agosto 08, 2024

JUIZ DE FORA - Roberto Ribeiro Reis


Em um mundo tomado pelos julgamentos e preconceitos, há um juiz, cuja capacidade de lidar com os problemas –dos mais comezinhos aos complexos- é algo que nos impressiona, pela tranquilidade e espírito de lucidez com a qual se porta este Venerando Magistrado.

Um Juiz de Fora. Fora desse mundo caótico e apocalíptico que temos vivenciado e assistido; um juiz fora da percepção do senso comum, inalcançável em capacidade de tirocínio até mesmo pelos magistrados da vida profana, dado que ele não se imiscui em política ou coisas afins.

Um juiz cuja lavra de decisões se destacam não pelo arrazoado de jurisprudências e doutrinas, mas singularmente pelo bom senso, pelo viés humanitário e pelo grande espírito de pacificação social.

Um Magistrado Celestial, sem subsídios ou quaisquer privilégios decorrentes da função exercida; a bem da Ordem, tudo o que ele faz é por pura doação: doação de tempo –embora onde ele assista não exista nem espaço e medida de tempo- oferta incondicional de amor e a aplicação insofismável da lei de caridade e de justiça.

Amados Irmãos! Este Soberano Julgador bate à nossa porta, pedindo (e jamais impondo) tão-somente que possamos lhe dar alguns momentos de atenção, numa audiência solene de paz, fraternidade e extrema amabilidade. Ele só deseja que deixemos o nosso templo apto à sua visita, preferentemente promovendo uma faxina interior bem caprichada, alijando dele todos os maus sentimentos e pensamentos vulgares.

Pode ser considerado um Juiz de fora das insanidades profanas, mas que consegue adentrar o nosso vazio existencial, dando-lhe graça, luz e esplendor, vivificando-nos com seu Sopro Divino, num exercício de mais profunda indulgência para conosco.

Por outro lado, é um Juiz de dentro, do interior de nossa alma, que não julga nossas imperfeições e (curiosamente) nos oferece o livre-arbítrio, a despeito ou não de sermos inveterados reincidentes no mal. Sua Sabedoria nisto consiste: mostrar-nos o caminho a ser trilhado, mas deixando ao nosso alvedrio a escolha da rota final.

Um Preboste Universal, cuja retidão se materializa em feitos jamais realizados pelo homem mais culto na face da terra; seu magistério é pautado na mais lídima justiça, não fazendo quaisquer tipos de distinções entre os homens, mas nivelando a todos, indistintamente, num compasso da mais notória equidade.

Um Julgador Complacente e Misericordioso que poderia nos prolatar a mais cruel das sentenças (em movimentação processual recorde), mas que ainda insiste no caráter pedagógico e educador da pena, proporcionando- nos a corrigenda, seja pelo amor – seu grande sonho em relação aos seus filhos– ou também através da dor, caminho geralmente escolhido pela maioria de nós, livremente.

A ORIGEM DO BALANDRAU NA MAÇONARIA BRASILEIRA - José Castellani


O substantivo masculino balandrau (da forma latina hipotética balandra), designa a antiga vestimenta, com capuz e mangas largas, abotoada na frente; designa também, certo tipo de roupa usada por membros de antigas confrarias, geralmente religiosas. 

Embora alguns autores insistam em dizer que o balandrau não é veste maçônica, o seu uso remonta à primeira das associações de ofício organizadas (cujo conjunto é hoje chamado de maçonaria de ofício, ou Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. 

Segundo Steinbrenner, em “História da Maçonaria”, os collegiati, quando se deslocavam pela Europa, seguindo as legiões de soldados romanos, para reconstruir o que ia sendo destruído pelos conquistadores, portavam uma túnica negra. 

À semelhança deles, os membros das confrarias operativas dos francos-maçons medievais (século XIII em diante), quando viajavam para outras cidades, outros feudos ou outros países, usavam um balandrau negro.  

Os que condenam o uso do balandrau costumam afirmar que o Maçom deveria apresentar-se nas Sessões das Lojas, vestindo terno preto, camisa branca, gravata,  sapatos e meias pretas; isto é altamente discutível. 

Tome-se por exemplo as regiões quentes nos Estados Unidos, onde os Maçons costumam trabalhar em mangas de camisa, portando o avental, evidentemente, pois traje maçônico mesmo, é o avental, já que sem ele o Maçom é considerado nu. 

Na realidade, discutir traje ( além do verdadeiro traje, que é o avental), na Maçonaria, é o mesmo que discutir o sexo dos anjos, pois, sabendo-se que o traje masculino sofre variações através dos tempos, variando, inclusive, de povo para povo, na mesma época. É evidente que não se pode determinar a maneira de trajar. 

