janeiro 21, 2025

EU SOU, TU ÉS... - Newton Agrella


Num idioma conjugar um verbo significa expressá-lo em todos os modos, tempos, pessoas, números e vozes. 

Essa flexão é o que se chama conjugação.

Em Português a conjugação dos verbos obedece regras muito rígidas e complexas, o que o torna um dos idiomas mais difíceis para se navegar em sua essência.

Quando "falamos"  o nosso objetivo é passar uma mensagem de forma clara e evidente, inobstante se houver algum artifício para que possamos imprimir alguma idéia de ironia, dúvida, incerteza, afirmação tácita ou negação peremptória.

Mesmo a linguagem oral sendo plena de licenciosidades, no sentido de "indisciplina gramatical",  a conjugação dos verbos deve seguir um mínimo de pudor linguístico, para que o que se deseja transmitir esteja  vinculado a um ínfimo de coerência.

Diante disso, exemplos diários que se constituem em  verdadeiros "estupros auditivos" como:

"...A gente vamos..."

"...Nóis vai..."

"...Ele veve..."

"...Nóis pode..."

"...Eu vou estar mandando..."

"...Ela vai estar ligando..."

denotam a completa indiferença ou qualquer forma de compromisso com a natureza de nossa capacidade de comunicação.

Que fique claro que isso nada tem a ver com gírias, expressões idiomáticas, contrações vocabulares ou coisa semelhante...

A conjugação verbal mede a temperatura, a densidade e o conteúdo de um tema, seja diante de um diálogo ou de uma mera narrativa.

A conjugação é o termômetro que indica o tempo, a ação o estado e a conectividade  entre os pensamentos.

Ao conseguirmos conjugar um verbo em Português devemos nos sentir "heróis da resistência"  por preservarmos com dignidade a riqueza de  nossa Identidade cultural.

Lembrando sempre que a Língua é a nossa Pátria.



janeiro 20, 2025

APENAS UMA POSTAGEM POR DIA



Bom e abençoado dia amados leitores e irmãos.

Nosso modesto blog ultrapassou a marca de 3.100 postagens, uma quantidade impressionante de bons textos de grandes autores.

Tenho observado pelo sistema de gestão do blog que os leitores acessam varias postagens em cada entrada.

Em respeito ao tempo de cada leitor e para permitir que o irmão possa pesquisar no tesouro de informações maçônicas e culturais, a partir de hoje vamos postar apenas um texto nos dias de semana e no máximo três nos fins de semana e feriados.

Reitero que os inscritos no blog que ainda não receberam o ebook de brinde "Falando e Convencendo, um manual de oratória e persuasão", por favor me informem no whatsapp 61.9.8199.5133 que remeterei imediatamente.

Agradeço emocionado aos mais de 558.000 acessos que nos colocam entre os blogs maçônicos mais vistos do país.

Michael Winetzki 

A MARCHA DO APRENDIZ - João Lima



Bom dia! A ciência constatou que cada lado do cérebro humano possui características específicas e distintas: enquanto o lado direito é ligado às emoções e à intuição, o lado esquerdo é ligado à lógica e à razão. Sabe-se também que cada lado comanda o lado oposto do corpo, de forma que o braço direito é controlado pelo lado esquerdo do cérebro.

É por isso que sempre adentramos o Templo Maçônico com o pé esquerdo: entrar com o pé esquerdo é “colocar pra trabalhar” primeiro o lado direito do cérebro, é colocar a fé, a intuição e a sensibilidade à frente da lógica e da razão. E faz todo sentido que seja assim! Afinal, quando fomos convidados para participar da Ordem o nosso padrinho não perguntou se acreditávamos na lógica e na razão, mas se acreditávamos em Deus. 

Ser Maçom exige crer, de forma que é natural que coloquemos as emoções (incluindo aí a tolerância, respeito, solidariedade e altruísmo) à frente dos aspectos práticos e da razão. 

