dezembro 19, 2024

O TEMPLO MAÇONICO E O PARLAMENTO BRITÂNICO - Walter Celso de Lima


1.     Introdução:

Há uma concepção errada em afirmar que um Templo Maçônico (ou sala maçônica, massonic room, massonic hall) seja uma cópia do Templo de Salomão. Nada mais diferente. No Templo de Salomão não havia cadeiras, nem decorações. Se o Oriente de um Templo Maçônico fosse cópia do Santos dos Santos (Sancta Sanctorum), no Templo Maçônico não haveria altar (ou pedestal), nem cadeiras ou tronos; haveria sim a Arca da Aliança e era um local onde ninguém poderia entrar, exceto um sacerdote uma vez por ano. A descrição do Templo de Salomão está no livro de I Reis, capítulos 5, 6 e 7 e no livro II Crônicas, capítulos 3 e 4. Portanto um Templo Maçônico tem pouco a ver com o Templo de Salomão. Diz-se que o Venerável Mestre (ou Mestre da Loja) ocupa o trono do Rei Salomão porque o Rei Salomão simboliza a sabedoria e o VM, também, simboliza a sabedoria.

         Na realidade um Templo Maçônico tem mais semelhança ou mesmo talvez tenha origem, provém do Parlamento Britânico. Como? Por que? Este é o objetivo deste ensaio.

2.    O Templo Maçônico:

Um Templo Maçônico ou sala maçônica é, na Maçonaria, o local onde se encontra, trabalha e funciona as sessões de uma Loja Maçônica, ou seja, é o espaço ritualístico de uma sessão maçônica.

         Um parêntesis sobre a palavra “templo”. Todos os termos de origem religiosa, na Maçonaria, tiveram origem entre os escoceses e irlandeses que praticaram a Maçonaria em França. São termos de origem católica: templo, rito, liturgia, catecismo, balaústre, altar, etc. Estes termos não são usados, de maneira geral, na Maçonaria anglo saxônica. Os termos usados são: templo – masonic room, masonic hall; rito – craft, work; liturgia – work, service; catecismo - preleções, lectures; balaústre – não existe porque o Oriente está no mesmo plano que o Ocidente; altar – pedestal, etc. No Reino Unido, o termo templo é usado apenas para grandes salas de sessão maçônica. O Grande Templo da Grande Loja Unida da Inglaterra, em Londres, tem a capacidade de acomodar 1.600 pessoas sentadas. Hoje, usa-se a palavra templo de maneira mais universal, embora muitos propõem o uso de “salas maçônicas” (masonic room) para não confundir com templos destinados ao ofício religioso, uma vez que Maçonaria não é religião. Há, também, os que confundem “Templo Maçônico” com “Loja Maçônica” e isto é um erro. Porém, para efeito deste ensaio, vamos utilizar a palavra “templo” como sinônimo de sala maçônica, masonic hall (inglês), der Tempel (alemão), temple (francês), templo (espanhol) e tempio (italiano).  

         A concepção, disposição e decoração de um Templo Maçônico obedecem regras simbólicas precisas, variando conforme o rito maçônico e graus maçônicos. Porém, a concepção estética é da escolha da Loja, podendo ser clássica ou moderna. Há uma relação filosófica entre o Templo Maçônico e o Templo de Salomão, porém esta relação não é física ou estética. A relação filosófica está descrita nos textos bíblicos que descrevem o Templo de Salomão. A relação filosófica do Templo de Salomão foi explorada em ensaio anterior (Conceição & Lima, 2014). Mas a relação física é mais próxima ao Parlamento Britânico.

2. 


Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.


Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.



Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 


Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 


Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.


Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Câmara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.





Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.


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Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

(Contains public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).

 

A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.



Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.



 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 


        Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Cornell University Library

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

(This file is licensed under the United Kingdom Open Government Licence v.3

 

         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

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http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

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Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

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- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

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- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

 

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

 

Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.

Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

 

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.

Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 

Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 

Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.

Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.

Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.

Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

(Contains public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).

 

A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.

Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 

Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

(This file is licensed under the United Kingdom Open Government Licence v.3

 

         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

- Arnold, G. “A “Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.

http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.

Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da Ilha, 2014.

- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

Society, 1960

- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

 

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

 

Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.

Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

 

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.

Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 

Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 

Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.

Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.

Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.

Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

(Contains public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).

 

A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.

Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 

Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

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         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

- Arnold, G. “A “Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.

http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.

Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da Ilha, 2014.

- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

Society, 1960

- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

 

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

 

Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.

Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

 

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.

Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 

Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 

Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.

Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.

Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.

Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

(Contains public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).

 

A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.

Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 

Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

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         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

- Arnold, G. “A “Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.

http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.

Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da Ilha, 2014.

- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

Society, 1960

- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglesa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.

Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

 

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.

Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 

Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 

Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.

Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.

Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.

Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

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A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.

Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 

Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

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         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

- Arnold, G. “A “Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.

http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.

Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da Ilha, 2014.

- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

Society, 1960

- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

 

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

 

Fig. 1 – Templo maçônico da Loja Coeurs-Unis (Corações Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.

 

 

         Nos primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico. 

         O primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França. Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.

Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717.  public domain

 

         Com o crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam (e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que foram alugados para várias Lojas.

         A década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em 1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio (Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple (Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares sentados.  

         A grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70 muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são) alugados para concertos e atividades artísticas.

Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue, Dayton, Ohio, USA.

Foto de 2009.  public domain

 

Fig. 4 – Detroit Masonic Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.

Maquete de 1919, arquivo Detroit Publishing Company Collection.

public domain

 

Fig. 5 - Detroit Masonic Temple, foto de 2015.

 

Fotos, fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple podem ser vistas em https://www.themasonic.com/  (acessado em 1.set.2019)

 

            Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.

Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul.  public domain.

Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/  (acessado em 1.set.2019)

 

3.    Parlamento Britânico:

O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano, atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.

Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição durante a Segunda Grande Guerra. Public domain

 

         A Câmara dos Lords é composta por dois tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os Lords Temporais (Lords Temporal), consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados) nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza herdados). Conta atualmente com 760 membros.

         A Câmara dos Comuns tem 650 membros eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível, convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo, incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig. 7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.

Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte de Westminster. Foto de 2005. Public domain

 

         O Parlamento do Reino Unido foi formado em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá, Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos Parlamentos” (Mother of Parliaments). O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado Britânico e da Igreja Anglicana.

         Interessante observar que no Reino Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John Locke[2],  a ideia da separação da Igreja e do Estado, adotado por muitos países, incluindo Brasil.

         A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em 2009.

         O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca, por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit” (British Exit), a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na Câmara dos Comuns.

Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de maio de 2010.

(Contains public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).

 

A Câmara dos Lordes é formalmente denominada “The Right Honourable The Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes têm diminuído desde 1911.  A Câmara ainda atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política. A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de perguntas aos ministros do governo.

         Sobre os Lordes Espirituais há fatos interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na Câmara dos Comuns é bem menor.

Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain

 

         A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do Parlamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936.  public domain

 

Quando Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro) para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa o black rod ou bastão negro (semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica, mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher: Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the Black Rod. Com a aproximação da Lady Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então, admitidos.

O monarca lê um discurso, conhecido como o Discurso do Trono (Speech from the Throne), que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso Discurso de Sua Magestade” (Address in Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera um projeto de lei pro-forma para simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca.  Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é chamado “Select Vestries Bill” (algo como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos os legislativos da Commonwealth of Nations.

Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do Parlamento. Foto de 1885 Cornell University Library. Dominio público

 

As duas Câmaras do Parlamento Britânico são presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa (Speaker of the House) e o Presidente da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente (First Deputy Chairman) e o Segundo Vice-Presidente (Second Deputy Chairman), os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero” refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee of Ways and Means) um órgão que não existe mais.

         O Presidente da Câmara dos Comuns deve ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota, exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.

         Ambas as Casas conduzem seus debates em público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às sessões.

         Desde 1999, formou-se o Parlamento Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres, valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no Parlamento Escocês.

         Uma lei para ser aprovada, passa por vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a aprova, com a chancela dita em francês: La Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca executada, da Rainha dizer: “La Reyne s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha chegará a um acordo).

Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de 2011.

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         Os membros do Parlamento britânico têm privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar assistentes ou assessores, passagens, etc.

Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes. Foto de 2013. Pub dom

 

4.    Considerações Finais:

O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o Templo de

Salomão. Porém, a relação estética e física é com o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração. Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar. Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele, os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a coxa direita, comandado pelo Speaker, como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são permitidas manifestações orais. O Speaker controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.

Fig. 15 – Câmara dos Comuns.