É permitido, por exemplo, em qualquer lugar do mundo, o uso de roupas típicas para Maçons estrangeiros (o albornoz árabe, por exemplo), ou o uso de uniforme, por parte dos militares, desde que estejam, é claro, com seu avental maçônico. 

A existência de traje a rigor para os Maçons, mostra grande dose de influência clerical, significando o traje como sinal de respeito, o que, realmente, é inadmissível, já que a consciência do Homem está em seu interior, e não na sua roupa. 

A Igreja, que é bastante conservadora, já tem abandonado esta exigência; com mais razão, deve faze-lo a Maçonaria que, sendo evolutiva e progressista, não comporta anacronismos. 

Que fique bem claro que traje maçônico é o avental, mas sob ele deve haver uma roupa decente; e o balandrau, como roupa decente, pode uniformizar o traje, o que é também, uma forma de mostrar a igualdade maçônica, evitando as ostentações do vestuário. 

E jamais nos esqueçamos que o balandrau já foi traje dos Maçons de Ofício. 

Só é preciso ter em mente que o balandrau (que também é usado pelos Expertos, em algumas cerimônias) é veste talar, ou seja, deve se estender até os talões, ou calcanhares.

Tese de José Castellani ( Publicado na revista A TROLHA n◦ 52 de fevereiro de 1991 )

agosto 07, 2024

SARTRE E A LIBERDADE DE ESCOLHA - Bruno Carrasco


 Um dos grandes mal entendidos sobre o existencialismo consiste em crer que esta filosofia defende que toda pessoa seja livre para fazer o que quiser, a todo momento. 

Vejamos, o existencialismo compreende que as pessoas são livres para fazer escolhas, porém essa concepção de liberdade é um tanto diferente do entendimento que temos no senso comum. 

Liberdade, na concepção existencialista, significa a possibilidade de fazer escolhas. Somos livres pois fazemos escolhas em nossa vida a todo momento, e não há como não fazer. 

Agora mesmo, você está escolhendo ler esse texto, mas pode, a qualquer momento, deixar de ler e fazer outra atividade, sair andando para algum lugar ou não fazer nada. "Estamos condenados a ser livres." (Jean-Paul Sartre) Não há como não ser livre, pois não há como não escolher. 

Neste sentido, a liberdade é também uma espécie de "condenação", pois inclusive quando escolhemos não fazer nada, estamos escolhendo. Partindo desses apontamentos, algumas pessoas que pensam que por serem livres podem fazer o que querem, a qualquer momento, mas não é bem isso o que Sartre está nos dizendo. 

Somos livres para fazer escolhas, mas isso não significa que podemos fazer tudo o que desejamos a todo momento. A liberdade no existencialismo corresponde a possibilidade de escolher, e isso não significa que podemos escolher qualquer coisa, pois nossas escolhas são em parte condicionadas, em parte limitadas e em parte possíveis.

Quando refletimos sobre o termo "liberdade" no sentido popular, acreditamos que livre é aquele que faz o que quer e deseja, e que não se importa com as consequências de seus atos. 

Porém, na concepção existencialista, isso não seria liberdade, mas libertinagem. Liberdade, segundo o existencialismo, corresponde a fazer escolhas e lidar com as consequências dessas escolhas. 

Não significa que somos "culpados" por nossas escolhas ruins, mas que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos. O interessante é que podemos, além de nos responsabilizar pelas escolhas que fazemos, também aprender e fazer novas e melhores escolhas. 

Pois, se estamos escolhendo a todo momento, podemos sempre refazer escolhas e buscar novos caminhos e perspectivas para a nossa vida. 

A escolha, segundo o existencialismo, nem sempre é algo agradável, pode ser difícil e inclusive muito angustiante escolher a todo momento. Por conta disso, uma das primeiras consequências da escolha é justamente a angústia, que surge quando tomamos a consciência da nossa possibilidade de escolha, e de que nossas escolhas constroem a pessoa que estamos sendo. 

Por nos perceber como o único responsável por fazer as escolhas em nossa vida, podemos nos sentir desamparados. Pois, mesmo que outras pessoas nos ajudem a fazer uma escolha, seja por conselhos ou indicando o que, para eles, é o melhor a ser feito, a escolha final será sempre a nossa. 

Trata-se de um constante confronto com a nossa existência e a nossa solidão. A partir do momento em que, conscientemente, fazemos uma escolha e a efetivamos esta em ações, nos tornamos responsáveis pela escolha que fizemos. 

