outubro 21, 2024

 Saudações, estimado Irmão!


HONRA OU GLORIA?


Nem todas as Instruções Maçõnicas constam nos Rituais. Na verdade, o grande e real aprendizado se consubstancia em duas frentes.


A primeira é convivermos com os Irmãos, copiando os bons costumes e não repetindo os maus hábitos. A segunda frente é assumirmos, de maneira consciente, a postura de especuladores. Em tudo, na Maçonaria, há um motivo de ser.


Especulemos, então, o porquê de São João ser o Patrono da Maçonaria. Hà vários Santos de nome João e diferentes vertentes nas quais João seria nosso Patrono. Como não há um consenso, todos eles, pelos fatos que os levaram à canonização, cumprem a alegoria daquele que luta e/ou defende causas como a Maçonaria. Acredito, pois, que as Lojas Maçõnicas são consagradas aos Princípios dos Santos de nome João.


Ademais, creio que 90% dos Maçons brasileiros compreendem que nosso João é o Batista. Talvez pela forma como foi assassinado. Contudo, a justificativa não deve ser pela maneira, mas pelo motivo.


João Batista era ousado e confiante na verdade de seus principios. Tinha firmeza para afrontar todos os perigos a que fora exposta sua coragem. Suas pregações eram um misto de chamamentos espirituais e condutas morais para a sociedade. Combatia os inimigos da humanidade com fervor e zelo.


Aos hipócritas que a enganam, alertava: "Raça de viboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima?". Aos pérfidos, que a defraudam: "Não cobrem nada além do que lhes foi estipulado". Aos ambiciosos, que a usurpam: "Quem tem duas túnicas de uma a quem não tem nenhuma". E aos corruptos e sem princípios, que abusam da confiança de seu povo: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário".


E como a esses inimigos da sociedade não se combate sem perigos, cortaram seu pescoço. No entanto, permita-me uma elucubração pessoal. Nestas décadas de estudos iniciáticos, em contato com vários personagens que envolvem a Maçonaria, adquiri mais admiração por João Batista do que pelo próprio Salomão.


COMO MAÇOM, VOCÊ ASPIRA A HONRA OU GLÓRIA?


Nosso "sistema educacional pode levar ao retrocesso justamente em razão do propósito para o qual nos instruimos. A graduação não nos coloca acima de ninguém, até porque quanto mais longe você estiver dos Irmãos, mais solitário você será.


Titulos são grafados em papel que o tempo apaga, e o cupim corrompe a moldura. A altivez dos cargos são, na verdade, palavras em longos curriculos materiais, que a consciência nos lembra de que, às vezes, vieram sem merecimento.


Assim é a Glória. Em geral, relaciona-se a algum tipo de conquista para impressionar o outro, havendo a necessidade de ampla divulgação, a qual serà sempre transitória e insipida. "Sic transit gloria mundi.


Veja que João Batista não teve nenhuma glória, não fez milagres, não tinha poderes. Era apenas uma voz. Todavia, o próprio Cristo reconheceu-lhe o valor e submeteu-se ao batismo.


Honra é o principio da conduta pessoal baseado na ética, honestidade, coragem e dignidade e não precisa ser amplamente conhecida.


O PATRONISMO DE JOÃO BATISTA É A MENSAGEM SIMBÓLICA QUE O MAÇOM NÃO PRECISA DE GLÓRIA, MAS NÃO EXISTE SEM HONRA.


Mestre de Cerimônias PR25 2024/2026

 








A inscrição "Non mi ritragga senza ragione. Non mi impugni senza coraggio," encontrada na espada da estátua de Giovanni delle Bande Nere na fachada da Galeria Uffizi em Florença, possui significados profundos e simbólicos que evocam a essência da coragem e do dever. Essa frase não é apenas um adorno estilístico, mas uma manifestação de um código ético que revela a relação entre o guerreiro e a espada. Giovanni delle Bande Nere (1498-1526), membro da família Medici, foi um dos mais destacados condottieri do Renascimento, conhecido por sua coragem e por suas contribuições ao desenvolvimento das técnicas militares.

A primeira parte da frase, "Não me desembainhe sem razão," representa um princípio de moderação e responsabilidade, sugerindo que a espada não deve ser empunhada de forma leviana ou imprudente. Isso está intimamente ligado ao ideal renascentista de virtude e ao ethos do guerreiro, que deve buscar o equilíbrio entre a força e a prudência. Essa ideia se alinha com os princípios de honra defendidos pelos condottieri, onde a força não deve ser empregada sem um propósito justo. Como coloca Norbert Elias em seu estudo sobre o processo civilizatório, a contenção e o autocontrole eram valores enaltecidos entre as elites renascentistas, moldando as relações de poder e as expectativas de conduta entre os guerreiros (Elias, 1993).

