.
De qualquer forma, reconhecer que a Sublime Ordem, tem como objetivo estimular a Liberdade de Pensamento, isto por si , não é uma condição inequívoca para quebra de paradigmas, preceitos e princípios que fazem dela, uma instituição perene e que subsiste até os nossos dias em razão da magnitude e consistência de todo seu arcabouço e de sua essência especulativa, intelectual e espiritual.
O GADU É UM DEUS MAÇÔNICO? - José A. Ferrer Benimeli
Nas Constituições de Anderson, datadas de 1723, é feita alusão a “Deus, o Grande Arquiteto do Universo” (p. 1), e ao “Deus do Céu, o Omnipotente Arquiteto do Universo” (p. 18). Mas Anderson também fala de Cristo como “Grande Arquiteto da Igreja” (pp. 24-24).
No primeiro artigo das Constituições de Anderson, é dito “que o Maçom é obrigado pelo seu compromisso a obedecer à lei moral, e se ele entender bem a Arte , ele nunca será um ateu estúpido ou um libertino irreligioso.” Sem nomear Deus a crença em Deus é necessária, porque os ateus são excluídos de forma Direta e expressa.
No entanto, não há acordo sobre as interpretações e consequências dessas diferenças. Para alguns, as Constituições de Anderson tendem fortemente para um deísmo que a segunda Constituição , conhecida como Ahimann Rezom, condena explicitamente ao insistir na sua fidelidade à religião católica, tanto mais que Dermott, assim como a maioria dos primeiros Antigos , eram católicos irlandeses. . Não se deve esquecer que o autor das Constituições dos Modernos foi o Reverendo James Anderson, Pastor da Igreja Presbiteriano escocês, e consequentemente ele também era um teísta – não um deísta – e toda vez que ele fala de Deus, ele o faz como o Grande Arquiteto do Universo, isto é, como o Criador. E a tradição da Grande Loja da Inglaterra, até hoje, sempre foi teísta e não deísta. Um dos seus representantes, Alec Mellor, diz no seu Dicionário: “A Maçonaria Regular não é apenas deísta, mas teísta, o que significa que o Deus que reconhece, invoca e ora na loja é o Deus criador, ou, se preferir, um Deus pessoal, não uma entidade vaga, conforme concebida por sistemas metafísicos como o imanentismo ou panteísmo. Nenhum equívoco pode subsistir a este respeito. ”Muito mais direto é o Livro das Constituições da muito antiga e honrada Fraternidade de Maçons Livres e Aceites, conhecido como dos Antigos, publicado por Dermott em 1756 sob o título de Encargos e Regulamentos da Sociedade dos Maçons, extraído de Ahiman Rezon :
“Todo o Maçom é obrigado, em virtude do seu título, a acreditar firmemente e adorar fielmente o Deus eterno, bem como os ensinos sagrados que os Dignitários e Pais da Igreja redigiram e publicaram para o uso dos homens sábios; de tal forma que nenhum dos que entendem bem da Arte possa trilhar o caminho irreligioso do miserável libertino ou ser introduzido a seguir os arrogantes professores do ateísmo ou do deísmo”.
No entanto, sempre houve uma certa confusão em torno dos termos teísmo e deísmo. A palavra teísmo hoje é usada para significar um sistema ou doutrina que admite a existência de um Deus pessoal, criador e providencial do mundo. Enquanto a palavra deísmo é parcialmente positiva e parcialmente negativa. O deísta afirma, como o teísta, a existência de um Deus pessoal; mas distingue-se dele por negar alguns ou alguns dos atributos positivos de Deus e, acima de tudo, o fato da revelação divina. Para o deísta, existe apenas religião natural; de modo que o positivo, fundado no fato da revelação, é um mito.
Mas o problema que se coloca hoje não é o da sobrevivência na atual Maçonaria do Grande Arquiteto do Universo que deu origem ao conhecido lema “À Glória do Grande Arquiteto do Universo”, às vezes na sua versão latina “Ad Universi Terrarum Orbis Summi Architecti Gloriam”, com a qual tantos maçons ao redor do mundo continuam iniciando todas as suas atividades, escritos, documentos, revistas, etc. O que é polémico hoje é a crença no Grande Arquiteto do Universo como uma pré-condição para se tornar um Maçom.
No ponto de polémica devemos colocar a Constituição do Grande Oriente da França , de 1849, em cujo primeiro artigo foi introduzido o seguinte parágrafo – talvez para provocar uma reaproximação com a Grande Loja da Inglaterra -: «Maçonaria (… ) é baseado na existência de Deus e na imortalidade da alma. Esta posição foi interpretada como uma ruptura com a liberdade de consciência e tolerância introduzida na Maçonaria francesa na primeira metade do século 19 e que deu a certos maçons a possibilidade de serviço militar, em concepções filosóficas mais ou menos inclinadas para o agnosticismo e mesmo, às vezes, para o ateísmo. E, especialmente depois de 1860, ele levantou o protesto de lojas cada vez mais numerosas. Problema semelhante surgiu no Grande Oriente da Bélgica , que terminou, em 1872, com a supressão do Grande Arquiteto do Universo em todos os seus rituais. Pouco depois, o Grande Oriente da França, por sua vez, sob a presidência do pastor protestante Fréderic Desmons, aboliu, em 13 de Setembro de 1877, da sua Constituição a obrigação de acreditar em Deus e na imortalidade da alma.
