junho 30, 2024

SALMOCAST 133


 

UM LABIRINTO INSONDÁVEL - Newton Agrella



O Universalismo de nossa Ordem Iniciática a cada pouco impõe-nos a nos questionar:

Por que fui iniciado Maçom? 

Para que é que isso serve? Como a Maçonaria pode contribuir para um mundo melhor, mais humano, mais solidário, mais fraterno, mais equilibrado ?

É possível ?

Naturalmente que não se vão dar respostas a estas frequentes inquietações, porque à medida que o tempo passa, são maiores as dúvidas do que as certezas, o que, provavelmente, tornar-se-ão irrelevantes para futuras gerações maçônicas.

Gostaria, apenas e tão  somente de compartilhar estas mesmas inquietações, se isso me for permitido. 

Será que a protocolar, porém legítima resposta: 

*"M.'.I.'.C.'.T.'.M.'.R.'."* de algum modo poderia aquietar nossos anseios ?

É fato que há pessoas, espalhadas pelo mundo capazes de nos acolherem, de nos reconhecerem e de nos identificarem como um legítimo maçom.

Porém, a pergunta mais incômoda que eu me faço é:

"O que as pessoas esperam de mim ?"

A rigor, o que nos liga, na inércia do sistema de estarmos vivos, é a ânsia daquilo que nos separa.

Reunimo-nos, corporativamente, para encontrarmos abrigos para o que nos separa. 

Afirmamos a diferença mais do que a semelhança. 

Vale lembrar que a Fraternidade reside no extremo do mutualismo.

Parece inequívoco que a Maçonaria Especulativa acredita numa sociedade laica, em que os valores da cidadania e do humanismo se sobreponham aos interesses e aos valores de uma comunidade religiosa.

Mas, em toda a história da Maçonaria, e mesmo na história contemporânea, encontramos obreiros laicos, agnósticos e outros de grande profundidade religiosa, compartilhando os trabalhos de Loja, unidos sob a mesma cadeia de união.

Isto quer dizer que os valores que nos ligam são mais fortes e consistentes do que os que eventualmente nos separam.

Não vai aí nenhum tipo de sofisma ou falácia afirmar ainda que os credos religiosos, as opiniões políticas, as idiossincrasias culturais que definem a individualidade de cada Maçom, subjazem aos elevados valores humanos e sociais que os conectam nessa sólida cadeia universal. 

A Maçonaria Universal tende para o reconhecimento da diferença e da especificidade cultural de cada Obediência. 

"Talvez" a Maçonaria não seja, e nem nunca será regular, liberal, adogmática, operativa, especulativa, republicana, laica, monárquica, anarquista, socialista, mista, ou libertária.

Ela foi, e será sempre, "Universal", alerta às mudanças culturais, eixo dos ideais sobre os valores que persegue, em cada momento histórico do mundo profano. 

Percorrer esse labirinto insondável que nos remete a dúvidas e inseguranças é um combustível eficaz para que exercitemos o pensamento como o instrumento mais poderoso de um franco-maçom.



E AGORA ??? - Adilson Zotovici









Após tanto desbastado

Do meio dia à aurora

De neófito ao mestrado

Paira a pergunta;... e agora ?


Quiçá mesmo embaraçado

Que não questionado outrora

Inda que me empenhado

Para chegar essa hora


Disse um mestre calejado

Que nos serve de escora

Algo bem apropriado:


Segue em frente, sem demora,

Que eterno o aprendizado,

E serve o saber que te aflora !



junho 29, 2024

A INTEGRAÇÃO DO APRENDIZ (3 de 3) - Rui Bandeira



Se é dever e do interesse da Loja providenciar pela correcta e bem sucedida integração do novo Maçon, o processo, no entanto, é bidireccional: também o novo Maçon deve providenciar pela sua correcta e bem sucedida integração na Loja e na Maçonaria.


Essencial, desde logo, é a sua assiduidade. A Integração do novo Maçon é, em larga medida, efectuada com recurso a factores emocionais. A Cerimónia de Iniciação terá marcado o novo Maçon. Mas essa marca, se não for protegida, desenvolvida, acarinhada, desaparecerá com o tempo, com o desvanecer da memória, com o diluir das sensações experimentadas. Todo o processo de integração na Loja é, não só racional, como afectivo. A sua interrupção, o distanciamento dele, o desinteresse na sua prossecução, ferem-no de morte. A maior parte dos abandonos de Aprendizes – isto é, de falhanços no processo de integração de Aprendizes – decorre da sua deficiente assiduidade. Os laços, não só emocionais e afectivos, mas também desta natureza, que deviam ter sido criados, ficaram irremediavelmente comprometidos. A integração do novo Maçon é como a colocação de uma planta no jardim: se não for regada com a devida assiduidade, se não for cuidada, não pegará, definhará e secará. Mas, se receber os cuidados adequados, as suas raízes firmar-se-ão, crescerá e desenvolver-se-á e, a seu tempo, florirá e frutificará.


Não quero com isto dizer que a quebra de assiduidade irremediavelmente conduza ao desinteresse do novo Maçon. Já assisti a situações em que Aprendizes, logo a seguir a terem sido iniciados, se ausentaram, designadamente por razões profissionais, para longínquas partes do globo e só regressaram passado um ou dois ou, mesmo, mais anos e que, apesar disso, reiniciaram sua vida maçónica, tão precocemente interrompida, e completaram, com êxito, o seu processo de integração. Também conheço exemplos de plantas que, sem terem recebido os devidos cuidados após a sua transplantação, apesar disso resistiram, não secaram e, vindo mais tarde a beneficiar das condições que nunca lhes deveriam ter faltado, arribaram, recuperaram e cresceram. Mas, quer num caso, quer no outro, o esforço de recuperação do que quase se perdeu foi muito maior, mais fundas foram as preocupações, mais intensos foram os cuidados necessários.

Uma das mais básicas leis da Natureza é aquela que costumamos designar por “lei do menor esforço”: o máximo de eficácia resulta da melhor relação entre o resultado obtido e o esforço despendido. Também aqui se deve procurar maximizar essa relação. E essa maximização depende grandemente da assiduidade do novo maçon.