A segunda parte da inscrição, "Não me empunhe sem coragem," reforça a noção de que empunhar a espada requer não apenas um motivo justo, mas também a coragem para enfrentar as consequências. O valor da coragem, para Giovanni, não se restringe à bravura em combate, mas está também associado ao compromisso com a honra e a integridade pessoal. Aqui, podemos observar a influência dos ideais clássicos que permeiam o Renascimento, especialmente o conceito aristotélico de coragem como uma virtude que envolve enfrentar o perigo de maneira consciente e com propósito (Aristóteles, "Ética a Nicômaco").

Essa inscrição transcende o valor estético, funcionando como um lembrete dos códigos de conduta dos guerreiros renascentistas e da filosofia humanista que guiava suas ações. Assim, a estátua de Giovanni delle Bande Nere não é apenas um tributo ao homem, mas um símbolo dos valores renascentistas que ele representava e da conexão entre a coragem, a razão e a honra.


Referências

Elias, Norbert. O processo civilizador. Zahar, 1993.

Aristóteles. Ética a Nicômaco.

A LOJA DOS ESPÍRITOS - Jerônimo J. F. Lucena


𝘛𝘦𝘹𝘵𝘰 𝘮𝘶𝘪𝘵𝘰 𝘪𝘯𝘵𝘦𝘳𝘦𝘴𝘴𝘢𝘯𝘵𝘦 𝘦 𝘤𝘰𝘮 𝘮𝘦𝘯𝘴𝘢𝘨𝘦𝘮 𝘴𝘶𝘣𝘭𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘳 𝘱𝘳𝘰𝘧𝘶𝘯𝘥𝘢.


O silêncio sepulcral na sala dos passos perdidos intriga o Mestre de Cerimônias:  Já é meio dia em ponto. É hora de iniciarmos nossos trabalhos. Onde estarão os irmãos? Talvez seja meia noite, vou bater maçonicamente à porta do templo...

Ao levantar a espada para dar as pancadas na porta, de súbito começam a cair os quadros da galeria de ex-veneráveis, o chão treme, os lustres balançam, as luzes piscam e a porta do templo se abre num rangido.

Assustado, o Mestre de Cerimônias olha o interior do templo e, incrédulo, vê o pavimento mosaico com uma enorme rachadura. Através dela brota um homem magro, bigode retorcido, nariz adunco, olhar brilhante, face pálida e lábios arroxeados: sintomas típicos da anóxia crônica provocada pela tísica que lhe consumia os pulmões.

O Mestre de Cerimônias reconhece o grande poeta, mas antes que pudesse pedir-lhe um autógrafo para seus filhos, é interrompido por ele. O baiano Castro Alves, poeta dos escravos, o mais entusiasta dos abolicionistas, estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, amante apaixonado da atriz Eugênia Câmara, coloca-se à ordem (apesar das dificuldades pela falta de seu pé direito amputado) e brada:

- GADU! ó GADU! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes? Embuçado nos céus?

Mas não consegue concluir a declamação do seu tão famoso poema "Vozes D'África" 'porque surge das entranhas do templo D. Pedro I, interrompendo o poeta aos gritos:

- Se a Maçonaria quer que eu fique, diga a todos que FICO. Fico e grito: "Independência ou morte!!". E agora que sou defensor perpétuo e Imperador do Brasil, quero ser eleito Grão Mestre da Ordem e compor o hino da Maçonaria. Onde  estão o Ledo e o Bonifácio?

- O Irmão Gonçalves Ledo está na Primeira Vigilância e o Irmão José Bonifácio, no Oriente, na cadeira do Venerável; diz o Mestre de Cerimônias.

- Chame os irmãos! Revista-os com suas insígnias, pois vou iniciar os trabalhos. E seja rápido, senão eu fecho essa bodega e a transformo num palácio para minha marquesa; ordena o Imperador, dirigindo-se ao trono de Salomão enquanto os irmãos Ledo e Bonifácio se agridem em defesa, respectivamente, da República e da Monarquia.

Já assustado, e temente que o Grão Mestre-Venerável- Imperador-Compositor cumpra a promessa, o Mestre de Cerimônias olha através da rachadura no pavimento mosaico e grita aos irmãos. Logo sobe, cambaleante, o Irmão Jânio Quadros. Cabelos em desalinho, óculos de tartaruga em assimetria, coloca-se à ordem com os pés trocados e pergunta:

- Quando começa o Copo D?água?

- Calma, Jânio... Por que você bebe tanto?

- Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia.

- Você precisa renunciar a este vício, Irmão Jânio... E, por falar em renunciar, por que você renunciou?

- Fi-lo porque qui-lo e também por conta das forças ocultas.

!!!!!! Malheta o Imperador.

- Componha rápido esta Loja, Irmão Mestre de Cerimônias. Chame o Rui para a oratória.

- Já estou aqui, Venerável Mestre. Acabei de chegar da Holanda. O irmão Paranhos Jr., "Barão do Rio Branco", enviou-me para representar o Brasil na Conferência de Haia. Fiz sucesso. Estão até me chamando de "O Águia de Haia". Mas não é a nossa "Águia bicéfala", é "Águia macrocéfala".

- E viva a República!!

- Viva a Monarquia!!

- Cale a boca, Bonifácio, senão eu lhe deporto!; ameaça D. Pedro.

