agosto 12, 2024

COMO TAL ME RECONHECE








Meu irmão, como tal me reconhece,

Quanta honra, quanta alegria,

Ser visto pelos meus irmãos,

Na fraternidade, na liberdade

E na igualdade, na harmonia do servir.


Meus passos são conhecidos,

Sem sinais, sem alarde,

Meu irmão, como tal me reconhece,

Na simplicidade do sentir que arde.


Não preciso de títulos,

Não preciso de placas ou distintivos,

Meu ser é revelado,

Pelo gesto, pelos traços intuitivos.


A forma de ver a vida,

Reflete-se em cada irmão,

Para todos ao redor, sou um estranho,

Mas sempre passa um irmão em comunhão.


Pelo modo de ser, pela vivência,

Pela essência que compartilho,

Na jornada da vida, sou reconhecido,

Meu irmão, como tal, me vê e me abriga.


Na psique coletiva, na alma fraternal,

Reside o vínculo profundo,

Onde a identidade se expande,

E meu irmão, como tal, me reconhece no mundo, por onde eu ando.


No silêncio eloquente do templo,

No trabalho em busca do aperfeiçoamento,

Na justiça, na verdade e no zelo,

Meu irmão, como tal, me reconhece, em qualquer momento.


Pelo respeito à tradição,

Pela prática da caridade,

No contínuo aperfeiçoamento da razão,

Encontro a verdadeira liberdade.


E assim, na luz que nos guia,

No amor que nos une e nos fortalece,

Meu irmão, como tal, me reconhece,

E nossa fraternidade resplandece.



TOLERÂNCIA E SEUS LIMITES - Rui Bandeira


Em Maçonaria, o conceito de Tolerância não inclui qualquer noção de superioridade do tolerante perante o tolerado. 

Isto é, não se tolera a opinião ou a crença do outro porque somos boas pessoas e achamos que, devemos fazê-lo, apesar de entendermos que nós é que estamos certos e o outro é que está errado, fazendo-lhe o favor de aceitar que ele tenha opinião errada.

O conceito maçónico de Tolerância existe como corolário do princípio da Igualdade, basilar entre os maçons. 

Deve-se tolerar e tolera-se a opinião diferente ou divergente do outro, porque, como iguais que somos, cada um tem o direito a ter a sua opinião, como muito bem entenda tê-la. 

E tolera-se e deve tolerar-se a opinião diferente e divergente do outro em relação à nossa, porque não devemos ter a sobranceria de achar que nós é que somos os iluminados, tocadas pela graça divina de estarmos sempre certos.

Quando o nosso igual tem uma opinião diferente ou divergente da nossa, quatro hipóteses podem existir: 

_ou o outro está errado e nós certos, 

_ou somos nós que estamos errados e é o outro quem está certo, 

_ou afinal estamos ambos errados e é outra qualquer posição que está certa, 

_ou até podemos ambos estar certos, só que em planos, tempos ou condições diferentes.

A Tolerância não é um favor, uma concessão ou uma generosidade. 

A Tolerância é a simples consequência de se reconhecer que a perfeição humana não existe e, portanto, de admitir como um facto da vida que todos e cada um de nós temos os nossos defeitos, as nossas imperfeições, os nossos acertos e os nossos erros e é, por conseguinte, até mais do que imperativo ético, um ato de inteligência tolerar o outro com os seus defeitos, imperfeições e erros, pois só assim podemos esperar que os nossos sejam, por sua vez, tolerados.

Situações que por vezes são apresentadas como de Tolerância nada têm a ver com a mesma: 

_a "tolerância" do branco em relação ao negro (ou vice-versa) não é mais do que racismo comprometido; 

_a do homem para com a mulher (ou vice-versa), não passa de machismo (ou feminismo) mentecapto; 

_a do cristão para com o judeu ou o muçulmano, ou do judeu para com o muçulmano ou o cristão ou a do muçulmano para com o cristão ou o judeu, mais não significam do que a tentativa de ocultar sectarismo religioso; 

_a do rico em relação ao pobre apenas disfarça o sentimento de culpa pela sorte do conforto material ou desejo de continuar a explorar o deserdado. 

Porque o branco e o negro são ambos humanos e ambos têm carne e ossos e sangue vermelho e coração e cérebro. 

Porque homem e mulher se complementam e são mutuamente indispensáveis. 

Porque cristãos, judeus e muçulmanos creem no mesmo Deus. 

Porque o rico e o pobre só se enobrecem pelo trabalho.

Quando se fala de Tolerância, é frequente vir à baila a questão dos seus limites. 

Existe alguma tendência para se considerar existir algo de contraditório entre a Tolerância e a consideração de existência de limites à mesma. 

A meu ver, esta é uma falsa questão, que um pouco de reflexão facilmente resolve. 

Antes do mais, é preciso entender que o conceito de Tolerância se aplica a crenças, a ideias, ao pensamento e respetiva liberdade, às pessoas e sua forma, estilo e condições de vida, mas nada tem a ver com o juízo sobre atos. 

Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar, independentemente da sua diferença em relação a si e ao seu entendimento, a crença alheia, as ideias e o pensamento de outrem, pois a liberdade de crença e de pensamento são expressões fundamentais da dignidade humana. 

Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar o outro, quaisquer que sejam as diferenças que vejamos nele em relação a nós, porque o outro é essencialmente igual a mim, não ferindo essa essencial igualdade as particulares diferenças entre nós existentes. 

Mas não é do domínio da Tolerância o juízo sobre os atos. 

O juízo sobre atos efetua-se em função da moral e das regras sociais e legais vigentes.

Explicitando um pouco mais: tenho o dever de aceitar alguém que pense de forma diferente da minha, que tenha uma crença religiosa diferente da minha, uma orientação sexual diferente da minha, um estilo de vida diferente do meu. 

Mas já não tenho idêntico dever em relação a atos concretos desse outro que se revelem violadores da lei, da moral ou da própria noção de Tolerância. 

Designadamente, não tenho que tolerar manifestações de intolerância em relação a mim, às minhas crenças e convicções, tal como não só não tenho que tolerar, como não devo fazê-lo, atos criminosos, cruéis, degradantes ou simplesmente violadores das consensuais regras de comportamento social.

Temos o dever de tolerar, de aceitar, a diferença - no estilo, nas ideias, nas crenças, no aspeto ou nas condições individuais. Por outro lado, temos o direito e o dever de ajuizar, de exercer o nosso sentido crítico, relativamente a ações concretas.

Ninguém vive isolado da Sociedade e todos têm de cumprir as regras sociais que viabilizam a sã convivência de todos com todos. 

Consequentemente, é uma simples questão de bom senso que devemos aceitar, valorizar, integrar as diferenças. 

Quem é diferente, tem direito a sê-lo. 

Quem pensa diferente, tem o direito de assim fazer. 

Mas, por outro lado, o direito à diferença não legitima a atuação desconforme com as regras sociais, legais, morais, em vigor na Sociedade em causa. 

Ninguém pode pretender só gozar das vantagens sem suportar os inconvenientes. 

Quem vive em Sociedade tem o direito de exigir que esta e os demais aceitem as suas diferentes ideias, conceções, condição. 

Mas tem o correlativo dever de respeitar as normas sociais, legais e morais vigentes. Se o não quiser fazer, deve afastar-se para onde vigorem normas que esteja disposto a seguir.

As Sociedades evoluem e é bom que assim seja. 

Também por isso é inestimável e rica a diferença. 

Também por isso devemos aceitá-la e aceitar que quem defende ideias ou conceções ou condições diversas da norma procure convencer os demais da bondade das suas escolhas. 

Isso é Liberdade, isso é Democracia. 

Nem uma, nem outra subsistem sem a indispensável Tolerância da Diversidade. 

Mas precisamente por isso - afinal porque quem quer e merece ser respeitado tem o dever de respeitar - o direito de defesa das ideias e convicções, o direito a tentar convencer os demais, o direito a pregar a evolução pretendida, não se confunde com qualquer pretensão de agir como se pretende, se em contrário da lei, do consenso social, da postura moral da Sociedade em que se está inserido.

Resumindo: a Tolerância obriga a respeitar a Diversidade e a diferença; impõe a aceitação da divulgação, da busca de convencimento, mesmo da propaganda das ideias ou conceções diversas. 

Mas não que se aceitem condutas prevaricadoras do que está legal e socialmente vigente - enquanto o estiver. 

Por isso entendo que os domínios da Tolerância e do Juízo sobre os atos concretos são diferentes. 

As ideias, as conceções, as condições confrontam-se, debatem-se, mutuamente se influenciam, enfim interagem no domínio da Liberdade e, assim, da mútua Tolerância. 

Os atos, esses, necessariamente que têm de respeitar o estabelecido enquanto estabelecido estiver. 

Se assim não for, o que é aplicável à violação do consenso social não é a Tolerância - é a Justiça, seja sobre a forma de Justiça formal, seja enquanto censura social seja no domínio do juízo individual.

Portanto, onde tem lugar a Tolerância, esta não tem limites. 

Onde há limites, sejam legais, sejam de normas sociais ou morais, não se está no domínio da Tolerância, mas no domínio do tão justo quanto possível juízo concreto sobre atos concretos.






agosto 11, 2024

PAI, HOJE E SEMPRE, TEU DIA ! - Adilson Zotovici



Olá pai, como estás ?

Comemoramos hoje “ teu dia” !

Estamos todos em paz

Lembrando de ti com alegria 


Sentimos tua calmaria

Sem tuas mãos ou tua voz,

Por teres aqui moradia

Pois vives dentro de nós 


A saudade às vezes é atroz 

Mas traz até mesmo leveza

Pelo tempo que  assaz veloz,

Todavia, não paira  tristeza 


Sentaremos  breve  à mesa

Unidos, o acostumado 

Com bons manjares e a certeza

Que ali estarás sentado 


Herança de ti pai amado 

Legado de amor supernal

Pelo SENHOR abençoado

Amigo eterno, sem igual !




