junho 25, 2024

Introdução à Europa Medieval - Peter Hoppenbrouwers& Wim Blockmans


Atualmente, a palavra "medieval' com o uso alternativo da palavra "feudal", quase sempre significa atraso e barbárie. A Idade Média é vista como um período obscuro (a Idade das Trevas), em contraste com período anteriores e posteriores, considerados muito mais brilhantes.

Como surgiu este ponto de vista?
Durante o século XIV na Itália, poetas e eruditos que se diziam humanistas acreditavam que estavam no limiar de uma nova era de brilho intelectual que contrastaria nitidamente com a obscuridade dos séculos precedentes.
A palavra tenebrae (nevoeiro) surgiu da pena de Francesco Petrarca (1304-1374), o famoso poeta que inspirou uma admiração apaixonada para a Roma antiga; ele usou a palavra para referir-se ao período subsequente ao da Antiguidade.
Depois de Petrarca, outros falaram de media tempestas, media aetas, media tempora. Todas essas expressões tinham uma conotação pejorativa.
Para eles, a Idade Média não passava de um período infeliz e desinteressante de decadência entre a Antiguidade e a nova era de ouro sintetizada pelos eruditos humanistas.
A expressão medium aevum recebeu status oficial em 1678 quando Du Cange publicou seu Glossarium de palavras latinas usadas na Idade Média em dois volumes, que divergiam do significado clássico.
Dez anos depois Christophorus Cellarius escreveu a primeira história da Idade Média sob o título Historia Medii Aevi, que abrangia o período do imperador Constantino o Grande (306-337) até a queda de Constantinopla (1453).
Visto que "Idade Média" é um constructo humanista, o sucesso do conceito deve-se sem dúvida ao vigoroso desenvolvimento do latim e da gramática nas escolas secundárias.
Nessas escolas as ideias humanísticas floresceram, porque o estudo de línguas clássicas constituía a base do currículo.
Havia a expectativa de que com o estudo das biografias de homens famosos e da história de antigas culturas, inclusive poesia e retórica, as novas gerações se elevariam à imagem idealizada dos heróis da Antiguidade.
Até o século XIX o latim continuou a ser a língua da educação universitária, para que todos os intelectuais ficassem imersos no banho da Antiguidade.
Nos países católicos, em especial, houve um interesse renovado pela Idade Média do século XVII em diante, o que se refletiu em instituições criadas especificamente para estudar esse período.
No entanto, no mundo protestante o estudo da Idade Média era visto como um tema acadêmico e, portanto, a ênfase recaiu nos resultados positivos alcançados desde a Re- forma.
As divergências religiosas entre pensadores, que se perpetuaram por razões ideológicas, constituíram a linha divisória da história definida pelos humanistas por motivos acadêmicos.
Durante o século XIX as ideologias mais uma vez exerceram um papel importante na visão do passado.
No período do Classicismo as igrejas medievais e os mosteiros foram relegados ao segundo plano ou destruídos propositalmente, como aconteceu na Revolução Francesa, mas a partir da década de 1820 surgiu de novo o modismo de construir edificações no estilo gótico, e a inspirar-se em construtores medievais.
Na literatura, autores românticos como Sir Walter Scott, Heinrich Heine e Victor Hugo inspiraram-se em histórias medievais para descrever a grandeza do passado medieval, em contraste com o racionalismo do Iluminismo e dos revolucionários franceses.
Nesse passado projetaram-se valores conservadores como a monarquia, a Igreja e a nobreza, ou a liberdade civil e o caráter nacional, de acordo com as necessidades.
As torres altas de pedra construídas na Europa no século XIX eram réplicas das torres das catedrais góticas de Ulm e Colônia. Os prédios dos parlamentos em Londres e em Budapeste têm um estilo neogótico, assim como a prefeitura de Munique.
O passado adaptou-se às preferências dos séculos seguintes.
Após ter sido difamada, a Idade Média, ou a imagem construída dela, agora era elogiada.
Ao longo do século XIX os estudos históricos tornaram-se uma discipli- na acadêmica.
À medida que mais cadeiras eram criadas nas universidades, que aceitavam as linhas de demarcação entre o Humanismo, o Renascimento e a Reforma, e à medida que sociedades mais cultas, publicações e periódicos focalizaram épocas anteriores ou posteriores a esses períodos, essa divisão do processo histórico foi aceita por toda parte como um fato comprovado.
O livro Die Kultur der Renaissance in Italien, de Jacob Burckhardt, publicado em 1860, exerceu um papel-chave nessa questão.
O sucesso espetacular deste livro pode ser explicado pela elegância com a qual o autor elaborou o mito histórico imposto em todas as pessoas que tinham mais que uma educação elementar: o mito que, por meio de uma verdadeira revolução cultural, algumas gerações de intelectuais e artistas italianos haviam libertado a Europa dos vínculos repressores de uma sociedade coletivamente condicionada, e que em todos os aspectos da vida enfocava a vida após a morte.
O sentido literal das palavras "Renascimento" e "renascença", e essa ideia de renovação e restauração, refere-se ao ressurgimento de antigas concepções e ideais.
Em seu uso moderno concerne ao ressurgimento de qualquer elemento, desde novos estudos de textos antigos ou a recuperação da linguagem das formas clássicas na arquitetura e nas artes visuais.
Comparado a esse conceito parcial de "Renascimento", o "Humanismo" parece mais neutro e, portanto, mais fácil de abordar.

Em um sentido estrito, o Humanismo refere-se a um procedimento filológico que consiste em duas partes: tentativas de resgatar mais textos antigos por meio da pesquisa intensa em bibliotecas e pela tradução de autores gregos para o latim e, por outro lado, de esforços filológicos a fim de criar versões desses textos mais fiéis possíveis aos textos originais.
Além disso, o Humanismo tem um sentido mais geral e com certeza mais vago, o da busca intelectual visando à humanidade e de um interesse maior na individualidade do homem e em suas intenções e emoções
Burckhardt concentrou-se nesse segundo sentido do Humanismo e fez uma observação subjetiva sobre a cultura italiana na alta Idade Média, o interesse crescente pelas realizações individuais do homem, tornando-o um elemento-chave no processo revolucionário de mudança que percebera.
O renomado historiador holandês Johan Huizinga já escrevera em seu livro O Outono da Idade Média (1919) como essa tendência era perigosa. Ele não teve dificuldade em pesquisar diversas expressões culturais "tipica- mente medievais" do século XV. Segundo sua opinião, elas revelaram uma nostalgia do passado, em vez de uma aversão.
A natureza singular e revolucionária do Renascimento italiano foi enfraquecida por críticas que apontaram vários "renascimentos antes do Renascimento" Os mais importantes foram o Renascimento Carolíngio e o Renascimento do século XII.
Como conceitos de periodização do estudo medieval eles foram amplamente aceitos, assim como a visão do Renascimento italiano de Burckhardt.
No tocante à Reforma religiosa, iremos mostrar que, de acordo com uma perspectiva teológica e institucional, a Reforma da primeira metade do século XVI foi o prosseguimento de uma longa série de movimentos de reforma que começou no século XI. Sua função definidora é tão discutível como as palavras "Renascimento" e "Humanismo"
Entretanto, o sistema educacional nos países protestantes mais tarde estimulou o estudo da Idade Média, em um contraste gritante com os períodos anteriores, a fim de enfatizar sua singularidade.

BERTRAND RUSSEL


Estar disposto a mudar é de pessoas inteligentes.

O inconsciente governa nossa vida, e o inconsciente é formado por nossas crenças, muitas das quais são falsas, embora as demos por verdadeiras. Ter uma atitude de abertura acima de tudo e todos nos coloca em melhores condições para continuar crescendo. Como Keynes já disse, "a coisa mais difícil do mundo não é que as pessoas aceitem novas ideias, mas sim que esqueçam as antigas"; algo parecido com o que Goethe pensava: "Cuidado com o que aprendes porque não podes esquecê-lo". Estar aberto à «desaprendizagem» é absolutamente imprescindível para que a verdadeira aprendizagem ocorra. Muitas vezes, o que pensamos conhecer é o que realmente nos impede de aprender».


Bertrand Arthur William Russell 1872-1970 - Matemático, filósofo, escritor.

Retirado da rede” web.com

CEGOS DO TEMPLO - Roberto Ribeiro Reis



A presunção da luz cega mais do que qualquer coisa. Não raro, as pessoas têm se proclamado iluminadas, como se fossem portadoras de uma procuração divina, assinada pelo próprio Criador.

Fazem-no despidas de humildade, arrogando para si uma liderança espiritual que chega a ludibriar os incautos, mas que ainda não é capaz de subjugar o homem de intelecto mediano.

Como temos vivido num mundo permeado de superficialidades, o discurso de tais pessoas têm encontrado ressonância junto às massas de manobra, facilmente manipuladas pelas aparências e pela verborragia constantemente utilizada por esses “profetas”.

