dezembro 31, 2024

DESEJO DE UM MUNDO MELHOR - Lucas Couto


A Augusta Respeitável Loja Simbólica “Lux In Tenebris”, n. 47, encerra o ano na esperança de ter feito parte de uma construção dedicada à virtude e ao saber, ao lado de vários irmãos espalhados no recanto da terra. 

Certo é que, sem a participação de cada irmão, sem a ajuda dos irmãos Izautônio Machado, Flávio Araújo, Vanderlei Coelho, Hermìnio Pascoal, Michael Winetzki, Moisés Oliveira, Raimundo Brandão, Nestor Filho, Aldino Brasil e o apoio incondicional da Sereníssimo Grão-Mestre, Paulo Benevenute Tupan, a “Luz jamais descortinaria as trevas”, os trabalhos jamais teriam em 2024 sua plena força e vigor. 

Deixo registrado, como cláusula pétrea, meus mais profundos agradecimentos aos irmãos que, com fé na sagrada chama da "Lux In Tenebris", sustentaram os empreendimentos de benemerência, como a nobre obra da Casa de Apoio Filhos de Hiram, ainda em construção sob a égide da Grande Loja do Estado de Rondônia. Em seus gestos, encontro não apenas solidariedade, mas a expressão viva de um ideal que transcende o indivíduo e abraça o coletivo.

Não menos dignos de reverência são os ilustres palestrantes, esses obreiros da palavra e do pensamento, que, com generosa dedicação, ofertaram tempo e saber. Em seus gestos de entrega, iluminaram nossos caminhos com o fulgor do conhecimento compartilhado, como faróis que, em noites escuras, indicam a rota segura aos navegantes. 

A cada um que se fez presente nesta jornada, seja pela ação concreta ou pela força do verbo, dedico minha mais profunda gratidão, como quem presta homenagem àquela força invisível que une os espíritos em torno de um propósito maior, transcendendo as barreiras do tempo e do espaço.

Neste tempo de introspecção e gratidão, vos convido a uma reflexão profunda, um reencontro com nossa essência. Que este momento de renovação inspire cada um a ajustar a direção de suas mentes e corações, descobrindo um caminho onde o mundo — e nós mesmos — sejam vistos sob uma luz mais verdadeira e transformadora.

O sol, em sua eterna dança pelo firmamento, traz-nos a promessa de mais um ano, enquanto o antigo se despede, deixando no ar o eco de um anseio universal: o desejo por um mundo que seja mais do que a projeção de nossas próprias sombras. Nos corações pulsa a urgência da esperança, a renovação e o ímpeto por mudança. É o momento em que somos chamados a reorientar nossas mentes e nossos corações, a trilhar um caminho onde possamos enxergar o mundo — e a nós mesmos — sob uma nova luz, mais clara e verdadeira. Como bem disse Gandhi, com a simplicidade dos sábios: 'Temos de nos tornar a mudança que desejamos ver no mundo.' Que estas palavras sejam não apenas inspiração, mas convocação, um lembrete de que o destino que almejamos começa no reflexo de nossas próprias ações.

Para o maçom, a construção de uma comunidade global fundamentada no respeito e na fraternidade não é apenas uma tarefa, mas um dever essencial. É no reflexo do outro — especialmente do mais distante — que encontramos a expressão mais autêntica de nossa humanidade. A compaixão, esse elo invisível entre as tradições espirituais, surge como o teste supremo de uma espiritualidade genuína e transformadora.

Em cada credo, encontra-se a expressão de uma verdade ancestral, às vezes resumida na “Regra de Ouro”: "Não trate os outros como não gostaria de ser tratado" ou, de forma ainda mais luminosa, "trate os outros como desejaria ser tratado". E todas, em uníssono, insistem que essa benevolência não pode ser confinada aos limites do familiar ou do semelhante, mas deve se estender à vastidão da humanidade, alcançando até mesmo aqueles que chamamos de inimigos. Pois é no outro, sobretudo no outro distante, que a nossa própria humanidade encontra o seu reflexo mais verdadeiro.

Há uma dança descompassada de forças e riquezas, um desequilíbrio que é como um vento seco no horizonte, prenunciando tempestades de raiva e humilhação. Este desassossego, tão humano quanto as estrelas que não alcançamos, explode em atos de terror que são, ao mesmo tempo, clamor e ameaça. Guerras se enredam em seus próprios labirintos; conflitos, que já nasceram antigos, tornaram-se símbolos divinizados, e, como tudo que se crê sagrado, resistem a mãos que tentam desfazer seus nós.

E, no entanto, um paradoxo nos abraça: nunca estivemos tão próximos, tão entrelaçados por fios invisíveis de informação e impacto. A miséria não é mais um eco distante, mas uma sombra que atravessa todas as latitudes. O desmoronamento de uma bolsa de valores em qualquer canto ressoa como o tilintar de um copo quebrado em todos os salões do mundo. O que ocorre em Gaza hoje pode ferir o coração de Nova York amanhã, e a dor do Afeganistão não termina em suas montanhas. 

Há, também, a ameaça silenciosa de uma natureza ferida. Corremos, todos, o risco de sermos engolidos por uma catástrofe nascida de nossa própria indiferença. E agora, em um tempo onde pequenos grupos brandam poderes, outrora reservados aos impérios, a lição mais antiga, inscrita no coração da humanidade torna-se o último apelo: que todos os povos, espalhados por todos os recantos da terra, sejam tratados como gostaríamos de ser tratado. 

Mas o que é essa lição, afinal? Seria ela a piedade que suaviza as arestas da dor alheia? Ou a compaixão, que nos faz enxergar no sofrimento do outro o reflexo de nossa própria vulnerabilidade? Talvez a solidariedade, que une as mãos na construção de um bem maior? Ou seria, por fim, a fraternidade, que reconhece no outro não apenas um semelhante, mas um irmão? Essas palavras, que parecem distintas, convergem numa única verdade: a de que a essência de nossa humanidade reside na capacidade de ver além de si mesmo, e de amar não apenas o que nos é familiar, mas o que nos desafia e nos torna inteiros.

O princípio da compaixão está no âmago de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, conclamando-nos a sempre tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. A etimologia revela-nos um significado mais profundo: derivada do latim patiri e do grego pathein, a compaixão carrega em si a ideia de “sofrer com”, de compartilhar o fardo de outro ser, de colocar-nos no lugar dele, sentindo sua dor como se fosse nossa, e, assim, compreender generosamente sua perspectiva. Não é um ato de condescendência, mas um chamado à empatia radical. Por isso, a compaixão encontra eco na Regra de Ouro, essa máxima universal que nos desafia a sondar nosso próprio coração, identificar o que nos faz sofrer e recusar, sob quaisquer circunstâncias, a infligir esse mesmo sofrimento a outro ser. Nesse sentido, a compaixão não é apenas uma emoção, mas um compromisso ético — uma atitude de altruísmo honesto e constante, que exige de nós coragem e humildade para transcender as fronteiras do ego e alcançar o outro em sua plenitude.

É que “a compaixão nos impele a trabalhar incansavelmente para aliviar o sofrimento de nosso próximo, a descer de nosso trono, no centro de nosso mundo, e ali colocar outra pessoa, e a honrar a inviolável santidade de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, equidade e respeito”, já dizia Karen Armstrong. É um paradoxo que, ao nos fazer ajoelhar diante do outro, a compaixão nos enobrece. 

A compaixão nos derruba porque exige que abandonemos as alturas do ego, as ilusões de grandeza e o conforto de nossas certezas. Ela nos força a descer, a olhar para o sofrimento do outro e a reconhecer a nossa vulnerabilidade compartilhada. Esse "derrubar" é uma quebra de barreiras internas, um desmoronamento do pedestal onde tantas vezes nos colocamos, separando-nos da humanidade comum. 

Por outro lado, ao derrubar, a compaixão também nos ergue. Quando nos inclinamos para ajudar, nos tornamos mais humanos, mais inteiros, mais próximos do que há de mais elevado em nós: a capacidade de nos conectar, de curar e de transformar. 

Do remoto horizonte da sabedoria chinesa, emerge a figura de Confúcio (551-479 a.C.), cuja voz atravessa os séculos com a serenidade de quem compreendeu a alma humana. Quando lhe perguntaram qual dos seus ensinamentos deveria ser praticado incessantemente, 'diariamente, o dia inteiro', ele respondeu com a simplicidade que é o apanágio dos grandes mestres: “Talvez o dito sobre shu — a consideração: nunca faças aos outros o que não gostarias que te fizessem.” Nesse princípio, Confúcio sintetizou o cerne de seu método espiritual, a essência de O Caminho (dao), fio condutor que unia todos os seus ensinamentos. 

Para Confúcio, a verdadeira sabedoria consistia em abandonar a pretensão de se considerar uma exceção privilegiada e, em vez disso, relacionar a própria experiência com a dos outros, num exercício contínuo de empatia. Ele chamou esse ideal de ren, termo que outrora significava 'nobre' ou 'digno', mas que, em sua época, adquirira o sentido mais simples e sublime de ser plenamente humano.

Curiosamente, o “ren”, segundo alguns estudiosos, guardava em suas origens o significado de 'brandura' ou 'maleabilidade', qualidades que Confúcio nunca definiu formalmente, pois acreditava que não cabiam em categorias pré-estabelecidas. Apenas aqueles que o viviam com autenticidade poderiam compreendê-lo; para os outros, ele permanecia uma abstração. Viver o ren, “diariamente, o dia inteiro”, era tornar-se um “junzi”, o “ser humano maduro”, aquele que, pela prática incessante da consideração e da excelência interior, encontrava a plenitude de sua natureza e transcendia os limites do ego. Nesse estado, a humanidade deixava de ser apenas uma condição biológica para tornar-se um ideal espiritual, um Caminho que cada passo reitera e redescobre.