Entre as inúmeras possibilidades que poderíamos ter escolhidos, optamos por uma delas, e essa escolha nos levará a outras possibilidades e caminhos. " _Viver é isto: ficar se equilibrando todo o tempo entre escolhas e consequências."_ (Jean-Paul Sartre) Porém, algumas pessoas não se sentem a vontade com a possibilidade de escolher e preferem evitar a responsabilidade de suas escolhas, atribuindo essa incumbência a outras pessoas, a uma norma social, a uma religião, ao acaso, a um partido político, a uma tradição de família, etc. 

Sartre chama isso de má-fé, que ocorre quando faço uma escolha e acredito que fiz essa escolha não por conta própria, mas por outra coisa, pessoa ou circunstância. Quando conseguimos lidar com a angústia da escolha e evitar a má-fé, passamos a perceber que por meio de cada escolha que faço amplio minhas possibilidades de ser, me abrindo novas perspectivas, me engajando e projetando a minha existência em novas atividades.

 

CONTO POPULAR JUDEU


Um judeu russo foi finalmente autorizado a emigrar para Israel.

No aeroporto de Moscou, a alfândega encontra uma estátua de Lenin em sua bagagem e questiona: "O que é isso?"

O homem respondeu: "O que é isso? Pergunta errada camarada. Você deveria ter perguntado: Quem é ele? Este é o camarada Lênin. Ele lançou as bases do socialismo e criou o futuro e a prosperidade do povo russo. Estou levando comigo  como uma memória de nosso querido herói."

O funcionário da alfândega russa o deixou ir sem mais inspeção.

No aeroporto de Tel Aviv, o oficial da alfândega israelense também perguntou ao nosso amigo russo: "O que é isso?"

Ele respondeu: "O que é isso? Pergunta errada  senhor. Você deveria estar perguntando: Quem é?  Este é Lênin, o bastardo que fez com que eu, um judeu, deixasse a Rússia. Levo esta estátua comigo para que possa amaldiçoá-lo todos os dias."

O funcionário da alfândega israelense diz: "Peço desculpas senhor. Está liberado para ir."

Instalando-se em sua nova casa, ele colocou a estátua sobre uma mesa. Em seu novo lar,  ele convida amigos e parentes para jantar.

Um de seus amigos vê a estátua e pergunta: "Quem é este?"

Ele respondeu: "Meu caro amigo, quem é este é uma pergunta errada. Você deveria ter perguntado: O que é isso?

"São dez quilos de ouro maciço que consegui trazer comigo sem pagar taxas alfandegárias e impostos."

- CONCLUSÃO:

"Política é quando você pode falar do mesmo assunto, de maneiras diferentes, para enganar públicos diferentes. E isso permite que você transite por todos os ambientes, como bom cidadão, sem levantar suspeitas."



agosto 06, 2024

CRESCIMENTO E FORTALECIMENTO DA LOJA MAÇÔNICA- Fuad Haddad


 

A ÉTICA E O SIGILO - Gabriel Oliveira


Coordenar e promover a ética em nós corresponde aprender a analisar os elementos que compõem a existência-humana-no-mundo. 

O ser humano não pode viver sem os outros da sua espécie e precisa deles para evoluir e tornar-se cada vez mais ético.

É nos relacionamentos pessoais, profissionais, comunitários e outros que nós temos a grande oportunidade de conhecer alguém e receber dele informações que, para o bem ou mal nos alimentam, nutrem, afetam nosso comportamento, nossas opiniões e decisões.

Toda pessoa tem o sagrado direito de se expressar, comunicar, expor suas idéias, executar seus argumentos, deliberar seus projetos/planos, estar contra ou a favor. 

Todavia, esses mesmos direitos, a outra pessoa os tem, e por isso, a cordialidade de ouvir os outros é algo tão sagrado quanto o direito que nos é outorgado.

Hoje, vivenciar um valor ético é uma arte que move a personalidade num compromisso tal que estimula a prudência nas ações, vale dizer, o sigilo. 

É sabido que não existem pessoas iguais e, é na riqueza da diferença que vemos a beleza da arte de viver, a criatividade dos outros e a alegria da convivência.

O sigilo assegura o caráter ético, dá segurança ao valor da comunicação e objetiva o que é essencial num diálogo. 

Ele nos faz pessoas responsáveis e respeitadas no campo profissional e no ambiente no qual estamos envolvidos. 

É nesta trilha de ideias que vemos a grande glória do respeito. 

Ainda mais, o sigilo nos oferece as credenciais da fidelidade à instituição que trabalhamos ou convivemos, reforça nosso compromisso pessoal e social.

No olímpico campo de ação na qual nos envolvemos, o sigilo só progride na ética, e esta só progride no sigilo, se nós nos programamos e determinamos nossas palavras, comentários, nossos desejos de “eu sei que você não conta para ninguém”, em qualquer ambiente que estejamos. 