Mas, é claro, não vivemos só de sentimento, de forma que o equilíbrio vem quando juntamos a fé e a razão: nem cremos cegamente, sem questionar nada, nem duvidamos de tudo, fechando os olhos da alma.

Mesmo a marcha do Aprendiz nos mostra isso: avançamos com o pé esquerdo e o pé direito se junta a ele. Primeiro avançamos com fé, depois a lógica nos sustenta. Simbolicamente, podemos dizer também que o pé esquerdo representa nossas emoções e sentimentos, como a capacidade de desejar um mundo mais justo e fraterno, com igualdade de direitos e liberdade para todos. 

Enquanto isso, o pé direito representa aquilo que nos impede de crer plenamente, de sentir (e amar) plenamente. Sim, é a lógica que nos diz que quem nos ofendeu pode nos ofender de novo (o que impede ou atrasa a reconciliação e o perdão), que a sociedade é desigual e injusta porque sempre foi assim e que não adianta lutar porque não conseguiremos mudar o mundo. 

Em resumo, podemos dizer que o pé esquerdo representa nossas virtudes, enquanto o pé direito representa nossos vícios. Então a marcha do Aprendiz ganha outro significado: eu avanço por minhas virtudes (pé esquerdo) levando comigo meus vícios, que procuro dominar (pé direito, em uma posição que não é a natural). 

E é isso, avançar por meio da virtude, enquanto se procura dominar os vícios e submeter a vontade é que nos faz um pouquinho melhores a cada dia.

 Coloquemos, portanto, o pé esquerdo à frente, avançando com sentimentos de coragem, otimismo e vontade de fazer de nós pessoas melhores e do mundo um lugar melhor, sem esquecer que a razão deve “temperar” e equilibrar nossa caminhada. 

Que ao final dessa semana que se inicia possamos ter a alegria de ter caminhado com equilíbrio rumo a nos tornarmos aquilo que estamos destinados a ser, arrancando mais algumas lasquinhas de nossa pedra bruta nesse constante processo de auto evolução. Que o G.’.A.’.D.’.U.’. nos fortaleça a sustente nessa caminhada! Excelente e abençoada semana pra você! Fraterno abraço



janeiro 19, 2025

CAFÉ DA MANHÃ DE DOMINGO - Hélio Leite


 "Cuidai para não cravares os espinhos da ingratidão e da indiferença em corações que um dia te envolveram de conforto, amizade e amor. Não há nada pior para alguém do que se tornar ingrato. A ingratidão sempre denota a existência de outro defeito maior: o orgulho. 

Cuidai irmãos, para manterdes a simplicidade, a humildade e o Amor, que devem nutrir os nossos corações. Lembrai-vos de que somente os bons sentimentos nos ampara e nos garantirão as alegrias celestes na eternidade".

As pessoas de bom caráter cultivam o hábito da gratidão, a começar por pequenos gestos e ações, como saber dizer "muito obrigado", "grato ou gratíssimo". 

Ter gratidão é saber reconhecer as ajudas que se recebe em nosso dia a dia. Ser ingrato é ser egoísta, orgulhoso, sem humildade e desmemoriado. Neste domingo vamos incutir em nossas mentes a obrigação de sermos gratos. Amém.

LUZ VERDADEIRA - Adilson Zotovici


Jamais estarás sozinho

Nesta senda alvissareira

Terás teu pão e teu vinho

E tua tenda sobranceira


Com zelo, devagarinho

Tu formarás tua renda

Pra tudo terás um tempinho

Do bem, teu selo e legenda


Pela razão te sublinho

Com coração de oferenda

Livrar-te-á dum espinho


Quem te conduz altaneira

Iluminando o caminho

É tua Luz verdadeira !