A essência da humanidade reside na capacidade de transcender interesses próprios, enxergando no outro não apenas um semelhante, mas um reflexo que nos desafia e nos completa. A verdadeira compaixão revela-se ao romper as barreiras do ego, conectando-nos a uma experiência humana mais plena e solidária.

Os nomes de Elizabeth Fry (1780-1845), quacre que desafiou as trevas do sistema penitenciário em prol de sua reforma; de Florence Nightingale (1820-1910), cuja dedicação revolucionou os cuidados hospitalares e humanizou a medicina; e de Dorothy Day (1897-1980), fundadora do Movimento Operário Católico e incansável voz dos marginalizados, tornaram-se símbolos vivos da filantropia heroica. Cada uma delas, com gestos que transcendem seu tempo, transformou a compaixão em ação concreta, desafiando as convenções de suas eras e deixando um legado que ressoa como um chamado — não apenas para admirar, mas para seguir o exemplo de quem ousou ver no outro a extensão de sua própria humanidade. Ainda surgem como símbolos da compaixão, líderes como Mahatma Gandhi (1869-1948), Martin Luther King (1929-68), Nelson Mandela e pelo Dalai-Lama, que demonstram nossa necessidade de líderes compassivos e íntegros. 

Em um mundo moldado por uma economia competitiva e individualista, a compaixão parece alheia ao espírito do tempo. A teoria da evolução, de Darwin à Spencer, consolidou a visão de uma natureza violenta e desprovida de altruísmo genuíno, reduzindo o "amor" e a "brandura" a meras ilusões culturais. O altruísmo, dizem os positivistas, é apenas uma estratégia de sobrevivência disfarçada de virtude, um "meme" que, em sua essência, reflete o egoísmo calculista do ser humano. Até mesmo os gestos de bondade são vistos como manobras sociais, revestidas de engano e auto ilusão, onde o indivíduo serve a si mesmo sob o véu da generosidade.

É certo que no fundo, somos egoístas. Somos seres animais, ainda que racionais desejam sobreviver e ver prevalecer o seu eu. É que no âmago de nossa existência, convivem dois cérebros: o antigo, herança dos répteis, que governa nossos impulsos mais básicos — lutar, fugir, alimentar-se e perpetuar a espécie — e o neocórtex, morada da razão, da criatividade e da busca por significado. Essa coexistência, embora frágil, define a humanidade em sua dualidade. O velho cérebro nos impele ao egoísmo e à autopreservação, enquanto o neocórtex, com seu potencial de empatia e reflexão, nos chama à transcendência, à compaixão e à conexão com o outro. Ao longo da história, aprendemos a moldar a nossa natureza instintiva por meio de arte, religião e práticas culturais que exaltam o cuidado mútuo e a solidariedade como pilares de uma existência plena e cooperativa.

Porém, o caminho para a compaixão não é imediato nem fácil. Ele exige um esforço contínuo de superação dos impulsos primitivos e dos hábitos egoístas que enraizamos em nossas vidas. Assim como um atleta desenvolve graça e destreza pelo treinamento disciplinado, o cultivo da compaixão requer paciência, dedicação e prática diária. Não se trata de um salto repentino, mas de uma transformação gradual, que nos convida a ver o mundo e a nós mesmos sob uma nova luz, mais humana e generosa. 

Portanto, sejamos a mudança que desejamos ver, como ensinou Gandhi, e façamos da compaixão não apenas um ideal distante, mas uma realidade viva, capaz de transformar a sociedade e resgatar a essência mais elevada da humanidade. Que a compaixão, essa centelha divina adormecida em cada coração, seja reconduzida ao centro de nossa moralidade e de nossa espiritualidade. 

Que rejeitemos toda interpretação que, sob o pretexto de fé ou ideologia, alimente o ódio ou a exclusão ou ainda que possamos guiar nosso pensamento para nos manter unido em nosso pacto social, fundada em uma Constituição que prima pela solidariedade, fraternidade e dignidade da pessoa humana. 

Que eduquemos nossos jovens na arte de respeitar as diferenças e na ciência de reconhecer o outro como um igual e ela como lugar de desenvolvimento da humanidade. 

Em um mundo dilacerado por barreiras e preconceitos, façamos da compaixão uma força luminosa e transformadora, capaz de transcender egoísmos e unir almas. Pois é na compaixão que reside o segredo de uma humanidade plena e o alicerce indispensável para um futuro mais justo, mais pacífico e verdadeiramente iluminado.

Feliz Ano Novo! 

Feliz 2025!


* Texto inspirado especialmente em Karen Armstrong, “Doze Passos Para uma Vida de Compaixão”.

Referências

ARMSTRONG, Karen. Doze Passos para uma Vida de Compaixão. São Paulo: Cultrix, 2011.

CONFÚCIO. Os Analectos. Tradução e organização de Matheus M. C. Cardoso. São Paulo: Editora Unesp, 2016.

FISCHER, Louis. Gandhi: Sua Vida e Mensagem Para o Mundo. Rio de Janeiro: Record, 1983.

LÉVINAS, Emmanuel. Ética e Infinito. Lisboa: Edições 70, 1993.

WRIGHT, Christopher. Uma Breve História da Compaixão. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

WIKIPEDIA. Elizabeth Fry. Disponível em

: https://pt.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Fry. Acesso em: 12 de novembro de 2024.



2025 UM ANO MAÇÔNICO


*Feliz 45²* 

2025 = 45² é um "ano-quadrado-perfeito."

É representado pelo quadrado da soma de todos os algarismos do sistema de numeração decimal. 

(0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9)² = 2025.

Representa também a soma dos cubos de todos os algarismos do sistema de numeração decimal.

(0³ + 1³ + 2³ + 3³ + 4³ + 5³ + 6³ + 7³ + 8³ + 9³) = 2025.

O último "ano-quadrado-perfeito" ocorreu em 1936 e depois de 2025 só em 2116.

Feliz 45² para todos nós!!!

Um 2025 Abençoado para Todos!!

FELIZ ANO NOVO

 


A todos os queridos  irmãos e leitores deste blog:

Em 2025 vamos nos reinventar: cuidar mais da saúde, melhorar a qualidade de nossa dieta, focar ainda mais no nosso trabalho, ou então arranjar um trabalho que a gente ame, por falar em amor, fazer mais amor e dizer "eu te amo" sem motivo para as pessoas amadas, curtir os finais de semana e feriados, fazer uma poupança para alguma extravagância, aprender algumas coisas novas, músicas ou poemas, enfim. encher os nossos dias de amor e alegria e a nossa vida de saúde e paz. 

Que Deus os abençoe a todos nesta nova etapa de nossa jornada.


Michael e Alice

TENS À FRENTE...- Adilson Zotovici


Tens à frente um novo ano

Pra fazeres tua história

Tem em mente, és soberano

Em manteres boa trajetória


A começar por bom plano

Que é lida obrigatória

A livrar-te dalgum engano

À vida...preparatória


A cada passo um arcano

À caminhada decisória

Se iniciado ou profano

À jornada meritória


Lembra-te...és ser humano !

Viagem sem escapatória

De ti depende o desengano

Em tua passagem provisória


Fé e amor no quotidiano

O conjunto afeto à vitória

Sem temor e labor ufano

Do Grande Arquiteto...a Glória !


Adilson Zotovici

Blog Michael Winetzki

dezembro 30, 2024

CAFÉ DA MANHÃ DE SEGUNDA -FEIRA - Hélio Leite


Bom apetite.

 "Quando uma pessoa faz algo que nos aborrece, logo ficamos com raiva e queremos brigar ou discutir com ela. Quando alguém nos faz mal, é comum termos a vontade de "pagar na mesma moeda". 

Infelizmente essa é a nossa natureza e, por mais que a gente tente ser uma boa pessoa, nunca estaremos livres de tropeçar neste defeito. 

No entanto, o apóstolo Paulo nos desafia a sermos guiados por Deus em todas as nossas atitudes, para assim vencermos o mal. Só se vence o mal existente em nós, praticando o bem".

 Existe uma lei infalível - a lei de ação e reação. O mal que praticamos se voltará contra nós em um determinado momento, ou na mesma intensidade ou mais forte. Somos criaturas de Deus, temos inteligência e dispomos de um instrumento chamado de "livre arbítrio", que nos permite tomar decisões. 

Nesta segunda-feira, última deste ano de 2024, vamos amanhecer o dia com o pensamento positivo para prática de boas ações, com o coração cheio de amor e sem medo de ser feliz. Amém.

ALELUIA - Lucy Thomas





HALLELUJAH

“Hallelujah” é uma música do cantor e compositor canadense LEONARDO COHEN. 
Foi gravada originalmente para o álbum Varous Positions (1984), a canção já obteve inúmeras versões cantadas por diversos artistas […] Já foi incluida em programas de televisão e trilhas sonoras de filmes como SHREK. 
É considerada uma das melhores músicas de todos os tempos. 
Desejando um Ano Novo de luz e paz a todos os irmãos.

Texto tirado da Wikipédia

A ORDEM NA VISÃO DE FERNANDO PESSOA - Antonio Alves Rodrigues Calado


Com a intenção de fazer mais conhecidas, entre nossos Irmãos, as idéias de Fernando Pessoa, um dos maiores escritores portugueses contemporâneos, e de todos os tempos, que nunca foi Maçom, mas que tinha um profundo conhecimento das coisas da Ordem, como aliás, também o tinha sobre espiritismo, esoterismo, ocultismo, paganismo, Cristianismo e muitos outros campos do conhecimento humano, aos quais um homem pode chegar, não por pertencer a qualquer deles mas simplesmente por muito estudá-los, desejo dar a contribuição que se segue, desejando seja ela do agrado de todos. Avaliando um projeto do deputado José Cabral de Lisboa, cuja finalidade era suprimir a Ordem em Portugal, assim se expressou, através do Diário de Lisboa, jornal dos mas respeitados do país:

.............