Com isso, não queremos fazer do sigilo um mistério ou algo infalível na cátedra da consciência. 

O sigilo tem sua verdadeira comunicação na hora certa. 

Só esperamos que ninguém tenha o dissabor de errar a hora.

Gostaria de terminar este meu artigo citando as palavras de Napoleon Hill:

... *“estar juntos é um começo, continuar juntos é um progresso, trabalhar em conjunto é 

CONSTRUÇÃO DO SER HUMANO - Alexandre Cássio Lopes


Em nossa pequena observação, que refere construção do ser humano que é um tema fascinante e complexo que abordamos em nossa Ordem, que envolve várias dimensões e mundos complexos biológica, psicológica, social e filosófica.

Para a Dimensão Biológica: Acredito que a formação biológica do ser humano começa na concepção iniciativa com referência ao Número 3 e continua ao longo do desenvolvimento fetal, infância, adolescência e vida adulta.

Para a Dimensão Psicológica: o ser humano iniciático se desenvolve através de interações com o ambiente e outras pessoas numa escala associativa.

Para a Dimensão Social: obviamente o ser humano é moldado pelas culturas, tradições, valores e normas da sociedade em que vive. Dentre os princípios que são basilares de nossa Ordem a educação, a família, a escola e o ambiente de trabalho desempenham papéis cruciais na formação do Homem.

Para a Dimensão Filosófica: a construção material simbólico, o ser humano é visto como um processo de autoconhecimento e desenvolvimento da racionalidade.

Podemos, se me permitir meus caros Irmãos, mencionar pensadores como Jean-Paul Sartre  que sugerem que a essência do ser humano é construída tanto pelas escolhas que fazemos quanto pelas influências externas.

Todas estas dimensões especulativas interagem de maneira complexa para formar o ser humano em sua totalidade.

Podemos assim concluir amados que a máquina perfeita criada do Barro com bateria biológica se transforma ao longo dos tempos, se aproximando e se multiplicando dando forma e tomando forma. Segundo, bóson de Higgs a criação é uma partícula responsável pela existência de um campo que permeia todo o Universo.

Somos um e somos todos.


agosto 05, 2024

A ÁGUIA BICÉFALA NA MAÇONARIA - Kennyo Ismail

A águia bicéfala, representativa do Rito Escocês Antigo e Aceito, talvez seja o símbolo maçônico mais conhecido depois do Esquadro e Compasso e do Delta Luminoso. 

Mas qual seria sua real origem na Maçonaria?

Alguns autores teimam em relacionar a águia bicéfala do REAA com a águia de Galash, com Bizâncio e Constantino, com o Império Romano, talvez querendo atribuir ao Rito uma antiguidade que não possui. 

Outros tantos autores afirmam que a águia bicéfala é herança de Frederico, o Grande. 

Algo ainda mais impossível, pois Frederico nada teve com o REAA e seu escudo de armas era de uma águia negra com apenas uma única cabeça.

Para que se compreenda a adoção de tal símbolo, é necessário voltar à origem do REAA, no Rito de Perfeição, então praticado na França:

Na década de 50 do século XVIII, a maçonaria conhecida como “escocesa” estava se desenvolvendo rapidamente na França, dominando a política interna da maçonaria naquele país. 

Foi então que, em 1756, surgiu o Conselho dos Cavaleiros do Oriente, dirigido por maçons da classe media, com o intuito de organizar os Graus Superiores. 

Já os maçons da classe alta e da nobreza, não desejando ficar para trás e deixar os opositores ganharem poder, criaram o Supremo Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente. 

Ora, um ”Supremo Conselho“ soa mais do que um simples ”Conselho”, “Imperadores” são mais do que simples ”Cavaleiros”, e ”Oriente e Ocidente“ é o dobro do que apenas ”Oriente”! 

Dessa forma, esse Supremo Conselho conseguiu prevalecer, se tornando a “incubadora” do Rito de Perfeição, com seus 25 graus, os quais posteriormente serviram de base para o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Como emblema, o Supremo Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente buscou inspiração no Império Romano que, em seu auge, governou o Oriente e o Ocidente e adotou um sistema de dois governantes simultâneos. 

Nessa fase do Império, adotou-se a águia bicéfala para simbolizá-lo. 

O Supremo Conselho encontrou na águia bicéfala o símbolo do “Oriente e Ocidente” e acrescentou uma coroa sobre as cabeças das águias para simbolizar a realeza, afinal de contas, tratava-se de um Conselho de “Imperadores”.