HERMETISMO, CABALA E MACONARIA

 

Palestra extraordinária do polímata irmão Eleutério Nicolau da Conceição 



janeiro 18, 2025

ESTIGMAS DA INICIAÇÃO - Roberto Ribeiro Reis


Se pudesse fazer uma canção,

Retrataria a beleza da Iniciação,

O que faria com alegria e gosto;

Conhecer a Luz é algo singular,

Traz conhecimento, ensina o amar,

O que se vê na expressão do rosto.


Deixa marcas indeléveis no coração,

Um espírito de paz e muita satisfação,

Tornando o Iniciado um ser especial;

A ascensão pela almejada escada

É paulatina, há de ser conquistada.

Caso o Obreiro seja mais fraternal.


Afinal, não é isso a Maçonaria?

Ver o próximo com mais empatia,

Tratando-o com devido respeito;

Saber que todos somos iguais,

Que depois daqui há algo a mais,

Um plano tão Justo e Perfeito!


Marcas melhores que tatuagens,

Pois nos remetem às imagens

De um passado saudosista;

Estigmas de inconfundível valor,

Do que significa esse puro Amor,

Amor logo sentido à primeira vista!



OS DOIS PILARES - Marcello Carneiro


Como Maçons, e pertencentes a Ordem Maçônica Universal, temos o dever de tornar Feliz a Humanidade, mas para isso precisamos nos preparar em todos os sentidos, para assim podermos Suprir a contento os anseios de uma Sociedade Humana decaída, de uma sociedade humana totalmente despreparada, e assim sendo é tratada pelos seus "líderes" como massa de manobra para satisfazer aos seus próprios interesses escusos. 

Então como poderemos ser um "Diferencial de Ética e Moral" em meio a tanta desigualdade Social. Sinceramente eu só vejo um caminho, e vou citar Dois pilares de sustentação da evolução Humana: "EDUCAÇÃO e CULTURA", longe dessas vertentes Libertadoras continuaremos escravos das Cadeias Midiáticas que nos são impostas todos os Dias, somos bombardeados de todos os lados, e chega a ser sufocante essa propaganda massiva que fazem as "Oligarquias Sucessórias", que já controlam os nossos Corações e Mentes a Séculos. 

Vivemos no limiar da pior experiência humana (Época) de sociedade, pois os Dispositivos "Eletrônicos Digitais" que nos conectam a todos por meio da Internet, e outra Waves (mídias) ditam a cada dia mais os "nossos afazeres do dia", uma prisão cibernética aonde Impera a "Bestialidade", aonde cresce de forma exponencial: "O Não saber, o saber Mal e o Saber Errado", ... Não existem "Fakes" ... Não mesmo, existem sim "mentes ou dementes", por trás disso tudo, que Sabem Exatamente o que querem, e o que pretendem. 

Então não podemos nos dar ao Luxo de sermos: Inertes, Omissos e até mesmo Despreparados... É nessa hora que temos que colocar em prática todo nosso Conhecimento a fim de resgatar a humanidade desse abismo comportamental induzido, agora é a Hora de se cavar masmorras aos vícios e levantarmos templos as Virtudes, e o caminho direto para essas conquistas não é outro se não a preparação antecipada e de qualidade, cito novamente a Educação e Cultura, essas sim são as tábuas de Salvação que poderão tirar a humanidade decaída das trevas do Obscurantismo aonde anda: trêmula, cambaleante e sem direção. 


                                  Prof: M

A LOUCURA NA LITERATURA - Oliver Harden


Shakespeare, possivelmente um dos maiores inquiridores da condição humana sob a ótica moderna, emerge, em sua obra, como uma força intelectual que transcende a temporalidade. Assim como Cervantes problematiza a loucura como um contraponto paradoxalmente saudável à razão em Dom Quixote, Shakespeare, de modo singular, em sua tragédia máxima, Hamlet, propõe uma reflexão sobre o excesso da razão, que, por sua vez, subjuga o indivíduo à inércia e à covardia.


