agosto 22, 2021

A ORIGEM DO RITO ESCOCÊS - Kurt Prober



Ao contrário do que vulgarmente se acredita, o RITO ESCOCÊS nada tem a ver com o Estado da ESCÓCIA, pois na época do aparecimento deste rito, as Lojas de lá trabalhavam no Rito de YORK, como em toda a Grã-Bretanha.

Afirmam certos historiadores tradicionais, mas sem jamais terem podido comprová-lo ou documentá-lo, que a criação de graus "inefáveis" deste rito se teria procedida logo depois da terminação da primeira Cruzada (1099 D. C.), na Escócia, na França e na Prússia, simultaneamente. Mas tudo isto é pura fantasia, bastando dizer que a Prússia então, como Estado, ainda nem existia. Houve isto sim, a criação de inúmeros "títulos" honoríficos de "Ordens de Cavalaria", mas estas nada tinham a ver com a Maçonaria.

É muita vontade de criar uma falsa antiguidade, hoje em dia muito usual na Arte Real, e muito similar, à ideia de ANDERSON, ao publicar, depois de sua famosa CONSTITUIÇÃO DE 1723, uma nebulosa "HISTÓRIA PATRIARCAL DA MAÇONARIA" (começando em 3785 A. C. E terminando na Inglaterra em 1714 DC). É a conhecida "Maçonaria Romanceada", que sistematicamente nos é apresentada pelos nossos editores "especialistas", em traduções de literatura estrangeira barata, por não estarem os historiadores patrícios dispostos a pesquisarem a história da maçonaria AUTÊNTICA, e com isenção de animo nem a nossa história querem analisar.

Mas o que a maioria destes escritores fez, foi escrever a história da maçonaria "NA" Escócia, começando pelo famoso EDITAL da Cidade de Edinbourgh, de 1415, permitindo a constituição de uma "Corporação de Franco-Burgueses", e a Arte Real, que se foi desenvolvendo depois disto.

Fato é, que o RITO ESCOCÊS surgiu na FRANÇA, e isto depois de lá ter sido introduzida a Maçonaria Inglesa, naturalmente do Rito de YORK.

A primeira Loja foi instalada em 1 de junho de 1726, na adega "AU LOUIS D'ARGENT", à rua dos Açougueiros (rue de Bucherie), de propriedade do inglês "HURE", loja esta que teria sido fundada por Lord DERWENTWATER e Ld. HARNOUESTER.

Em 17 de maio de 1729 foi instalada uma segunda Loja, fundada pelo filantropo francês André-François Lebreton, numa outra adega da mesma rua. Só em 1732 surge a LOGE DE BUSSY, sob jurisdição inglesa, que recebeu o N° 90 e o nome de "KING'S HEAD AT PARIS" e foi provavelmente sucessora da "Louis D'Argent". E até 1735 mais três lojas foram ai fundadas sob a jurisdição da Gr. Loj. Inglesa.

Consta, que por volta de 1728 teria sido fundada a Grande Loja de França, pelo menos é isto que ela mesma afirma em sua nova Constituição de 1967 (Ref. F-1967,936), mas o que se sabe é apenas, que entre 1728/30 um "Ordre des Francs-Maçons dans le Royaume de France" organizou o seu "Regulamento Geral", dentro dos moldes da Organização Inglesa, elegendo para seu primeiro Gr.: M.: o Príncipe Philippe de WHARTON, ex-Gr.: M.: da Grande Loja de Londres, que em 1728 se tinha refugiado em Paris.

Foi ele sucedido por James-Hector Mac Leane, Cavaleiro "Baronnet D'ECOSSE", em 27 de dezembro de 1735. E foi este que fixou todos estes fatos para a posteridade, num manuscrito recentemente encontrado na Biblioteca Nacional de Paris, e já falando ele de GRANDE LOJA, de modo que é mais do que provável, ter este titulo sido adotado um pouco antes pelo seu antecessor, digamos entre 1730/35. Em seguida o supremo malhete passou para as mãos de Charles Radclyffe, "4° Conde de Derwentwater", em 27 de dezembro de 1736, e depois para o Duque D'AUSTIN, neto de Madame de MONTESPAN, em 1738.

E tanto isto é verdade, que ANDERSON em seu "New Book of Constitution", impresso em Londres em 1738, á página 195 diz textualmente o seguinte:

"... Todas ESTAS Lojas Estrangeiras (... Acabara de relacionar as Lojas inglesas no estrangeiro...) estão sob a proteção de nosso Grão Mestre da Inglaterra; entretanto, a Loja antiga da cidade de Nova York, e as Lojas da ESCÓCIA, da Irlanda, da França e da Itália, tendo declarado a sua Independência, tem "os seus próprios Grão Mestres: Muito embora tenham as MESMAS CONSTITUIÇÕES, Obrigações Regulamentos, etc., de seus Irmãos da Inglaterra, estando igualmente zelando pelo estilo Augustiano e os segredos da antiga e honorável fraternidade..."

Logicamente outras Lojas e talvez mesmo outras potências administrativas foram surgindo logo, e a índole latina foi imediatamente modificando e alterando a ritualística da maçonaria tradicional inglesa, para o seu gosto por demais rígida e sem dar o destaque às castas governantes e militares, que sentiram a necessidade de se projetarem sobre os maçons burgueses.

Se na Inglaterra, aonde a Arte Real já vinha de longe, depois de 3 séculos de lutas religiosas e políticas, o povo já tinha encontrado o seu MODUS VIVENDI dentro da tolerância, a que prudentemente se tinha adaptado o clero aristocrático, os presbiterianos e os anglicanos, isto já não acontecia na França, onde a maçonaria era cousa nova.

Assim por volta de 1730/35 surgiu na França o Rito Francês e o Rito ESCOCÊS nos graus simbólicos. Pouco tempo depois foram inventados os graus "inefáveis", que paulatinamente foram sendo acrescentados ao "MAITRE ECOSSAIS".

Já em 1742, afirmam os historiadores contemporâneos, estava formada a "Maçonaria ESCOCESA", organizada pelo "Conseil des Empereurs d'Orient et d'Occident, Grande e Souveraine Loge Ecossaise Saint Jean de Jerusalem", uma subsidiaria surgida no seio da Grande Loja de França, que organizou o Rito Escocês, também adotando o sufixo ANTIGO E ACEITO, usado pela primeira vez por ANDERSON, em sua Nova Constituição de 1738.

E quando finalmente foi eleito para Gr.: M.: o Conde de CLERMONT, Louis de Bourbon, em 1743, havia na França uma verdadeira inflação de Lojas, mais de DUZENTAS, como nos contam historiadores da época, mas sendo muitas delas "Ordens de Cavalaria".

No ano de 1758 fundou-se em Paris um novo Corpo Maçônico, que recebeu o nome de CAPÍTULO, ou "Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente", e NOVE Comissários deste Corpo elaboraram, o que se tornaria conhecido como a CONSTITUIÇÃO DE BORDEAUX, de 21 de setembro de 1762 (6° Dia da 3a Semana 7a Lua Ano 57621, que introduzia um sistema de RITO ESCOCÊS de 25 GRAUS. Mas a pacificação, que se tinha pretendida, não foi duradoura, e já em 1767 a Grande Loja de França adormecia.

Somente em 22 de outubro de 1773 a maçonaria francesa voltou a reunir-se em "Grande Loja Nacional", acabando por fundar o Grande Oriente de França, tendo como Gr.: M.: o Duque de CHARTRES.

A maioria dos Diretórios ESCOCESES se incorporaram ao Gr.: Or.: de França, enquanto alguns fundaram a Grande Loja de CLERMONT, de vida efêmera.

Deve ser mencionado aqui, que muitos escritores do passado, e ainda alguns "copistas" dos nossos dias, costumam citar o nome do Barão ANDREAS MICHAEL RAMSAY (nascido em 1686, iniciado na HORN LODGE, de Londres, em Março de 1730 (Ref. F-1973,937), e falecido em 6 de maio de 1743), como "inventor" do Rito Escocês dos "altos graus". Entretanto, basta a leitura de seus discursos como Gr.: Orador que era da Gr.: Loja de França, e especificamente o pronunciado em 21 de março de 1737, para termos a prova da incongruência de tal afirmação, pois disse textualmente o seguinte:

-... A atividade da Maçonaria, resumida nos TRÊS graus (... Evidentemente os simbólicos...), e só estes reconhecemos, pode ser considerada perfeitamente suficiente..."

Pronunciamento este, que bem prova a sua ojeriza aos graus inefáveis, que já então existiam. Provavelmente o simples fato de ter sido ele membro da "Ordem de São Lazaro de Jerusalém", da qual era Gr.: Mestre o Regente FELIPE DE ORLEANS, da educação de cujos filhos esteve RAMSAY encarregado entre 1715/24, Ordem de que ele recebeu o titulo de "Cavaleiro Baronnet D'ECOSSE", e ainda o fato de ter sido ele um grande estudioso e filósofo, por certo bastou aos historiadores profanos para lhe atribuírem essa "paternidade. Para melhor se compreender a confusão que existe, basta citar que se conhece "quatro" versões dos Discursos de RAMSAY: de 1738 (Haya), 1741 (Paris), 1742 (Frankfurt s. M. E de 1743 (Londres).

Vá lá que RAMSAY tenha colaborado na elaboração das bases para o rito ESCOCÊS nos TRÊS graus simbólicos, mas nem isto pôde ainda ser comprovado. E de passagem se diga aqui, que a primeira Loja de Perfeição, de que se tem noticia, foi criada em Bordeaux, em 1744, portanto um ano depois do passamento de Ramsay.

Lastimavelmente a Revolução Francesa, ao contrário do que habitualmente se afirma, dispersou os Franco-Maçons, que só a partir de 1799 foram paulatinamente se reagrupando no Grande Oriente de França, que neste ano foi REERGUIDO.

Em 12 de outubro de 1804 os grandes oficiais do Rito ESCOCÊS se reuniram, e em nova reunião de 22 de outubro de 1804, de Grande Consistório, formaram uma GRANDE LOJA ESCOCESA DE FRANÇA DO RITO ANTIGO E ACEITO, elegendo o príncipe Luiz Napoleão para Gr.: M.: e para seu Representante-Presidente o Conde Alexandre-François-August de GRASSE-TILLY, mas já em Dezembro do mesmo ano este estabeleceu um acordo com o Grande Oriente de França, delegando-lhe poderes para administrar, além dos 3 graus simbólicos, também os graus "inefáveis" de 4 até 18 (Rosa-Cruz).