- Isto aqui está muito bagunçado. Coloquem uma música na harmonia!

- Estamos aguardando o irmão Carlos Gomes. Ele está tocando "O Guarani" no Repórter Esso, Venerável Mestre.

- Venham todos assinar o livro de presença, grita o irmão Dib, batendo com a palma da mão no trono da chancelaria. Freqüência, presença e comparecimento: -estes são os deveres do maçom. E tem mais, irmão Guatimosin, este templo tem o meu nome e não vou permitir que seja transformado num palácio para Dona Domitila. Eu e mais dezesseis irmãos (dezesseis ou dezessete, já nem tenho mais certeza porque fizeram uma confusão danada com essa história) fundamos a Loja, construímos o templo e não vamos permitir que ele seja profanado.

- Se for pra competir, eu também quero dizer que tenho um Kadosch que é só meu, diz o Irmão Ledo.

- !!!!! Silêncio!! Silêncio!! Suspendam os sinais maçônicos! Temos um goteira entre nós! Irmão Guarda Interno, quem é esse cabeludo com uma corda no pescoço?

- É o Tiradentes, o Mártir da Independência, Venerável Mestre.

- Tiradentes uma ova! Agora sou um dos 200 mil dentistas deste país, com diploma na parede e anel no dedo.

- Irmão Mestre de Cerimônias: coloque o Tiradentes, ou melhor, nosso mártir dentista, entre colunas para o telhamento.

- Sois maçon?

- Iniciei-me por correspondência, Venerável Mestre.

- Ah, eu pensei que o Irmão fosse membro da nossa primeira Loja brasileira, a "Areópago de Itambé", do Irmão Arruda Câmara. E o Irmão sabe a palavra senha?

- Sei, sim, Venerável Mestre: "Tal dia é o batizado".

- Tá bom. Então, pode assumir um lugar entre nós. Afinal, você merece pois foi o único enforcado dos 11.

- E viva a República!!

- Cale a boca, Ledo!

- Não sou o Ledo, Venerável Mestre. Sou o gaúcho Bento Gonçalves, e estou dando vivas à "República do Piratini".

- E o Ledo, por que está tão calado?

- Estou confuso, Venerável Mestre. Não sei se hoje é 20 de Agosto ou 09 de Setembro, se estamos na Era Vulgar ou no Ano da Verdadeira Luz, e preciso fazer meu discurso na loja Comércio e Artes do Rio de Janeiro.

E, novamente, outro bate boca:

- A República é o melhor para o Brasil!!

- Não é!!! É preciso fazer uma mudança gradual, mas não temos sequer um nome para assumir a presidência.

- Chame o Deodoro para assumir o governo provisório. Irmão Mestre de Cerimônias, grite pelo Deodoro!

Chega o Deodoro, doente, fragilizado, desencantado e diz:

- Tô fora. Já dei a minha contribuição: já assumi, já fechei o Congresso, já renunciei ao governo, ao Grão Mestrado. Quero que me esqueçam. Vocês se resolvam com o Floriano, o "Marechal de Ferro".

- Calma, Deodoro. Quem disse isto foi outro presidente.

Nesse ponto a confusão torna-se muito grande, já virando caso de policia, ou melhor, de exército. Chamam o Caxias.

Montado num enorme cavalo, brandindo sua espada, sai das profundezas o nosso Duque Patrono do Exército brasileiro:

- Sigam-me os que forem brasileiros!

- Para onde, Caxias?

- Para qualquer lugar, desde que estejamos "ombro a ombro" e não "peito a peito".

- Obrigado por ter vindo, mas tire esse cavalo do templo e resolva essa querela o mais diplomaticamente possível.

- Eu só sei resolver na espada. Diplomacia é la com o Barão, o do Rio Branco.

- Irmão Guarda Interno, controle a entrada dos irmãos. Quem é esse aprendiz no topo da coluna do Norte?

- É o Euclides da Cunha, Venerável Mestre.

- O jornalista do Estadão? O autor de "Os Sertões"? Aquele que disse que"o sertanejo é um forte"?

- Não, Venerável Mestre. Este não é aquele que disse. Esse é o próprio sertanejo forte do sertão baiano.

- Tá bom.. Então deixa ele aí, quietinho, na coluna do Norte. Meus irmãos: -estando a Loja dos Espíritos composta, vamos iniciar nossos trabalhos.

Irmão Guarda Interno:- verifique se estamos a coberto.

O Irmão Guarda Interno sai do templo e, após alguns minutos de longa espera, retorna e diz:

- Venerável Mestre: é com profunda tristeza que vos informo o que vi.

- E o que vistes, Irmão Guarda Interno?