Estreou-se a Assembléia Nacional, do ponto de vista legislativo, com a apresentação, por um deputado, de projeto de lei sobre "associações secretas". De tal ordem é o projeto, tanto em sua natureza como em seu conteúdo, que não há que felicitar o atual Parlamento por lhe ter sido dada essa estréia. Antes há que dizer-lhe Absit omen!, ou seja, em português, Longe vá o agouro!. Apresentou o projeto o Sr. José Cabral, que, se não é dominicano, deveria sê-lo, de tal modo o seu trabalho se integra, em natureza, como em conteúdo, nas melhores tradições dos Inquisidores. O projeto, que todos terão lido nos jornais, estabelece várias e fortes sanções (com exceção da pena de morte) para todos quantos pertençam ao que o seu autor chama "Associações secretas sejam quais forem os seus fins e organização".

Dada a latitude desta definição, e considerando que por "associação" se entende um agrupamento mais ou menos permanente de homens, ligados por fim comum, e que por "secreto" se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao Sr. José Cabral uma associação secreta – o Conselho de Ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os conselhos de ministros, também o não fazem as direções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos, ou os sinistros comunistas que formam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais. Embora uma interpretação desta ordem legitimamente se extraia da frasear pouco nacionalista do Sr. José Cabral, creio, tanto porque assim deve ser, como pelos encômios com que o projeto foi afagado pela imprensa pseudocristã, que as "associações secretas", que ele verdadeiramente visa, são aquelas que envolvem o que se chama "iniciação", e portanto o segredo especial a esta inerente. Ora no nosso país, caída há muito em dormência a Ordem Templária de Portugal, desaparecida a Carbonária – formada para fins transitórios, que se realizaram –, não existem, suponho, à parte uma outra possível Loja martinista ou semelhante, mais do que duas associações secretas "dessa espécie". Uma é a Maçonaria, a outra essa curiosa organização que, em um dos seus ramos, usa o nome profano de "Companhia de Jesus", exatamente como, na Maçonaria, a Ordem de Heredom e Kilwinning usa o nome profano de Real Ordem da Escócia. Dos chamados jesuítas não tratarei, e por três motivos, dos quais calarei o primeiro. Os outros dois são: que não creio, por mais razões do que uma, que eles correm risco de, aprovado que fosse o projeto, lhes serem aplicadas as suas sanções; e que não creio, por uma razão só, que o Sr. José Cabral tenha pretendido que tal aplicação se fizesse. Presumo pois que o projeto de lei do urgente deputado se dirija, total ou principalmente, contra a Ordem Maçônica. Como tal o examinarei. Não faço, creio, ofensa ao Sr. José Cabral em supor que, como a maioria dos Antimaçons, o autor deste projeto é totalmente desconhecedor do assunto Maçonaria. O que sabe dele é até, porventura, pior que nada, pois, naturalmente, terá nutrido o seu antimaçonismo da leitura da imprensa chamada católica, onde, até nas coisas mais elementares na matéria, erros se acumulam sobre erros, e aos erros se junta, com a má-vontade, a mentira e a calúnia, senhoras suas filhas. Não creio que o Sr. José Cabral conviva habitualmente com os livros de Findel, Kloss ou Gould, ou que passe as suas horas de ócio na leitura atenta da "Ars Quatuor Coronatorum" ou das publicações de Grande Loja de Iowa.

Duvido, até, que o Sr. José Cabral tenha grande conhecimento da literatura antimaçônica – Barruel ou Robinson, ou Eckert – tão admirável, aliás, do ponto de vista humorístico. Nem terá tido porventura noção, sequer de ouvido, do artigo célebre do Padre Hermann Grüber na "Catholic Encyclopedia", artigo citado com elogio em livros maçônicos, e em que o doutor jesuíta por pouco não defende a Maçonaria. Ora se o Sr. José Cabral está nesse estado de trevas com respeito à natureza, fins e organização da Ordem Maçônica, suponho que em igual condição estejam muitos dos outros membros da Assembléia Nacional, com a diferença que não se propuseram legislar sobre matéria que ignoram. Sendo assim, nem o deputado apresentante, nem os seus colegas de assembléia, estarão, talvez, em estado de medir claramente as conseqüências nacionais, internas e sobretudo externas, que adviriam da aprovação do projeto. Como conheço o assunto suficientemente para saber de antemão, e com certeza, quais seriam essas conseqüências, vou fazer patrioticamente presente da minha ciência ao Sr. José Cabral e à Assembléia Legislativa de que é ornamento. Começo por uma referência pessoal, que cuido, por necessária, não dever evitar. Não sou Maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não sou porém Antimaçom, pois o que sei do assunto me leva a ter uma idéia absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que em certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da Maçonaria – parte que nada tem de político ou social –, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto – assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora. Tendo eu, porém, certa preparação, cuja natureza me não proponho indicar, pude ir, embora lentamente, compreendendo o que lia e sabendo meditar o que compreendia. Posso hoje dizer, sem que use excesso de vaidade, que pouca gente haverá, fora da Maçonaria, aqui ou em qualquer outra parte, que tanto tenha conseguido entranhar-se na alma daquela vida, e portanto, e derivadamente, nos seus aspectos por assim dizer externos. Se falo de mim, e deste modo, é para que o Sr. José Cabral e os colegas legisladores saibam perfeitamente quem lhes está falando, e que o que vão ler, se quiserem, é escrito por quem sabe o que está escrevendo. Não que o que vou dizer exija profundos conhecimentos maçônicos: é matéria puramente de superfície, da vida externa da Ordem. Exige porém conhecimentos, e não ignorâncias, fantasias ou mentiras. Começo a valer. Creio não errar ao presumir que o Sr. José Cabral supõe que a Maçonaria é uma associação secreta. Não é. A Maçonaria é uma "Ordem" secreta, ou, com plena propriedade, uma "Ordem iniciática". O Sr. José Cabral não sabe, provavelmente, em que consiste a diferença. Pois o mal é esse – não sabe. Nesse ponto, se não sabe, terá de continuar a não saber. De mim, pelo menos, não receberá a luz. Forneço-lhe, em todo o caso, uma espécie de meia luz, qualquer coisa como a "treva visível" de certo grande ritual.

Vou insinuar-lhe o que é essa diferença, o que em linguagem maçônica se chama "termos de substituição". A Ordem Maçônica é secreta por uma razão indireta e derivada – a mesma razão porque eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos primitivos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento – toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império – precisamente os mesmos termos com que hoje os Maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela Maçonaria remota. Feito assim o meu pequeno presente de meia-luz, entro diretamente no que verdadeiramente interessa – as conseqüências que adviriam, para o país, da aprovação do projeto de lei do Sr. José Cabral. Tratarei primeiro das conseqüências internas. A primeira conseqüência seria esta – coisa nenhuma. Se o Sr. José Cabral cuida que ele, ou a Assembléia Nacional, ou o Governo, ou quem quer que seja, pode extinguir o Grande Oriente Lusitano, fique desde já desenganado. As Ordens Iniciáticas estão defendidas, "ab origine symboli", por condições e Forças muito especiais que as tornam indestrutíveis "de fora". Não me proponho explicar o que sejam essas forças e condições: basta que indique a sua existência. De resto, têm os srs. deputados a prova prática em que o que tem sucedido noutros países, onde se tem pretendido suprimir as Obediências Maçônicas. Pondo de parte a Rússia – onde nem eu nem os srs. deputados sabem o que verdadeiramente se passa, e onde, aliás, que não havia Maçonaria –, poderemos considerar os casos da Itália, da Espanha e da Alemanha. Mussolini procedeu contra a Maçonaria, isto é, contra o Grande Oriente de Itália mais ou menos nos termos pagãos do projeto do Sr. José Cabral. Não sei se perseguiu muita gente, nem me importa saber. O que sei, de ciência certa, é que o Grande Oriente de Itália é um daqueles mortos que continuam de perfeita saúde. Mantém-se, concentra-se, tem-se depurado, e lá está à espera; se tem em que esperar é outro assunto. O camartelo do Duce pode destruir o edifício do comunismo italiano; mas não tem Força para abater colunas simbólicas, vazadas dum metal que procede da Alquimia. Primo da Rivera procedeu mais brandamente, conforme a sua índole fidalga, contra a Maçonaria Espanhola.