Quando do surgimento do Supremo Conselho do Rito Escocês em Charleston, EUA, com seu sistema de 33 Graus, aproveitou-se o emblema do Rito de Perfeição, da águia bicéfala com a coroa, acrescentando acima dessa um triângulo inscrito com o número “33”. 

Além disso, optaram pela típica “águia americana”, com as penas da cabeça e da cauda brancas e o restante da plumagem marrom.

Já Lagash, alquimia, passado e futuro, bem e mal, Prússia, liberdade, Bizâncio e Constantino, espírito e matéria, fênix negra, tudo isso já é por conta da viagem de cada autor, não havendo relação alguma com o motivo da águia bicéfala ter sido adotada como símbolo do Rito Escocês Antigo e Aceito.




 *O TEMPLO DE SALOMÃO - HISTÓRIA E  LENDA QUE HABITAM O IMAGINÁRIO E A CONSCIÊNCIA*


A Maçonaria vale-se da Simbologia, como a ciência que oferece a base interpretativa histórica, lendária e filosófica para sua compreensão.


Neste sentido o "Templo de Salomão", sob a égide maçônica, constitui-se num símbolo e numa alegoria  que representam o Universo. 


Seja no sentido do Cosmos  como um todo, bem como do próprio ser humano. 


Isto se traduz como resultado a partir de um Princípio Criador e Incriado, ou seja, a que que os Maçons se referem como G.'. A.'. D.'. U. '.  - princípio dialético que se manifesta como referência para tudo o que existe à nossa volta.


Cabe contudo, ponderar que a existência sobre o Templo de Salomão está envolta numa Lenda.


E como se sabe, a Lenda é  uma narrativa de caráter maravilhoso em que um fato histórico se amplifica e se transforma ganhando magnitude sob o efeito da evocação poética ou da imaginação humana.


Há também um caráter mítico que cerca toda esta narrativa, cuja fundamentação encontra subsídios em grande parte,  nos testemunhos e relatos orais dos Antigos, cuja essência e significados  estão sempre sujeitos às mais variadas interpretações.


Para a Maçonaria o Templo de Salomão, sob o ponto de vista especulativo, demonstra o simbolismo geométrico-arquitetônico utilizado para exprimir o conteúdo do conhecimento esotérico e filosófico.


A propósito, a condição e o caráter filosófico da Maçonaria se explicam e se justificam porque em seus atos e cerimônias ela trata da essência, propriedades e efeitos das causas naturais.


A Maçonaria Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da ética pura.


O Templo de Salomão detém um aspecto protagonista esotérico no arcabouço da Ordem.


Ele assume, através de sua configuracão estética, uma metáfora com a própria construção do templo interior humano, que busca a partir de sua Iniciação na Sublime Ordem, criar uma base sólida de sustentação de valores morais e éticos. 


A lavra deste templo, tem como objetivo aparar arestas e imperfeições humanas, devotar-se ao trabalho intelectual e espiritual como elementos base para oferecer consistência no processo de aprimoramento da consciência.  


Tudo isto, tendo nas ferramentas,  instrumentos de funções simbólicas que concorrem para a construção do Edifício Social.


Este arquétipo não se submete a qualquer religião, ou a qualquer dogma. 


Ele é fruto da investigação, pesquisa e estudo a que o Maçom Especulativo se dedica como obreiro incansável ao longo de sua jornada de vida.


Esta abordagem tem o mero propósito de trazer à Luz, o discernimento quanto a literalidade na forma de entendimento e o simbolismo como sentido analógico do que se pretende transmitir.


*NEWTON AGRELLA*

MOISES, O NECESSÁRIO- Roberto Ribeiro Reis


Seriam precisos

Muitos Montes Sinai,

Pois o mundo se esvai

Diante dos imprecisos.


A par dos dez mandamentos,

Precisamos de mais lições,

Para amenizar as aflições

Dos que vivem os tormentos.


Para quê tantos juramentos

Se nada mais é duradouro?

Só querem o bezerro de ouro,

Mesmo que com sofrimentos.


Para quê a excessiva lamúria

Se hoje a fé não se exercita?

E quase ninguém mais acredita,

Vivendo a espiritual penúria.


Pra quê luxuosos templos

Se paupérrimos são os corações?

Uma nota zero às realizações,

Os homens não dão o exemplo!


Pra quê pedir tanto dinheiro

Se nem sei se isso tem nome?

Ao meu redor, só vejo a fome:

Não só aqui, no mudo inteiro!


Pra quê viver desse jeito

Egoísta e com muita ambição?

É raro que dividamos o pão,

Anonimamente e com respeito!


Pra quê lavar os seus pés?