QUEM FOI GUATIMOZIM - Almir Sant’Anna Cruz



Todos sabemos que quando D. Pedro foi iniciado na Maçonaria adotou o nome histórico Guatimozim, mas poucos sabem quem foi Guatimozim. 

Guatimozim, é mais conhecido no México como Cuauhtémoc ou Cuauhtemotzin (1502-1525) e foi o último dos reis da cidade Asteca de Tenochtitlán. 

Seu nome significa “ataque da águia”, mas também pode ser interpretado como “sol poente”.

Resistiu a invasão espanhola de Hermán Cortés, mas foi finalmente capturado, ocasião em que ofereceu sua faca para que fosse morto. 

Todavia, Cortés tinha outros planos para ele, preferindo usar sua autoridade junto aos Astecas para submetê-los a ele Cortés e ao rei Carlos V da Espanha.

Durante a administração espanhola, que durou cerca de 4 anos, a ganância pelos tesouros Astecas fez com que Cortés o torturasse e a outros líderes Astecas, queimando seus pés, mas não obteve qualquer informação sobre os tais tesouros, se é que realmente existiam.

Guatimozim e outros líderes Astecas foram enforcados em 26 de fevereiro de 1525, por Cortés ter sido informado que eles tramavam sua morte. 

Cortés justificou a execução como exemplo para outros que viessem a conspirar contra ele novamente. 

Consta que como a execução fora injusta e sem base em evidências, Cortés, com a consciência pesada, passou a sofrer de insônia.

Gutimozim é um dos grandes heróis mexicanos de origem não espanhola.

Do livro A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350 

APRENDENDO COM OS GANSOS


A Etologia é o estudo do comportamento animal (geralmente em suas condições e ambiente naturais). Deriva dos trabalhos do austríaco Konrad Lorenz (1903-1989) e do holandês Nikolaas Tinbergen(1907-1988).

A criação dessa nova ciência valeu-lhes, juntamente com Karl von Frisch, o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1973.

Muito demos a aprender com os animais, nossos "irmãos menores".

Quando os gansos voam, estabelecem uma formação em "V".

A tal respeito, os cientistas fizeram algumas descobertas.

1. À medida que cada ave bate suas asas, cria-se uma área de sustentação para a ave seguinte. Dessa maneira, voando em formação "V", o grupo inteiro consegue mover-se no ar, pelo menos, 71% a mais do que se cada ave voasse isoladamente. 

ENSINAMENTO: Pessoas que compartilham uma direção comum, com senso de equipe, atingem resultados muito mais rápido e facilmente, porque se apoiam na colaboração e confiança mútuas.

EM LOJA, se nosso trabalho for sinérgico, associativo, e não competitivo, cumpriremos nossa missão com menos esforço e mais eficácia.

2. Quando o ganso líder se cansa, há um revezamento. Ele vai para a parte de trás do "V", enquanto outro ganso assume a ponta.

ENSINAMENTO: O revezamento dos esforços permite avançarmos mais facilmente nas tarefas mais árduas.

EM LOJA, a distribuição dos encargos, dos mais simples aos mais complexos, dos menos relevantes aos essenciais, dentro de uma seriação, alternância ou escala de trabalhos, de modo que todos cooperem na mesma tarefa, trará grande economia de energia e evitará a perda de entusiasmo, por não ficarmos submetidos a atividades rotineiras e repetitivas. O trabalho maçônico não deve ser motivo de estafa, mas uma fonte de prazer, enquanto cada um estiver perfazendo suas funções.

3. Os gansos de trás grasnam para encorajar os da frente a manterem o ritmo e a velocidade.

ENSINAMENTO: Todos necessitamos ser reforçados com apoio ativo e encorajamento. Incentivo e estímulo são fundamentais, quando queremos manter ou melhorar o ritmo e a velocidade de nossas empreitadas.

EM LOJA, é de suma importância a presença e a participação de todos, fornecendo feedback, reconhecimento, sugestões, críticas construtivas, encorajamento, esclarecimento, informações, etc.

4. Quando um ganso adoece ou se fere e deixa o grupo, dois outros gansos saem da formação e seguem-no, para ajudá-lo e protegê-lo. Eles o acompanham até que suas condições melhorem e, então, os três reiniciam a jornada, juntando-se a outra formação, até encontrar o grupo original.

ENSINAMENTO: Precisamos ser solidários nas dificuldades.

EM LOJA, temos que vivenciar o princípio básico da Fraternidade, oferecendo aos Irmãos apoio, proteção, cooperação, caminhando ombro a ombro, como se fôssemos um só homem.

5. Sempre que um ganso sai da formação, sente, repentinamente, a resistência do ar e a dificuldade de voar só. Rapidamente, ele retorna à formação, para tirar vantagem do poder de sustentação da ave imediatamente a sua frente.

ENSINAMENTO: Existe força, poder e segurança no grupo, quando rumando na mesma direção e compartilhando de um objetivo comum.