A narrativa de Hamlet apresenta o drama do príncipe da Dinamarca, cuja vida é irremediavelmente alterada pela morte abrupta e misteriosa de seu pai, o rei. Incapaz de aceitar as circunstâncias que envolvem esse acontecimento, Hamlet é confrontado pela aparição espectral de seu genitor, que revela a verdadeira causa de sua morte: um regicídio perpetrado pelo próprio irmão, agora usurpador do trono e marido da rainha, mãe de Hamlet.


De posse dessa verdade sombria, Hamlet ingressa em um processo de dolorosa constatação. A justiça clama por ação, o fantasma do pai exige vingança, mas o jovem príncipe se encontra paralisado diante do imperativo de agir. O vil ato que levou o tio ao poder não apenas subverteu a ordem política, mas instaurou uma dissonância ética e moral no âmago do reino. “Há algo de podre no reino da Dinamarca” — e tal podridão não se restringe ao trono, mas reverbera na alma humana e na ordem cósmica.


Essa dimensão ética ganha uma ressonância contemporânea, pois, assim como na Dinamarca de Hamlet, o desequilíbrio moral do ser humano moderno também ecoa em desajustes naturais. Vivemos em uma época em que as ações humanas – ou a ausência de ações necessárias – ameaçam a própria sobrevivência do planeta. O dilema de Hamlet, portanto, adquire contornos proféticos: sua hesitação em agir ressoa na inércia coletiva que observamos diante das crises ambientais, sociais e éticas que nos cercam.


O cerne de Hamlet, no entanto, não reside apenas no contexto político ou nas demandas de justiça, mas, sobretudo, na profundidade psicológica e ética do protagonista. Enquanto príncipe, Hamlet carrega o fardo de restaurar a ordem no reino; enquanto homem, ele se vê enredado em sua própria introspecção. “Maldita a sina que me fez nascer em tempos tão desconcertados; cabe a mim consertá-los.” Esta lamentação de Hamlet, impregnada de melancolia, é uma reflexão profundamente humana e universal, que nos leva a questionar: reclamamos dos tempos em que vivemos, mas reconhecemos que somos, em última instância, responsáveis por eles?


É nesse contexto que irrompe o célebre monólogo “Ser ou não ser, eis a questão”, uma das passagens mais emblemáticas da literatura ocidental. Essa frase, que habita o imaginário coletivo, transcende a dimensão teatral e emerge como uma meditação sobre o dilema entre o pensar e o agir. Ao longo da peça, percebemos que Shakespeare estabelece uma relação intrínseca entre “ser” e “fazer”: o ser autêntico manifesta-se no agir. Para agir, porém, é necessário pensar; mas o excesso de pensamento, como o próprio Hamlet conclui, transforma a coragem em covardia.


Hamlet, ao procrastinar a vingança, sucumbe às armadilhas do excesso de razão, tornando-se vítima de suas próprias paixões e omissões. Sua hesitação em cumprir o dever no momento oportuno conduz a atos trágicos e desnecessários, que resultam na morte de inocentes e no agravamento do caos. Shakespeare parece advertir: quando deixamos de agir no momento devido, abrimos espaço para ações precipitadas e destrutivas. Assim, ao negligenciar o que deve ser feito, perdemos não apenas o momento, mas a própria essência do ser.


No coração dessa tragédia está uma mensagem ética fundamental: somos aquilo que fazemos, não o que pensamos. Nesse ponto, Shakespeare parece dialogar criticamente com o pensamento emergente de sua época, especialmente com Descartes, que viria a afirmar: “Penso, logo existo”. Shakespeare, por meio de Hamlet, apresenta um contraponto: “Não basta pensar; é preciso agir.” A essência da humanidade reside, mais do que em suas ideias, em seus atos. Em última análise, Hamlet nos oferece uma meditação atemporal sobre o imperativo ético do agir, sobre a conexão indissolúvel entre o ser e o fazer, e sobre a responsabilidade que cada um de nós carrega na construção, ou destruição, do mundo que habitamos.