Se sujíssima está sua cabeça,

E antes que eu me esqueça:

Supliquem por vários Moisés!

agosto 04, 2024

JUDAÍSMO E MAÇONARIA- Michael Winetzki


 

A LINGUA GERAL PAULISTA - Marco Aurélio Do Arcírio Gouvêa Neto


A Língua Geral Paulista, ou Língua Geral Meridional foi o idioma nativo dos paulistas por mais de dois séculos e foi a Lingua Franca dos territórios conquistados e ocupados pelos paulistas mais do que o próprio português, falado desde o norte do Rio Grande do Sul a Goiás, de Minas Gerais ao Mato Grosso, disseminada principalmente por bandeirantes nos interiores do Brasil e posteriormente por tropeiros.


Desde a chegada de João Ramalho até por volta da metade do séc. XVII, os paulistas falavam o Tupi Vicentino, que era diferente do tupi do resto do Brasil em diversos aspectos, e se aproximava bastante do Guarani em termos fonéticos e lexicais. Mas a partir de meados do séc. XVII, esse Tupi Vicentino falado pelos paulistas já tinha passado por mudanças fonéticas, semânticas e sintáxicas, transformando-se no que chamamos hoje de Língua Geral Paulista, e foi falado em São Paulo até a primeira década do séc. XX, em que há relatos de que alguns idosos que ainda conversavam nesse nosso idioma.


Da segunda metade do séc. XVII até o fim do séc. XVIII, a Língua Paulista era falada como primeira língua pela imensa maioria da população paulista. As mulheres, as crianças e os escravos só sabiam falar nessa língua, já os filhos homens de pais que possuíam meios aprendiam depois o português na escola. 


Pode-se dizer que a Língua Paulista era a 'língua da mulher paulista' -- essa admirável e amada fortaleza que foi o verdadeiro esteio e fundamento da Nação Paulista desde Bartira --, pois era ela quem passava o nosso idioma para os filhos e que cuidava dos negócios da família, servindo de suporte inquebrantável para os nossos bandeirantes que passavam dias, meses e anos no sertão. Ainda se há de dar o verdadeiro reconhecimento à mulher paulista, que em nada foi menor que nossos bandeirantes e tropeiros. Podemos dizer que elas foram ainda maiores mais longe.


Para se ter uma ideia da importância do nosso idioma para o povo paulista da época, em 1770 ocorreu em São Paulo, na Igreja do Páteo do Colégio, a "Acadêmia dos Felizes", convocada pelo Governador Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão (o Morgado de Mateus) para comemorar a recém readquirida autonomia administrativa da Capitania de São Paulo. A "Academia dos Felizes" era uma espécie de festival literário organizado pelos moradores e autoridades de uma localidade, no qual figuras ilustres apresentavam seus poemas preparados especialmente para a ocasião, e já havia ocorrido eventos da "Academia dos Felizes" no Nordeste e no Rio de Janeiro, décadas antes do evento paulista. Nos eventos do Nordeste e do Rio, assim como aconteceu no de São Paulo, foram apresentadas obras em português, castelhano, francês, italiano, latim e grego. Mas somente no evento paulista foram apresentadas obras em "idioma de caboclo", isto é, no nosso idioma paulista, que hoje os linguistas chamam de Língua Geral Paulista.


Talvez, a apresentação de obras na nossa língua nativa por ocasião desse evento tenha sido um tipo de protesto, já que alguns anos antes o Marquês de Pombal havia proibido o uso da Língua Geral Paulista (em 1760). Seja como for, o fato é que ele conseguiu, e essa proibição fez com que a nossa língua fosse deixando de ser falada em favor do português, e o que antes era o idioma geral dos paulistas foi ficando cada vez mais restrito às camadas mais simples da população. Embora tenha continuado a ser falada por todo o séc. XIX, mesmo que por um número cada vez menor de paulistas, a proibição impediu que a nossa língua pátria se tornasse uma língua escrita, com ortografia e um cânone literário próprios, até que morreu no começo do séc. XX.


O resultado da fonética da Lingua Geral Paulista sobreviveu no dialeto caipira, a troca do L pelo R onde "falta" vira "farta", onde "milho" vira "mio", além da presença do R retroflexo(caipira) presente na nossa língua hoje, esse é o resultado da troca da Língua Paulista para o Português, e onde diversas palavras dessa língua ainda sobrevivem em nomes e palavras como: emboaba, embira, tucuruvi, guarapuava, anhangabaú, tietê, caipira, caiçara, caipora, arimbá, curupira, batuíra, cabreúva, sorocaba, piracicaba e etc.