O segundo aspecto que deve merecer o cuidado do nóvel maçon respeita à gestão das suas expectativas. A Maçonaria não é uma varinha mágica que transforma um sapo num belo príncipe através do toque da Iniciação... E também não é, nem uma corte de extasiados súbditos determinados a apreciar as excelsas qualidades do novo elemento que, triunfador na sua vida profana, irá expandir sua glória entre os maçons, nem uma soberba estrutura de prestação de cuidados individuais que, num abrir e fechar de olhos, cuidará de suas deficiências, reparará seus complexos e o doutorará em Êxito Pessoal, Social, Profissional, Esotérico e Valências Correlativas... A Maçonaria é um meio, um caldo de cultura, um ambiente, um método. O seu aproveitamento cabe ao maçon, ao seu esforço, à sua capacidade, ao seu interesse.


Finalmente, o terceiro aspecto importante na integração do novo maçon, na perspectiva deste, é a Paciência. O maçon deve cultivar muitas virtudes – todas as Virtudes! Mas uma das primeiras a que deve dedicar seus esforços é a virtude da paciência. Na Maçonaria não há micro-ondas que aqueçam instantaneamente, ou quase, o coração dos seus elementos; a Maçonaria não é um aviário que faça crescer em poucas semanas a ave do conhecimento, para consumo massificado - desse crescimento acelerado só resultaria um insípido pseudo-conhecimento, de reduzido ou nulo valor nutritivo para o espírito do maçon. Na Maçonaria, dá-se atenção à eficácia, mas reconhece-se o imenso valor do tempo. Há que dar tempo para que se assimile um conceito, para que ele seja perfeitamente integrado no maçon, em termos racionais e emocionais, para que, só então, se avance para o passo seguinte. Os princípios e o método maçónicos vêm dos tempos do trabalho artesanal, do paciente burilar da pedra até que esta atinja a forma desejada, não se dão bem com prontos-a-vestir, prontos-a-comer e muito menos com prontos-a-conhecer...


Paciência, pois! O trabalho metódico, calmo, firme, seguro, persistente, dará seus frutos! Poderá não dar os frutos que, à partida, se pensava que desse, mas alguns frutos dará. E dará quando, tempo após tempo, for tempo de os dar! A nossa vida “moderna” habituou-nos a obter tudo já, agora e imediatamente, a querer tudo para ontem, para o podermos largar hoje e avançar amanhã para novos objectivos. A Maçonaria não é assim, a Maçonaria poderá ser hoje por alguns considerada anacrónica, mas dá valor ao Tempo, à Sequência, à Evolução, à Consistência.


E, afinal de contas, o que mais admiramos? O moderno, brilhante e construído em poucos meses edifício, ou a vetusta e arcaica catedral que demorou décadas a ser finalizada?


Assiduidade, expectativas equilibradas e paciência são as ferramentas que, utilizadas adequada e diligentemente pelo novo maçon, lhe conferirão a devida integração na Maçonaria. E, quando o novo maçon der por isso... já será maçon antigo e recordará com ternura o tempo em que era um inexperiente Aprendiz buscando encontrar na Maçonaria o seu lugar, sem estar ainda ciente que esse lugar é onde ele quiser, para onde ele for, onde ele estiver!



A INTEGRAÇÃO DO APRENDIZ (2 de 3) - Rui Bandeira



O primeiro nível de integração de que a Loja deve, de imediato, cuidar é o da integração social, porque, como é fácil de entender, condiciona todos os demais. Sem uma bem conseguida integração social no grupo, dificilmente se gera empatia, se criam e fortalecem afinidades, se geram amizades, enfim, se dá uma verdadeira integração do novo elemento no grupo.

A este nível, o processo de integração começa logo no ágape que se segue à sessão em que ocorreu a Cerimónia de Iniciação. Ao nóvel Aprendiz é destinado um lugar ao lado do Venerável Mestre. Como este tem assento na zona central da mesa dos ágapes, o novo Aprendiz está rodeado de vários elementos mais antigos da Loja. Procura-se que mais perto dele tomem assento Mestres experientes, se possível incluindo o 2.º Vigilante. A conversa flui descontraidamente entre todos. Não há melhor ocasião para conviver do que à volta de uma mesa, consumindo uma refeição... Nesse ambiente descontraído, o novo Aprendiz começará a conhecer os demais elementos da Loja. Comenta o que quiser comentar, pergunta o que precisar de perguntar, brinca-se e fala-se a sério, enfim, convive-se. O importante é que o novo Aprendiz se comece a sentir "mais um" daquele grupo. E assim se prossegue.

Outro aspecto importante da integração social do novo Aprendiz é a integração de sua família nos eventos em que as famílias dos maçons se reúnem, na medida em que isso seja possível. É muito mais fácil para o novo maçon prosseguir com a sua vida maçónica se tiver o apoio de sua família do que se tiver a oposição desta... Participar nas reuniões e outras iniciativas da Loja e da Grande Loja consome tempo - tempo que se subtrai ao convívio familiar. É importante que, de alguma forma, as famílias dos maçons sejam compensadas das ausências destes com algumas oportunidades de agradável convívio social, seja em jantares brancos - isto é, abertos às famílias -, seja em visitas ou viagens organizadas, seja no âmbito de qualquer realização da Loja. É importante que a integração do novo maçon envolva também a sua família. Até porque é um princípio básico da maçonaria que o cumprimento dos deveres familiares seja prioritário.

O objetivo final da integração social do novo maçon é que ele sinta a sua Loja, os seus Irmãos, como um espaço onde ele e a sua família podem estar seguros e confiantes, sem competições, sem atropelos, em fraternidade. Para uma bem sucedida integração social do novo Maçon é importante o papel do seu padrinho, mas indispensável o contributo de toda a Loja.

A outro nível, a Loja deve providenciar pela formação do Aprendiz. Deve apresentar-lhe os símbolos e providenciar-lhe as noções básicas para que ele os interprete, mas sempre tendo o cuidado de evitar dogmatismos. Mais uma vez, o objectivo não é ensinar, é que o Aprendiz aprenda. Neste aspecto é, consequentemente, muito importante que não se diga que X simboliza A. Aquilo que X simboliza deve ser apreendido, entendido, reflectido, encontrado, por cada um. X pode simbolizar A para mim, mas também pode simbolizar B para o meu interlocutor, ou C para outro qualquer maçon. Na formação do Aprendiz, proporcionam-se-lhe ferramentas, método - não dogmatismos. O objectivo é que o Maçon reflicta em si e no Mundo, no Material e no Espiritual, na Vida e na Morte, enfim, que procure encontrar o seu lugar na Vida, o significado da sua existência. É um trabalho nunca acabado. É um trabalho que se impõe que o Aprendiz maçon comece. Neste percurso de reflexão utilizando a simbologia, deve-se auxiliar o maçon que nos pede auxílio ou opinião, nunca se deve impor conceitos. Porque o conceito de meu Irmão é tão válido quanto o meu, na medida em que é aquele em que ele se sente confortável, como eu me sinto confortável com o meu. Cooperação e não competição. Aprendizagem, não ensino. Tolerância, não dogmatismo. Valorização da diferença. Discussão sã e amigável dos respectivos pontos de vista, não para impor a nossa maneira de ver ao Outro, mas para nos esclarecermos mutuamente sobre o que ambos pensamos e para aprofundarmos o nosso conhecimento sobre os conceitos em causa. Reflexão, reflexão e ainda reflexão. Estes são posicionamentos básicos que devem ser transmitidos ao Aprendiz. E com a sua apreensão e utilização por ele, todos estamos no mesmo comprimento de onda, todos estamos em sintonia, todo estamos integrados na mesma busca - mas, na realidade, cada um tem a sua busca particular, que não interfere nem se sobrepõe às dos demais...