EM LOJA, pela "egrégora" que se forma, recebemos a assistência espiritual de que carecemos e o reforço moral para enfrentarmos as vicissitudes de nossa vida no mundo profano.


Texto de “Autor Desconhecido



DECÁLOGO DO MAÇOM - Vanderlei Coelho -


 

agosto 09, 2024

CURANDEIRISMO E EXORCISMO - Almir Sant’Anna Cruz

 

À luz das modernas descobertas sobre a relação existente entre a mente e o corpo, nos casos de doença, as atividades dos curandeiros parecem de uma surpreendente atualidade. Nos seus primeiros contatos com sociedades tribais, os homens brancos ficavam intrigados diante dos curandeiros, bizarramente pintados e paramentados. Sem compreender seus rituais, mas percebendo que visavam freqüentemente curar os enfermos, os brancos consideravam mera feitiçaria aquelas práticas primitivas. Muitos dos rituais coloridos – com suas máscaras e roupagens – têm uma finalidade, isto é, são complementos visuais do tratamento psiquiátrico que o curandeiro, ao seu modo, realiza. 

 

Psiquiatras africanos passaram a utilizar diversas técnicas nativas e perceberam que podiam empregar curandeiros para trabalharem lado a lado com psiquiatras, sem qualquer desarmonia. Os complementos visuais, encantamentos simbólicos e frases persuasivas podem significar uma suave sugestão hipnótica. Se o curandeiro diz, enquanto banha o paciente: “seu mal está indo embora, como esta água escorre para o chão”, a metáfora ajuda a imprimir na mente do enfermo a noção de partida.

 

Em certas regiões da África, os curandeiros empregam hipnose profunda, provocando o transe em pacientes isolados ou em grupos. Diz-se que o curandeiro indiano trata a mordida de cobra com métodos semelhantes. Embora muitas cobras não sejam venenosas, o choque da mordida pode matar uma pessoa sugestionável. Ninguém sabe se o curandeiro cura o estado de choque, ou se o seu poder de persuasão ajuda a resistência do organismo realmente envenenado. 

 

O conhecimento farmacêutico dos curandeiros tem precedido o da medicina civilizada. Boa parte dos medicamentos atualmente em uso, já eram empregados pelos curandeiros, com os quais a ciência obteve o conhecimento de suas propriedades medicinais. A malária era tratada com sucesso pelos índios peruanos a partir de infusões da casca de Chichona bem antes que os europeus a colocassem sob controle, através de observações das práticas indígenas pelos jesuítas em 1638.

 

Os curandeiros brâmanes do sudoeste asiático já utilizavam, por milhares de anos, a raiz da Rauwolfia serpentina como substância medicinal, até que, em 1887, dois holandeses descobrissem seu uso e agora, a reserpina, substância extraída dessa raiz, é de emprego comum no combate à hipertensão e como tranquilizante. Desde o século XVII os curandeiros usavam a casca de Salix (salgueiro) para tratar reumatismos. Uma vez purificada, a solução deu origem ao ácido acetilsalicílico, fundamento dos comprimidos de aspirina usados hoje em dia.

 

No Brasil, de longa data, utilizam-se certas plantas e ervas para o tratamento de algumas moléstias e a própria ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, recentemente autorizou a industrialização e a comercialização de fórmulas farmacêuticas que empregam tais plantas e ervas. Em algumas partes da África, certos remédios secretos são tão respeitados, que mesmo os médicos africanos formados na Europa preferem enviar seus filhos ao curandeiro. 

 

O curandeiro das cidades não é necessariamente um charlatão. Conquanto imprimam folhetos mentirosos, declarando que podem curar qualquer doença conhecida, na verdade fazem com que os pacientes tenham fé em sua medicina. Embora não pintem o rosto nem usem máscaras, eles dependem tanto da aparência como seus predecessores. E sua reputação depende dos pacientes que eles recuperam. Não obstante os poderes invocados pelos curandeiros sejam imaginários, na medida em que um grupo acredita em tais poderes, ele pode adquirir uma eficácia, mesmo que limitada, mas muito real.

 

Além disso, o sucesso dos curandeiros, em alguns casos, está ligado a doenças que, depois de atingirem o auge de desenvolvimento, regridem e desaparecem naturalmente, qualquer que seja o tratamento recebido. O principal elemento com que conta o curandeiro é a fé dos pacientes na cura das moléstias que os aflige e a ação do curandeiro se concentra em sua capacidade de convencimento do valor de seus métodos de cura.

 

Estudando as práticas do vudu, no Haiti, pesquisadores americanos concluíram que certos mecanismos psico-fisiológicos podem conduzir à morte por enfeitiçamento. Numa sociedade em que a crença nos poderes do feiticeiro está enraizada na tradição, um indivíduo raramente põe em dúvida o fato de que esteja condenado. As pessoas que o cercam, por sua vez, participam dessa certeza e afastam-se da vítima como se ela fosse portadora de uma doença contagiosa. Dominado pelo pânico e marginalizado pelo grupo social, o enfeitiçado tem grandes possibilidades de adoecer realmente, confirmando, assim, o poder do feiticeiro.

