agosto 17, 2024

O MAÇOM NÃO GOSTA DE LER - Denilson Forato

 


O presente trabalho será lido por uma minoria de irmãos que cultivam o hábito pela leitura, mas se essa minoria o divulgar nas Lojas poderá estar prestando um grande serviço em defesa da nossa Sublime Instituição.

Tenho verificado que a cultura na Maçonaria está muito aquém. O quadro é simplesmente desolador. O maçom em geral tem, em média poucos anos de estudo, não lê, não estuda e nada sabe. E o que tem esse fato a ver com a Maçonaria? Tudo! Não é possível realizar novos progressos sem o auxílio da cultura e do saber.

O 1º grau, há 40 anos, dava ao cidadão uma base de cultura geral muito maior do que a de hoje e a culpa de tal retrocesso é, exclusivamente, do vergonhoso e criminoso sistema educacional que, paulatinamente, foi implantado no país e, evidentemente, dentro da própria Maçonaria. No 1º grau de hoje o estudante ainda é um semi-analfabeto que não sabe sequer cantar o Hino Nacional, que há muito foi expulso das escolas.

O maçom não gosta de ler.

A afirmativa é absolutamente VERDADEIRA. Há uma mínima parte do povo que ama a leitura, outra, um pouco maior, que a detesta e a esmagadora maioria nem sabe que ela existe, e a Maçonaria é formada por homens vindos do povo.

Em todos os rituais maçônicos, fala se nas sete ciências que formavam a sabedoria dos antigos, composta pela Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Quem só com apenas o 1º grau tem o mínimo de conhecimento sobre tais ciências? Com exceção de alguns rudimentos de Gramática e de Matemática, ninguém!

O mundo moderno não é mais composto por sete ciências; as ciências se multiplicaram infinitamente: Física, Química, Engenharia, Geografia, Medicina, Sociologia, Filosofia, História, etc., cada uma delas com infinitas especialidades e ramificações, cada vez mais avançando nos campos das descobertas, pesquisas e realizações enquanto o maçom ficou estacionado no atual 3, 1º grau.

EIS O GRANDE PROBLEMA.

Hoje, com raríssimas e merecidas exceções, chega se a Mestre Maçom entre seis meses a um ano e meio; ao Grau 33, entre três e quatro anos.

Chega se a Mestre e ao Grau 33 sem se sair do 1º grau. O dicionário de Aurélio Buarque de Holanda define: “MESTRE – homem que ensina; professor; o que é perito em uma ciência ou arte; homem de muito saber”.

Será que está acontecendo alguma coisa errada?

Para quem deseja subir nos graus da Maçonaria é exigido um trabalho escrito (muitas vezes meramente copiado, sem pretensão de aprender) e as taxas de elevação (que geralmente são caríssimas).

Só isto, nada mais do que isto e... tome lhe grau por cima de grau, sem o mínimo avanço cultural. Mas, em compensação, os aventais, colares e medalhas na subida dos graus vão ficando mais caros, mais bordados, mais coloridos e mais vistosos.

E lá vai o nosso maçom falando em “beneficência”, “filosofismo”, “Pedra Bruta”, “Pedra Polida”, “Espada Flamejante”, “Câmara de Reflexões”, etc... E para completar o FEBEAMA (Festival de Besteiras que Assola a Maçonaria) diz, por ter ouvido dizer, que a Maçonaria é milenar.

Diz um provérbio popular que “NINGUÉM AMA O QUE NÃO CONHECE”. Como pode esperar a Maçonaria que seus Mestres Maçons, seus componentes dos Altos Corpos Filosóficos, sejam bons transmissores de suas doutrinas, histórias e conhecimentos se... nada sabem?

A Maçonaria é antes de tudo um vasto conjunto de ciências políticas, históricas, geográficas e sócio econômicas adquiridas ao longo dos séculos.

É simbolismo e filosofia pura, é ciência humana no seu mais Alto Grau. Como pode uma pessoa sem interesse pelo estudo adquirir e transmitir tantos conhecimentos? Só se for por um milagre!

Como pode, apenas com boas intenções, um leigo ensinar medicina para médicos, leis para juízes, aviação para um futuro piloto, engenharia para um futuro engenheiro, Maçonaria para um futuro Maçom?

Tiro por mim que já li quase uma centena de livros e que tenho mais como prazer do que por obrigação dedicar pelo menos meia hora por dia aos estudos maçônicos e outras literaturas de interesse para o meu aperfeiçoamento espiritual, cultural e profissional. E ainda não me considero um “EXPERT”.

Reconheço, com toda humildade, que ainda tenho muito que aprender, e tenho o 3º grau completo. Como pode uma pessoa sem cultura estudar e pesquisar as Lendas do Rei Salomão, Hiran Abiff, Rainha de Sabá, Cabala, entre tantos, sem conhecer História Antiga?

Como podem entender a gama de conhecimentos contidos na Constituição de Anderson, Landmarks, Ritos, Painéis, entre outros assuntos totalmente desconhecidos do nosso Mestre Maçom e de uma grande parte daqueles que alcançaram o “TOPO DA PIRÂMIDE” e que se consideram com direito a cadeira cativa no Oriente para que seu “PROFUNDO SABER E CONHECIMENTO MAÇÔNICO POSSA ILUMINAR” as colunas.

A verdade costuma ser brutal, mas, infelizmente, esta é a pura realidade que precisa de muitos com coragem para dizer.

O Maçom que estuda e pesquisa pode ser o “O SOL DA CULTURA”, talvez nem seja o vaga-lume que só tem sua luz notada nas trevas, mas com certeza, é o espelho que poderá transmitir a Luz do Sol ou pelo menos a do vaga-lume.

A Maçonaria, composta de homens livres e de bons costumes e de boa cultura, obviamente, será muito melhor.

No século XVII ela era composta pelos iluministas, no século XIX, no Império Brasileiro era composta da nata intelectual da nação e hoje... sem comentários.

Uma sociedade, um país, são preparados primordialmente pelo sistema educacional e cultura que consegue adquirir e seria muito bom começarmos a preparar a Maçonaria, pelo menos em nossas Lojas, para o Terceiro Milênio, com pessoas um pouco mais cultas.