Finalmente, o terceiro nível de integração do novo Aprendiz é a integração no Ritual. Propiciar que o novo maçon entenda que o ritual não é apenas uma repetição mecânica de palavras e actos, mas uma fonte, um guia, uma constante lembrança de conceitos, de normas morais, de chaves para interpretação de símbolos, é fundamental. O Ritual e o Catecismo de cada grau são ferramentas indispensáveis, fontes inexauríveis de alimento para o intelecto e o espírito, tesouros inesgotáveis de conhecimento especulativo que o Aprendiz tem à sua disposição. Estando a dar os seus primeiros passos na maçonaria, ainda só sabendo soletrar, terá a seu lado para o guiar, para o aconselhar, para o esclarecer (mas nunca para algo lhe impor) um experiente Oficial da Loja, o 2.º Vigilante, que tem a seu cargo, além do mais, a missão específica de acompanhar, orientar, supervisionar, os Aprendizes. E o Aprendiz tem também - sempre! - à sua disposição qualquer outro Mestre da Loja para lhe proporcionar a ajuda de que careça, o auxílio que solicite, o esclarecimento que peça.

Uma integração bem sucedida a estes três níveis será meio caminho andado para que o novo maçon sinta confirmadas as expectativas que tinha quando buscou juntar-se à Maçonaria. É dever da Loja proporcionar-lhe essa integração. É do interesse da Loja fazê-lo. É da essência da Maçonaria prossegui-lo.


A INTEGRAÇÃO DO APRENDIZ (1 de 3) - Rui Bandeira



Terminada a Cerimónia de Iniciação, começa de imediato o importante capítulo da integração do novo Aprendiz. Em bom rigor, essa integração tem já início no decorrer da própria Cerimónia de Iniciação. Mas disso, quase de certeza, não tem o novo Aprendiz consciência. Porventura, de tal se aperceberá (muito) mais tarde, quando, já completamente integrado, rememorar sua vida maçónica.

A Maçonaria organiza-se essencialmente em Lojas, grupos de maçons com ampla autonomia - mas estrita convergência de princípios -, que cooperam no aperfeiçoamento individual de cada um. A integração de um nóvel Aprendiz na Maçonaria corresponde, assim, à integração na Loja que o acolhe, no grupo de que passa a ser mais um participante.

Essa integração ocorre mediante um processo com dois sentidos: depende do esforço e da actuação da Loja perante o novo Aprendiz, mas também só é bem sucedida através da conduta e do posicionamento deste em relação à Loja.

Ao integrar um novo elemento, desconhecedor de muitas das idiossincrasias da realidade a que se juntou, a Loja, enquanto grupo, e cada um dos seus obreiros, individualmente, devem ter presente que essa transição é um processo de delicado equilíbrio: o novo elemento tem a categoria de Aprendiz, em sinal de que muito tem de aprender, no confronto e com o apoio dos mais antigos, mas deve ser, só pode ser, é, tratado num plano de estrita Igualdade com os demais membros da Loja; o novo Irmão é recebido com toda a afabilidade e familiaridade, mas deve ser, só pode ser, é, tratado com pleno e integral respeito da sua personalidade, da sua privacidade; o novo Aprendiz passa a dispor de um método de formação, de uma panóplia de conhecimentos, de um conjunto de ensinamentos e valores que lhe são relembrados, mas deve ser, só pode ser, é, respeitado na sua individualidade, nas suas escolhas, no seu pensamento, tudo se lhe facultando, nada se lhe impondo.

A integração de um novo elemento numa Loja não ocorre através do ensino àquele do que esta é; processa-se através da aprendizagem por ele dessa realidade. A Maçonaria não se ensina - aprende-se! Em Maçonaria, nada se impõe, tudo, desde que conforme aos seus princípios essenciais, se aceita. Em Maçonaria, não há interpretações ou pensamentos certos ou errados, e muito menos únicos. Em Maçonaria o pensamento individual, a crença de cada um, são integralmente respeitados e a diversidade é encarada como uma riqueza para o conjunto. A integração de um novo maçon na Loja, consequentemente, é um processo que deve ser, só pode ser, é, efectuado no pleno respeito da individualidade, da personalidade, das características, do novo elemento. Individualidade, personalidade e características que, juntando-se às que já existem no grupo, o enriquecem, o fortalecem, o diversificam, enfim, o melhoram.

Os maçons gostam de dizer que a Maçonaria pega em homens bons e fá-los melhores. Mas a inversa também é verdadeira: a integração bem feita, no respeito da individualidade do novo elemento, no grupo, na Loja, faz com que esse homem bom torne a Maçonaria melhor! Qualquer dessas melhorias ocorre naturalmente: não é a Loja que melhora o novo maçon - é este que se aperfeiçoa, no confronto com seus pares, com os princípios morais com que mais assiduamente se depara; a Loja, por seu turno, enriquece-se, melhora, cresce, qualifica-se, em função das melhorias, dos aperfeiçoamentos, de todos os seus elementos, recentes e mais antigos, quaisquer que sejam os seus graus e qualidades. Gera-se assim um círculo virtuoso em que o indivíduo beneficia do grupo para se aperfeiçoar e aperfeiçoa o grupo em virtude da sua própria melhoria.

A integração de um novo Aprendiz não é, assim, um mero processo de enquadramento. É uma verdadeira essencialidade da Loja. A integração do novo Aprendiz é o fermento que faz crescer a valia do grupo, é o cimento que liga a Loja, é o mastique que confere flexibilidade ao conjunto.