Também sei ao certo qual foi o resultado – o grande desenvolvimento, tanto numérico como político, da Maçonaria em Espanha. Não sei se alguns fenômenos secundários, como, por exemplo, a queda da Monarquia, teriam qualquer relação com esse fato. Hitler, depois de se ter apoiado nas três Grandes Lojas cristãs da Prússia, procedeu segundo o seu admirável costume ariano de morder a mão que lhe dera de comer. Deixou em paz as outras Grandes Lojas – as que o não tinham apoiado nem eram cristãs – e, por intermédio de um tal Goering, intimou aquelas três a dissolverem-se. Elas disseram que sim – aos Goerings diz-se sempre que sim – e continuaram a existir. Por coincidência, foi depois de se tomar essa medida que começaram a surgir cisões e outras dificuldades dentro do partido nazi. A história, como o Sr. José Cabral deve saber, tem muitas dessas coincidências. Como tenho estado a apresentar razões e fatos até certo ponto desanimadores para o Sr. José Cabral, vou desde já animá-lo com a indicação de um resultado certo, positivo, que adviria da aprovação do seu projeto. Resultaria dele – alegre-se o dominicano! – um grande número de perseguições a oficiais do exército e da armada (exceto em Cascais) e a funcionários públicos. Perderiam os seus lugares os que não quisessem ter a indignidade de repudiar a sua Ordem. Resultaria portanto, a miséria para as suas famílias, onde é possível – e isto é que é grave – que se encontrassem pessoas devotas de Santa Teresinha do Menino Jesus, personagem que ocupa, na atual mitologia portuguesa, um lugar um pouco acima de Deus. Resolver-se-ia, é certo, no estilo inesperado do "roulement" que não rola, o problema do desemprego – para aqueles atuais desempregados, bem entendido, que têm por Grão-Mestre Adjunto o Sr. Conselheiro João de Azevedo Coutinho. Seriam essas as conseqüências internas da aprovação do projeto: dois zeros – um para o efeito antimaçônico da lei, outro para a barriga de muita gente. Seriam essas as conseqüências internas. Vou tratar agora das conseqüências externas, isto é, das conseqüências que adviriam da aprovação do projeto para a vida e o crédito de Portugal no estrangeiro. Esse aspecto da questão, esse resultado, não só possível mas quase certo, creio bem que não ocorreu ao Sr. José Cabral. Presto homenagem – e a sério – ao seu patriotismo, embora lamente que seja um patriotismo tão analfabeto. Existem hoje em atividade, em todo o mundo, cerca de seis milhões de Maçons, dos quais cerca de quatro milhões nos Estados Unidos e cerca de um milhão sob as diversas Obediências Independentes do Império Britânico. Assim, cinco-sextos dos Maçons hoje em atividade são Maçons de fala inglesa. O milhão restante, ou conta parecida, acha-se repartido pelas várias Grandes Obediências dos outros países do mundo, das quais a mais importante e influente é talvez o Grande Oriente de França. As Obediências Maçônicas são Potências autônomas e independentes, pois não há governo central da Maçonaria que é por isso menos "internacional" que a Igreja Romana. Há Obediências Maçônicas que poucas relações têm entre si; há até Obediências que estão de relações suspensas ou cortadas. Dou dois exemplos. A Grande Loja de Inglaterra cortou em 1877, por um motivo técnico, as relações, que ainda não reatou, com o Grande Oriente de França.

A mesma Grande Loja cortou, em 1933, as relações com a Grande Loja das Filipinas, em virtude de divergências – cuja natureza não sei mas presumo – quanto à maneira de desenvolver a Maçonaria na China. Assim a Maçonaria necessariamente toma aspectos diferentes – políticos, sociais e até rituais – de país para país, e até, dentro do mesmo país, de Obediência, para Obediência, se houver mais que uma. Dou um exemplo. Há em França três Obediências independentes (Obs.: esse número não é o mesmo nos dias de hoje – A. Calado) – o Grande Oriente de França, a Grande Loja de França (prolongada capitularmente pelo Supremo Conselho do Grau 33) e a Loja Regular, Nacional e Independente para a França e suas Colônias (Obs.: Trata-se da Grande Loja Nacional Francesa – A. Calado). O Grande Oriente é acentuadamente, radical e anti-religioso; a Grande Loja limita-se a ser liberal e anticlerical; a Grande Loja Nacional não tem política nenhuma. Dou outro exemplo. O Grande Oriente de França tem uma grande influência política, mas, exceto através dessa, pouca influência social. A Grande Loja de Inglaterra não se preocupa com política, mas a sua influência social é enorme. Conquanto, porém, a Maçonaria esteja assim materialmente dividida, pode considerar-se como unida espiritualmente. O espírito dos rituais, e sobretudo o dos Graus Simbólicos (nos quais, e sobretudo no Grau de Mestre, está, já para quem saiba ver ou sentir, a Maçonaria inteira), é o mesmo em toda a parte, por muitas que sejam as divergências verbais e rituais entre graus idênticos, trabalhados por Obediências diferentes. Em palavras mais perspícuas, mas necessariamente menos claras: quem tiver as chaves herméticas, em qualquer forma de um Ritual encontrará, sob mais ou menos véus, as mesmas fechaduras.

Resulta desta comunidade de espírito profundo, deste íntimo e secreto laço fraternal, que ninguém quebrou nem pode quebrar, que uma Obediência, ainda que tenha poucas ou nenhumas relações com outra, não vê todavia com indiferença o ser esta atacada por profanos. Os Maçons da Grande Loja de Inglaterra não têm, como se disse, relações com os do Grande Oriente de França. Quando, porém recentemente surgiu em França, a propósito dos casos Stavisk e Prince, uma campanha antimaçônica, de origem aliás ultra-suspeita, a vaga simpática, que potencialmente se estava formando em Inglaterra pelos conservadores que atacavam o Governo Francês, desapareceu imediatamente. O "Times", conservador mas acentuadamente maçônico, relatou as manifestações contra o Governo Francês com uma antipatia que roçou pela deturpação de fatos. E há muitos casos semelhantes, como o de certo escritor maçônico inglês, que em seus livros constantemente ataca o Grande Oriente de França, mudar completamente de atitude ao responder a uma escritora inglesa antimaçônica, que afinal dissera pouco mais ou menos o mesmo que ele sempre havia dito. Nisto tudo, que serviu de exemplo, trata-se de coisas de pouca monta, simples campanha de jornal, e por certo de atitudes espontâneas e individuais da parte dos Maçons que as tomaram.

Quando porém se trate de fatos maçonicamente graves, como seja a tentativa por um governo, de suprimir ou perseguir uma Obediência Maçônica, já a ação dos Maçons não é tão individual e isolada, nem se resume a uma maior ou menor antipatia jornalística. Provam-no diversas complicações, de origem aparentemente desconhecida, que encontrou em países estrangeiros o Governo de Primo de Rivera, e que encontraram, e ainda encontram, os Governos da Itália e da Alemanha (Obs.: Este artigo foi escrito em 1935, durante, portanto, a vigência dos governos Mussolini e Hitler – A. Calado). Esses, porém, são países grandes e fortes, com recursos, de vária ordem, que em certo modo podem contrabalançar aquelas oposições. Vem mais a propósito citar o caso de um país que não é grande nem influente na política européia em geral. Refiro-me à Hungria e ao que se passou com o célebre empréstimo americano. Aqui há anos, pouco depois da guerra (Obs.: a 1ª guerra mundial – A. Calado), o Governo Húngaro decretou a supressão da Maçonaria no seu território. Pouco depois negociava um empréstimo nos Estados Unidos. Estava o empréstimo praticamente feito quando veio da América a indicação final de que ele não seria concedido se não se restabelecessem "certas instituições legítimas". O Governo Húngaro percebeu e viu-se obrigado a entrar em transações com o Grão-Mestre; disse-lhe que autorizava a reabertura das Lojas com a condição (que parece do Sr. José Cabral) de que nelas pudessem assistir profanos. É escusado dizer que o Grão-Mestre recusou. O Governo manteve portanto a "suspensão" das Lojas... e o empréstimo não se fez. Ora isto sucedeu com a Maçonaria Americana, que não faz propriamente política nem mantém relações muito intensas com as Obediências européias à exceção das britânicas. Tratava-se, porém, de uma grave injúria à Maçonaria, e o resultado foi o que se vê.

Não venha o Sr. José Cabral dizer-me que não precisamos de empréstimos do estrangeiro. Nem só de empréstimos vive o país. Precisa, por exemplo, de colônias, sobretudo das que ainda tem. E precisa de muitas outras coisas, incluindo o não incorrer na hostilidade ativa dos cinco mil e tal milhões de Maçons que, por apolíticos, ainda não nos têm hostilizado. Creio que disse o suficiente para que o Sr. José Cabral e os outros Srs. deputados compreendam perfeitamente qual pode e deve ser o alcance da aprovação deste projeto na vida e no crédito de Portugal. Antes de acabar, porém, quero dar-lhe uma pequena amostra da espécie de gente em cuja antipatia ativa incorreríamos. Tomarei por exemplo a Grande Loja Unida de Inglaterra, não só pela importância que para nós têm as nossas relações com aquele país, mas também porque qualquer ação dessa Grande Loja – a Loja-Mãe do Universo, com cerca de 450.000 Maçons em atividade – arrasta consigo todos os Maçons de fala inglesa e todas as Obediências dos países protestantes. Do resto da Maçonaria nem é preciso falar. São Maçons, sob a obediência da Grande Loja de Inglaterra, três filhos do Rei – o Príncipe de Gales, Grão-Mestre Provincial de Surrey, o Duque de York, Grão-Mestre Provincial de Middlesex, e o Duque de Kent, antigo Primeiro Grande Vigilante. É Maçom o genro do Rei, Conde de Harwood, Grão-Mestre Provincial de West Yorkshire. São Maçons, em sua maioria, os fidalgos ingleses, sobretudo os de antiga linhagem. São Maçons, em grande número, os prelados e sacerdotes da Igreja de Inglaterra, o clero mais profundamente culto de todo o mundo, a Igreja protestante que mais perto está, em dogma e ritual, da Igreja de Roma.