janeiro 17, 2025

"UBUNTU" - O INFINITO DA ALMA - Newton Agrella


É extremamente revigorante quando conseguimos abstrair com intensidade o significado de fraternidade, de compaixão, de entrega e de igualdade, sobretudo quando nos deparamos com os exemplos e ensinamentos que comunidades quilombolas aqui no Brasil  conseguem nos transmitir, através de um sistema ético, moral, cultural e social que se traduz pelo substantivo "Ubuntu".

Numa série veiculada através do Canal Futura, conseguimos entender um pouco mais, o complexo processo de sobrevivência econômica dos descendentes de negros que sofreram as inomináveis agruras da escravidão, e o modo como conseguem preservar seus valores culturais, religiosos e políticos, tais como o direito à terra , a resistência a invasões de seus territórios, e mantendo a produção comunitária como sua força básica de sobrevivência.

Utilizada pelos falantes das línguas Zulu e Xhosi, ambas da família da língua Bantu, faladas no sul do continente africano, a  palavra "Ubuntu", não traduzível literalmente, sugere a ideia e o conceito  de "humanidade para com os outros";  algo como "doar-se sem enfraquecer".

O  termo exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. 

Algo como se disséssemos: "...a minha humanidade está intrinsicamente ligada à sua humanidade".

É justamente essa noção de fraternidade, que de algum modo, pode ser comparada à Maçonaria.

Essa entrega fraterna simboliza compaixão e abertura de alma e espírito e se opõe diametralmente ao individualismo.

Do ponto de vista ético, o conceito do Ubuntu reafirma a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, assumindo-se uma ética humanista.

A simbologia do Ubuntu se manifesta através de "pessoas de mãos dadas formando um círculo".

E sua alegoria é interpretada num enredo que sugere os princípios da liberdade, da cooperação, da precisão e da confiabilidade. 

Essa alegoria ainda revela os conceitos de “Humanidade para os outros” ou “Sou o que sou pelo que nós somos”.

O Ubuntu se manifesta ainda como um comportamento e uma forma de vida que encontra suporte na conduta moral, na noção de religiosidade, de reafirmação das origens e sobretudo no orgulho de uma história marcada pela resiliência, força, determinação e de uma luta sem fim pelos direitos à igualdade.

Nunca é demais lembrar que somos todos seres humanos, partículas do universo, passivos de dor, de amor, de erros e de acertos e que nosso valor não se traduz pela origem, pela raça ou pela cor.



LIBERDADE DE PENSAMENTO - Raimundo Rodrigues


Quando dizemos que a Maçonaria é uma Escola de filosofar, assim o fazemos porque entre nós se exige estudo, pesquisa, meditação.

No entanto, não tememos afirmar que nossa Ordem é fundamentalmente filosófica, uma vez que ela tem por mira alcançar um ideal superior.

A beleza do filosofar maçônico está no estudo comparativo dos sistemas filosóficos que a história nos proporciona.

A Maçonaria não se prende a uma escola ou a um determinado sistema, porque se tal o fizesse estaria tirando a liberdade de de pensamento de seus membros, obrigando-os a seguir um único e mesmo caminho.

Haveria, então, é de supor-se, uma verdadeira lavagem cerebral.

Se tal ocorresse mais cedo ou mais tarde, nossa Ordem ou se desvirtuaria ou desapareceria.

O Maçom tem inteira liberdade de interpretação, pois o símbolo permite exegese variada e, muitas vezes, desigual.

Se houver uma uniformidade obrigatória de interpretação, isto seria um verdadeiro atentado contra um dos sagrados postulados que ela prega: liberdade.

Portanto, é impossível, maçônicamente, alguém pretender fixar determinada corrente ideológica.