Não se iludam, meus conscientes Irmãos! Há cegos por toda parte, e os templos já não suportam mais acomodá-los, pois essa multidão de enganados cresce, exponencialmente, dia após dia. No lugar de curados, mais doentes; no lugar de esclarecidos, mais beócios; no lugar de seguidores da luz, mais asseclas das trevas.

A verdadeira luz – aquela que, com uma fagulha, é capaz de iluminar abismos de ignorância – não se encontra nos templos da falsidade, do charlatanismo, da mercancia sem limites e da extorsão feita aos pobres e humildes. Para além de toda essa escravização proselitista religiosa, a Luz Real é aquela que não causa a cegueira, mas que devolve ao cego a possibilidade de enxergar, notadamente com os olhos d’alma!

A luz que almejamos não parte desses templos erigidos aos caprichos do homem, mas advém de nosso Templo Interior, onde o verbo consolador é capaz de vivificar os seres, tocando-lhes suavemente o imo do coração, da mente e do espírito. É a luz que nos abençoa e redime, que nutre a nossa alma de esperanças, e que fortalece nossos corações.


Nesse viés que concerne à luz essencial, feliz do homem que teve o privilégio de ser iniciado em nossos “Augustos Mistérios”. Afinal, a luz que ele recebeu é esta centelha divina capaz de transformá-lo num ser melhor, e que também permite que ele possa se conectar com instâncias de consciência mais elevadas.


O Iniciado tem um manual sagrado de vida em mãos, cujo poder é o de afastá-lo dos abismos e dos infernos mentais, que frequentemente o visitam. Caso ele o siga, disciplinada e fielmente, o céu das bem-aventuranças será seu destino; lado outro, caso ele opte por profanar tais leis maiores, há de conviver com o padecimento de sua consciência, tornando-se, novamente, um homem caído e mais um cego do templo.

junho 24, 2024

POSTURA DURANTE A EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL.



O comportamento que temos de ter ao cantar ou ouvir o Hino Nacional está previsto na Lei no 5.700, aprovada em 1971 e em vigor até hoje. Essa legislação determina que o cantemos o Hino em pé e se ouvirmos, também em pé e em silêncio, com a cabeça descoberta, e os braços estendidos ao longo do corpo. Qualquer outra forma de saudação durante a execução - como acompanhar com palmas, assobios, dançando ou com a mão no peito - é proibida.

ALGUNS EQUÍVOCOS:

Durante a execução do Hino Nacional se você estiver na mesa principal, você deve olhar para o público, em hipótese nenhuma os componentes da mesa podem dar as costas ou os ombros para o público, pois, quando acontece isso (comportamento comum, aliás), comete-se um desrespeito com um dos elementos essenciais da nação: o povo.

 Logo, no caso de participante da mesa principal a regra é: de costas para a bandeira e de frente para o público.

PALMAS, se o Hino Nacional estiver sendo executado através de um equipamento de som; computador ou outro equipamento de som, o público apenas canta junto, e em hipótese alguma se bate palma ao final do Hino. Entretanto, quando o hino estiver sendo cantado por artista, conjunto, coro ou executado por orquestra, aí são possíveis os aplausos para saudar o(s) artista(s).

Se o Hino Nacional estiver sendo apresentado por um artista, coral, etc... devemos acompanhar em silêncio a apresentação. Entretanto, se quem estiver apresentando pedir, o público pode cantar junto.

POSTURA, a postura correta é simples, fica-se em pé, em posição de respeito, com os braços distendidos ao longo do corpo. Não se cruza os braços para trás ou para frente e não se coloca as mãos nos bolsos.

 Outro erro comum é as pessoas colocarem a mão sobre o coração, essa postura é recomendada em alguns países, como nos Estados Unidos, na Lei que regulamenta a postura frente a bandeira ou durante a execução do Hino Brasileiro, está bem claro que os braços deverão ficar estendidos ao longo do corpo e os militares prestarão a continência de acordo com sua organização militar.

Vale ressaltar ainda que o Hino Nacional não é o Hino para homenagear à Bandeira. Para homenagear a bandeira, a lei 5.700 determina que seja executado o hino à Bandeira.

O artigo 25 inciso I e II da lei no 5.700, de 1o setembro de 1971 que estabelece o hasteamento semanal obrigatório da Bandeira Nacional nas escolas.

Nota-se que dois são os momentos em que deve ocorrer a execução do Hino Nacional em reverencia à bandeira Nacional.

 A primeira em continência (no dia da Bandeira) e a segunda na cerimônia cívica semanal dos estabelecimentos de ensino (decreto no 4.835 de 8 de setembro de 2003).

É importante também ressaltar que nas cerimônias cívicas em AMBIENTES FECHADOS não há hasteamento ou arriamento da Bandeira, portanto, o Hino Nacional nesses locais não é executado em cerimônia à Bandeira, então não se deve voltar para os dispositivos de bandeiras.

O entendimento equivocado dessa questão, tem levado as pessoas a se voltarem para a Bandeira quando o Hino Nacional é executado, alguns pretensos cerimonialistas chegam a orientar as pessoas para assim procederem, induzindo-as ao erro.

A Pátria é representada pelo Povo, assim, ignorar a sua precedência sobre qualquer outro símbolo que venha representar o País, é uma opção incoerente.

 Dessa forma, se presta continência (ato que é executado pelos militares conforme normas estabelecidas em Lei própria e para o civil, como um ato de saudação voltar-se na direção do saudado) à Bandeira Nacional durante o cântico do Hino à Bandeira é quando a Bandeira é saudada, na sua passagem quando ela estiver em deslocamento, no hasteamento ou arriamento.

LEI No 5.700, DE 1o DE SETEMBRO DE 1971.

Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos Nacionais, e dá outras providências. ... ... ...

CAPÍTULO III

Da Apresentação dos Símbolos Nacionais

SEÇÃO I

Da Bandeira Nacional

Art. 10. A Bandeira Nacional pode ser usada em todas as manifestações do sentimento patriótico dos brasileiros, de caráter oficial ou particular.

 Art. 11. A Bandeira Nacional pode ser apresentada:

I - Hasteada em mastro ou adriças, nos edifícios públicos ou particulares, templos, campos de esporte, escritórios, salas de aula, auditórios, embarcações, ruas e praças, e em qualquer lugar em que lhe seja assegurado o devido respeito;

II - Distendida e sem mastro, conduzida por aeronaves ou balões, aplicada sôbre parede ou prêsa a um cabo horizontal ligando edifícios, árvores, postes ou mastro; III - Reproduzida sôbre paredes, tetos, vidraças, veículos e aeronaves;

IV - Compondo, com outras bandeiras, panóplias, escudos ou peças semelhantes;

V - Conduzida em formaturas, desfiles, ou mesmo individualmente;

VI - Distendida sôbre ataúdes, até a ocasião do sepultamento.

... ... ...

SEÇÃO II

Do Hino Nacional

 Art. 24. A execução do Hino Nacional obedecerá às seguintes prescrições:

I - Será sempre executado em andamento metronômico de uma semínima igual a 120 (cento e vinte); II - É obrigatória a tonalidade de si bemol para a execução instrumental simples;

III - Far-se-á o canto sempre em uníssono;

IV - nos casos de simples execução instrumental ou vocal, o Hino Nacional será tocado ou cantado integralmente, sem repetição. (Redação dada pela Lei no 13.413, de 2016)

V - Nas continências ao Presidente da República, para fins exclusivos do Cerimonial Militar, serão executados apenas a introdução e os acordes finais, conforme a regulamentação específica.

Art. 25. Será o Hino Nacional executado:

I - Em continência à Bandeira Nacional e ao Presidente da República, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, quando incorporados; e nos demais casos expressamente determinados pelos regulamentos de continência ou cerimônias de cortesia internacional;

II - Na ocasião do hasteamento da Bandeira Nacional, previsto no parágrafo único do art. 14.

III - na abertura das competições esportivas organizadas pelas entidades integrantes do Sistema Nacional do Desporto, conforme definidas no art. 13 da Lei no 9.615, de 24 de março de 1998.

(Incluído pela Lei no 13.413, de 2016)

§ 1o A execução será instrumental ou vocal de acôrdo com o cerimonial previsto em cada caso. § 2o É vedada a execução do Hino Nacional, em continência, fora dos casos previstos no presente artigo. § 3o Será facultativa a execução do Hino Nacional na abertura de sessões cívicas, nas cerimônias religiosas a que se associe sentido patriótico, no início ou no encerramento das transmissões diárias das emissoras de rádio e televisão, bem assim para exprimir regozijo público em ocasiões festivas.

 § 4o Nas cerimônias em que se tenha de executar um Hino Nacional Estrangeiro, êste deve, por cortesia, preceder o Hino Nacional Brasileiro. § 5o Em qualquer hipótese, o Hino Nacional deverá ser executado integralmente e todos os presentes devem tomar atitude de respeito, conforme descrita no caput do art. 30 desta Lei. (Incluído pela Lei no 13.413, de 2016)

... ... ...