 

E como se desencadeiam as alterações fisiológicas que tornam o feitiço real? Podemos supor que o medo intenso venha a provocar uma atividade particularmente intensa do sistema nervoso simpático, ocorrendo então uma queda da pressão sanguínea, bem como uma significativa redução de todo o sistema de defesa e imunidade, resultando em desgastes irreparáveis do aparelho respiratório e em todo o sistema orgânico do indivíduo. Além disso, dominada pela tensão, a vítima recusa-se a comer e beber e, a desidratação, contribui para diminuir ainda mais o volume de sangue em circulação. Este quadro já foi observado nos campos de batalha, em indivíduos traumatizados por bombardeios ou por episódios trágicos que presenciaram. 

 

Para a maioria dos ocidentais modernos, todas essas práticas de curandeirismo parecem bizarras e desprovidas de fundamento real. Nossa tendência natural e imediata é atribuí-las à ignorância de populações ingênuas, negando a eficácia dessas práticas. Contudo, não se deve olvidar que, para aqueles que acreditam em sua eficiência, o poder do curandeiro pode ser bastante efetivo, como o são, em pessoas com certos distúrbios psiquiátricos, a prática do exorcismo dos padres católicos, com os paramentos, palavras e símbolos cristãos que utilizam nas sessões.

 

As igrejas Neo-Pentecostais, ressalvados os casos de fraude, que não são poucos, fazem uso freqüente de exorcismos públicos, muitas vezes transmitidos pela televisão em tempo real, usando pessoas com evidentes distúrbios psiquiátricos e facilmente influenciáveis. Esses elementos exercem o mesmo efeito dos empregados pelos primitivos curandeiros, nas pessoas que se acham possuídas por “forças malignas”, como atestam respeitados psiquiatras.

 

Concluímos, portanto, que conquanto muitos curandeiros das cidades sejam charlatões, os curandeiros não são necessariamente charlatões,. Muitos de seus remédios vieram a ser empregados pela ciência no tratamento de diversas doenças e inúmeras práticas que adotam são utilizadas e explicadas cientificamente pela psiquiatria moderna.

QUEM É AMIGO - Newton Agrella


 

A mensagem contida na postagem acima é um verdadeiro alerta de vida.

São tantas as pessoas que  de um modo ou de outro transpõem e ou  simplesmente esbarram pela nossa existência que somente diante dos dias mais difíceis é que se consegue identificar o papel que cada uma delas desempenha neste nosso palco.

Pai, Mãe, Irmãos, Avós e Primos têm na medida das circunstâncias e da própria convivência, graus de intensidade em suas relações conosco, cujos valores podem ser medidos de acordo com os lances mais agudos que cada um de nós se expõem durante nossa jornada.

É bem verdade que não se trata de um concurso de relações humanas.

Contudo é inegável que a figura do "amigo" é aquela que talvez melhor traduza a essência desta peça teatral chamada VIDA. 

O Amigo ou Amiga é uma propriedade especial que tanto pode se revelar através de um familiar, como também naquele ou naquela que não possui qualquer vínculo consanguíneo conosco.

E assim vai...

Não menos prosaico porém, é o papel do "passageiro" , este por sua vez é um coadjuvante, que passa despercebido em cena.

Por vezes tropeça e atrapalha nosso caminho e sai de banda sem pedir desculpas, e às vezes, sem querer fura a fila, aparece diante de nós, e involuntariamente acaba nos dando um empurrãozinho, que pode nos ajudar a vencer um obstáculo, e pelo que ficamos eternamente gratos sem jamais sabermos qual o nome deste fugaz personagem.

Eis aí talvez, o porque precisamos dos dias difíceis. Eles se fazem necessários para que possamos manter nossa consciência desperta e para que possamos aprender a sermos gratos mesmo diante de experiências negativas que acumulamos.


*NEWTON AGRELLA*

O SIMBOLISMO DA ROMÃ - José Trautwein


O símbolo menos analisado na filosofia maçônica é, sem duvida, a romã.

Colocada sobre o capitel de cada coluna, sempre acima do olhar físico de cada Obr.’., ela passa despercebida e, por isso, mais ignorada, porque da muito trabalho olhar para cima e sondar os mais elevados ideais que a Maçonaria busca.

Nos trabalhos escritos da maioria dos autores maçônicos, vê-se muito sobre significados e interpretações dos símbolos que envolvem as colunas B e J.

Não se tem dado muita atenção às romãs que, embora sustentadas pelas colunas, representam o que há de mais essencial em nossa instituição.

Senão, vejamos:  “tomemos uma romã em nossas mãos”  é uma fruta bastante diferente das demais e não foi por acaso que entrou como peça decorativa dos Templos Maçônicos.

A sua casca, dura e resistente, representa a Loja em si, o templo material que abriga os OObr.’. reunidos. 

As sementes representam os OObr.’..

Ora, como se sabe, uma semente não é exatamente igual à outra, em tamanho e formato, mas o paladar de todas é invariavelmente idêntico.