 

 

         A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino nacional inglês “God Save The Queen“ (Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha, pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$ 33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de

100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo de ajuda.

(1)  – linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.

(2) – cor verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é usado vermelho.

(3) – bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.

(4) – caixas onde se guardam textos religiosos.

 

Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit. Fonte: Folha de São Paulo.

Fig. 16 – Uma sessão da Câmara dos Comuns.

 

Fig. 17 – Câmara dos Lordes.

Finalmente, observe que um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft), nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes corresponde ao Trabalho de Emulação.

 

Fig. 18 – Templo Maçônico.

 

The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660, em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito influiu na The Royal Society durante todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês, militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.

Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em 15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.

Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados. Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas. Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente os membros de The Royal Society passaram a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle (1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12 fundadores que não era maçom),

conhecido como o inventor da Lei de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e permaneceu por mais de 50 anos.

         O termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa, reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico. Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.

         A Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3 autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes), não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de “companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de “companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções. O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns (Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do Templo Maçônico (Fig. 18).

         Sobre a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703 a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College, uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da Maçonaria

         Em 1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente (até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki, nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da Universidade de Cambridge.

         Finalizando, um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.

 

 

Agradeço a colaboração do Ir. Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis,

 

BIBLIOGRAFIA:

- Arnold, G. “A “Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.

http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Beyer, T.R. “A Filosofia de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São

Paulo: Lua de Papel, 2010.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.

Celso de. “Arte Real. Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.

- Churchill, W.S. “Uma História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira: Univercidade, 2009.

- Churton, T. “O Mago da Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,

Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras, 2008.

- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões

Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da Ilha, 2014.

- DaCosta Andrade, E.N. “A Brief History of the Royal Society”. London: The Royal

Society, 1960

- Dawkins, P. “New Atlantis”. The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,

            2018.

https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html

Acessado em 15.mai.2019.

- Directgov. “State Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services

            all in One Place. Londres, 2010.

https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439

Acesso em 30.mai.2019.

- Hagger, N. “A História Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas

na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo: Cultrix, 2010.

- Houais, A. “Dicionário Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.

Objetiva, 2009.

- Lomas, R. “A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São

Paulo: Madras, 2007.

- Parliament. “Black Rod”. The Parliament, UK. Londres, s/d

https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/

Acessado em 14.mai.2019.

- Russell, B. “História do Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a

Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

- Spoladore, A. “Arqueologia e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição

            132, pag. 4-10, maio, 2019.

- Viega Alves, J.R. “O Templo de Salomão”.  E estudos afins. Londrina: A Trolha, 2016.

 

 

BIBLIOGRAFIA COMENTADA:

         - O livro de Churchill (Churchill, 2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente, da Inglaterra. 

         - O site (Directgov, 2010) é muito interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de Abertura do Parlamento foi filmada.

         - O livro (Hagger, 2010) é fundamental para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor, historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio (até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli, de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.

         - Robert Lomas é um autor controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram: Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.

         - Finalmente o livro (Russell, 2001) é outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático, historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês), laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista. Formou-se em matemática no Trinity College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se em economia na London School of Economics. Foi escolhido Fellow of The Royal Society (FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller, e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo (Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais tendências do pensamento na primeira metade do século XX.  



[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.

 

[2] John Locke, médico e filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.

 

 

dezembro 18, 2024

LIAMES ESPIRITUAIS - Roberto Ribeiro Reis


Se o vulgo da matéria te prende, tão arbitrário,

É porque tens de trabalhar o teu interior;

A messe fraterna possui o verdadeiro valor,

Desapegar-se desses grilhões é necessário!


Se o cenário te apresenta o oceano de ilusões,

É porque tens sofrido de cegueira espiritual;

A porta do bem é estreita, e larga é a do mal,

Preferes esse ambiente das falsas impressões.


Se o coração está fragilizado pelo infarto,

É porque fostes levado pelos hábitos deletérios;

A morte é deflagrada pelos muitos cemitérios,

Mas a vida ainda se renova a cada novo parto.


Se o quarto é hospedado por almas inferiores,

É porque o pensamento com elas tem conexão;

A atitude do bom Obreiro demanda boa vibração,

Os liames espirituais reforçam os reais valores.