Uma Loja demasiado tempo sem Aprendizes é uma Loja estéril, um grupo sem perspectivas de futuro risonho. Será porventura constituída por muito Sabedores Mestres, por Fortes temperamentos, mas faltar-lhe-á a Beleza do acompanhamento dos esforços de quem ainda só sabe soletrar a Maçonaria, o estímulo dos seus progressos, a lembrança de que o esforço de aprendizagem, de aperfeiçoamento, não acaba com a ascensão à Mestria, não cessa com a experiência, não acaba com a antiguidade.

A integração bem feita de um novo Aprendiz não é, pois, apenas importante para este: é intrinsecamente uma necessidade vital da Loja. É por isso que nenhuma Loja maçónica se pode dar ao luxo de não providenciar pela correcta integração dos seus Aprendizes, não pode cometer o desperdício de os abandonar à sua sorte e aos acasos do seu desacompanhamento. E, se porventura, se der a esse luxo, se cometer esse desperdício, virá a pagar bem caro esse desmazelo!

Uma Loja maçónica não vive só para os seus Aprendizes, mas vive também, e muito, para eles. Porque o esforço de acompanhamento destes cimenta a unidade do grupo; porque a formação destes melhora a do grupo; no fundo, porque não são só os Aprendizes que aprendem com a sua Loja - esta também aprende, e muito, com aqueles.




junho 28, 2024

ONDE FLORESCEM ENSINAMENTOS MAÇÔNICOS...- Aldy Carvalho


"Onde florescem os ensinamentos maçônicos não vicejam a ditadura e a opressão”.

Todos nós somos dotados de capacidade intelectual que nos permite raciocinar ou simplesmente divagar. Mesmo sem perceber, ao raciocinar, praticamos o pensamento filosófico.

As Escolas Filosóficas foram criadas para ensinar não as conclusões a que chegaram seus mentores mas sim a maneira como chegaram a elas.

Ensinamento maçônico: "Tudo que se procura objetivar por subterfúgios será sempre um reflexo ilusório, imagem apagada da Grande Verdade que o iniciado busca contemplar face a face."

A tradição iniciática nos incute noções da verdade reconhecida em nossa Ordem como humildade perante a grandeza universal e nosso limitado conhecimento e como necessidade de continuamente aprendermos, discutirmos e evoluirmos.

Somos de uma Ordem que busca incessantemente tornar feliz a humanidade. Somos de uma Ordem com uma doutrina progressista, justa e que busca que se exercite a justiça com equidade. Sabemos que não temos a Verdade mas somos buscadores desta.

A Ordem nos apresenta noções da Verdade, quer pelo simbolismo, pela ritualística, pelo exemplo, pela evolução e pela oportunidade de representação de cargos ou mesmo pelo ensino de sua filosofia.

As consequências das guerras, o descaso com as discrepâncias sociais acentuadas no tempo presente, dão motivos para nos sentirmos desencantados com a moral atual, pois que falta humanismo. As histórias de intolerância, descaso, ódio, de falta de esperança do passado e do presente acentua a necessidade das sociedades que destas mazelas sofrem, de uma voz que reconhecendo sua dor e sofrimento demonstre compaixão.

Por conta das grandes guerras havidas e tantos conflitos a pulular no cotidiano, tem aumentado os flagelos sociais mundo afora inclusive o número de refugiados, pessoas que são obrigadas a deixar sua pátria, perdendo até a identidade por suas crenças religiosas, por questões de etnia, posições políticas. Estas cenas que nos comovem, constrangem e indignam nos forçam a refletir e pensar no que podemos fazer para atenuar estas questões.

A missão utópica da Maçonaria é realizar a Justiça no mundo pelo princípio da igualdade universal dos homens. 

Por conta desta e outras definições semelhantes, podemos entender que todas as tendências, correntes de pensamento e idéias que possam apontar o homem caminhando para a igualdade, sendo ele o criador e detentor das riquezas é o que se pode abraçar como causa justa, de progresso e evolução.

"Sabedoria, Força e Beleza são o complemento de tudo”, diz um ensinamento maçônico. “Sem elas, nada é perfeito e durável, porque a Sabedoria cria, a Força sustenta, a Beleza adorna. A Maçonaria combate a ignorância em todas as suas formas pois considera a ignorância mãe de todos os vicios e seu princípio é nada saber; saber mal o que sabe. Assim, o ignorante não pode medir-se com o sábio, cujos princípios são a Tolerância, o Amor Fraternal e o respeito a si mesmo. Eis porque os ignorantes são grosseiros, irasciveis e perigosos; perturbam e desmoralizam a sociedade, evitando que os homens conheçam seus direitos e saibam, no cumprimento de seus deveres, que, mesmo com constituições liberais, um povo ignorante é escravo. São inimigos do progresso, que, para dominar, afugentam as luzes, intensificam as trevas e permanecem em constante combate contra a Verdade, o Bem e a Perfeição."

Sou um cantador, um ser do sertão, e além dos laços que nos unem certamente sou vosso irmão de espírito pois que espirituais somos todos, como vós sou do Ocidente e trago Silêncio, tristeza e perseverança.

O silêncio por prudência e por honra. A causa de minha aflição é a lembrança do passado mas persevero na esperança fundada dos meus direitos que são os da Liberdade e da Justiça e os adquiri subindo e descendo a escada misteriosa.

Compreendo que a Liberdade, nula na criança, é apenas perceptível ao selvagem.  "Mesmo entre os povos mais compenetrados da alta cultura moderna, ela, a Liberdade, ainda luta com as dificuldades do atavismo e com as exigências da vida. Sua esfera, entretanto, aumenta com o progresso da civilização; um dia virá em que se verá reduzida ao mínimo a parte da hereditariedade e do meio da determinação das vontades. Cada qual se fará por si mesmo. Será então para o gênero humano, o verdadeiro reino da Liberdade e da Razão, da Justiça e do Amor".

Rogo ao G.’.A.’.D.’.U.’. que nos dê Luz para compreender em essência a doutrina que um dia juramos abraçar para que frutifiquemos no seu propósito.

Não importa onde já chegamos mas para onde estamos indo, contudo, se não soubermos caminhar, construir o caminho, fatalmente nos contentaremos com qualquer lugar. Os ambientes e circunstâncias podem nos influenciar mas ainda assim, somos nós responsáveis pelas nossas escolhas.

A Paz a Harmonia e a Concórdia formam a argamassa que liga toda a Grande Obra da Maçonaria.

Que o G.’.A.’.D.’.U.’., a todos nós, ilumine por igual.