A MAÇONARIA E O DIABO - Paulo André

 


A maior decepção da humanidade seria se alguma dia ficasse provado a inexistência de Deus, certo?

Errado!

A maior decepção da humanidade seria se alguma dia ficasse provado a inexistência do diabo!

O maior medo do ser humano, não é da morte, nem da dor, nem de falar em público, nem de banho frio, o maior medo do homem é o medo da culpa, ninguém gosta de admitir que errou, sempre busca-se encontrar alguém para apontar como culpado pelo nossos erros

Nada mais conveniente do que o diabo, esse ente que pode levar a culpa de todos os nossos erros, e ainda não está aqui para se defender, se ficar provado que não existe, será uma enorme decepção, a humanidade, pelo menos a ocidental teria que se reinventar

Então, a Maçonaria admite a sua existência, e qual a sua relação com ele?

Sim! Claro que admite, e vive em função dele

Na verdade, para quem ainda não entendeu, nossa ordem só existe por admitir a sua existência, e nosso objetivo maior é localiza-lo e elimina-lo

Me refiro aos demônios interiores, isso!

Esse ser, se transfigura em forma de ego, inveja, ciúmes, etc.. a lista é muito extensa, seu poder pode ser infinito, e destruir o homem nos 3 reinos, matéria, mente e espírito

Nosso sistema nos leva o tempo todo a encontrar e reconhecer esse inimigo, sim, somos homens em sua maioria cultos e bem sucedidos, com o ego lá no alto, ao conviver com outros homens, com o mesmo perfil, um vai naturalmente pisar no calo do outro, e aí nossos demônios interiores vem a tona

Primeiro passo para enfrentar um inimigo, é admitir a sua existência, e é isso que a ordem faz com a gente

Quanto aos demônios exteriores, bem, sei lá se existem, mas caso existam, só terão poder sobre nós, se conseguirem conexão com os nossos demônios interiores.

Mas o perigo maior do diabo externo, se é que existe, é quando a sociedade lá fora, tenta imputar a Maçonaria, uma relação com ele, mas isso é tema para outra hora, se bem que, a maioria dos IIr, não gosta desse assunto

Enquanto isso, vamos nos concentrar no que interessa, o combate, as forças do mal internas, é aí e somente aí, que o jogo será travado, com vitória ou não!


agosto 16, 2024

ARVORE DA VIDA - Roberto Ribeiro Reis


Perdido

Em minhas diretrizes

Convalesço,

Reiteradamente.


Sentido

Pelos meus deslizes

Ofereço,

Prazerosamente.


Pervertido

Quais meus aprendizes.

Entristeço,

Envergonhadamente.


A mente

Do bem desprovida

Padece,

Enlouquecidamente.


A semente

Bem enfraquecida

Desobedece,

Infertilmente.


O crente

Que a sua fé olvida

Ensandece,

Insopitavelmente.


A gente

Que o mal envida,

Permanece,

Assombrosamente.


Magnificente,

A árvore da vida

Estabelece

O renascer novamente.


De repente,

A chance nos é devolvida.

Pela benesse

Do Pai Eterno, eternamente.


 


CULTURA, INVESTIMENTO QUE NÃO SE NEGOCIA - Newton Agrella


Se há uma palavra que possui uma extensão de significados e vertentes sem igual, esta palavra é "Cultura".

As inesgotáveis fontes de pesquisas bibliográficas, indicam sua etimologia como advinda do Latim, do termo "colere" que quer dizer, cultivar, crescer, colher.  

Eis inclusive a razão do termo estar associado à palavra agricultura, que refere-se ao cultivo e crescimento das plantações.

Contudo, o substantivo  "cultura" ao longo tempo e do próprio processo de evolução humana, ganhou uma gama de significados e até mesmo de reformulações interpretativas no universo semântico, que tornou-a praticamente impossível de definir seu conceito de modo único.

Importante destacar que o termo  "cultura" por vezes se confunde e atribui-se seu significado a ideias de: desenvolvimento, educação, erudição, comportamentos sofisticados ou até mesmo de inteligência.  

Esse conceito, à propósito, ganhou consistência,  especialmente no século XVIII,  sobretudo na França e na Inglaterra como resultado dos movimentos conhecidos por Iluminismo, e a Revolução Industrial.

Cabe registrar que com isto  a "cultura" assumiu uma dicotomia em sua essência e forma, diagnosticada especialmente no imaginário das sociedades ocidentais.  Daí o surgimento das expressões "cultura erudita"  e "cultura popular".

Isto, de certa forma, acabou gerando uma espécie de conflito ideológico, sobretudo se partirmos do princípio de que sob o ponto de vista filosófico, a "cultura" é um conjunto de manifestações humanas, intimamente ligado à Moral, à Tradição, às Artes, à Alimentação, à Língua, à Música e a todo um conjunto de conhecimentos práticos e teóricos absorvidos e transmitidos aos contemporâneos e a cada geração vindoura.

Quando a Maçonaria, como exemplo, sedimenta sua base filosófica na Simbologia, isto se deve precipuamente ao fato de que a "cultura" é um sistema de  símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e confere sentido à existência humana.

Talvez, a maneira mais transparente para se explicar a  *cultura* resida na equação entre a interpretação pessoal da realidade e as exigências globais, uma vez que o ser humano é um agente passivo de mudanças, a partir de suas percepções de valor íntimo, bem como de seu poder de argumentação.


agosto 15, 2024

CALENDÁRIO DE RITO ESCOCES ANTIGO E ACEITO - Kennyo Ismail









Houve ocasiões no passado em que se verificou o uso do calendário hebraico em alguns Supremos Conselhos do REAA, adotando a sigla A.´. H.´., de Anno Hebraico, após a data

(MACKEY, 1914, p. 129). No entanto, via de regra, atualmente adota-se nos Altos Graus do REAA o sistema de Anno Mundi (Ano do Mundo), A.´. M.´., que é inspirado no Calendário Judaico, apesar de diferente desse. O sistema funciona da seguinte maneira nos dois Supremos Conselhos do REAA norte-americanos: Entre 01 de Janeiro e 31 de Agosto, deve-se adicionar 3760 anos ao ano civil corrente. Já entre 01 de Setembro e 31 de Dezembro, deve-se adicionar um ano extra, ou seja, 3761 anos ao ano civil corrente. 