- Venerável Mestre, na Sala dos Passos Perdidos amontoam-se milhares de irmãos deitados na cama da fama. Dormem um sono profundo. Alguns até roncam; outros sonham com a Maçonaria do passado. No salão de festas, outro tanto se repasta com gordurosos bolinhos, pastéis e canapés. Bebem refrigerantes, cerveja e até aguardente. Algumas conversas, felizmente a minoria, vão do mesquinho ao ridículo. Pequenos grupos fazem pequenos negócios. Alguns, mais preocupados com os grandes problemas da Ordem e da sociedade, parecem sonhar acordados quando falam de seus utópicos projetos, e outros, talvez por não entenderem a real dimensão dos problemas, tentam resolvê-los com pequenas soluções, fazendo jantares beneficentes, bazares e vendendo até rifas.

- Não é possível!!!!! Não acredito no que ouço! Abandonaram a liberdade de pensar! Não se fomentam mais as grandes idéias! Perderam os nossos ideais! Interromperam as nossas conquistas e agora interrompem o nosso merecido descanso. Por que nos incomodam??? ? !!!! De pé e à ordem. Irmão Mestre de Cerimônias: abra as portas do templo. Meus irmãos: enchamos de ar os nossos pulmões e gritemos em uníssono:

-ACORDEM, MEUS IRMÃOS!!!!



outubro 20, 2024

A IMPORTANCIA DOS POETAS - Denizart Silveira de Oliveira Filho

Neste Dia do Poeta, 20 de outubro, nossos homenagens a estes artífices do verso.


O titulo por extenso: Importância dos Poetas e suas Poesias na Maçonaria
 

Os Poetas e suas Poesias têm relevância significativa na Maçonaria.

Os Poetas, por fazerem uso simbólico da linguagem poética na transmissão de ensinamentos, para inspirar reflexão e estimular o pensamento filosófico entre os Maçons; suas Poesias, por fazerem bem a nossa alma. É como nos disse Camilo F. B. Castelo Branco (1825-1890), o grande romancista português e Maçom: “Poesia é tudo o que se nos revela ao espírito sem nos molestar o entendimento; é tudo o que nos banha a alma de unção, desprendendo-a dos liames terrenos; é, enfim, esse toque súbito, chamado arroubamento, ao qual o espírito segue espontaneamente como librando-se muito acima da terra”. Na Maçonaria, a poesia desempenha várias funções importantes: 

(1) A Maçonaria transmite seus ensinamentos através de simbolismos e alegorias. Então, a poesia pode ser usada como forma artística para expressar simbolicamente os conceitos maçônicos, ajudando-nos na compreensão de seus princípios éticos, morais, filosóficos e espirituais.

(2) A poesia tem o poder de evocar emoções e estimular a reflexão e a contemplação. Então, a poesia nos incentiva a pensar mais profundamente sobre nossa jornada espiritual, a natureza da fraternidade e a busca por autoaperfeiçoamento. 

(3) Nas Lojas Maçônicas, a poesia pode ser incorporada à Cerimônias e Rituais como parte da experiência simbólica. Então, a poesia pode ser recitada durante as Sessões de instrução, cerimônias cívicas ou em outros momentos significativos para enfatizar princípios maçônicos e inspirar seus membros.
 
(4) Algumas poesias têm uma longa história e tradição, transmitidas de geração em geração. Então, as poesias ajudam a preservar a história e os valores fundamentais da Maçonaria ao longo do tempo. Através de metáforas, imagens e ritmo poético, a poesia na Maçonaria busca elevar a experiência dos Maçons, inspirar a busca pela verdade, beleza e conhecimento, e promover uma compreensão mais profunda dos princípios maçônicos. 

A poesia maçônica também é uma forma de celebrar a amizade, a fraternidade e a solidariedade entre os Maçons. É, portanto, uma manifestação da cultura, da espiritualidade e da identidade maçônica. 

Alguns poetas famosos, como Camilo Castelo Branco, já citado acima, Fernando Pessoa, Rudyard Kipling, Manuel M. B. du Bocage, Almeida Garrett, Feliciano de Castilho, Antero de Quental, entre outros tantos, foram Maçons e deixaram obras que refletem sua visão maçônica do mundo.

E, entre nós hoje, temos a honra e o orgulho de termos nosso Poeta Irmão Adilson Zotovici, a quem dedico este “BOA NOITE IRMÃOS!”.

ELEIÇÕES NOS ESTADOS UNIDOS - Michael Winetzki

 .


Estamos há 15 dias das eleições presidenciais na maior potência militar e econômica do mundo, com reflexos de enorme importância para todo o planeta, porque definem a atuação dos Estados Unidos pelos próximos quatro, ou talvez oito anos.

Embora existam outros partidos, os Republicanos com Donald Trump e os Democratas com Kamala Harris, disputam os sufrágios de forma polarizada. Ambos os partidos tem origem na independência americana e tem se alternado no poder desde então.

O Partido Republicano tem um perfil mais conservador e prega o liberalismo econômico. O Partido Democrata é mais progressista e prega uma maior presença do Estado na sociedade. Mas os conceitos clássicos de esquerda e direita, como são definidos no Brasil, não se aplicam aos EUA. 

Os símbolos de ambos os partidos foram criados pelo chargista Thomas Nast em 1870. O Partido Democrata é representado por um burro, que representa para seus partidários, arrojo, firmeza e teimosia. Os republicanos tem como símbolo um elefante, que na opinião dos adversários significa pompa, arrogância e soberba, mas para os seus partidários, força e dignidade.