A RESISTENCIA CULTURAL DE EPICURO AO PARTIGIANO - Ivan Froldi Marzolo




Uma premissa se faz necessário antes de emergirmos neste ensaio, a definição de educação sob o viés Educação como Gênero onde temos duas espécies Escolarização como parte da educação e adquirida junto a  cátedra escolar como discente  e a espécie Educação cuja é resultante da criação e transmissão valores, princípios, usos e costumes que vem de berço. A vanguarda de nossos dias confunde e terceiriza a responsabilização deste gênero e mitiga o mister daquele gênero cujo é o único de responsabilidade do catedrático. 

 Liberdade só vem com a capacidade crítico reflexiva 

A doutrina de Epicuro surgiu em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-Estados gregas após a derrota da Batalha de Queroneia. Primeiro por Felipe e depois do Alexandre da Macedônia.  A vida social na Pólis era leviana e marcada pela injustiça social. O poder se concentrava nas mãos de poucos: a aristocracia urbana. Não havia felicidade entres os homens no contexto social, no qual as pessoas se interessavam estritamente pelas riquezas e pelo poder; no contexto religioso, no qual predominava a superstição, a religião tornou-se servil, cercada de mitos e ritos sem significação e também crescia a procura por oráculos e a crença em adivinhações. As pessoas gozavam dos prazeres mais supérfulos advindos das riquezas e, assim, eram relativamente felizes, pois estavam se esquecendo do que realmente proporciona a felicidade. Foi a partir disso que Epicuro criou sua doutrina contra a superstição e os bens materiais, voltada para uma reflexão interior e busca da verdadeira felicidade.

Essa doutrina é dividida em canônica, física e ética. Porém, as duas primeiras partes são esclarecimentos para a fundamentação da ética, visto que as ciências naturais só são importantes na medida em que servem de auxílio à moral. Nenhuma teoria é válida se não possuir um objetivo moral, o qual não possa ser aplicado na vida prática. A finalidade de sua ética consiste em propiciar a felicidade aos homens, de modo que essa possa libertá-los das mazelas que os atormentam, quer advenham de circunstâncias políticas e sociais, quer sejam causadas por motivos religiosos.

A Felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e dos desejos, de maneira que seja possível chegar à ataraxia, a qual representa um estado de prazer estável e equilíbrio e, consequentemente, a um estado de tranquilidade e a ausência de perturbações, pois, conforme Epicuro, há prazeres maus e violentos, decorrentes do vício e que são passageiros, provocando somente insatisfação e dor. Mas também há prazeres decorrentes da busca moderada da Felicidade.

Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações. Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade. E para alcançar a felicidade, Epicuro cria 4 “remédios”:

1. Não se deve temer os deuses;

2. Não se deve temer a morte;

3. O Bem não é difícil de se alcançar;

4. Os males não são difíceis de suportar.

De acordo com essas recomendações, é possível cultivar pensamentos positivos os quais capacitam a pessoa a ter uma vida filosófica baseada em uma ética. A felicidade se alcança através de poucas coisas materiais em detrimento da busca do prazer voluptuoso. O homem ao buscar o prazer procura a felicidade natural. No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade.

O sábio deve saber suportar a dor, visto que logo essa acabará ou até mesmo as que duram por um tempo maior são suportáveis. A conquista do prazer e a supressão da dor se dão pela sabedoria que encontra um estado de satisfação interna. A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens:

Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor;

Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer.

Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política;

Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens.

Enfim, todo empenho de Epicuro tinha como meta a felicidade dos homens. Nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reinava a alegria e a vida simples. A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções. Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, pois ele não se restringiu apenas ao sentimento e ao prazer como normas de moralidade, mas foi muito além de sua própria teoria, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia. Voltar ao jardim interno, o templo interior onde se constroe o prazer, os bons sentimentos,o amor por nossos semelhantes, se retira a má água e se flui o saber divinal .

As cidades Estados se tornaram parte do Grande Império da Macedônia e a forma do prazer interno e o culto intelectual era uma forma de sobrevivência, naquele tempo não se podia ascender materialmente pela grande disputa que se tornou pela riqueza a qualquer preço isso ocorreu à cerca de 336 a.c, outra premissa:

Os partigianos são os partisans da Itália, grupos organizados de resistência contra o fascismo na Europa. Mas a origem é mais antiga: vem das guerrilhas que existiam desde as guerras napoleônicas. Já o termo partisans surgiu na Espanha durante o regime de Franco nos anos 30. No entanto, eles ficaram mais conhecidos no Leste Europeu durante a Segunda Guerra.

Entre as características desse movimento, estão emboscadas, sabotagens e interceptações de mensagens, além do uso de armas brancas para ataques e execuções. São, portanto, a resistência armada contra governos autoritários formada, de modo geral, por soldados desertores e todos os tipos de civis, de todo tipo de ideologia política. Mulheres, religiosos, comerciantes, anarquistas, socialistas e até monarquistas foram partigianos.

Em comum, eles tinham a vontade de libertar o país do fascismo. Mesmo que lhes custasse a morte.

Assim como os partisans da Espanha surgiram durante o governo de Franco, os partigianos na Itália já existiam desde a ascensão do fascismo nos anos 20 de Mussolini. No entanto, eles ficaram mais organizados durante a II Guerra Mundial, quando a Alemanha invadiu a Itália após o Armistício de Cassibile.

Não foi propriamente um cessar-fogo, mas uma rendição da Itália. Assim, as tropas alemãs avançaram por toda a península, causando uma desestabilização forte do governo e desarmando e aprisionando o exército. A resistência veio dos partigianos, com a criação do Comitê de Liberação Nacional, e há uma estimativa de que mais de 300 mil pessoas tenham feito parte do movimento.

Aliás, a resistência popular foi notória nessa época: em Nápoles, após quatro dias de batalha, foi a população que expulsou os invasores alemães.

Os partigianos atuaram até o fim da Guerra, em 1945, com a rendição da Alemanha. Pode-se até dizer que eles deram origem à República Italiana, já que, após a dissolução da Resistência, a Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Italiana foi formada principalmente por membros do CNL. Além disso, ela foi calcada na democracia e no antifascismo. Outro resultado da influência dos partigianos foi o fim da monarquia italiana em 1948.

