outubro 30, 2024

TRONCO DE SOLIDARIEDADE E BOLSA DE PROPOSTAS E INFORMAÇÕES



Autores: Benedito Caralli Junior - AM; Eduardo Nahkur Junior - AM; Jefferson da Rocha Cassarotti - AM; Rafael Luiz Ceconello - AM; Rodrigo César Cardoso - AM.

“Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro grande mandamento. O segundo é: amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Tronco de Solidariedade

Como Aslam: “Galicismo que se aplica à bolsa ou sacola que circula na L e na qual se recolhe o óbulo dos Maçons presentes.

A palavra “Tronco” vem dos franceses “Tronc”, pois foi este povo quem consagrou tal denominação, a caridade sigilosa e sem distinção era, também, o salário dos CComp e dos MMM e foi derivado da palavra .

Solidariedade, do latim: solidarius – qualidade do solidário, dependência mútua entre os homens, sentimento que leva aos homens se auxiliarem mutuamente.

O tronco de solidariedade nos lembra a caridade.

O termo caridade, do latim: caritas, caritatis – significa “amor ao próximo”, no cristianismo significa “amor a Deus e ao próximo”. Portanto, temos na caridade a manifestação do amor incondicional – a Ágape.

O tronco possui várias denominações como: Tronco ( ou Bolsa) da Beneficência, dos Pobres, é recolhido pelo Ir Hosp ou quem o substitua, que o faz circular em todas às reuniões maçônicas, sejam ordinárias ou administrativas, para socorrer os necessitados através dos donativos colhidos.

No Rito de Menfiz1 é designado pelo nome de Tzedaka que em Hebraico significa “Justiça e Caridade”.

1 Menfiz – “Rito também chamado Oriental, fundado pelos Irmãos Marconis e Moulet em 1839,

introduzido em Paris, Marselha e Bruxelas e baseado em muitos graus do Rito de Misraim e na tradição caldéia.” – Dicionário de Maçonaria

Sua origem, afirma-se, vem do papado de Inocêncio III, que pontificou entre 1198 e 1216. Era um tronco de madeira oco, com uma tampa e destinava-se às dádivas.

Também, era pratica contumaz a coleta por parte da Igreja Católica assim como o dizimo pelas Sinagogas.

O giro do Tronco é obrigatório em todas as reuniões, assim como sua suspensão.

O Tronco da Solidariedade deve circular em segredo e que ninguém saiba o quanto seu Ir à sua direita ou à esquerda ali depositou.

“Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”

“Tu, porem, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita” – (Sermão da Montanha, MATEUS 6/2, 3)

Sua receita, salvo em contrário da L, será escriturado em livro especial e deverá ser aplicada na beneficência maçônica da Of Caso um Ir do quadro se encontre em dificuldades deverá dirigir ao VM, ou aos Ir Hosp e Tes relatando seus problemas para serem devidamente resolvidos seja por reforço do Tronco ou por coleta especial.

O Tronco também pode ser destinado a OOb não pertencentes ao quadro, uma vez comprovada a sua necessidade.

O Tronco de Solidariedade que vemos percorrer no interior da Loja é possuidor de um equivalente espiritual do qual deve estar devidamente relacionado. Para levar a mão ao interior da bolsa, ela deve partir do lado esquerdo do tórax, na altura do coração de dentro da roupa para fora, como se fosse uma saudação maçônica.

O significado desse ato revela-se de muita importância, pois nesse momento, junto com a sua mão direita o Ir coloca dentro da sacola seus sentimentos de bondade, caridade e amor destinado àqueles que serão amparados por este óbolo material e seu equivalente espiritual.

O tronco nos faz pensar que devemos ser solidários entre os IIr para aprendermos a sermos com toda a humanidade.

A arrecadação do tronco é creditada a Hospitalaria e terá como destino o verdadeiro objetivo da Maçonaria, a ajuda ao próximo – o sacrifício pelo próximo e o desprendimento pela matéria para assim aprendermos o caminho Cristico.

Bolsa de Propostas e Informações

Temos por propostas algo que se oferta como sugestão ou comprometimento, e por informação, um comunicado, noticia ou dados sobre algo ou alguém; conhecimento – instrução.

A bolsa em si, como o Tronco de Solidariedade, é um receptáculo, de formato oblongo, com abertura suficientemente grande para se colocar uma folha de papel dobrada em dimensões tais que não sejam percebidas por outrem.

No REAA, no Ritual do GOB o giro da Bolsa se faz antes da Ordem do Dia, por determinação do VM, anunciando em ambas as colunas e executado pelo M de CCer, sendo obrigatório em todas as sessões.