Dessa forma, todo ano inicia-se no dia 01 de Setembro do ano anterior e encerra-se em 31 de Agosto do ano corrente, devendo os meses serem mencionados por número ordinal. Assim sendo, Setembro é o 1º mês, Outubro o 2º, Novembro o 3º, e Agosto o 12º. Trata-se de sistema adotado pela maioria dos Supremos Conselhos do Rito no mundo.

Como exemplo, o dia 20 de Junho de 2013 seria 20 do 10º mês de 5773 do A.´. M.´

CALENDÁRIO JUDAICO - Kennyo Ismail




Calendário utilizado no Judaísmo, adotado principalmente para as datas religiosas(BASSINI, 2004)

Os judeus ortodoxos também utilizam para registrar nascimentos, casamentos e outras datas importantes. Trata-se de calendário no qual os meses são baseados no ciclo lunar, enquanto os anos são baseados no ciclo solar. Dessa forma, os anos se intercalam entre de 12 e13 meses. 

Mas é desaconselhada aos corpos maçônicos a utilização desse calendário, visto ser um calendário religioso.

No calendário judaico, a data de 20 de Junho de 2013 é: 12 de Tamuz de 5773.




agosto 14, 2024

CALENDÁRIO DA MAÇONARIA SIMBÓLICA - Kennyo Ismail





A Maçonaria Simbólica, ou seja, as Obediências Maçônicas e suas Lojas, deve adotar o Anno Lucis (Ano da Luz), abreviado como A.´. L.´.. Sua data é calculada acrescentando 4000 anos à data do ano civil corrente.

A adoção do Anno Lucis na Maçonaria Simbólica foi iniciativa de James Anderson, que acreditava que a Maçonaria deveria ter uma forma própria de marcar as datas, diferente de calendários religiosos como o judaico e o gregoriano. Ele tomou por base os cálculos de um arcebispo anglicano irlandês, James Ussher, que determinou, com base nos registros bíblicos, que o mundo teve origem no ano de 4.004 a.C. (BARR, 1985). Para facilitar a utilização, Anderson arredondou a criação do mundo para 4.000 a.C. (COIL, 1961, p. 112).

Dessa forma, tendo como exemplo o dia 20 de Junho de 2013, tem-se: 20 de Junho de6013 do A.´. L.´.. Esse é o sistema utilizado pelas Grandes Lojas de todo o mundo, e o recomendado às Lojas e Grandes Lojas ou Grandes Orientes brasileiros para utilização nos certificados de concessão dos graus simbólicos, cartas constitutivas e demais documentos que sejam estritamente maçônicos. 


Sugere-se a utilização desse calendário no Simbolismo, 
independente do Rito adotado na Loja, de forma a padronizar a datação de certificados e cartas constitutivas pelas Obediências, reduzindo assim possíveis confusões. Dessa forma, os calendários específicos dos ritos têm suas adoções restritas aos seus respectivos Altos Graus.

CALENDÁRIOS NÃO MAÇONICOS - Kennyo Ismail


A Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada um com sua própria lógica e significados. Porém, isso tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos e carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica de qualidade.

Nesse cenário caótico, muitas vezes as Obediências Maçônicas, Lojas e demais corpos maçônicos brasileiros encontram dificuldades e não encontram consenso na adoção dos calendários utilizados em seus certificados.

Pensando nisso, este artigo tem por objetivo disponibilizar uma relação dos tipos de calendários maçônicos existentes e seus mecanismos de funcionamento, de forma a esclarecer de uma vez por todas esse tema, disponibilizando aos interessados, sejam estudiosos de Maçonaria ou secretários com a missão de confeccionar diplomas, acesso a informação organizada e confiável.

Dessa forma, espera-se colaborar com a redução de confusão resultante do registro de data em atas, documentos e certificados maçônicos brasileiros, matéria essa que deveria ser das mais simples, mas que faz com que até comemoremos o Dia do Maçom no dia errado.

Calendários Não-Maçônicos

Calendários que não são genuinamente maçônicos, mas suas menções são importantes, visto que servem de base para o cálculo de um ou mais sistemas de datação utilizados na Maçonaria. Há vários outros calendários não maçônicos que foram ou ainda são utilizados em algumas situações, entretanto, por não terem relação direta com os calendários maçônicos apresentados neste artigo, não serão mencionados.

Era Comum, Era Corrente ou Era Vulgar (E.´. V.´.)

Também conhecido como Anno Domini, termo em latim que significa “Ano de nosso Senhor”, o qual pode ser encontrado por sua sigla, A.´. D.´.. Trata-se do calendário gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII em 24 de Fevereiro de 1582 (THIBAULT, 1981), e adotado como ano civil em praticamente todos os países. O Papa Gregório determinou a criação de um novo calendário porque o calendário juliano, que se utilizava desde 46 a.C., arredondava o ano solar para 365 dias e 6 horas, o que dava uma diferença de mais de 11 minutos por ano em comparação com o ano solar real (COIL, 1961, p. 112). Com o passar dos séculos, isso havia gerado uma diferença de dias, e o Papa desejava determinar corretamente a data da Páscoa.

Naquele ano de 1582, a quinta-feira do dia 04 de Outubro, foi seguida por uma sexta-feira, dia 15 de Outubro, corrigindo o desvio do calendário anterior, e os anos passaram a ter exatos 365 dias, adotando-se o sistema de anos bissextos para suas correções periódicas.

Esse é o calendário que dá origem ao formato do dia 20 de Junho de 2013, data que servirá de comparação aos demais calendários. A Maçonaria deve utilizá-lo para todos os documentos, atas e certificados legais e para pranchas e comunicações direcionadas a pessoas ou instituições do mundo profano.





agosto 13, 2024

Templo, Loja e Oficina - Márcio Adão Pereira

 






Templo, definição da sua origem.