Mas quando em Julho de 1805 o Grande Oriente de França resolveu também administrar os restantes graus filosóficos, de 19 em diante, houve um rompimento entre as duas jurisdições, que só pôde ser sanado em 1821, quando o Rito Escocês Antigo e Aceito se reorganizou totalmente na França.

A atual Grande Loja de França só em 7 de novembro de 1894 foi RECONSTITUÍDA, quando 60 (sessenta) Lojas do Supremo Conselho decidiram separar o SIMBOLISMO do Sistema FILOSÓFICO dos Altos Graus. Portanto, na verdade era "Potência NOVA".

Fonte: História do Supremo Conselho do Grau 33.: do Brasil. Editora: Livraria Kosmos Editora. Página: 3-5. Data: 1981.

INFORMAÇÃO OU INSTRUÇÃO - Sérgio Quirino

 

Sérgio Quirino é o atual Grão-Mestre da GLMMG 2021/2024

Saudações, estimado Irmão!

Tempos Modernos. Revivemos hoje, o clássico filme de Charlie Chaplin. A diferença é a substituição da ferramenta “chave de boca”, a apertar cada vez mais rápido os parafusos, pelas clicadas cada vez mais instantâneas no mouse.

A ideia é a mesma: alcançar um NÚMERO máximo, simples RESULTADO do ato, sem se importar com a qualidade resultante da ação.

Talvez, fosse mais correto iniciar o artigo com: “Vivemos a Era da Informação”. Mas, não devo fazê-lo, por haver no mundo profano uma associação imediata entre informação e conhecimento.

Indiscutível, que o acesso a informações nos qualifica de alguma forma. Construímos uma sociedade de Mestres. Todos temos opinião sobre tudo. Através de nossas redes sociais, somos os melhores editores dos mais poderosos meios de comunicação. Mas, por eles, mesmo que equivocadamente, ainda compartilharmos Fake News.

Sob a perspectiva maçônica, a informação preciosa é aquela que pode germinar uma instrução.

PELA CORRETA ESCOLHA DA FORMA COMO TRATAMOS A INFORMAÇÃO É QUE ALCANÇAMOS A INSTRUÇÃO.

A palavra informação, do Latim informatio, informare significa ação de formar, delinear, conceber ideia. Maçonicamente, informar não se refere apenas ao ato de repassar o objeto ou ideia que recebemos como informação. É também um exercício constante de decodificar a informação e promover um movimento mental interno, para absorver o cerne de seu conteúdo.

Parece complicado?

Basta, então, refletir sobre os conceitos de: Maçonaria Especulativa, Símbolos e Alegorias, Prancha de Delinear ou Tábua de Delinear.

Creio estar clara a diferença entre Informação e Instrução e, assim, entramos no ponto nevrálgico dos trabalhos maçônicos.

Os livros adotados nos labores maçônicos são divididos em Rituais de Trabalho e Rituais de Instrução. Além do dever de permanecermos atentos aos regramentos ritualísticos em Loja, devemos nos responsabilizar, mais ainda, pela prática das instruções fora do Templo.

Pergunte-se: - Minha caminhada na vida é sem desvios, tal como a marcha do aprendiz que pratico em Loja?

- Reconheço o esquadro como a Joia do VM, tal como presido minha vida pela retidão?

- Trabalho para a sociedade porque sei que é bom e agradável que os Irmãos vivam em união?

NEM TODOS QUE TEM ACESSO A INFORMAÇÃO SÃO INSTRUÍDOS.

NEM TODO BOM RITUALISTA É UM BOM MAÇOM.

SEJAMOS 100% MAÇOM, DENTRO E FORA DO TEMPLO.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, um legítimo Construtor Social.

Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!


agosto 21, 2021

O MITO DO DILÚVIO - Postado pelo irmão Leonardo Redaelli no grupo Biblioteca



Nesta Oficina, concordamos no momento da sua criação trabalhar nas diferentes Tradições para tentar encontrar aí esta espécie de Palavra perdida que é a memória das origens, o que outros chamam de Verdade primordial.

Foi nessa pesquisa que encontrei o mito do dilúvio que é comum a quase todas as sociedades do mundo.

É geralmente aceito que o mito do dilúvio, que pode, portanto, ser encontrado em quase todas as tradições do mundo, com a notável exceção da África, abrange um acontecimento real, provavelmente de uma amplitude inferior à descrita por todos os textos ou lendas orais, que teriam ocorrido em tempos antigos e que teriam deixado uma memória ampliada na memória dos homens.

Em minha busca para encontrar os fatos reais por trás dos mitos, eu estava, portanto, interessado neste mito do dilúvio.

Mas, primeiro, gostaria de citar uma intervenção do professor Antoine Faivre, durante uma recente conferência sobre o lendário maçônico. Este define 3 abordagens muito diferentes e que seriam cada uma a forma de ver a alvenaria pelos próprios pedreiros, ainda que às vezes os misturem alegremente.

O primeiro, que ele define como empírico-crítico, é puramente objetivo e histórico. É aquele que vê a alvenaria uma instituição criada a partir do zero em 18 th século e que tem como objetivo principal o exercício da caridade, aliás as mentes questionadoras encontrar.

A segunda, que define como mito-romântica, tem origem desconhecida, remonta aos tempos mais remotos e veicula mitos universais, segundo uma transmissão ininterrupta.

Por fim, a terceira, que ele define como universalizante, a considera um reservatório de imagens ou arquétipos de natureza universal, não importando aqui a filiação. Em todo caso, encontramos aí todas as tradições do mundo, filhas como ela da tradição perene.

É claro que subscrevo como prioridade esta última abordagem, ainda que a segunda não me deixe indiferente. Quanto ao primeiro, não corresponde em nada à imagem que tenho da Maçonaria, autêntica escola iniciática.

Por que eu quis citar esta intervenção? bem, é precisamente para vir a justificar esta reflexão, indo muito além da Maçonaria, para encontrar nos mitos em geral, e esta noite no do dilúvio em particular, os ecos desta tradição perene, da qual apelo ao conhecimento do primeiro instante, este primeiro instante estendendo-se a toda a proto-história do homem.

Gostaria, portanto, primeiro de apresentar a vocês as diferentes versões desse mito, de acordo com as tradições antigas, em seguida, gostaria de trazer minha visão pessoal deste evento provavelmente real.

Extremamente difundidos, os mitos das catástrofes cósmicas contam como o mundo foi destruído e a humanidade exterminada, com exceção de um casal ou poucos sobreviventes.

Os mitos do dilúvio são os mais numerosos e quase universalmente conhecidos (embora extremamente raros na África, e tentarei entender a razão). Ao lado dos mitos diluvianos, outros relatam a destruição da humanidade por cataclismos cósmicos: terremotos, incêndios, colapso de montanhas, epidemias. Obviamente, este fim do mundo não é representado como radical, mas sim como o fim de uma humanidade, seguido do surgimento de uma nova humanidade. Mas a imersão total da Terra na água, ou sua destruição pelo fogo, seguida da emersão de uma Terra virgem, simbolizam a regressão ao Caos e à cosmogonia.

Em um grande número de mitos, o Dilúvio está ligado a uma falha ritual que provocou a ira do Ser Supremo. Às vezes, é simplesmente o resultado do desejo de um Ser divino de acabar com a humanidade. Mas, se examinarmos os mitos que anunciam a iminência do Dilúvio, encontraremos, entre as principais causas, não só os pecados dos homens, mas também a decrepitude do mundo. Podemos dizer então que o Dilúvio abriu o caminho para uma recriação do mundo e uma regeneração da humanidade.

Nós, no Ocidente, ou mais precisamente no que prefiro chamar de mundo mediterrâneo, conhecemos antes de mais nada o mito do dilúvio descrito na Bíblia Hebraica.

Vamos nos lembrar do texto, que está em Gênesis, 6-5 a 9-20:

O Senhor viu que a maldade do homem aumentava na terra: durante todo o dia seu coração só se inclinou a conceber o mal, 6 e o ​​Senhor se arrependeu de ter feito o homem na terra. Ele estava angustiado 7 e disse: "Eu vou exterminar da face da terra o homem que criei, homem, gado, feras e até mesmo as aves do céu, porque me arrependo de tê-los feito". 8 Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor.

9 Esta é a família de Noé: Noé, um homem justo, era irrepreensível entre as gerações de seu tempo. Ele andou nos caminhos de Deus, 10 e gerou três filhos: Sem, Cão e Jafé. 11 A terra foi corrompida diante de Deus e cheia de violência. 12 Deus olhou para a terra e a viu corrompida, pois toda carne havia pervertido sua conduta na terra. 13 Deus disse a Noé: “Para mim é chegado o fim de toda a carne! Porque por causa dos homens a terra está cheia de violência e eu vou destruí-los com a terra ”.

14 “Faça para si um arco de madeira macia. Você fará a arca com caixas. Você o cobrirá com betume por dentro e por fora. 15 Farás esta arca com trezentos côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. 16 Faça um telhado de duas águas para a arca e fixe-o um côvado acima dele. Você colocará a entrada da arca na lateral, depois fará um andar de baixo, um segundo e um terceiro.

17 “Vou trazer o dilúvio - isto é, as águas - sobre a terra, para destruir debaixo dos céus toda criatura vivente; tudo na terra vai expirar. 18 Eu estabelecerei meu pacto com você.

“Entra na arca, tu e contigo, teus filhos, tua esposa e as esposas de teus filhos. 19 De todas as criaturas vivas, de toda a carne, você deve trazer um casal para a arca, para fazê-los sobreviver com você; que haja um homem e uma mulher! 20 De cada espécie de ave, de cada espécie de gado, de cada espécie de animalzinho da terra, um casal de cada espécie virá até você para sobreviver. 21 E você, tome de tudo o que é comido e guarde para você; será a sua comida e a deles ”. 22 Isso foi o que Noé fez; ele fez exatamente o que Deus lhe disse para fazer.

7.1 O Senhor disse a Noé: "Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque és o único justo que vejo nesta geração." 2 Você tomará sete pares de cada animal limpo, um macho e sua fêmea, e de um animal impuro um par, um macho e sua fêmea, 3 - e das aves do céu, sete pares, macho e fêmea, para perpetuar eles correm por toda a face da terra. 4 Pois em sete dias, farei chover sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites, e destruirei da face da terra todos os seres que eu fiz ”. 5 Noé fez de acordo com tudo o que o Senhor lhe ordenou.