Durante a circulação os IIr deverão colocar a mão direita fechada dentro do saco e tira-la aberta, sem fazer nenhum sinal antes.

No momento da circulação o M de CCer terá como único instrumento de trabalho o saco de propostas, não devendo portar mais nenhum outro objeto consigo (bastão ou espada).

O REAA se utiliza do saco de propostas e informações para colher dos IIr suas contribuições não em moedas cunhadas, porem, em CCol GGrav que precisam ser decifradas pelo VM para transmissão a todos os presentes na Oficina.

Após se achar suspenso o giro e ser anunciado nas colunas o VM deverá contar e decifrar o conteúdo da Bolsa, que renderá um numero de CCol Grav ou apenas “bons fluídos” achando-se vazia.

Será feita a contagem das CCol GGrav acompanhado pelos Orade Secr para que não haja fraude ou incorreções por parte do VM e para que sejam consignadas na ata.

O ato de decifrar se dá de forma imparcial e deverá o VM se utilizar de bom senso e imparcialidade.

Nesse momento, poderá o VM optar por deixar algumas das CCol GGrav sob malhete, ou seja, em suspenso, para que seja verificado por uma comissão especifica, ou levantados os fatos ali declarados, ou por se tratarem de outro grau.

As CCol que ficarem sob malhete deverão ser apresentadas, no máximo, na próxima reunião e adiado por mais uma a sua leitura para verdadeira apuração do conteúdo.

“CCol GGrav” – CCol pois são os sustentáculos das informações que são apresentadas, posto que sob isso é construída uma noticia à Of . – GGrav porque todas as informações de propostas de profanos para filiação ou proposta de aumento de salário, por exemplo, devem ser feitas por escrito.

O saco de proposta e informação poderá conter, entre inúmeros documentos: certificados de presença; pedidos, petições, comunicação de eventos ou de qualquer assunto que seja pertinente a L.

Para que todas as petições sejam válidas e para constarem na ata da sessão, devem ser apresentadas pelo Saco de Propostas e Informações.

*Giro do Tronco de Solidariedade e da Bolsa de Proposta e Informações*

A circulação deverá ocorrer de maneira formal quando não, será designado pelo VM que circule de maneira mais simples.

Formalmente o giro da Bolsa deverá seguir o mesmo utilizado na coleta da Hospitalaria, sendo nesta seqüência: VM ; PV ; SV ; Orad ; Secr e Cobr Int; e demais Irr.

Ao se colocar as mãos dentro do saco, o VM coloca também ali seus fluidos de energia, somando-se aos dos demais IIr por ordem hierárquica. Dessa forma, mesmo que nada de físico se deposite, os IIr estarão colocando um pouco de si ali dentro.

De maneira mística, o maçom estará contribuindo beneficamente com os chamados “bons fluidos”.

Ao caminhar pelo templo durante o giro, seja o M CCer ou o Hosp, serão criados dois triângulos eqüiláteros entrecruzados com ápices opostos, montando a representação da Estrela de Davi.

VM Orad Secr Hexagrama

PM SM Cobr Int

Os triângulos poderão representar as duas naturezas humanas: masculina e a feminina; e pode representar a relação espírito – matéria.

O triângulo criado pelos VM – PV – SV representa o espírito, a condução espiritual da Loja, e o triângulo formado pelo Orad – Secr e Cobr Int sendo o ápice inferior: a materialidade, pois a eles compete a execução das atividades materiais da Oficina.

Visto a rica simbologia envolvida sobre a estrela de seis pontas ressaltamos que caberia perfeitamente outro trabalho para explanar sobre esse símbolo, dentre muitos significados, seria a união perfeita entre o masculino e feminino com a criação de um novo ser e o símbolo de uma Loj Justa e Perfeita.

BIBLIOGRAFIA

RITUAL DO GRAU DE APRENDIZ – REAA - GOB – 2003

LAROUSSE, Grande Enciclopédia Cultural

CARVALHO, Assis – Caderno de Estudos Maçônicos, 1º Edição - Ed. A Trolha – SP - 1986

FIGUEIRESO, Joaquim Gervásio de – Dicionário de Maçonaria, 4º Edição – Ed, Pensamento – SP

ASLAN, Nicola – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – VOL IV – 1976 – Ed. Artenova S.A – RJ

VAROLI, Theobaldo Filho – Curso de Maçonaria Simbólica – 1º Tomo – Ed. A Gazeta Maçônica – SP

CAMINO – Rizzado da, Simbolismo do Primeiro Grau – Aprendiz – 2º Edição – Editora Autora - RJ

A polidez é um primeiro passo para se construir grandes coisas, pois a polidez por si só não é suficiente. Mas ela distingue aquilo que temos de humano, de nossa animalidade.