O Templo Maçónico é um arquétipo – literalmente significa modelo e etimologicamente vem do grego arkhe (princípio) e typos (tipo) – que, como habitação do Grande Arquitecto, simboliza o Universo e todas as maravilhas e perfeições da criação. O Universo é o Macrocosmo e o Homem representa o Microcosmo (RIGHETTO,1992).

O que está em cima é análogo ao que está em baixo, e o que está em baixo é análogo ao que está em cima; traduzindo por outras palavras, o que está no mundo menor (microcosmo) reflecte o que está no mundo maior (macrocosmo). Demonstra a harmonia e a correlação entre os diferentes planos de manifestação (CAMINO, s/d).

Ao simbolizar o Universo, também simboliza a Universalidade da nossa Ordem e é por esse motivo que cada golpe de Malhete ou cada anúncio feito pelo Venerável Mestre, no Oriente deve ser repetido pelo 1º Vigilante, no Ocidente, e pelo 2º Vigilante no Sul. Assim repetidos, o golpe de Malhete e o anúncio do Venerável Mestre propagam-se pelo Universo inteiro (RIGHETTO & ORTEGA, 1997).

Se o Templo fosse definido de acordo com uma Maçonaria Espiritualista, seguiria a interpretação do que Jesus expressava ser o Templo, isto é, o nosso corpo, que teria assim uma interpretação sagrada por este corpo ser considerado de acordo com São Paulo o Templo de Deus onde Seu espírito habita em nós, então, o Templo de Deus é Santo. Contudo, vamos referir-nos ao Templo como a forma de construção (CAMINO, s/d).

O Templo é o local, a construção ou o imóvel destinado a ter no seu interior o exercício ou a prática de uma religião ou doutrina esotérica ou filosófica. As Igrejas reúnem-se num templo, sendo a Igreja a parcela do povo que se reúne em torno de um sistema religioso e o Templo é o local onde se reúnem para o exercício da fé e a prática deste sistema. Da mesma forma, o Templo Maçónico é um local sagrado, (posto que passou pelo Ritual da Sagração) em que os maçons celebram as suas Sessões.

O Templo maçónico é o modelo sobre o qual está formulado o simbolismo maçónico. Ele reproduz simbolicamente o Templo de Salomão, em Jerusalém, servindo de paradigma para os Templos Maçónicos. A Maçonaria, ao adoptar o Templo de Salomão como modelo material e espiritual nos seus trabalhos, fê-lo por inteiro, isto é, reproduziu o estilo arquitectónico assim como os seus utensílios sagrados e o nome dos personagens que estavam envolvidos na construção naquela época. Como o Templo de Salomão, o nosso também se divide em três partes:

Vestíbulo (atrium), que liga o Templo à Sala dos Passos Perdidos,

Hekal ou Ocidente (lugar santo) e Debir ou Oriente (o Santo dos Santos).

Em 1772, os Maçons construíram para si o primeiro Templo, quando a Grande Loja da Inglaterra deu início à construção do Templo específico, retirando os Maçons das tabernas. O “Freemason’s Hall” foi iniciado em 1772 e concluído em 1776; tal feito foi seguido pela Maçonaria Francesa que em 1788, por sua vez, proibia que as Lojas Maçónicas se reunissem em tabernas, rompendo assim, uma antiga tradição.

Quando os Templos funcionavam ao ar livre, em salas cedidas por particulares ou taberneiras, em face da dificuldade de “ornamentação adequada”, a solução encontrada foi a de “colocar” os Símbolos indispensáveis, através de desenhos feitos com pedaços de carvão ou giz, no piso, os quais eram apagados ao encerrar a reunião, ou numa forma mais evoluída, desenrolar um tapete contendo os principais símbolos suprindo assim as necessidades litúrgicas. Estes “quadros”, ou “painéis”, subsistem até hoje, como tradição, uma vez que repetem os Símbolos contidos no recinto. Portanto, se no Templo físico é exigida a presença dos Símbolos genericamente contidos no Painel, no Templo espiritual esses Símbolos também devem estar presentes.

Quanto à forma

Há várias explicações, para a concepção do Templo. Na sua construção, sabedoria hermética passada aos construtores, corrente magnética, a sabedoria antiga vinha do Oriente para o Ocidente. A sua área possui a forma de um paralelogramo, representando a antiga concepção que os geómetras tinham do mundo, antes que Ptolomeu apresentasse o seu sistema cosmográfico. O quadrilátero como todos os Templos da antiguidade deve obedecer a uma orientação astronómica, estando o seu eixo maior na direcção leste/oeste como longitude e norte sul como latitude; as suas dimensões abrangem do centro da Terra ao infinito. A Orientação Astronómica tem ainda como fundamento a orientação do Tabernáculo e do Templo de Salomão.

O Templo é dividido em Oriente e Ocidente por um meridiano no qual fica a Grade do Oriente. As ideias de longitude, latitude, altura e profundidade, não podem e não devem ser limitadas a uma concepção humana e comum. A partir daí entramos no complexo simbólico, que compõe todo o templo (CAMINO, s/d; MONTEIRO, 1996; SANTIAGO s/d; PACHECO, 1990).

Por o Templo Maçónico ser simbólico, nele o Sol figura como símbolo no retábulo, atrás do trono do Venerável e na abóbada sobre o trono do Venerável. O Oriente, é o ponto do qual provém a Luz, simboliza o Mundo Invisível, o Mundo Espiritual e porque o Sol nasce no Oriente (a Maçonaria considera o Sol uma das Glórias do Criador), é tido como um símbolo muito importante, uma espécie de Símbolo de Divindade. Já o Ocidente, sendo o local para o qual a Luz se dirige e onde o Sol se põe, simboliza o Mundo Visível, o Mundo Material, o Concreto Sensível. Por ter uma forma rectangular o Templo caracteriza-se como uma estrada ou caminho que nos conduz do Ocidente para o Oriente, simbolicamente uma caminhada das trevas para a Luz, em direcção ao Sol, assim como o movimento da Terra ou Mundo ao encontro da luz do Sol. Embora a sua entrada se dê pelo Ocidente, na antiga Babilónia e nas Catedrais Góticas da Idade Média, na Europa, os Templos tinham a entrada no Oriente. É oportuno lembrar que para alguns autores, o Templo deveria ter a forma circular. O motivo é bastante lógico: Vindo do termo Loja, nas suas mais remotas origens, do sânscrito, com o significado de Mundo, deveria o Templo ter a forma da Terra, isto é, circular, oval ou elíptica. O que prevaleceu foi a forma rectangular, o que atendeu plenamente aos objectivos práticos e à simbologia (ALENCAR, 1968).