6 Noé tinha seiscentos anos quando o dilúvio - isto é, as águas - aconteceu na terra. 7 Por causa das águas do dilúvio, Noé entrou na arca, e com ele seus filhos, sua esposa e as esposas de seus filhos. 8 Animais limpos e animais imundos, pássaros e tudo o que se move no solo, 9 casal por casal, macho e fêmea, vieram a Noé na arca como Deus ordenou a Noé.

10 Sete dias se passaram, e as águas do dilúvio inundaram a terra.

11 No ano 600 da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês, naquele dia todos os reservatórios do grande abismo foram quebrados e as aberturas do céu estavam abertas. 12 A chuva caiu sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites. 13 Naquele mesmo dia Noé entrou na arca com seus filhos, Sem, Cão e Jafé, e com eles a esposa de Noé e as três esposas de seus filhos 14 e todos os tipos de animais, todos os tipos de animais, todas as espécies de pequenos animais que movem-se na terra, todas as espécies de pássaros, todos os pássaros, todos os animais alados. 15 Eles foram a Noé na arca, casal por casal, de todos os seres vivos. 16 Um macho e uma fêmea de toda a carne entraram. Eles entraram conforme Deus havia orientado Noé.

17 O dilúvio durou quarenta dias na terra. As águas aumentaram e elevaram a arca, e ela foi elevada acima da terra. 18 As águas incharam e formaram uma grande massa sobre a terra, e a arca flutuou sobre a superfície das águas. 19 O dilúvio das águas tornou-se cada vez mais forte sobre a terra, e sob toda a extensão dos céus todas as montanhas mais altas foram cobertas de 20 a uma altura de quinze côvados. Com o aumento das águas que cobriram as montanhas, 21 expirou toda a carne que se movia sobre a terra, pássaros, gado, feras, todos os animais que enxameavam sobre a terra e todos os homens. 22 Todos os que respiravam o ar com o fôlego da vida, todos os que viviam na terra seca, morreram.

23 Então o Senhor apagou todas as criaturas da face da terra, homens, gado, pequenos animais e até mesmo as aves do céu. Eles foram apagados, restando apenas Noé e aqueles que estavam com ele na arca. 24 As inundações duraram cento e cinquenta dias na terra.

O resto vocês sabem, com o fim das chuvas e o episódio do envio de pássaros de cores diversas, amplamente identificadas nas fases alquímicas.

Porém, agora sabemos que esta história está amplamente difundida em outras Tradições e que mesmo esta, a da Bíblia, é claramente a fusão de duas versões independentes.

Os hebreus, de fato, provavelmente pegaram emprestado o mito dos babilônios. Mas o tema do Dilúvio é ainda mais antigo, pois já é atestado entre os sumérios. O nome do sumério Noé é Ziusudra; e na versão babilônica é chamado de Utnapishtim. O Dilúvio é contada na 11 ª Tábua da Epopéia de Gilgamesh: os deuses decidem aniquilar a humanidade, mas o deus Ea avisa Utnapishtim e o aconselha a construir um barco para salvar sua família e vários animais. O Dilúvio é causado por chuvas torrenciais que duram sete dias. No dia oito, Utnapishtim solta uma pomba e, pouco depois, uma andorinha, mas os pássaros voltam. Finalmente, ele solta um corvo que nunca retorna. Então Utnapishtim pousa no Monte Nishir e oferece um sacrifício aos deuses. Mas aqui eles descobrem com surpresa que a raça humana não foi aniquilada. Decidem, porém, que a partir de agora Utnapishtim não será mortal e o transportará, com sua esposa, para um país fabuloso e inacessível, "até a foz dos rios". Foi lá que, muito depois, Gilgamesh, em busca do

É óbvio que este mito é idêntico ao desenvolvido pela Bíblia, com esta única exceção - de tamanho! - é que os homens não são aniquilados. É verdade que o Deus judeu é particularmente violento e vingativo, e esta destruição total de sua criação não é surpreendente dada a mentalidade do homem bom, ainda que muitos, desde o início dos tempos, se perguntem sobre este Deus que por um lado criou os homens à sua imagem, mas maus, e que então destruíram sua criatura.

Obviamente, estamos longe de ser um Deus bom e perfeito, e os gnósticos desenvolveram amplamente suas teorias em seu tempo para justificar o injustificável.

Um mito semelhante é conhecido na Índia.

Ausente no Veda, o mito do Dilúvio é primeiro atestado no Satapatha Brahmana (I, VIII, 1), um ritual escrito provavelmente no século 7 aC: um peixe avisa Manu sobre o dilúvio iminente e ele o aconselha a construir um barco . Quando ocorre um desastre, os peixes puxam o barco para o norte e o param perto de uma montanha. É aqui que Manu espera que a água flua. Como resultado de um sacrifício, ele obtém uma filha, e dessa união descende a humanidade.

Na versão transmitida pelo Mahabharata, Manu é um asceta. No Bhagavata Purana (VIII, XXIV, 7 f.), O rei asceta Satyavrata é avisado da aproximação do Dilúvio por Hari (Vishnu), que assumiu a forma de um peixe.

Em qualquer caso, nada parece ligar esta catástrofe aqui com qualquer ressentimento dos Deuses para com os homens.

Podemos apenas nos perguntar sobre sua incapacidade de salvar esses homens que são sua criação e que têm um papel essencial a desempenhar, o de ser seu espelho, aquele no qual podem ver sua beleza e seu poder.

Sem a criação, os Deuses permanecem desconhecidos e inúteis!

No Irã, o fim do mundo segue uma enchente resultante do derretimento da neve acumulada durante um terrível inverno. Ahura Mazdâ aconselha Yima, o primeiro homem, que também é o primeiro rei, a se retirar para uma fortaleza.

Yima leva consigo o que há de melhor entre os homens e as diferentes espécies de animais e plantas. O dilúvio põe fim à idade de ouro, que não conheceu a velhice nem a morte.

No estado atual de nosso conhecimento desses textos também não temos nenhum vestígio de qualquer decisão divina de grande purificação, mesmo que aqui o retorno a uma situação normal veja o desaparecimento de um mundo antigo, o da 'Idade de Ouro.

Aqui podemos nos perguntar sobre o porquê do fim desta era ...

Na Grécia, é Prometeu quem avisa seu filho, Deucalião, que Zeus decidiu a aniquilação dos homens da Idade do Bronze. Deucalião foge com sua esposa em um arco.

Mais uma vez, uma decisão divina de começar tudo de novo.

O mito do Dilúvio também é encontrado entre certos povos indígenas da Índia (Bhils, Mundas, Santals, etc.), entre os Lepchas de Sikkim e em Assam. É ainda mais difundido no Sudeste Asiático, Melanésia e Polinésia. As versões coletadas na Austrália falam de um sapo gigante que absorveu toda a água. Sentindo sede, os animais resolveram fazer o sapo rir. Vendo a enguia se contorcendo, o sapo caiu na gargalhada e as águas jorraram de sua boca, causando o aguaceiro. O sapo é uma das imagens míticas da lua. E como a Lua é o símbolo da morte e da ressurreição por excelência, também governa as águas, as cheias e as marés.

Entre os povos da América do Sul, a inundação é geralmente causada por um dos gêmeos míticos que, batendo na terra com o calcanhar, faz com que a água subterrânea jorra.

Na América Central e do Norte, as versões do dilúvio são bastante numerosas: a catástrofe é produzida por inundações ou por chuvas.

Deve-se notar que, em comparação com os mitos que narram o fim do mundo no passado, os mitos referentes a um fim vindouro são relativamente poucos entre os primitivos, ao contrário de nossas sociedades mediterrâneas ou indo-europeias. Mas essa raridade talvez se deva ao fato de que os etnólogos não fizeram essa pergunta em suas pesquisas.

Além disso, às vezes é difícil esclarecer se o mito está relacionado a um desastre passado ou futuro. Assim, por exemplo, de acordo com EH Man, os andamaneses, povo em extinção que vivem nas fronteiras da Birmânia e da Tailândia, acreditam que após o fim do mundo uma nova humanidade, em condição paradisíaca, surgirá: haverá sem mais doenças, sem velhice, sem morte. Mas outro antropólogo, A. Radcliffe Brown, acredita que seu colega Man realmente combinou várias versões, coletadas de diferentes informantes.

Na realidade, diz Radcliffe Brown, é de fato um mito relacionado ao fim e à recriação do mundo; mas o mito está relacionado ao passado e não ao futuro. Mas, uma vez que, de acordo com a observação de F. F. Lehmann, a língua andamanesa não tem tempo futuro, não é fácil decidir se é um evento passado ou um fim que está por vir.

Portanto, passamos do mito do dilúvio, do mito do fim de uma era para entrar em uma nova, bastante inscrita no passado, para a possibilidade de que esses eventos também se encontrem no futuro.

Entre os mitos primitivos do fim, pouquíssimos são aqueles que não apresentam indicações precisas sobre a possível recriação do mundo.

Assim, em uma das Ilhas Carolinas, Aurepik, é o filho do Criador o responsável pelo desastre. Quando ele perceber que o chefe não cuida mais de seus súditos, ele submergirá a ilha por meio de um ciclone. Não é certo que este seja um fim definitivo: e a ideia de uma punição pelos "pecados" geralmente envolve a criação subsequente de uma nova humanidade, educada sobre o que aconteceu. Antes e antes, em princípio, tirar as conclusões .

Podemos pensar que com relação ao texto bíblico nosso bom homem IAWEH se enganou amplamente e que provavelmente os homens depois do dilúvio não têm nada a invejar aos de antes no campo da maldade.

Mais difíceis de interpretar são as crenças dos Negritos da Península de Malaca. Os Negritos sabem que um dia Karei acabará com o mundo porque os humanos não respeitarão mais seus preceitos. Além disso, durante a tempestade, eles se esforçam para evitar desastres fazendo ofertas expiatórias de sangue. A catástrofe será universal, atingirá pecadores e não pecadores sem distinção e não será, ao que parece, o prelúdio de uma nova criação. É por isso que os negros chamam Karei de "mau" e veem nele o adversário que lhes "roubou o céu".

Um exemplo particularmente marcante é o dos Guaranis de Mato Grosso.

Sabendo que a Terra seria destruída pelo fogo e pela água, eles partiram em busca da "Terra sem pecado", uma espécie de paraíso terrestre, localizado além do oceano. Essas longas viagens, inspiradas nos xamãs e realizadas sob sua direção, começaram no século XVI e duraram até 1912.

Algumas tribos acreditavam que a catástrofe seria seguida por uma renovação do mundo e o retorno dos mortos. Outras tribos esperaram e queriam o fim final do mundo.