Não prossigo, porque já basta... Lembro todavia que os três grandes jornais "conservadores" ingleses – o "Times", o "Sunday Times" e o "Daily Telegraph" – são ao mesmo tempo maçônicos. Acabei. Convém, porém, não acabar ainda. Provei neste artigo que o projeto de lei do Sr. José Cabral, além do produto da mais completa ignorância do assunto, seria, se fosse aprovado: primeiro, inútil e improfícuo; segundo, injusto e cruel; terceiro, um malefício para o país na sua vida internacional. Não considerei, porque não tinha que considerar, se a Maçonaria merece o mau conceito em que evidentemente a tem o Sr. José Cabral e outros que nada sabem da matéria. Esse ponto estava fora da linha do meu argumento. Como, porém, a maioria da gente não sabe raciocinar, pode alguém supor que esquivei a esse ponto. Vou por isto tratar dele embora protestando contra mim mesmo. Quem sofre com isso é o leitor. A Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamarei humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura, e o que resulta de ela existir em muitos países, sujeita portanto a diversas circunstâncias de meio e de momento histórico, perante as quais, de país para país e de época para época reage, quanto à atitude social, diferentemente. Nos primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçônico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como aliás qualquer instituição humana, secreta ou não – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de Maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa. Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só idéia – a "tolerância"; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama "doutrina maçônica" são opiniões individuais de Maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São divertidíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Arthur Edward Waite, ambos tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos Antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçônico em geral pelas afirmações de Maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má fé. O segundo erro dos Antimaçons consiste em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua ação social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afetam a Maçonaria como afetam toda a gente. A sua ação social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de divergências doutrinárias – as que provocaram a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui que nenhum ato político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou. Resulta de tudo isto que todas as campanhas antimaçônicas – baseadas nesta dupla confusão do particular com o geral e do ocasional com o permanente – estão absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. Por esse critério – o de avaliar uma instituição pelos seus atos ocasionais porventura infelizes, ou um homem por seus lapsos ou erros ocasionais – que haveria neste mundo senão abominação?

Quer o Sr. José Cabral que se avaliem os papas por Rodrigo Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se considere a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo espírito pelas torturas dos Inquisidores (provenientes de um uso profano do tempo) ou pelos massacres dos albigenses e dos piemonteses? E contudo com muito mais razão se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas com ordem ou com consentimento dos papas, obrigando assim, espiritualmente, a Igreja inteira. Sejamos, ao menos, justos.

 Se debitamos à Maçonaria em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos recebido em iguais condições. Beijem-lhe os jesuítas as mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia, no século dezoito – quando expulsos de toda a parte, os repudiava o próprio Papa – pelo Maçom Frederico II. Agradeçamos-lhe a vitória de Waterloo, pois que Wellinton e Blucher eram ambos Maçons. Sejamos-lhe gratos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assentar a futura vitória dos Aliados – a "Entente Cordiale", obra do Maçom Eduardo VII. Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maçonaria a maior obra da literatura moderna – o "Fausto" do Maçom Goethe. Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. 

Deixe a Antimaçonaria àqueles Antimaçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusalém. Deixe isso tudo, e no próximo dia 13, se quiser, vamos juntos a Fátima. E calha bem porque será 13 de Fevereiro – o aniversário daquela lei de João Franco que estabelecia a pena de morte para os crimes políticos.

Diário de Lisboa, nº 4.388 de 4 de fevereiro de 1935.

dezembro 29, 2024

INFLUÊNCIA JUDAICA NA CULTURA BRASILEIRA - Michael Winetzki


 

DERRADEIRO ESPETÁCULO - Adilson Zotovici



Escrito em bom vernáculo

Do Lácio a última flor

Transcrito como oráculo

Como prefácio dita o amor


Arte Real o sustentáculo

Nesta passagem de esplendor

Cada paragem um cenáculo

De alegria e às vezes dor


Atitude, sem mendáculo,

Da juventude o destemor

Na velhice o pináculo


Roteiro sem obstáculo

De bom pedreiro ao Criador

E... o “derradeiro espetáculo” !



MAÇOM SEM LOJA? - Roberto Raul Hübner Viola


 

Escutei a afirmação de um irmão:

– Não tenho tempo para frequentar os trabalhos da minha Loja, mas aqui fora, sou mais Maçom que muito irmão no templo…

Após refletir muito sobre a questão, emitimos a nossa opinião. Embora opinião pessoal, podemos afirmar que esta é bem coerente com o pensamento da instituição.

Acreditamos que a nossa Sublime Ordem torna possível a todos os seus adeptos, um terreno fértil para o estudo da verdade. Através da valorização do trabalho intelectual de cada irmão, por mais simples que seja, criamos o pano de fundo necessário ao auto desenvolvimento do Maçom.

Embora uma Loja proporcione este ambiente, esta não é a única organização que proporciona meios para atingir a valorização humana. Outros redutos, outras instituições do livre pensamento, trazem e oferecem aos seus seguidores, oportunidades para se alcançar o equilíbrio que, talvez, possamos chamar de felicidade.

Existem homens que não necessitam de outros e vivem solitários e, com introspecção, chegam ao Nirvana.

Outros procuram reunir-se, a fim de completar a sua crença religiosa, em sociedades desportivas, sociais, educativas, etc., e satisfazem as suas carências.

Existem ainda homens que, participando das atividades sociais de uma associação religiosa, se veem satisfeitos em todas as suas necessidades.

– Bem-aventurados.

Outros necessitam algo mais, e encontram na Maçonaria, refúgio para a sua livre manifestação, não sendo questionados na sua crença, religião, raça, classe social, no seu partido político, podendo estudar e manifestar-se livremente.

Existem refúgios de virtudes e de bons costumes, fora da maçonaria.

A maçonaria não possui o privilégio, nem pretende ser a única instituição capaz de trazer e dar ao homem a felicidade. Homens virtuosos existem e existiram em todos os tempos e lugares. Fora de um templo maçônico também se praticam as boas qualidades. Estaríamos praticando a soberba se assim não pensássemos.

O único dono da verdade é o G ADU.

Concluímos que fora do templo, praticamos as qualidades de um Maçom, ou seja, virtudes, que qualquer homem de bem, livre e de bons costumes, possui. Mas pode haver maçonaria sem os seus símbolos, sem o seu ensinamento esotérico e sem um templo para abrigar tudo isto? Não, certamente que não.

Ao se reunirem, os primeiros maçons especulativos e aceitos, nas tabernas inglesas, desenhavam a tábua da loja no piso e somente após está pronta, declaravam a loja aberta.

Sem aqueles símbolos não existia loja, não existia sessão, não existia a própria maçonaria.

Com estes dados acreditamos que, para praticarmos maçonaria, necessitamos obrigatoriamente de um templo maçónico aberto e em sessão.

Sem um templo não existe o Maçom.

Devido aos múltiplos afazeres do mundo moderno, das obrigações que nos envolvem, muitos irmãos não conseguem frequentar assiduamente os trabalhos da sua loja, mas existem momentos em que se torna imperiosa a sua presença. Momentos de afirmação da própria instituição, onde a ausência do irmão enfraquece e leva à morte a própria ordem.

Por exemplo: no dia em que se instala um novo Venerável Mestre; nos dias em que homenageamos São João nas datas dos solstícios; nas Assembleias Gerais; no início das atividades de cada ano; quando entregamos um irmão a subjetividade; nas iniciações, momento este que a ordem cresce e a presença de irmãos é fundamental.

Concluímos que fora do templo se praticam as qualidades do Maçom, mas “nunca” maçonaria. Maçonaria só no templo.


dezembro 28, 2024

O HOMEM, O MAÇOM E A MAÇONARIA - Hércule Spoladore


 

O Homem é um ser complexo , estranho e imperfeito. Às vezes se julga senhor do mundo e às vezes em depressão, ou quando algo em sua vida não está bem se sente muito pequeno inútil e destruído.

Em seus momentos de fantasia, aspira ser Deus, sendo que jamais poderá vir a sê-lo.

Quer ser imortal, pois não admite a morte, mas nunca se lembra queque se perpetua através de seus genes em seus descendentes .

É um ser gregário, aliás, condição vital para sobreviver. Desde os tempos das cavernas ele aprendeu a viver em grupo. É curioso.

Pergunta muito, muito embora não tenha respostas para causas maiores de sua existência. Isto lhe traz um conflito existencial muito grande. Quer conhecer a todo custo o que se passou com as civilizações anteriores e quer entrar em contato com seres inteligentes do Universo.

Explora o Cosmo como um todo e em particularidades, explora a própria Terra, em busca de suas raízes, suas origens, sem tê-las conseguido até a presente data. Desconhece a razão da vida e da morte, e temeroso diante das forças telúricas e universais passou a respeitar venerar e até idolatrar o criador invisível de tudo.

Ai reside o princípio religioso da maioria dos Homens, mais pelo temor da grandiosidade que o cerca, que pela sua inteligência, a qual é limitada.

É um ser vicissitudinário. Em sua mente existem milhões de fantasmas de ideias, de sonhos, de tal forma que ele muda sempre, para uma evolução maior ou menor, mas amanhã nunca será o mesmo de hoje. Nunca será o mesmo em todas as épocas de sua vida, embora mantenha Suas características de personalidade. Nos últimos séculos e especialmente no último, sofreu todas as influências possíveis e imagináveis quer pela evolução do próprio pensamento humano quer pelos verdadeiros saltos científicos dados pelas invenções e pelas tecnologias modernas. O meio intelectual e moral foi mergulhado e envolvido por estas descobertas. No último século o desenvolvimento científico da Humanidade foi maior que em toda a história da atual civilização e civilizações anteriores. As descobertas científicas aconteceram e acontecem sem qualquer antevisão do futuro.

As suas conseqüências não previsíveis dão forma para a nossa atual civilização. Quer dizer, não há uma programação objetiva e direta direcionada a um ponto futuro para conduzir a Humanidade. A ciência empurra o homem. Às vezes ele não sabe aonde irá parar. Os cientistas não sabem para onde estão indo e nem aonde querem chegar. São guiados por suas descobertas, às vezes imprevistas e, grande parte por acaso. Cada um destes cientistas representa o seu proprio pensamento estabelece suas próprias diretrizes para si e para a sociedade. Por analogia, o mesmo caso acontece com a Internet. Não sabemos o que irá acontecer. Teremos que "pagar para ver."

