agosto 09, 2024

CURANDEIRISMO E EXORCISMO - Almir Sant’Anna Cruz

 

À luz das modernas descobertas sobre a relação existente entre a mente e o corpo, nos casos de doença, as atividades dos curandeiros parecem de uma surpreendente atualidade. Nos seus primeiros contatos com sociedades tribais, os homens brancos ficavam intrigados diante dos curandeiros, bizarramente pintados e paramentados. Sem compreender seus rituais, mas percebendo que visavam freqüentemente curar os enfermos, os brancos consideravam mera feitiçaria aquelas práticas primitivas. Muitos dos rituais coloridos – com suas máscaras e roupagens – têm uma finalidade, isto é, são complementos visuais do tratamento psiquiátrico que o curandeiro, ao seu modo, realiza. 

 

Psiquiatras africanos passaram a utilizar diversas técnicas nativas e perceberam que podiam empregar curandeiros para trabalharem lado a lado com psiquiatras, sem qualquer desarmonia. Os complementos visuais, encantamentos simbólicos e frases persuasivas podem significar uma suave sugestão hipnótica. Se o curandeiro diz, enquanto banha o paciente: “seu mal está indo embora, como esta água escorre para o chão”, a metáfora ajuda a imprimir na mente do enfermo a noção de partida.

 

Em certas regiões da África, os curandeiros empregam hipnose profunda, provocando o transe em pacientes isolados ou em grupos. Diz-se que o curandeiro indiano trata a mordida de cobra com métodos semelhantes. Embora muitas cobras não sejam venenosas, o choque da mordida pode matar uma pessoa sugestionável. Ninguém sabe se o curandeiro cura o estado de choque, ou se o seu poder de persuasão ajuda a resistência do organismo realmente envenenado. 

 

O conhecimento farmacêutico dos curandeiros tem precedido o da medicina civilizada. Boa parte dos medicamentos atualmente em uso, já eram empregados pelos curandeiros, com os quais a ciência obteve o conhecimento de suas propriedades medicinais. A malária era tratada com sucesso pelos índios peruanos a partir de infusões da casca de Chichona bem antes que os europeus a colocassem sob controle, através de observações das práticas indígenas pelos jesuítas em 1638.

 

Os curandeiros brâmanes do sudoeste asiático já utilizavam, por milhares de anos, a raiz da Rauwolfia serpentina como substância medicinal, até que, em 1887, dois holandeses descobrissem seu uso e agora, a reserpina, substância extraída dessa raiz, é de emprego comum no combate à hipertensão e como tranquilizante. Desde o século XVII os curandeiros usavam a casca de Salix (salgueiro) para tratar reumatismos. Uma vez purificada, a solução deu origem ao ácido acetilsalicílico, fundamento dos comprimidos de aspirina usados hoje em dia.

 

No Brasil, de longa data, utilizam-se certas plantas e ervas para o tratamento de algumas moléstias e a própria ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, recentemente autorizou a industrialização e a comercialização de fórmulas farmacêuticas que empregam tais plantas e ervas. Em algumas partes da África, certos remédios secretos são tão respeitados, que mesmo os médicos africanos formados na Europa preferem enviar seus filhos ao curandeiro. 

 

O curandeiro das cidades não é necessariamente um charlatão. Conquanto imprimam folhetos mentirosos, declarando que podem curar qualquer doença conhecida, na verdade fazem com que os pacientes tenham fé em sua medicina. Embora não pintem o rosto nem usem máscaras, eles dependem tanto da aparência como seus predecessores. E sua reputação depende dos pacientes que eles recuperam. Não obstante os poderes invocados pelos curandeiros sejam imaginários, na medida em que um grupo acredita em tais poderes, ele pode adquirir uma eficácia, mesmo que limitada, mas muito real.

 

Além disso, o sucesso dos curandeiros, em alguns casos, está ligado a doenças que, depois de atingirem o auge de desenvolvimento, regridem e desaparecem naturalmente, qualquer que seja o tratamento recebido. O principal elemento com que conta o curandeiro é a fé dos pacientes na cura das moléstias que os aflige e a ação do curandeiro se concentra em sua capacidade de convencimento do valor de seus métodos de cura.