A maioria dos mitos nativos americanos do fim implica ou uma teoria cíclica (como entre os astecas), ou a crença de que a catástrofe será seguida por uma nova criação, ou, finalmente, em algumas partes da América do Norte, a crença em um regeneração universal realizada sem cataclismo.

Neste processo de regeneração, apenas os pecadores perecerão.

De acordo com as tradições astecas, já houve três ou quatro destruições do mundo, e a quarta (ou quinta) é esperada no futuro. Cada um desses mundos é governado por um "Sol", cuja queda ou desaparecimento marca o Fim.

A crença de que a catástrofe é a consequência fatal da "velhice" e da decrepitude do mundo parece ser bastante difundida nas duas Américas.

De acordo com os Cherokees, quando o mundo estiver velho e desgastado, os homens morrerão, as cordas se rompem e a Terra afundará no oceano, sendo a Terra imaginada como uma grande ilha suspensa do céu por quatro cordas.

Em um mito Maidu, o Criador garante ao casal que ele criou: “Quando este mundo estiver muito desgastado, farei tudo de novo; e quando eu fizer isso novamente, você experimentará um novo nascimento. "

Em suma, esses mitos primitivos do fim do mundo, por inundação ou fogo, porque o elemento água não é o único a ser usado, o fogo também é muito usado e eu gostaria de voltar a ele, com mais ou menos clareza implicam a recriação de um novo universo, expressam a mesma ideia arcaica e extremamente difundida da progressiva “degradação” do cosmos, ou da queda para encontrar uma ideia amplamente difundida em nossas Colunas, exigindo sua destruição e re- criação de periódicos. É desses mitos de uma catástrofe final, que ao mesmo tempo será o arauto da iminente recriação do mundo, que surgiram e se desenvolveram os movimentos proféticos modernos e os movimentos milenares das sociedades primitivas.

A teoria da criação e destruição cíclicas do mundo foi amplamente desenvolvida na Índia, a partir dos Brahmanas e especialmente nos Puranas. Esta é a doutrina dos quatro yugas, as quatro eras do mundo. O ciclo completo, o kalpa, termina com uma "dissolução", um pralaya, que se repete de forma mais radical (mahapralaya, a "grande dissolução") no final do milésimo ciclo. De acordo com o Mahabharata e o Purana, o horizonte se acenderá, sete ou doze sóis aparecerão no firmamento e secarão os mares, queimarão a Terra. Então, uma chuva torrencial cairá continuamente por doze anos, a Terra ficará submersa e a humanidade será destruída (Vishnu Purana, 24, 25).

Então, tudo recomeçará ad infinitum.

Esta teoria dos quatro Yugas, com a sua primeira, a da idade de ouro, e a última, a do ferro, pertence à doutrina tradicional e é encontrada em muitas tradições.

Parece que este novo ciclo, este kalpa, começou por volta de 63.000 AEC, e a idade de ouro, Krita-Yuga, durou 26.000 anos.

A próxima era, a Treta-Yuga, ou Idade da Prata, que correspondeu ao surgimento dos continentes da Atlântida no norte e da Lemúria, no sul, terminou com o dilúvio bíblico, por volta de 11.000 aC.

Então veio o Dvapara-Yuga, a era do latão.

O fim deste ciclo, e estamos bem no Kali-Yuga, Idade do Ferro, é anunciado para o 21 st século ....

Na Grécia, a doutrina cíclica surge com Heráclito, que terá grande influência na doutrina estóica do eterno retorno.

No 3 º século aC., Berossus popularizado em todo o doutrina helenístico mundo caldeu de "grande ano". O Universo ali é considerado eterno, mas é eliminado e reabastecido periodicamente a cada "grande ano" - o número correspondente de milênios varia de escola para escola - quando os sete planetas se reúnem no signo de Câncer ou "grande inverno", um um dilúvio ocorrerá.

Quando eles se encontram no signo de Capricórnio, no solstício de verão do "grande ano", todo o Universo será consumido pelo fogo. De acordo com um texto perdido por Aristóteles, as duas catástrofes aconteceram nos dois solstícios: a conflagração no solstício de verão, o dilúvio no solstício de inverno.

Como podemos ver, o mito do dilúvio participa amplamente de duas teorias:

Alguém que gostaria que o Deus Criador, oprimido por sua criação, um dia quisesse destruir tudo.

A outra que exprime o princípio de uma criação cíclica, de um retorno indispensável ao nada antes de partir. Na Índia, isso é claramente simbolizado pela respiração de Brâhma, aquele que cria enquanto expira e que no final do ciclo retoma sua criação inspirando, e assim por diante.

Além disso, essa teoria é paralela à dos astrofísicos modernos que falam de um mundo em expansão e depois em contração, do big bang ao big crash.

É óbvio que se queremos encontrar por trás dos mitos a realidade dos acontecimentos, esta segunda teoria parece mais próxima do que aconteceu, pois também pode ser expressa de forma científica.

Mas o primeiro também pode revelar acontecimentos reais, enterrados na memória dos homens e traduzidos com as palavras e símbolos disponíveis para outros homens, muito tempo depois, e que só poderiam ser interpretados a partir desse padrão.

De um ponto de vista estritamente científico, a historicidade do Dilúvio há muito foi negada.

Atualmente, um grande número de estudiosos de todas as disciplinas considera seriamente que a última transgressão, ou seja, o alagamento das plataformas continentais após o degelo, pode estar ligada a esses mitos.

E é verdade que esse episódio geológico levou a um aumento do nível do mar, mas de cerca de 100 metros em um período de 10.000 anos, mesmo! Se algumas estimativas são de 130 m ao longo de 8.000 anos, isso é cerca de 2 metros por século ou até mais do que a vida humana de um metro a cada 50 anos!

Ninguém pode razoavelmente afirmar que tal aumento no nível do mar (2 cm por ano !!! mesmo que localmente possamos ter tido um aumento de algumas dezenas de cm por ano em certos períodos) pode ser assimilado ao que todas as tradições de um fim do planeta ao outro descreve-o como um evento que foi brutal, rápido, limitado no tempo, excessivamente destrutivo, etc.

Portanto, mesmo que esta explicação seja perfeitamente válida para explicar os vestígios de habitats pré-históricos atualmente sob o mar, será necessário encontrar algo mais para "elucidar" o mistério do dilúvio ...

Por muitos anos, as consequências da queda de um asteróide ou fragmento de um cometa no oceano foram modeladas e um consenso foi estabelecido na comunidade científica em torno dos possíveis efeitos nesta hipótese.

No caso de um impacto oceânico muito offshore (sem uma cratera visível, portanto ...), o fenômeno mais óbvio seria tsunamis gigantescos. Um tsunami (a palavra é preferível a maremoto porque o fenômeno em questão obviamente nada tem a ver com a maré ...) pode se mover em mar aberto a velocidades de até 700 km / h.

Ao chegar às costas e, portanto, às profundidades mais baixas, diminui a velocidade e é aí que, paradoxalmente, começa o perigo! Na verdade, tudo acontece tanto para as ondas quanto para os carros na rodovia durante uma desaceleração: a frente (rápida) das ondas alcançando a frente (câmera lenta). Em uma rodovia, é um engavetamento. No litoral, ocorre uma compressão que causará um aumento considerável nas ondas que quebram. O fator de compressão pode facilmente chegar a 40! Assim, um simples trem de ondas com uma altura de 1 m no mar se transformará em uma série de ondas matadoras com uma altura de 40 m.!

Tem mais ou menos a altura de um prédio de 12 andares, o que significa que muito pouco provavelmente ainda estará de pé após a passagem da primeira onda, então no décimo ...

E quando pensamos que dois terços da superfície da Terra são compostos de oceanos, também podemos concluir que é esse tipo de impacto que tem maior probabilidade de ocorrer.

E ao invés de duas vezes! A cada vez, as mesmas consequências, é claro! O que faz falar de inundação no singular é certamente falso e que devemos falar de inundações periódicas.

No entanto, parece que em muitas tradições mantivemos de fato a memória de um dilúvio mais importante do que os outros e podemos supor que seja este o responsável, por exemplo, pela destruição da Atlântida.

Atlântida e Lemúria, esses continentes desaparecidos nos quais civilizações de altíssimo nível - para outros homens da época - teriam vivido, podem ter desaparecido após um cataclismo como uma enorme inundação de origem então esquecida.

Foi fácil então, muito tempo depois, imaginar essas catástrofes como sendo de origem divina e ligadas à má conduta dos homens.

E de fato as 2 teorias podem ser simultâneas, podendo o ciclo dos mundos ser marcado por uma catástrofe repentina.

Mas também vejo, no tema da água, outra coisa:

E se, finalmente, esquecendo essas possíveis catástrofes das quais ninguém jamais teve a menor prova, a lembrança do dilúvio foi apenas a lembrança do momento em que saiu da água o primeiro vivente, essa água que até então a possuía. abrigava toda forma de vida, o próprio ambiente em que a vida nasceu

Na medida em que o homem acreditava ser a criação de um deus, ele jamais poderia imaginar não ter existido antes de qualquer dilúvio, que sempre viria, para ele, puni-lo por suas faltas.

Na verdade, o Dilúvio foi o estado primordial, ou pelo menos precedeu o surgimento da vida na Terra.

Ora, como essa aparência de vida em terra firme teria 345 milhões de anos, deixo que você aprecie a distante memória que poderiam ter dela aqueles que escreveram os mitos do dilúvio.

Na verdade, estou, aqui, me perguntando se não estou reinventando os arquétipos?

Porque aí nós convivemos com o mito do mar inicial, por exemplo aquele que Brâhma agitou para expressar sua vida, ou o lago dos egípcios, ou as águas primordiais da Bíblia ...

E então, por que não, interessemo-nos também por uma possível dimensão psicanalítica: essa água seria a do líquido amniótico em que todas as crianças se banharam ao longo de sua presença no ventre materno. A feliz lembrança disso antes de se banhar em um líquido seria traduzida por uma inundação após a qual tudo ficou diferente, e a vida do homem, em última análise, muito difícil.

Li, para me ajudar na reflexão, diversos textos, e um chegou a propor, também, sob o pretexto da psicanálise, que, passo a citar: “o dilúvio seria uma projeção cosmogônica. Fluxo seminal e amniótico derramamento de fluido, expressando assim o desejo inconsciente de gravidez masculina própria das sociedades patriarcais, o mito substituindo simbolicamente a incapacidade biológica do homem de dar à luz “!!!!

Vou deixar você meditar sobre esta sugestão.

Quanto a mim, perguntei-me, acima, sobre as duas fontes de destruição, o fogo e a água.