Fonte: Barão de Tschoudy, nº 184

OS SEGREDOS E O GRANDE SEGREDO - Almir Sant'Anna Cruz


A Maçonaria não é secreta e nem tudo é segredo na Maçonaria. A Maçonaria não está alicerçada em segredos ou pseudo-segredos. A Maçonaria é muito mais do que isso. E quem pensa de forma diversa tem um conhecimento raso do verdadeiro sentido da Ciência Maçônica.

Os segredos podem ser divididos em duas classes: os segredos no plural e o segredo no singular. 

A primeira classe, dos segredos no plural, remonta à época da Maçonaria Operativa e é dividida em três categorias: (1) O que é tratado em Loja; (2) Os confiados por um Irmão; e (3) Os meios de reconhecimento. 

As duas primeiras categorias de segredos, por óbvias, dispensam maiores comentários e estão relativamente bem preservadas, mas a terceira classe de segredos vem sendo divulgada em livros e pela Internet e deixaram de ser segredos, tornando-se meros “Segredos de Policinelo”. Mas não se deve ter grandes preocupações quanto a isso, pois esses tais meios de reconecimento são herança de nossos antecessores da Maçonaria Operativa, dos Maçons obreiros, que se dedicavam à construção de edificações. Na época das guildas corporativas de pedreiros da Idade Média, além dos segredos profissionais, nossos antigos Irmãos, sem possuírem documentos que os identificassem, e mesmo que tivessem seriam inúteis, pois geralmente eles eram analfabetos (daí que, por exemplo, o Poema Regius foi escrito em versos para facilitar a memorização de nossos iletrados antecessores), precisavam de sinais, toques, palavras, senhas e contra-senhas para identificarem-se como Maçons quando viajavam e para demonstrarem o seu grau de conhecimento do ofício. Esses meios de reconhecimento só não caíram em desuso simplesmente por tradição, por herança histórica, pois todo Maçom modernamente possui um documento de identificação maçônica emitida por sua Obediência, constando seu nome, número de cadastro, Loja e Grau em que está colado. E até quando viajam para outros países podem ser identificados por Passaporte Maçônico emitido por sua Obediência. 

É possível e não é de todo improvável, que num futuro ainda indefenido, esses meios de reconhecimento, então já de amplo conhecimento do público em geral, se juntem aos antigos Alfabetos Maçônicos baseados em ângulos, que deixaram de ser usados devido a sua simplicidade e de serem facilmente decodificados, tendo sido substituídos por abreviaturas terminadas em três pontos formando um triângulo. Os Alfabetos Maçônicos, embora não mais sejam usados, continuam sendo estudados, pois fazem parte da História da Maçonaria, conquanto alguns símbolos de nossa história, como a Argila, o Giz e o Carvão, ficaram totalmente esquecidos e a grande maioria dos Maçons modernos nunca ouviram falar deles.

A segunda classe, do segredo no singular, parece ter se originado já na Maçonaria Especulativa, com a introdução de certas práticas e filosofias inexistentes na fase Operativa da Maçonaria. Esse segredo no singular, é que é verdadeiramente o Grande Segredo da Maçonaria. É um segredo totalmente filosófico que a linguagem humana não saberia traduzir, visto que as palavras correspondem a conceitos ao passo que o pensamento esotérico eleva-se acima do pensamento conceitual. Como trair ou divulgar esse Grande Segredo, se ele é pessoal, intransmissível e que poucos o alcançam?

Esse Grande Segredo, não é algo oculto, é algo que necessita de dedicação nos estudos, pesquisas, conhecimento e percepção para ser alcançado. Alguns o alcançam ainda no Grau de Aprendiz, outros no Grau de Companheiro e outros no Grau de Mestre. Não o encontrando nesses três Graus, não o alcançarão nos chamados Altos Graus. Não estudaram, não pesquisaram e não adquiriram os conhecimentos necessários para o alcançar e terão que descer dos pedestais, deixar de lado os diplomas e comendas e recomeçar a subida dos degraus, um a um, a começar pelo Grau de Aprendiz. Sem o pleno conhecimento desse primeiro Grau, o Grande Segredo é inatingível


outubro 29, 2024

MAÇONARIA E RELIGIÃO

 


A Maçonaria, dita Especulativa, redigiu as famosas “Constituições” em 1723, tendo como principais mentores o Reverendo Anderson, que era pastor protestante e “Doutor em Divindade” e o teólogo da época, Jean Theophile Desaguiliers, que era Capelão do Príncipe de Gales.