 

Estudando as práticas do vudu, no Haiti, pesquisadores americanos concluíram que certos mecanismos psico-fisiológicos podem conduzir à morte por enfeitiçamento. Numa sociedade em que a crença nos poderes do feiticeiro está enraizada na tradição, um indivíduo raramente põe em dúvida o fato de que esteja condenado. As pessoas que o cercam, por sua vez, participam dessa certeza e afastam-se da vítima como se ela fosse portadora de uma doença contagiosa. Dominado pelo pânico e marginalizado pelo grupo social, o enfeitiçado tem grandes possibilidades de adoecer realmente, confirmando, assim, o poder do feiticeiro.

 

E como se desencadeiam as alterações fisiológicas que tornam o feitiço real? Podemos supor que o medo intenso venha a provocar uma atividade particularmente intensa do sistema nervoso simpático, ocorrendo então uma queda da pressão sanguínea, bem como uma significativa redução de todo o sistema de defesa e imunidade, resultando em desgastes irreparáveis do aparelho respiratório e em todo o sistema orgânico do indivíduo. Além disso, dominada pela tensão, a vítima recusa-se a comer e beber e, a desidratação, contribui para diminuir ainda mais o volume de sangue em circulação. Este quadro já foi observado nos campos de batalha, em indivíduos traumatizados por bombardeios ou por episódios trágicos que presenciaram. 

 

Para a maioria dos ocidentais modernos, todas essas práticas de curandeirismo parecem bizarras e desprovidas de fundamento real. Nossa tendência natural e imediata é atribuí-las à ignorância de populações ingênuas, negando a eficácia dessas práticas. Contudo, não se deve olvidar que, para aqueles que acreditam em sua eficiência, o poder do curandeiro pode ser bastante efetivo, como o são, em pessoas com certos distúrbios psiquiátricos, a prática do exorcismo dos padres católicos, com os paramentos, palavras e símbolos cristãos que utilizam nas sessões.

 

As igrejas Neo-Pentecostais, ressalvados os casos de fraude, que não são poucos, fazem uso freqüente de exorcismos públicos, muitas vezes transmitidos pela televisão em tempo real, usando pessoas com evidentes distúrbios psiquiátricos e facilmente influenciáveis. Esses elementos exercem o mesmo efeito dos empregados pelos primitivos curandeiros, nas pessoas que se acham possuídas por “forças malignas”, como atestam respeitados psiquiatras.

 

Concluímos, portanto, que conquanto muitos curandeiros das cidades sejam charlatões, os curandeiros não são necessariamente charlatões,. Muitos de seus remédios vieram a ser empregados pela ciência no tratamento de diversas doenças e inúmeras práticas que adotam são utilizadas e explicadas cientificamente pela psiquiatria moderna.

QUEM É AMIGO - Newton Agrella


 

A mensagem contida na postagem acima é um verdadeiro alerta de vida.

São tantas as pessoas que  de um modo ou de outro transpõem e ou  simplesmente esbarram pela nossa existência que somente diante dos dias mais difíceis é que se consegue identificar o papel que cada uma delas desempenha neste nosso palco.

Pai, Mãe, Irmãos, Avós e Primos têm na medida das circunstâncias e da própria convivência, graus de intensidade em suas relações conosco, cujos valores podem ser medidos de acordo com os lances mais agudos que cada um de nós se expõem durante nossa jornada.

É bem verdade que não se trata de um concurso de relações humanas.

Contudo é inegável que a figura do "amigo" é aquela que talvez melhor traduza a essência desta peça teatral chamada VIDA. 

O Amigo ou Amiga é uma propriedade especial que tanto pode se revelar através de um familiar, como também naquele ou naquela que não possui qualquer vínculo consanguíneo conosco.

E assim vai...

Não menos prosaico porém, é o papel do "passageiro" , este por sua vez é um coadjuvante, que passa despercebido em cena.

Por vezes tropeça e atrapalha nosso caminho e sai de banda sem pedir desculpas, e às vezes, sem querer fura a fila, aparece diante de nós, e involuntariamente acaba nos dando um empurrãozinho, que pode nos ajudar a vencer um obstáculo, e pelo que ficamos eternamente gratos sem jamais sabermos qual o nome deste fugaz personagem.

Eis aí talvez, o porque precisamos dos dias difíceis. Eles se fazem necessários para que possamos manter nossa consciência desperta e para que possamos aprender a sermos gratos mesmo diante de experiências negativas que acumulamos.


*NEWTON AGRELLA*

O SIMBOLISMO DA ROMÃ - José Trautwein


O símbolo menos analisado na filosofia maçônica é, sem duvida, a romã.