Quanto à decoração do templo e o simbolismo Maçónico, certamente vamos encontrar influência de outras civilizações, assim como as histórias e as tradições bíblicas que estão presentes em todas ou quase todas as cerimónias maçónicas, especialmente no que se refere à influência do Templo de Salomão em Jerusalém, nas suas tradições e também quanto à sua arquitectura e ornamentos. Actualmente, há correntes que defendem a tese de que a Maçonaria não entende que seja relevante preocupar-se com a uniformização do uso de elementos adoptados do Templo de Salomão e que são comuns às várias obediências e vários ritos adoptados e praticados em nível nacional e internacional.

O Templo Maçónico, da forma como se encontra constituído actualmente, só se completou através dos tempos, sofrendo a influência de vários países, onde a Maçonaria floresceu e se desenvolveu, particularmente na Inglaterra onde recebeu grande influência religiosa e política, pois a posição dos irmãos, colocados uns de frente para os outros, nas colunas norte e sul, lembra muito a disposição do Parlamento Inglês (NAME, 1988).

A diferença entre loja e oficina

Embora muitos escritores e críticos da Maçonaria julguem que se trata de sinónimos, não se pode negar que existe diferença no significado de Loja e Oficina, maçonicamente falando. Era nas Lojas que se realizavam as assembleias dos maçons operativos, transformadas em Oficinas, isto é, locais de trabalhos manuais (ALENCAR, 1968).

A Loja é o Templo com o seu conjunto de tudo o que nele se contém e serve de berço aos maçons; a Oficina é a Loja em funcionamento, em pleno trabalho dos Irmãos construindo o edifício espiritual da humanidade. Loja é toda a estrutura interna, ou seja, a composição de toda área com as suas salas e cada qual tem uma funcionalidade sendo o Templo, o local específico para as reuniões e trabalhos de natureza litúrgica, o que denominamos Oficina. Outra concepçáo de Loja é aquela que a define como o conjunto dos Maçons reunidos para realização de um determinado trabalho ritualístico. O Templo Maçónico é o local construído, ou previamente preparado para o Trabalho de uma ou mais Lojas Maçónicas. Trata-se, reafirmando, de um local sagrado, posto que passou pelo Ritual da Sagração. Templo é o corpo e a Loja é a alma.

Lojas e Oficinas apresentam estreitas ligações com o Templo. Por esta teoria, só existe Loja quando os irmãos estão em trabalho litúrgico; finda a sessão e dissolvida a reunião ou sessão, simultaneamente está dissolvida a Loja, somente vindo a renascer quando novamente se reunirem os Maçons.

Como argumento apresenta-se o seguinte exemplo: Se os Maçons se reunirem fora do Templo, na rua, no restaurante, num café, num clube profano, não estão constituindo uma Loja. Mas, se os Maçons se reunirem em lugar discreto ou secreto, fora das vistas de estranhos a Ordem, mesmo que seja em plena floresta, numa gruta, entre ruínas, e traçarem o quadro da Loja, terão construído o edifício ideal do Templo e poderão iniciar seus trabalhos na Oficina (ALENCAR, 1968).

Loja também tem sido popularmente utilizada para designar o endereço: Loja tal…, rua tal, número tal, em tal cidade, Estado tal. Ninguém se corresponde com o Templo ou com a Oficina, e sim com a Loja. Se passarmos por um edifício onde funciona uma sociedade maçónica, dizemos com absoluta propriedade: Este é o Templo onde funciona a Loja Maçónica “X”.

O Templo é, pois, o edifício material, o imóvel; a Loja é seu conteúdo orgânico, simbólico e funcional que inspira os irmãos à realização dos mais variados trabalhos na Oficina. A significação aproxima-se muito das semelhanças ou dessemelhanças entre lar e casa. A casa é o imóvel, o bem real material e fixo; o lar é o bem espiritual, a reunião da família em comunhão. A destruição do Lar é figurada; a destruição da casa é materialmente compreendida. Os Maçons têm uma casa – o Templo – onde conservam o seu lar, a Loja.

Com os períodos de intolerância surgidos em alguns países, havendo por segurança, necessidade de muita discrição, os prédios especificamente, destinados às Lojas Maçónicas, não continham qualquer sinal na sua fachada que pudesse identificar a Maçonaria. Há menos de dois séculos é que os edifícios maçónicos passaram a identificar, através dos símbolos de construção, a existência de prédio onde os Maçons se reuniam. Colunas, Triângulos, Esquadro e Compasso entrelaçados, comprovavam a existência de uma Loja Maçónica. No entanto, dada a liberdade existente no mundo livre, muitas Lojas situam-se em prédios comuns que não apresentam nenhum símbolo característico; a tendência, em toda a parte, é, novamente, “preservar” a tradicional discrição e assim, modernamente, as Lojas estão muitas vezes inseridas em prédios comuns.

Conclusões

O vocábulo Templo restringiu-se ao Templo material, distinguindo-se do Templo Espiritual que se situa “dentro do próprio Maçon“, encoberto esotericamente. De uma maneira mais iniciática, podemos dizer que o Templo em que devemos trabalhar para construir na Maçonaria é o próprio homem. Isto é, o trabalho leva ao nosso aperfeiçoamento ou à construção do Templo Interior.

Assim o Templo Maçónico é uma construção especial, uma vez que não depende única e tão somente do sentido material, mas depende de cada membro e da sua capacidade de o expandir na proporção e dimensão que a sua mente possa atingir. Loja é o conjunto dos Maçons reunidos para realização de um determinado trabalho ritualístico. O Templo Maçónico é o local construído, ou previamente preparado para o Trabalho de uma ou mais Lojas Maçónicas.