Considerações finais 

O contexto histórico da resistência foi um tempo que se fazia necessário este enfretamento,  hoje vivemos em uma sociedade Cosmopolita que assim como as cidades estados quando perderam sua identidade ao firmar-se como parte do Grande Império da Macedônia.  A resistência hoje se dá pelo saber, pelo amor a cultura e o conhecimento não se pode abater a inteligência pela ignorância. O dever diário do adepto do Jardim de Epicuro é trabalhar com ambição querendo e produzindo frutos de sua realização e ascenção social para cada vez mais exercer a capacidade do ser político que pode ser exercida no Oikos ou na Polis , mas não com o contrario da ambição que é a ganância que sucumbe e faz a pessoa a qualquer preço chegar ao resultado desejado sem uma luta honrosa e moral. Sob outro viés,  a atual resistência Partidiana é uma cruzada pelo empirismo, pelo combate ao senso comum, pela elevação do staff cultural dos que nos cercam buscando agregar sabedoria e gerir troca de conhecimento entre as pessoas, trazer a capacidade bélica da cultura minando as odes da ignorancia, levantemos pelo amor a sabedoria,  buscando respostas justapostas e confrontadas pela notícia, pela realidade e pelo contexto social reproduzindo o que tem suas fontes definidas e previamente checadas. Consignando na boca de todos os homens o saber ético verdadeiro . Essa é a resistência essa é a armata essa é a verdadeira revolução. O medo da origem ao mal, o homem coletivo sente a necessidade de lutar, são demônios os que destroem o poder bravio da humanidade. Orgulho, arrogância e glória enxem a imaginação de domínio.  Levantesse há um líder dentro de você,  encontre, conserve-ô , faça-ô falar .  

A Resistência Cultural Epicurista Partigiana lhe espera....aliste-se!!!



AFINAL DE CONTAS, O QUE É A MAÇONARIA? - Paulo André



" A única coisa do universo que não é neutra, é a intenção que você dá para a coisa"

O  que é uma moto? Para um é um objeto de lazer, para outro é um objeto de trabalho, para outro é um objeto de comércio, para outro é uma arma, mas ela é apenas uma moto, o que muda foi o destino que cada um dá, isso vale para rigorosamente tudo na vida

Em conversas com os IIr. é muito comum cada um dá a sua versão sobre a Ordem:

Para mim, Maçonaria, é benemerência! Para mim, Maçonaria é uma fraternidade. Para mim, Maçonaria é família. Para mim, Maçonaria é crescimento interior.........

Para cada um que pergunto, tenho uma definição diferente, cada um de nós está fazendo a Maçonaria do seu jeito, na base do eu acho

Para evitar isso, temos que responder, afinal de contas o que ela de fato é?

Na minha modesta opinião, ela foi feita para mudar o homem, mas invertemos essa lógica, e hoje o homem quer mudar a Maçonaria

Primeiro precisamos diferenciar Maçonaria é uma coisa, potência maçônica é outra, para fazermos uma comparação, o cristianismo é uma coisa, as igrejas são outra, o cristianismo é algo inefável que existe no plano espiritual, as igrejas são organizações humanas que trabalham ou deveriam trabalhar para que o verdadeiro cristianismo possa se manifestar

Conosco ocorre o mesmo, a Maçonaria é algo que existe num plano em que a mente humana não consegue sequer conceber, quanto mais alcançar, já as potências, são entidades humanas, que trabalham ou deveriam trabalhar para que a verdadeira Maçonaria possa atuar

A pergunta é, estamos conseguindo?

Se prestarmos atenção nisso veremos que existe uma diferença gigantesca entre ser M.M. e ser apenas Grau 3, ser Maçom, é bem diferente de ter uma carteirinha de associado

Maçonaria é um poder invisível, infinito, que tentamos colocar dentro da potência, que é algo visível e finita, missão nada fácil de compreender, quanto mais de realizar

Sem repetir bordões, sem definições de manual, do fundo do seu coração, para você, o que é a Maçonaria?


junho 27, 2024

LUÍS GAMA - UM GRANDE ABOLICIONISTA



O Irmão Luis Gama foi transportado como escravo no navio Saraiva até à cidade do Rio de Janeiro, ficando com o comerciante Vieira, estabelecido na esquina da Rua da Candelária com a Rua do Sabão. Ainda em 1840 foi vendido para o alferes Antônio Pereira Cardoso num lote de mais de cem escravos, sendo todos trazidos para a então Província de São Paulo pelo Porto de Santos.

De Santos até à cidade de Campinas a viagem foi realizada a pé. Em Campinas ninguém o comprou por ser baiano. Os escravos baianos tinham fama de revoltosos, negros fujões. Voltou para a cidade de São Paulo e, já que o alferes não o vendeu, foi seu escravo na sua residência, onde aprendeu os ofícios de copeiro, sapateiro, lavar, passar e engomar, todos os ofícios do escravo doméstico.

Na casa do próprio senhor dele, aprendeu a ler e escrever e estudou os livros de direito da biblioteca dele, tornando-se um conhecedor do saber jurídico de forma autodidata e com ajuda de um estudante de Direito amigo de seu senhor, que o ajudou na alfabetização e na forma de se estudar as ciências jurídicas. Como na época não era necessário ter formação em direito e nem tinha OAB pra proibi-lo de advogar, Luis Gama tornou-se um rábula (advogado sem formação) e seu primeiro teste na profissão foi processar o próprio senhor e conquistar sua liberdade, provando que não poderia ser escravo por ser filho de pai branco e nascido livre. Depois isso, tornou-se passou a advogar em prol de negros ilegalmente sendo mantidos escravos, conquistando a emancipação de centenas deles ao longo de 3 décadas como rábula. Foi um dos maiores abolicionistas do Brasil.

É nome de rua no bairro do Bonfim, em Campinas e em muitas cidades do país.

PADRE MAÇOM


 Homenagem do Jornal "Vida Fluminense" ao Padre Maçom Joaquim Almeida Martins, figura central no conflito entre o Estado Brasileiro e a Igreja Católica na chamada "Questão Religiosa" 1872.


O estopim da Questão Religiosa ocorreu quando o bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, lembrou ao padre Almeida Martins os cânones católicos contra a Maçonaria e suspendeu o uso de ordens sacras por ter o sacerdote proferido um discurso em homenagem ao Visconde de Rio Branco, em regozijo pela Lei do Ventre Livre, em março de 1872. 


Em um discurso inflamado, o Padre Joaquim, que era maçom grau 7, proferiu uma homilia em homenagem ao Grande Oriente do Brasil e ao Grão Mestre da Maçonaria Brasileira da época, o Visconde do Rio Branco: "Apóstolos da civilização, aos maçons cumpre render homenagem á grandeza que deve sua existência á moralidade e ao mérito e não á lisonja da penna ou da palavra ou do genio prostituido. 

Era tempo, Veneráveis Irmãos , que a Maçonaria, nesse paiz abraçasse grandes idéas não só em relação ao futuro do império como também á grande causa da humanidade. 


