janeiro 22, 2025

A Lenda da Tábua Dourada e as Doze Cidades Ocultas



A lenda da Tábua Dourada é um dos mistérios mais intrigantes associados ao antigo Egito. Segundo a tradição, essa relíquia supostamente contém um texto sagrado que revela a existência de doze cidades ocultas, escondidas sob a terra e protegidas pelos poderes mágicos dos faraós. Acredita-se que a cada dia, os raios do sol iluminam essas cidades, mas apenas uma delas repousa sob as águas, enquanto as outras permanecem enterradas nas profundezas do deserto.

Cada uma dessas cidades carrega um significado especial. A primeira cidade guarda a "Chave da Vida", um enigma profundo que ainda não foi solucionado. A segunda cidade simboliza o "Olho", representando a vigilância e a proteção divina. As outras dez cidades, adornadas com intrincadas inscrições, narram histórias de riqueza incalculável e segredos ocultos que prometem conhecimento e poder para aqueles que conseguirem decifrar seus símbolos enigmáticos.

Reza a lenda que a Tábua Dourada foi escondida nos corredores de um templo antigo, protegida por feitiços lançados pelos sacerdotes do faraó. Diz-se que a pessoa capaz de decifrar suas inscrições descobrirá tesouros além da imaginação, talvez até mesmo segredos sobre a imortalidade, a ascensão espiritual e o verdadeiro propósito da vida.

Apesar de sua popularidade no folclore egípcio e em teorias modernas sobre mistérios antigos, não há evidências concretas que comprovem a existência da Tábua Dourada ou das cidades ocultas. No entanto, sua história ecoa crenças reais dos egípcios, que consideravam a escrita hieroglífica como portadora de poder mágico e acreditavam em locais sagrados escondidos, como as tumbas dos faraós e as câmaras secretas das pirâmides.

Arqueólogos e estudiosos da egiptologia, como Zahi Hawass e Salima Ikram, dedicaram suas carreiras à exploração dos mistérios do Egito Antigo, desvendando templos, tumbas e artefatos genuínos que revelam os segredos dessa civilização. Descobertas notáveis, como os textos da Pirâmide de Unas, o Papiro de Ani (Livro dos Mortos), e as inscrições do Templo de Karnak, fornecem um vislumbre autêntico das crenças egípcias sobre a vida após a morte e os conhecimentos ocultos dos sacerdotes.


Embora a Tábua Dourada possa não ter sido encontrada, sua lenda reflete o fascínio contínuo pelo Egito Antigo, onde mitos e realidade se entrelaçam em uma busca eterna por conhecimento e mistério.

Fontes:

HAWASS, Zahi. Secrets from the Sand: My Search for Egypt's Past. New York: Harry N. Abrams, 2003.

IKRAM, Salima. Death and Burial in Ancient Egypt. London: Longman, 2003.

FAULKNER, Raymond. The Egyptian Book of the Dead: The Book of Going Forth by Day. San Francisco: Chronicle Books, 2008.

SHAW, Ian (ed.). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford: Oxford University Press, 2000.

*IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA. 

PROFANOS DE AVENTAL: QUANTA INTOLERÂNCIA! - Marco Aurélio M. de Mello


Não se sabe ao certo quando surgiu a expressão “Profanos de avental”. Entretanto, é inconteste que circula no meio maçônico há tempo suficiente para que Aprendizes, Companheiros e Mestres passassem a usá-la para designar o maçom que não conseguiu absorver ou externar a doutrina da Maçonaria Universal ou que apresenta um comportamento desviante, inerte, incapaz de contribuir para tornar feliz a humanidade.

Precisamos refletir sobre a inadequação dessa expressão no seio maçônico, uma vez que profano de avental é o não iniciado que encontrou o avental do maçom e o pôs, inocentemente, em si mesmo.

De outra sorte, a frase traz em si uma grande carga de preconceito, erro e intolerância. Nega a origem do maçom, sua vida social e familiar, e põe todos os profanos numa vala comum em que predomina a preguiça, a arrogância, a incapacidade e a imperfeição. Atire a primeira pedra quem for perfeito!

Não se pode esquecer que todo maçom foi um profano livre e de bons costumes que ingressou na franco-maçonaria para aperfeiçoar sua natureza, logo, ferrá-lo com o estigma de “profano de avental” é afirmar que a maçonaria o tornou um mau cidadão. Melhor seria, nessa concepção, que nem tivesse conhecido a luz que o levou às trevas.