Neste ponto da minha reflexão, não vejo mais a água como um elemento destrutivo, mas, pelo contrário, como o elemento fundador da vida.

São estes os homens, pelos seus mitos, que acreditaram ver nisso um elemento negativo, ou pelo menos purificador. A água é, ao contrário, criadora da vida, ela lava, rega, fecunda. Todo organismo vivo precisa de água para viver.

Por outro lado, o fogo continua sendo um elemento destrutivo e purificador.

E também perguntei por que a quase total ausência do mito do dilúvio na África.

Admito que não tenho resposta se quero ficar na dimensão evolutiva, onde o homem teria surgido na África, porque apesar de tudo ele teria como origem esta sopa inicial, esta água em que nasceu a vida, depois uma alquimia complexa.

E, portanto, todos os homens devem ter essa memória inicial dentro deles.

Por outro lado, se o dilúvio é a memória de um verdadeiro cataclismo, por que os homens da África não se lembrariam dele, enquanto na Ásia ou na América as Tradições o evocam amplamente? Portanto, também não tenho uma resposta mais satisfatória aqui. A possível ausência de grandes rios, distância da costa, não me convence.

Talvez você me traga um?

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O SENTIDO SIMBÓLICO DAS LUVAS BRANCAS - Eurípides Neves de Oliveira

Eurípides Neves de Oliveira da Loja Simbólica Força e União nº 120, Goiânia - GO


Inúmeros são os símbolos da Liturgia Maçônica e, dentre eles, destaca-se o da entrega aos neófitos das luvas brancas quando, nos últimos momentos da Iniciação, o Venerável anuncia, então, que aquelas luvas brancas constituem o símbolo de sua admissão nas fileiras dos homens livres e de bons costumes.

Os homens distintos e elegantes, as damas da sociedade fina e os militares galonados deitaram a moda das luvas brancas. Estas chegaram a fazer parte dos ornamentes que recebiam os bispos no ato da sua sagração, com a designação de “luvas litúrgicas”, simbolizando a castidade e a pureza.

A entrega das luvas brancas aos neófitos da Maçonaria ficou justificada na mesma intenção deferida aos bispos d'antanho. Cobrindo suas mãos com elas, o maçom é levado a compreender, primeiramente, que sua mão direita nunca deverá saber o que faz a esquerda. Também o Venerável lhe explica que são o “símbolo de sua admissão no Templo da virtude, indicando, por sua brancura, que ele nunca deverá mancha-las nas águas lodosas do vício”.

A posse das luvas brancas não revela nenhuma interpretação mística, mas sim o que possa haver de mais ativo e fecundo para a orientação no cumprimento do dever. Alcança tanto a destinação da própria personalidade do iniciado como a de sua família.

Pelo que ficou esclarecido, a Ordem dos homens livres não se restringe a entregar somente um par de luvas a cada um dos iniciados. Entrega um outro par que são destinadas àquelas que mais direito tiver a vossa estima e ao vosso afeto.

Vê-se, pois, que a Maçonaria, no grande momento da recepção de seus convidados, lembra-se da mulher, numa homenagem justa e sincera. Não se esquece de que a mulher esposa tem por sua vez os direitos sustentados desde os dias do chamado “Pontificado Romano”.

Mas, esposa, irmã, filha ou mãe é sempre a mulher que distribui consolação, promove alentos e distribui conforto, tanto nas horas felizes da família como nas atribulações e nos desfalecimentos da vida e de seu esposo. Portanto, tal homenagem da Maçonaria é, sob todos os aspectos, mais do que procedente.

Um provérbio persa diz: “Não firas a mulher nem com a pétala de uma rosa”. A Maçonaria reforça este ditado ainda mais: e nunca firas mulher com um lampejo de pensamento. Seja ela moça ou idosa, formosa ou feia, má ou bondosa, delicada ou áspera, sabe ser sempre o segredo do Grande Arquiteto do Universo. É a incansável colaboradora de Deus no seio da humanidade. À margem de todas as filosofias está a vida. E a perpetuação da vida foi confiada pelo ser dos seres: à mulher.

O nível de igualdade em que a Maçonaria coloca o homem e a mulher, destinando a cada um o par de luvas brancas cimenta a certeza dos nobres exemplos transportados aos seus obreiros cônscios das responsabilidades assumidas perante as assembleias de maçons que o recepcionaram.

Tais luvas são símbolos da admissão dos recém-iniciados como caráter evidente da pureza das intenções que deve observar sempre o maçom em suas ações. Portanto, recebendo-as, ele deve cuidar com toda atenção para não mancha-las com o egoísmo e com a subserviência às paixões que embrutecem o homem.

agosto 20, 2021

7 CONSELHOS PARA QUEM QUER ENTRAR NA MAÇONARIA E FICAR RICO - H. Schirmer




Repasso, pra tem tiver alguma dúvida ou tem alguém que gostaria de indicar. Reflitamos.

Sejamos justos & perfeitos, vamos direto aos pontos:

1- A Maçonaria não tem nenhuma associação com o 'Diabo', não possui rituais de sangue e não obriga seus membros a nenhum 'Pacto' maligno. Portanto, se você deseja um pacto com o 'satânico', desista!

2- Embora as Lojas Maçônicas tenha sido o berço do poder político-social no Império e nos primórdios da nossa república, bem como desempenhado relevante papel nos acontecimentos mundiais; ela não é a 'cabeça oculta' do planeta, e não tem voz absoluta e definitiva na política mundial. Portanto, se deseja entrar pela janela nos corredores do poder, desista!

3- A Maçonaria, nos seus inúmeros Ritos e Obediências (Tradições), não proporciona nenhuma técnica especialmente poderosa, rápida e extraordinária de Despertar Consciências. Portanto, se você deseja poderes astrais sem luta, desista!

4- A Maçonaria é uma Ordem de Conhecimento Simbólico, isto significa que o Maçom deve de fato compreender aquilo que perpetua: deve ser capaz de penetrar no sentido interno, na mensagem velada contida nos Rituais. Portanto, se você deseja os 'Conhecimentos Gnósticos' claros e prontos, desista!

5- A Maçonaria é uma organização Discreta, e não Secreta como costumam nominar as revistas sensacionalistas para aumentarem suas vendas. As Lojas possuem CNPJ, endereço e telefone; muitos Templos no mundo abrem suas portas para eventos de alta dignidade cultural, e existe uma legião de livros abordando sua história, ritos e filosofia. Portanto, se você deseja sentir-se especial, diferente, por participar de um 'club secreto', desista!

6- É verdade! Os Irmãos Maçons, na maioria dos casos, gozam de abundante Prosperidade; mas isso deve-se a três fatores:

- Apenas indivíduos livres, de bons costumes e financeiramente estabelecidos são convidados.

- Geralmente eles desenvolvem uma especial capacidade de comunicação, inter-relação e associação, o que lhes abre muitas portas.

- Consciente ou inconscientemente colocam (ou deveriam colocar!) em movimento certos Princípios Cósmicos que regem a Lei da Prosperidade.

É indispensável primeiro Ser para depois Ter; ninguém pode Dar ou Receber o que não possui. Portanto, se você acha que ao ingressar vai sair do buraco, da inércia e da falência desista!

7- A Augusta e Venerável Maçonaria é uma Fraternidade Iniciática dedicada a elevação do gênero humano, a filantropia e a perpetuação dos Mistérios antigos tantos nos seus Ritos masculinos quanto femininos. Se você imagina que adentrar seus Portais é uma forma de aliviar o trabalho de autodescoberta, autodomínio e auto iluminação; permita-me um conselho: DESISTA!

TUDO É ILUSÃO - Rei Salomão

 



1 O autor deste livro é Salomão, rei em Jerusalém, filho do rei David, conhecido como o pregador.

2 Na minha opinião tudo é ilusão, pura ilusão; tudo é passageiro.

3 O que é que uma pessoa ganha com todo o duro trabalho que tem? 

4 As gerações vão passando, umas após outras, mas a Terra permanece do mesmo jeito.

5 O Sol nasce e põe-se, mas volta sempre ao lugar onde nasceu. 

6 O vento sopra, ora do sul, ora do norte, duma e doutra banda, circulando; o vento gira e vira sem parar. 

7 Os rios correm para o mar, mas este nunca chega a ficar cheio, e essa água retorna, por fim, aos rios, para correr novamente para o mar. 

8 Tudo é extremamente fastidioso e cansativo. Podemos ter visto e ouvido já muita coisa, mas nunca estaremos satisfeitos.

9 A história não passa de uma mera repetição de factos. Não há nada que seja verdadeiramente novo; já tudo foi feito ou dito anteriormente.

 10 Haverá alguma coisa que se possa indicar como sendo realmente nova? Tudo já aconteceu nos séculos passados. 

11 Nós é que não temos lembrança dessas coisas. Com as gerações futuras acontecerá o mesmo; não se recordarão do que nós fizemos.

12 Eu, o pregador, fui rei de Israel, vivendo em Jerusalém. 

13 Apliquei o coração a procurar entender todas as coisas e a fazer uso do saber, para explorar tudo o que é realizado debaixo dos céus. Que fardo pesado Deus colocou sobre os homens e que eles têm de suportar!

 14 Descobri que a sorte do ser humano, aquilo que ele faz debaixo do Sol é tudo ilusão. É como andar a correr atrás do vento. 

15 O que está mal não pode ser corrigido e também não vale a pena refletir sobre como as coisas poderiam ter sido doutra forma.

16 Disse assim para comigo: “Afinal, sou mais instruído do que qualquer dos reis que me precederam em Jerusalém. Tenho uma melhor bagagem de sabedoria e de conhecimentos!” 

17 Esforcei-me muitíssimo para ser sábio e não ignorante e, no entanto, dou-me agora conta de que também isso foi como correr atrás do vento. 

18 Porque quanto maior era a minha sabedoria, maiores eram as minhas preocupações; aumentar os conhecimentos apenas traz consigo mais aflições.

2 Disse a mim próprio: “Vamos, torna-te alegre e goza tanto quanto puderes!” Mas achei que isto também era ilusão. 

2 Porque é tolice andar a rir todo o tempo e a alegria de que serve? 3 Assim, depois de ter pensado bem, resolvi tentar a via da bebida, ainda que continuando firmemente interessado na busca de sabedoria. Depois alterei, de novo, o meu rumo e segui o caminho da loucura, para poder experimentar a única felicidade que muita gente tem na vida.