Colocada sobre o capitel de cada coluna, sempre acima do olhar físico de cada Obr.’., ela passa despercebida e, por isso, mais ignorada, porque da muito trabalho olhar para cima e sondar os mais elevados ideais que a Maçonaria busca.

Nos trabalhos escritos da maioria dos autores maçônicos, vê-se muito sobre significados e interpretações dos símbolos que envolvem as colunas B e J.

Não se tem dado muita atenção às romãs que, embora sustentadas pelas colunas, representam o que há de mais essencial em nossa instituição.

Senão, vejamos:  “tomemos uma romã em nossas mãos”  é uma fruta bastante diferente das demais e não foi por acaso que entrou como peça decorativa dos Templos Maçônicos.

A sua casca, dura e resistente, representa a Loja em si, o templo material que abriga os OObr.’. reunidos. 

As sementes representam os OObr.’..

Ora, como se sabe, uma semente não é exatamente igual à outra, em tamanho e formato, mas o paladar de todas é invariavelmente idêntico.

Daí já extrai uma lição valiosa: não importa, para quem saboreia a fruta, quais as sementes são pequenas e quais as grandes; importa isso sim, o paladar.

Na Loja, temos IIr.’. de menor porte na vida profana e outros, com maior gabarito social e econômico .

Se a sabedoria do G.’.A.’.D.’.U.’. assim o quis, cabe nos lembrar que a mesma seiva que alimentou o pequeno grão, alimentou igualmente o maior.

Não obstante, as sementes pequenas e grandes estão unidas, todas compondo um único fruto, com um só objetivo: servir de alimento e fonte de prazer ao paladar.

O que, na romã, mantém as sementes unidas?

O bom observador da natureza maravilhosa, nota muito bem que é a pele interna, que tem a finalidade de manter unidas as sementes da romã.

Essa pele, feita da mesma substancia carnuda e consistente da casca e do miolo,  representa o selo, ou melhor, o sigilo maçônico.

Rompido esse selo, as sementes ficam expostas ao ataque de pragas, deteriorando-as e estas perdem assim sua finalidade.

Igualmente na Loja, todos os nossos assuntos carecem da proteção do sigilo, sob pena de, rompido este, a Loja, que é a romã, vir a sofrer sérias conseqüências como a perda da coesão, da união que deve reinar em nosso meio em prol o bem comum.

Diga-se de passagem, nosso juramento, representado pela seiva que alimenta as sementes (os OObr.’.)  foi contraído sem o mínimo de coação moral e sem reserva mental ou equivoco.

Rompido esse juramento, a fruta definha seca e, por fim, apodrece.

Assim, o sigilo, representado pela pele que UNE e SELA as sementes, merece de nossa parte o máximo de cuidados.

A fruta, ao soar da primeira batida do malhete até a última, deve ser saboreada enquanto durem os trabalhos.

É responsabilidade do fruticultor, que representa o Venerável, zelar para que a árvore da Maçonaria venha a produzir frutos não afetados por pragas e doenças, zelando pela preservação não só da casca da fruta (o material), como também pela unidade garantida pelo sigilo, que é simbolizado pela pele interna da fruta.


O CONTO DA LATIF - Jorge Bucay



Latif era o mendigo mais pobre da aldeia.

Todas as noites dormia no saguão de uma casa diferente, em frente à praça central da cidade.

Todos os dias se deitava debaixo de uma árvore diferente, com a mão estendida e o olhar perdido em seus pensamentos.

Todas as tardes comia da esmola ou das doações de alguém caridoso. 

No entanto, apesar da sua aparência e da forma como passou os seus dias, Latif era considerado por todos, o homem mais sábio do povo, talvez não tanto pela sua inteligência, mas por tudo o que tinha vivido, por sua experiência de vida.

Numa manhã ensolarada o próprio rei apareceu na praça. Rodeado de guardas, andava entre as barracas de frutas e bugigangas procurando por nada.

Rindo dos mercadores e dos compradores, quase tropeçou no Latif, que dormia na sombra de uma arvore.

Alguém lhe disse que estava diante do mais pobre dos seus súbditos, mas também diante de um dos homens mais respeitados pela sua sabedoria.

O rei, engraçado, aproximou-se do mendigo e disse-lhe:

- Se você me responder a uma pergunta eu lhe dou esta moeda de ouro.