CAPÍTULO V

Do respeito devido à Bandeira Nacional e ao Hino Nacional

Art. 30. Nas cerimônias de hasteamento ou arriamento, nas ocasiões em que a Bandeira se apresentar em marcha ou cortejo, assim como durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio, o civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações.

Parágrafo único. É vedada qualquer outra forma de saudação.

 Art. 31. São consideradas manifestações de desrespeito à Bandeira Nacional, e portanto proibidas:

I - Apresentá-la em mau estado de conservação.

II - Mudar-lhe a forma, as côres, as proporções, o dístico ou acrescentar-lhe outras inscrições; III - Usá-la como roupagem, reposteiro, pano de bôca, guarnição de mesa, revestimento de tribuna, ou como cobertura de placas, retratos, painéis ou monumentos a inaugurar;

IV - Reproduzi-la em rótulos ou invólucros de produtos expostos à venda.

Art. 32. As Bandeiras em mau estado de conservação devem ser entregues a qualquer Unidade Militar, para que sejam incineradas no Dia da Bandeira, segundo o cerimonial peculiar.

Art. 33. Nenhuma bandeira de outra nação pode ser usada no País sem que esteja ao seu lado direito, de igual tamanho e em posição de realce, a Bandeira Nacional, salvo nas sedes das representações diplomáticas ou consulares.

Art. 34. É vedada a execução de quaisquer arranjos vocais do Hino Nacional, a não ser o de Alberto Nepomuceno; igualmente não será permitida a execução de arranjos artísticos instrumentais do Hino Nacional que não sejam autorizados pelo Presidente da República, ouvido o Ministério da Educação e Cultura

SANTOS PATRONOS DA MACONARIA - Valdir Anderson Silverio


 

COMO ENCONTRAR DEUS! - Valdemar Sansão


Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.  Salmo 19,1

A 4ª Instrução do 1º grau é aberta com a interrogação: “O QUE É A MAÇONARIA”?

A resposta: “Uma associação íntima, de homens escolhidos, cuja doutrina tem por base o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus; como regra: a Lei Natural; por causa: a Verdade, a Liberdade e a Lei Moral; por princípio: a Igualdade, a Fraternidade e a Caridade; por frutos: a Virtude, a Sociabilidade e o Progresso; por fim, a felicidade dos povos que, incessantemente, ela procura reunir sob a bandeira da paz. Assim, a Maçonaria nunca deixará de existir, enquanto houver o gênero humano”.

O objetivo deste trabalho é fornecer subsídios nessa direção, proporcionando ao recém-iniciado elementos de reflexão através dos quais possa, de forma consciente, trabalhar os seus sentimentos e a sua razão, seja racionalizando sentimentos por intermédio do bom senso e da lógica, seja iluminando a inteligência e os pensamentos com as luzes dos bons sentimentos.  

Lapidar os próprios sentimentos é tarefa árdua, mormente para os Aprendizes. 

Restringido a três páginas, nestas tentaremos mostrar o que de mais importante representa a base de nossa doutrina, embora sabendo que ninguém pode definir o Grande Arquiteto do Universo. Entre todos os landmarks anglo-saxão existe um de extrema importância pelas discussões que provocou. É a crença na existência de Deus, considerado como o Grande Arquiteto do Universo.

Wirth comenta esse Landmark nos seguintes termos: “Que esta crença esteja implicada pelo caráter religioso fundamental da Franco-Maçonaria é algo que não contestaremos. 

O Iniciado que compreende a Arte jamais será um ateu estúpido ou um libertino irreligioso. (“Libertino” tem aqui o sentido antigo: “Livre da disciplina da fé religiosa”).

Essa certeza deve levar-nos a confiar em quem procura a luz com sinceridade. Não temos de exigir dele um credo determinado, que o Há dois mil anos um homem veio ao mundo para pregar uma doutrina de amor, obrigue a aceitar uma concepção teológica necessariamente discutível.

Não erigimos o Grande Arquiteto do Universo como um objeto de crença, mas vemos Nele o símbolo mais importante da Maçonaria, símbolo que deve ser estudado como os demais, a fim de que se compreenda a Maçonaria e se construa cada um por si, num desafio ao egoísmo, o santuário de suas convicções pessoais.

A noção do Grande Arquiteto do Universo, na Maçonaria, é ao mesmo tempo mais ampla e mais limitada que a das diferentes religiões. (Note-se que não suprimimos a palavra “Deus”, mas que lhe acrescentamos o epíteto de “Grande Arquiteto do Universo”).

BONDADE E HUMILDADE DO ESPÍRITO

A Franco-Maçonaria desde sua origem adotou a expressão “O Grande Arquiteto do Universo”, mostrando assim a sua concepção da divindade em suas relações com o mundo e com o homem. 

Sendo Deus o Ser Supremo admitido em todas as religiões, é a existência Suprema, Superior, Criadora e Indefinível, cujo estudo constitui uma das bases da Maçonaria.  

O Cristianismo prega o amor, pedindo que seja feito ao próximo o mesmo que se almeja para si; Jesus de Nazareth, aquele que deu sua vida pela salvação dos homens, respondeu aos Fariseus: “Amar a Deus com todas as forças e a seu próximo como a si mesmo, é da lei e dos profetas; não há maior mandamento”.

Aos que perguntaram qual o caminho para o Reino dos Céus, declarou: “Procurai em primeiro lugar a Justiça e o resto vos será dado em abundância”.

O Judaísmo quer que o nocivo não seja feito aos outros. Moisés tirou da escravidão os filhos de Israel, ditou: “Tu venerarás somente o DEUS único e não talharás imagens a sua semelhança; respeitarás o dia de descanso; não jurarás em vão; honrarás Pai e Mãe; não cometerás adultério; não roubarás os bens de outrem; não levantarás falso testemunho; não cobiçarás a mulher, nem os bens do próximo”.

O Islamismo ensina que, para ser um crente, é preciso desejar ao próximo o que se quer para si mesmo; Maomé, o Profeta por excelência, do Islã dita: “Deus é Deus e não há outro Deus”. “Ninguém pode ser chamado verdadeiro crente se não desejar a seu irmão o que para si deseja”;

O Confucionismo dirige o pensamento para não fazer aos outros o que não se quer para si mesmo. Sua doutrina consiste, inteiramente, em ensinar a retidão do coração e o amor ao próximo.

Há uma regra universal de conduta que se contém na palavra RECIPROCIDADE. “Tu que não és capaz de servir aos homens, como poderás servir, aos deuses? Não conheces a vida, como poderás conhecer a morte”?

O Budismo quer que não seja feito ao semelhante aquilo que lhe pudesse magoar. 

Gautama, o Buda renunciou os direitos de nascimento e de fortuna. Sua lei é a lei do perdão para todos.  

Crenças e religiões de toda ordem existem e devem ser respeitadas. É admitido pelo Alto que cada um busque o Criador em sua própria concepção teológica.

O homem está ligado a Deus pela alma, que é sua essência e seu universo maior de compreensão, raciocínio e sentimento. Não necessita de representantes e intermediários para tanto.

Tantas outras seitas existem, tantos outros mandamentos escritos de diversas outras formas permanecem, mas, acima de tudo, se há vínculos com a essência do Amor, da Bondade, da Justiça e da Sabedoria, ligados a Deus, apesar da variedade de suas revelações falam a mesma linguagem, porque ela corresponde às necessidades universais e aspirações permanentes da Natureza humana.  

Jamais utilizar a religião e a fé para o embrutecimento dos bons sentimentos, o cultivo da riqueza material ou o fanatismo que pode levar até a exaltação que impele o fanático a praticar atos criminosos em nome da religião.  

Hoje se fala muito de espiritualidade e, com frequência, o que se quer dizer é: “Não pertenço a nenhuma religião organizada”. A religião em si, não consegue eliminar completamente o lado mais tenebroso da humanidade.

Não pode acabar com as guerras, a crueldade, a ganância e o sofrimento dos pobres, mas alivia tudo isso e dá uma visão perene de nosso eu melhor e mais puro, e do mundo melhor que a Maçonaria almeja criar, oferecendo um antídoto ao medo que a morte desperta em nós e que nos transporta com fé e esperança há dias melhores para a Humanidade.

O Maçom tem como dever honrar e venerar o Grande Arquiteto do Universo e cumprirá todos esses deveres porque tem a Fé, que lhe dá coragem; a Perseverança, que vence os obstáculos; o Devotamento que o leva a fazer o Bem e a Justiça, mesmo com risco de sua vida, sem esperar outra recompensa, que a tranqüilidade de consciência.  

Precisamos estar mais presentes em nossas Lojas, porque lá os Irmãos, pela união e pelo pensamento se aproximam de Deus, buscando a esperança.