 Tentei, seguidamente, realizar-me pessoalmente, construindo para mim próprio casas e vinhas, jardins, parques e pomares, com tanques de rega para as plantações. Depois comprei escravos, homens e mulheres, e tive também outros nascidos na minha casa. Possuí grandes rebanhos de vacas e de ovelhas, mais do que qualquer outro rei antes de mim em Jerusalém. Acumulei prata e ouro, riquezas que pertenceram a outros reis e a outros reinos. Organizei igualmente coros de homens e de mulheres. Experimentei os prazeres humanos e tive belas concubinas.

Desta forma, tornei-me mais importante do que qualquer rei que governou antes de mim em Jerusalém e, contudo, mantive a minha inteligência. De forma a poder dar o devido valor a todas estas coisas, obtive tudo o que me apetecia e não me privei de nenhuma alegria. Achei até grande prazer em executar pesadas tarefas. Este prazer foi, aliás, a única recompensa para tudo o que passei.  Mas quando olhei para aquilo que tinha empreendido, dei-me conta do quanto era absurdo e superficial, que não havia nada, debaixo do Sol, que não fosse ilusório.

1Comecei, então, um estudo comparativo das virtudes da sabedoria e da loucura. Que pode fazer aquele que sucede a um rei? Só aquilo que os outros já fizeram.  Percebi que a sabedoria é mais válida do que a loucura, tal como a luz é melhor do que as trevas.  O sábio é alguém que pode ver e que, por outro lado, o louco é um cego. Constatei também que há uma coisa que acontece tanto ao sábio como ao insensato, que tanto morre um como o outro.  Portanto, de que vale a sabedoria? Dei-me conta de que também o ser sábio é uma ilusão. Porque tanto o sábio como o insensato morrerão e, no futuro, ambos virão a ser esquecidos.

17 Eis a razão por que aborreço esta vida; é que tudo é tão irracional! Tudo é tão ilusório como perseguir o vento! 18 Aborreci sobretudo isto, que tenha de deixar o fruto de todo o meu duro trabalho àquele que me suceder. 19 E quem me garante a mim que ele será uma pessoa sensata e não um louco? Mesmo assim, terei de lhe deixar tudo. E tudo isto também é ilusão.

20 Então a ideia de que tinha trabalhado tanto nesta Terra fez-me desesperar. 21 Voltei-me para a procura da minha satisfação pessoal, visto que gastei a minha vida a procurar sabedoria, conhecimento e competência, e que tenho de deixar tudo a alguém que em nada contribuiu para isso, e que irá herdar o resultado de todo o meu esforço, sem ter pago o devido preço. E isto não é só absurdo como até é injusto! 22 Que ganha, afinal, uma pessoa de todo o labor que a fez penar? 23 Apenas dias plenos de tristeza, amargura, fadiga e insónias. Não há dúvida que é algo que não tem qualquer lógica!

24 Cheguei à conclusão que não havia nada melhor, para o ser humano, do que comer, beber e beneficiar do resultado do esforço do seu trabalho. Constatei, assim, que é Deus quem lhe oferece este prazer. 25 Porque quem é que pode comer ou gozar da vida se não lhe for concedido por ele? 26 Deus dá, a quem lhe agrada, sabedoria, conhecimento e alegria; mas se um pecador se tornar rico, Deus tira-lhe os bens e dá-os a quem quiser. Também aqui vemos um exemplo do absurdo que é correr atrás do vento!

Tudo tem um tempo próprio

3 Existe um tempo próprio para tudo e há uma época para cada coisa debaixo do céu.

2 Há um tempo para nascer e um tempo para morrer;

um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;

3 um tempo para matar e um tempo para curar as feridas;

um tempo para destruir e um tempo para reconstruir;

4 um tempo para chorar e um tempo para rir;

um tempo para lamentar e um tempo para dançar de alegria;

5 um tempo para espalhar pedras e um tempo para as juntar;

um tempo para abraçar e um tempo para afastar quem se chega a nós;

6 um tempo para andar à procura e um tempo para perder;

um tempo para armazenar e um tempo para distribuir;

7 um tempo para rasgar e um tempo para coser;

um tempo para estar calado e um tempo para falar;

8 um tempo para amar e um tempo para odiar;

um tempo para a guerra e um tempo para a paz.

9 O que é que uma pessoa realmente obtém com o seu esforço? 10 Pensei nisto, em relação às várias espécies de trabalho que Deus dá à humanidade. 11 Tudo tem o seu tempo próprio e ainda que Deus tenha posto no coração do ser humano a ideia da eternidade, mesmo assim o homem não consegue atingir inteiramente o propósito das obras de Deus, desde o princípio até ao fim. 12 Por isso, concluí que, primeiramente, não há nada melhor para o ser humano do que ser feliz e gozar a vida, tanto quanto puder. 13 Em segundo lugar, que deve comer, beber e desfrutar do fruto do seu trabalho, pois estas coisas são um dom de Deus.

14 Uma coisa eu sei, é que tudo quanto Deus faz é perfeito, é para sempre; nada se lhe pode acrescentar ou tirar e a intenção de Deus é que as pessoas temam o Deus todo-poderoso. 15 Aquilo que acontece agora, no presente, como o que vai acontecer mais tarde, já se produziu no passado. Deus faz com que os mesmos factos se repitam uma e outra vez.

16 Observei também isto sobre a Terra, que a maldade reina onde o direito deveria ser aplicado e onde deveria ser feita justiça. 17 E disse para comigo: “Com certeza que, no momento próprio, Deus julgará tudo quanto o ser humano faz, tanto o bem como o mal!”

18 E assim dei-me conta que Deus permite que o mundo continue no curso do pecado, para poder testar a humanidade e para que os próprios homens verifiquem que não são melhores do que os animais. 19 Pois tanto estes como aqueles respiram o mesmo ar e ambos morrem. A humanidade não tem vantagens reais sobre os animais. Eis outra coisa absurda! 20 Tudo vai ter ao mesmo lugar, pois todos são pó e ao pó voltarão. 21 Quem pode provar que o fôlego do homem vai para cima e o dos animais fica no pó da terra?

22 Dessa forma, constatei que não há nada melhor para o homem do que ser feliz no seu trabalho; é esse o seu quinhão na Terra; ninguém o fará voltar à vida, para ver o que acontecerá depois dele. Por isso, que desfrute do presente!

Observando a vida

4 Seguidamente, pus-me a observar todas as opressões que se praticam sobre a face da Terra, as lágrimas dos oprimidos, sem haver ninguém que intervenha a favor deles, ao mesmo tempo que o poder se concentra do lado dos opressores. 2 Acho que os mortos são mais felizes do que os vivos. 3 Mais felizes do que uns e outros são os que ainda não nasceram e não viram todas as maldades que se praticam na Terra.

4 Então descobri que a força que impele os homens para o sucesso é a inveja para com o seu próximo. Também isto é ilusão e uma corrida atrás do vento!

5 O tolo cruza os braços e não quer trabalhar, quase preferindo morrer de fome. 6 Está convencido que é melhor conquistar uma mão-cheia de descanso do que duas mãos-cheias de canseira, correndo atrás do vento.

7 Observei também outra situação absurda que existe sobre a Terra. 8 É o caso do homem que vive absolutamente sozinho, sem filhos e sem irmãos, e que mesmo assim trabalha, sem descanso, para enriquecer cada vez mais. A quem vai ele deixar o que tem, afinal? Porque se priva ele de tanto? Esta é, sem dúvida alguma, uma forma errada e absurda de viver.

9 O trabalho realizado por dois é sempre mais proveitoso. 10 Se um cair, o outro levanta-o; se estiver sozinho, ao cair, ver-se-á em grande dificuldade. 11 Também, numa noite fria, se dois dormirem juntos, poderão aquecer-se um ao outro, mas como se aquecerá aquele que dorme só? 12 Duas pessoas podem resistir melhor a um ataque do que uma só. Um cordão de três dobras não rebenta com facilidade!

13 Vale muito mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei velho e insensato que recusa todo e qualquer conselho. 14 E isso, ainda que tal jovem tenha saído da prisão para reinar ou tenha nascido na pobreza. 15 Toda a gente correria a ajudar um jovem nessas condições, que há de suceder ao rei. 16 Pois poderá tornar-se o chefe de toda uma nação e ser muito popular. No entanto, as gerações seguintes não virão a ter por ele nenhum entusiasmo. Mais uma vez, tudo isto é ilusão! É como andar atrás do vento!

Atitude para com Deus

5 Quando entrares na casa de Deus, fá-lo numa atitude de reflexão! Entra com a intenção de escutar e não de oferecer sacrifícios, como fazem os insensatos, que nem sequer compreendem que fazem mal. 2 Não fales precipitadamente, nem faças promessas irrefletidas a Deus, pois ele está nos céus e tu aqui na Terra; mede bem o que dizes.

3 Assim como os muitos sonhos nascem da muita atividade, assim também, quanto mais se fala, mais riscos se correm de se proferirem disparates.

4 Por isso, quando fizeres uma promessa a Deus, cumpre-a sem tardar; Deus não gosta de gente inconsequente, cumpre aquilo que prometeste. 5 Vale muito mais não prometer coisa nenhuma do que prometer e depois não cumprir. 6 Neste caso, a tua boca fez-te pecar. Não tentes defender-te, dizendo ao mensageiro de Deus que se tratou de um engano. Isso suscitaria a cólera de Deus, o qual acabaria com a tua prosperidade.

7 Andar na vida a sonhar, em vez de realizar atos concretos, é tão inútil como proferir muitas palavras sem sentido. Por isso, tem cuidado em temer a Deus.

Riquezas são ilusão

8 Se vires algum pobre oprimido pelo rico e a violência a substituir a justiça, em qualquer ponto da terra, não te surpreendas! Porque cada funcionário está sob as ordens de um outro, que lhe é superior, e o chefe de todos eles tem ainda alguém que lhe está acima. 9 Todos devem usufruir do que a terra produz; até o mais alto magistrado se serve dela.

10 Aquele que ama o dinheiro, nunca tem o bastante. É uma loucura pensar que a riqueza traz felicidade!

11 Quanto mais tiveres, mais gastarás, até ao limite dos teus recursos. Por isso, de que serve ser-se rico? Apenas para ver o dinheiro fugir por entre os dedos!

12 O trabalhador dorme bem, quer tenha pouco ou muito para comer, mas o rico, por causa dos muitos cuidados que lhe traz a fortuna, sofre de insónias.

13 Há outra situação dramática, que verifiquei por toda a parte, a de alguém que põe dinheiro de lado, mas para seu próprio prejuízo. 14 Se investir e perder capital num mau negócio, nada terá para deixar ao filho. 15 Deixará a Terra, como quando chegou, sem nada possuir. 16 Isto é igualmente um problema sério, porque todo o seu trabalho de nada lhe serviu; andou a trabalhar para o vento. 17 O resto da sua vida será obscurecida por numerosos cuidados, sofrimentos e irritações.