Em comparação com o Nheengatu amazônico de hoje em dia, a Língua Paulista manteve uma maior fidelidade à língua que foi sua mãe: o Tupi Vicentino, mas quem fala Nheengatu Amazônico pode perceber claramente que a Língua Paulista vem de uma variante do tupi, mas não seriam mutuamente inteligíveis. As palavras da Língua Paulista são ainda mais próximas do Guarani, mas ainda assim não seriam de fácil inteligibilidade mútua. 


A seguir um pouco da Língua Geral Paulista em frases curtas corriqueiras e um pequeníssimo vocabulário de palavras atestadas (que estão nos registros da Língua Paulista que chegaram até nossa época).


A ortografia portuguesa não permite indicar as diversas sutilezas fonéticas da pronúncia da língua paulista, mas serve como uma excelente aproximação.


VOCABULÁRIO EM LÍNGUA PAULISTA:   


Maranteím ereicô? --> Como está?

Aicô catu --> Estou bem

Daicôi catu --> Não estou bem


Maranteím oicô? --> Como ele(s)/ela(s) está/estão?

Maranteím peicô? --> Como vocês estão?


Chaçô muã --> Já me vou!/tchau! (despedida)

Tupã nê irúnamo --> Vá com Deus!


Tupã --> Deus (O Deus cristão; na língua geral paulista essa palavra não 

designava mais o deus tupã dos índios)

Tupã-róca --> igreja

Nhandeiára --> Nosso Senhor (Jesus)

Tupã-Sú --> Mãe de Deus (Nossa Senhora, Virgem Maria)

Tupã recê! --> 'Por Deus!', 'Pelo amor de Deus!'


Iquãe! --> Vá!

Iquãe umêm! --> Não vá!


Tenhê! --> 'Deixa pra lá!' ou 'Que seja!'

Tenhê-tenhê --> devagar


Iorí! --> Venha!

Iorí umêm! --> Não venha!


Enheêm! --> Fala!

Enheêm umêm! --> Não fale!

Enheêm tenhê-tenhê! --> Fale devagar!


Emeêm! --> Dá!

Emeêm xêvo! --> Dá pra mim!

Ameêm dêvo --> eu dou pra você


Eêm --> sim

Naâni --> não


Tecovê --> vida

Teõ --> morte


Toruva --> alegria/felicidade

Xe roru --> Estou feliz/alegre

Da xe rorúi --> Não estou feliz/alegre

Dê roru --> você está alegre/feliz (todas as frases servem também para 

pergunta: dê roru?)

Nã dê rorúi --> você não está alegre/feliz 

I rorú --> ele/ela está alegre/feliz, eles/elas estão alegres/felizes 

Di rorúi --> ele/ela não está alegre/feliz, eles/elas não estão alegres/felizes 


Porauçuva --> tristeza

Xe porauçu --> estou triste/infeliz

Da xe porauçúi --> não estou triste/infeliz

Dê porauçu --> você está triste/infeliz 

Nã dê porauçúi --> você não está triste/infeliz 

I porauçu --> ele/ela está triste/infeliz, eles/elas estão tristes/infelizes

Di porauçúi --> ele/ela está triste/infeliz, eles/elas não estão tristes/infelizes 


Tauçuva --> amor

Oroauçu! --> Te amo!

Doroauçúi --> não te amo

Açauçu. --> eu o/a amo

Daçauçúi --> não o/a amo

Opoauçu --> amo vocês

Dopoauçúi --> não amo vocês


Dê xe rauçu --> você me ama 

Pê xe rauçu --> vocês me amam 

Xe rauçu --> ele(s)/ela(s) me ama(m) 


Açauçu xe retama --> amo minha terra/pátria


Mendara --> casamento, casado(a)

Mendareúma --> solteiro(a)

Amendá-potá --> quero me casar

Amendá-potá derí --> quero me casar com você

Namendá-potári derí --> não quero me casar com você

Eremendá-potá xerí? --> quer se casar comigo?


Xe momorã --> Me agrada/gosto

Nã xe momorã --> Não me agrada/não gosto

Nê momorã --> te agrada/você gosta 

Nã nê momorã --> não te agrada/você não gosta 

I momorã --> o agrada/ele gosta

Ni momorã --> não o agrada/ele(a) não gosta 


Biú --> comida

Ú --> água

Cô --> este(a)/estes(as)

Qüê/Uím --> aquele(a)/aqueles(as)

Xe momorã cô biú --> me agrada esta comida/gosto desta comida

Nã xe momorã cô biú --> não me agrada esta comida/não gosto desta 

comida

Xe momorã qüê/uím biú --> me agrada aquela comida/gosto aquela comida

Nã xe momorã qüê/uím biú --> não me agrada aquela comida/não gosto 

aquela comida


Nheengara --> música

Xe momorã cô nheengara --> eu gosto dessa música


Poramotareúma --> ódio

Oroamotareúm --> te odeio

Noroamotareúm --> não te odeio

Anhamotareúm --> odeio ele(s)/ela(s)