Daí já extrai uma lição valiosa: não importa, para quem saboreia a fruta, quais as sementes são pequenas e quais as grandes; importa isso sim, o paladar.

Na Loja, temos IIr.’. de menor porte na vida profana e outros, com maior gabarito social e econômico .

Se a sabedoria do G.’.A.’.D.’.U.’. assim o quis, cabe nos lembrar que a mesma seiva que alimentou o pequeno grão, alimentou igualmente o maior.

Não obstante, as sementes pequenas e grandes estão unidas, todas compondo um único fruto, com um só objetivo: servir de alimento e fonte de prazer ao paladar.

O que, na romã, mantém as sementes unidas?

O bom observador da natureza maravilhosa, nota muito bem que é a pele interna, que tem a finalidade de manter unidas as sementes da romã.

Essa pele, feita da mesma substancia carnuda e consistente da casca e do miolo,  representa o selo, ou melhor, o sigilo maçônico.

Rompido esse selo, as sementes ficam expostas ao ataque de pragas, deteriorando-as e estas perdem assim sua finalidade.

Igualmente na Loja, todos os nossos assuntos carecem da proteção do sigilo, sob pena de, rompido este, a Loja, que é a romã, vir a sofrer sérias conseqüências como a perda da coesão, da união que deve reinar em nosso meio em prol o bem comum.

Diga-se de passagem, nosso juramento, representado pela seiva que alimenta as sementes (os OObr.’.)  foi contraído sem o mínimo de coação moral e sem reserva mental ou equivoco.

Rompido esse juramento, a fruta definha seca e, por fim, apodrece.

Assim, o sigilo, representado pela pele que UNE e SELA as sementes, merece de nossa parte o máximo de cuidados.

A fruta, ao soar da primeira batida do malhete até a última, deve ser saboreada enquanto durem os trabalhos.

É responsabilidade do fruticultor, que representa o Venerável, zelar para que a árvore da Maçonaria venha a produzir frutos não afetados por pragas e doenças, zelando pela preservação não só da casca da fruta (o material), como também pela unidade garantida pelo sigilo, que é simbolizado pela pele interna da fruta.


O CONTO DA LATIF - Jorge Bucay



Latif era o mendigo mais pobre da aldeia.

Todas as noites dormia no saguão de uma casa diferente, em frente à praça central da cidade.

Todos os dias se deitava debaixo de uma árvore diferente, com a mão estendida e o olhar perdido em seus pensamentos.

Todas as tardes comia da esmola ou das doações de alguém caridoso. 

No entanto, apesar da sua aparência e da forma como passou os seus dias, Latif era considerado por todos, o homem mais sábio do povo, talvez não tanto pela sua inteligência, mas por tudo o que tinha vivido, por sua experiência de vida.

Numa manhã ensolarada o próprio rei apareceu na praça. Rodeado de guardas, andava entre as barracas de frutas e bugigangas procurando por nada.

Rindo dos mercadores e dos compradores, quase tropeçou no Latif, que dormia na sombra de uma arvore.

Alguém lhe disse que estava diante do mais pobre dos seus súbditos, mas também diante de um dos homens mais respeitados pela sua sabedoria.

O rei, engraçado, aproximou-se do mendigo e disse-lhe:

- Se você me responder a uma pergunta eu lhe dou esta moeda de ouro.

Latif olhou para ele, quase depreciativamente, e disse-lhe: = Podes ficar com a tua moeda, para que eu a quereria? Qual é a sua pergunta?

E o rei sentiu-se desafiado pela resposta e, em vez de uma pergunta banal, despachou-se com uma questão que há dias o angustiava e que não conseguia resolver. Um problema de bens e recursos que seus analistas não tinham conseguido resolver.

A resposta de Latif foi justa e criativa.

O rei ficou surpreso, deixou sua moeda aos pés do mendigo e seguiu seu caminho pelo mercado meditando o que aconteceu.

No dia seguinte, o rei voltou a aparecer no mercado.

Já não andava entre os mercadores, foi direto para onde Latif descansava, desta vez sob uma oliveira. Mais uma vez o rei fez uma pergunta e Latif respondeu-a rápida e sabiamente.

O soberano voltou a ficar surpreso com tanta lucidez. Com humildade tirou as sandálias e sentou no chão em frente ao Latif.

Latif, eu preciso de você” - disse-lhe. - Estou sobrecarregado pelas decisões que como rei devo tomar. Não quero prejudicar o meu povo nem ser um mau governante. Peço-te que venhas ao palácio e sejas meu conselheiro.

- Prometo que nada te faltará, que serás respeitado e que poderás partir quando quiseres... Por favor.

Por compaixão, serviço ou surpresa, o caso é que Latif, depois de pensar alguns minutos, aceitou a proposta do rei.

Nessa mesma tarde Latif chegou ao palácio, onde imediatamente lhe foi atribuído um luxuoso quarto a poucos 200 metros do quarto real. No quarto, uma banheira de aromas e água morna o esperava.