Salve, pois, três vezes o illustre Grão Mestre Visconde do Rio Branco, benemérito da pátria e da humanidade; gloria ao grande cidadão que á frente de uma pleiade brilhante de generosos brazileiros, que comnosco se-assentam nos bancos da fraternidade, soube mostrar ao mundo que o império do cruzeiro respeita o seu glorioso passado, trabalha em pról do honrado presente e que tem fé e crenças no seu lisongeiro futuro."


O ato causou a suspensão de suas funções como padre pelo bispo Dom Pedro Maria de Lacerda, do Rio de Janeiro. 


Dom Pedro II, que era membro de uma Irmandade Católica controlada por maçons (Imperial Irmandade do Santíssimo Sacramento) encarou a oposição dos Bispos a influência da Maçonaria na Igreja Católica como uma afronta a Constituição Imperial. 


 A Questão Religiosa abriu aos poucos o caminho para a laicidade no Brasil. 

Em 19 de abril de 1879 é dispensado para o ensino livre o juramento de fidelidade a qualquer confissão religiosa. 

A Lei Saraiva de 9 de janeiro de 1881 declara elegíveis pessoas de qualquer credo religioso. 

O sistema do padroado começa a desmoronar no país. 

Fonte: Bruneau, Thomas C. O Catolicismo Brasileiro em Época de Transição.

Ref Brazil Imperial

junho 26, 2024

O USO DA COR PRETA NO MEIO MAÇÔNICO -O USO DA COR PRETA NO MEIO MAÇÔNICO - Helio P. Leite


Alguns Irmãos defendem que o traje maçônico correto é o terno escuro, de preferência preto ou azul-marinho, especialmente em Sessões Magnas, sendo tolerado o uso do Balandrau. Outros, defendem a idéia de que tanto em Sessões Magnas, quanto Econômicas, pode-se usar apenas o Balandrau.

Ocorre que, no Brasil, com a sua formação católica, ainda de um passado recente, não se desligou ainda do “Traje de missa”. As instituições maçônicas dentro dessa mentalidade, ainda preconizam e algumas exigem até em Sessões Econômicas ou Administrativas, o traje formal completo e, ainda por cima negro, onde branca é só a camisa e, em alguns Ritos, ainda a gravata e as luvas. Devemos levar em consideração também, que o traje masculino sofreu e sofre variações, através dos tempos, inclusive de povo para povo.

Em algumas partes do mundo, principalmente em regiões quentes dos Estados Unidos, os maçons vão às Sessões até em mangas de camisa.

A ORIGEM DO BALANDRAU

Balandrau – do latim medieval balandrana, designa a antiga vestimenta com capuz e mangas largas, abotoada na frente; e designa também, certo tipo de roupa usada por membros de confrarias, geralmente em cerimônias religiosas.

Embora alguns autores insistam em afirmar que o Balandrau não é veste maçônica, o seu uso, na realidade remonta a primeira das associações de ofício organizadas (Maçonaria Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. Quando as legiões romanas saiam para as suas conquistas bélicas, os collegiati acompanhavam os legionários para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando nesses deslocamentos uma túnica negra. Da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos Franco-maçons Medievais (séc. XIV e XV), quando viajavam pela Europa Ocidental, usavam o Balandrau negro.

Segundo outros autores, o uso do Balandrau teve início nas funções do Primeiro Exp.’., durante os trabalhos de Iniciação em que atendia o profano na C.’. de RR.’..

O PORQUE DO PRETO EM NOSSO TRAJE

Inicialmente devemos dizer que não existe “cor” Preta, e sim uma ausência de cor que forma o preto. Também podemos dizer que o Branco não é uma cor; este é composto por um conjunto de cores primárias.

Cor é Energia e Luz, segundo Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Johann Kepler, que formularam teorias a respeito das cores, em tratados mundialmente conhecidos. O olho humano está limitado para perceber as emissões luminosas compreendidas entre 400 e 700 milimícrons. Dentro da luz visível temos dois extremos: Vermelho – com 718,5 milimícrons e a Violeta com 393,4 a 486,1 milimícrons.

Podemos observar que o Violeta é a cor de mais baixa freqüência dentro do espectro visível. Entretanto, como o Preto é a ausência de cor ele não está nesta escala. Mas sendo o Violeta a cor que mais se aproxima do Preto, e sendo o Violeta a cor de menor comprimento de onda, conclui-se que o Preto é ausência de cor, pois absorve todas as outras cores.

O PRETO COMO ABSORVENTE DE RADIAÇÕES

Várias são as ciências e filosofias que estudam as radiações físicas ou espirituais.

Fisicamente temos um exemplo prático: os tanques de combustíveis de uma refinaria, quando acondicionam gases metano, propano e outros, que não podem ser aquecidos, são pintados na cor branca ou prata, pois esta reflete a luz solar evitando o aquecimento. Ao contrário, existem fluídos que para manterem a viscosidade suficiente para serem transportados, como o óleo lubrificante, necessitam manter uma temperatura mínima. Nestes casos, os tanques são pintados de preto para absorverem calor da radiação solar.

No campo da Astronomia, temos os chamados buracos negros. De todas as teorias formuladas até hoje, temos uma única certeza: trata-se de uma região negra onde toda a forma de radiação, independente de sua freqüência é absorvida.

Do lado Esotérico temos várias fontes que empregam as cores como radiações benéficas. Mesmo no reino vegetal e animal, cada qual tem a sua vibração e cada vibração a sua cor. Tudo isso ficou provado com o invento da máquina Kirlian, com o qual podemos obter fotografias das “auras” das pessoas, plantas e objetos. Essas auras são coloridas.

Hoje temos a Cromoterapia, que utiliza de luzes de várias cores para “curar”. Muito utilizada na era de ouro da Grécia e no antigo Egito (Babilônia), Índia e China. Hoje sabemos que a cor pode curar, acalmar ou irritar, dependendo da sua freqüência.

No Espiritismo de Kardec sempre se utilizaram os passes magnéticos, que também são medidos em freqüência. Portanto, podemos afirmar que os passes magnéticos também emitem cor. Da mesma maneira que atuam as cores no processo de cromoterapia, os passes atuam nos Chacras ou Centros de força.