Latif olhou para ele, quase depreciativamente, e disse-lhe: = Podes ficar com a tua moeda, para que eu a quereria? Qual é a sua pergunta?

E o rei sentiu-se desafiado pela resposta e, em vez de uma pergunta banal, despachou-se com uma questão que há dias o angustiava e que não conseguia resolver. Um problema de bens e recursos que seus analistas não tinham conseguido resolver.

A resposta de Latif foi justa e criativa.

O rei ficou surpreso, deixou sua moeda aos pés do mendigo e seguiu seu caminho pelo mercado meditando o que aconteceu.

No dia seguinte, o rei voltou a aparecer no mercado.

Já não andava entre os mercadores, foi direto para onde Latif descansava, desta vez sob uma oliveira. Mais uma vez o rei fez uma pergunta e Latif respondeu-a rápida e sabiamente.

O soberano voltou a ficar surpreso com tanta lucidez. Com humildade tirou as sandálias e sentou no chão em frente ao Latif.

Latif, eu preciso de você” - disse-lhe. - Estou sobrecarregado pelas decisões que como rei devo tomar. Não quero prejudicar o meu povo nem ser um mau governante. Peço-te que venhas ao palácio e sejas meu conselheiro.

- Prometo que nada te faltará, que serás respeitado e que poderás partir quando quiseres... Por favor.

Por compaixão, serviço ou surpresa, o caso é que Latif, depois de pensar alguns minutos, aceitou a proposta do rei.

Nessa mesma tarde Latif chegou ao palácio, onde imediatamente lhe foi atribuído um luxuoso quarto a poucos 200 metros do quarto real. No quarto, uma banheira de aromas e água morna o esperava.

Nas semanas seguintes, as consultas do rei tornaram-se habituais. Todos os dias, de manhã e de tarde, o monarca mandava chamar seu novo conselheiro para consultar sobre os problemas do reino, sobre sua própria vida ou sobre suas dúvidas espirituais.

Latif respondia sempre com clareza e precisão.

O recém-chegado tornou-se o interlocutor favorito do rei.

Três meses após a sua estadia, deixou de haver medida, decisão ou decisão que o monarca não consultasse o seu precioso conselheiro. Obviamente isso desencadeou o ciúme de todos os cortesãos que viam no mendigo-consultor uma ameaça à sua própria influência e um prejuízo aos seus interesses materiais.

Um dia todos os outros conselheiros pediram uma audiência ao rei. Muito circunspectos e gravemente disseram-lhe:

 - Seu amigo Latif, como você o chama, está conspirando para te derrubar.

-  Não pode ser, não acredito” - disse o rei.

-  Você pode confirmar com seus próprios olhos - disseram todos.

- Todas as tardes por volta das cinco, Latif escapa do palácio para a ala sul e em um quarto escondido se reúne às escondidas, não sabemos com quem.

- Perguntamos-lhe onde ia uma dessas tardes e ele respondeu com evasão. Essa atitude acabou de nos alertar sobre sua conspiração.

O rei sentiu-se desapontado e magoado.

Tinha de confirmar essas versões. Nessa tarde, às cinco, estava escondido na curva de uma escada. De lá, viu Latif chegar à porta, olhar para os lados e com a chave pendurada no pescoço, abria a porta de madeira e escapava furtivamente para dentro do quarto.

- Vossa Majestade viu?  - gritaram os cortesãos.

Seguido de sua guarda pessoal o monarca bateu na porta.

- Quem é?  - disse Latif de dentro.

- Sou eu, o rei - disse o soberano... - abra a porta.

Latif abriu a porta.

Não havia ninguém além do Latif. Nenhuma porta, nenhuma janela, nenhuma porta secreta, nenhuma mobília que permitisse esconder alguém.

Só havia no chão um prato de madeira desgastado, num canto uma vara de andador e no centro da peça uma túnica roída pendurada por um gancho no teto.

- Você está conspirando contra mim, Latif? - perguntou o rei.

- Como pode pensar isso, majestade - respondeu Latif -  Por que eu faria isso? 

- Pois você vem aqui todas as tardes em segredo. O que você procura se não se vê com ninguém? Por que você vem para este lugar às escondidas?

Latif sorriu e aproximou-se da túnica quebrada que estava pendurada do telhado.

Ele acariciou-a e disse ao rei:  - Há seis meses quando cheguei ao seu castelo, tudo o que tinha era esta túnica, este prato e esta vara de madeira - disse Latif.