Nanhamotareúm --> não odeio ele(s)/ela(s)

Opoamotareúm --> odeio vocês

Nopoamotareúm --> não odeio vocês


Dê xe amotareúm --> você me odeia 

Pê xe amotareúm --> vocês me odeiam 

Xe amotareúm --> ele(s)/ela(s) me odeia(m) 


Taçuva --> dor

Xe raçu --> estou com dor

Da xe raçúi --> não estou com dor

Dê raçu --> você está com dor 

Nã dê raçúi --> você não está com dor 


Tacuva --> calor/quentura

Xe racu --> estou com calor

Da xe racúi --> não estou com calor

Dê racu --> você está com calor 

Nã dê racúi --> você não está com calor 

Sacú --> está quente, está calor 

Da sacúi --> não está quente, não está calor 


Roú --> frio; também significa 'ano'

Xe roú --> estou com frio

Da xe roúi --> não estou com frio

Dê roú --> você está com frio 

Nã dê roúi --> você não está com frio 

I roú --> está frio 

Di roúi --> não está frio 


Itayú --> dinheiro

Arecô itayú --> tenho dinheiro

Darecôi itayú --> não tenho dinheiro

Itayuetê --> muito dinheiro, caro

Itayú merim --> pouco dinheiro, barato 


Ixê --> eu

Indê --> você/tu

Aê --> ele/ela, e também eles/elas; serve para todas as 3ª pessoas singular 

e plural

Nhandê --> nós

Peêm --> vocês/vós


Porangava --> beleza

Xe porã --> sou bonito(a)/belo(a) 

Nã xe porã --> não sou belo(a)/bonito(a)

Nê porã --> você é bonito(a)/belo(a) 

Nã nê porã --> você não é bonito(a)/belo(a) 

I porã --> É bonito(a)/belo(a) 

Ni porã --> Não é bonito(a)/belo(a) 


Catu/catusava --> o bem, bondade

Xe catu --> sou bom/boa

Da xe catúi --> não sou bom/boa

Dê catu --> você é bom/boa

Nã dê catúi --> você não é bom/boa

I catu --> é/está bom/boa/bem

Di catúi --> Não é/está bom/boa/bem


Aíva --> maldade, ruindade

Xe aí --> sou mau/ruim

Da xe aí --> não sou mau/ruim

Dê aí --> você é mau/ruim

Nã dê aí --> você não é mau/ruim

I aí --> é mau/ruim, são maus/ruins

Di aí --> não é mau/ruim, não são maus/ruins


Aipotá --> quero, desejo. Também significa 'concordo' e 'permito'

Daipotári --> não quero, não desejo, não concordo, não permito


Ambaê upotá --> quero comer

Nambaê upotári --> não quero comer

A upotá ú --> quero beber água

Da upotári ú --> não quero beber água


Acaú --> bebo (bebida alcoólica)

Dacaúi --> não bebo (bebida alcoólica)

Acaú potá --> quero beber (bebida alcoólica)

Dacaú potári --> não quero beber (bebida alcoólica)

Erecaú te? você bebe (bebida alcoólica)?


Aicuá --> eu sei

Daicuái --> não sei

Ereicuá --> você sabe

Dereicuái --> você não sabe

Oicuá --> ele sabe

Doicuái --> ele(s)/ela(s) não sabem


Tchinga --> branco (também 'morotchinga')

I tchim --> é branco

Ni tchim --> não é branco


Moruna --> preto

Sum --> é preto

Nã sum --> não é preto


Piranga --> vermelho

I pirã --> é vermelho

Ni pirã --> não é vermelho


Tovú --> azul

Sovú --> é azul

Da sovúi --> não é azul


Iúva --> amarelo

I iú --> é amarelo

Di iúi --> não é amarelo


Uaraçú --> sol

Iaçú --> lua

Iaçutatá --> estrela

Uaçú --> rio

Paranã --> mar


Iauara --> cachorro

Maracaiá mirim --> gato/gatinho

Uramirim --> passarinho


Colaboração: 

ARITMÉTICA NA PRÁTICA - Adilson Zotovici

Apenas visão poética

Em compasso à temática

Ao artesão, não hermética

Dum braço da matemática


Avaliação eclética

Duma lição pragmática

Na ação aritmética

Um tanto até emblemática


Arte Real na dialética

Quatro operações na gramática:

Dividir o pão com ética


Somar amor a sistemática

Subtrair a herética

Multiplicar fé na prática !