Lá nos reeducamos para superar o individualismo e, diante de Deus, abrir o coração para aprendermos que o Grande Arquiteto do Universo é a autoridade final, e, que nós, Seus filhos temos o dever de seguir pelos caminhos que nos levam a Ele, que são sempre os mesmos que nos levam uns aos outros.

DESENCONTRO NO RANCHO FUNDO - Geraldo Bonadio


Na primeira metade do século XX, quando o rádio ainda não conquistara a importância que mais adiante viria a ter e a televisão sequer povoava o sonho dos visionários, o teatro de revista, com suas comédias abrilhantadas pela beleza das vedetes e o talento dos músicos funcionava com a porta através da qual compositores e letristas brasileiros buscavam alçavam seus primeiros voos para o sucesso.  

Em 1927, Ary Barroso (1903/1964), mineiro de nascimento mas residente no Rio de Janeiro há dez anos, tornara-se um dos compositores mais solicitados do teatro carioca e iniciara uma vitoriosa parceria com o multifacetado J. Carlos (1884/1950), compôs, para a peça É do balacobaco, uma música que tinha por título Na grota funda, cuja letra assim principiava:


“Na grota funda

Na virada da montanha

Só se fala das façanhas 

Do mulato da Raimunda


Matou a nega

Cum pedaço de canela

E adespois sem mais aquela

Se juntou com uma galega...”


O também compositor Lamartine Babo (1904/1963 assistiu à estreia do espetáculo. Encantou-se com a melodia, achou que merecia uma letra melhor  a qual compôs durante a noite - e, sem pedir autorização a Ary ou a J. Carlos, apresentou a música reformatada – e com novo título - “No Rancho Fundo” -, num programa do conjunto Bando de Tangarás, na Rádio Educadora.

O sucesso foi imediato e tornou-se uma das mais belas páginas do cancioneiro do país. Ary aceitou a transformação sem reclamar, mas – como explica em seu livro “Recordações de Ary Barroso” (Funarte, 1979) jornalista Mário Moraes, o mesmo não aconteceu com J. Carlos. Sentindo-se passado para trás, nunca mais falou com o futuro compositor de “Aquarela do Brasil”.

junho 23, 2024

A ESCADA DE JACÓ - Almir Sant'Anna Cruz


 Quando um Irm.’. alcança um novo Grau ele “subiu mais um degrau na Escada de Jacó”?

Embora essa frase seja corriqueiramente usada, a resposta é NÃO!

A Escada de Jacó está narrada na Bíblia em Gênesis 28:10-19 e é um elemento presente no Painel do Grau 1 do Ritual de Emulação inglês, utilizado desde 1927 no Ritual do REAA elaborado pelo Irm.’. Mário Behrig para as Grandes Lojas brasileiras. Não é um símbolo originalmente do REAA nem dos Ritos de origem francesa.

Pela narração bíblica a Escada significa o caminho que leva a Deus e, analogamente, a Escada apresentada no Painel representa o caminho que leva ao GADU através das três virtudes teologais inseridas nos seus degraus: a Fé (cruz), a Esperança (âncora) e a Caridade (cálice ou  taça com a mão em atitude de a alcançar).

Portanto, a Escada de Jacó não representa a evolução do Maçom através do alcance de novos Graus e sim sua evolução no cumprimento das virtudes, sobretudo das teologais..

No Ritual de Emulação explica-se da segunte forma:

“Fé no GADU, Esperança na salvação e Caridade para todos os homens (...), porque, pelas doutrinas contidas nas SSEE somos ensinados a crer na benevolência da Divina Providência, crença que reforça a nossa Fé (...); esta Fé, naturalmente, cria em nós a Esperança de nos tornarmos participantes das promessas abençoadas ali descritas. O Maçom que possui essa virtude (a Caridade), no mais amplo sentido pode ser considerado como tendo atingido o apogeu de sua profissão”.  


(Excertos do livro *Simbologia Maçônica dos Painéis: Lojas de Aprendiz, Companheiro e Mestre*)

SAUDADE DE SÃO JOÃO - Adilson Zotovici


 

Quem lembra do bom pinhão ?

Daquele quentão na chaleira 

Da paçoca feita em pilão 

Daquela pipoca caseira 


Os vizinhos em união 

De cada qual uma assadeira 

Com bolinhos em profusão 

Pamonha à mão, costumeira  


A cidade tornando em rincão 

Sanfona ronca noite inteira 

Quanta “Luz” na escuridão 

Noite fria, estrelada, fagueira  


Como um sonho, quase ilusão 

As crianças em fileira 

Arteiras, felizes, no clarão 

Ordeiras, pulavam a fogueira 


Nas cinzas sobradas no chão 

A batata doce  grosseira 

Caia apagado balão

Findava noite sobranceira ... 


Era sim uma tradição 

Com a turma companheira

Que habita hoje o coração... 

A família verdadeira 


Inda algum som de rojão 

Fim da estação passageira 

Saudade de “São João” !

Inesquecível noite festeira !



Nascido no Solstício, Anunciador do Messias - Jorge Gonçalves


 

João Batista foi um profeta bíblico cuja missão era anunciar a chegada do Messias. Ele viajou por toda a Judeia pregando sobre Cristo, um ser de sabedoria divina que traria uma nova mensagem de Deus. João é frequentemente referido como " _o Batista_ " devido ao seu papel em batizar pessoas, incluindo o próprio Jesus.


" _Eu batizo vocês com água, para o arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo_ . " (Mateus 3:11)


João Batista batizou Jesus Cristo. 

"_Então Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João. João, porém, tentou dissuadi-lo, dizendo: 'Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?' Respondeu Jesus: 'Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça.' E João concordou._" (Mateus 3:13-15)


Estima-se que João nasceu em 2 a.C. e viveu até 28 d.C., falecendo aos 30 anos após ser preso e decapitado sob as ordens de Herodes. O cálculo de seu ano de nascimento é baseado no Evangelho de Lucas, que menciona que João começou seu ministério no 15º ano do reinado de Tibério César. 


"_No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, segundo imperador romano, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca (governante de uma quarta parte de um território) da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da Itureia e Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, durante o sumo sacerdócio de Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto._" (Lucas 3:1-2)


"_Pois o próprio Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, com quem se casara. Pois João dizia a Herodes: 'Não te é permitido viver com a mulher do teu irmão.' Assim, Herodias o odiava e queria matá-lo, mas não podia fazê-lo, porque Herodes temia João e o protegia, sabendo que ele era um homem justo e santo._" (Marcos 6:17-20)


João Batista foi preso por Herodes porque criticava abertamente o casamento de Herodes com Herodias, esposa de seu meio-irmão, o que João corajosamente criticava segundo a lei judaica. Herodes, influenciado por Herodias e para agradar os líderes judeus, ordenou a prisão de João.


Durante uma festa de aniversário de Herodes, a filha de Herodias, Salomé, dançou para ele, o que lhe agradou tanto que prometeu conceder qualquer pedido dela. Instigada por sua mãe, Salomé pediu a cabeça de João Batista em um prato. Com medo, mas sem querer quebrar sua promessa pública, Herodes ordenou a execução de João. 


"_E ela, instigada por sua mãe, disse: 'Dá-me aqui num prato a cabeça de João Batista.' O rei ficou aflito, mas por causa do juramento e dos convidados, ordenou que lhe fosse dada; e mandou decapitar João na prisão._ " (Mateus 14:8-10)


A celebração de São João no dia 24 de junho tem raízes na tradição cristã, sendo associada ao nascimento de João Batista. Se voltarmos ainda mais no tempo, a origem das festividades de São João remonta às celebrações pagãs dos solstícios, que foram adaptadas pela Igreja Católica para coincidir com eventos cristãos.


Salomé Recebe a Cabeça de São João Batista por caravaggio em 1609-10.

junho 22, 2024

CONSTRUTORES SOCIAIS - Roberto Ribeiro Reis



O recrudescimento do desamor é algo que tem assustado a todos nós. A superficialidade tem trazido estrago à vida das pessoas, quais as pragas nas lavouras, que a tudo consomem, num apetite célere e voraz.

Homens e mulheres têm vivido relacionamentos tóxicos, calcados em promessas vãs e na falta total de diálogo. Ir a um salão de beleza ou a uma partida de futebol é algo aprazível a cada um deles; no entanto, tirar uma hora por dia para fazerem o inventário do casal ou até para buscarem um auxílio de um analista, parece-lhes algo entediante.

Os influenciadores digitais têm se preocupado em oferecer um (pseudo) manual de felicidade, cujo escopo maior é a busca da riqueza sem esforços, ou esforços demasiados para se atingir a plenitude material. Com o devido respeito, quanta balela e ludibriação!

A exceção das exceções, a nosso sentir, é a Maçonaria. Uma instituição que preza pelo indivíduo, mas igualmente pelo casamento e pela família. O respeito às pessoas que se amam é regra irrevogável para a Matrimonial Ordem!