- Agora me sinto tão confortável com a roupa que visto, é tão confortável a cama em que durmo, é tão lisonjeador o respeito com que me tratas e tão fascinante o poder que trás o meu lugar ao teu lado... que venho todos os dias para ter certeza de uma coisa... nunca esquecer QUEM EU SOU E DE ONDE EU VIM.


agosto 08, 2024

INVICTUS - Jorge Gonçalves




O filme "Invictus", dirigido por Clint Eastwood e lançado em 2009, é baseado em eventos reais da vida de Nelson Mandela, interpretado por Morgan Freeman.

O filme destaca a importância do poema "Invictus" para Mandela, que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 1993.

 Durante seus 27 anos de prisão política, Mandela recitava o poema para enfrentar momentos extremamente difíceis. O poema "Invictus" foi escrito por William Ernest Henley em 1875, enquanto ele se recuperava de uma doença.


                     *Invictus*


Noite escura que me envolve Negra como um poço de ponta a ponta, Agradeço aos deuses, seja quem for, Pela minha alma invicta.

Nas garras cruéis das circunstâncias Não fiz careta nem gritei. Sob os golpes do destino Minha cabeça sangra, mas não se curva.

Além deste lugar de ira e lágrimas Paira o horror da sombra, E ainda assim a ameaça dos anos Me encontra e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portão, Quão carregada de castigos a sentença, Eu sou o mestre do meu destino, Eu sou o capitão da minha alma.

JUIZ DE FORA - Roberto Ribeiro Reis


Em um mundo tomado pelos julgamentos e preconceitos, há um juiz, cuja capacidade de lidar com os problemas –dos mais comezinhos aos complexos- é algo que nos impressiona, pela tranquilidade e espírito de lucidez com a qual se porta este Venerando Magistrado.

Um Juiz de Fora. Fora desse mundo caótico e apocalíptico que temos vivenciado e assistido; um juiz fora da percepção do senso comum, inalcançável em capacidade de tirocínio até mesmo pelos magistrados da vida profana, dado que ele não se imiscui em política ou coisas afins.

Um juiz cuja lavra de decisões se destacam não pelo arrazoado de jurisprudências e doutrinas, mas singularmente pelo bom senso, pelo viés humanitário e pelo grande espírito de pacificação social.

Um Magistrado Celestial, sem subsídios ou quaisquer privilégios decorrentes da função exercida; a bem da Ordem, tudo o que ele faz é por pura doação: doação de tempo –embora onde ele assista não exista nem espaço e medida de tempo- oferta incondicional de amor e a aplicação insofismável da lei de caridade e de justiça.

Amados Irmãos! Este Soberano Julgador bate à nossa porta, pedindo (e jamais impondo) tão-somente que possamos lhe dar alguns momentos de atenção, numa audiência solene de paz, fraternidade e extrema amabilidade. Ele só deseja que deixemos o nosso templo apto à sua visita, preferentemente promovendo uma faxina interior bem caprichada, alijando dele todos os maus sentimentos e pensamentos vulgares.

Pode ser considerado um Juiz de fora das insanidades profanas, mas que consegue adentrar o nosso vazio existencial, dando-lhe graça, luz e esplendor, vivificando-nos com seu Sopro Divino, num exercício de mais profunda indulgência para conosco.

Por outro lado, é um Juiz de dentro, do interior de nossa alma, que não julga nossas imperfeições e (curiosamente) nos oferece o livre-arbítrio, a despeito ou não de sermos inveterados reincidentes no mal. Sua Sabedoria nisto consiste: mostrar-nos o caminho a ser trilhado, mas deixando ao nosso alvedrio a escolha da rota final.

Um Preboste Universal, cuja retidão se materializa em feitos jamais realizados pelo homem mais culto na face da terra; seu magistério é pautado na mais lídima justiça, não fazendo quaisquer tipos de distinções entre os homens, mas nivelando a todos, indistintamente, num compasso da mais notória equidade.

Um Julgador Complacente e Misericordioso que poderia nos prolatar a mais cruel das sentenças (em movimentação processual recorde), mas que ainda insiste no caráter pedagógico e educador da pena, proporcionando- nos a corrigenda, seja pelo amor – seu grande sonho em relação aos seus filhos– ou também através da dor, caminho geralmente escolhido pela maioria de nós, livremente.