É interessante de se notar que a Maçonaria Operativa cresceu e prosperou sob o patrocínio e controle da Igreja Católica Romana e os dois Maçons acima descritos, apesar de possuírem pensamentos teológicos definidos, exigiram que a Maçonaria tivesse somente “um princípio Criador”, que denomina “Grande Arquiteto do Universo”, sem nada acrescentarem sobre reencarnação, ressurreição, inferno, paraíso, etc, etc, etc.

Nosso Mestre Eleutério Nicolau da Conceição, no seu livro “Maçonaria Raízes Históricas e Filosóficas - 1ª edição - São Paulo - Editora Madras - 1998”, pg 88, nos explica:“a razão é simples: a nova instituição que estava sendo moldada a partir da antiga guilda de pedreiros tinha como princípio fundamental a fraternidade – acima das divisões humanas, tendências políticas, filosóficas ou religiosas. 

Se optassem por uma das definições teológicas já existente na época, estariam filiando a Maçonaria à instituição que emitira aquele conceito, e desse modo, afastariam todos aqueles que pensassem de maneira diferente; se propusessem uma nova concepção, estariam dando à Ordem os contornos de uma nova religião, e assim afastariam também os sinceros adeptos de todas as outras.

 Como nos ensina o Landmark 21 (Mackey), a Maçonaria jamais pretendeu ser uma religião, ou favorecer qualquer daquelas já existentes. Simplesmente deixa a seus membros a decisão de escolherem o caminho religioso que mais lhe agradar. O princípio de proibir discussão de religião e política dentro dos trabalhos de Loja deve-se à necessidade de evitar confronto de idéias, que pela sua natureza envolvente venham a suscitar animosidades que acabem por prejudicar a harmonia e fraternidade das reuniões, porquanto questões religiosas e políticas tem sido historicamente motivadoras de sangrentos conflitos, às vezes entre pessoas de uma mesma nação. Assim, enquanto não se alinha com qualquer das religiões já existentes, a Maçonaria também não deseja apresentar-se como sendo uma possível substituta.

 Não existe no pensamento maçônico a pretensão de apresentar a instituição como detentora de verdades mais amplas, superiores e profundas do que aquelas das religiões, sendo portanto, desprovido de significado falar-se de “Deus maçônico”, ou de “conceito maçônico de Deus”.

Contudo, mesmo sem desenvolver qualquer teologia, os landmarks estabelecem a importância fundamental de estar o Maçom vinculado a uma religião que admita um princípio criador, cuja caracterização, entretanto, é função dessas religiões, não da Maçonaria.”

Portanto, aos fanáticos religiosos, e a todos aqueles que acham que “Maçonaria” é a palavra mágica que resolve todos os problemas do mundo, fique claro que a Maçonaria, em termos de religiosidade tem suas normas bem definidas, conforme explicado acima.

Fonte: pilulas maconicas.

INTERSTÍCIO - Rui Bandeira


Interstício quer dizer solução de continuidade, o intervalo entre duas superfícies da mesma ou diferente natureza.

A Maçonaria utiliza a expressão em termos de tempo. Interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre dois fatos. Designadamente, interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre a Iniciação do Aprendiz e a sua Passagem a Companheiro e também o tempo que se impõe decorra entre essa Passagem e a Elevação do Companheiro a Mestre.

O interstício é uma regra que admite exceção: o Grão-Mestre pode dele dispensar um obreiro e passá-lo ou elevá-lo de grau sem o decurso do tempo regulamentar ou tradicionalmente observado. No limite, a Iniciação, Passagem e Elevação podem ocorrer no mesmo dia. Mas a dispensa de interstícios é rara – deve ser verdadeiramente excepcional – e só por razões muito fortes deve ocorrer.

Assim sucede genericamente na Maçonaria Européia. Já a Maçonaria norte-americana é muito menos exigente neste aspecto, sendo corrente a prática de conferir os três graus da Maçonaria Azul num único dia. Esta é, aliás, uma conseqüência e também uma causa das diferenças entre as práticas e as tradições maçônicas em ambas as latitudes. 

Mas impõem-se observar que algumas franjas da Maçonaria norte-americana, designadamente nas Lojas que se consideram de Observância Tradicional, se aproximam neste como noutros aspectos, da prática européia.