Os nossos trabalhos visam ao burilamento espiritual dos irmãos; e tudo aquilo que vá de encontro ao casamento é por nós rechaçado, veementemente. Lado outro, tudo o que vá ao encontro do amor fraternal, da reciprocidade, do respeito e da empatia é celebrado por nossa augusta ordem.

Enquanto construtores sociais, temos o dever de buscarmos transformar a realidade na qual vivemos. Se, nesse momento, padecemos de um mundo tóxico, nossa tarefa é a de propiciar meios de desintoxicar os que se encontram ao nosso lado. Ninguém consegue mudar o outro, isso é fato! Mas é possível educar as pessoas muito mais através do bom exemplo, do que somente através das palavras.

A Maçonaria poderia e deveria utilizar seus recursos financeiros não para custear a suntuosidade de palácios – nos quais a maioria da realeza é paladina da soberba e da bazófia aguda – mas para financiar projetos sociais, de formação de jovens e capacitação dos que não têm oportunidade; outrossim, poderia ajudar a combater a fome tão latente nos rincões de nosso país.

Somos livres para pensar, deveríamos ser muito mais fraternos em nosso agir, tornando, por conseguinte, o mundo muito mais igualitário. Não adianta ter a divisa do ideário iluminista somente na teoria. É preciso que a liberdade, a igualdade e a fraternidade sejam expostas como bases sólidas em nossa sociedade, e que, na prática, manifestem-se em planos reais de concreção e materialização, para além do que figurarem somente em um texto constitucional, sem eficácia qualquer.

Aos desavisados de plantão – e que seguem a filosofia das miríades de miríades de incautos – adiantamos que tais medidas não visam ao estabelecimento do comunismo no Brasil ou no mundo (isso já virou até modinha). O desiderato maior do verdadeiro Maçom não é que sol brilhe exclusivamente para si. Não é para isso que ele foi iniciado. O sonho maior de todo Pedreiro Livre é ver seus irmãos progredirem, materialmente e, acima de tudo, espiritualmente. Daí o porquê de sermos chamados de construtores sociais.

O INFERNO DE DANTE

 


Estou levando você para o Inferno. Este é o primeiro dos três Cânticos da Divina Comédia que conduzirá Dante das Trevas à Luz.

Para compreender o universo poético de Dante é necessário refazer brevemente a sua vida e esboçar o mundo em que ele evolui.

Dante nasceu em maio ou junho de 1265 em Florença, em uma família Allaghieri ou Alleghieri, alterada para Allighieri, de antiga linhagem florentina. Seu primeiro nome, Durante, é abreviado para Dante em memória de um ancestral assim chamado e a economia tipográfica mais tarde removerá um dos dois L de seu nome.

A península italiana do século XIII era composta por cerca de vinte estados, sem unidade política, monetária ou linguística. Cada cidade tem o seu próprio dialeto, tendo o latim dado lugar às línguas vernáculas. Estas cidades-estado por vezes mantêm relações comerciais, outras ignoram-se umas às outras quando não travam guerra abertamente entre si. Como Pisa, Bolonha, Siena, Verona e muitas outras cidades da Itália, Florença está dividida entre duas facções rivais: por um lado, os Guelfi, aos quais adere a família Alighieri, favorável ao Papa (que também é apoiada por Carlos de Anjou, rei de Nápoles a quem deve a sua eleição e por Filipe III, o Ousado, rei de França de quem foi conselheiro) e por outro lado os Ghibelini afiliados ao imperador da Áustria Rodolfo de Habsburgo, apoiados alternadamente de acordo com para alianças políticas dos reis de Aragão ou da Inglaterra. Neste contexto de disputas dinásticas, as grandes famílias que apoiavam os Guelfos ou os Gibelinos travaram uma luta fratricida.

Esses acontecimentos servem de moldura para o Príncipe de Maquiavel que “ divide e conquista ” e serão popularizados pela trágica aventura, real ou fictícia, das famílias de Romeu e Julieta, os Montecchi , os Montegu e os Capuletos , os Capuletos.

Aqui se passa o cenário do Trecento italiano em que Dante nasceu e cresceu. Um episódio romântico de sua infância o marcará para o resto da vida e será um dos principais fios de sua obra. Em 1274, aos nove anos, conheceu uma menina de oito anos, Beatrice Portinari, apelidada de Bice, por quem se apaixonou. Ele a verá apenas duas vezes na vida, nunca falará com ela, mas a partir desse amor platônico idealizará, em toda a sua obra, a personagem Beatrice como o símbolo da paixão absoluta.

Beatriz está tão presente, inclusive no Cântico do Inferno , que é necessário deter-nos um pouco.

A sua real existência foi posta em dúvida, nomeadamente por Boccaccio, um dos primeiros comentadores da obra de Dante. No entanto, documentos recentes atestam a sua realidade física, nomeadamente um testamento datado de 1287, de Folco Portinari, banqueiro florentino, que legou à sua filha Bice, casada com Simone de Bardi, a soma de cinquenta libras florentinas e uma herança de terras. feita por esta mesma Simone de Bardi a seu irmão Cecchino em 1280, com o consentimento de sua esposa Bice, então com quinze anos. Teria, portanto, existido Beatrice Portinari, nascida por volta de 1266 e falecida aos 24 anos - provavelmente durante o parto , no parto - em junho de 1290.

Na realidade, o que importa não é tanto a existência de Beatriz, mas o lugar que esta paixão sublimada ocupa, na imaginação poética e simbólica de Dante. Assim que Bice morreu, de 1291 a 1293, começou a formatar um longo poema, La Vita Nova , inteiramente dedicado a Beatriz. Dante afirmou que alguns sonetos datam de 1283, quando tinha 18 anos. Mas não será esta uma forma de impor um número simbólico ao nosso entendimento?

Para concluir, notemos aqui uma semelhança entre a Beatriz de Dante e a Beatriz do poeta provençal Raimbaud de Vaqueiras que compôs em 1201, em língua occitana, um poema à sua senhora do coração do qual encontramos os mesmos versos da pena de Dante cem anos depois...

O jovem Dante foi prometido em casamento aos doze anos a Gemma Donati, cuja família, como os Alighieri, apoiava os Guelfos. Ele se casou com ela em 1285 e naturalmente ficou do lado desta facção. Da união nascerão três – talvez quatro – filhos. Isso é uma coincidência? Sua terceira filha, Antonia, entrará nas ordens com o nome de Irmã Beatrice…

Desde as Portarias de 1295, ninguém pode exercer cargos públicos sem estar inscrito no registo comercial. Dante, que deseja ingressar na vida política, inscreve-se no papel de médico, uma das sete grandes artes da época. Durante seu mandato, tornou-se membro do Conselho dos Cem, então Prior, governador de Florença. Apoiador de uma ampla democracia, desafiou com os guelfos a autoridade do imperador da Áustria e pegou em armas para lutar contra os gibelinos.

Mas a história se recusa a ser simples. Embora sejam vitoriosos em todos os lugares, os Guelfos estão se destruindo. Os Guelfos negros, extremistas, apoiam incondicionalmente a autoridade temporal do Papa enquanto os Guelfos brancos, moderados e mais próximos das aspirações do povo, sem negar a legitimidade espiritual do Pontífice, defendem a separação entre Igreja e Estado.

Dante defendeu os Guelfos Brancos, o que lhe valeu seu primeiro exílio em outubro de 1301, durante o qual questionou suas escolhas políticas. Finalmente, ele admite que só a autoridade de um monarca pode garantir a liberdade das pessoas.

Esta reviravolta a favor dos gibelinos marcou o fim da sua vida pública e levou a um novo julgamento em março de 1302. Em 1304 tentou regressar a Florença à força, mas a expedição revelou-se um fracasso militar.

Recusando todas as anistias oferecidas em troca de sua negação e para escapar de ser condenado à fogueira como recaída, forçou-se ao exílio definitivo, até sua morte em 1321 em Ravena.

Depois de alguns ensaios poéticos dedicados a Beatriz, vários tratados sobre línguas vulgares, sobre cultura, sobre a monarquia, entre 1306 e 1321 empreendeu a redação da Commedia. Foi Boccaccio, grande admirador do poeta, quem acrescentou o qualificativo Divina cinquenta anos após sua morte, por volta de 1370 . Dante não escreveu em latim, mas em toscano de Florença, dialeto vulgar que se tornaria a base da língua italiana no final do Quatrocento . É portanto em toscano que ele intitula a sua obra: La Comedìa .

Neste esboço, será oportuno distinguir, numa primeira parte, o enquadramento do poema, a técnica do autor, o simbolismo da métrica. Numa segunda parte, centrar-me-ei na visão do Inferno proposta por Dante e, novamente, no simbolismo que emerge deste poema.

A obra completa está estruturada em torno de três cantiche : l'Inferno , publicado em 1314, lo Purgatorio , publicado em 1316 e lo Paradiso , publicado em 1321, pouco antes da morte de Dante. Cada um dos três hinos consiste em trinta e três canções. O inferno se resume a um prólogo que eleva a cem o número total de canções da Comedìa .