Após a Guerra da Secessão, que durou 4 anos, de 1861 a 1865, os EUA passaram por grandes reformulações políticas e econômicas. Sem a mão de obra barata da escravidão, as atividades agrárias do país precisaram encontrar um novo caminho e a gestão do presidente Theodor Roosevelt, republicano, implantou esses mecanismos, projetando o país no âmbito do continente americano.

O Partido Democrata foi fundado em 1824, e o Republicano trinta anos depois, com a adesão de membros do primeiro partido ao segundo, criando uma vertente conservadora. Os Democratas adotaram uma política mais voltada a classe operária e as políticas assistenciais e trabalhistas. Essas políticas foram implantadas pelo Presidente Franklin Delano Roosevelt, democrata e primo do presidente Theodor.

Em rápido resumo, os liberais democratas defendem a existência de um salário mínimo e que os impostos sejam mais altos para os mais ricos. Para os republicanos os salários devem ser estabelecidos pelo mercados e que os impostos sejam minimizados e iguais independentemente da renda do cidadão.

As ideias sociais dos democratas são baseadas na responsabilidade comunitária e social e para os republicanos são baseadas nos direitos individuais e na justiça.

O mundo inteiro aguarda então, com ansiedade, qual será a política a ser estabelecida nos próximos anos, a partir das eleições de 5 de novembro próximo.



1666 - O INCENDIO DE LONDRES - Michael Winetzki


 

VIRTUAIS PORTOS CULTURAIS - Adilson Zotovici



Adilson Zotovici - dedico aos denodados Mestres Palestrantes


São Pedreiros navegadores

Livres, vasto mar de cultura

São marinheiros portadores

D’ Arte Real de carga pura


São palestrantes, professores

Capitães com propositura

Em virtuais portos os primores

Que cabais à semeadura


Enfrentando  os dissabores

Navegação plena,  segura

Das tormentas dos detratores


Essa a missão inda que dura

De porto em porto os mentores

À perfeição que a ventura !



outubro 19, 2024

CONVIVENDO NO MUNDO - Newton Agrella


Estivemos por aí...

Visitando lugares, observando as diferentes formas do comportamento humano e inevitavelmente vendo de que forma as pessoas reagem diante das triviais situações do dia a dia.

Não parece razoável rotular o ser humano com definições que se tornaram uma espécie de estereótipo diante do olhar crítico e sob um exclusivo ponto de vista.

É natural que cada povo tem sua peculiaridade, fruto de inúmeros fatores conjecturais como sua própria história, geografia e os fatores climáticos, alimentação, sofrimentos de guerras, questões isolacionistas e especialmente suas crenças e conformidades éticas e morais.

Mal ou bem, estes são elementos básicos que constituem a identidade cultural de cada povo e respectivas etnias.

Branco, negro, amarelo,  seja o que for, não há melhor nem pior. Tampouco superior ou inferior.

Há simplesmente uma diversidade de características humanas que se reproduzem e se consolidam na sua forma de viver.

Mas sem sombra de dúvida, quando se está longe de casa, o grau de nossas percepções se torna mais evidente, posto que as comparações fazem-se frequentes e inevitáveis.

Isto inclusive é produto das condições econômicas e sociais de cada lugar.

Algumas vezes chocam, surpreendem, e até nos inibem, mas no final das contas, o que vale e importa é "entender e respeitar as diferenças".

No frigir dos ovos, conviver com as diferenças culturais é um legítimo processo de crescimento e evolução.

É claro que respeito, disciplina e ordem são ingredientes mais do que sustentáveis para que possamos estabelecer relações minimamente civilizadas, contudo nem sempre isto basta.

Há que saber se situar e perceber que quem faz o seu lugar no mundo é você próprio.

Vida que segue alí ou aquí, mas que nos revela que nós humanos, somos os seres mais adaptáveis nos mais contrastantes cenários que vida nos oferece.



S. JOÃO EVANGELISTA - Almir Sant’Anna Cruz


 A ABERTURA DO LIVRO DA LEI EM JOÃO 1:1-5 E JOÃO 1:6-9

João, o Evangelista, foi um dos 12  Apóstolos, filho de Zebedeu e irmão do Apóstolo Tiago. Sua mãe Salomé era uma das “santas mulheres” que seguiam Jesus. A família seguia Jesus e o assistiam com seus bens. Seu pai era pescador no mar da Galiléia e seus dois filhos, João e Tiago, ajudavam-no no seu trabalho.

João foi discípulo de João Batista e foi, provavelmente, um dos dois discípulos que João Batista apontou Jesus como sendo o “Cordeiro de Deus”, o que muito serviu para fazê-lo conhecer Jesus e preparar-lhe o ânimo para a vocação definitiva às margens do mar da Galiléia onde, com seu irmão Tiago, foi chamado, no mesmo dia em que o foram Pedro e André.