Referências bibliográficas:

RENATO ALENCAR, Enciclopédia Histórica do Mundo Maçónico. Maçónica, Rio de Janeiro, 1968.

RIZZARDO DA CAMINO, Introdução à Maçonaria, v.3, 2ª Ed., Aurora, Rio de Janeiro, RJ.

EDUARDO CARVALHO MONTEIRO, Templo Maçónico: Morada do Sagrado. A Trolha, Londrina, Paraná, 1996.

MARCOS H. DE A. SANTIAGO Cadernos de Estudos Maçónicos – A Formação do Maçon na Loja Simbólica.

WALTER PACHECO, Cadernos de Estudos Maçónicos – Entre o Esquadro e o Compasso. A Trolha, 1ª Ed., Londrina, PR, 1990.

ARMANDO RIGHETTO Maçonaria, Uma Esperança., Trolha, 1ª Ed., Londrina, 1992.

ARMANDO RIGHETTO & OSWALDO ORTEGA Maçonaria, O Caminho Das Pedras. História, Lendas, Ritualística, Simbolismo. A Trolha, 1ª Ed., Londrina, Pr, 1997.

MARIO NAME, O Templo de Salomão nos Mistérios da Maçonaria. 1ª Ed., São Paulo, SP, 1988

SESSÃO, CESSÃO, SECÇÃO OU SEÇÃO MAÇÔNICA? - Sérgio QUIRINO Guimarães



A resposta a esse questionamento deve ser escrita com base no português ou no "maçones"?

Consoante a escrita correta de nossa língua pátria, os Maçons se reúnem em SESSÃO MAÇONICA. Porém, para que os trabalhos ocorram justos e perfeitos, dentro da legalidade, e o Venerável Mestre possa devidamente encerrá-los, maçonicamente deve ter ocorrido a sessão, a cessão e a secção ou seção maçónica.

Essas palavras são denominadas homófonas, visto que têm a mesma pronúncia, mas são escritas de formas diferentes e expressam momentos/situações distintas.

Desse modo, como isso pode nos servir?

O primeiro ponto é entendermos que SESSÃO advém do latim "sessio", que significa "sentar-se". Transmite, pois, a ideia de pessoas sentadas. Em outras palavras, uma reunião, vinculando também a ideia de tempo.

Sendo assim, a SESSÃO MAÇÕNICA deve acontecer com todos sentados e em determinado período de tempo. Contudo, precisamos ir mais além e, assim, compreender alegoricamente que não devemos ir à Loja para sentarmo-nos em uma cadeira, mas para assentar um cargo. O cumprimento dos horários, início e término, deve ser respeitado. E inconcebivel que Mestres Instalados se recusem a exercer cargos e, mais ainda, a falta de pragmatismo no uso da palavra.

Por sua vez, CESSÃO vem de "cessio", que é ceder, ato de renunciar. Portanto, se nos perguntarem "o que vindes fazer na reunião?", devemos, em atos, demonstrar que renunciamos às paixões e cedemos nossa vontade própria em prol do progresso coletivo. De forma resumida: ABDICAÇÃO.

Finalizando, esclarecemos que Secção e Seção têm o mesmo significado e a mesma origem latina: "sectione". Este traduz a ideia de setor, divisão, uma parte de um todo. E no mesmo ponto, encontramos o possível "Tendão de Aquiles de nossos labores dentro do

Templo. Todo ritual maçônico é composto por partes. Algumas são de estrito valor e função burocrática (leitura dos balaústres); outras ultrapassam a materialidade do evento (abertura do Livro da Lei). Contudo, há dois momentos, de suma importância, que não se podem negligenciar. Ordem do Dia e Quarto de Hora de Estudo.

ORDEM DO DIA É O MOMENTO PARA DISCUTIRMOS OS PROBLEMAS DA SOCIEDADE E PROCURARMOS SOLUÇÕES.

QUARTO DE HORA DE ESTUDO SÃO NOSSAS INSTRUÇÕES, AS QUAIS DISCUTIMOS PARA FAZERMOS PARTE DAS SOLUÇÕES.

O Ritual Maçônico é uma Lei e, como tal, deve ser cumprido em sua integralidade. Não pode haver nenhuma alteração ou supressão!

Aos Irmãos Oradores, Guardiões da Lei, fica o alerta de não afiançarem o erro, pois cabe a vocês sentenciarem se os trabalhos, de fato, transcorreram justos, perfeitos e dentro da legalidade.



NA ARTE REAL SÓ É AMIGO E IRMÃO QUEM ESTIVER REGULAR MAÇONICAMENTE? - Helio P. Leite


Neste sábado de agosto, amanheci, como se diz no meu Ceará, invocado com uma situação, que apesar de iniciado na Ordem Maçônica há mais de 58 anos, ainda não consegui compreender, embora tenha procurado explicações; para o fato de que quando um maçom se afasta da Ordem e passa à condição de irregular, não mais é considerado como irmão e amigo, mesmo que se diga que dele  jamais se apagará a sua iniciação propriamente dita.

Por exemplo: quando um cidadão é iniciado em uma Loja maçônica, imediatamente ele passa a ser considerado um irmão e amigo, sua esposa nossa cunhada e seus filhos nossos sobrinhos e passamos a com ele conviver maçonicamente, familiarmente e socialmente. Nascendo deste convívio grandes amizades e profundos entrelaçamentos afetivos.

Porém, quando esse mesmo irmão se afasta dos trabalhos maçônicos, seja por qual motivo, em geral perdemos o contato com ele e com seus familiares. Aquela "grande amizade fraternal" desaparece como por encanto.

Assim também acontece quando este mesmo irmão e amigo passa a pertencer a uma outra potência maçônica  em face de uma cisão ocorrida, não por sua culpa, mas por culpa dos dirigentes das potências em litígio, na maioria dos casos por causa da luta fraticida pelo poder temporal.