São dois números que precisam ser questionados. Para nós, o número 33 está obviamente ligado ao número de graus do Antigo Rito Escocês Aceito. Para os mortais comuns da época, duvido que tivesse qualquer outro significado além da duração da vida terrena atribuída a Cristo no momento da crucificação. Este número 33 não é exclusivo do Cristianismo. Dante é um estudioso que não exclui outras culturas. Ele foi capaz de extrair dele elementos de simbolismo. Ele conhece o trabalho dos mestres da Escolástica: Abelardo, Bacon, Moerbeke, Mestre Eckart e São Tomás de Aquino. Dante, sem dúvida muito piedoso, foi provavelmente admitido na leiga Ordem Terceira dos Franciscanos, fundada em 1222 em Bolonha por Francisco de Assis. Esta ordem, conhecida por defender o retorno à pureza e pobreza de Cristo, acabou atraindo a ira de Roma.

Encontramos também na doutrina dos franciscanos, e mais particularmente entre os mais fundamentalistas deles, os Fraticelli - que acabaram por ser declarados hereges e entregues à Inquisição - o discurso escatológico sobre os tempos messiânicos e o juízo final, os restos do os mortos e o futuro da alma, tantos temas que servem de enquadramento à obra de Dante. O estudioso redescobre Aristóteles, Sócrates e Platão através de traduções para o árabe. A Igreja todo-poderosa, já minada pelas heresias maniqueístas, é minada pela filosofia oriental com a qual os Templários, os Hospitalários e os Cavaleiros Teutónicos se depararam.

Estas ordens militares introduzirão nas práticas rituais cristãs, depois das Cruzadas, o uso do rosário, o Mishaba usado pelos muçulmanos para contar três vezes trinta e três contas, os noventa e nove nomes de Alá.

Dante está imerso neste universo místico de Medioevo , tingido de alquimia e hermetismo. Ele se interessa por especulações cabalísticas e as transcreve em suas obras.

O inferno é o sofrimento físico de Dante. Seus bens foram confiscados, ele é espoliado, arruinado, banido, ameaçado com a estaca, forçado a viver às custas de seus protetores. Ele vai para o exílio, mas é florentino e nunca deixará de vivenciar a distância como uma tortura, uma dilaceração. Veremos ainda que a cidade de Florença é onipresente no poema.

O inferno é o sofrimento emocional de Dante, a morte de Bice, nunca consolada. É luto que os hebreus traduzem por ab ao qual a Gematria, ou seja, o valor numérico das palavras atribui o número 33 pela adição das letras que o compõem: א aleph = 1; בbete = 2; ל lamed = 30. Purgatório onde as almas definham “ in igne purgatorio ” – pelo fogo do purgatório, carrega a noção de destruição, o hebraico b’al cujo acréscimo das letras, beth, aleph, lamed também dá o número 33 O Paraíso, onde Dante encontra Beatriz, é a fonte da vida, o hebraico g'l que também corresponde ao número 33 pela adição de ג ghimel = 3 e lamed.

Vimos anteriormente, a estes três vezes trinta e três capítulos, Dante acrescenta um centésimo em forma de prólogo ao Inferno. O número 100 representa uma unidade, um todo coerente, ele próprio parte de um todo, um microcosmo dentro do macrocosmo. Dante provavelmente é iniciado na Gematria; sua amizade com Immanuel ben Salomon, estudioso e poeta judeu, reforça essa impressão. A comunidade hebraica é grande às portas de Florença, embora, desde o Concílio de Latrão, os judeus tenham tido de usar a rouelle, um distintivo sinal amarelo nas suas roupas.

A hostilidade da Igreja para com eles não pode impedir que as grandes cidades marítimas ou comerciais contraiam empréstimos. Sendo os empréstimos de usura proibidos aos cristãos, as farmácias judaicas tinham o dinheiro necessário para as trocas comerciais. Immanuel ben Salomon é fluente em latim, hebraico e italiano. Exegeta de numerosos livros da Bíblia Hebraica, é também autor do poema Ha-Tofet ve ha-Eden - Inferno e Paraíso e o primeiro de seus textos diz respeito à correspondência simbólica entre números e letras do alfabeto hebraico. Gematria, o simbolismo dos números, é de uso comum entre os judeus. Assim, 100 corresponde à letra Q, ק, qôf à qual são atribuídos vários significados. Qôf é composto pela letra כ kaf (a palma da mão) que simboliza a energia interior e uma barra vertical que evoca o caminho da Luz às Trevas. Através desta energia cruzaremos qôf, o fundo da agulha, a porta estreita, a última antes do Reino. Qôf, inicial de qadosh – santo , nos alerta: ao buscar a santidade corremos o risco de descer à impureza. 100 é de fato o número que unifica o Céu e o Inferno.

A estrutura do poema é baseada no terceto, uma estrofe de três vezes três versos de onze pés alternados por três, ABA – BCB – CDC

No meio do caminho de nossa vida,

mi ritrovai para uma selva de arkura,\

ei a direção via era smarrita.


Ahi quanto a dir qual era è cosa dura

esta selva selvaggia e aspra e forte

che nel pensier rinova la paura!


Tant'è amara che poco è più mort;

ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,

dirò de l'autre cose ch'i' v' ho escorte.


Esta forma de tercetos recebeu o nome de terzina incatenata ou terzina dantesca . Lembraremos de passagem a disposição de dois números perfeitos que nada devem ao acaso: 3 e 9.

Já falamos bastante sobre o ternário e seus múltiplos sem que haja necessidade de expansão, a menos que copiemos o dicionário de símbolos. Para Dante, 9, um número perfeito, é o número de Beatrice. Ele tinha nove anos quando se conheceram e a viu novamente nove anos depois, no nono dia do mês.

Nesta segunda parte encontramos a maioria dos números simbólicos. É difícil listá-los todos porque são muitos. Por exemplo, na imaginação do poeta, o Inferno é composto por nove círculos concêntricos, três demônios ou três fúrias guardam certos círculos, sete portas fecham sete recintos e a viagem de travessia durará sete dias.

Dante começou a escrever a Comedìa desde os primeiros dias do exílio, por volta de 1306, alternando com outros escritos, mas situa a sua viagem ao Inferno seis anos antes, durante os sete dias da Semana Santa, durante o primeiro jubileu da história cristã, o de o ano 1300. Esta “ anti-data ” permite ao poeta relatar acontecimentos importantes ocorridos em Florença na época do seu exílio como se estivessem para ocorrer.

Acima de tudo, permite-lhe – neste momento é necessária prudência – recolocar-se no seio da Igreja, já que se refere ao primeiro jubileu da história, ordenado pelo Papa Bonifácio VIII para o último ano do século XIII. Durante o Ano Jubilar, os peregrinos viram os seus pecados redimidos. Talvez no sentido religioso do termo, mas também e sobretudo porque esta redenção aumentou o tesouro papal.

A palavra jubileu, do latim jubilare , exultar, refere-se ao período de sete vezes sete anos estabelecido pela Torá, (Levítico 25), ao final do qual um quinquagésimo ano, anunciado pelo som de uma buzina, o Yobel , permitiu o resgate de propriedades e a libertação de todos os escravos. O Papa estabelecerá o jubileu a cada cem anos em resposta aos temores do fim do século. Será então reduzido para cinquenta anos em referência ao Antigo Testamento, depois para trinta e três anos para permitir que cada geração compre indulgências e enriqueça o tesouro da Igreja. Vemos, são os números que se impõem à história.

O inferno é a expressão do sofrimento espiritual de Dante que mostra que apesar das suas posições contra a omnipotência espiritual e temporal do Papa, apesar do exílio, ele não quer romper com a Igreja Romana, cujas sanções teme. A história das tragédias valdenses, bogomilas e albigenses chegou até à Toscana, Bolonha e Florença, onde a Inquisição era todo-poderosa.


No mezzo del cammin de nostra vita

Mi ritrovai per una selva dusk,

Ché la diritta via era smarrita.


No meio da nossa vida

me encontrei numa floresta escura

Onde a estrada reta havia desaparecido.


Dante afirma ter se extraviado: eu estava nas trevas… Afastei-me do caminho reto e parece estar me corrigindo para não incorrer na estaca. E para marcar claramente a sua deferência para com a Igreja, cita quase na íntegra como primeiro versículo do Inferno , versículo do Livro de Isaías (38,10) que faz o rei de Judá, Ezequias, dizer: “ No meridiano dos meus dias irei até as portas do Inferno .”

Nós o acompanhamos em sua jornada.