As populações ribeirinhas do mar da Galiléia se distinguiam dos demais palestinenses por sua natureza vigorosa e bom-humor juvenil. Esta impetuosidade e veemência natural dos dois irmãos provocou o epípeto que Jesus lhes deu de “Filhos do Trovão”,

João aparece entre os Doze, como Apóstolo de primeira importância, e como o “discípulo que Jesus amava”, título máximo que indica que sua alma generosa e límpida o orientava para a luz e a verdade, fazendo-o conhecer prontamente o Messias.

Pertencia ao grupo dos três que Jesus costumava chamar para ocasiões de especial importância, como a ressurreição da filha de Jairo, a Transfiguração e a agonia no Jardim das Oliveiras. Na última ceia, ocupou o lugar próximo ao de Jesus. 

Acompanhou de perto os sofrimentos, paixão e morte de Jesus que, em seus últimos momentos, lhe confiou os cuidados de sua mãe.

Foi João o primeiro a reconhecer Jesus ressuscitado na Galiléia.

Depois do Pentecostes, João passou a ser companheiro de Pedro nas pregações e estava em Jerusalém na ocasião da visita de Paulo àquela cidade, após sua primeira viagem missionária, por volta do ano 50 d.C.

A tradição diz que se transferiu para Éfeso de onde continuou a supervisionar as comunidades da Ásia Menor e que nos últimos anos sua pregação foi se simplificando e intensificando quanto à doutrina do amor cristão.

Diz também a tradição que saiu milagrosamente ileso ao ser atirado em um tacho de óleo fervente, na perseguição de Domiciano (89-96), tendo sido então exilado para a ilha de Patmos.

De Patmos retornou a Éfeso, tendo sido o último Apóstolo a morrer, segundo os escritos da Igreja primitiva, sob o reinado de Trajano, no final do primeiro século.

JOÃO 1:1-5 E JOÃO 1:6-9

Em alguns Ritos maçônicos, não há abertura nem leitura de trechos do Livro da Lei, no caso a Bíblia: Ritos Moderno e Schröder.

Em outros abre-se aleatoriamente, sem leitura: Ritos de York e de Emulação (York-GOB). 

A abertura mais conhecida é a do Salmo 133, usada no Grau de Aprendiz pelo Rito mais praticado no Brasil, o Rito Escocês Antigo e Aceito e também pelo Rito Brasileiro.

Mas algumas Obediências brasileiras e estrangeiras que funcionam no Rito Escocês Antigo e Aceito e no Rito Escocês Retificado fazem a abertura no Grau de Aprendiz no Evangelho de João 1:1-5 e o Rito Adonhiramita no Evangelho de João 1:6-9. 

Em João 1:1-5 consta:

1 – No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

2 – Ele estava no princípio com Deus.

3 – Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

4 – Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

5 – E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

Essa abertura do Livro da Lei é criticada por muitos autores maçônicos, por ser considerada de viéis cristão, o que ofenderia a universalidade maçônica em que não há uma orientação específica para uma determinada religião.

Outros autores defendem a utilização dessa escritura interpretando-a como uma forma de demonstrar o triunfo da Luz sobre as Trevas.

No Ritual do Rito Adonhiramita, forma-se um pálio sobre o Orador – que estará em frente ao Altar dos Juramentos e ajoelhado em esquadria (com a perna esquerda) – por dois Irmãos cruzando suas espadas em X e com o Mestre de Cerimônias por trás do Orador e sustentando com sua espada as outras.

Em seguida, o Orador abre o Livro da Lei em João e recita alto e em bom som João 1:6-9:

6 – Houve um homem enviado por Deus que se chamava João;

7 – Este veio por testemunha, para dar testemunho da Luz, a fim de que todos cressem por meio dele;

8 – Ele não era a Luz, mas veio para que desse testemunho da Luz;

9 – Era a Luz verdadeira, que alumia a todo homem, que vem a este mundo.

O João referido nos versículos é claramente S. João Batista e a Luz é Jesus Cristo, a Luz do Mundo, o “verbo que estava com Deus e o Verbo era Deus” (João 1:1).

Excertos do livro Personagens Bíblicos da Maçonaria Simbólica.

outubro 18, 2024

MÉDICOS - Adilson Zotovici



Indaguei aos enciclopédicos,

Qual a maior referência

Buscando neles anuência

Para louvar “os médicos” 


Responderam com veemência

“ Hipócrates, Asclépio,...diversos 

Que pelo mundo dispersos

Quais merecem deferência “


Tema para ternos versos 

Pois profissão de bondade

Que sacerdócio em verdade 

Em momentos bons ou adversos 


Sem distinções na sociedade

Como “Lucas” com zelo e amor,

Labutam com igualdade e penhor

A abrandar a dor da humanidade 


De imensurável valor

Cumprem sagrada missão

Tem nossa imensa gratidão

E a proteção ...do “ CRIADOR “ !