A preocupação maçônica pelo ser, pelo conhecer, pelo alcançar a verdade, exige análises, debates, troca de ideias e, sobretudo, respeito ao pensamento alheio.

O esoterismo se sobrepõe ao exoterismo, porque os problemas interiores merecem maior atenção que os exteriores.

O Maçom deve conscientizar-se de que tem um compromisso consigo mesmo, com o seu pensar, com o que fazer de sua vida maçônica.

Ele não pode prescindir de si próprio, não pode prescindir de seus direitos e, sobretudo, de seus deveres, porque se o fizer, estaria negando-se como ser, como homem, como Maçom.

Não podemos escapar da grande verdade de que o saber humano, mormente o saber filosófico – vem do homem, pelo homem e para o homem.

Devemos ter sempre diante dos olhos esta verdade: a Maçonaria proporciona aos seus membros os meios necessários para que adquiram o saber.

Infeliz do Maçom que disto não se aperceber...

É necessário, no entanto, que tenhamos a melhor boa vontade em assimilarmos tudo àquilo que ela põe ao nosso dispor, não só para adquirirmos o saber, mas também para alcançarmos aquele Grau de educação maçônica que nos projetará como verdadeiros e autênticos Maçons.

Do livro A Filosofia da Maçonaria Simbólica – Vol. 1,Londrina : A Trolha, 1999,

janeiro 16, 2025

A AGENDA PERDIDA DOS MAÇONS NEGROS - Carlos Nobre e Mauro Justino



Um dos capítulos memoráveis da história brasileira é a relação da Maçonaria com a comunidade negra. A instituição dos pedreiros livres teve (e tem) grandes quadros negros. Ela organizou a luta pela libertação do país em diversos momentos históricos - desde dos fins do século XVII quando chegou ao Brasil - e se fortaleceu institucionalmente ao  lutar por mais de 50 anos pela libertação escrava  que culminou em 13 de maio de 1888 com a assinatura da Lei Áurea. Este ano a lei que libertou os escravos completa 115 anos de existência, após ser assinada pela Princesa Isabel, sob influência dos ministros maçônicos do Império já enfraquecido pelo ideário republicano.

Para se ter uma ideia, o famoso trio abolicionista  do século XIX – os mulatos André Rebouças, José do Patrocínio e Luiz Gama – eram maçons em lojas cariocas e paulistas. Foram eles que fundamentaram a cultura da libertação dos negros através de artigos, manifestos, atos públicos,  conquista de adeptos para a causa e com discursos inflamados país afora. 

Com apoio maçônico, o trio afrodescendente ligou seus nomes  definitivamente à causa da libertação negra. Essa luta contou com a participação na época de quase todas as lojas maçônicas espalhadas pelo país. Considerado um dos pioneiros da engenharia brasileira, Rebouças foi um dos maiores panfletários da causa negra na antiga Escola de Engenharia do Largo do São Francisco e criador de vários jornais abolicionistas. 

No mesmo ritmo de Rebouças, o jornalista José do Patrocínio percorria o país conclamando os irmãos maçons  a aderirem a causa da libertação. Já o advogado Luiz Gama, filho de Luiza Mahin, uma das líderes femininas da Revolta dos Negros Islamizados de Salvador, em meados do século XIX, escrevia poesias e discursos de forte impacto visual para fortalecer a causa da libertação. 

Tido como mulato, o advogado Rui Barbosa, uma das grandes figuras públicas do Brasil do final do século XIX, foi  acusado de ter ordenado a queima de documentos referentes às origens dos escravos no Brasil, e com isso,  dificultou a recuperação da identidade afro-brasileira.