Para aqueles que ainda não têm a oportunidade de decifrar todas as nuances das linhas que se seguem, tomo emprestada de Mateus 13:43 esta cautelosa advertência: “ Quem tem ouvidos para ouvir, ouça… ”

Saindo da floresta de vícios que obscureciam sua visão, Dante descobre na luz uma colina banhada de sol para a qual se dirige. Mas três animais selvagens bloqueiam seu caminho: uma pantera, alegoria da luxúria, um leão, símbolo do orgulho, e uma loba, imagem da avareza. Três dos sete pecados capitais. Dante deve, portanto, dar um passo para o lado, um desvio no seu caminhar e abrir mão do caminho mais curto para chegar ao Paraíso.

A sombra de Virgílio aparece e o faz entender que para acessar o Reino Celestial terá que percorrer o caminho mais difícil e cruzar o Submundo. E para tranquilizar Dante, Virgílio conta ao poeta que foi enviado por Beatriz para guiá-lo em sua longa caminhada. É a Razão (Virgílio, o filósofo) que deve guiar as nossas ações; é a Paixão (Beatrice, amor) que os move. Dante, grande admirador de Virgílio, lembra que, no canto VI da Eneida, o poeta grego narra a descida de Enéias ao Inferno, sob a orientação de Sibila. É portanto lógico que Dante apele à alma de Virgílio para esta viagem iniciática ao interior da Terra.

O Inferno foi criado pela queda de Lúcifer, o Arcanjo caído atirado das alturas do Céu. Não podemos deixar de estabelecer aqui a ligação entre o poema de Dante e o Apocalipse de João: “ Vi uma estrela (luci ferens) que do céu havia caído na terra. Foi-lhe dada a chave do abismo . (Apocalipse 9.1) Notaremos também uma certa analogia no uso de símbolos apocalípticos por Dante.

O Inferno é concebido como o Sheol da tradição hebraica, um poço de trevas nas profundezas ardentes da Terra (Deuteronômio 32.22) e se apresenta na forma de um cone invertido cujo eixo passa por Jerusalém, um gigantesco funil, dividido em nove circulares, terraços concêntricos que se estreitam nos abismos da Terra; cada andar sendo separado do seguinte por altas falésias. Estes nove círculos estão divididos em três zonas, cada uma correspondendo à gravidade crescente dos pecados e culminam, no centro do Universo, na residência de Lúcifer.

Dante, certamente imbuído da cultura judaica de Immanuel Ben Salomon, dá uma descrição do Inferno semelhante à dada no livro de Enoque: “ …cheguei a um rio de fogo que corria como água e desaguava no grande mar ocidental. Vi todos os grandes rios e logo cheguei no meio da escuridão; nestes lugares onde toda a carne emigra; Eu vi as montanhas da escuridão... "

Lembraremos que este texto apócrifo, não reconhecido pelo cânone cristão e então rejeitado pela ortodoxia hebraica, serviu de base, cerca de duzentos anos depois de Dante, para o trabalho de John Dee sobre o ocultismo e a filosofia hermética e abriu caminho para o primeiro Maçons especulativos ingleses.

Acompanhado de seu guia, Dante chega às portas do Inferno. O inferno, como já dissemos, também é o luto perpétuo pela morte de Bice Portinari. Dante, o inconsolável, identifica-se com esta porta e idealiza a sua dor, como idealizou o amor:

Per me si va ne l'etterno dolore.

Através de mim vamos para a dor eterna.

Em frente à entrada da caverna, uma inscrição aterrorizante alerta:

Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate.

Você que entra, sai toda esperança.

Então vamos entrar.

Dante e Virgílio entram numa espécie de vestíbulo, um Ante-Inferno onde vagueiam os indecisos, os indolentes. Covardes demais para acessar o Paraíso, eles nem sequer são dignos de ir para o Inferno. É aqui que coloca o Papa Celestino V, que não resistiu a Filipe, o Belo e renunciou em 1294, após cinco meses de pontificado. Sua deserção, conhecida como a “ grande recusa ”, é encontrada nos versos 59 e 60 do Canto III:

Vidi e conobbi l'ombra di colui

Che fece per viltate il gran rifiuto.


Vi e reconheci a sombra daquele

Que por covardia fez a grande recusa.

Não é tanto a demissão de Celestino V que Dante aponta aqui, entre os covardes; é antes o facto de esta grande recusa ter levado Gregório VIII, o arquitecto do seu banimento, ao trono papal.

Às margens do Acheron, o rio do submundo, o barco do barqueiro Caron aguarda as almas para serem conduzidas. Dante desmaia.

O Quarto Canto abre no primeiro Círculo, o Limbo onde vagam sem sofrimento aqueles que não puderam ser batizados, as crianças e os poetas antigos que não puderam vivenciar o batismo cristão: Homero, Ovídio, Sócrates, Platão, Ptolomeu, Sêneca, Avicena, sem poder citá-los todos. Dante e Virgílio param aos pés de um castelo, símbolo do Templo da Fama, rodeado por sete paredes representando as sete artes liberais: gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música e astronomia e aberto com sete portas representando os quatro cardeais virtudes: prudência, continência, justiça e coragem e as três virtudes especulativas: ciência, inteligência e sabedoria. Pensar no número 7 é familiar para nós. União do divino (3) e do terreno (4) é utilizado em todas as obras esotéricas, em numerosos livros sagrados, no Apocalipse já citado e na abordagem maçônica.

Uma nova estrada leva Dante e seu guia ao segundo Círculo, guardado por Minos, o juiz do Submundo. Lá, os lascivos sofrem, atormentados pela carne e condenados a um furacão perpétuo: Cleópatra, Helena, Lancelote. Lembramos que Dante enumera os pecados por ordem de gravidade. A luxúria, primeiro pecado capital, seria portanto uma falta venial...

Muito mais grave é o segundo pecado capital que conduziu as almas ao terceiro Círculo, a gula. Os glutões definham em um pântano sob uma chuva de água barrenta, sob os cuidados de Cérbero, que

Contra gole canimente latra

Late como um cachorro de três bocas

Dante usa o pretexto deste pecado para que um homem chamado Ciacco, um personagem guloso de Florença, dê conhecimento dos problemas que destruirão a cidade em três anos, ou seja, em 1303 (lembremos que a viagem ao Inferno deveria ocorrer em 1300):

O aperitivo é adequado para qualquer

compartimento subterrâneo fechado ou armazenado de outra forma.

Depois esta facção deve sucumbir

Antes dos Três Sóis e a outra deve vencer.

Outro lembrete do número três. Giacco anuncia a Dante que é através de três vícios, três pecados capitais, que Florença será incendiada:

Soberbo, invidia e avarizia são

Le tre faville che hanno i cori accesi

Orgulho, inveja e avareza são

as três brasas que incendiaram os corações.

A estrada desce um grau. Início do Canto VII. Dante e Virgílio chegam ao quarto círculo, guardados por Plutus, o deus da Riqueza. Neste terraço circular, giram em sentidos opostos, em duas colunas, os avarentos à esquerda, os desperdiçadores à direita, empurrando pilhas de pedras à sua frente. Eles colidem no ponto de encontro, voltam e colidem novamente na extremidade oposta. Indefinidamente. Virgílio explica a Dante a inanidade da Fortuna terrena que os condena:

Mal ouse e mal tener o mundo pulcro

Ha tolto loro.

Gastar mal e poupar mal

privaram-nos do Paraíso.

Através de uma vala de água negra e fervente, os dois companheiros chegam ao quinto círculo. No fluxo lamacento do Estige, três novos pecados são revelados a eles: os irados que rasgam sua carne em pedaços, os ressentidos que chafurdam na lama pútrida e os melancólicos que lamentam preguiçosamente.

Dante, assustado com esta viagem, agradece a Virgílio por tê-lo levantado sete vezes quando caiu, afirmando assim a sua pureza. Parece de fato que esta é uma nova referência ao Antigo Testamento onde lemos em Provérbios, 24.16: “ Porque o justo cai sete vezes e ressuscita; mas os ímpios tropeçam na desgraça .”

Phlegyas, o barqueiro do Estige, conduz-nos para o outro lado do pântano de onde avistam, abaixo, os terraços do sexto círculo e a cidade de Ditè. Aí termina o Inferno Superior onde os pecadores sofrem, punidos apenas pelas suas paixões, aquelas que as suas mentes não conseguiram controlar. Aí começa o Inferno Inferior, onde os pecadores definham, punidos por sua malícia, a soma de suas más ações cuidadosamente consideradas.

Dante iguala Ditè, a cidade de Lúcifer, ao próprio Lúcifer. O nome Ditè ou Dispater é inspirado no nome de Júpiter. Zeus Pater, Jus Pater ou Júpiter é a representação do universo celeste: o que está acima. A cidade de Ditè ou Dis Pater, Ditis Pater, é o reinado das divindades ctônicas, Plutão, Sucellos, Mestres das Forjas do Inferno: o que está abaixo. Dis Pater, remete à noção de disputa, de divisão.

O σύμβολον, o símbolo que une o que está disperso, se opõe ao διάβολον, o diabo, literalmente aquele que divide. É por isso que este sexto círculo é o dos cismas, dos heresiarcas. Contudo, o cismático não é necessariamente aquele que se separa da igreja mãe; ele é também, em termos velados, aquele que divide a sua igreja.