Segundo o espiritismo e a cromoterapia, os chacras são:

Ø BÁSICO – localiza-se na base da espinha dorsal. Capta a força primária e serve para reativação dos demais centros. Cores: roxo e laranja forte;

Ø GENÉSICO – localiza-se na região do púbis. Regula as atividades ligadas ao sexo;

Ø ESPLÊNICO – localiza-se na região do baço. Regula a circulação dos elementos vitais cósmicos que, após circularem se eliminam pela pele, refletindo-se na aura. Cores: amarelo, roxo e verde;

Ø GÁSTRICO – localiza-se no plexo solar, influi sobre as emoções e a sensibilidade e sua apatia produz disfunções vegetativas. Cores: roxo e verde;

Ø CARDÍACO – localiza-se no coração. Regula emoções e sentimentos. Cores: rosa e dourado brilhante;

Ø LARÍNGEO – localiza-se na região da garganta, regula as atividades ligadas ao uso da fala. Cores: prata e azul;

Ø FRONTAL – localizado na fronte, também conhecido como a terceira visão. Regula as atividades inteligentes, influi no desenvolvimento da vidência. Cores: roxo, amarelo e azul;

Ø CORONÁRIO – localiza-se na parte superior, no cérebro e tem ligação com a epífise. É o chacra de ligação com o mundo espiritual. Cores: branco e dourado.

A COR PRETA NA RITUALÍSTICA

Em nossas reuniões, dentro do Templo, muitas são as vibrações emanadas de todos os nossos IIrm.’., sejam eles Off.’. ou não. Principalmente durante a abertura do L.’. da L.’. temos a formação da Egrégora. Este é um momento em que todos nós emitimos radiações, e ao usarmos a veste preta, estaremos absorvendo todas essas energias, reativando os nossos chacras.

Se examinarmos a ritualística, em uma Iniciação, por que o candidato não está nem nu nem vestido? Entre outras razões, é para que tenha seus chacras totalmente expostos para que emita e receba vibrações. Como está com os olhos vendados, sua percepção estará mais aguçada em todos os sentidos. Receberá todas as impressões sonoras, sentirá odores e nossas vibrações.

Nossa Bolsa de Proposta, tem seu interior negro. Assim, nada do que ali for depositado “sairá”, somente nossos VV.’.MM.’. tem conhecimento do seu conteúdo, em primeira instância.

REGULAMENTO GERAL

No Regulamento Geral da Grande Loja do Paraná, no Cap. V - Das Sessões e Ordem de Trabalho nas Lojas :

Art. 95 - Nas Sessões Magnas é obrigatório o uso de traje escuro e gravata preta.

· & 1º - Nas demais sessões o traje é o comum com paletó e gravata

· & 2º - É permitido o uso de Balandrau, preto e longo, mangas largas e compridas e colarinho fechado.

· & 3º - Uma vez adotado o uso do Balandrau, deve o mesmo ser generalizado a todos os membros da Loja, em todas as sessões.

Art. 94 – Em nenhuma sessão poderá o Obreiro apresentar-se sem estar revestido de seu avental.

CONCLUSÕES

Como vimos anteriormente, grande é a controvérsia do uso ou não de Terno ou na ausência deste, o Balandrau. No Brasil, e só no Brasil, convencionou- se o uso deste, e de acordo com os Estatutos de várias Obediências o Balandrau é “tolerado” em Sessões Econômicas.

Em um ponto, os IIr.’. têm opiniões coincidentes: o Balandrau é veste talar, deve ir até os calcanhares, e pode ser considerado um dos primeiros trajes maçônicos, sendo plenamente justificado o seu uso em Loja.

Se observarmos nosso padrão climático e o tecido mais leve, nos parece ser uma boa alternativa o seu uso. O Balandrau tira de nós a aparência de riqueza, do saber, da ambição, da vaidade, ao contrário de outra vestes talares, nos iguala e nos mostra que, independentemente de qualquer posição profana, somos todos iguais, todos IIr.’. em todos os momentos.

Como havia dito, em algumas partes do mundo os maçons vão às sessões até em mangas de camisa, mas portando evidentemente o avental, que é o traje maçônico. E trabalham muito bem, pois a consciência do homem não está no seu traje: “o hábito não faz o monge”. Não é usando um traje formado por parelho (de “par” já que “terno” no dicionário é referente ao traje de três peças: calça, colete e paletó), que vai fazer o maçom.

Quando usamos Terno preto ou o Balandrau, permanecem descobertos nossos chacras: frontal, laríngeo e coronário. Assim poderemos emitir, receber e refletir vibrações diretamente em nossos centros de força, pois estes estarão descobertos. Em contrapartida, nosso chacras mais sensíveis estarão protegidos de enviar vibrações negativas durante os trabalhos.

Mas, cabe neste momento uma pergunta:

Todos nós durante os trabalhos irradiamos apenas boas vibrações?

- É claro que Não...

Portanto, podemos e devemos sempre reservar alguns minutos no Átrio (ou S.’. dos PP.’. PP.’.), preparando-se espiritualmente para nossa reunião. Se adentrarmos ao Templo, munidos de sentimentos inferiores e negativos, estaremos contribuindo para que não haja Harmonia e não ocorra um Trabalho J.’. e P.’..


  



O Movimento Evangélico Brasileiro não teria começado se não fosse a ajuda de Maçons. Tudo começou com a chegada o Pastor Richard Ratcliff, maçom norte americano, que fundou em Santa Bárbara d'Oeste (SP), em 10 de setembro de 1871, a Primeira Igreja Batista em solo Brasileiro.

Três anos depois, em 1874, Pr. Richard, com pelo menos mais 8 batistas, fundaram a Loja Maçônica George Washington. Desses oito batistas, pelo menos cinco foram fundadores da Primeira Igreja Batista, dentre eles, o Pr. Robert Poter Thomas, que foi interino por diversas vezes tanto na Primeira Igreja quando na Igreja da Estação (a 2ª Igreja Batista no Brasil, fundada em 02 de novembro de 1879, pelo Pr. Elias Quillin, também Maçom). O primeiro Pastor Batista brasileiro Maçom foi Antônio Teixeira de Albuquerque, batizado por Pr. Thomas.

O mais interessante é que, em 12 de julho de 1880, a pedido da Igreja da Estação, foi formado um concílio reunindo as duas igrejas, tendo como moderador o Pr. Thomas. O evento foi realizado dentro do Salão da Loja Maçônica, conforme ata escrita e enviada aos EUA.

Em 1921, Salomão Luiz Ginsburg, Missionário da Junta de Missões Estrangeiras de Richmond, publicou sua autobiografia, relatando ser Maçom.

Os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingrem (fundadores da Assembleia de Deus) também receberam ajuda da Maçonaria para seu pontapé inicial no Brasil.

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Para saber mais do assunto, indicamos o livro "Centelha em Restolho Seco: uma Contribuição Para A História Dos Primórdios", de Betty Antunes de Oliveira.