Se os amores se perdem ante as dificuldades,

É porque não tens escutado a voz do plano sutil;

O Pedreiro Livre é preparado a lidar com o hostil,

A Maçonaria lhe proporcionou tais habilidades.


As adversidades existem para ser combatidas,

Para isso tens a maior força dada pelo Templo;

Ele te prova que está dentro de você o exemplo,

Onde as maiores obras devem ser construídas!




VIKINGS NA AMÉRICA?


Dizem que um Viking descobriu a América 500 anos antes de Cristóvão Colombo.Você conhece a história?

Nas brumas do tempo, escondidas entre os fios da história e os sussurros dos oceanos, está a figura enigmática de Leif Erikson, um viking cuja história parece estar entrelaçada com a mesma tela dos mistérios do passado. Nascido aproximadamente em 970 na Islândia, filho do famoso Erik, o Red, Leif cresceu em uma cultura de marinheiros e exploradores robustos. Desde a sua juventude, estava destinado a seguir os passos de seu pai, navegando para o desconhecido.

A saga de Leif Erikson começa com uma reviravolta dos eventos, tão aleatório quanto carregado de destino. Contam as antigas sagas que um marinheiro mercante chamado Bjarni Herjólfsson, enquanto navegava da Islândia para a Groenlândia, foi arrastado por uma tempestade feroz para um território desconhecido. Ao voltar, seus contos de terras a oeste acenderam a faísca da curiosidade em Leif. Movido pela paixão da exploração e talvez pelo desejo de superar as conquistas de seu pai, Leif Erikson comprou o barco de Bjarni e, por volta do ano 1000, zarpou para oeste em uma expedição que mudaria o curso da história.

Leif e sua tripulação seguindo a rota de Bjarni mas com a determinação de descobrir o que ele não tinha explorado, chegaram primeiro a uma terra que chamaram Helluland, identificada por muitos como a atual Ilha de Baffin. Depois, navegaram mais para sul até Markland, provavelmente o actual Labrador. Mas foi a próxima etapa da sua viagem que desencadearia uma lenda: Vinland. Esta terra, identificada pela sua abundância de videiras selvagens e clima temperado, está associada à região da atual Terra Nova no Canadá.

O assentamento de Leif em Vinland, embora breve, marca uma das primeiras interações conhecidas dos europeus com o continente americano, quase 500 anos antes de Cristóvão Colombo partir para o que ele acreditava ser as Índias. As sagas nórdicas, em seu estilo característico misturando história e mito, relatam encontros com os nativos, que chamaram de "skraelings", descrevem conflitos e comércio.

O mistério de Vinland e a expedição de Leif Erikson é um enigma envolvido no manto do passado. Quão extenso foi este povoamento? Quanto tempo os Vikings ficaram na América? As respostas estão escondidas, talvez para sempre, no chão ainda por descobrir ou nas páginas perdidas da história. Embora existam evidências arqueológicas, como o assentamento de L’Anse aux Meadows na Terra Nova, que confirmam a presença viking na América do Norte, o alcance total das suas viagens e assentamentos continua a ser um tema de debate e fascínio.

Leif Erikson, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, não procurava conquistar, mas descobrir. Seu legado não é um de impérios construídos, mas sim de horizontes ampliados, da coragem de cruzar oceanos desconhecidos e da sede eterna de aventura humana. Sua história, embora manchada pela incerteza e lenda, nos desafia a olhar além dos confins do nosso conhecimento, para as vastas possibilidades que estão além dos mapas do mundo conhecido.

Assim, a figura de Leif Erikson permanece como um farol na névoa do tempo, um lembrete de que a história nem sempre é a narrativa dos vitoriosos ou dos mais famosos, mas às vezes daqueles bravos exploradores que se atrevem a sonhar e a navegar para o desconhecido. Nas páginas da história, entrelinhas de intriga e mistério, a saga de Leif Erikson continua navegando, desafiando as ondas do esquecimento, um eco de aventuras passadas que ainda ressoa nos corações dos exploradores de hoje.

dezembro 17, 2024

A QUESTÃO DO MEDO - Heitor Rodrigues Freire


“O medo não evita a morte; o medo evita a vida” Naguib Mahfuz, escritor egípcio.

O medo é uma das sensações mais perigosas que uma pessoa pode experimentar. Ele se infiltra insidiosamente, como um vírus, e permanece oculto, difundindo sua energia negativa. O antídoto para o medo é a fé, a alegria de viver consciente e a gratidão.  Temos dentro de nós mesmos uma infinidade de talentos e a capacidade de superá-lo.