Com efeito, inexiste maçom que seja “profano de avental”, tem-se, no máximo, “MAÇOM LATENTE”, ou seja, aquele em que o espírito da Arte Real ainda está latente, e embora apto ao serviço ainda não está desperto para a obra.

Não se agrega valor por meio de expressões pejorativas. Precisamos ensinar nossos maçons a usar o cinzel e o malho, afinal de contas ninguém forma ninguém. Nossa tarefa é estimular uns aos outros na prática das virtudes.

Ademais, os IIr∴ que cansaram e ficaram desmotivados na jornada merecem, ainda, respeito, carinho e compreensão. É nosso dever auxiliá-los e tentar reconduzi-los ao trabalho da Loja. Por isso, solicitamos aos Aprendizes, Companheiros e Mestres a repudiar o uso oral ou escrito da expressão “Profanos de Avental” em seu sentido aviltante à dignidade do ser humano.

É necessário amar ao próximo. Maçonaria é amor e quem ama é tolerante, mas não se é tolerante com aquilo que não se ama.

janeiro 21, 2025

EU SOU, TU ÉS... - Newton Agrella


Num idioma conjugar um verbo significa expressá-lo em todos os modos, tempos, pessoas, números e vozes. 

Essa flexão é o que se chama conjugação.

Em Português a conjugação dos verbos obedece regras muito rígidas e complexas, o que o torna um dos idiomas mais difíceis para se navegar em sua essência.

Quando "falamos"  o nosso objetivo é passar uma mensagem de forma clara e evidente, inobstante se houver algum artifício para que possamos imprimir alguma idéia de ironia, dúvida, incerteza, afirmação tácita ou negação peremptória.

Mesmo a linguagem oral sendo plena de licenciosidades, no sentido de "indisciplina gramatical",  a conjugação dos verbos deve seguir um mínimo de pudor linguístico, para que o que se deseja transmitir esteja  vinculado a um ínfimo de coerência.

Diante disso, exemplos diários que se constituem em  verdadeiros "estupros auditivos" como:

"...A gente vamos..."

"...Nóis vai..."

"...Ele veve..."

"...Nóis pode..."

"...Eu vou estar mandando..."

"...Ela vai estar ligando..."

denotam a completa indiferença ou qualquer forma de compromisso com a natureza de nossa capacidade de comunicação.

Que fique claro que isso nada tem a ver com gírias, expressões idiomáticas, contrações vocabulares ou coisa semelhante...

A conjugação verbal mede a temperatura, a densidade e o conteúdo de um tema, seja diante de um diálogo ou de uma mera narrativa.

A conjugação é o termômetro que indica o tempo, a ação o estado e a conectividade  entre os pensamentos.

Ao conseguirmos conjugar um verbo em Português devemos nos sentir "heróis da resistência"  por preservarmos com dignidade a riqueza de  nossa Identidade cultural.

Lembrando sempre que a Língua é a nossa Pátria.



janeiro 20, 2025

APENAS UMA POSTAGEM POR DIA



Bom e abençoado dia amados leitores e irmãos.

Nosso modesto blog ultrapassou a marca de 3.100 postagens, uma quantidade impressionante de bons textos de grandes autores.

Tenho observado pelo sistema de gestão do blog que os leitores acessam varias postagens em cada entrada.

Em respeito ao tempo de cada leitor e para permitir que o irmão possa pesquisar no tesouro de informações maçônicas e culturais, a partir de hoje vamos postar apenas um texto nos dias de semana e no máximo três nos fins de semana e feriados.

Reitero que os inscritos no blog que ainda não receberam o ebook de brinde "Falando e Convencendo, um manual de oratória e persuasão", por favor me informem no whatsapp 61.9.8199.5133 que remeterei imediatamente.

Agradeço emocionado aos mais de 558.000 acessos que nos colocam entre os blogs maçônicos mais vistos do país.

Michael Winetzki 

A MARCHA DO APRENDIZ - João Lima



Bom dia! A ciência constatou que cada lado do cérebro humano possui características específicas e distintas: enquanto o lado direito é ligado às emoções e à intuição, o lado esquerdo é ligado à lógica e à razão. Sabe-se também que cada lado comanda o lado oposto do corpo, de forma que o braço direito é controlado pelo lado esquerdo do cérebro.