Nas semanas seguintes, as consultas do rei tornaram-se habituais. Todos os dias, de manhã e de tarde, o monarca mandava chamar seu novo conselheiro para consultar sobre os problemas do reino, sobre sua própria vida ou sobre suas dúvidas espirituais.

Latif respondia sempre com clareza e precisão.

O recém-chegado tornou-se o interlocutor favorito do rei.

Três meses após a sua estadia, deixou de haver medida, decisão ou decisão que o monarca não consultasse o seu precioso conselheiro. Obviamente isso desencadeou o ciúme de todos os cortesãos que viam no mendigo-consultor uma ameaça à sua própria influência e um prejuízo aos seus interesses materiais.

Um dia todos os outros conselheiros pediram uma audiência ao rei. Muito circunspectos e gravemente disseram-lhe:

 - Seu amigo Latif, como você o chama, está conspirando para te derrubar.

-  Não pode ser, não acredito” - disse o rei.

-  Você pode confirmar com seus próprios olhos - disseram todos.

- Todas as tardes por volta das cinco, Latif escapa do palácio para a ala sul e em um quarto escondido se reúne às escondidas, não sabemos com quem.

- Perguntamos-lhe onde ia uma dessas tardes e ele respondeu com evasão. Essa atitude acabou de nos alertar sobre sua conspiração.

O rei sentiu-se desapontado e magoado.

Tinha de confirmar essas versões. Nessa tarde, às cinco, estava escondido na curva de uma escada. De lá, viu Latif chegar à porta, olhar para os lados e com a chave pendurada no pescoço, abria a porta de madeira e escapava furtivamente para dentro do quarto.

- Vossa Majestade viu?  - gritaram os cortesãos.

Seguido de sua guarda pessoal o monarca bateu na porta.

- Quem é?  - disse Latif de dentro.

- Sou eu, o rei - disse o soberano... - abra a porta.

Latif abriu a porta.

Não havia ninguém além do Latif. Nenhuma porta, nenhuma janela, nenhuma porta secreta, nenhuma mobília que permitisse esconder alguém.

Só havia no chão um prato de madeira desgastado, num canto uma vara de andador e no centro da peça uma túnica roída pendurada por um gancho no teto.

- Você está conspirando contra mim, Latif? - perguntou o rei.

- Como pode pensar isso, majestade - respondeu Latif -  Por que eu faria isso? 

- Pois você vem aqui todas as tardes em segredo. O que você procura se não se vê com ninguém? Por que você vem para este lugar às escondidas?

Latif sorriu e aproximou-se da túnica quebrada que estava pendurada do telhado.

Ele acariciou-a e disse ao rei:  - Há seis meses quando cheguei ao seu castelo, tudo o que tinha era esta túnica, este prato e esta vara de madeira - disse Latif.

- Agora me sinto tão confortável com a roupa que visto, é tão confortável a cama em que durmo, é tão lisonjeador o respeito com que me tratas e tão fascinante o poder que trás o meu lugar ao teu lado... que venho todos os dias para ter certeza de uma coisa... nunca esquecer QUEM EU SOU E DE ONDE EU VIM.


agosto 08, 2024

INVICTUS - Jorge Gonçalves




O filme "Invictus", dirigido por Clint Eastwood e lançado em 2009, é baseado em eventos reais da vida de Nelson Mandela, interpretado por Morgan Freeman.

O filme destaca a importância do poema "Invictus" para Mandela, que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 1993.

 Durante seus 27 anos de prisão política, Mandela recitava o poema para enfrentar momentos extremamente difíceis. O poema "Invictus" foi escrito por William Ernest Henley em 1875, enquanto ele se recuperava de uma doença.


                     *Invictus*


Noite escura que me envolve Negra como um poço de ponta a ponta, Agradeço aos deuses, seja quem for, Pela minha alma invicta.

Nas garras cruéis das circunstâncias Não fiz careta nem gritei. Sob os golpes do destino Minha cabeça sangra, mas não se curva.

Além deste lugar de ira e lágrimas Paira o horror da sombra, E ainda assim a ameaça dos anos Me encontra e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portão, Quão carregada de castigos a sentença, Eu sou o mestre do meu destino, Eu sou o capitão da minha alma.

JUIZ DE FORA - Roberto Ribeiro Reis


Em um mundo tomado pelos julgamentos e preconceitos, há um juiz, cuja capacidade de lidar com os problemas –dos mais comezinhos aos complexos- é algo que nos impressiona, pela tranquilidade e espírito de lucidez com a qual se porta este Venerando Magistrado.

Um Juiz de Fora. Fora desse mundo caótico e apocalíptico que temos vivenciado e assistido; um juiz fora da percepção do senso comum, inalcançável em capacidade de tirocínio até mesmo pelos magistrados da vida profana, dado que ele não se imiscui em política ou coisas afins.

Um juiz cuja lavra de decisões se destacam não pelo arrazoado de jurisprudências e doutrinas, mas singularmente pelo bom senso, pelo viés humanitário e pelo grande espírito de pacificação social.