O Homem estuda desesperadamente as leis da natureza, estas, deveriam só ter valor quando chegassem até ele diretamente, não filtradas pelo véu intelectual repleto de costumes incorretos e tendenciosos, chegando assim sua mente sem preconceitos, consumimos, conformismos e distorções. Aí ocorrem os sofismas, especialmente dirigidos por interesses financeiros manipulados por comportamento humano em função destes fatores muda verticalmente de tempos em tempos, ao sabor de uma mídia controlada por estes grupos, que explora as invenções da maneira que mais lucro lhes dá, dando uma direção equivocada à Humanidade em muitos setores.

E esta praga ataca o Homem na política, na religião, no comércio e em todos os segmentos da vida, e ainda no que é mais complexo, no seu relacionamento.

O Homem é um ser emocional, agressivo, intuitivo e faz pouco uso da razão para resolver seus problemas. Age mais pela emoção.

Konrad Lorenz, prêmio Nobel de 1973, zoologista austríaco admite que a agressividade do Homem seja uma herança genética de seu passado animal e que o Homem não seria fruto do meio em que vive.

As guerras para ele serão inevitáveis por maiores que sejam as conquistas sociais e científicas da Humanidade. Apesar de ter sido combatido pela maioria dos psicólogos do mundo inteiro, ele parece ter razão as guerras continuam existindo e a forma de destruição do próprio Homem cada vez mais sofisticada. A invenção mais moderna de autodestruição chama-se terrorismo.

Os Homens para se organizarem criaram regras disciplinares e entre elas a Ética e a Moral, que tanto se escreve a respeito e há autores que as consideram a mesma coisa. Anato Le France em seu livro "os deuses têm sede", cita que o que chamamos de Moral não passa "de um empreendimento desesperado de nossos semelhantes contra a ordem universal, que é a luta, a carnificina e jogo cego dos contra.

A Moral varia na cronicidade das épocas, pois o que serviu para nossos pais, não serve para nossos filhos" (Mazie Eschenbach).

A Moral seria, pois, para entendermos melhor, o estudo dos costumes da época e a Ética, a ciência que regula as regras pertinentes.

Os Homens ditos civilizados costumam afirmar que a Ética é um princípio sem fim. Mas o mesmo Homem que é um ser competitivo, agressivo, emocional e que seria capaz de destruir a si e ao mundo em determinadas situações, ele também é em outros momentos bom, caridoso, compreensivo, leal, capaz de gestos de desprendimento em favor de seus semelhantes.

Dentro desta dualidade se procura ainda que de forma muito superficial, traçar uma pálida silhueta do Homem, já que é impossível descreve-lo profundamente como um todo. Todo Maçom é um Homem, pelo menos no sentido genérico e, como tal não escapa as especificações boas ou más citadas na descrição deste perfil traçado.

A Maconaria traz a esperanca de mudar os Iniciados para melhor.

Isto até chega acontecer verdadeiramente para poucos, e estes entenderão que a ordem é antes de tudo uma tentativa de levar os adeptos ao seu autoconhecimento e ao estudo das causas maiores da vida e que também sua função no mundo atual será político-social.

Entenderão que a Maçonaria é para eles uma forma de evolução ética, moral e espiritual.

Outro grupo de Maçons vive nesta ilusão, mas não vai de encontro a ela. É medíocre e conformado, aceita tudo, mas sabe muito bem a diferença. Apenas por uma questão de não duvidar, aceitar as coisas erradas passivamente, e por preguiça mental letárgica não luta e espera que as coisas aconteçam. Porém, a maior parte dos Maçons jamais entenderá o desiderato verdadeiro da Ordem. Jamais entenderá esta meta, mas acreditará equivocadamente de que a  maioria dos Maçons não lê, não estudam, criticam os que querem produzir algo de bom, querem saber quem será o próximo venerável, e querem que a sessão termine logo, para "demolirem os materiais" e sorverem o precioso líquido que traz eflúvios etílicos, das "pólvoras amarela e vermelha", nos "fundões" das lojas, onde excelentes Irmãos cozinheiros preparam iguarias divinas. Até nem podemos condená-los, já que são Homens e como tal não são perfeitos.

Os Maçons de um modo geral trazem para dentro das Lojas, todas as transformações e influências que existem no mundo profano, e sem se aperceberem tentam impor suas verdades como se fossem as verdades ditadas pela Ordem.

Está havendo um grande equívoco na Maçonaria atual, pois esta, tem em seus princípios valores antigos tradicionais aparentemente conservados através dos rituais, costumes escritos, constituições etc., que muitos Maçons têm a pretensão de está-los seguindo, sem que isto seja verdade.

O que acontece em realidade é que a maioria destes valores acaba sendo letras mortas, pois o Maçom na sua condição de Homem que recebe todas as influências citadas do mundo profano, especialmente no terreno das comunicações, informações e do moderno relacionamento humano, traz para o seio da Maçonaria, tudo o que ele está sofrendo e se envolvendo fora das lojas, tais como a competitividade desleal, o consumismo exagerado, a agressividade incontida, a ganância pelo poder, a vaidade auto-idólatras, enfim conseguindo. uma série de situações que ele mais cedo ou mais tarde, quando fizer uma análise de consciência, se o fizer, pois a maioria nisso isso faz, ele verá que não foi bem isso que ele pretendia da Ordem.

Então vem a desilusão total, uma das causas de esvaziamento das nossas lojas.

Fala-se em tradição na Maçonaria, mas em realidade esta foi se distorcendo aos poucos, pois os tempos são outros e tudo muda, e as mudanças ocorrem sem se apercebê-las pois muito embora aparentemente ligado ao passado, o Maçom vive o tumultuado mundo presente. A Maçonaria a exemplo da nossa civilização atual, foi organizada sem o conhecimento da verdadeira natureza do Maçom.

Embora feita só para Maçons não esteja ajustada ao real espaco que ela deveria ocupar.

O modernismo, como não podia deixar de ser, também chegou à Ordem.

Hoje, em muitas lojas não se usam mais as velas e sim lâmpadas elétricas. Os rituais foram acrescidos de práticas que não existiam na Maçonaria primitiva. Os templos se tornaram suntuosos e ricas colunas os adornam. Acabou - se a simplicidade de outrora.

Apareceram cerimônias enxertadas, inventadas, rebuscadas.

Constroem templos para todos os lados. Um templo às vezes fica ocioso por vários dias da semana, onde poderia ter uma loja funcionando a cada dia e os demais templos construídos com muito sacrifício de alguns, poderiam ser uma escola, um lar de velhinhos, ou qualquer outra modalidade de prestação de serviços enfim, uma obra que depois de construída seria doada à sociedade.

As pendengas políticas entre os lideres da Ordem, chegam a tal rivalidade que com freqüência são levadas às barras dos tribunaisbna Justiça comum.

A ganância pelo poder é um fenômeno bastante frequente na mente de alguns Maçons. Um simples cargo de venerável, às vezes é disputado de forma bastante ignóbil, não maçônica, pelos oponentes. Imaginem então, o que ocorre quando se trata de eleição para o cargo de Grão-Mestre.

Não se concebe e não se justifica que este poder temporal maçônico que em realidade não significa coisa alguma em matéria do Conhecimento que a ordem pode proporcionar, cause tanta cobiça, tantas situações anti-maçônicas, as quais observamos com frequência, sendo que a maioria dos Maçons fingem que não as estão vendo.

Sábio foi um juiz profano que não acatou uma ação de um líder maçônico contra outro, alegando que os problemas de Maçons fossem  resolvidos dentro da própria Maçonaria já que a Justiça tinha coisas mais importantes a tratar. A Maçonaria foi exposta nesta situação, ao ridículo.

Como é triste, como é doloroso, como doe no fundo da alma quando um Irmão torna-se falso, difama, conspira e tenta destruir outro.

Às vezes seu próprio Padrinho é o atingido ou um Irmão que tanto lhe queria. E isto sempre ocorre não pela dialética que é adotada pela Maçonaria que é a arte de poder se expressar e alguém contrariar ou contraditar uma opinião para se chegar a uma verdade, mas tão somente por inveja doentia ou vaidade.

Porém existe o reverso desta análise. Não podemos afirmar que o Maçom como o Homem em si seja totalmente mau. Ele é dual. Foi criado assim. Ele tem o seu lado mau, mas luta desesperadamente para ser bom, sendo que maioria das vezes não consegue. É a eterna luta do Homem. O ofendido altruísta costuma usar a qualidade cristã do perdão e ai volta a abraçar o Irmão que lhe ofendeu. E tudo acabam em fraternidade, às vezes sincera e às vezes falsa. 

Não podemos negar que nos causa tanta alegria, quando ficamos conhecendo um Irmão que nos é identificado como tal, onde quer que se esteja. Especialmente longe da cidade onde moramos. É comum este Irmão abrir seu coração, sua residência sua loja. Isto é realmente lindo na Ordem. É uma satisfação muito grande e uma realidade inconteste.

Outra situação boa que costuma acontecer na Ordem é a hospitalidade fraterna com que somos recebidos em outras l0jas não importando a Obediência. Esta situação acontece nas lojas-base, não havendo que afaga é a mesma que apedreja". (Augusto dos Anjos)

Atualmente a discriminação que havia outrora determinada pelos líderes das ditas obediências. Foi um avanço social dentro da própria Ordem muito importante. Já não existem mais "primos", agora somos irmãos de verdade, salvo algumas raras exceções.

O dualismo no Maçom continuará, ele é genético, mas a Maçonaria espera que seus adeptos desenvolvam somente o lado bom. Sua doutrina é toda voltada para esse fim. Então, não culpemos a Ordem, por distorções ou digressões, estas sāo inerentes ao Maçom, ao Homem imperfeito.

Entretanto, a Ordem deveria mudar o esquema de suas sessões imediatamente. Gastamos tempo em uma sessão com problemas.