É por isso que sempre adentramos o Templo Maçônico com o pé esquerdo: entrar com o pé esquerdo é “colocar pra trabalhar” primeiro o lado direito do cérebro, é colocar a fé, a intuição e a sensibilidade à frente da lógica e da razão. E faz todo sentido que seja assim! Afinal, quando fomos convidados para participar da Ordem o nosso padrinho não perguntou se acreditávamos na lógica e na razão, mas se acreditávamos em Deus. 

Ser Maçom exige crer, de forma que é natural que coloquemos as emoções (incluindo aí a tolerância, respeito, solidariedade e altruísmo) à frente dos aspectos práticos e da razão. 

Mas, é claro, não vivemos só de sentimento, de forma que o equilíbrio vem quando juntamos a fé e a razão: nem cremos cegamente, sem questionar nada, nem duvidamos de tudo, fechando os olhos da alma.

Mesmo a marcha do Aprendiz nos mostra isso: avançamos com o pé esquerdo e o pé direito se junta a ele. Primeiro avançamos com fé, depois a lógica nos sustenta. Simbolicamente, podemos dizer também que o pé esquerdo representa nossas emoções e sentimentos, como a capacidade de desejar um mundo mais justo e fraterno, com igualdade de direitos e liberdade para todos. 

Enquanto isso, o pé direito representa aquilo que nos impede de crer plenamente, de sentir (e amar) plenamente. Sim, é a lógica que nos diz que quem nos ofendeu pode nos ofender de novo (o que impede ou atrasa a reconciliação e o perdão), que a sociedade é desigual e injusta porque sempre foi assim e que não adianta lutar porque não conseguiremos mudar o mundo. 

Em resumo, podemos dizer que o pé esquerdo representa nossas virtudes, enquanto o pé direito representa nossos vícios. Então a marcha do Aprendiz ganha outro significado: eu avanço por minhas virtudes (pé esquerdo) levando comigo meus vícios, que procuro dominar (pé direito, em uma posição que não é a natural). 

E é isso, avançar por meio da virtude, enquanto se procura dominar os vícios e submeter a vontade é que nos faz um pouquinho melhores a cada dia.

 Coloquemos, portanto, o pé esquerdo à frente, avançando com sentimentos de coragem, otimismo e vontade de fazer de nós pessoas melhores e do mundo um lugar melhor, sem esquecer que a razão deve “temperar” e equilibrar nossa caminhada. 

Que ao final dessa semana que se inicia possamos ter a alegria de ter caminhado com equilíbrio rumo a nos tornarmos aquilo que estamos destinados a ser, arrancando mais algumas lasquinhas de nossa pedra bruta nesse constante processo de auto evolução. Que o G.’.A.’.D.’.U.’. nos fortaleça a sustente nessa caminhada! Excelente e abençoada semana pra você! Fraterno abraço



janeiro 19, 2025

CAFÉ DA MANHÃ DE DOMINGO - Hélio Leite


 "Cuidai para não cravares os espinhos da ingratidão e da indiferença em corações que um dia te envolveram de conforto, amizade e amor. Não há nada pior para alguém do que se tornar ingrato. A ingratidão sempre denota a existência de outro defeito maior: o orgulho. 

Cuidai irmãos, para manterdes a simplicidade, a humildade e o Amor, que devem nutrir os nossos corações. Lembrai-vos de que somente os bons sentimentos nos ampara e nos garantirão as alegrias celestes na eternidade".

As pessoas de bom caráter cultivam o hábito da gratidão, a começar por pequenos gestos e ações, como saber dizer "muito obrigado", "grato ou gratíssimo". 

Ter gratidão é saber reconhecer as ajudas que se recebe em nosso dia a dia. Ser ingrato é ser egoísta, orgulhoso, sem humildade e desmemoriado. Neste domingo vamos incutir em nossas mentes a obrigação de sermos gratos. Amém.

LUZ VERDADEIRA - Adilson Zotovici


Jamais estarás sozinho

Nesta senda alvissareira

Terás teu pão e teu vinho

E tua tenda sobranceira


Com zelo, devagarinho

Tu formarás tua renda

Pra tudo terás um tempinho

Do bem, teu selo e legenda


Pela razão te sublinho

Com coração de oferenda

Livrar-te-á dum espinho


Quem te conduz altaneira

Iluminando o caminho

É tua Luz verdadeira !