A razão de ser do interstício é intuitiva: a que dar tempo para o obreiro evoluir, para obter e trabalhar os ensinamentos, as noções, transmitidas no grau a que acede, antes de passar ao grau imediato. Em Maçonaria busca-se o aperfeiçoamento e este não é, nem instantâneo (instantâneo é o pudim...), nem automático. Depende de um propósito, de um esforço, de uma prática consciente e perseverante. 

É um processo. E, como processo que é, tem fases, tem uma evolução que se sucede ao longo de uma lógica e de um tempo. Por isso, em Maçonaria não se tem pressa. O tempo de maturação, o tempo de amadurecimento, a própria expectativa, são essenciais para um harmonioso desenvolvimento individual.

Os graus e qualidades maçônicos não constituem nada, apenas ilustram, representam, emulam a realidade do Ser e do Dever Ser. Não se tem mais qualidades por se ser maçom (embora se deva ter qualidades para o ser...). Há muito profano com mais valor e maior desenvolvimento espiritual e pessoal do que muitos maçons, ainda que de altos graus e qualidades. 

Para esses os maçons até criaram uma expressão: maçom sem avental. Mas procura-se ilustrar com a qualidade de maçom a tendência para a excelência, a busca do aperfeiçoamento. 

O Mestre maçom não é, por decreto ou natureza, necessariamente melhor ou mais perfeito do que o Companheiro ou o Aprendiz. Mas com os graus a maçonaria ilustra um Caminho, um Processo, para a melhoria de cada um. Há por aí muito Aprendiz que é mais Mestre de si próprio que muito Mestre de avental com borlas ou dourados. Mas o mero fato de ter de fazer a normal evolução de Aprendiz para Companheiro e de Companheiro para Mestre potencia o que já é bom, faz do bom melhor, do melhor, ótimo e do ótimo excelente.

Assim, em Maçonaria consideramos profícuo e valioso que o profano que pediu para ser maçom aguarde, espere, anseie, pela sua Iniciação. E que o Aprendiz tenha de o ser durante o tempo estipulado e tenha de demonstrar expressamente estar pronto para passar ao grau seguinte, por muito evidente que essa preparação seja aos olhos de todos; e o mesmo para o Companheiro passar a Mestre; e idem para o Mestre começar a ver serem-lhe confiados ofícios; e também para o Oficial progredir na tácita hierarquia de ofícios e um dia chegar a Venerável Mestre.

Tempo. Paciência. Evolução. De tudo isto é tributário o conceito de interstício, tal como é aplicado em Maçonaria.

O interstício pode ser diretamente fixado, regulamentar ou tradicionalmente, ou resultar indiretamente de outras estipulações. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues consideramos que não é o mero decurso do tempo que habilita um obreiro a aceder ao grau seguinte. Mas reconhecemos que o decurso de um tempo razoável é necessário. 

Estipulamos, assim, no nosso Regulamento Interno, que o interstício para que um obreiro possa aceder ao grau seguinte seja constituído pela presença a um determinado número de sessões. 

Com isso, estipulamos que certa assiduidade é condição de acesso ao grau seguinte e, como a Loja reúne duas vezes por mês, onze meses por ano, indiretamente fixamos um período de tempo mínimo de permanência no grau. 

Os nossos Aprendizes, quando passam a Companheiros, merecem-no! E os nossos Companheiros, quando são elevados a Mestres estão em perfeitas condições de garantir a fluente persecução dos objetivos da Loja, incluindo a formação dos Aprendizes e Companheiros. 

Nós não temos pressa...



 *GUARDA DO TEMPLO*

Ir∴ Eduardo José da Fonseca Costa,  ARLS “União e Paz” no 166


As atribuições dos Guardas do Templo são melhor elucidadas quando se lhe especula as funções em um nível mais transcendental...


O R.I. institui o cargo de Guarda do Templo, conquanto delegue a determinação de suas funções aos manuais ritualísticos (art. 172). No entanto, o mesmo R.I. prescreve tratar-se de cargo oficial provido por eleição (art. 159, caput), em que são investidos, exclusivamente, pois, Mestres Maçons (ex vi do art. 117, § 3o, da CGLESP). Embora seja um cargo elegível, a CGLESP não lhe prevê os requisitos de elegibilidade, tratamento este só dispensado para os cargos de Venerável Mestre, 1º Vigilante, 2º Vigilante, Orador e Tesoureiro (art. 117, caput e §§). Trata-se de uma lacuna, porém, facilmente colmatável após uma análise histórica da tradição do Guarda do Templo.