Barbosa, no entanto, como maçom da Loja América, de São Paulo, talvez tenha produzido um dos documentos mais percucientes do movimento abolicionista.     Em 7 de julho de 1868,  segundo  Tenório de Albuquerque, autor de “A Maçonaria e a libertação dos escravos”,  na Loja América,   onde também pontificou Luiz Gama,  Barbosa leu o seu “Projeto de Abolição”, cuja cópia foi reproduzida em suas obras completas.  Este projeto, segundo  Tenório de Albuquerque, entre outras medidas,  previa que a Maçonaria, dali por diante : 1. Deveria lutar pela emancipação do escravo e criar meios para educá-lo para novas tarefas em nova sociedade, de fundo capitalista onde o trabalho era assalariado e não escravo. 2. Todas as lojas maçônicas atuais e futuras não receberiam tal título se não adotassem a luta pela emancipação dos escravos. 3. Todas as lojas deveriam criar um fundo especial para comprar alforrias de crianças escravas, e mesmo de adultos. 4. Todas as lojas deveriam criar escolas diurnas e noturnas para a educação dos ex escravos, como forma de reparação pelo crime do escravismo. 5. A partir daquele momento, ninguém seria iniciado na ordem  se tivesse escravos ou ligação com os traficantes.

Divulgadas em outras lojas, o “Projeto de Abolição “ de Barbosa acabou influenciando as demais unidades maçônicas espalhadas pelo Brasil. No Amazonas, a Maçonaria comprou um jornal, assumiu sua direção e passou a veicular a luta abolicionista através de artigos e estudos. No Ceará,  o então governador maçom Sátiro Dias, assinou decreto extinguindo a escravidão naquele estado, em 1884. Era o primeiro estado brasileiro a libertar os negros quatro antes da Lei Áurea, que acabou sendo decretada em 13 de maio de 1888 após intenso trabalho dos abolicionistas. 

Uma das indagações mais intrigantes hoje é saber porque  não vingou a agenda reformista dos maçons negros e de outros abolicionistas na sociedade brasileira, isto é, porque não houve a reforma social prevista por Barbosa, Rebouças, Gama, Patrocínio, Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno, Eusébio de Queiroz  e outros nomes de destaque das lutas sociais do século XIX ?  Todos esperavam que,  após 1888, o estado brasileiro iria implementar as políticas previstas pelo movimento abolicionista, mas o quê foi implantado diferiu completamente do estabelecido na agenda dos maçons negros. 

Passados 115 anos da libertação,  a situação da comunidade negra permanece inalterada. A agenda dos maçons negros foi perdida e urge reencontrá-la. Essa agenda anos pedia que fosse implementadas para o ex-escravo a reforma agrária, educação integral, criação de centros de saúde, políticas especiais para crianças, qualificação da mão de obra, desenvolvimento comunitário, reivindicações tão comuns hoje, que, parece fora de foco retomar a discussão dessas antigas pautas reformistas que vez em quando vivem nos assustando. 

*Carlos Nobre é professor da PUC- Rio e Mauro Justino é sociólogo. 


EM ITÁLICO E NEGRITO - Roberto Ribeiro Reis


O destaque vai para quem vai à luta,

O Irmão que desde cedo já labuta,

Visando o aprimoramento interior;

Obreiro no qual sempre acredito,

Nome marcado em itálico e negrito,

Pelas conquistas lhe dão o seu valor.


O amor é a Luz que vem do infinito,

A bênção do Eterno (e isso tenho dito)

Provando dessa vida com gratidão;

Seja no Oriente, Sul ou coluna do norte,

A Maçonaria é a nossa grande sorte,

Que nos retira o véu da escuridão.


Essa menção honrosa vai ao Obreiro,

Que não se desvia do caminho certeiro

Consegue chegar ao destino que precisa;

Sua espada o sangue jamais derrama,

Pois é pelo verbo que vem a sua fama:

A conduta irretocável em que se baliza.


O Maçom é discreto e, anonimamente,

Tem deixado o mundo mais diferente,

Com a ideologia que alude à liberdade;

Não tem a vaidade que precisa aparecer,

E quando em Loja ele só deseja crescer,

Pois assim também cresce a humanidade!