HERMETISMO, CABALA E MACONARIA

 

Palestra extraordinária do polímata irmão Eleutério Nicolau da Conceição 



janeiro 18, 2025

ESTIGMAS DA INICIAÇÃO - Roberto Ribeiro Reis


Se pudesse fazer uma canção,

Retrataria a beleza da Iniciação,

O que faria com alegria e gosto;

Conhecer a Luz é algo singular,

Traz conhecimento, ensina o amar,

O que se vê na expressão do rosto.


Deixa marcas indeléveis no coração,

Um espírito de paz e muita satisfação,

Tornando o Iniciado um ser especial;

A ascensão pela almejada escada

É paulatina, há de ser conquistada.

Caso o Obreiro seja mais fraternal.


Afinal, não é isso a Maçonaria?

Ver o próximo com mais empatia,

Tratando-o com devido respeito;

Saber que todos somos iguais,

Que depois daqui há algo a mais,

Um plano tão Justo e Perfeito!


Marcas melhores que tatuagens,

Pois nos remetem às imagens

De um passado saudosista;

Estigmas de inconfundível valor,

Do que significa esse puro Amor,

Amor logo sentido à primeira vista!



OS DOIS PILARES - Marcello Carneiro


Como Maçons, e pertencentes a Ordem Maçônica Universal, temos o dever de tornar Feliz a Humanidade, mas para isso precisamos nos preparar em todos os sentidos, para assim podermos Suprir a contento os anseios de uma Sociedade Humana decaída, de uma sociedade humana totalmente despreparada, e assim sendo é tratada pelos seus "líderes" como massa de manobra para satisfazer aos seus próprios interesses escusos. 

Então como poderemos ser um "Diferencial de Ética e Moral" em meio a tanta desigualdade Social. Sinceramente eu só vejo um caminho, e vou citar Dois pilares de sustentação da evolução Humana: "EDUCAÇÃO e CULTURA", longe dessas vertentes Libertadoras continuaremos escravos das Cadeias Midiáticas que nos são impostas todos os Dias, somos bombardeados de todos os lados, e chega a ser sufocante essa propaganda massiva que fazem as "Oligarquias Sucessórias", que já controlam os nossos Corações e Mentes a Séculos. 

Vivemos no limiar da pior experiência humana (Época) de sociedade, pois os Dispositivos "Eletrônicos Digitais" que nos conectam a todos por meio da Internet, e outra Waves (mídias) ditam a cada dia mais os "nossos afazeres do dia", uma prisão cibernética aonde Impera a "Bestialidade", aonde cresce de forma exponencial: "O Não saber, o saber Mal e o Saber Errado", ... Não existem "Fakes" ... Não mesmo, existem sim "mentes ou dementes", por trás disso tudo, que Sabem Exatamente o que querem, e o que pretendem. 

Então não podemos nos dar ao Luxo de sermos: Inertes, Omissos e até mesmo Despreparados... É nessa hora que temos que colocar em prática todo nosso Conhecimento a fim de resgatar a humanidade desse abismo comportamental induzido, agora é a Hora de se cavar masmorras aos vícios e levantarmos templos as Virtudes, e o caminho direto para essas conquistas não é outro se não a preparação antecipada e de qualidade, cito novamente a Educação e Cultura, essas sim são as tábuas de Salvação que poderão tirar a humanidade decaída das trevas do Obscurantismo aonde anda: trêmula, cambaleante e sem direção. 


                                  Prof: M

A LOUCURA NA LITERATURA - Oliver Harden


Shakespeare, possivelmente um dos maiores inquiridores da condição humana sob a ótica moderna, emerge, em sua obra, como uma força intelectual que transcende a temporalidade. Assim como Cervantes problematiza a loucura como um contraponto paradoxalmente saudável à razão em Dom Quixote, Shakespeare, de modo singular, em sua tragédia máxima, Hamlet, propõe uma reflexão sobre o excesso da razão, que, por sua vez, subjuga o indivíduo à inércia e à covardia.


A narrativa de Hamlet apresenta o drama do príncipe da Dinamarca, cuja vida é irremediavelmente alterada pela morte abrupta e misteriosa de seu pai, o rei. Incapaz de aceitar as circunstâncias que envolvem esse acontecimento, Hamlet é confrontado pela aparição espectral de seu genitor, que revela a verdadeira causa de sua morte: um regicídio perpetrado pelo próprio irmão, agora usurpador do trono e marido da rainha, mãe de Hamlet.