Nos antigos rituais maçônicos, encontravam-se dois Guardas do Templo: um externo, que vigiava o adro; e um outro interno, que recebia daquele as indicações. De vez que os trabalhos de uma Loja devem realizar-se a portas fechadas, cabia-lhes zelar para que ninguém perturbasse a sessão. Não é por menos que os Guardas do Templo tem como jóia representativa 2 (duas) espadas cruzadas, símbolos de alerta e de proteção. Hoje, porém, restou somente o Guarda Interno do Templo, ou, simplesmente, “Guarda do Templo”, que guarda internamente a porta do Templo e dá a entrada aos Irmãos que chegam após a abertura dos trabalhos. Para JULES BOUCHER, trata-se de cargo a ser confiado ao Irmão mais experimentado da Loja, que seja um profundo conhecedor do ritual e dos seus procedimentos, razão pela qual muitas Lojas ainda outorgam essa responsabilidade ao Venerável Mestre que sai (p. 120).


Isso porque, no direito consuetudinário maçônico, sempre foram atribuídas ao Guarda externo do Templo as funções de “cobrir” e “telhar” (motivo pelo qual o Guarda Externo do Templo pode ser também chamado de “Cobridor Externo” ou “Telhador”). Segundo BOUCHER, “telhar um Irmão” significa interrogá-lo para constatar, pelas suas respostas, se ele é mesmo maçom e se seu grau corresponde ao grau para o qual trabalha a Loja; por extensão, “cobrir o Templo” tornou-se sinônimo de “sair”. Assim, caso profanos consigam entrar numa reunião maçônica e se um deles se aperceber disto, diz o Guarda do Templo: “Está chovendo” ou “Há goteira”, isto é, o Templo não está coberto.


Há divergência quanto à denominação que se deve dar ao procedimento formal para identificação e constatação da regularidade maçônica: “telhamento” ou “trolhamento”. Os Manuais da GLESP falam em “trolhamento”, posição de que compartilha RIZZARDO DA CAMINO. Segundo este autor gaúcho, “passar a Trolha sobre alguém” significa retirar sua asperezas para que, quando der ingresso no Templo, não seja diferente dos demais, pois se apresentará como Pedra Polida, e não como Pedra Bruta (p. 391-392). Aliás, este autor sequer mete as palavras telhar e telhamento em sua clássica obra Dicionário Maçônico. Todavia, não posso referendar tal posicionamento. Na maçonaria de língua inglesa, o Guarda do Templo é chamado de Tiler (de tile = telha); na de língua francesa, de Tuillier (de tuille = telha); na Itália, de Tegolatore (de tegola = telha), e assim por diante. Percebe-se, conseguintemente, que as traduções de Tiler, Tuillier e Tegolatore são as mesmas: TELHADOR, i.é., o que procede ao TELHAMENTO. Já o termo TROLHAMENTO deveria significar “passar a Trolha”, ou seja, aparar as arestas e as imperfeições da argamassa, fazer esquecer as injúrias e as injustiças; enfim, apaziguar maçons em eventual litígio. De qualquer forma, a par de todas dessas questiúnculas vernaculares, é ao Guarda do Templo que se confia preponderantemente a eficácia do 15º Landmark (“nenhum visitante, desconhecido aos irmãos de uma Loja, pode ser admitido a visitar, sem que antes de tudo seja examinado, conforme os antigos costumes”). A execução cabal deste preceito exige um Irmão, pois, que conheça todos os membros de sua Loja, todos os sinais, todas as palavras de passe, todas as palavras sagradas, todas as senhas e as peculiaridades de cada grau.


Justamente porque telha, não se recomenda ao Guarda externo que permaneça no Átrio, pois esse recinto faz parte, pela sua “imantação”, ao próprio Templo, onde não é permitida a presença de estranhos; o estranho e os visitantes retardatários devem permanecer na Sala dos Passos Perdidos que precede o Átrio. Quando o Venerável Mestre reúne os Irmãos para a procissão de adentramento ao Templo, determina a preparação espiritual, procedida pelo Mestre de Cerimônias, que faz uma invocação ao Grande Arquiteto do Universo; é no átrio que os Irmãos deixam todos os assuntos e vibrações profanas; o Átrio é um estágio de purificações e, por esses motivos, não pode receber quem não tiver sido antes purificado.