18 No entanto, vi uma coisa boa, uma pessoa a comer e a beber, a aproveitar os resultados do seu trabalho, durante o tempo de vida que Deus lhe deu. Essa é a porção que lhe cabe. 19 Na verdade, é muito bom, se uma pessoa tiver recebido de Deus riqueza e saúde e puder desfrutar delas. Gozar do seu trabalho e aceitar a parte que lhe toca na vida é, na verdade, um dom de Deus. 20 A pessoa que fizer isso não necessitará de olhar para trás, com tristeza, porque Deus lhe enche o coração de felicidade.

6 Há um mal que vi acontecer, frequentemente, em toda a parte e com toda a gente. 2 Deus deu a alguns grandes riquezas e honra, de tal forma que podem ter tudo quanto pretendem, mas não lhes permite gozarem do que têm. Outros, vindos de outro lado, é que ficam com o que eles tinham! Ora isto é ilusão e sofrimento cruel.

3 Se um indivíduo tiver uma centena de filhos e filhas, e viver até ser muito velho, mas ao morrer deixar tão pouco dinheiro que os filhos nem sequer lhe possam fazer um funeral decente, digo que era melhor que tivesse sido um nado-morto. 4 O seu nascimento não teria sido considerado e acabaria por ir para as trevas, sem ter tido um nome. 5 Não teria visto o Sol e nem sequer se daria conta da sua existência, e isso teria sido melhor do que ser velho e infeliz. 6 Ainda que viva dois mil anos, mas não tiver felicidade, de que serve isso? Afinal, não estamos todos a caminhar para o mesmo fim?

7 Todo o homem trabalha para comer e, contudo, o seu apetite jamais encontra satisfação. 8 Que vantagem tem, então, o sábio sobre o insensato, ou que vantagem tem o pobre em saber como enfrentar a vida?

9 Mais vale aquilo que se vê do que aquilo que se imagina. O andar só a sonhar com coisas belas é loucura, é andar a correr atrás do vento.

10 Todas as coisas têm já o seu destino fixado; muito antes, já está decidido aquilo que qualquer homem deverá ser. De nada serve discutir com Deus sobre o nosso destino.

11 Quanto mais se falar, menos significado terão as nossas palavras; por isso, de que serve procurar falar a todo o custo?

12 Nestes poucos dias da nossa vida de ilusão, quem é que nos pode dizer a melhor forma de desfrutar a vida que passa como uma sombra? Quem é que pode saber o futuro, depois de ter morrido?

agosto 19, 2021

“ EU NÃO ENSINO...COMPARTILHAMOS“ - Adilson Zotovici



Adilson Zotovici -  intelectual e poeta maçônico da ARLS Chequer Nassif  169 - S.Caetano do Sul


“ Eu não ensino, compartilhamos“ - Palavras frequentes do Confrade Mestre Agrella


Diz um mestre experimentado

Com frequência, com energia

Sobre o que nos tem ensinado

Da Arte Real, dia a dia 


Um erudito despojado

De vaidade, de soberbia

Que sua cultura emprestado

Com humildade e sabedoria


“Que compartilhar” é o recado

Aos irmãos da confraria

Que o verdadeiro mestrado


Um verbo, um texto, poesia

Tudo é grande aprendizado

Perene qual a maçonaria !



O COMPASSO DO MUNDO: A MAÇONARIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA





O primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, era maçom. Depois dele, outros 16 líderes da nação mais poderosa do mundo também foram: a lista inclui John Edgar Hoover, diretor do FBI por 45 anos, e Harry Truman, o homem que autorizou o ataque com bombas atômicas sobre o Japão.

Também fizeram parte da sociedade secreta dois políticos decisivos para a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill. Eram maçons alguns dos mais importantes líderes da Revolução Francesa, como Jean-Paul Marat e La Fayette.

O revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi e os libertadores da América espanhola, o argentino José de San Martín e o venezuelano Simon Bolívar, também. O articulador da independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva, pertencia à ordem, assim como o duque de Caxias e nosso primeiro presidente republicano, marechal Deodoro da Fonseca.

Por tudo isso, não é exagero afirmar que o mundo em que vivemos foi definido por essa sociedade secreta, que por três séculos vem reunindo a elite política e militar (e cultural) do Ocidente em rituais cheios de códigos misteriosos.

A MAÇONARIA

Mas o que é maçonaria? Existem várias versões para a criação da organização. A mais confiável remete à Idade Média, quando o controle do comércio era feito pelas guildas, corporações de ofício que reuniam artesãos do mesmo ramo e funcionavam como um antepassado dos sindicatos.

Um dos grupos mais poderosos era o dos pedreiros (em inglês, masons). Era um trabalho de alto status então, pois eram responsáveis pela engenharia e pela construção de castelos e catedrais. Pedreiros tinham acesso aos reis e ao clero e circulavam livremente entre os feudos. Apelidados de free masons (pedreiros livres), se reuniam nos canteiros de obras e trocavam segredos da profissão.

Um dos documentos mais antigos sobre essas guildas é a carta de regulamentos de Londres, 1356. Na época, era só um conjunto de regras para pedreiros. 

Para se identificarem em locais públicos e evitarem o vazamento de suas conversas, criaram um sistema de gestos e códigos. Durante o Renascimento, os pedreiros livres ficaram na moda. Seus encontros passaram a acontecer em salões, chamados de lojas, que geralmente ficavam sobre bares e tavernas das grandes cidades, onde a conversa continuava depois.

Intelectuais e membros da nobreza engrossaram a turma. Por influência deles, os debates passaram a abranger religião e filosofia. Em 24 de junho de 1717, numa reunião das quatro maiores lojas de Londres (então o maior centro maçom europeu), na taverna The Goose and Gridiron nasceu uma federação, a Grande Loja de Londres. Era o início oficial da maçonaria.

A MARSELHESA

Em apenas três décadas, a organização já tinha se espalhado por toda a Europa ocidental e havia alcançado a Índia, a China e a América do Norte. Passou a ser conhecida, respeitada, mas, principalmente, temida.

Não era para menos. Ficava difícil confiar em um grupo de homens ricos e poderosos, de diferentes áreas, que se reuniam a portas fechadas, usavam símbolos esquisitos e faziam juramentos de fidelidade à tal organização e ainda voto de silêncio.

Também não ajudou muito o tanto de lendas que surgiu sobre a origem da maçonaria (em 1805, o historiador francês Charles Bernardin pesquisou 39 diferentes). Tinha para todos os gostos: alguns integrantes da ordem diziam que Noé era maçom, outros transformaram o rei Salomão ou os antigos egípcios em fundadores.

Nem os templários escaparam. A Igreja Católica se incomodou tanto que, em 1738, divulgou uma bula papal atacando a ordem, que décadas depois foi perseguida pela Inquisição.

Além do sigilo, o que perturbava era a atitude sempre à frente de seu tempo. Setenta anos antes da Revolução Francesa, esses homens cultos e influentes já defendiam a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Tratavam-se sem distinção e aceitavam todos os credos religiosos, uma atitude tremendamente avançada para a época. Os ateus, porém eram barrados.

agosto 18, 2021

A EXPRESSÃO "ERA VULGAR" E O CALENDÁRIO MAÇONICO



Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas. Os cronologistas e historiadores, servem-se também de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano. Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: Criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros. Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. Já segundo Heródoto (Grego considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos. Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se, ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam Annus Erat Regni Augusti (era o ano do reinado de Augusto) ou Ab Exordio Regni Augusti que significa "Do começo do reinado de Augusto", pois os Espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto. Outros dizem derivar da palavra latina aes, aeris (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável que serviu de começo a uma serie de anos. As palavras era e época tem certa relação entre si, mas contudo são bem distintas: Era, é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; época é o momento desse acontecimento. De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. Não o sendo cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: A dos Judeus funda-se na criação do Mundo, segundo o Gênesis; a dos antigos Romanos, na fundação da sua Capital; a dos Gregos, no estabelecimento dos jogos Olímpicos; a dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; a dos Cristãos no nascimento de Cristo.

Já a expressão Vulgar tem origem no Latim Vulgaris ou Vulgus e primitivamente significava “pessoas comuns” ou seja, aqueles que não são da realeza. Isto pelo menos até meados do século XVI quando a palavra Vulgar passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”. Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. A Era Vulgar, portanto, designa o calendário Gregoriano mundialmente adotado. Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis em Latim, ou simplesmente V.´.L.´. ou A.´.L.´. como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como Latomorum Anno ou, como no texto original em inglês que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”. A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo Anglicano nascido no ano de 1581, em Dublim. Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido as 09 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 A.C., com base no texto Massotérico (texto em hebraico que deu origem à vários capítulos da Bíblia) ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento). Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar. 

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do ano Gregoriano, no entanto, começa em 01 de março – assim como o Ano Juliano que ainda estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 01 de março de 2011 da E.´. V.´. seria o dia 01 do mês 01 do ano de 6011 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. No entanto Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas. As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden... A idéia só foi concebida para se transmitir que os princípios da maçonaria (e não a maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo. Vejo que qualquer outro significado Maçônico para estas datas não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico não em 01 de março como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.). Desta maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Irm. José Castellani, em sua obra “Do pó aos arquivos”. Outro bom exemplo é a imagem do topo deste artigo, retirado da Ata de Iniciação de D. Pedro I :

O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. Utilizar o calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.


Bibliografia:

Philosophical e Mathematical Dictionary – Vol I - 1815 – Google Books

Peça de Arquitetura do Irm. Antonio Carlos Rios – Academia Maçonica de Letras do MS – COMS-COMAB

The Masonic Manual by Robert Macoy – Revised Edition – 1867

Do pó aos arquivos – José Castellani

Web Site da Grande Loja Maçônica de Minnesota-USA

ESSENIOS E A MAÇONARIA



Embora eu não concorde absolutamente com essa História Mítica dos Maçons, não me arrogo ao direito de censurar a opinião alheia, de maneira que deixo a cada um o encargo de formar sua própria opinião. Michael Winetzki


De acordo com a História Mítica dos Maçons, a Maçonaria nunca deixou de ser transmitida e praticada, desde suas origens, ao longo dos tempos da humanidade.

Por isso, nos períodos históricos que conhecemos, é grande a tentação de buscar certos elos da corrente, os ancestrais espirituais de certa forma. Assim, os Templários, os Cabalistas da Idade Média, os Gnósticos do começo do Cristianismo foram o objeto de tais investigações, sem esquecer - mais no tempo - o ensino dos Templos Egípcios.