A ORIGEM DO BALANDRAU NA MAÇONARIA BRASILEIRA - José Castellani


O substantivo masculino balandrau (da forma latina hipotética balandra), designa a antiga vestimenta, com capuz e mangas largas, abotoada na frente; designa também, certo tipo de roupa usada por membros de antigas confrarias, geralmente religiosas. 

Embora alguns autores insistam em dizer que o balandrau não é veste maçônica, o seu uso remonta à primeira das associações de ofício organizadas (cujo conjunto é hoje chamado de maçonaria de ofício, ou Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. 

Segundo Steinbrenner, em “História da Maçonaria”, os collegiati, quando se deslocavam pela Europa, seguindo as legiões de soldados romanos, para reconstruir o que ia sendo destruído pelos conquistadores, portavam uma túnica negra. 

À semelhança deles, os membros das confrarias operativas dos francos-maçons medievais (século XIII em diante), quando viajavam para outras cidades, outros feudos ou outros países, usavam um balandrau negro.  

Os que condenam o uso do balandrau costumam afirmar que o Maçom deveria apresentar-se nas Sessões das Lojas, vestindo terno preto, camisa branca, gravata,  sapatos e meias pretas; isto é altamente discutível. 

Tome-se por exemplo as regiões quentes nos Estados Unidos, onde os Maçons costumam trabalhar em mangas de camisa, portando o avental, evidentemente, pois traje maçônico mesmo, é o avental, já que sem ele o Maçom é considerado nu. 

Na realidade, discutir traje ( além do verdadeiro traje, que é o avental), na Maçonaria, é o mesmo que discutir o sexo dos anjos, pois, sabendo-se que o traje masculino sofre variações através dos tempos, variando, inclusive, de povo para povo, na mesma época. É evidente que não se pode determinar a maneira de trajar. 

É permitido, por exemplo, em qualquer lugar do mundo, o uso de roupas típicas para Maçons estrangeiros (o albornoz árabe, por exemplo), ou o uso de uniforme, por parte dos militares, desde que estejam, é claro, com seu avental maçônico. 

A existência de traje a rigor para os Maçons, mostra grande dose de influência clerical, significando o traje como sinal de respeito, o que, realmente, é inadmissível, já que a consciência do Homem está em seu interior, e não na sua roupa. 

A Igreja, que é bastante conservadora, já tem abandonado esta exigência; com mais razão, deve faze-lo a Maçonaria que, sendo evolutiva e progressista, não comporta anacronismos. 

Que fique bem claro que traje maçônico é o avental, mas sob ele deve haver uma roupa decente; e o balandrau, como roupa decente, pode uniformizar o traje, o que é também, uma forma de mostrar a igualdade maçônica, evitando as ostentações do vestuário. 

E jamais nos esqueçamos que o balandrau já foi traje dos Maçons de Ofício. 

Só é preciso ter em mente que o balandrau (que também é usado pelos Expertos, em algumas cerimônias) é veste talar, ou seja, deve se estender até os talões, ou calcanhares.

Tese de José Castellani ( Publicado na revista A TROLHA n◦ 52 de fevereiro de 1991 )

agosto 07, 2024

SARTRE E A LIBERDADE DE ESCOLHA - Bruno Carrasco


 Um dos grandes mal entendidos sobre o existencialismo consiste em crer que esta filosofia defende que toda pessoa seja livre para fazer o que quiser, a todo momento. 

Vejamos, o existencialismo compreende que as pessoas são livres para fazer escolhas, porém essa concepção de liberdade é um tanto diferente do entendimento que temos no senso comum. 

Liberdade, na concepção existencialista, significa a possibilidade de fazer escolhas. Somos livres pois fazemos escolhas em nossa vida a todo momento, e não há como não fazer. 

Agora mesmo, você está escolhendo ler esse texto, mas pode, a qualquer momento, deixar de ler e fazer outra atividade, sair andando para algum lugar ou não fazer nada. "Estamos condenados a ser livres." (Jean-Paul Sartre) Não há como não ser livre, pois não há como não escolher. 

Neste sentido, a liberdade é também uma espécie de "condenação", pois inclusive quando escolhemos não fazer nada, estamos escolhendo. Partindo desses apontamentos, algumas pessoas que pensam que por serem livres podem fazer o que querem, a qualquer momento, mas não é bem isso o que Sartre está nos dizendo. 