Aí está o grande mal. É aí que reside a nossa grande falha. Se houvesse uma sessão administrativa mensal, onde uma diretoria capaz resolvesse todos os problemas rotineiros e as demais sessões fossem abertas e fechadas ritualísticamente, mas sua sequência fosse tão somente de trabalhos apresentados, debates, instruções, doutrinação, têm certeza de que mesmo aqueles Maçons que não lêem, não estudam, aprenderiam muito e tomariam gosto pela leitura, pois seriam despertos de um sono que talvez a própria maneira atual de ser da Ordem seja responsável.

Ainda no quesito "Diretoria ou Comissāo", vivenciamos constantemente perda de um precioso tempo debatendo metodologias sobre eventos, campanhas, e outros assuntos pertinentes às atividades da Loja no mundo profano, ora, porque não constituir várias "Comissões ou Diretorias" , para que as mesmas tenham autonomias na organização, promoção e decisões sobre o assunto na qual a ou as mesmas está (ao) imbuída(as)? Assim, com certeza desafogaria a sobrecarga sobre a administração da Loja, a qual poderia focar mais seu tempo nos trabalhos ritualísticos com os administrativos.

IIr.:, delegando a eles independentemente de Grau responsabilidade do mesmo pesquisar, elaborar e apresentar em loja trabalhos referentes assuntos maçônicos, de forma que, o mesmo estaria enriquecendo seu conhecimento, assim teríamos uma dinâmica mais atraente, desnecessária a participação constante de "Profanos" realizando palestras em loja, o que já é percebido o descontentamento da maioria.

Temos acreditar no Homem, no Maçom, mesmo ele não sendo um ser perfeito. Ele desde que devidamente preparado poderá ainda a vir a ser o esteio da Humanidade. Estamos no momento mal doutrinado.

Temos que nos rever e modernizar, o futuro já é hoje. vivemos num mundo de informações. Estas não podem ser sonegadas ou deixar de serem assimiladas. Já estamos ficando para trás em muitos segmentos da sociedade. Não aguentaremos por muito tempo o modelo anacrônico que estamos seguindo se não nos atualizarmos. Isto qualquer Maçom poderá deduzir, se refletir um pouco sobre a Ordem.

Acreditamos que a Maçonaria redespertará, e que num futuro bem mais próximo do que imaginamos tudo mudará para melhor. Porque, apesar de todas as influências negativas ou não ela conservou sua essência iniciática. E este fator manterá sua unidade simbólica e espiritual perene.

A BÍBLIA DOS MAÇONS - Daniel Ligou


É um problema bastante complexo, porque o podemos examinar a partir de vários aspectos complementares. Primeiro, o essencial, a presença ou não da Bíblia, ou, mais genericamente, do Volume da Lei Sagrada (VLS) na oficina; depois, o papel que ela desempenha ou não no recinto maçônico, tanto como “luz” ou “utensílio”.

Some-se a isto a participação da Bíblia na trama do ritual maçônico que apresenta a particularidade que divide com o companheirismo, de completar um fundo bíblico, essencialmente do Antigo Testamento , através de toda uma série de lendas parabiblicas que se desenvolvem no ritual para delas se retirar uma lição simbólica ou moral; enfim, a extraordinária variedade de “palavras” correspondentes a cada grau, palavras de passe, palavras sagradas, “grandes palavras” que os ritos, e especialmente o rito escocês Antigo e Aceito (REAA), nos seus 33 graus – não economizam nem um pouco.

Algumas observações preliminares. Nós provavelmente seremos incompletos, mas privilegiaremos os ritos que conhecemos bem e, especialmente, aqueles que praticamos regular ou ocasionalmente, porque na nossa opinião, a Maçonaria, para ser verdadeiramente compreendida, deve ser vivida espiritual e emocionalmente, e não ser apenas sinónimo de conhecimento.

Também o nosso comentário será essencialmente baseado nos três principais ritos praticados na França: o Rito Francês, o Rito Escocês e o Rito Escocês Retificado, pois não conhecemos os ritos ingleses a não ser através de textos que consultamos mais ou menos regularmente (fico feliz em concordar!). Por outro lado, para nosso grande pesar, não foi possível, por razões essencialmente linguísticas, usar os rituais alemães ou suecos. Quanto aos ritos praticados nos países latinos, eles não oferecem grande originalidade em relação aos que já conhecemos.

Outra observação. Trata-se de “ritos” e não de “obediências” ou “potências”. Portanto, não levaremos em conta “exclusivos”, “excomunhões” ou reivindicações de irregularidade. Além disso, o Rito Francês, conforme ele é praticado no Grande Oriente, ou o REAA na Grande Loja são ritos tão diferentes com o mesmo nome usado na Grande Loja Nacional francesa? Não, sem dúvida, porque as suas fontes são comuns. Nós mesmos (tremo só de pensar) fizemos algumas alusões à “Maçonaria de Adoção”, que continuou até meados do século XIX, a Maçonaria feminina atual contentando-se em organizar – muito inteligentemente, diga-se de passagem – os textos masculinos do REAA ou do Rito Francês.

Notamos também que o Shiboleth da regularidade, aos olhos da Grande Loja Unida de Inglaterra, não é a Bíblia no sentido estrito, mas o VLS, isto é qualquer livro básico de natureza religiosa, e a crença no Grande Arquiteto e a sua vontade revelada. Mas, se a Maçonaria tem, segundo as Constituições de Anderson de 1723, tem a pretensão, diga-se de passagem, com alguma justificação, de ser o “centro de União” e de agrupar “os homens bons e leais ou os homens de honra” e de probidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças religiosas que os ajudam a “se distinguir “, ela não deixa de ser o resultado de um legado, de uma tradição e de circunstâncias históricas que lhe deram uma estrutura mental e um equipamento intelectual cristão, essencialmente reformado no início e mais ecumênico a seguir. Existe – e não pretendemos abordá-la -. uma maçonaria “sem Bíblia”.

Com efeito, onde quer que a Bíblia não é a alimentação diária dos Irmãos, ela se desvanece ou desaparece em favor do “livro da Constituição” na Bélgica e na França – evolução que não é de forma alguma incompatível com a crença no Grande Arquiteto conforme mostra a história do Rito Francês de 1787-1878, onde se prestava juramento ao Grande Arquiteto sobre o “Livro da Lei”.

Israel é, obviamente, a Torah, sem o Novo Testamento, e noutros lugares o Alcorão, o Avesta, Confúcio. O REAA especifica, além da Bíblia, os Vedas, o Thipitaka, o Alcorão, o Zend Avesta, o Tao Teh King e os quatro livros de Kung Fu Tsen. Na loja (Inglesa) de Singapura, os irmãos têm uma dúzia de livros sagrados. E o Irmão Rudyard Kipling expressa perfeitamente este ecumenismo: “Cada um de nós falava do Deus que conhecia melhor.” Mas, onde começa e onde termina o sagrado? Por que não os Pensamentos do Presidente Mao? Pode-se ainda se perguntar se a prática de religiões como o confucionismo está em harmonia com o conceito de “Vontade Revelada”, tal como concebido pelas religiões monoteístas da Europa ou no Oriente Médio.

Enfim, fazemos, ou tentamos fazer um trabalho de historiador. Isto significa que teremos de distinguir o que é histórico do que é bíblico e, em relação à Bíblia e a história, o que é pura lenda, deixando claro que para todo Maçom, a lenda não passa da tradição no dogma católico, isto é, algo que assume valor doutrinário.

Por outro lado, não nos cabe neste momento fazer a exegese do que seja biblicamente inspirado e muito menos dos textos utilizado. Menos ainda, praticar os métodos alegóricos, tipológicos ou analógicos caros aos Padres da Igreja e aos dialéticos medievais onde encontramos muitos vestígios das “Old Charges” (os Antigos Deveres) que regulamentavam a Maçonaria operativa. Para nós, o Templo de Salomão é um edifício construído por um rei de Israel para a glória de Yahwe e não temos que querer saber se ele representa a igreja ou o Cristo. Isto pode parecer simplista para alguns, mas não acreditamos na virtude da mistura de gêneros.

Analisemos agora o nosso primeiro ponto: a Bíblia, “instrumento” em loja, sobre a qual se presta juramentado. Você não precisa fazer prova de vasta erudição para constatar que a Maçonaria “operativa”, aquela dos construtores, intimamente ligada ao mundo clerical, pelo menos, pela construção de catedrais, era – como, a propósito, era o corpo dos ofícios – “guildas de artesãos”, “empresas” diferentes – de inspiração cristã, católicos na Inglaterra até a Reforma, anglicanos ou reformados posteriormente.

Na França, Itália, Espanha, eles permaneceram fiéis à Igreja romana até ao seu desaparecimento natural ou supressão revolucionária. Às vezes, com o estofo de uma guilda profissional, mais frequentemente distintas das confrarias de penitentes. Elas estavam colocadas sob a invocação de santos padroeiros da profissão, e para “as pessoas da construção” muito particularmente “os Quatro Mártires Coroados” (Quatuor Coronati) que a encontramos na Inglaterra, mas também na Itália (Roma) e na França (Dijon). Além disso, não parece que, ao contrário das guildas, sempre suspeitas para a Igreja e o poder civil, estes “corpos” tinham, por pouco que seja rompido com a ortodoxia. Mas, voltemos à Inglaterra.

É difícil afirmar que a Bíblia figurava entre o “material” das lojas operativas inglesas antes da Reforma, pelo menos segundo o que pudemos deduzir das “Old Charges”. Por outro lado, sabemos que se prestava juramento ali, e que nada há de original, já que o “negócio jurado” era a regra um pouco por toda parte.