De posse dessa verdade sombria, Hamlet ingressa em um processo de dolorosa constatação. A justiça clama por ação, o fantasma do pai exige vingança, mas o jovem príncipe se encontra paralisado diante do imperativo de agir. O vil ato que levou o tio ao poder não apenas subverteu a ordem política, mas instaurou uma dissonância ética e moral no âmago do reino. “Há algo de podre no reino da Dinamarca” — e tal podridão não se restringe ao trono, mas reverbera na alma humana e na ordem cósmica.


Essa dimensão ética ganha uma ressonância contemporânea, pois, assim como na Dinamarca de Hamlet, o desequilíbrio moral do ser humano moderno também ecoa em desajustes naturais. Vivemos em uma época em que as ações humanas – ou a ausência de ações necessárias – ameaçam a própria sobrevivência do planeta. O dilema de Hamlet, portanto, adquire contornos proféticos: sua hesitação em agir ressoa na inércia coletiva que observamos diante das crises ambientais, sociais e éticas que nos cercam.


O cerne de Hamlet, no entanto, não reside apenas no contexto político ou nas demandas de justiça, mas, sobretudo, na profundidade psicológica e ética do protagonista. Enquanto príncipe, Hamlet carrega o fardo de restaurar a ordem no reino; enquanto homem, ele se vê enredado em sua própria introspecção. “Maldita a sina que me fez nascer em tempos tão desconcertados; cabe a mim consertá-los.” Esta lamentação de Hamlet, impregnada de melancolia, é uma reflexão profundamente humana e universal, que nos leva a questionar: reclamamos dos tempos em que vivemos, mas reconhecemos que somos, em última instância, responsáveis por eles?


É nesse contexto que irrompe o célebre monólogo “Ser ou não ser, eis a questão”, uma das passagens mais emblemáticas da literatura ocidental. Essa frase, que habita o imaginário coletivo, transcende a dimensão teatral e emerge como uma meditação sobre o dilema entre o pensar e o agir. Ao longo da peça, percebemos que Shakespeare estabelece uma relação intrínseca entre “ser” e “fazer”: o ser autêntico manifesta-se no agir. Para agir, porém, é necessário pensar; mas o excesso de pensamento, como o próprio Hamlet conclui, transforma a coragem em covardia.


Hamlet, ao procrastinar a vingança, sucumbe às armadilhas do excesso de razão, tornando-se vítima de suas próprias paixões e omissões. Sua hesitação em cumprir o dever no momento oportuno conduz a atos trágicos e desnecessários, que resultam na morte de inocentes e no agravamento do caos. Shakespeare parece advertir: quando deixamos de agir no momento devido, abrimos espaço para ações precipitadas e destrutivas. Assim, ao negligenciar o que deve ser feito, perdemos não apenas o momento, mas a própria essência do ser.


No coração dessa tragédia está uma mensagem ética fundamental: somos aquilo que fazemos, não o que pensamos. Nesse ponto, Shakespeare parece dialogar criticamente com o pensamento emergente de sua época, especialmente com Descartes, que viria a afirmar: “Penso, logo existo”. Shakespeare, por meio de Hamlet, apresenta um contraponto: “Não basta pensar; é preciso agir.” A essência da humanidade reside, mais do que em suas ideias, em seus atos. Em última análise, Hamlet nos oferece uma meditação atemporal sobre o imperativo ético do agir, sobre a conexão indissolúvel entre o ser e o fazer, e sobre a responsabilidade que cada um de nós carrega na construção, ou destruição, do mundo que habitamos.



janeiro 17, 2025

"UBUNTU" - O INFINITO DA ALMA - Newton Agrella


É extremamente revigorante quando conseguimos abstrair com intensidade o significado de fraternidade, de compaixão, de entrega e de igualdade, sobretudo quando nos deparamos com os exemplos e ensinamentos que comunidades quilombolas aqui no Brasil  conseguem nos transmitir, através de um sistema ético, moral, cultural e social que se traduz pelo substantivo "Ubuntu".

Numa série veiculada através do Canal Futura, conseguimos entender um pouco mais, o complexo processo de sobrevivência econômica dos descendentes de negros que sofreram as inomináveis agruras da escravidão, e o modo como conseguem preservar seus valores culturais, religiosos e políticos, tais como o direito à terra , a resistência a invasões de seus territórios, e mantendo a produção comunitária como sua força básica de sobrevivência.