Somos livres para fazer escolhas, mas isso não significa que podemos fazer tudo o que desejamos a todo momento. A liberdade no existencialismo corresponde a possibilidade de escolher, e isso não significa que podemos escolher qualquer coisa, pois nossas escolhas são em parte condicionadas, em parte limitadas e em parte possíveis.

Quando refletimos sobre o termo "liberdade" no sentido popular, acreditamos que livre é aquele que faz o que quer e deseja, e que não se importa com as consequências de seus atos. 

Porém, na concepção existencialista, isso não seria liberdade, mas libertinagem. Liberdade, segundo o existencialismo, corresponde a fazer escolhas e lidar com as consequências dessas escolhas. 

Não significa que somos "culpados" por nossas escolhas ruins, mas que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos. O interessante é que podemos, além de nos responsabilizar pelas escolhas que fazemos, também aprender e fazer novas e melhores escolhas. 

Pois, se estamos escolhendo a todo momento, podemos sempre refazer escolhas e buscar novos caminhos e perspectivas para a nossa vida. 

A escolha, segundo o existencialismo, nem sempre é algo agradável, pode ser difícil e inclusive muito angustiante escolher a todo momento. Por conta disso, uma das primeiras consequências da escolha é justamente a angústia, que surge quando tomamos a consciência da nossa possibilidade de escolha, e de que nossas escolhas constroem a pessoa que estamos sendo. 

Por nos perceber como o único responsável por fazer as escolhas em nossa vida, podemos nos sentir desamparados. Pois, mesmo que outras pessoas nos ajudem a fazer uma escolha, seja por conselhos ou indicando o que, para eles, é o melhor a ser feito, a escolha final será sempre a nossa. 

Trata-se de um constante confronto com a nossa existência e a nossa solidão. A partir do momento em que, conscientemente, fazemos uma escolha e a efetivamos esta em ações, nos tornamos responsáveis pela escolha que fizemos. 

Entre as inúmeras possibilidades que poderíamos ter escolhidos, optamos por uma delas, e essa escolha nos levará a outras possibilidades e caminhos. " _Viver é isto: ficar se equilibrando todo o tempo entre escolhas e consequências."_ (Jean-Paul Sartre) Porém, algumas pessoas não se sentem a vontade com a possibilidade de escolher e preferem evitar a responsabilidade de suas escolhas, atribuindo essa incumbência a outras pessoas, a uma norma social, a uma religião, ao acaso, a um partido político, a uma tradição de família, etc. 

Sartre chama isso de má-fé, que ocorre quando faço uma escolha e acredito que fiz essa escolha não por conta própria, mas por outra coisa, pessoa ou circunstância. Quando conseguimos lidar com a angústia da escolha e evitar a má-fé, passamos a perceber que por meio de cada escolha que faço amplio minhas possibilidades de ser, me abrindo novas perspectivas, me engajando e projetando a minha existência em novas atividades.

 

CONTO POPULAR JUDEU


Um judeu russo foi finalmente autorizado a emigrar para Israel.

No aeroporto de Moscou, a alfândega encontra uma estátua de Lenin em sua bagagem e questiona: "O que é isso?"

O homem respondeu: "O que é isso? Pergunta errada camarada. Você deveria ter perguntado: Quem é ele? Este é o camarada Lênin. Ele lançou as bases do socialismo e criou o futuro e a prosperidade do povo russo. Estou levando comigo  como uma memória de nosso querido herói."

O funcionário da alfândega russa o deixou ir sem mais inspeção.

No aeroporto de Tel Aviv, o oficial da alfândega israelense também perguntou ao nosso amigo russo: "O que é isso?"

Ele respondeu: "O que é isso? Pergunta errada  senhor. Você deveria estar perguntando: Quem é?  Este é Lênin, o bastardo que fez com que eu, um judeu, deixasse a Rússia. Levo esta estátua comigo para que possa amaldiçoá-lo todos os dias."

O funcionário da alfândega israelense diz: "Peço desculpas senhor. Está liberado para ir."

Instalando-se em sua nova casa, ele colocou a estátua sobre uma mesa. Em seu novo lar,  ele convida amigos e parentes para jantar.

Um de seus amigos vê a estátua e pergunta: "Quem é este?"

Ele respondeu: "Meu caro amigo, quem é este é uma pergunta errada. Você deveria ter perguntado: O que é isso?

"São dez quilos de ouro maciço que consegui trazer comigo sem pagar taxas alfandegárias e impostos."