As atribuições dos Guardas do Templo são melhor elucidadas quando se lhe especula as funções em um nível mais transcendental. Segundo ZILMAR DE PAULA BARROS (p. 101-102), os 10 (dez) oficiais da Loja (= Venerável, 1º Vigilante, 2º Vigilante, Orador, Secretário, Experto, Mestre de Cerimônias, Tesoureiro, Hospitaleiro, Guarda do Templo) situam-se, perfeitamente, na árvore sephirótica: o Venerável corresponde a KETHER (A Coroa); o Secretário corresponde a BINAH (Inteligência); o Orador a CHOCHMAH (Sabedoria); o Tesoureiro a GEBURAH (Força, Rigor); o Mestre de Cerimônias equivale a TIPHERETH (Beleza); o Hospitaleiro a CHESED (Graça); o 1º Vigilante a HOD (Vitória, Firmeza); o 2º Vigilante a NETZAH (Glória, Esplendor); o Experto a IESOD (Base, Fundamento); o Guarda do Templo a MALKUTH (Reino ou Mundo Profano). Ora, MALKUTH é a Sefirah inferior constituinte da presença de Deus na matéria, cuja natureza quádrupla encerra os quatro níveis inerentes à árvore sephirótica como um todo (a raiz, o tronco, os ramos e os frutos, conforme cresce no interior existencial; ou a Vontade, a Mente, o Coração e o Corpo Divino) e sobre nós aparece como o CORPO FÍSICO, com seus elementos tradicionais: terra, água, ar e fogo (HALEVI, p. 7-8). Ora, se na estrutura de uma Loja maçônica o Guarda do Templo corresponde a MALKUTH, e se uma Loja nada mais é do que uma alegoria simbólica do Corpo Místico do Homem, então o Guarda do Templo é representante do único contato direto que a “Alma de uma Loja” tem com o Mundo Exterior.


Posição similar é a de CHARLES LEADBEATER. Para o autor inglês, a Loja Maçônica possui maquinismo que lhe permite invocar o auxílio de entidades espirituais em seus trabalhos altruístas de acumulação e distribuição de forças astrais em benefício do mundo. Cada oficial teria, além de seus deveres no plano físico, a missão de representar um dos cinco planos da natureza (os planos espiritual, intuicional, mental, astral e físico) e de servir de foco para as suas energias peculiares. O Venerável representaria o plano espiritual (correspondente no homem à vontade espiritual); o 2º Vigilante, o plano intuicional (correspondente no homem ao amor intuicional); o 1º Vigilante, o plano mental superior (correspondente no homem à inteligência superior); o 1º Diácono, o plano mental inferior (que no homem corresponde à mente inferior); o 2º Diácono, o plano astral (que no homem equivale às emoções inferiores); o Guarda Interno do Templo, o plano físico superior (equivalente no homem ao duplo etérico); o Guarda Externo do Templo, o plano físico inferior (correspondente no homem ao corpo físico denso). Daí o motivo de os fundadores da Maçonaria terem disposto as coisas de maneira que a enumeração dos oficiais e a declaração dos seus lugares e deveres servissem de invocação aos anjos pertencentes aos respectivos planos. Simbolicamente, para o corpo físico e o duplo etérico protegerem a “loja da alma” dos perigos do mundo exterior, das tentações e das influências malignas, ordena-se ao Guarda Externo (o plano físico inferior) e ao Guarda Interno (o plano físico superior) que impeçam a entrada dos profanos, representantes das paixões violentas (p. 117-121). Para LEADBEATER, portanto, este esquema demonstra que a obrigação da inteligência é discernir e julgar que pensamentos e emoções devem ser admitidos no templo do homem: o Venerável comunica-se com o Guarda Externo por meio do 1º Vigilante e do Guarda Interno, significando que o espírito não atua diretamente na matéria densa do corpo físico, senão que por intermédio da inteligência influi no duplo etérico, embora, uma vez realizada a investigação, a mente possa instruir o duplo etérico para que comunique o assunto diretamente ao espírito. Para simbolizar isto, há em algumas Lojas o costume de dizer o 1º Vigilante ao dar a ordem: “Irmão Guarda do Templo, vede quem solicita entrada e comunicai-o ao Venerável”.


Se há autores que estabelecem correspondência entre os cargos da Loja e os Sefiroths da Cabala, e se há autores que estabelecem homologias entre esses cargos e os planos da natureza, há aqueles irmãos que enxergam conexão entre o oficialato maçônico e o simbolismo planetário astrológico, conexão esta que nos permite alinhavar o perfil psicológico que deve portar o Irmão ocupante do cargo de Guarda do Templo.