Talvez o medo seja, juntamente com o ego, o nosso pior inimigo. Ele é silencioso e invisível, embora potencialmente agressivo. O impacto que o medo provoca em nossas vidas é o da destruição, levando à estagnação, raiva, inveja e a muitas outras emoções negativas. Com a identificação de suas raízes, começa o seu desmonte. Paradoxalmente também, podemos crescer por meio do medo, quando ele se constitui num desafio a ser vencido, o que estimula a sua superação.

Em certos casos, o medo pode provocar o encolhimento nas pessoas, levando à solidão existencial. Essa solidão só gera mais dor e sofrimento, uma sensação de desconforto, de incompreensão, de abandono, num círculo vicioso que se retroalimenta negativamente. Por isso, o melhor antídoto é a fé, a confiança, a alegria, a vontade de enfrentá-lo. Quando entendemos que nenhum de nós está sozinho, que a nossa força interior é real, o primeiro passo é encontrarmos em nós mesmos a energia necessária para começar a vencer o monstro que vive dentro de nós. A persistência e a perseverança são indispensáveis nessa batalha.

Esse tema já interessou muita gente, estudiosos, psicólogos, filósofos, etc. 

Numa página do WhatsApp, publicada pelo professor Elton Luiz Leite de Souza, li uma citação do filósofo Baruch Spinoza a esse respeito, em seu “Tratado teológico-político”: “No prefácio, Spinoza descreve o fenômeno da superstição. No fundo de toda superstição vigora o medo. Não o medo que pode nascer em quem enfrenta perigos reais, mas o medo ressentido que prostra. Segundo Spinoza, é o medo o sentimento que melhor define a condição de escravo. Esse medo alimenta a credulidade. Credulidade não é a mesma coisa que fé. A fé autêntica não nega o conhecimento, já a credulidade é negacionista da ciência.

A credulidade não é a fé, embora tente se apresentar como se fosse.  A credulidade é rasa, rasteira: por não conseguir alcançar a profundidade do sentido que há nos textos sagrados, ela imagina que berrando e gritando se fará ouvir pelo Espírito Santo”.

Estamos, assim, em ótima companhia com a nossa tese de como o medo é um sentimento nefasto e escravizador.

Juliana Spinelli Ferrari, uma colaboradora do projeto Brasil Escola, assim define o medo:

"Para além das definições da palavra, o medo é uma sensação. Essa sensação está ligada a um estado em que o organismo se coloca em alerta, diante de algo que se acredita ser uma ameaça. O medo é um estado de alerta importante para a sobrevivência humana. Uma pessoa sem medo nenhum pode se expor a situações perigosas, arriscando a própria vida, sem medir as possíveis consequências trágicas de seus atos. Como o organismo reage ao medo? O medo é uma sensação derivada da liberação de hormônios como a adrenalina, que causam imediata aceleração dos batimentos cardíacos. É uma resposta do organismo a uma estimulação aversiva, física ou mental, cuja função é preparar o sujeito para uma possível luta ou fuga. Antes de sentir medo, a pessoa experiencia a ansiedade, que é uma antecipação do estado de alerta. Entre outras reações fisiológicas em relação ao medo, podemos citar o ressecamento dos lábios, o empalidecimento da pele e as contrações musculares involuntárias como tremedeiras, entre outros."

Então aí temos duas abordagens distintas sobre o medo, uma física e outra metafísica. 

Há uma outra, que decorre do estudo filosófico da evolução espiritual e que ensina três passos: o pensamento reto, a ação correta e a maneira de encarar a vida. Ou seja, uma ação coerente entre o que se pensa, o que se faz e como se faz. O prato está na mesa, cada um pode se servir à vontade.

Como vimos inicialmente, “O medo não evita a morte; o medo evita a vida”, segundo escreveu o escritor egípcio Naguib Mahfuz.

Assim, a disposição de enfrentar o medo de forma definitiva e de frente contribui para nossa segurança e nossa qualidade de vida. Acredito que o medo decorre do desconhecimento da verdade básica: a presença de Deus em cada um de nós. Quando compreendemos que todos somos criados por Ele, naturalmente a confiança se instala e nos estruturamos para vencê-lo.