O mais paradoxal é que a Igreja Católica tomou partido ao fazer uma interpretação curiosa do Grande Arquiteto do Universo dos Maçons. E assim nos ensina o Cardeal Ratzinger, chefe do antigo Santo Ofício, hoje denominado Congregação para a Doutrina da Fé, seguindo unicamente a opinião dos bispos alemães afirmaram em 1981, qual é o verdadeiro conceito do Deus dos maçons: “Nos rituais, o conceito de« Grande Arquiteto do Universo »ocupa um lugar central. É, apesar de toda a vontade de se abrir ao religioso como um todo, uma concepção emprestada do deísmo. De acordo com essa concepção, não há conhecimento objetivo de Deus, no sentido do conceito da ideia pessoal de Deus no teísmo. O Grande Arquiteto do Universo é um “algo” neutro, indefinido e aberto a todo entendimento. Cada um pode apresentar aí a sua representação de Deus, o cristão, como o muçulmano, o discípulo de Confúcio como o animista ou o fiel de qualquer religião. Para o Maçom, o “Grande Arquiteto do Universo” não é um ser no sentido de um Deus pessoal; e por este motivo, uma viva sensibilidade religiosa é suficiente para ele reconhecer o Grande Arquiteto do Universo. Esta concepção de um Grande Arquiteto do Universo reinando num distanciamento deísta mina a representação do Deus católico e a resposta que ele dá a um Deus a quem ele chama de Pai e Senhor ”.
Diante da atitude tomada pela Igreja Católica Romana em 1983 e reiterada em 1985, coincidindo no tempo com posições semelhantes por parte das igrejas Metodista, Batista e Anglicana, a Grande Loja Unida da Inglaterra foi considerada obrigada a publicar em Setembro de 1985 um declaração que completa aquela que foi originalmente aprovada em Setembro de 1962 e confirmada em Dezembro de 1981 pela mesma Grande Loja. Nele, após lembrar que a Maçonaria não é uma religião, nem um substituto da religião, ele reitera que “exige dos seus membros fé num Ser Supremo, mas não propõe nenhum sistema de fé como seu”.
A Grande Loja Unida da Inglaterra, na Declaração Fundamental de 21 de Junho de 1985, reafirmou que “a Maçonaria não é uma religião, nem é um substituto para a religião.” A Maçonaria “exige dos seus adeptos a crença num Ser Supremo, do qual, entretanto, não oferece a sua própria doutrina de fé”. E adverte que “os vários nomes usados para indicar o Ser Supremo permitem que homens de diferentes crenças se unam em oração (destinados a Deus como cada um deles o concebe), sem que o conteúdo de ditas orações seja causa de discórdia” .
E ele esclarece que “não existe Deus maçônico. O Deus do Maçom é o próprio Deus da religião que ele professou. Os maçons têm um respeito mútuo pelo Ser Supremo, na medida em que Ele permanece Supremo nas suas respectivas religiões. Voltando aos Antigos Deveres, a Declaração reitera que “durante os trabalhos da Loja é proibido discutir religião” e que “ não é missão da Maçonaria tentar unir diferentes credos religiosos ”. A consequência de que “não existe […] um único Deus maçônico” é que a Maçonaria não reivindica ser um “sincretismo” entre diferentes fés, nem uma super religião, uma Verdade absoluta e superior às “verdades” (ou “crenças »Das religiões particulares.
Portanto, na Maçonaria “os seguintes elementos constitutivos da religião não são encontrados:
a) uma doutrina teológica ;
b) a oferta de sacramentos ;
c) a promessa de salvação pelas obras, conhecimentos secretos e vários meios ”.
Com base nisto, a Grande Loja Unida da Inglaterra aceitou ou recusou fortalecer os laços fraternos com as outras comunidades maçônicas aplicando consistentemente esses princípios. Assim, por exemplo, a Declaração de 1929 estabelece, no primeiro ponto: “A crença no Grande Arquiteto do Universo e na sua vontade revelada serão condições essenciais para que os seus membros sejam admitidos”. Ao romper os laços com a Grande Loja do Uruguai , em 18 de Outubro de 1950, a Grande Loja Unida de Inglaterra endureceu ainda mais a sua postura teísta, declarando: “Todo homem que pede para entrar na Maçonaria deve professar fé no Ser Supremo, o Deus invisível. e todo poderoso”. Nenhuma excepção é permitida a este respeito. A Maçonaria não é um movimento filosófico aberto a todas as orientações e opiniões. A verdadeira Maçonaria é um culto para preservar e espalhar a crença na existência de Deus , que tem que ser de uma religião monoteísta. Por medo de ser tachada de deísmo, a Grande Loja inglesa e, por trás dela, as da Escócia e da Irlanda, impuseram aos seus afiliados e iniciados a fé monoteísta às obediências a ela vinculadas.
Concluindo, pode-se dizer que a Maçonaria é religiosa , sem se tornar ela própria uma religião. A Grande Loja Unida de Inglaterra não se propõe a conciliar a fé de indivíduos numa religião única, superior ou semelhante.