Utilizada pelos falantes das línguas Zulu e Xhosi, ambas da família da língua Bantu, faladas no sul do continente africano, a  palavra "Ubuntu", não traduzível literalmente, sugere a ideia e o conceito  de "humanidade para com os outros";  algo como "doar-se sem enfraquecer".

O  termo exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. 

Algo como se disséssemos: "...a minha humanidade está intrinsicamente ligada à sua humanidade".

É justamente essa noção de fraternidade, que de algum modo, pode ser comparada à Maçonaria.

Essa entrega fraterna simboliza compaixão e abertura de alma e espírito e se opõe diametralmente ao individualismo.

Do ponto de vista ético, o conceito do Ubuntu reafirma a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, assumindo-se uma ética humanista.

A simbologia do Ubuntu se manifesta através de "pessoas de mãos dadas formando um círculo".

E sua alegoria é interpretada num enredo que sugere os princípios da liberdade, da cooperação, da precisão e da confiabilidade. 

Essa alegoria ainda revela os conceitos de “Humanidade para os outros” ou “Sou o que sou pelo que nós somos”.

O Ubuntu se manifesta ainda como um comportamento e uma forma de vida que encontra suporte na conduta moral, na noção de religiosidade, de reafirmação das origens e sobretudo no orgulho de uma história marcada pela resiliência, força, determinação e de uma luta sem fim pelos direitos à igualdade.

Nunca é demais lembrar que somos todos seres humanos, partículas do universo, passivos de dor, de amor, de erros e de acertos e que nosso valor não se traduz pela origem, pela raça ou pela cor.



LIBERDADE DE PENSAMENTO - Raimundo Rodrigues


Quando dizemos que a Maçonaria é uma Escola de filosofar, assim o fazemos porque entre nós se exige estudo, pesquisa, meditação.

No entanto, não tememos afirmar que nossa Ordem é fundamentalmente filosófica, uma vez que ela tem por mira alcançar um ideal superior.

A beleza do filosofar maçônico está no estudo comparativo dos sistemas filosóficos que a história nos proporciona.

A Maçonaria não se prende a uma escola ou a um determinado sistema, porque se tal o fizesse estaria tirando a liberdade de de pensamento de seus membros, obrigando-os a seguir um único e mesmo caminho.

Haveria, então, é de supor-se, uma verdadeira lavagem cerebral.

Se tal ocorresse mais cedo ou mais tarde, nossa Ordem ou se desvirtuaria ou desapareceria.

O Maçom tem inteira liberdade de interpretação, pois o símbolo permite exegese variada e, muitas vezes, desigual.

Se houver uma uniformidade obrigatória de interpretação, isto seria um verdadeiro atentado contra um dos sagrados postulados que ela prega: liberdade.

Portanto, é impossível, maçônicamente, alguém pretender fixar determinada corrente ideológica.

A preocupação maçônica pelo ser, pelo conhecer, pelo alcançar a verdade, exige análises, debates, troca de ideias e, sobretudo, respeito ao pensamento alheio.

O esoterismo se sobrepõe ao exoterismo, porque os problemas interiores merecem maior atenção que os exteriores.

O Maçom deve conscientizar-se de que tem um compromisso consigo mesmo, com o seu pensar, com o que fazer de sua vida maçônica.

Ele não pode prescindir de si próprio, não pode prescindir de seus direitos e, sobretudo, de seus deveres, porque se o fizer, estaria negando-se como ser, como homem, como Maçom.

Não podemos escapar da grande verdade de que o saber humano, mormente o saber filosófico – vem do homem, pelo homem e para o homem.

Devemos ter sempre diante dos olhos esta verdade: a Maçonaria proporciona aos seus membros os meios necessários para que adquiram o saber.

Infeliz do Maçom que disto não se aperceber...

É necessário, no entanto, que tenhamos a melhor boa vontade em assimilarmos tudo àquilo que ela põe ao nosso dispor, não só para adquirirmos o saber, mas também para alcançarmos aquele Grau de educação maçônica que nos projetará como verdadeiros e autênticos Maçons.

Do livro A Filosofia da Maçonaria Simbólica – Vol. 1,Londrina : A Trolha, 1999,