Adilson Zotovici

Aos irmão e amigos Médicos pela passagem comemorativa do “Dia do Médico “ ( dia de São Lucas)

A ARTE DA POLÍTICA - Heitor Rodrigues Freire


Desde o começo da humanidade o homem vem sendo contaminado por um vírus invisível, muito poderoso, que desde sempre domina seus atos, pensamentos, palavras e comportamentos. Ele prevalece de forma impressionante e sua longevidade é alimentada pelo próprio homem, *per omnia saecula saeculorum*: o vírus da discórdia.

Basta um olhar atento por toda a história. Sempre tem alguém traindo, matando, roubando, agredindo. E pelo que se observa em nosso planeta, isso está muito longe de acabar.

Para harmonizar as pessoas e mantê-las unidas, as mais diversas religiões vivem pregando o amor. Mas os filósofos, ao longo do tempo, estabeleceram a política como a ciência da comunicação humana, a fim de permitir uma relação harmoniosa entre as pessoas. É uma ciência que sempre mereceu atenção especial, pois seus fundamentos ensejam um sistema lógico, racional e social para que os homens convivam em harmonia e felicidade.

Para Aristóteles, a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se refere à felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis) e a política propriamente dita (que se dedica à felicidade coletiva).

A política, segundo Aristóteles, é essencialmente associada à moral. Isto porque a finalidade última do Estado é a virtude, ou seja, a formação moral das pessoas e o conjunto de meios necessários para que isso ocorra. Como faz falta esse ensinamento de Aristóteles para os nossos políticos.

Aristóteles, também, através de suas obras "Política" e "Ética a Nicômaco" esboçou um novo tipo de política, principalmente por suas ideias de participação popular e por defender que toda boa política deve visar sempre ao bem comum. Há de se dizer, também, que Aristóteles questionou as formas de governo de sua época, mostrando de maneira contundente suas falhas.

A sociedade política e suas instituições, para Sócrates, Platão e Aristóteles, têm uma função formativo-educativa, no sentido de que determinam a justiça ou a injustiça na sociedade e, principalmente, estabelecem que os valores dominantes serão os valores hegemônicos em termos de sociabilidade. Ou seja, o exemplo vem de cima, o líder tem que dar o exemplo.

Como vemos, ao longo da história, houve uma orientação prática no sentido de se exercer a política como a arte de governar, mas o homem sempre inverteu a ordem das coisas, governando para satisfazer seu ego, exercendo o poder para estabelecer um domínio sob seu comando, demonstrando claramente que na prática, a teoria é outra.

Na seara política, o escritor e dramaturgo Bertolt Brecht alertou para a necessidade da consciência de participação do cidadão:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”. 

Já o ex-presidente americano Ronald Reagan, arriscou uma anedota: “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga do mundo. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”. 

Ao observar o comportamento dos políticos brasileiros nesta última eleição, ficou muito clara a falta de uma postura filosófica, pois preferiram atacar os adversários, procurando apontar falhas na vida um do outro, como se fossem eles próprios anjos imaculados, esquecendo-se de priorizar a divulgação seus planos de governo.

Quando será que irão aprender que essa prática não produz nenhum resultado, mesmo que se ganhe a eleição? A busca pelo poder a qualquer preço acaba gerando débitos que serão cobrados a tempo e hora, com juros e correção. 

Outro ponto de distorção é o uso da religião como meio para ganhar votos, e se esquecem dos ensinamentos de Jesus, que expulsou os vendilhões do templo. Se viesse hoje, certamente Jesus expulsaria os candidatos dos programas “gratuitos” de televisão, pois o que ali se pratica contraria fundamentalmente seus ensinamentos.

Até quando continuarão alimentando esse vírus nefasto, que continua contagiando a grande maioria dos políticos? A atuação dos políticos contraria outra frase de Aristóteles: “O homem é um animal político porque a razão é essencialmente política”. Contudo, o que menos se vê hoje na política é o uso da razão.

E nós, como ficamos? A resposta cabe a cada cidadão e a cada cidadã.





TAPEÇARIA DE ENSINAMENTOS - Roberto Ribeiro Reis


O que mais temos visto e escutado nos últimos tempos são as pessoas dizerem que nos aproximamos do fim dos tempos; aqui, um religioso fervoroso já consegue visualizar um Salvador montado num cavalo branco; ali, um dito profeta assevera que os quatro cavaleiros do apocalipse estão na iminência de chegar; acolá, influenciadores proselitistas digitais avocam para si o exclusivo monopólio da verdade, suplicando, concomitantemente, a realização de pixs para que seu ministério se mantenha inabalável.

Paralelo a esse discurso escatológico, o mundo assiste a uma saraivada de bombardeiros e tiros, em diversas regiões do planeta; talvez em razão desse desvairado estado de coisas em que se encontra a humanidade muitos religiosos têm arrogado para si o direito de afirmarem que vivenciamos o fim da humanidade.

Peçamos ao Supremo Arquiteto a Sabedoria necessária para que não cauterizemos nossas mentes; que saibamos, independente da religião que tenhamos ou não, identificar os falsos Cristos e os falsos profetas que têm surgido – em progressão geométrica- em todas as partes do mundo.