Menos reivindicados, talvez porque menos conhecidos, os essênios merecem nossa atenção. Esta comunidade judaica que residia em Qumran - nas margens do Mar Morto - durante o primeiro século antes de Cristo e que se dispersou alguns anos antes da destruição do Segundo Templo em Jerusalém (no ano 70) era conhecida por vários textos históricos proveniente de Filo de Alexandria, Flavius-Josephe e Plínio, o Velho.

Esses textos insistiam no caráter excepcional da comunidade, na santidade de seus costumes, no total desinteresse de seus membros e na prática assídua de todas as virtudes.

Desde 1947, os essênios tornaram-se infinitamente famosos com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, Manuscritos que incluíam, entre outros, documentos internos à comunidade, como os Hinos, as Regras da Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos . of Darkness e o rolo da Regra também chamado de Manual de Disciplina.

Portanto, é de grande interesse para nós estudar as concepções e as regras de funcionamento de uma sociedade iniciática no terceiro século antes de nossa era.

Sociedade iniciática, o fato é indiscutível!

Os membros da comunidade de Qumran não apenas praticam todas as virtudes; seu objetivo é o conhecimento, o das leis cósmicas e os mistérios da criação. Para tanto, é ministrada uma educação esotérica, de forma progressiva, de acordo com a evolução de sua capacidade de recepção.

Ouçamos, sobre este assunto, o rolo da Regra (IX - 18 - 19): “cada um, segundo o seu espírito, segundo o determinado momento do tempo, os guiará no conhecimento; e, igualmente, os instruirá nos mistérios maravilhosos e verdadeiros no meio dos membros da comunidade ”.

Por outro lado, nada deve ser revelado a "homens de perversão", leigos de fora da comunidade "mesmo à custa da morte".

Quanto ao modo de ensinar, Filo de Alexandria já nos havia informado: “na maioria das vezes, é por meio de símbolos que o ensino lhes é dado, seguindo um método antigo de pesquisa”.

Método simbólico, ensino esotérico, pesquisa de saberes unidos a um trabalho sobre si que visa triunfar sobre as paixões para alcançar a “verdadeira liberdade” (Filo). Não há necessidade de insistir em enfatizar o parentesco com os princípios maçônicos!

Os paralelos não param por aí, mas antes de continuar sua enumeração e chegar ao mais perturbador deles - a concepção essênia do Templo - vale a pena apontar duas diferenças principais que devem ser levadas em conta para evitar assimilações precipitadas:

- Em primeiro lugar, a comunidade dos essênios tem um caráter decididamente religioso e o aspecto iniciático, anteriormente mencionado, é indissociável de um intenso misticismo que a Maçonaria moderna não ecoa mais.

- A segunda grande diferença é que a noção, essencial na Maçonaria da Tolerância, não encontra correspondência entre os essênios. Fora da seita, não há verdade ou salvação!

Feitas essas duas importantes reservas a respeito do aspecto religioso e um tanto sectário da comunidade, podemos retomar um rápido exame das regras que a regem.

Todas as características de uma sociedade iniciática são encontradas lá. Os candidatos são examinados por um Inspetor e, se aceitos, devem completar um ano de postulado e dois anos de noviciado.

No final do noviciado, o candidato está totalmente integrado na comunidade, os seus bens misturam-se com os dos outros, adquire o direito de participar na refeição comum, bem como o direito de opinar e de votar.

A cerimónia de integração inclui um juramento, nomeadamente, de nunca revelar doutrinas internas aos leigos, sob pena das mais terríveis punições em caso de traição.

Dentro da comunidade, existe uma hierarquia estrita baseada na antiguidade e no mérito, bem como uma disciplina rigorosa. Durante as sessões, todos se levantam quando chega a sua vez de falar e é estritamente proibido interromper um Irmão - porque este é também o nome que eles se dão - durante a sua intervenção.

Os irmãos devem uns aos outros benevolência, cortesia, amor recíproco e ajuda mútua. Mas também há um dever de protesto, porque todos estão unidos e cada um é responsável pelo progresso e evolução do outro.

Todas essas regras são, sem dúvida, muito semelhantes às regras maçônicas, mas o mesmo poderia ser dito em relação a muitas comunidades ou sociedades de natureza iniciática.

No entanto, existe um parentesco, mais perturbador do que todos os anteriores, entre os essênios e a Maçonaria como a conhecemos. Esse parentesco reside na própria concepção do Templo e sua construção.

Para apreciar esse parentesco em seu verdadeiro valor, deve-se lembrar que, na época em que vivia a comunidade de Qumran, o Templo de Jerusalém - um lugar mais venerado no judaísmo - ainda não havia sido destruído. No entanto, os essênios consideram o edifício sagrado com suspeita e não fazem seus sacrifícios lá.

Ouçamos Henri Corbin em sua obra “Temple et Contemplation”:

“ Diante do Segundo Templo, agora contaminado e profanado e do qual se separou, a comunidade de Qumran tem consciência de constituir-se, simbolicamente, o Novo Templo como Templo Espiritual. Miqdash Adam: a tradução por "templo humano" já é eloqüente. O proposto pelo Gartner é mais preciso: “um templo de homens”, ou seja, um templo de homens. A comunidade como “casa de Deus” carrega o selo da eternidade: o Templo Eterno está agora em processo de realização na comunidade. Os sacrifícios oferecidos neste Templo, formado pelos membros da comunidade, são de natureza puramente espiritual ”...

Ir além. Os essênios retomam e adaptam o famoso versículo de Isaías (28-16):

“ Eis que pus em Sião uma pedra, uma pedra provada, uma preciosa pedra angular, firmemente assentada; quem o pega não terá pressa em fugir ”.

Como indica Henri Corbin: “A hermenêutica de Qumranian coloca no plural“ as pedras experimentadas ”. O fundamento, lançado por Deus, a rocha, são as verdades que a Hermenêutica da Torá, a lei judaica, revela à comunidade. As “pedras comprovadas” nas quais a nova aliança se baseia são os membros da comunidade.

Assim, não só os essênios perseguiram o ideal de construir um Templo eterno, universal, de natureza puramente espiritual - característica da Maçonaria - mas também utilizaram, para os homens chamados a construir este Templo, o simbolismo - onipresente na Maçonaria - da pedra bruta que deve ser cortada, o que eles chamam de "pedras experimentadas"Uma observação sobre o simbolismo, tão importante, da pedra.

Em hebraico, a pedra é chamada Even, uma palavra particularmente interessante porque encontramos em sua composição a palavra Av que significa "o pai" e a palavra Ben que significa "o filho". Palavra por palavra, Even pode ser traduzido como "filho do pai". ou "filho do primeiro princípio". O que faz dizer aos comentaristas que a pedra representa o homem consciente de sua filiação divina, o homem espiritual.

Esta observação explica em parte a durabilidade do símbolo da pedra para representar o homem no processo de iniciação.

A montagem de “pedras comprovadas” deve permitir a construção do Templo Universal. Este ideal de construção, sem dúvida, tira sua origem da própria fonte da tradição judo-cristã, no livro do Gênesis (II.3).

"Elohim abençoou o sétimo dia e o santificou, pois naquele dia ele retirou todo o trabalho que ele havia criado para ser feito (tradução do Zohar)".

Este versículo, muito comentado na Cabala, tem consequências importantes. Isso implica que Elohim criou a obra em princípio (esta é uma das traduções da palavra Bereschit "no início") que desenhou os planos para ela, mas que ainda falta ser feita, para ser construída, de acordo com a vontade do arquiteto. E essa é obviamente a vocação do homem, pedreiro no canteiro de obras em construção.

O edifício é um Templo, porque o Templo é o lugar onde deve ser estabelecida a comunicação entre o homem e Deus. Portanto, fica implícito que o estabelecimento dessa comunicação é o próprio propósito da criação.

A originalidade dos essênios - e este é seu parentesco principal com a Maçonaria - é ter ido além da ideia da existência obrigatória de um edifício material. Todos os homens que compõem a comunidade representam o verdadeiro Templo eternamente construído pelo trabalho de cada membro sobre si mesmo. E este Templo tem vocação para se estender ao infinito por todos os novos voluntários que vierem fazer parte da comunidade.

Como costuma acontecer em tempos difíceis, os essênios acreditavam que o fim dos tempos estava próximo. O Templo logo estaria concluído e, em uma espécie de apocalipse, os filhos da luz triunfariam definitivamente sobre os filhos das trevas.

É preciso reconhecer que, vinte e um séculos depois, a construção continua e que a escuridão está longe de se dissipar. No entanto, a mensagem de Qumran mantém seu valor:

O Templo de Jerusalém, sobre a sujeira e a destruição que gerações de judeus lamentaram, é o símbolo da profanação do próprio homem considerado um Templo.

O homem, governado por suas paixões, desviando o olhar do céu para se dedicar exclusivamente à Terra, representa o Templo sujo que a presença divina (a Schekinah) abandonou e que será destruído.

Por outro lado, construir o Templo, restabelecer a comunicação entre o céu e a terra, é fazer o próprio Templo, praticar a ascese iniciática que os essênios - é preciso dizer - levaram à sua perfeição final.

Por volta do ano 63, a comunidade de Qumran foi dispersa e foi para o exílio. Encontramos o seu rasto em Damasco, graças à escrita que se encontrava numa sinagoga do Cairo e que leva o título “Escritas de Damasco”. Então os essênios desaparecem definitivamente da história que conhecemos.

Mas, é evidente que seus ensinamentos sobreviveram.

Através da Cabala, é certo: como observa Dupont-Sommer, “a seita essênia, como certos autores haviam percebido anteriormente, parece ter sido o foco inicial desse misticismo, desse esoterismo judaico que experimentou na Idade Média, especialmente com a Cabala, desenvolvimentos extraordinários.

E, através da Cabala, cuja influência na elaboração dos rituais maçônicos é geralmente reconhecida, é provavelmente a própria Maçonaria que hoje transmite a mensagem fundamental dos essênios, verificando assim a realidade desta corrente tradicional que foi mencionada anteriormente.

No século 1 aC, os homens de Qumran usaram um simbolismo de construção muito próximo ao simbolismo maçônico. Nas margens do Mar Morto já foi colocado - como Hino VI expressa "o prumo da verdade para controlar as pedras experimentadas".

Estes homens construíram Miqdash Adam "o Templo do Homem", conscientes de que o edifício a construir, segundo os planos do Arquitecto, está ligado à evolução do homem através do esforço e do conhecimento.