O fato é que os primeiros documentos – o Regius (cerca de 1370) e o Cooke (cerca de 1420) – são perfeitamente silenciosos. Assim nenhuma suposição deve ser excluída: a Bíblia, quando se podia ter uma, o que, antes do desenvolvimento da impressão talvez não fosse tão fácil, o “livro” dos estatutos e regulamentos corporativos, relíquias como é tão frequentemente o caso na França? De qualquer forma, o juramento tinha um carácter religioso que ele conservou – exceto na Maçonaria “secularizada”.

Os documentos mais recentes, mas também posteriores à Reforma, são mais explícitos e o juramento sobre a Bíblia é, mais frequentemente afirmado pelo “Grand Lodge Manuscript ” nº 1 (1573), e No. 2 (1650), o “Manuscrito de Edimburgo” (cerca de 1696): “Fazemos com que eles tomem a Bíblia e prestem juramento”, o “Crawley” (cerca de 1700) onde o candidato jura sobre o livro sagrado por “Deus e São João”; o “Sloane” do mesmo período, sobre o qual a questão permanece em dúvida, o “Dumfries” nº 4 (cerca de 1710). Pode-se, portanto, supor que, desde a Reforma, o juramento sobre a Bíblia se tenha tornado a regra, o que levou o historiador francês A. Lantoine a dizer que este era um “Landmarks de contrabando huguenote”, uma expressão engraçada, mas definitivamente exagerada. Esta constatação não nos deve fazer perder de vista a perfeita ortodoxia católica primeiro, depois anglicana, das “Old Charges”. A este respeito, o texto mais característico é, sem dúvida, o “Dumfries nº 4” (cerca de 1710), descoberto nos arquivos da Loja desta pequena cidade, localizada na Escócia, mais nos confins da Inglaterra.

O autor dá ao Templo de Jerusalém a interpretação cristã e simbólica tradicional e se inspira tanto no Venerável Bede quanto em John Bunyan. As orações são estritamente “niceanas”. As “obrigações” exigem a fidelidade a Deus, à Santa Igreja Católica (isto é, anglicana no sentido do Livro de Orações), ao mesmo tempo que ao Rei.

Os degraus da Escada de Jacob evocam a Trindade e os doze Apóstolos; o mar de Airain é o sangue de Cristo; os doze bois, os discípulos; o Templo, os filhos de Deus e a Igreja; a coluna Jaquim significa Israel; a coluna Boaz a Igreja com um toque de antijudaísmo cristão. Lemos com surpresa: “Que ela foi a maior maravilha vista ou ouvida no Templo – Deus foi homem e um homem foi Deus. Maria foi mãe e, entretanto, era virgem”.

Todo este simbolismo tradicional e a “tipologia” cristã admitida até o desenvolvimento da exegese moderna, encontra-se neste ritual. O catolicismo Romano, afirma Paul Naudon. Certamente não – ou melhor, certamente mais – porque podemos pensar que este é o redesenho de um texto mais antigo. As citações bíblicas são retiradas da “Versão Autorizada” do rei James, o que testemunha a ortodoxia anglicana do tempo da piedosa rainha Anne.

Se a Maçonaria se tinha mantido fiel a esta ortodoxia, ela não pode ter pretensões de Universalismo. E é isso, aliás, é que é regularmente produzido sempre que se quer vincular mais estritamente o ritual maçónico a uma confissão religiosa. O Rito Sueco, de essência luterana, não saiu do seu país de origem. O Rito Escocês Retificado, de tom nitidamente cristão, viu a sua expansão limitada.

Ao contrário, o REAA, os ritos agnósticos, os ritos anglo-saxões “desconfissionalizados” são susceptíveis de desenvolvimento infinito. Este é, portanto, o grande mérito de Anderson e dos criadores da Grande Loja de Londres de ter entendido perfeitamente o problema. As Constituições de 1723 permitiram a expansão, embora na linha de uma Inglaterra já orientada em direção ao fluxo.

Assim, em países cristãos, a Bíblia era e permaneceu com o VLS, os testemunhos do século XVIII são quase unânimes, e as coisas quase não mudaram. Nos países anglo-saxões, ela é a primeira “luz simbólica”, o Esquadro e o Compasso são as outras duas. No rito de Emulação atual, a Bíblia deve estar aberta sobre o triângulo do Venerável, orientada no sentido de o dignitário a poder ler, e recoberta pelo esquadro e o compasso A página na qual o livro está aberto não é indicada, mas é tradicional – e moda – abrir no Antigo Testamento, quando se inicia um israelita. Nos EUA, a Bíblia é geralmente depositada sobre um altar especial no meio do Templo.

No REAA, a Bíblia está presente, aberta durante os trabalhos e colocada sobre o “altar dos juramentos” instalado ao pé dos degraus que conduzem ao Oriente e é recoberto com um pano azul com bordas vermelhas (as cores da Ordem). Ela pode ser aberta em qualquer lugar; é aberta preferencialmente em Crónicas 2.5 e em I Reis 6.7 onde se trata da construção do “Templo de Salomão.”

Na França, a Bíblia conheceu destinos diferentes. Os documentos mais antigos que possuímos mostram grande religiosidade, de orientação um tanto jansenista, e sabemos pelos textos de origem policial, que a Bíblia era aberta no primeiro capítulo do Evangelho de João. Tradição que se conservou perfeitamente no Rito Retificado, de inspiração claramente mais cristã.

Mas, nos países católicos, a Bíblia não é, como na Inglaterra, o alimento espiritual da maioria dos cidadãos, especialmente depois que o Concílio de Trento limitou as possibilidades de leitura pelos simples fiéis. Além disso, conservando uma expressão religiosa sob a forma do Grande Arquiteto, que será colocado em questão somente em 1877, a Maçonaria francesa, na sua expressão majoritária, a Grande Loja e depois o Grande Oriente, viu desaparecer lentamente o livro dos “utensílios das Lojas” desde meados do século. Quando, nos textos de unificação do Rito Francês de 1785 – 1786, o “Livro das Constituições” assumiu o seu lugar, ao lado do esquadro e do compasso, sobre o triângulo do Venerável, não houve qualquer protesto, e nem mesmo o Inglês o formalizaram.

Exceto nos ritos totalmente seculares – como o atual Rito francês – os juramentos que acompanham a iniciação e os “aumentos de salário” são prestados sobre o VLS. O que, em 1738, irritou muito o Papa Clemente XII que, na famosa bula de excomunhão In Eminenti, fala de “juramento estrito prestado sobre a Bíblia Sagrada.” É óbvio que, para o mundo anglo-saxão, um juramento não tem valor a não ser que ele tenha um significado religioso, atitude encontrada nos tribunais ou na “inauguração” de uma Presidente americano.

Não houve grandes mudanças em três séculos: o “Manuscrito Colne nº 1” especifica a forma do juramento: “Um dos mais antigos, tomando a Bíblia, e apresentando-a, de modo que aquele ou aqueles que deve(m) ser iniciado(s) maçom(s) possa(m) pousar e deixar estendida a mão direita sobre ela.

A fórmula do juramento será então lida.” No Rito de Emulação atual, o candidato ajoelha-se e coloca a mão direita sobre o Volume da Lei Sagrada, enquanto a sua mão esquerda segura um compasso com uma das pontas dirigida contra o seio esquerdo exposto. Ao pronunciar a obrigação, o Venerável, na sua mão esquerda, trará o Volume, afirmando que a promessa foi feita “sobre este”.

No Rito Escocês Retificado – que conservou algo da tradição cavalheiresca da maçonaria francesa do Iluminismo, completamente ausente em países anglo-saxões – o candidato coloca a sua mão na espada nua do Venerável pousada sobre a Bíblia aberta no primeiro capítulo de São João.

A promessa é feita sobre “o Santo Evangelho”. No Rito Escocês Antigo e Aceito, o candidato coloca a sua mão direita sobre as “três grandes luzes” que estão sobre o “Altar dos Juramentos, o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso”, enquanto o Grande Experto coloca uma ponta do compasso sobre o seu coração e, “sob a invocação do Grande Arquiteto do Universo,” o candidato “jura solenemente sobre as Três Grandes Luzes da Maçonaria.”

Na França, nos anos 1745, de acordo com o Segredo dos Maçons do Abade Perau, o candidato se ajoelhava, o joelho direito descoberto, a garganta exposta, um compasso sobre o peito esquerdo e a mão direita sobre o Evangelho, “na presença de Deus Todo-Poderoso e desta sociedade.” Observe-se que o Rito Francês de 1785 prescrevia o juramento “sobre os estatutos gerais da Ordem, sobre esta espada, símbolo da honra e diante do Grande Arquiteto do Universo (que é Deus).

Tradução de José Filardo

Fonte: Bibliot3ca Fernando Pessoa

dezembro 27, 2024

DIA DE S. JOÃO EVANGELISTA


27 de dezembro, dia de São João Evangelista.

São João Evangelista, junto com São João Batista são os dois santos São João mencionados no ritual maçônico.

Para a Maçonaria, a Festa de São João Evangelista foi utilizada por muitas das primeiras Grandes Lojas na Inglaterra e Escócia, bem como lojas individuais. A Loja de Edimburgo estava associada ao corredor de São João Evangelista na Catedral de St. Giles já no século XV. 

A Grande Loja de toda a Inglaterra, que era um órgão maçônico localizado principalmente na cidade de York, bem como sua antecessora, a Ancient Society of Freemasons na cidade de York, elegeu seu presidente e, a partir de 1725, seu grão-mestre no Festa de São João Evangelista. 

A Ancient Grande Loja da Inglaterra também elegeu seu Grão-Mestre no mesmo dia. Quando os Antigos e os Modernos se fundiram em 1813 para se tornar a Grande Loja Unida da Inglaterra, isso ocorreu na Festa de São João Evangelista.