A Maçonaria, que não se imiscui em assuntos de cunho religioso ou de sectarismo político-ideológico, é uma rica tapeçaria de ensinamentos, capaz de dar ao homem as ferramentas de que ele necessita para sua reforma interior. Nossa Sublime Ordem não se arvora no direito de afirmar, peremptoriamente, quando será o fim do mundo ou quando haverá o juízo final.

Forjados no fogo etéreo, fomos iniciados na Seara da Arte Real a fim de que busquemos a verdade e a Luz Infinita, que são as armas poderosas que o Pedreiro Livre usa para combater todo obscurantismo ou ignorância. O Maçom que se preza não bate continência para os enganos e as apostasias, como muito tem acontecido em nossos dias, infelizmente.

Guiados pelo espírito de tolerância, indulgência e caridade, não somos de pular os Cristos das esquinas que vemos, a saber: os indigentes que nos pedem socorro material, os desamparados que nos pedem ombro e proteção e, especialmente, nossos irmãos quando estes vivem em estado de intensa aflição.

Que saibamos utilizar a couraça da Justiça e o escudo da Fé, diariamente. Que sejamos vitoriosos na luta constante que travamos nos corredores poloneses de nossos inimigos interiores. Que façamos nossa autópsia na Graça e Misericórdia do Grande Arquiteto dos Mundos, o único capaz de saber e revelar o dia do Juízo Final e do famigerado arrebatamento.

Continuemos respeitando e tolerando as crenças religiosas e opiniões diversas, pois nisso reside a verdadeira Sabedoria Maçônica. Enquanto o fim não chega, vistamos nosso avental, apossemo-nos de nosso maço e cinzel, e continuemos no maravilhoso e extasiante trabalho de desbaste de nossa pedra bruta.

outubro 17, 2024

A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS - João Guimarães


A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da liturgia maçônica é a da antiguidade dos seus Símbolos, de suas alegorias.

Remontam as origens dos Símbolos Maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. 

Daí terem alguns observadores apressados concluído que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o mundo. 

Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as suas características atuais, data do século XVIII, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da Franco-Maçonaria moderna. 

Foi nesta data que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria especulativa sobre a operativa.

Mas, anteriormente à memorável reunião das quatro Lojas franco-maçônicas de Londres, existiam várias Lojas por toda Inglaterra, Alemanha, França e Itália, formada por pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos próprios, Sinais de reconhecimento, Símbolos litúrgicos, e se tratando por Irmãos. 

Guardavam ciosamente a sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou profanos. 

A par desses conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods, Bruderschaften, Confrèries), constituídas por verdadeiros artistas (foram os construtores das grandes catedrais européias e os criadores da arte gótica), reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes confundidas com as tradições mais novas do cristianismo. 

Compreende-se, assim, o respeito que os príncipes tiveram por essas corporações de artesãos, às quais dotaram de regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei) foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte também as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século XVIII e a mais remota Antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar a Franco-Maçonaria coeva da vinda do homem sobre a face da terra. 

A verdade, contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os legítimos Símbolos Maçônicos é que se perdem na noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos, data de pouco mais de dois séculos, ou por outra, a Instituição é nova e a sua essência antiga.

Tão antigos são os Símbolos adotados e conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria, que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de data posterior ao ano um da era cristã. 

Tal afirmativa se reveste de tanta importância que o poder     mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições antigas.

Existem Símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a fase operativa, cujo significado foi inteiramente estranho aos homens da época, não Iniciados nos Mistérios Maçônicos, quando não foram completamente desconhecidos. 

Pois bem, quando teve o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos verificados no século XIX, constataram os Franco-Maçons que muitos de seus Símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes a civilizações já desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contato, anteriores ao advento do cristianismo.

É forçoso admitir que os Franco-Maçons não inventaram, por coincidência, tais Símbolos, pois muitos deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje. 

Alguns, por exemplo, são tão evidentes, que não permitem margem a dúvidas. 

Existiu, portanto, um misterioso fio que preservou a tradição antiga, fio esses que não trepidamos em declarar, o segredo dos Iniciados. 

A Sabedoria Antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre determinado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, pôde, assim, chegar até nós. 

Só dessa forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu indecifrável.

Ensinam a História, a Sociologia e a Literatura que as obras Homéricas foram guardadas pela tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. 

O mesmo processo sofreram quase todas as lendas dos primórdios da civilização. 

Se assim aconteceu em relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma tradição iniciática, perpetuada através de Símbolos?

Sobre o poder conservador dos Símbolos, já disse o nosso Irm.: MICHA que "se a verdade sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é por sua vez como uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os Iniciados podem traduzir sem deformar-lhe o sentido."  (A. Micha — "Le Temple de la Veritè ou La Franc-Maçonnerie dans sa Véritable Doctrine", Anvers, 2ª édition, pág. 63).

A longevidade das práticas maçônicas repousa tranquilamente na imutabilidade de seus Símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas.       

E o que é a liturgia senão o conjunto desses Símbolos realizados sob determinada forma em determinadas circunstâncias.