- CONCLUSÃO:

"Política é quando você pode falar do mesmo assunto, de maneiras diferentes, para enganar públicos diferentes. E isso permite que você transite por todos os ambientes, como bom cidadão, sem levantar suspeitas."



agosto 06, 2024

CRESCIMENTO E FORTALECIMENTO DA LOJA MAÇÔNICA- Fuad Haddad


 

A ÉTICA E O SIGILO - Gabriel Oliveira


Coordenar e promover a ética em nós corresponde aprender a analisar os elementos que compõem a existência-humana-no-mundo. 

O ser humano não pode viver sem os outros da sua espécie e precisa deles para evoluir e tornar-se cada vez mais ético.

É nos relacionamentos pessoais, profissionais, comunitários e outros que nós temos a grande oportunidade de conhecer alguém e receber dele informações que, para o bem ou mal nos alimentam, nutrem, afetam nosso comportamento, nossas opiniões e decisões.

Toda pessoa tem o sagrado direito de se expressar, comunicar, expor suas idéias, executar seus argumentos, deliberar seus projetos/planos, estar contra ou a favor. 

Todavia, esses mesmos direitos, a outra pessoa os tem, e por isso, a cordialidade de ouvir os outros é algo tão sagrado quanto o direito que nos é outorgado.

Hoje, vivenciar um valor ético é uma arte que move a personalidade num compromisso tal que estimula a prudência nas ações, vale dizer, o sigilo. 

É sabido que não existem pessoas iguais e, é na riqueza da diferença que vemos a beleza da arte de viver, a criatividade dos outros e a alegria da convivência.

O sigilo assegura o caráter ético, dá segurança ao valor da comunicação e objetiva o que é essencial num diálogo. 

Ele nos faz pessoas responsáveis e respeitadas no campo profissional e no ambiente no qual estamos envolvidos. 

É nesta trilha de ideias que vemos a grande glória do respeito. 

Ainda mais, o sigilo nos oferece as credenciais da fidelidade à instituição que trabalhamos ou convivemos, reforça nosso compromisso pessoal e social.

No olímpico campo de ação na qual nos envolvemos, o sigilo só progride na ética, e esta só progride no sigilo, se nós nos programamos e determinamos nossas palavras, comentários, nossos desejos de “eu sei que você não conta para ninguém”, em qualquer ambiente que estejamos. 

Com isso, não queremos fazer do sigilo um mistério ou algo infalível na cátedra da consciência. 

O sigilo tem sua verdadeira comunicação na hora certa. 

Só esperamos que ninguém tenha o dissabor de errar a hora.

Gostaria de terminar este meu artigo citando as palavras de Napoleon Hill:

... *“estar juntos é um começo, continuar juntos é um progresso, trabalhar em conjunto é 

CONSTRUÇÃO DO SER HUMANO - Alexandre Cássio Lopes


Em nossa pequena observação, que refere construção do ser humano que é um tema fascinante e complexo que abordamos em nossa Ordem, que envolve várias dimensões e mundos complexos biológica, psicológica, social e filosófica.

Para a Dimensão Biológica: Acredito que a formação biológica do ser humano começa na concepção iniciativa com referência ao Número 3 e continua ao longo do desenvolvimento fetal, infância, adolescência e vida adulta.

Para a Dimensão Psicológica: o ser humano iniciático se desenvolve através de interações com o ambiente e outras pessoas numa escala associativa.

Para a Dimensão Social: obviamente o ser humano é moldado pelas culturas, tradições, valores e normas da sociedade em que vive. Dentre os princípios que são basilares de nossa Ordem a educação, a família, a escola e o ambiente de trabalho desempenham papéis cruciais na formação do Homem.

Para a Dimensão Filosófica: a construção material simbólico, o ser humano é visto como um processo de autoconhecimento e desenvolvimento da racionalidade.

Podemos, se me permitir meus caros Irmãos, mencionar pensadores como Jean-Paul Sartre  que sugerem que a essência do ser humano é construída tanto pelas escolhas que fazemos quanto pelas influências externas.

Todas estas dimensões especulativas interagem de maneira complexa para formar o ser humano em sua totalidade.

Podemos assim concluir amados que a máquina perfeita criada do Barro com bateria biológica se transforma ao longo dos tempos, se aproximando e se multiplicando dando forma e tomando forma. Segundo, bóson de Higgs a criação é uma partícula responsável pela existência de um campo que permeia todo o Universo.

Somos um e somos todos.