Segundo BOUCHER, o Venerável corresponde a Júpiter; o 1º Vigilante, a Marte; o 2º Vigilante, a Vênus; o Orador, ao Sol; o Secretário, à Lua; o Guarda interno, a Saturno; e o Guarda externo, a Mercúrio (p. 123). O Guarda Externo, justamente por ser regido por Mercúrio, o mensageiro dos deuses, é quem anuncia ao Guarda Interno aqueles Irmãos que vêm se apresentar e que pedem a sua admissão. Trata-se de cargo astrologicamente talhado, portanto, para os nascidos sob o signo de Virgem, signo associado ao sistema nervoso, à percepção mental, ao cérebro e às atividades de comunicação física e mental. Não se é de estranhar, aliás, que os traços positivos dos Virginianos sejam as características mais pretendidas de um Guarda Externo: o raciocínio rápido, a percepção ágil, a inteligência, a versatilidade, a intelectualidade e o impulso para a aquisição e a transmissão do conhecimento. Em contrapartida, tem-se o Guarda Interno do Templo, regido por Saturno, o deus prudente que prefere os lugares sombrios, encarregado de anunciar a presença daqueles que julgou dignos de entrar. Trata-se agora de cargo astrologicamente cunhado para os nascidos sob o signo de Capricórnio, signo este associado às idéias de “limitação” e “contenção”. Também aqui não há de estranhar que os traços positivos dos Capricornianos sejam tão esperados do ocupante do cargo de Guarda Interno do Templo: prático; cauteloso; responsável; paciente; de confiança; resistente; disciplinado, estável.


J. BOUCHER ainda assevera que os Oficiais situam-se, perfeitamente, nos braços de uma estrela de seis pontos ou “Selo de Salomão”: o Venerável e os dois Vigilantes, que dirigem a Loja, formam um triângulo ascendente D; o Orador, o Secretário e os Guardas do Templo, que organizam a Loja, formam um triângulo descendente Ñ (p. 123-124). Aliás, tal ordem se verifica na circulação, com formalidades, tanto da Bolsa de Propostas e Informações quanto da Bolsa de Beneficência para o Tronco de Solidariedade, circulação esta que se faz na ordem hierárquica.


Por fim, vale a pena registrar as associações tecidas por W. KIRK MACNULTY (maçom inglês adepto duma corrente psicologista) entre sete cargos de oficiais e as Sete Artes Liberais: o Guarda Externo do Templo corresponderia à Gramática; o Guardo Interno do Templo corresponderia à Lógica; o 1º Diácono, à Retórica; o 2º Diácono, à Aritmética; o 1º Vigilante, à Geometria; o 2º Vigilante, à Música; e o Venerável Mestre, à Astronomia (p. 23-23). Assim, se a Gramática é a arte que estabelece as regras estritas para estruturar as idéias de modo que possam ser comunicadas e registradas no mundo físico, o Guarda Externo representa a parte da psique que está em contato estreito com o corpo físico, através do sistema nervoso central; portanto, ele é um “guardião” no sentido em que protege a psique da saturação de estímulos do mundo físico. Em contrapartida, se a Lógica é a arte que ensina as normas para a análise racional, o Guarda Interno representa o que a psicologia moderna denomina “ego”, isto é, o poder executivo partidário da atividade psicológica quotidiana que se distingue pela sua capacidade para formar imagens mentais; portanto, ele é um “guardião” no sentido de que vela pelas pessoas que permitem à sua psique relacionar-se com o mundo.


Como se pode [ver], seja qual for a associação que feita com os cargos de Guardas Interno e Externo, em qualquer uma delas as conclusões são exatamente as mesmas.


Rogo ao G∴A∴D∴ U∴ que a todos ilumine e guarde. Fraternalmente.


Bibliografia:

BARROS, Zilmar de Paula. A Maçonaria e o Livro Sagrado. Rio de Janeiro: Mandarino, s/d. BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. São Paulo: Pensamento, s/d. CASTELLANI, José. Maçonaria e Astrologia. 2a ed. São Paulo: Landmark, 2001. COLTURATO, Adalberto et alii. Telhamento. In A Gazeta Maçônica. Ano XXXVII – no 250. mar- abr/2004. p. 5. DA CAMINO, Rizzardo. Dicionário Maçônico. São Paulo: Madras, 2001. DA CAMINO, Rizzardo. Simbolismo do Primeiro Grau: Aprendiz. 2a ed. Rio de Janeiro: Aurora, s/d. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio. Dicionário de Maçonaria. 4a ed. São Paulo: Pensamento, s/d. HALEVI, Z’Ev Ben Shimon. A Cabala. Edições Del Prado. LEIRIÃO FILHO, Sinésio et alii. O Telhamento no Rito Adonhiramita. In A Gazeta Maçônica. Ano XXXVII – no 250. mar-abr/2004. p. 8. LEADBEATER, Charles W. A Vida Oculta na Maçonaria. São Paulo: ensamento, 1956. MACNULTY, W. KIRK. Maçonaria. Edições Del Prado. PARKER, Julia.