Chegando sob as muralhas da cidade, no topo de uma torre em chamas, três Fúrias ensanguentadas os ameaçam. Virgílio reconhece as Erínias, filhas da Noite e as nomeia: Megera, Alecto e Tisífone. Eles convocam a Medusa para bloquear o caminho dos dois viajantes. Dante fica com medo. Virgílio o apoia, lembrando-lhe que foi Beatrice quem o enviou. A cena lembra um ritual. O Mestre – Virgílio – ao virar as costas às Fúrias, obriga Dante a virar-se e cobre os olhos. Dante dá as costas à escuridão, mas ainda não consegue olhar a luz de frente.

A intervenção de um anjo afugenta as Fúrias (dissipa as trevas). Dante pode finalmente olhar para cima sem medo. Juntos, os dois companheiros entram na cidade onde queimam os sepulcros dos hereges. Lá eles encontram os epicuristas que professam que a alma morre com o corpo, e os sectários albigenses e valdenses.

Um caminho os leva até a beira de um vale, sempre um pouco mais próximo do centro do Inferno. No Canto XI, Virgílio conta a Dante o que o espera nos próximos três círculos.

O sétimo círculo é o dos violentos. Ele próprio está dividido em três recintos mais estreitos, os Girons. Na primeira dobra, o Minotauro e os Centauros torturam os violentos contra os outros em um rio de sangue ardente, o Flegeton. Ao longo dos tempos e em muitas culturas, a referência ao sangue sempre carregou a conotação de contaminação; mais do que a morte física, é a morte moral que o sangue representa.

Na segunda vertente, os suicidas, violentos contra si mesmos, são torturados. As Harpias arrancam as folhas dos suicidas transformadas em árvores. Na terceira volta de areia ardente, deparam-se sucessivamente com os blasfemadores, violentos contra Deus, depois com três sodomitas, violentos contra a natureza, condenados a circular em círculo sob pena de ficarem imobilizados durante cem anos, por fim os usurários de quem é difícil adivinhar que violência horrível os levou até lá.

Carregados nas costas de Gerião, dragão de três cabeças e três corpos, os dois companheiros mergulham seguindo uma espiral de cem circunvoluções antes de chegar ao vale do oitavo círculo, o lugar do Inferno chamado Malesbolges: o dos enganadores. Está dividido em dez poços, os Bolges, ligados entre si por pontes que conduzem a um poço central. Cada pit mantém uma categoria de fraudadores, por grau de gravidade:

- na primeira, Jasão e os sedutores fogem, assediados por demônios que os açoitam;

- na segunda, no meio de uma fossa de excrementos, os bajuladores se flagelam;

- no terceiro, mergulhados de cabeça em poços em chamas, sofrem os simoníacos que vendem os bens da igreja. Aqui, Dante acerta contas remotamente com outros dois papas: Bonifácio VIII, a quem Dante descreve como lascivo, responsável pela excomunhão dos Fraticelli, mas que é sobretudo aquele que pronunciou o seu banimento; Clemente V, seu sucessor, que trocou Roma por Avinhão, culpado de ter exterminado a ordem dos Templários;

- na quarta cova, os adivinhos andam em círculo para trás, com a cabeça deslocada para trás porque professavam prever o futuro;

- a quinta cova é ocupada por funcionários corruptos guardados por demônios num lago de piche ardente;

- no sexto poço vagam os hipócritas, fortemente carregados de mantos de chumbo dourado. Entre eles, Caifás, o Sumo Sacerdote, Ana, o Sumo Sacerdote, e os membros do Sinédrio que condenaram Cristo são eles próprios crucificados em três estacas fincadas no chão;

- na sétima cova, os ladrões, nus, tentam fugir das cobras que os consomem com suas mordidas. Neste canto, a serpente se transforma em homem, o homem se transforma em serpente;

- na oitava cova, os pérfidos conselheiros estão envoltos em vestes de fogo;

- na nona cova, os cismáticos, semeadores de discórdia, são desmembrados com espadas;

- o décimo e último poço contém os falsificadores, os falsificadores são vítimas de doenças terríveis.

Com o trigésimo segundo canto do poema, Dante e Virgílio chegam ao nono círculo do Inferno, o dos traidores duplamente enganadores. Este último círculo está dividido em quatro recintos.

No primeiro, no recinto dedicado a Caim, os Caïna, estão enterrados no gelo aqueles que traíram os pais e cujas cabeças baixas só se projetam de um lago congelado, o Cocytus.

No segundo recinto, os Antenora, em homenagem a Antenor, traidor troiano, sofrem o mesmo destino daqueles que traíram a sua pátria.

O terceiro recinto, o Tolomea, dedicado a Ptolomeu IV, perseguidor do povo judeu, encerra os traidores aos seus convidados. Estes já estão no Inferno, embora seus corpos ainda estejam na terra. Suas cabeças estão jogadas para trás e as lágrimas congelam em seus olhos.

O trigésimo quarto e último canto do Inferno conduz os dois companheiros ao quarto e último recinto, a Giudecca, a morada de Judas, onde os traidores do seu benfeitor estão inteiramente cobertos de gelo. Lúcifer está no centro deste último círculo. Dotado de três faces: uma vermelha, uma amarela e uma preta, com suas três bocas devora as cabeças dos três maiores traidores da História: Judas Iscariotes, traidor de Jesus; Brutus e Cassius, traidores de Júlio César.

Terminada a jornada, Dante e Virgílio escorregam para trás em um longo túnel antes de emergirem do outro lado do hemisfério:

E quindi uscimmo a riveder le star

E através disso saímos para ver as estrelas novamente.

Esta última frase, símbolo da Luz celestial após as Trevas, resume a abordagem de Dante. Observe que cada um dos três cânticos, Inferno, Purgatório e Paraíso, termina com esta palavra “ stelle ” que indica claramente a importância do ideal de pureza.

O que nos diz Dante neste primeiro Cântico da Comédia ? A soma dos vícios que assombram o homem. De um simples pensamento lascivo ao horror da traição. Supõe-se que esses metais tenham sido depositados na porta do Templo.

Certamente, Dante não era maçom. Pelo menos, não no sentido que entendemos hoje. Mas uma leitura cuidadosa da Comedìa revela, como observei no início deste enredo, que ele foi certamente o iniciado de uma Ordem esotérica, provavelmente a famosa ordem terceira leiga dos Franciscanos.

Se ele castiga, ao cruzar o sexto círculo, os hereges bogomilos, albigenses (ainda não dissemos cátaros) e valdenses, ele ainda assim acerta suas contas, visitando o oitavo círculo, com a igreja de Roma que ele considera responsável pelos cismas . Lembremos que no momento em que escreveu este texto, Dante estava condenado ao desterro perpétuo pelo seu compromisso contra o poder temporal do Papa. A pira da Inquisição o espera. A cautela prevalece.

Porém, durante o nono canto, ele alerta o leitor para não interpretar o texto literalmente, fazendo com que seu Mestre, Virgílio, diga:

Ó voi, che avete gl' intelletti sani,

Mirate la dottrina che s'asconde

Sotto il velame degli versi strani!

Ó você, que tem pleno entendimento,

Olhe para a doutrina que está escondida

Sob o véu de versículos estranhos!

Este aviso é, literalmente, cabalístico. Procure as palavras abaixo das palavras. Há, sob o texto visível, uma segunda leitura reservada aos Iniciados.

Para concluir, não é por acaso que Dante inicia a sua obra, a Comedìa , com o Inferno. Revela-nos que por baixo da ilusão honrosa que queremos exibir, a laje branca do mosaico de pedra, por vezes, muitas vezes, esconde sempre um aspecto menos glorioso, o lado oculto, a laje preta. Cada um dos personagens mencionados no Inferno ocupou, durante sua vida, um lugar invejado. Porém, sob o prestígio da respeitabilidade, sua escuridão os levou ao Inferno.

Porém, o viajante e seu guia, de alma pura, guiados pela bem-aventurança de Beatriz, atravessaram sem danos o mundo do submundo para chegar à άποκάλυψις, a revelação. Tal como as nossas viagens iniciáticas, saímos das trevas do Gabinete de Reflexão como pessoa secular, com este convite: “ Visita Interiora Terræ Rectificandoque Invenies Occultum Lapidem – Visite o interior da Terra e endireitando-se descubra a pedra escondida ”.

Cada círculo do Inferno é como muitas mortes rituais. Tantos passos dados em direção ao conhecimento, tantos passos, passo após passo, inexoravelmente em direção à Luz.

Um verso encerra o canto XVI, aquele que descreve o sétimo círculo.

Suponho que você gostaria que eu aplicasse isso ao meu discurso:

Dée l'uom chiuder le labbra fin ch' ei puote...

O homem deve fechar a boca o máximo possível...


Fonte: Biblioteca, Redaelli