Imediatamente esse irmão fica proibido de frequentar a Loja do seu amigo, do seu irmão de sangue, de seu genitor, de seu genro, de seu padrinho de maçonaria, do seu chefe na repartição em que trabalha, do seu colega de trabalho, de seu sobrinho de sangue, etc. Ou seja, cria-se uma situação extremamente desagradável na relação de  "amizade fraternal" e, em termos de sociabilidade maçônica, se estabelece, muitas vezes, uma lacuna  irreparável.

A impressão que se tem em caso de cisão, é a de que do outro lado, isto é, na outra potência só existem antigos amigos, que no passado se reuniam, se abraçavam e brindavam a vida juntos, e de repente, num passe de mágica,  passaram a ser adversários, isto porque se estabelece uma proibição de intervisitação, ocasionando o afastamento físico de uma convivência fraternal. (que  permanece?) 

Esta situação, também,  acontece no ambiente acadêmico maçônico, nas Academias ditas maçônicas - denominação a meu ver incorreta  -, particularmente nas Academias que são criadas e mantidas por uma potência maçônica; no caso de um de seus acadêmicos passar a pertencer a outra potêrncia não reconhecida pela sua potência de origem. Nesta situação, tem se observado que este acadêmico é convidado a se retirar do quadro social de sua Academia.

Porém, nas Academias ditas maçônicas, mas sem nenhum vínculo institucional com nenhuma potência dita regular e reconhecida, no Brasil, tal não acontece ou não deve acontecer, até porque as Academias não são Lojas maçônicas, não realizam sessões ritualísticas, não usam traje maçônicos, seus membros não se comunicam por meio de sinais, toques e palavras, secretos,  seus cargos têm denominação adotada na sociedade e de acordo com que estabelece o Código Civil Brasileiro. Por fim, não dependem de se estabelecer  tratados de amizade e de reconhecimento com Potências Maçônicas, até porque não são consideradas como entidades para maçônicas.

Situações estas, que geram desconforto no ambiente do povo maçônico, formado pelo contingente obreiro - considerado como a principal fonte de recursos financeiros para a manutenção das suas respectivas Potências Maçônicas -, principalmente nos relacionamentos interpessoais entre obreiros de potências em litígios.

Em resumo, estes impasses permanecem no dia a dia maçônico, porque existe todo um conjunto de normas que tratam das regularidades e das irregularidades obreiras e institucionais, os quais subsistem  enquanto durar as cisões e somente cessarão quando a união voltar a reinar no ambiente potencial maçônico, então envolvido.

Porém, tais impasses não deveriam refletir ou ter consequências estendidas ao ambiente acadêmico maçônico, em face das características acima elencadas, e onde militam obreiros dedicados à literatura, a poesia e aos demais setores da Cultura, que dedicam seus labores na produção do saber, como contribuição para o enriquecimento cultural  da Arte Real, independentemente da potência maçônica a que pertençam, mesmo porque o conhecimento não tem fronteiras. 

Helio P. Leite é presidente da Academia Nacional de Maçons Imortais



agosto 12, 2024

COMO TAL ME RECONHECE








Meu irmão, como tal me reconhece,

Quanta honra, quanta alegria,

Ser visto pelos meus irmãos,

Na fraternidade, na liberdade

E na igualdade, na harmonia do servir.


Meus passos são conhecidos,

Sem sinais, sem alarde,

Meu irmão, como tal me reconhece,

Na simplicidade do sentir que arde.


Não preciso de títulos,

Não preciso de placas ou distintivos,

Meu ser é revelado,

Pelo gesto, pelos traços intuitivos.


A forma de ver a vida,

Reflete-se em cada irmão,

Para todos ao redor, sou um estranho,

Mas sempre passa um irmão em comunhão.


Pelo modo de ser, pela vivência,

Pela essência que compartilho,

Na jornada da vida, sou reconhecido,

Meu irmão, como tal, me vê e me abriga.


Na psique coletiva, na alma fraternal,

Reside o vínculo profundo,

Onde a identidade se expande,

E meu irmão, como tal, me reconhece no mundo, por onde eu ando.


No silêncio eloquente do templo,

No trabalho em busca do aperfeiçoamento,

Na justiça, na verdade e no zelo,

Meu irmão, como tal, me reconhece, em qualquer momento.


Pelo respeito à tradição,

Pela prática da caridade,

No contínuo aperfeiçoamento da razão,

Encontro a verdadeira liberdade.


E assim, na luz que nos guia,

No amor que nos une e nos fortalece,

Meu irmão, como tal, me reconhece,

E nossa fraternidade resplandece.



TOLERÂNCIA E SEUS LIMITES - Rui Bandeira


Em Maçonaria, o conceito de Tolerância não inclui qualquer noção de superioridade do tolerante perante o tolerado. 

Isto é, não se tolera a opinião ou a crença do outro porque somos boas pessoas e achamos que, devemos fazê-lo, apesar de entendermos que nós é que estamos certos e o outro é que está errado, fazendo-lhe o favor de aceitar que ele tenha opinião errada.

O conceito maçónico de Tolerância existe como corolário do princípio da Igualdade, basilar entre os maçons. 

Deve-se tolerar e tolera-se a opinião diferente ou divergente do outro, porque, como iguais que somos, cada um tem o direito a ter a sua opinião, como muito bem entenda tê-la. 

E tolera-se e deve tolerar-se a opinião diferente e divergente do outro em relação à nossa, porque não devemos ter a sobranceria de achar que nós é que somos os iluminados, tocadas pela graça divina de estarmos sempre certos.

Quando o nosso igual tem uma opinião diferente ou divergente da nossa, quatro hipóteses podem existir: 

_ou o outro está errado e nós certos, 

_ou somos nós que estamos errados e é o outro quem está certo, 

_ou afinal estamos ambos errados e é outra qualquer posição que está certa, 

_ou até podemos ambos estar certos, só que em planos, tempos ou condições diferentes.

A Tolerância não é um favor, uma concessão ou uma generosidade. 