Um Magistrado Celestial, sem subsídios ou quaisquer privilégios decorrentes da função exercida; a bem da Ordem, tudo o que ele faz é por pura doação: doação de tempo –embora onde ele assista não exista nem espaço e medida de tempo- oferta incondicional de amor e a aplicação insofismável da lei de caridade e de justiça.

Amados Irmãos! Este Soberano Julgador bate à nossa porta, pedindo (e jamais impondo) tão-somente que possamos lhe dar alguns momentos de atenção, numa audiência solene de paz, fraternidade e extrema amabilidade. Ele só deseja que deixemos o nosso templo apto à sua visita, preferentemente promovendo uma faxina interior bem caprichada, alijando dele todos os maus sentimentos e pensamentos vulgares.

Pode ser considerado um Juiz de fora das insanidades profanas, mas que consegue adentrar o nosso vazio existencial, dando-lhe graça, luz e esplendor, vivificando-nos com seu Sopro Divino, num exercício de mais profunda indulgência para conosco.

Por outro lado, é um Juiz de dentro, do interior de nossa alma, que não julga nossas imperfeições e (curiosamente) nos oferece o livre-arbítrio, a despeito ou não de sermos inveterados reincidentes no mal. Sua Sabedoria nisto consiste: mostrar-nos o caminho a ser trilhado, mas deixando ao nosso alvedrio a escolha da rota final.

Um Preboste Universal, cuja retidão se materializa em feitos jamais realizados pelo homem mais culto na face da terra; seu magistério é pautado na mais lídima justiça, não fazendo quaisquer tipos de distinções entre os homens, mas nivelando a todos, indistintamente, num compasso da mais notória equidade.

Um Julgador Complacente e Misericordioso que poderia nos prolatar a mais cruel das sentenças (em movimentação processual recorde), mas que ainda insiste no caráter pedagógico e educador da pena, proporcionando- nos a corrigenda, seja pelo amor – seu grande sonho em relação aos seus filhos– ou também através da dor, caminho geralmente escolhido pela maioria de nós, livremente.

A ORIGEM DO BALANDRAU NA MAÇONARIA BRASILEIRA - José Castellani


O substantivo masculino balandrau (da forma latina hipotética balandra), designa a antiga vestimenta, com capuz e mangas largas, abotoada na frente; designa também, certo tipo de roupa usada por membros de antigas confrarias, geralmente religiosas. 

Embora alguns autores insistam em dizer que o balandrau não é veste maçônica, o seu uso remonta à primeira das associações de ofício organizadas (cujo conjunto é hoje chamado de maçonaria de ofício, ou Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. 

Segundo Steinbrenner, em “História da Maçonaria”, os collegiati, quando se deslocavam pela Europa, seguindo as legiões de soldados romanos, para reconstruir o que ia sendo destruído pelos conquistadores, portavam uma túnica negra. 

À semelhança deles, os membros das confrarias operativas dos francos-maçons medievais (século XIII em diante), quando viajavam para outras cidades, outros feudos ou outros países, usavam um balandrau negro.  

Os que condenam o uso do balandrau costumam afirmar que o Maçom deveria apresentar-se nas Sessões das Lojas, vestindo terno preto, camisa branca, gravata,  sapatos e meias pretas; isto é altamente discutível. 

Tome-se por exemplo as regiões quentes nos Estados Unidos, onde os Maçons costumam trabalhar em mangas de camisa, portando o avental, evidentemente, pois traje maçônico mesmo, é o avental, já que sem ele o Maçom é considerado nu. 

Na realidade, discutir traje ( além do verdadeiro traje, que é o avental), na Maçonaria, é o mesmo que discutir o sexo dos anjos, pois, sabendo-se que o traje masculino sofre variações através dos tempos, variando, inclusive, de povo para povo, na mesma época. É evidente que não se pode determinar a maneira de trajar. 

É permitido, por exemplo, em qualquer lugar do mundo, o uso de roupas típicas para Maçons estrangeiros (o albornoz árabe, por exemplo), ou o uso de uniforme, por parte dos militares, desde que estejam, é claro, com seu avental maçônico. 

A existência de traje a rigor para os Maçons, mostra grande dose de influência clerical, significando o traje como sinal de respeito, o que, realmente, é inadmissível, já que a consciência do Homem está em seu interior, e não na sua roupa. 

A Igreja, que é bastante conservadora, já tem abandonado esta exigência; com mais razão, deve faze-lo a Maçonaria que, sendo evolutiva e progressista, não comporta anacronismos. 

Que fique bem claro que traje maçônico é o avental, mas sob ele deve haver uma roupa decente; e o balandrau, como roupa decente, pode uniformizar o traje, o que é também, uma forma de mostrar a igualdade maçônica, evitando as ostentações do vestuário. 

E jamais nos esqueçamos que o balandrau já foi traje dos Maçons de Ofício. 

Só é preciso ter em mente que o balandrau (que também é usado pelos Expertos, em algumas cerimônias) é veste talar, ou seja, deve se estender até os talões, ou calcanhares.

Tese de José Castellani ( Publicado na revista A TROLHA n◦ 52 de fevereiro de 1991 )