A Tolerância é a simples consequência de se reconhecer que a perfeição humana não existe e, portanto, de admitir como um facto da vida que todos e cada um de nós temos os nossos defeitos, as nossas imperfeições, os nossos acertos e os nossos erros e é, por conseguinte, até mais do que imperativo ético, um ato de inteligência tolerar o outro com os seus defeitos, imperfeições e erros, pois só assim podemos esperar que os nossos sejam, por sua vez, tolerados.

Situações que por vezes são apresentadas como de Tolerância nada têm a ver com a mesma: 

_a "tolerância" do branco em relação ao negro (ou vice-versa) não é mais do que racismo comprometido; 

_a do homem para com a mulher (ou vice-versa), não passa de machismo (ou feminismo) mentecapto; 

_a do cristão para com o judeu ou o muçulmano, ou do judeu para com o muçulmano ou o cristão ou a do muçulmano para com o cristão ou o judeu, mais não significam do que a tentativa de ocultar sectarismo religioso; 

_a do rico em relação ao pobre apenas disfarça o sentimento de culpa pela sorte do conforto material ou desejo de continuar a explorar o deserdado. 

Porque o branco e o negro são ambos humanos e ambos têm carne e ossos e sangue vermelho e coração e cérebro. 

Porque homem e mulher se complementam e são mutuamente indispensáveis. 

Porque cristãos, judeus e muçulmanos creem no mesmo Deus. 

Porque o rico e o pobre só se enobrecem pelo trabalho.

Quando se fala de Tolerância, é frequente vir à baila a questão dos seus limites. 

Existe alguma tendência para se considerar existir algo de contraditório entre a Tolerância e a consideração de existência de limites à mesma. 

A meu ver, esta é uma falsa questão, que um pouco de reflexão facilmente resolve. 

Antes do mais, é preciso entender que o conceito de Tolerância se aplica a crenças, a ideias, ao pensamento e respetiva liberdade, às pessoas e sua forma, estilo e condições de vida, mas nada tem a ver com o juízo sobre atos. 

Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar, independentemente da sua diferença em relação a si e ao seu entendimento, a crença alheia, as ideias e o pensamento de outrem, pois a liberdade de crença e de pensamento são expressões fundamentais da dignidade humana. 

Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar o outro, quaisquer que sejam as diferenças que vejamos nele em relação a nós, porque o outro é essencialmente igual a mim, não ferindo essa essencial igualdade as particulares diferenças entre nós existentes. 

Mas não é do domínio da Tolerância o juízo sobre os atos. 

O juízo sobre atos efetua-se em função da moral e das regras sociais e legais vigentes.

Explicitando um pouco mais: tenho o dever de aceitar alguém que pense de forma diferente da minha, que tenha uma crença religiosa diferente da minha, uma orientação sexual diferente da minha, um estilo de vida diferente do meu. 

Mas já não tenho idêntico dever em relação a atos concretos desse outro que se revelem violadores da lei, da moral ou da própria noção de Tolerância. 

Designadamente, não tenho que tolerar manifestações de intolerância em relação a mim, às minhas crenças e convicções, tal como não só não tenho que tolerar, como não devo fazê-lo, atos criminosos, cruéis, degradantes ou simplesmente violadores das consensuais regras de comportamento social.

Temos o dever de tolerar, de aceitar, a diferença - no estilo, nas ideias, nas crenças, no aspeto ou nas condições individuais. Por outro lado, temos o direito e o dever de ajuizar, de exercer o nosso sentido crítico, relativamente a ações concretas.

Ninguém vive isolado da Sociedade e todos têm de cumprir as regras sociais que viabilizam a sã convivência de todos com todos. 

Consequentemente, é uma simples questão de bom senso que devemos aceitar, valorizar, integrar as diferenças. 

Quem é diferente, tem direito a sê-lo. 

Quem pensa diferente, tem o direito de assim fazer. 

Mas, por outro lado, o direito à diferença não legitima a atuação desconforme com as regras sociais, legais, morais, em vigor na Sociedade em causa. 

Ninguém pode pretender só gozar das vantagens sem suportar os inconvenientes. 

Quem vive em Sociedade tem o direito de exigir que esta e os demais aceitem as suas diferentes ideias, conceções, condição. 

Mas tem o correlativo dever de respeitar as normas sociais, legais e morais vigentes. Se o não quiser fazer, deve afastar-se para onde vigorem normas que esteja disposto a seguir.

As Sociedades evoluem e é bom que assim seja. 

Também por isso é inestimável e rica a diferença. 

Também por isso devemos aceitá-la e aceitar que quem defende ideias ou conceções ou condições diversas da norma procure convencer os demais da bondade das suas escolhas. 

Isso é Liberdade, isso é Democracia. 

Nem uma, nem outra subsistem sem a indispensável Tolerância da Diversidade. 

Mas precisamente por isso - afinal porque quem quer e merece ser respeitado tem o dever de respeitar - o direito de defesa das ideias e convicções, o direito a tentar convencer os demais, o direito a pregar a evolução pretendida, não se confunde com qualquer pretensão de agir como se pretende, se em contrário da lei, do consenso social, da postura moral da Sociedade em que se está inserido.

Resumindo: a Tolerância obriga a respeitar a Diversidade e a diferença; impõe a aceitação da divulgação, da busca de convencimento, mesmo da propaganda das ideias ou conceções diversas. 

Mas não que se aceitem condutas prevaricadoras do que está legal e socialmente vigente - enquanto o estiver. 

Por isso entendo que os domínios da Tolerância e do Juízo sobre os atos concretos são diferentes. 

As ideias, as conceções, as condições confrontam-se, debatem-se, mutuamente se influenciam, enfim interagem no domínio da Liberdade e, assim, da mútua Tolerância. 

Os atos, esses, necessariamente que têm de respeitar o estabelecido enquanto estabelecido estiver. 

Se assim não for, o que é aplicável à violação do consenso social não é a Tolerância - é a Justiça, seja sobre a forma de Justiça formal, seja enquanto censura social seja no domínio do juízo individual.

Portanto, onde tem lugar a Tolerância, esta não tem limites. 

Onde há limites, sejam legais, sejam de normas sociais ou morais, não se está no domínio da Tolerância, mas no domínio do tão justo quanto possível juízo concreto sobre atos concretos.